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FACULDADE DE ARQUITETURA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
Dissertação
Mestrado em Práticas Tipográficas e Editoriais Contemporâneas
2016
II
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
O Candidato
Resumo
Abstract
Índice de Figuras
Índice de Gráficos
Índice de Tabelas
Índice Geral
Introdução ......................................................................................................... 1
Âmbito e Propósito ......................................................................................... 1
Metodologia .................................................................................................... 3
Estado da Arte ................................................................................................ 4
Quadro Conceptual......................................................................................... 5
Estrutura da dissertação ................................................................................. 6
A Amostra ..................................................................................................... 72
Padrões Verificados nos Inquéritos .............................................................. 74
Análise do Processo, dos Resultados e Inferências..................................... 79
Estratégias Propostas................................................................................... 80
Conclusão ........................................................................................................ 84
Introdução
For the study of women and men in graphic design, remaining cognizant of the
double truth that women and men in graphic design are the same and that
women and men in graphic design are different will result in a more inclusive
understanding of past and contemporary graphic design production.
Âmbito e Propósito
1
Tradução nossa. No original: “[…] the stars of the design scene are predominantly male.”
2
“[...] o sistema sexo/gênero é um conjunto de arranjos através dos quais uma sociedade transforma a
sexualidade biológica em produtos da atividade humana, e na qual estas necessidades sexuais
transformadas são satisfeitas.” (Tradução nossa.)
3
A corrente filosófica pós-estruturalista tem como principais características a desconstrução, a negação
3
Objetivos
Geral
• Elaborar um panorama completo sobre a participação feminina do
mercado do design gráfico no Brasil e em Portugal, identificando
dificuldades e desenvolvendo estratégias para sua solução.
Específicos
• Compreender os aspectos históricos da inserção das mulheres no
mercado do design gráfico tanto em contexto mundial quanto no
âmbito específico de Brasil e Portugal;
• Conhecer a situação atual as mulheres no mercado do design
gráfico, em contexto geral e específico (Brasil e Portugal);
• Identificar as principais dificuldades encontradas pelas designers
durante sua trajetória acadêmica e profissional;
• Formular estratégias para dirimir estas dificuldades.
Metodologia
Estado da Arte
O estudo das Mulheres no design gráfico vem sendo abordado, sob di-
versos pontos de vistas, por diversas autoras – tanto designers quanto pesqui-
sadoras das ciências humanas e sociais. Na Alemanha, Gerda Breuer e Julia
Meer desenvolveram um extenso trabalho de investigação sobre o tema, o que
resultou no livro Women in Graphic Design 1890-2012, uma das principais
referências bibliográficas deste trabalho. A publicação contém textos e entre-
vistas de designers gráficas de todo o mundo, como Ellen Lupton, Astrid Stavro
e Martha Scotford, que abordam desde aspectos históricos da inserção das
mulheres na profissão até discussões sobre a situação atual. O livro também
conta com uma série de biografias curtas de designers que trabalharam duran-
te todo o período compreendido pela investigação.
O estudo histórico das mulheres no design gráfico é extenso. Autoras
como Martha Scotford e Cheryl Buckley têm sua produção científica voltada a
este tema. Scotford contribui com dois artigos em Women in Graphic Design
1890-2012, enfatizando os processos historiográficos que causaram a sub-
representação das mulheres na história do design gráfico. As Espanholas Ro-
salía Torrent e Marisa Vadillo, entre outras, são autoras de diversas publica-
ções sobre as mulheres na Bauhaus, etapa importante da história do design, e
analisam as relações de gênero que ocorreram na referida escola e seu impac-
to no desenvolvimento da profissão.
No campo sociológico, estudos qualitativos e quantitativos vem sendo
conduzidos sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho e as relações
de gênero neste âmbito. Este tema também é abordado sob os pontos de vista
de direitos trabalhistas, de economia e de administração de empresas. Grande
parte dos estudos tem como objeto de estudo a conciliação da vida familiar e
profissional na conjuntura atual de inserção feminina no mercado de trabalho,
aspecto importante analisado neste trabalho.
5
Modelo Teórico
Quadro Conceptual
História do Design
- Como se desenvolveu
- Como é contada
Inserção da Mulher
no Mercado de Ensino do Design
Trabalho GÊNERO (Desenvolvimento
das profissionais)
(Contexto histórico)
Relações de Trabalho
- Oportunidades profissionais
- Visibilidade
- Evolução da carreira
Estrutura da dissertação
Capítulo 1 - Gênero
A abordagem proposta por Rubin – cuja ideia principal foi mantida pe-
las principais teóricas de gênero até os anos 80 – é o que Linda Nicholson
(2000), autora de Interpretando o Gênero, denomina fundacionalismo biológico.
Diferente (porém não oposto) ao determinismo biológico, “o fundacionalismo
biológico permite que os dados da biologia coexistam com os aspectos de
personalidade e comportamento” (Nicholson, 2000, p.12).
Esta concepção permitiu a compreensão de gênero como um organis-
mo mutável, dependente da cultura e da história humana e, portanto, pauta
2
“[...] o sistema sexo/gênero é um conjunto de arranjos através dos quais uma sociedade transforma a
sexualidade biológica em produtos da atividade humana, e na qual estas necessidades sexuais
transformadas são satisfeitas.” (Tradução nossa.)
10
3
A corrente filosófica pós-estruturalista tem como principais características a desconstrução, a negação
de conceitos fixos e verdades absolutas e a análise histórica em detrimento à descritiva. Seus principais
representantes são Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze e Jean-François Lyotard.
11
preender o corpo fora da cultura. Assim, homem e mulher deixam de ser cate-
gorias fixas e transformam-se em perguntas.
Um rompimento significativo com as teorias de Rubin e Scott origina-se
da abordagem de Judith Butler. A filósofa pós-estruturalista Estadunidense é
atualmente considerada uma das principais teóricas do feminismo e da teoria
queer. Sua principal obra, Gender Trouble: Feminism and the Subversion of
Identity (1990), busca compreender a possibilidade de se questionar, além do
gênero, também o sexo – até o momento considerado uma estrutura fixa e
isenta de questionamentos – em função da sua materialidade, demonstrando
alguma similaridade com a teoria de Joan Scott, porém rompendo com o con-
ceito binário de sexo/gênero.
A teoria de gênero de Judith Butler é centrada na ideia de performativi-
dade. O termo, muito presente em suas publicações, se refere ao ato imposto
de repetir normas de gênero, reiterando-as com o tempo, a fim de cumprir a
coerência de sexo/gênero/desejo, obrigatoriamente heterossexual. Nas pala-
vras da autora,
gender is the repeated stylization of the body, a set of repeated acts within a
highly rigid regulatory frame that congeal over time to produce the appearance
of substance, of a natural sort of being. (Butler, 1990, p.33)4.
