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1. Introdução
A Economia Social é uma área negligenciada, pelos investigadores em particular, no que diz respeito
ao seu papel para o fomento da competitividade local, regional e nacional. Este fator é visível na
ausência de metodologias e indicadores adequados à economia social, em parte derivado à
complexidade e diversidade de organizações (o que torna difícil a sua comparabilidade) e á
recentidade do seu reconhecimento no ganho de um lugar de destaque na produção de serviços
públicos. As mudanças de política pública, sobretudo na área social do Estado, a acentuação da crise
económica, o aumento do desemprego e da pobreza, têm permitido um aumento de visibilidade
deste Sector, que deixou de ter um valor residual em termos económicos, para ser um pilar da
economia, a par do Estado e do mercado.
Através deste estudo de caso pretendemos assim aumentar o conhecimento acerca das principais
motivações, barreiras e fatores facilitadores conducentes à melhoria da qualidade das prestações e à
eficácia da gestão das instituições da Economia Social, contribuindo desta forma para a sua
competitividade e sustentabilidade.
Este estudo de caso destaca um conjunto de boas práticas no desenho de processos estruturados de
inovação de Instituições da Economia Social,
Começamos este capítulo com um breve enquadramento do setor da Economia Social, destacando as
principais debilidades e desafios com que estas organizações se debatem. De seguida identificamos a
metodologia adotada neste trabalho e, por último, analisaremos o caso da Fundação Luiz Bernardo de
Almeida.
O artigo 82º da Constituição da República Portuguesa, estabelece três setores de propriedade dos
meios de produção: o setor privado (a propriedade e gestão são detidas por pessoas coletivas ou
privadas); o setor público (a propriedade e gestão são detidas pelo Estado ou Entidades Públicas) e o
setor cooperativo e social (como inclui um conjunto amplo de entidades com diferentes fins, a
Economia Social equipara -se a este setor).
De acordo com a CASES (2010), o termo Economia Social é ambíguo pois pode assumir um leque
variado de conceitos, em diversos países, como por exemplo “terceiro setor”, “setor não lucrativo”,
“economia social e solidária”, “economia alternativa”, entre outros.
Na Europa, a Economia Social é responsável por cerca de 10% do setor empresarial europeu, com um
peso de cerca de 6% no emprego total (cerca de 11 milhões de pessoas), revelando-se um setor que
será chamado a dar um maior contributo aos problemas atuais de desemprego e coesão social
europeus devido à transformação social e económica em curso.
O setor da Economia Social, segundo a Cases e o INE (2013), com a criação de “subcontas” da conta
satélite da Economia Social para 2010, compreende as Cooperativas (2.260 unidades); as
Mutualidades (119 unidades); as Misericórdias (381 unidades); as Fundações (537unidades) e (5)
Associações e outras organizações da Economia Social (52.086 unidades).
Segundo os dados da Cases e do INE (2013) em 2010, este setor em Portugal era constituído 55.383
organizações, das quais cerca de 50% atuavam na área da cultura, desporto e recreio. Os cultos e
congregações sociais (15,8%) e a ação social (14%) também tinham uma expressão significativa. Com
menor expressão, seguiam-se as organizações no âmbito do desenvolvimento, habitação e ambiente
(4,9%), as organizações profissionais, sindicais e políticas (4,7%), as organizações de ensino e
investigação (4,2%), a saúde e bem-estar (1,5%), o comércio e serviços (1,2%), as atividades de
transformação (0,7%), a agricultura, silvicultura e pescas (0,5%) e, por fim, as atividades financeiras
(0,2%).
Em termos de emprego, este setor era responsável por cerca de 5,5% do emprego remunerado
(250.000 pessoas), em que 48,60% do emprego remunerado localizava-se nas organizações de ação
social, seguindo-se atividades de cultos e congregações (15,8%), ensino e investigação (10,5%), e a
cultura, desporto e recreio (5,4%).
Em termos de VAB (Valor Acrescentado Bruto Nacional), este setor apresentava um peso de 2,8%, em
que mais de 50% provinha das IPSS.
A leitura destes dados fundamenta o potencial que este setor tem em gerar riqueza assente na
criação de valor humano e social.
