Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Flávio Flora
Marcelo Batista Castro
Resumo
O artigo apresenta uma noção básica sobre serviço público e os vários
aperfeiçoamentos, ao longo do tempo; a abrangência e aplicabilidade da Lei
n. 13.460/2017 na câmara municipal; a obrigatoriedade constitucional do
serviço adequado ao usuário; o papel do servidor público; a importância do
cidadão para a Administração Pública; os direitos do usuário; os
instrumentos de controle do serviço público: Carta do Usuário, Ouvidoria,
Conselho de Usuários e as Pesquisas de Satisfação. O estudo tornou mais
compreensível a implementação municipal do Código, especialmente no
âmbito do poder legislativo, e a elaboração da Carta de Serviços aos
Usuários.
INTRODUÇÃO
*
Bacharel em Direito. Artigo apresentado à Faculdade de Políticas Públicas Tancredo Neves, da
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) como exigência para a obtenção do título de
Especialista em Gestão Pública Municipal; novembro de 2018. flavioflora@yahoo.com.br
**
Prof. Orientador.
de participação da sociedade na administração pública e de avaliação periódica
da qualidade dos serviços públicos.3
A mesma Emenda introduziu, entre os mandamentos da Administração
Pública, o Princípio da Eficiência até então mais presente na administração
privada e na economia. Em distinção feita por Tarvin (2018, p. 1), citando Peter
Drucker: “eficiência é fazer as coisas de maneira correta; eficácia são as coisas
corretas”.45
O Princípio da Eficiência exige presteza, perfeição e rendimento funcional
e orienta a atividade administrativa para melhoria do serviço público e do
atendimento às necessidades dos cidadãos, usuários ou não. Significa também
bom atendimento, rapidez, urbanidade, segurança, transparência, neutralidade e
menos burocracia.
No âmbito do serviço público em geral, o CDUSP obriga os poderes
legislativo, executivo e judiciário e os órgãos da administração direta ou indireta,
nos níveis federal, estadual e municipal, além de entidades que prestam serviços
públicos de forma delegada ou terceirizada, a dar atendimento digno e eficaz ao
cidadão-usuário.
Pela nova lei, é “usuário” tanto a pessoa física quanto jurídica que “se
beneficia ou utiliza, efetiva ou potencialmente, de serviço público”, cujas
diretrizes os agentes públicos e prestadores de serviços públicos devem observar
no estabelecido “bom atendimento”.8
Ao dispor dos direitos e deveres dos usuários, o Código trata dos
instrumentos e recursos disponíveis para manifestação, avaliação, obtenção de
informações, acompanhamento da efetividade dos serviços e proposição de
aperfeiçoamentos. E também da prevenção e correção de atos e procedimentos
incompatíveis ou ilegais, que podem ser realizados por meio das Ouvidorias e
dos Conselhos de Usuários, a partir da Carta de Serviços ao Usuário e das
pesquisas de satisfação.8
Como se sabe, simplificar a vida do cidadão tem sido um aspecto
intermitente na discussão sobre a melhoria da prestação dos serviços públicos. 14
Entretanto, na busca exploratória prévia sobre a implementação da referida Lei
Federal n. 13.460 na esfera municipal, percebeu-se pouca ocorrência de estudos
neste nível e menos ainda sobre sua aplicabilidade no Poder Legislativo
Municipal, o que levou à seguinte questão central: como a nova lei pode ser
implementada na casa legislativa local, considerando sua estrutura que contém
órgãos de atendimento ao público, comissões legislativas e gabinetes de
vereadores?
Uma das principais contribuições do Código é a amplitude de sua
aplicação, especialmente, no município, onde seu impacto deverá ser maior.
Avalia-se que a nova lei, ao concentrar princípios e diretrizes para o serviço
público, possa reduzir as contradições entre normas e ampliar a oferta de
ferramentas democráticas para fiscalização, avaliação e proposição de melhorias
dos serviços prestados pelo município.
O objetivo geral da presente proposta é estudar o processo de
implementação da Lei Federal n. 13.460/2017,8 na esfera municipal, e contribuir
com a sua implementação no Poder Legislativo Municipal.