4
Na versão em Português (BUTLER, 2008, p.59): “Gênero é a estilização repetida do corpo, um conjunto
de atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora altamente rígida, a qual se cristaliza no tempo
para produzir a aparência de uma substância, de uma classe natural de ser.”
12
As a result, gender is not to culture as sex is to nature; gender is also the dis-
cursive/cultural means by which “sexed nature” or “a natural sex” is produced
and established as “prediscursive”, prior to culture, a politically neutral surface
on which culture acts. (1990, p.7)5
um problema que se manifesta nas teorias anteriores, citadas por tantos co-
mentaristas, é que “um feminismo da diferença” tende a ser “um feminismo da
uniformidade”. Dizer que “as mulheres são diferentes dos homens desse ou
daquele jeito” é dizer que as mulheres são “desse ou daquele jeito”. (2000,
p.28)
5
“(...) gênero não está para cultura assim como sexo está para natureza; gênero também são os meios
discursivos/culturais pelos quais a “natureza sexuada” ou o “sexo natural” é produzido e estabelecido
como “pré-discursivo”, anterior à cultura, uma superfície politicamente neutra na qual a cultura age.”
(Tradução nossa.)
13
A partir deste exemplo, a autora sugere que a mesma interpretação seja feita
para o sentido de “mulheres”: através da elaboração de uma rede de caracte-
rísticas, e não pela busca de uma ou mais características comuns a todas. O
corpo, neste caso, não desaparece, mas se torna uma variável dependente do
contexto histórico no qual é analisado.
Doing Gender
6
A expressão fazer do gênero, será utilizada nos parágrafos seguintes como substituta de doing gender,
de forma a simplificar a leitura e o entendimento do conteúdo.
14
Zimmerman no final dos anos 70, mas publicada somente em 1987, parte da
definição de três importantes conceitos: sexo, categorias de sexo (ou categori-
as sexuais) e gênero:
7
“O sexo é uma determinação feita através da aplicação de critérios biológicos socialmente acordados
para classificar as pessoas como fêmeas ou machos. Os critérios de classificação podem ser genitais no
nascimento ou tipagem cromossômica antes do nascimento, e eles não necessariamente concordam um
com o outro. A colocação em uma categoria de sexo é conseguida através da aplicação dos critérios de
sexo, mas na vida cotidiana, a categorização é estabelecida e sustentada pelas exposições
identificatórias socialmente necessárias que proclamam a adesão a uma ou outra categoria. Nesse
sentido, a categoria de sexo de alguém presume o sexo de alguém e se posiciona como proxy para ele
em muitas situações, mas categoria de sexo e sexo podem variar independentemente; Ou seja, é
possível reivindicar a adesão a uma categoria de sexo, mesmo quando faltam critérios de sexo. O gênero,
em contraste, é a atividade de gestão de condições situadas à luz de concepções normativas de atitudes
e atividades apropriadas para a categoria de sexo. As atividades de gênero surgem e reforçam as
reivindicações de pertencimento a uma categoria de sexo.” (Tradução nossa.)
15
Doing gender means creating differences between girls and boys and women
and men, differences that are not natural, essential, or biological. Once the dif-
ferences have been constructed, they are used to reinforce the "essential-
ness" of gender. (West & Zimmerman, 1987, p.137)
It is not simply that household labor is designated as "women's work," but that
for a woman to engage in it and a man not to engage in it is to draw on and
exhibit the "essential nature" of each. What is produced and reproduced is not
merely the activity and artifact of domestic life, but the material embodiment of
16
wifely and husbandly roles, and derivatively, of womanly and manly conduct.
(West & Zimmerman, 1987, p.144)8
8
“Não é simplesmente que o trabalho doméstico é designado como ‘trabalho das mulheres’, mas que
para uma mulher se engajar nele e um homem não se envolver nela é atrair e exibir a ‘natureza essencial’
de cada um. O que é produzido e reproduzido não é meramente a atividade e o artefato da vida
doméstica, mas a encarnação material dos papéis de esposa e de marido e, consequentemente, da
conduta feminina e masculina” (Tradução nossa.)
17
A comunicação visual, em seu sentido mais amplo, tem uma longa história.
Quando o homem primitivo, ao sair à caça, distinguia na lama a pegada de
um animal, o que ele via ali era um sinal gráfico. (Hollis, 2001, p.1)
9
Tradução nossa.
21
Thus the appropriation of bodily effectivity on the one hand and the design of
machinery and processes on the other have often converged in such a way as
to constitute men as capable and women as inadequate. Like other physical
differences, gender differences in average bodily strength is not illusory, it is
real. It does not necessarily matter, but it can be made to matter. Its manipula-
tion is socio-political power play. (Cockburn, 1981, p.51)
Women graphic designers were allowed to work at jobs that took advantage of
their culturally defined sex-specific skills. [...] They were encouraged to partici-
pate in those careers in which they did not threaten male economic ad-
vantage. Whey they ventured beyond those limits they were belittled, vilified,
or “disappeared” from history. (1994, p.47)10
10
“Mulheres designers gráficas eram autorizadas a trabalhar em empregos que tirassem vantagem nas
suas capacidades específicas de sexo culturalmente definidas. […] Elas eram encorajadas a participar
naquelas carreiras nas quais não ameaçavam a vantagem económica masculina. Quando se arriscavam
fora destes limites, eram diminuídas, difamadas ou ‘desapareciam’ da história.” (Tradução nossa.)
23
Nas décadas seguintes estas ideias se mantiveram, ainda que mais ve-
ladas. A seguir, falaremos sobre as distinções de gênero que ocorreram na
Bauhaus, já no Século XX.
11
“Mulheres são completamente incapazes de possuir o poder de imaginação, nem na criação nem na
apreciação da arte, porque lhes falta a força motriz por tras disso: um desejo fanático pelo avanço.”
(Tradução nossa.)
24
The complete building is the ultimate aim of all the visual arts. Once the no-
blest function of the fine arts was to embellish buildings; they were indispen-
sable components of great architecture. Today the arts exist in isolation. ...
Architects, painters, and sculptors must learn anew the composite character of
the building as an entity. ... The artist is an exalted craftsman. In rare moments
of inspiration, transcending his conscious will, the grace of heaven may cause
his work to blossom into art. But proficiency in his craft is essential to every
artist. Therein lies the prime source of creative imagination. (p.326)12
12
“O edifício completo é o objetivo final de todas as artes visuais. Uma vez que a função mais nobre das
belas-artes era embelezar edifícios; Eram componentes indispensáveis da grande arquitetura. Hoje as
artes existem isoladamente. (...) Arquitetos, pintores e escultores devem aprender de novo o caráter
composto do edifício como uma entidade. (...) O artista é um exaltado artesão. Em raros momentos de
inspiração, transcendendo sua vontade consciente, a graça do céu pode fazer com que seu trabalho
floresça em arte. Mas a proficiência em seu ofício é essencial para cada artista. Aí reside a principal fonte
de imaginação criativa.” (Tradução nossa.)