De acordo com o Instituto da Segurança Social, I.P. (2013) as IPSS são instituições sem fins lucrativos
constituídas por iniciativa de Particulares, cujas atividades desenvolvidas em Portugal estão centradas
no apoio a crianças e jovens; apoio à família, proteção dos cidadãos na terceira idade e invalidez;
proteção na saúde; educação e formação profissional e habitação. Podem assumir as seguintes
formas jurídicas: (1) As associações de solidariedade social; (2) as associações de voluntários de ação
social; (3) as associações de socorros mútuos ou associações mutualistas; (4)as irmandades da
Misericórdia; (5) Fundações de Solidariedade Social; (6) Centros Sociais e Paroquiais ou outras
instituições criadas pela Igreja Católica ou outras organizações religiosas, cujo regime de
funcionamento é equiparado ao das Fundações de Solidariedade Social. Pode ainda ser requerido o
estatuto de equiparação a IPSS por Cooperativas e Casas do Povo.
Verificou-se que as Associações sem fins lucrativos representavam a maior fatia neste segmento
(84,30%), seguidas das Misericórdias (6,8%), Fundações (4,2%), Mutualidades (2,4%), Cooperativas
(2,3%).
De acordo com Soares et.al, citando a Carta Social, no ano de 2010, 3 respostas sociais,
representavam no seu conjunto cerca de 90% das Respostas Sociais da Economia Social, sendo que
cerca de 68% do total são entidades sem fins lucrativos e destas, 61,4% são IPSS, distribuídas da
seguinte forma:
Segundo o mesmo autor, as respostas sociais com maior peso em termos de custos no orçamento
identificadas pelas IPSS são: (i) Lar de Idosos (60,10%); (ii) Serviço de Apoio Domiciliário (41,10%); (iii)
Centro de Dia (25%); (iv) Lar de Infância (23,10%); (v) Creche (17,40%); (vi) Unidade de Cuidados
Continuados (8%); (vii) Atividades de Tempos Livres (7,4%) e outras (6,8%). O autor identifica o S.A.D.
e o Centro de Dia como os serviços alvo de maior preocupação financeira das organizações.
Por outro lado, em temos de fonte de receitas, os autores constataram que as principais fontes de
financiamento são: (1) Estado e Entidades Públicas (33,30%); (2) Outras fontes de receitas (16,10%);
(3/4) Rendimento de Capital e Promoção de Atividades (13,3%); (5) Vendas (10,40%); (6) Prestação de
Serviços (9,7%); (7) Legados, doações e heranças (3,9%).
Já cerca de 2/3 dos Gastos advêm dos Custos das Mercadorias Vendidas e Matérias Consumidas
(nomeadamente o custo da alimentação), Gastos com Pessoal e FSE (nomeadamente Eletricidade e
Combustíveis).
Esta informação relacionada, parece indicar a vulnerabilidade a que estas organizações estão sujeitas
e por outro lado, nota-se o grande peso indicado das comparticipações do Estado no orçamento das
organizações, o que a reduzir-se, trará inevitavelmente desequilíbrios nestas organizações.
O Setor da Economia Social é confrontado com um conjunto enorme de desafios e debilidades, dos
quais destacamos, entre outros, os seguintes: (1) a grande dependência de apoios financeiros
provenientes do Estado; (2) a exigência do cumprimento de um conjunto de critérios e regras
impostos pelo Estado, de forma a manterem os apoios públicos, nomeadamente ao nível da
profissionalização, qualidade e certificação; (3) a sustentabilidade num contexto de crise económica,
com provável redução dos apoios e crescimento dos problemas sociais; (4) Necessidade de
reinventarem os seus modelos de negócio de forma a evitarem défices crónicos; (4) Profissionalização
dos quadros dirigentes; (5) Economias de Escala; (6) qualificação dos colaboradores; (7) Liderança; (8)
Equipamentos e Instalações); (9) Integração das TIC; (10) Alterações demográficas; (9) Assimetrias na
distribuição da população.
Para fazer face aos desafios e debilidades com que estas organizações se debatem é imperativo
melhorar a qualidade das suas prestações e a eficácia da gestão atuando sobre diversos fatores,
contribuindo desta forma para a sua competitividade e sustentabilidade, entre os quais salientamos:
Para Rumelt, Schendel & Teece (1994) a Gestão Estratégica (também chamada de “Politica” ou
“Estratégia”) está relacionada com o rumo de uma organização, incluindo os aspetos que estão no
centro das preocupações da gestão de topo, e com aquelas que estão relacionadas com as razões
pelas quais um negócio tem sucesso ou fracassa.