Para concretizar o feito, pretende-se, especificamente:
- analisar as condições do serviço público, no modelo da administração
pública gerencial;
- identificar os serviços prestados no âmbito do poder legislativo
municipal, que se encaixam em uma Carta de Serviços aos Usuários;
- examinar os instrumentos disponíveis aos usuários, previstos na Lei
13.460/2017, e sua aplicabilidade.
A motivação para este trabalho é a oportunidade aberta pelo Curso de
Gestão Pública Municipal e a entrada em vigor do “Código de Defesa dos
Usuários” de aprofundar um tema de alta relevância para os poderes públicos
municipais – proposto, acentua-se, para satisfazer as demandas da sociedade
local por melhores serviços públicos e maior participação nas questões de
interesse coletivo.
A escolha da Câmara Municipal de Divinópolis para estudo, à luz do
CDUSP, considerou a estrutura administrativa, o estágio tecnológico de
informação, os instrumentos da cidadania participativa disponíveis, os serviços
administrativos prestados pela instituição e os gabinetes executivos da vereança,
que recebem as demandas da população.
Ainda é pouca a participação efetiva dos cidadãos, no processo de
melhoria do atendimento, supostamente, entre outras causas, por estarem
ausentes os instrumentos e recursos institucionais de controle direto dos serviços
públicos, as informações adequadas sobre eles e o reconhecimento do cidadão
como o principal beneficiário da administração pública.
No desenvolvimento da presente revisão, em abordagem qualitativa, dois
tipos de pesquisa como descritos por Birochi (2015)2 – bibliográfica e
documental – foram empregados para conhecer a trajetória do serviço público
em face do usuário, e identificar os marcos legais no período de 1988 a 2018,
ano da implementação nacional do Código dos Usuários dos Serviços Públicos.
Além da legislação, por pesquisa documental em nível local, também se
conheceu os serviços prestados pela Câmara Municipal de Divinópolis, com base
na legislação disponível em seu Portal.21
Pelo método exploratório, foi feita sondagem na literatura disponível no
Portal de Periódicos da Capes13, na base de dados Scielo Brasil43 e no acervo do
GêsPública,29 do Ministério do Planejamento, em busca de legislação, estudos e
publicações especializadas em gestão do atendimento nos serviços públicos.
Os itens constantes da Carta de Serviços aos Usuários, assim como a
estrutura e organização da Ouvidoria e do Conselho dos Usuários, também
resultaram de pesquisas complementares bibliográfica e documental. Nesta fase,
foram identificados leis, decretos e guias específicos, que orientam a
regulamentação da Lei Federal n. 13.460/ 2017 e são aplicáveis a Divinópolis.
A revisão está desdobrada em oito partes, apresentando (1) uma noção
básica sobre serviço público e os vários aperfeiçoamentos, ao longo do tempo;
(2) a abrangência e aplicabilidade da Lei n. 13.460/2017; (3) a obrigatoriedade
do serviço adequado; (4) o papel do servidor público; (5) a importância do
cidadão para a Administração Pública; (6) os direitos do usuário; (7) os
instrumentos de controle do serviço público: Carta do Usuário, Ouvidoria,
Conselho de Usuários e as Pesquisas de Satisfação; e (8) a regulamentação do
Código no município.
III - O art. 1o, § 2o prescreve que “a aplicação desta Lei não afasta a
necessidade de cumprimento do disposto, “em normas regulamentadoras
específicas, quanto se tratar de serviço ou atividade sujeitos a regulação ou
supervisão”.8 Este trecho deixa evidente que o CDUSP representa um corpo de
normas básicas que se complementa com outras normas setoriais de entes
reguladores.
[...] o dispositivo em comento não afirma que os instrumentos
de proteção do CDUSP deixam de se aplicar quando houver
norma regulatória, mas sim que eles conformam meios mínimos
de tutela do usuário, cabendo ao regulador detalhá-los, adaptá-
los, complementá-los ou ampliá-los – nunca, porém, reduzir sua
função ou seu papel (p. 5).35
Art. 37 ...