13
A palavra “oficina” será utilizada como tradução a workshop (inglês) e taller (espanhol), em designação
aos espaços de criação e trabalho prático da Bauhaus.
25
14
“Efetivamente, algumas das mulheres da Escola vieram a interiorizar que este era o melhor lugar para
fazer o seu trabalho, como evidenciado pelo testemunho de Helene Nonne-Schmidt, que diz (sem dúvida,
influenciada pela opinião de seus professores) que as mulheres são mais propensas a desenvolver
objetos bidimensionais (portanto, têxteis) do que tridimensionais, auto-negando suas próprias
possibilidades de e as de outras mulheres.” (Tradução nossa.)
26
Fonte: Chair with Colourful Woven Seat. (2016). Guntastolzl.org. Acesso em 22 de Novembro
de 2016, disponível em: http://www.guntastolzl.org/Works/Bauhaus-Weimar-1919-1925/Chairs-
with-Marcel-Breuer/i-d5BVrvz
Fue sin duda en la tejeduría donde las mujeres jugaron un papel más impor-
tante dentro de la Escuela, pero también se destacaron, de forma individual,
en otros. Poco a poco, enfrentándose al orden establecido, haciendo valer
sus derechos, las mujeres lograron expandir su radio de acción más allá del
taller de tejidos. En concreto, en el de metalistería nos encontramos con la fi-
gura definitiva de Marianne Brandt, mientras que en el de mobiliario Alma
Busher y Benita Otte diseñaron interesantes objetos. (Torrent, 1995, p.65)15
[...] podemos decir que entreabrieron las puertas al trabajo profesional de las
mujeres dentro de un sector que, por su vinculación industrial, está tipificado,
salvo en algunos sectores, como «masculino». Puertas entreabiertas tan sólo,
a la espera, como en tantos otros campos, de poder ser abiertas de par en
par. (Torrent, 2008, p.69)16
15
“Foi sem dúvida na tecelagem onde as mulheres tiveram um papel mais importante na Escola, mas
também de destacaram, de forma individual, em outros. Pouco a pouco, enfrentando a orden
estabelecida, fazendo valer seus direitos, as mulheres conseguiram expandir seu raio de ação para além
da oficina têxtil. Em concreto, no de metal encontramos com a figura definitiva de Marianne Brandt,
enquanto no de mobiliário Alma Busher e Benita Otte projetaram interessantes objetos.” (Tradução
nossa.)
16
“[…] podemos dizer que entreabriram as portas ao trabalho profissional das mulheres dentro de um
setor que, por sua vinculação industrial, está tipificado, salvo em alguns setores, como “masculino”.
28
Fonte: Coffee and Tea Set : Bauhaus100. (2016). Bauhaus100.de. Acesso em 22 de Novembro
de 2016, disponível em: https://www.bauhaus100.de/en/past/works/design-classics/kaffee-und-
teeservice/
Portas entreabertas tão somente, a espera, como em tantos outros campos, de poder ser abertas uma a
uma.” (Tradução nossa.)
29
Durante este período inicial foi a indústria gráfica que teve mais cres-
cimento. A forte concorrência exigiu que as marcas investissem em comunica-
ção, publicidade, embalagem e produtos editoriais. Incentivos do governo
30
Fonte: Afterall • Journal • ‘This Exhibition Is an Accusation’: The Grammar of Display According
to Lina Bo Bardi. (2016). Afterall.org. Acesso em 22 de Novembro de 2016, disponível em:
http://www.afterall.org/journal/issue.26/this-exhibition-is-an-accusation-the-grammar-of-display-
according-to-lina-bo-bardi1
31
17
Não haviam mulheres na primeira diretoria da ESDI. De acordo com a Ata da primeira reunião do
Conselho Consultivo, estavam presentes: “Maurício Roberto, presidente do Conselho e Diretor da Escola;
Flávio de Aquino, coordenador do Setor I - Integração Cultural; Aloísio Sérgio de Magalhães, coordenador
do Setor II - Meios de Representação; Alexandre Wollner, coordenador do Setor III - Metodologia Visual;
Euryalo Cannabrava, coordenador do Setor IV - Introdução à Lógica; Carl Heinz Bergmiller, coordenador
do Setor V - Oficinas; Raul Guenther Vogt, representante do corpo discente e Ceres Albuquerque,
representando o Chefe da Seção de Administração, cargo vago até a presente data no quadro de
funcionários desta Escola. Estiveram presentes, ainda, o Professor Zuenir Carlos Ventura e o aluno
Claudius Sylvius Petrus Ceccon.” Fonte: [http://www.esdi.uerj.br/arquivos/p_ata2.shtml] Acesso em 14 de
Setembro de 2016.
18
O Ato Institucional Número Cinco (AI-5), emitido em 13 de Outubro de 1978 pelo então presidente Artur
da Costa e Silva, durante a ditadura militar, se sobrepunha à Constituição Federal e às Estaduais, dando
poderes extraordinários ao Presidente e suspendendo direitos constitucionais da população. Durante a
vigência do AI-5, a censura à imprensa, à música, ao teatro e ao cinema foi endurecida e as
manifestações políticas perseguidas.
32
Janeiro). Foi casada com o arquiteto francês Affonso Eduardo Reidy, respon-
sável pelo projeto do MAM-RJ, falecido em 1964.
Também de grande importância para a institucionalização do design no
Brasil, a Associação Brasileira de Desenho Industrial (ABDI) foi fundada no
mesmo ano da ESDI, 1963. Participaram da sua fundação: Décio Pignatari,
Ruben Martins, Karl Heinz Bergmiller, Leib (Léo) Seincman, Luiz Roberto Car-
valho, João Rodolfo Stroeter, Lucio Grinover, Abraão Sanovicz, Willys de Cas-
tro, João Carlos Cauduro, Candido Malta Campos Filho, Julio Roberto Katinsky,
Alexandre Wollner, Fabrizio Fabriziani e Modesto de Barro (Braga, 2016). Ne-
nhuma mulher assinou a ata de fundação.