Hitt, Ireland & Hoskinsson (2011) afirmam que “ o processo de gestão estratégica é o conjunto
completo de compromissos, decisões e ações exigidos para que uma organização alcance
competitividade estratégica e obtenha retornos acima da média”, ou por outras palavras, é a bem
sucedida formulação e implementação da estratégia que cria valor.
Os elementos básicos que constituem o ciclo de gestão estratégica são a Análise do Meio Envolvente,
a Formulação e a Implementação da Estratégia, a Avaliação e Controlo.
Barney & Arikan (2005) sugerem que é necessário mais trabalho no campo de implementação da
estratégia a partir da perspetiva da teoria baseada em recursos, uma vez que a implementação da
estratégia pode ser uma fonte de vantagem competitiva sustentável em si, embora dependente de
outros recursos estratégicos controlados pelas organizações que são utilizados de uma forma
complementar.
De acordo com Chetty (2010) há uma taxa de 70 por cento de fracasso nos esforços dos executivos
para implementar a estratégia, que tem um custo enorme para as organizações.
Já para Hrebiniak (2006) os principais obstáculos que os gestores enfrentam são: (1) A incapacidade
de gerir a mudança, (2) estratégia pobre ou vaga, (3) Não ter diretrizes ou um modelo para orientar
os esforços de implementação; (4) Partilha da informação deficiente ou inadequada, (5) a
responsabilidade e prestação de contas incertas; (6) Trabalhar contra a estrutura de poder da
organização.
A Estratégia e Inovação são conceitos distintos, tanto em termos de definição como de função, sendo
a inovação uma fonte de vantagem competitiva (Dobni, 2010), apesar de Rogers (2003) considerar
que "inovação" e "tecnologia" são a mesma coisa (Sahin, 2006) . De acordo com Sullivan (2010), a
Inovação consiste em introduzir mudanças a algo estabelecido, introduzindo algo novo, que adiciona
valor aos clientes e contribui para a gestão do conhecimento da organização.
Segundo do Manual de Oslo (2005), que estabelece as linhas orientadoras para a recolha e
interpretação de dados sobre a inovação empresarial, elaborado pela OECD: “uma inovação é a
implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um
processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de
negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas “.
A definição de Inovação do Manual de Oslo (2005, p. 48) aponta para quatro dimensões da inovação,
que englobam um vasto leque de mudanças nas atividades empresariais, que são respetivamente:
Romero (2010) identifica duas nomenclaturas de classificação científicas acerca do grau de novidade
da inovação:
o A inovação incremental, consiste na inclusão de pequenas melhorias no produto ou
processo (Ex. comando à distância TV ou sandálias havaianas, RFID nos supermercados).
o Já a inovação radical, consiste na introdução de novos conceitos, normalmente oriundos das
atividades de I&D e que poderão ter grandes impactos, nomeadamente na criação de novos
mercados (Ex. microscópio eletrónico; Inovação falhada da Phillips com a Tv interativa).
O contínuo crescimento da importância da inovação também está relacionada com uma capacidade
para fazer mudanças na posição competitiva das organizações. Assim, a inovação e a estratégia são
complementares (Dobni de 2010), e alimentam-se mutuamente.
Osterwalder & Pigneur (2010), criaram o Business Model Generation (BMC), cujo conceito visa a
partilha de uma linguagem comum que permita descrever e manipular facilmente modelos de
negócio como forma de criação de alternativas estratégicas novas. Assim, descrevem um modelo de
negócio que tem na sua composição 9 blocos básicos, assentes em 4 áreas principais de um negócio:
(1) Clientes; (2) Oferta; (3) infraestruturas e (4) viabilidade financeira.
Estes blocos são constituídos respetivamente por: (i) Segmentos de clientes; (ii) Propostas de valor;
(iii) Canais; (iv) Relações com os clientes; (v) Fluxos de rendimentos; (vi) Recursos-Chave;(vii)
Atividades-chave; (viii) Parcerias-Chave e ( ix) a Estrutura de Custos.
Ao fazer uma análise à FLBA, utilizando como metodologia o Modelo de Negócio de Osterwalder &
Pigneur (2009), ilustramos um exemplo do preenchimento do BMC aplicado ás organizações do
terceiro setor.
Fonte: The Business Model Canvas was developed by the Business Model Generation. Further information is available at www.businessmodelgeneration.com
3. Método de Investigação
Utilizamos a metodologia de estudo de caso como forma válida de explorar a teoria existente e como
uma forma exploratória para proporcionar uma visão integral e uma compreensão geral de um
fenômeno (Yin, 2009). Nesta investigação, analisamos os processos e os resultados do Programa Q3-
Qualificar o 3º Setor, dinamizado pela AEP, em parceria com a Fenacerci, Minha Terra e Confederação
Portuguesa das Coletivas, numa organização da Economia Social.