§ 3o A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públi-
cos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendi-
mento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da
qualidade dos serviços;
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a
informações sobre atos de governo, observado o disposto no art.
5º, X e XXXIII;
III - a disciplina da representação contra o exercício negli-
gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração
pública.3
*
CÓDIGO PENAL BRASILEIRO. Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília, DOU de
31.12.1940. Texto atualizado]. Disponível em: <https://bit.ly/18kAH0G> Acesso em: 30-10-2018.
Nessa nova perspectiva do serviço público, cabe ao Estado formular as
políticas públicas e capacitar os funcionários públicos para cumprir as
expectativas da população. Para isso, a Administração Pública deve prover
suporte adequado e ambientes de trabalho compatíveis com a esperada
excelência no atendimento, além de realizar investimentos em treinamento e
motivação, descentralização e transparência das informações ao público. À
população, em sincronia, cabe analisar, criticar e demonstrar avaliação sobre o
serviço prestado pelos meios disponíveis, especialmente, na novel Lei
13.460/2017.8
6 Os direitos do usuário
IV - As pesquisas de satisfação
9 Considerações finais
*
BRASIL. Decreto n. 9.094, de 17 de julho de 2017. Dispõe sobre a simplificação do atendimento
prestado aos usuários dos serviços públicos, ratifica a dispensa do reconhecimento de firma e da
autenticação em documentos produzidos no País e institui a Carta de Serviços ao Usuário. [Nor-
ma federal] Brasília: DOU de 18.7.2017. Disponível em: <https://bit.ly/2F232Se> Acesso em:
20-10-2018.
amplia disposições anteriores, que estavam esparsas e restritas à esfera federal
e, em poucos casos, à estadual. Sua obrigatoriedade facilita a replicação de boas
práticas nos vários níveis de governo, especialmente no âmbito municipal, onde
certamente deverá causar maior impacto.
Os resultados obtidos em países que adotaram esse modelo de gestão do
serviço público, como ocorre agora no Brasil, são favoráveis, mas não acontece
em curto prazo e sem alguns pressupostos. É preciso treinar os agentes públicos
e estabelecer infraestrutura satisfatória, além de poder contar com adequado
respaldo organizacional e funcional, para além de qualquer direito ou dever que
possa fluir da lei.
O CDUSP acaba de passar por uma pesquisa exploratória, orientada para
conhecer o assunto, especialmente sob o viés de uma Câmara Municipal; mas, o
tema ainda requer novas pesquisas e estudos sobre os efeitos na qualidade dos
serviços, na excelência do atendimento ao público e nas mudanças
proporcionadas aos usuários pela nova mentalidade, que busca a eficiência e a
eficácia no serviço público, a começar do melhor atendimento.
REFERÊNCIAS
19. CUNHA, Priscyla B. T.; WOLFF, Sílvio. Reflexões sobre o Código de Defesa do
Usuário dos Serviços Públicos. 2018. Disponível em:
<https://bit.ly/2SIWN8r> Acesso em: 22-10-2018
26. FIGUEREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 6. ed. São Paulo:
Malheiros, 2003
30. GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 8 ed. São
Paulo: Malheiros, 2003.
32. JUSTEN, Mônica Spezia. A noção de serviço público no direito europeu. São
Paulo: Dialética, 2003
39. OCDE. Administration as Service, The Public as Client, Paris: OCDE, 1987.
Disponível em: <https://bit.ly/2DkTvns> Acesso em 30-10-2018.
40. OCDE. Public Management Service. Putting Citizens First: Portuguese experi-
ence in public management reform. Paris: OCDE, 1996. Disponível em:
<https://bit.ly/2DkTvns> Acesso em 30-10-2018.
44. SOUZA, Selma C.; MELLO, Mônica S. O. A evolução histórica do serviço públi-
co e a necessidade da transformação do servidor público. Convibra.org.
2013. Disponível em: <https://bit.ly/2JHf81X> Acesso em 18-09-2018.