Percebe-se que, nas poucas mulheres citadas neste período, existem
alguns aspectos em comum: relações próximas – casamento, parentesco ou
amizade – com profissionais da área, nascimento e/ou experiência no exterior:
Lina Bo Bardi, italiana, foi casada com o arquiteto Pietro Maria Bardi; Daisy
Igel, filha de austríacos, estudou na New Bauhaus do Illinois Institute of
Technology, em Chicago, onde foi aluna de Mies Van der Rohe. Carmen Porti-
nho foi casada com o arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Estas relações contri-
buíram para que, em um período em que as mulheres tinham muito menos
acesso ao mercado de trabalho, elas não somente pudessem exercer a sua
profissão, mas também obter merecido reconhecimento por isto.19
19
É importante ter em consideração que somente em 1962 o Estatuto da Mulher Casada permitiu, no
Brasil, que as mulheres casadas pudessem trabalhar sem pedir autorização aos seus maridos. (Canezin,
2004)
33
(1) das acções do Estado inseridas, seja nas suas políticas de modernização,
seja na vontade de se “mostrar” moderno no exterior; (2) do trabalho obstina-
do de um conjunto de designers que tentaram impor uma actividade nova
num mercado dominado por artistas plásticos e por arquitectos; (3) do traba-
lho de um conjunto de empresários que tornou possível a implementação, em
Portugal, dos pressupostos de organização empresarial e de modernização
da produção que observavam nos seus contactos com o exterior; e (4) da
oportunidade que alguns jovens tiveram não só de frequentar cursos de de-
sign em escolas no estrangeiro como também de estarem atentos aos casos
tornados paradigmáticos da modernidade europeia e americana, através de
contextos críticos especiais. (2009, p.137)
Nos anos 60, ainda sob o regime Salazarista, a maior parte das mulhe-
res tinha seu espaço limitado ao lar, e poucas eram aquelas que tinham a opor-
tunidade de trabalhar fora deste âmbito. Entretanto, o aumento da imigração,
as Guerras da África e a falta de mão de obra exigiram a introdução de mão de
obra feminina na indústria. O processo de inserção da mulher no mercado de
trabalho, porém, ainda estava no seu início. Apesar disto, nomes femininos
importantes são lembrados na história:
• A escultora Maria Helena Matos, que dirigiu o Núcleo de Arte e
Arquitetura Industrial (NAAE) e organizou a 1ª Exposição de
Design Português em 1971;
• Alda Rosa, licenciada em pintura pela Escola Superior de Belas
Artes de Lisboa. Estudou em Londres como bolsista da
Fundação Gulbenkian entre 1960/61 e, ao retornar, juntou-se a
Maria Helena Matos no NAAE e dedicou-se às artes gráficas;
• Cristina Reis, também licenciada em pintura pela Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa. Estudou em Londres entre
34
Mas antes disso já tinha ido para o Barreiro ensinar. E foi aí que tive aquele
embate engraçado e sempre animador que foi embora ter concorrido em
igualdade de circunstâncias geográficas com os meus colegas, os colegas
homens ficaram todos em Lisboa e eu fui para o Barreiro. Fui ao Ministério
20
Fundadores da APD | Associação Portuguesa de Designers. (2016). APD. Acesso em 10 de Novembro
de 2016, disponível em http://www.apdesigners.org.pt/associacao/fundadores-da-apd/
36
para saber se havia algum engano porque a minha nota era superior à deles
e apareceu-me o director de serviços a dizer “não se importa de ir ali à minha
sala” e explicou-me: “Vai custar-lhe imenso ouvir isto mas as mulheres só po-
dem ser colocadas depois dos homens terem sido todos colocados primeiro”
(Almeida, 2009, p.94)
As Conquistas
mento, porém, após discutido durante mais de trinta anos, não foi aprovado,
por acreditar-se que desonraria os maridos e poderia tornar a gravidez algo
rentável, em função dos adicionais que seriam pagos neste caso. Em 1932, um
decreto proibiu o trabalho noturno para mulheres e regulamentou pausas para
amamentação nos primeiros seis meses de vida dos filhos.
Em 1932, foi promulgada a primeira Constituição Brasileira a tratar so-
bre os direitos do trabalho da mulher. Entre outras questões, legislava sobre a
proibição da discriminação das mulheres quanto ao salário, a proibição do
trabalho de mulheres em ambientes insalubres, o direito de repouso antes e
depois do parto sem prejuízo ao salário e outras medidas voltadas à saúde e
proteção da gestante. Na Constituição seguinte, de 1934, outras medidas pro-
tetivas foram adicionadas, como o salário maternidade e a licença maternida-
de. Até o final do Século XX, três outras constituições foram promulgadas,
sendo duas delas resultados de golpes de estado: a constituição de 1937, fruto
do golpe de Getúlio Vargas, e a de 1967, do golpe militar de 1964 (Melo, 2011).
A supressão da necessidade de autorização do marido para trabalhar aconte-
ceu em 1962, com a publicação do Estatuto da Mulher Casada.
Hoje, graças à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), promulgada
em 1943, e à Constituição de 1988, diversos direitos trabalhistas das mulheres
são protegidos, entre eles:
• Direito à licença gestante de 120 dias, sem prejuízo do emprego ou
salário;
• Realização de ações que visassem a proteção do trabalho da
mulher;
• Proibição de diferenças de salários;
39
21
Em 1944 a CLT foi alterada, permitindo o trabalho noturno para mulheres maiores de 18 anos em
algumas atividades.
40
22
Diário do Governo nº 88, 22 de Abril de 1891, 4ª feira, p. 882
23
Somente em 1930 o Código Civil foi atualizado e o texto referente a estas questões foi retirado
integralmente, podendo ser este considerado um marco do final do dever de obediência da mulher ao
marido. (GUIMARÃES, 1986)
41
Verificou-se nos anos 30, não apenas em Portugal, mas também por quase
toda a Europa, a adesão aos princípios do totalitarismo, que, ao contrário do
liberalismo anterior, punha a colectividade acima do indivíduo e, neste caso
específico, a família, como um todo, acima dos direitos dos seus membros.
Era o retorno ao sistema patriarcal. (Guimarães, 1986, p.567)
Ainda segundo a autora, o Código Civil de 1966 restaurou o poder marital (do
marido – chefe da família – sobre a esposa), mas simultânea e contraditoria-
mente aumentou os direitos das esposas. A partir deste momento, passou a
ser permitido que as esposas exercessem profissões liberais ou fossem funcio-
nárias públicas sem a necessidade de consentimento do marido, assim como
publicar obras literárias e expor trabalhos artísticos – direito que as mulheres
solteiras já tinham desde 1927, mas era negado às mulheres casadas. Tam-
bém foi estabelecida a capacidade da esposa de receber ela mesma pelo seu
trabalho.