Após uma revisão de literatura, duas entrevistas em profundidade foram realizadas com os gestores
de topo da FLBA. Foi possível relacionar os dados empíricos com várias ideias apresentadas pela
literatura.
A metodologia não é propensa á generalização dos resultados, devido à especificidade do contexto,
mas destaca um conjunto de bons exemplos sobre os fatores-chave para o estabelecimento de uma
efetiva estratégia e inovação eme Organizações do Setor da Economia Social.
4. Perfil da Organização
Este ponto foi organizado em três partes, que nos permitem fazer uma primeira abordagem
consistente dos conceitos e práticas em organizações do terceiro setor.
Na primeira parte faz-se uma caracterização acerca da entidade objeto de estudo, do problema que
esta sentia e que a levou a tomar a decisão de aderir a um programa de intervenção externo e a
identificação deste programa.
O Q3 é um projeto nacional, que visa desenvolver as competências das pessoas e das organizações do
3º Sector, melhorando a qualidade das suas prestações, a eficácia da gestão e contribuindo para a sua
competitividade e sustentabilidade, através de processos participados e sustentados, de consultoria e
formação.
O Q3 envolveu 79 entidades do 3º Sector, em 3 regiões. Cada entidade destinatária participou numa
intervenção, realizada de acordo com o Modelo de Intervenção Q3, com várias fases: recrutamento e
seleção, realização de um diagnóstico, elaboração de um plano de desenvolvimento, implementação
de medidas, revisão do plano e recomendações.
O Modelo Q3 é a metodologia que serviu de base à intervenção em todas as entidades destinatárias e
já foi testado, com bons resultados, em mais de 110 entidades do 3º Sector. Todas as atividades são
avaliadas externamente e validadas internamente, e todos os intervenientes (consultores e
formadores) têm competências certificadas para poder atuar de acordo com os procedimentos
previstos de modo a garantir a qualidade e a eficácia da intervenção. As entidades destinatárias que
participaram no Q3 desenvolveram as competências das pessoas e da própria organização,
melhorando a qualidade das suas prestações, a eficácia da gestão, contribuindo para a sua
competitividade e sustentabilidade.
4.3. Identificação do problema
Após um período conturbado na vida da FLBA, que quase comprometeu a sua sobrevivência, tomou
posse, em 2008, uma nova Direção liderada pela Eng.ª Maria de Fátima Vide. O principal objetivo
desta nova Direção era, por um lado, assegurar a sustentabilidade da FLBA, e por outro lado,
melhorar a qualidade dos serviços prestados, atendendo à sua degradação evidente aos olhos da
comunidade.
Sensivelmente a meio do seu primeiro mandato como órgão executivo da FLBA e após um
conhecimento mais aprofundado acerca da realidade em que a instituição se encontrava e da tomada
de certas medidas que se revelaram cruciais para garantir a sobrevivência da instituição, a Direção da
FLBA candidatou-se ao programa Q3, cujos objetivos foram acima mencionados.´
Havia a firme convicção entre a Direção de que a organização tinha um deficiente desempenho
organizacional, que se traduzia nos fracos resultados económico-financeiros, na deficiente prestação
de serviços, pelo que seria extremamente importante, conhecer as causas deste fraco desempenho,
de forma as mitigar, ou até, eliminar.
O Q3 tinha como vantagens além do custo, a visão integrada, imparcial e experiente por parte de uma
entidade externa e reconhecida, que identificaria os principais problemas com que a instituição se
debatia (Diagnóstico) e que forneceria uma quadro de ações de gestão que mitigariam ou
extinguiriam estas mesmas situações problema (Recomendações), através de ações de formação e
consultoria á medida da organização, em função da sua dimensão, dos problemas identificados e dos
objetivos definidos.
5. Diagnóstico
Neste ponto faz-se uma análise à estrutura do programa Q3 e á estrutura organizacional inicial e os
seus efeitos no desempenho da organização .
A intervenção na entidade teve uma duração de cerca de 1 ano e passou pelas seguintes fases
principais:
5.1.1.Diagnóstico organizacional
Esta fase iniciou-se com a celebração do Contrato para o Desenvolvimento - o documento no qual se
definem os compromissos entre a organização e a entidade que gere a intervenção no sentido de
promover o desejado desenvolvimento organizacional da entidade beneficiária da intervenção.
Seguiu-se uma breve apresentação da fase de diagnóstico, incluindo as várias atividades a realizar e
alguns dados associados a essa realização.
O diagnóstico organizacional é essencial, pois daqui surgem todas as problemáticas e definem-se os
objetivos que são alvo da intervenção. É, portanto, necessário recorrer aos detentores do
conhecimento sobre essa realidade, elementos que vivenciam o quotidiano da entidade e fazer a
prospeção de situações problemáticas. A ideia é maximizar a participação de toda a entidade no
levantamento de problemas, sendo que o/a consultor/a assume apenas um papel de
ouvinte/mediador/moderador.
Na realização do diagnóstico organizacional, as principais atividades de referência que o sustentam
são:
- Auscultação de pessoas:
- Análise documental:
- Enquadramento setorial e contexto:
- Árvore de problemas:
- Situação atual/situação desejada:
- Árvore de objetivos:
Ainda nesta fase, as atividades que, complementarmente à auscultação de pessoas, promovem a sua
participação em todas as fases deste processo são:
De acordo com Mintzberg (1999) para analisarmos as estruturas, devemos ter em conta cinco
componentes básicos da estrutura, onde enquadramos alguns problemas terminais da FLBA:
Nível estratégico: São os decisores organizacionais, aqui materializados na função
Direção. Os problemas identificados referentes a esta componente foram, entre outros:
uma deficiente gestão estratégica e uma reduzida presença operacional da Direção;
A Tecnoestrutura: As regras e procedimentos para gerir os comportamentos dos
colaboradores. Nesta componente foram identificados, entre outros, problemas de
diferenciação horizontal e vertical, patentes numa deficiente comunicação entre níveis
hierárquicos e falta de espirito de equipa; problemas de formalização como uma
deficiente definição de funções e tarefas e ainda, problemas situados ao nível da
centralização como o excesso de tarefas e responsabilidades concentradas na Diretora
Técnica.
O Staff de suporte: Estes colaboradores não intervêm diretamente na produção de bens
ou serviços, no entanto, têm como responsabilidade apoiar as atividades primárias.
Temos como exemplo os serviços de limpeza e alimentação. Neste campo, foram
detetados vários problemas, entre os quais deficientes práticas de HACCP e deficiente
limpeza das instalações.
Nível Intermédio: São as chefias que fazem a ligação entre o nível estratégico e o nível
operacional. Podemos incluir a direção técnica e de serviços, bem como os
encarregados e chefes de setor. Nesta componente foram identificados problemas
como uma deficiente gestão de equipas (inadequada amplitude de controlo),
inexistência de reuniões setoriais, falta de avaliação de desempenho e deficiente
distribuição de tarefas.
Nível Operacional: Nesta componente, situam-se todos os colaboradores da instituição,
que executam a produção de bens ou serviços. Também aqui foram detetados
problemas, entre os quais salientamos, entre outros, dificuldades de relacionamento
interpessoal, resistência á mudança e a inexistência de um plano de formação.
6. Recomendações
- Quadro de medidas;
- Quadro de atividades por medida;
- Matriz de planeamento de projetos por objetivos;
- Cronograma da implementação;
No âmbito do Q3 todas as medidas previstas são de formação, podendo enquadrar-se nas seguintes
tipologias:
- Qualificação de ativos:
No âmbito desta tipologia, foram estabelecidas as seguintes ações de formação e diretamente
relacionadas com os problemas de estrutura organizacional acima identificados: Gestão das
Operações; Relacionamento interpessoal e gestão de conflitos; Gestão da qualidade - área alimentar
e Atendimento.
- Workshops temáticos:
O plano de desenvolvimento, antes da sua versão final, foi pré-validado pela Direção e foi debatido
com todas as pessoas da organização, beneficiando, pois, da participação de todos na
definição/especificação das medidas a implementar.
O plano de desenvolvimento apresentado corresponde unicamente ao conjunto de ações elegíveis no
âmbito do programa Q3, apesar de a própria Direção ter elaborado um conjunto de ações próprias de
forma a simultaneamente eliminar ou mitigar as situações-problema não elegíveis no âmbito do Q3.
6.2.Cronograma de Implementação
O Projeto Q3 visa intervir ao nível das organizações formandas do 3º Sector, procurando resolver os
seus problemas, pelo que o seu sucesso mede-se sobretudo pelos resultados alcançados.