Somente após o fim da ditadura, em 1974, com o novo Código Civil de
1978, as novas leis que estabeleciam a igualdade entre homem e mulher no
mercado de trabalho e a criação da Comissão para a Igualdade no Trabalho e
no Emprego, mudanças importantes passaram a vigorar:
42
During the last quarter of the twentieth century, women played a central role in
building the discourse of graphic design. During this period the profession
came of age both as a recognized business and as a field of study in universi-
ty art and design programs, including at the graduate level. Women were no
minority among the educators, critics, editors, and curators who defined the
theoretical issues of the time. Schools and museums provided accessible plat-
43
forms from which women could influence the direction of graphic design.
(2012, p.81)24
Students and young academics are used to having female teachers and pro-
fessors; they have been raised by feminist mothers. Women have asserted
their place not only in the realm of education, but also in the worlds of politics
and finance, as well as the legislative and judicial arenas. (2012, p.39)25
24
“Durante o último quarto do século vinte, as mulheres tiveram um papel central na construção do
discurso do design gráfico. Durante este período a profissão atingiu maturidade tanto como negócio
reconhecido e como campo de estudo em programas universitários de arte e design, inclusive em nível de
graduação. Mulheres não foram minoria entre os educadores, críticos, editores e curadores que definiram
as questões teóricas daquele tempo. Escolas e museus disponibilizaram plataformas acessíveis pelas
quais mulheres puderam influenciar as direções do design gráfico.” (Tradução nossa.)
25
“Estudantes e jovens acadêmicos estão habituados a ter professoras e mestres mulheres; eles foram
criador por mães feministas. Mulheres afirmaram seu lugar não só no âmbito da educação, mas também
nos mundos da política e das finanças, assim como nas arenas legislativas e judiciais.” (Tradução nossa.)
44
26
Infelizmente, as estatísticas ainda utilizam sexo, e não gênero, como parâmetro. Por isto, não é
possível afirmar com certeza a proporção de mulheres – sejam elas cis ou trans.
27
Fonte: HESA 2014-15 (Higher Education Statistics Agency).
28
Fonte: Censo da Educação Superior Inep/Deed.
45
Yet despite the fantastic successes documented here, women remain minority
players. It is striking how many successful women designers in the twentieth
century worker in partnership with powerful male practitioners (Elaine Bass,
Zuzana Licko, Laurie Haycock Makela). Such connections to established
power are not inconsequential. It is easy to young designers today to discount
the importance of the pioneering women who entered a less open field; it also
is easy to assume that the balance of male and female students in schools of
art and design insures an equal balance in the workplace. Although women
represent a large part of the design profession, they still do not predominate at
the very top, in terms of income or access to large-scale commissions. (2012,
p.85)29
29
“No entanto, apesar dos fantásticos sucessos documentados aqui, mulheres seguem sendo
personagens minoritários. É impressionante como muitas profissionais designers mulheres bem
sucedidas do século XX, trabalharam em parceria com poderosos praticantes do sexo masculino (Elaine
Bass, Zuzana Ličko, Laurie Haycock Makela). Tais conexões de poder estabelecidas não são
inconsequentes. É fácil de jovens designers hoje descontar a importância das mulheres pioneiras que
entraram um campo menos aberto; também é fácil supor que o equilíbrio de alunos e alunas nas escolas
de arte e design garante um equilíbrio igual no local de trabalho. Embora as mulheres representam uma
grande parte da profissão do design, eles ainda não predominam no topo, em termos de renda ou de
acesso a altas comissões.” (Tradução nossa.)
46
30
“Reconhecimento é uma forma de visibilidade social, com consequências cruciais na relação entre
grupos minoritarios e a corrente principal. Para minorías raciais e sexuais, ser invisível é ser privado de
reconhecimento.” (Tradução nossa.)
47
31
Tradução nossa. Em inglês, no original: “Gender equality has been debated for a long time now; there’s
been an awarness of the problema. There’s been an improvement, but we are still poorly represented,
except when women are the central issue.” (Stavro, 2012)
48
32
Fonte: 5º Encontro de Tipografia [http://web.ipca.pt/5et] Acesso em 19 de Agosto de 2016.
33
Fonte: 6º Encontro de Tipografia [http://6et.web.ua.pt] Acesso em 19 de Agosto de 2016.
49
Fonte: DiaTipo São Paulo - Timeline | Facebook. (2016). Facebook.com. Acesso em; 1 de
Novembro de 2016, disponível em:
https://www.facebook.com/DiaTipo/photos/a.482862988421000.108373.470935936280372/109
9929183381041/?type=3&theater
50
34
“Designers ficam famosos falando em conferências. Muitas mulheres tem filhos e não têm tempo para
isto. […] A maioria dos homens que são conferencistas tem suas esposas em casa com os filhos”
(Tradução nossa.)
51
It would make sense that women were more insecure about their capabilities.
History and society itself forgets, ignores and undervalues women; in contrast,
the heroes are always men. (2012, p.364)35
De fato, uma possível causa desta insegurança seria, como sugere Li-
zá Ramalho, a influência social – com papéis de gênero muito definidos e es-
trutura patriarcal – que espera a introversão feminina em contraste com a
extroversão masculina, impactando na autoconfiança principalmente das pro-
fissionais mais jovens. Este tópico é abordado com mais profundidade a partir
da página 63.
35
“Faria sentido que as mulheres fossem mais inseguras sobre as suas capacidades. A história e a
própria sociedade esquece, ignora e subestima as mulheres; em contraste, os heróis são sempre
homens.” (Tradução nossa.)
52
36
“Esses métodos, que envolvem a seleção, classificação e priorização de tipos de design, categorías de
designers, diferentes estilos e movimentos e diferentes modos de produção, são intrínsecamente
tendenciosos contra as mulheres e, na realidade, servem para excluí-las da história.” (Tradução nossa.)