De realçar que dos vinte e três resultados previstos alcançar, foram todos alcançados. Para além
destes, a intervenção permitiu realizar várias mudanças, que atingiram vários domínios da gestão e
funcionamento da organização, nomeadamente no que diz respeito á sua estrutura organizacional.
Tabela 1 - Resultados Alcançados
1 Construção da matriz SWOT
2 Definição dos Objetivos Estratégicos e Operacionais
3 Definição de novo organograma e funções
4 Definição de Funções, Responsabilidade e Autonomia para cada nível de Gestão
5 Definição das estratégias de negócio e corporativas
6 Elaboração do novo plano geral de trabalho
7 Definição dos processos de qualidade
8 Elaboração do Manual de Qualidade
9 Demonstração de melhorias no relacionamento interpessoal
10 Reconhecimento das estratégias mais eficazes na resolução de conflitos
11 Identificação de métodos e técnicas de trabalho em equipa
12 Conhecer e saber aplicar regras fundamentais de organização do trabalho numa cozinha
13 Reconhecer e aplicar técnicas de confeção de alimentos
14 Conhecer e compreender as regras fundamentais de higiene na cozinha e armazém
15 Elaborar Manual de Boas Práticas
16 Executar corretamente cuidados de higiene e conforto ao idoso, acamado ou não
17 Identificar técnicas de higienização de espaços, materiais e equipamentos
18 Identificar produtos básicos de limpeza
19 Identificar os utensílios básicos de higienização
20 Utilizar utensílios e produtos de limpeza
21 Reconhecer e aplicar as formas de exercício de autoridade e liderança
22 Criação de Objetivos de Desempenho
Definição de Metodologia de desenvolvimento profissional e avaliação de desempenho, quer individual, quer de
23
equipa
Dos resultados alcançados, importa dar relevo aos diretamente relacionados com a estrutura
organizacional.
Assim, foi definido um novo organograma, cujo principal objetivo, foi o de passar de uma estrutura
burocrática mecanicista, para uma estrutura horizontal. As principais motivações que presidiram á
elaboração deste tipo de estrutura, prenderam-se com uma maior proximidade ao cliente assente na
rapidez, eficiência e qualidade dos serviços prestados, um maior achatamento da estrutura
organizacional, a procura de vantagens competitivas numa envolvente externa turbulenta, a
constituição de equipas e a facilitação da colaboração, um maior enfâse no processo operacional
enquanto criador de valor, uma delegação do trabalho ao mais baixo nível.
Por outro lado, para que a implementação do novo organograma tivesse sucesso, ele foi
redesenhado, acrescentando-se as atividades e serviços efetivamente prestados pela organização e
que não estavam refletidos no organograma anterior, tendo como resultado direto a possibilidade de
definir claramente as funções, tarefas e responsabilidades de cada membro na organização.
Verificou-se uma preocupação forte em executar as medidas e resultados previstos, o que foi
conseguido com sucesso. Todo o conjunto de medidas implementadas foram consideradas muito
importantes pelos dirigentes e facilitador, considerando como tendo um maior impacte na sua
organização as seguintes, e que se enquadram nos problemas acima identificados relacionados com a
Estrutura Organizacional da FLBA:
Neste ponto, apresentamos a perspetiva dos responsáveis da organização sobre os pontos fortes e
fracos do modelo de intervenção Q3, bem como o resultado da avaliação externa feita à
implementação do Programa realizada pela UTAD.
Por último, o relatório de avaliação final de implementação do Q3, realizado pela UTAD em parceria
com o CETRAD traça amplos elogios à implementação do Programa Q3 na FLBA, tendo-o considerando
um “ caso exemplar de mudanças”.
AEP (2009).Q3- Qualificar o 3º setor- Parceria, Projeto e Modelo de Intervenção. 1ª Ed., AEP, Porto
Bilhim, J. (2005). Teoria Organizacional: estruturas e pessoas. 4ª Ed. Lisboa, Universidade Técnica de
Lisboa. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
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WWW.INE.PT
Correia, João Carlos (2003) Estado, Sociedade Civil e Serviço Social, Intervenção Social, nº28, p.99-113
FOSTERWALDER, Alexander; PIGNEUR, Yves et. al. (2010). Criar Modelos de Negócio. Alfragide: Dom
Quixote. Titulo original: Business model generation. ISBN: 978-972-20-4497-4.