53
(1) woman’s body and its functions, more involved more of the time with “spe-
cies life,” seem to place her closer to nature, in contrast to man’s physiology,
which frees him more completely to take up the projects of culture; (2) wom-
an’s body and its functions place her in social roles that in turn are considered
to be at a lower order of the cultural process than man’s; and (3) woman’s tra-
ditional social roles, imposed because of her body and its functions, in turn
55
give her a different psychic structure, which, like her physiological nature and
her social roles, is seen as being closer to nature. (1974, pp. 73-74)37
As feminist art and design historian have pointed out, for centuries talented
and creative women, connected by blood or marriage to creative men, have
been denied a historical place based on their own accomplishments for a vari-
ety of reasons to do with male power to define what is of value and to control
access and information. (2012, p.172)38
37
“(1) o corpo da mulher e suas funções, mais envolvidas na maior parte do tempo com a "vida da
espécie", parecem colocá-la mais próxima da natureza, em contraste com a fisiologia do homem, que o
libera mais completamente para assumir os projetos da cultura; (2) o corpo da mulher e suas funções a
colocam em papéis sociais que, por sua vez, são considerados em uma ordem inferior do processo
cultural do que os do homem; E (3) os papéis sociais tradicionais da mulher, impostas por seu corpo e
suas funções, por sua vez, lhe dão uma estrutura psicológica diferente, que, como sua natureza
fisiológica e seus papéis sociais, é vista como mais próxima da natureza.” (Tradução nossa)
38
“Como historiadoras de arte e design feministas tem apontado, durante séculos, mulheres talentosas e
criativas, ligadas por sangue ou casamento a homens criativos, têm sido negadas um lugar histórico
baseado em suas próprias realizações por uma variedade de razões que têm a ver com o poder
masculino de definir o que é de valor e de controlar o acesso e a informação.” (Tradução nossa.)
56
Woman is not “in reality” any closer to (or further from) nature than man – both
have consciousness, both are mortal. [...] The result is a (sadly) efficient feed-
back system: various aspects of woman’s situation (physical, social, psycho-
logical) contribute to her being seen as closer to nature, while the view of her
as closer to nature is in turn embodied in institutional forms that reproduce her
situation. The implications for social change are similarly circular: a different
cultural view can only grow out of a different social actuality; a different social
actuality can only grow out of a different cultural view. (1974, p.87)39
Este tema está intimamente ligado com a próxima questão que aborda-
remos: a definição, pelos historiadores de o que é design e, ainda mais impor-
tante, o que é bom design, e a influência das questões de gênero na
construção destas definições ao longo da história.
39
“A mulher não está "na realidade" mais próxima (ou mais longe) da natureza do que o homem - ambos
têm consciência, ambos são mortais. [...] O resultado é um sistema de feedback (tristemente) eficiente:
vários aspectos da situação da mulher (física, social, psicológica) contribuem para que ela seja vista como
mais próxima da natureza, enquanto a visão dela como mais próxima da natureza é por sua vez
encarnado em formas institucionais que reproduzem sua situação. As implicações para a mudança social
são igualmente circulares: uma visão cultural diferente só pode surgir de uma realidade social diferente;
Uma realidade social diferente só pode crescer a partir de uma visão cultural diferente.” (Tradução nossa.)
57
The problem of describing the occupation of the female graphic designer is,
therefore, characterised in part by the indeterminate identity of this field of
study, both in terms of its narrative and disciplinary affiliations. (2012, p.43)40
40
“O problema de descrever a ocupação do designer gráfico feminino é, portanto, caracterizado, em
parte, pela identidade indeterminada desse campo de estudo, tanto em termos de sua afiliação narrativa
quanto disciplinar.” (Tradução nossa.)
41
Esta definição foi aceita pelo International Council of Societies of Industrial Design (ICSID) em 1969 e
utilizada pela Organização até 1971, quando deixou de utilizar qualquer definição de design de forma
oficial.
58
Esta definição, criada, difundida e imposta por grupos dominantes, serve aos
interesses destes e é difundida como sob a máscara da “universalidade”.
A estética dominante, no caso do design, é fruto do modernismo, que
enfatizou a inovação e a experimentação como fatores de diferenciação no
design, e que esteve (e está) diretamente ligado ao capitalismo, à produção e
ao consumo em massa, como afirma Buckley:
42
“Embora designers agora operam em um contexto pós-modernista, muitos historiadores do design
inconscientemente adotam critérios modernistas ao decidir o que deve entrar nos livros de história. O
conceito de ‘ser diferente’ ainda é privilegiado pelos historiadores, revelando assim a relação estrutural
entre os historiadores e os projetos que promovem dentro do capitalismo.” (Tradução nossa.)
59
43
“A pobreza foi definida como pessoas vivendo em famílias com renda per capita inferior à linha da
pobreza. A linha da pobreza é o dobro da linha de indigência, que é definida pelos custos de uma cesta
básica alimentar que contemple as necessidades de consumo calórico mínimo de um indivíduo. A linha da
pobreza foi estimada, em setembro de 2005, em 163 reais.” (Sorj et al., 2007, p.581)
61
[La doble participación] obliga a las mujeres a una práctica constante de paso
de un trabajo a otro, de unas características específicas de la actividad fami-
liar a unos horarios y valores del trabajo asalariado, de una cultura del cuida-
do a una cultura del beneficio, que les exige interiorizar tensiones, tomar
44
Os autores utilizam a palabra (a) cônjuge para identificar as mulheres que vivem com seus
maridos/companheiros.
62
“While it’s true that maternity leave gives a bit of security, when working for a
large company, the financial support is quite minimal. The fact that I have my
job waiting when I’m ready to come back is great.” 47 (p.366)
45
“[A dupla participação] obriga as mulheres a uma prática constante de transição de um trabalho ao
outro, de características específicas da atividade familiar aos horários e valores do trabalho assalariado,
de uma cultura de cuidado para uma cultura de lucro, que exige que interiorizem tensões, tomem
decisões e façam escolhas as quais os homens não estão obrigados.” (Tradução nossa.)
46
Depoimento de Astrid Stavro: “Meu marido – também um designer gráfico – trabalha (e se esforça),
tanto quanto eu. Além de administrar nossos negócios separados, soms ambos ativos no circuito de
conferências e fazemos parte em paineis de júri; nós sistematicamente nos revezamos para fazer isso."
(Tradução nossa.)
63
“The English government could help by giving fathers more paternity rights – it
would make a more lot sense if you could share this responsability” 48 (p.366)
“Some countries offer more government support – where they don’t expect
people to work late hours, which isn’t the case in Portugal […] Some women
quit their practice mainly because of lack of support and resources for moth-
ers” 49 (p.366)
47
Depoimento de Sonya Dyakova: “Embora seja verdade que a licença de maternidade dá um pouco de
segurança, quando se trabalha para uma grande empresa, o apoio financeiro é mínimo. O fato de eu ter
meu trabalho esperando quando estiver pronta para voltar é ótimo.” (Tradução nossa.)
48
Depoimento de Kirsty Cartner e Emma Thomas, co-fundadoras do estúdio “A Practice for Everyday
Life”: “O governo inglês poderia ajudar dando aos pais mais direitos de paternidade – faria muito mais
sentido se pudéssemos dividir essa responsabilidade." (Tradução nossa.)
49
Depoimento de Lizá Ramalho: “Alguns países oferecem mais apoio governamental – onde não
admitem trabalho até horas tardias, o que não acontece em Portugal [...] Algumas mulheres abandonam a
sua prática principalmente devido à falta de apoio e de recursos para as mães." (Tradução nossa.)
64
social ao terem sucesso em carreiras atípicas para seu gênero, o que é inter-
pretado como motivo para evitar o sucesso. Embora pesquisas subsequentes
não tenham confirmado diferenças de gênero no medo do sucesso, este é um
fator a ser considerado ao observar diferenças nas aspirações profissionais
sob o ponto de vista de gênero.
Stavro aborda esta questão a partir da discussão com profissionais,
como Mia Frostner, que associa a maior visibilidade de designers homens à
sua socialização, que os encoraja mais a se expor:
There seem to be more famous male graphic designers without a doubt. From
an early age boys are more encouraged to be seen and heard more than girls.
Also, stereotypical male qualities are often seen as more desirable. I think ce-
lebrity in itself is not desirable and shouldn’t be mixed up with success. (2012,
p.363)
Lizá Ramalho faz a mesma associação, ao afirmar que “sentia que meu
nível de ambição era algo sobre o qual eu deveria ser discreta, quase como se
fosse rude para uma mulher ser abertamente ambiciosa” e que “a história e a
própria sociedade esquecem, ignoram e subvalorizam as mulheres; em con-
traste, os heróis são sempre homens” 50 (p.364).
Bruce e Lewis colocam como uma das barreiras enfrentadas pelas mu-
lheres em busca de sucesso profissional51 o fato de serem orientadas à tarefa
(task-oriented) ao invés de orientadas à carreira (carreer-oriented), e afirmam:
If the organizational culture is male dominated, women get the subtle mes-
sage that they are not really expected to do those things, or at least to do
50
Traduções nossas. No original: “I felt that my level of ambition was something that I had to keep quiet
about, almost if it was rude for a woman to be openly ambitious” / “History and society itself forgets,
ignores and undervalues women; in contrast, the heroes are always men.”
51
No contexto do texto, os autores associam “sucesso” a visibilidade e acesso a altos escalões.
65
them well. They may react by withdrawing from competition and working even
harder at their design tasks. (1990, p.119)52
52
“Se a cultura organizacional é dominada pelo sexo masculino, as mulheres recebem a sutil mensagem
de que elas não são realmente esperadas para fazer essas coisas, ou pelo menos fazê-las bem. Eles
podem reagir retirando-se da competição e trabalhando ainda mais em suas tarefas de design.”
(Tradução nossa)
53
Tradução nossa.
54
“O acesso ao mundo impresso dá aos designers gráficos uma aura de autoridade. Enquanto os
homens no campo da comunicação estão bastante confortáveis com este estado de coisas, as mulheres
tendem a ser críticas a oradores que não aproveitam esta situação fortuita para lidar com importantes
questões ambientais, sociais ou comunitárias.” (Tradução nossa.)
66
Seleção de Participantes
Inquérito Principal
Para uma análise mais focada, o inquérito principal foi dividido em dois
modelos: um deles aplicado à designers com menos de dez anos de atividade
no mercado de trabalho (G1) e outro aplicado àquelas que já estão há mais de
dez anos no mercado (G2). No segundo, em função do maior tempo de atua-
55
A íntegra do inquérito pode ser consultada no Anexo I.
56
Os nomes das paticipantes serão citados somente nos casos em que a identificação foi autorizada. Nos
casos contrários, serão utilizadas as iniciais de nome e sobrenome.
69
57
Considerando que as respostas das participantes são influenciadas não somente pelas suas
experiências mas também por outros fatores pessoais, os resultados podem apenas refletir as
percepções das mesmas em relação aos fatos, e não os fatos em si.
70
Entrevistas
Tabela 1
Qual a sua opinião Qual a sua opinião Qual a sua opinião Qual a sua opinião
sobre a visibilidade sobre a visibilidade sobre a visibilidade sobre a visibilidade
feminina no Design feminina no Design feminina no Design feminina no Design
Gráfico no Brasil? Gráfico em Portugal? Gráfico no Brasil? Gráfico em Portugal?
71
A designers com *Não foi feita a Durante sua trajetória Durante sua trajetória
menor tempo de questão equivalente profissional, houve profissional, houve
mercado – grupo no às profissionais decisões que tiveste decisões que tiveste
qual está incluída, Brasileiras pois a de tomar que crês de tomar que crês
tendem a expressar tendência à que seus que seus
de forma mais crítica expressar-se de companheiros companheiros
sua percepção nas forma mais crítica não homens não homens não
desigualdades de foi verificada neste enfrentaram? enfrentaram?
gênero. O que pensas grupo.
que mudou?
Tabela 2
Questões Específicas da Entrevista
Grupo Pergunta
Sócias em estúdios Qual a proporção atual entre homens e mulheres na sua empresa, em
de Design Gráfico posições hierárquicas mais baixas (Estagiárias, Designers Jr., etc.)?
Esta é uma questão consciente ou aleatória?
Como empreendedora e, agora, chefe de outras mulheres, de alguma
maneira te vês responsável, juntamente com as tuas sócias, na
motivação e inspiração das tuas funcionárias?
A Amostra
58
Alguns comentários transcritos neste capítulo foram editados por questões de ortografia, clareza, ou
para proteger a identidade das participantes.
59
Esta questão é analisada mais detalhadamente a partir da página 74.
73
Tabela 3
Participantes dos Inquéritos
Tempo no Identificação da
País mercado Nº Participante Área de Atuação Cidade
Empregada em empresa
2 R.R. Porto Alegre
de 10 a 49 funcionários
Empregada em empresa
3 G.P. de mais de 100 São Paulo
funcionários
Empregada em empresa
4 G.G. Porto Alegre
de até 9 funcionários
Empregada em empresa
10 G.L. Porto Alegre
de 10 a 49 funcionários
Empregada em empresa
Rio de
11 R.B. de mais de 100
Janeiro
funcionários
Empregada em empresa
12 N.L. São Paulo
de 50 a 99 funcionários
Empregada em empresa
13 C.L. de mais de 100 Curitiba
funcionários
Rio de
3 M.L. Freelancer
Janeiro
Sócia em empresa de 10
5 V.Q. São Paulo
a 49 funcionários
Empregada em empresa
1 M.F. Lisboa
de 10 a 50 funcionários
Menos de
dez anos Atuando fora do
2 T.M. Lisboa
(G1-PT) mercado do Design
Empregada em empresa
3 S.G. Lisboa
Portugal de até 9 funcionários
bém houve uma maior percepção de que o gênero não influenciou, mas o nú-
mero de participantes que respondeu que houve influência negativa foi consi-
deravelmente superior em comparação ao G2.
Ao analisar os comentários das participantes, foi possível reconhecer
ainda melhor as diferenças na percepção das desigualdades. Por serem opcio-
nais, não somente o conteúdo dos comentários pôde ser analisado, mas tam-
bém o interesse das participantes em aprofundar a questão. Enquanto as
participantes do G2 abstiveram-se de fazer comentários ou destacaram a moti-
vação causada pela diferença e a repercussão positiva na sua carreira, as
profissionais do G1, que estão no início da sua trajetória profissional, reconhe-
cem as diferenças como negativas, em um posicionamento mais crítico, com-
partilhando mais experiências pessoais de desigualdade de gênero. A seguir,
dois exemplos que ilustram a diferença percebida:
Eu nunca me senti menos capaz que homem nenhum na minha área, e sem-
pre estive muito confortável com esse sentimento. (F.S., participante do G2,
Rio de Janeiro, Brasil)
Como mulher, sinto que me cobro muito mais para ter tanto sucesso na car-
reira, nos relacionamentos, manter contato com amigos e família, fazer
networking etc. em comparação com os homens com quem mais interajo.
(G.P., participante do G1, São Paulo, Brasil)
Enquanto passamos nossa graduação lendo Ellen Lupton sem nem nos dar-
mos conta que ela é mulher, temos predominantemente referenciais masculi-
nos, dando a impressão de que somente há bons designers homens. (R.B.,
participante do G1, Rio de Janeiro, Brasil)
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
G1 - Menos de 10 anos G2 - Mais de 10 anos
Majoritariamente homens 73% 94%
Em proporção semelhante
18% 6%
entre homens e mulheres
Majoritariamente mulheres 9% 0%
No meu curso de design havia uma quantidade similar entre homens e mulhe-
res, mas quando se tratava da literatura e história, certamente havia muito
mais homens sobre quem aprendemos nos livros. Na época não reparava
pois achava que havia um balanço na turma que compensava ("estávamos
mudando a história"), mas hoje vejo como isso faz toda a diferença. Prova-
velmente pelo fato de os homens culturalmente se imporem mais profissio-
nalmente, eles acabaram ficando mais registrados. (G.P., participante do G1,
Porto Alegre, Brasil)
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
G2 (Primeiros 5 G2 (Últimos 5
G1
anos de carreira) anos de carreira)
Majoritariamente homens 56% 82% 45%
Em proporção semelhante
31% 9% 18%
entre homens e mulheres
Majoritariamente mulheres 13% 9% 0%
Não se aplica / Não tive
0% 0% 36%
chefes
[...] sempre passei por situações nos locais de trabalho em que os chefes,
que sempre foram homens, se prevaleciam pelo fato de serem homens. Ex-
plico: o tratamento com funcionárias mulheres era sempre mais agressivo, ou
menos cordial, do que com os homens. E, em umas das empresas em que fui
estagiária, presenciei diversos momentos em que os sócios da empresa fazi-
am comentários sobre aparência física das mulheres entrevistadas ou de cli-
entes. (G.G., participante do G1, Porto Alegre, Brasil)
79
crítica vinda das designers com menor experiência no mercado, ambos aspec-
tos constantes nas respostas analisadas. Tendo em vista que grande parte das
respostas analisadas são de designers Brasileiras, e que o contexto político-
social atual do Brasil vem fortalecendo as discussões de gênero, encabeçadas
por grupos jovens, podemos inferir que o contato das profissionais menos ex-
perientes com estas discussões colabora para que estas tenham posições
mais críticas em relação ao tema. As profissionais com maior experiência, por
sua vez, além de terem menor contato com as discussões atuais de gênero,
tendem a considerar positivos todos os fatores que contribuíram para seu su-
cesso, inclusive as dificuldades encontradas no percurso, além de transparece-
rem ter autoconfiança mais elevada das em comparação às mais
inexperientes.
Estratégias Propostas
60
No Brasil, a licença parental remunerada é de 120 dias para a mãe e de apenas 5 dias para o pai – que
aumentam para 20 se a empresa participar do programa governamental Empresa Cidadã – tanto para
filhos biológicos quanto adotivos. Em Portugal, a licença parental pode ser compartilhada entre pai e mãe,
chegando a um máximo de 180 dias.
83
Conclusão
Referências Bibliográficas
Anexos
Questão Objetivo
Avalie a influência dos seguintes aspectos na
sua trajetória como designer:
• Seu Gênero*
• Sua Personalidade*
• A presença de figuras femininas ins-
piradoras (na história do Design, no
ambiente acadêmico ou profissio-
nal)**
• Apoio familiar à construção de uma
carreira***
• Expectativas da sociedade em rela-
ção a você* Levantar dados sobre as experiências
• O ambiente em que cresceu/ se de- individuais de cada participante;
senvolveu*
Compreender a percepção da participante
* Opções de resposta: Influenciou negativa- sobre o tema;
mente | Não influenciou Influenciou positiva-
mente | Não sei responder Verificar padrões entre os grupos e sub-
** Opções de resposta: Houve contato e grupos para posterior análise.
influenciou negativamente | Houve contato e
influenciou positivamente | Houve contato e
não influenciou | Não houve contato e in-
fluenciou negativamente | Não houve contato
e influenciou positivamente | Não houve
contato e não influenciou | Não sei responder
*** Opções de resposta: Não houve apoio e
isto influenciou negativamente | Não houve
apoio porém isto não influenciou | Houve
apoio e isto influenciou positivamente | Houve
apoio porém isto não influenciou | Não sei
responder
91
Questão Objetivo
Avalie a influência dos seguintes aspectos na
sua trajetória como designer:
• Seu Gênero*
• Sua Personalidade*
• A presença de figuras femininas ins-
piradoras (na história do Design, no
ambiente acadêmico ou profissio-
nal)**
• Apoio familiar à construção de uma
carreira***
• Expectativas da sociedade em rela-
ção a você* Levantar dados sobre as experiências
• O ambiente em que cresceu/ se de- individuais de cada participante;
senvolveu*
Compreender a percepção da participante
* Opções de resposta: Influenciou negativa- sobre o tema;
mente | Não influenciou Influenciou positiva-
mente | Não sei responder Verificar padrões entre os grupos e sub-
** Opções de resposta: Houve contato e grupos para posterior análise.
influenciou negativamente | Houve contato e
influenciou positivamente | Houve contato e
não influenciou | Não houve contato e in-
fluenciou negativamente | Não houve contato
e influenciou positivamente | Não houve
contato e não influenciou | Não sei responder
*** Opções de resposta: Não houve apoio e
isto influenciou negativamente | Não houve
apoio porém isto não influenciou | Houve
apoio e isto influenciou positivamente | Houve
apoio porém isto não influenciou | Não sei
responder
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