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Material Teórico
O Pensamento de Emile Durkheim
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
O Pensamento de Emile Durkheim
·· Introdução
·· Biografia
·· Anomia
·· Funcionalismo
·· Religião
·· A Educação
Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
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Unidade: O Pensamento de Emile Durkheim
Contextualização
Quino/quino.com.ar
Diante das charges acima, qual é a sua opinião sobre os pensamentos de Emile Durkheim
acerca dos fatos sociais, segundo o qual podem ser definidos como padrões de comportamento
capazes de exercer algum poder coercitivo sobre os indivíduos?
Vamos discutir este tema, considerando que, para o pensador francês, os fatos sociais
constituem o principal objeto de estudo da Sociologia.
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Introdução
Biografia
David Emile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858 em Epinal na França. Sua mãe,
Melanie, era filha de um importante comerciante da cidade e seu pai, Moïse, era membro de
uma grande família de rabinos e durante a infância Durkheim frequentou a escola rabínica. A
ideia de se tornar rabino não durou muito e, quando ele chegou a Paris, rompeu definitivamente
com o judaísmo.
Ele se destacou nos estudos e obteve o título de bacharel em Letras em 1874 e em Ciência,
no ano seguinte.
Com o objetivo de se tornar professor, ele mudou-se para Paris e, depois de duas tentativas
foi aceito na Ecole Normale Supérieure, em 1879. Nesse espaço, aprofundou seu gosto pela
discussão acadêmica e política.
Em 1882, Durkheim iniciou sua carreira como professor de filosofia e, em 1887, a qualidade
de seu trabalho tinha chamado a atenção de Louis Liard, o diretor de Educação Superior
da França que o indicou como responsável pelo curso de Ciências Sociais e Pedagogia da
Faculdade de Letras de Bourdeaux.
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Unidade: O Pensamento de Emile Durkheim
Entre 1887 e 1902, Durkheim dedicou-se a lecionar história e educação, além de desenvolver
outras atividades em que discutia religião, socialismo, crime ...
Em 1898, ele fundou o Année Sociologique, o primeiro jornal de sociologia da França e
com a ajuda de inúmeros acadêmicos, a revista produzia uma análise da literatura sociológica
produzida na França e publicava artigos na área.
Durante este período, sua reputação se solidificou e ele foi convidado a assumir a cadeira de
Ciências da Educação e Sociologia em Paris, cargo que ocupou até 1913.
O inicio da I Guerra Mundial afetou o trabalho de Durkheim, que se envolveu na organização
de um comitê para publicação de estudos e documentos sobre a guerra, com o objetivo de
desacreditar a chamada “propaganda alemã”.
Em 1916, seu filho André foi declarado morto nos esforços de guerra Bulgária e, o
acontecimento devastou Durkheim e o levou a se dedicar inteiramente ao esforço de guerra.
Depois de se recuperar parcialmente de um derrame, ele faleceu em 15 de novembro de 1917,
enquanto trabalhava em texto sobre a moralidade.
A Ordem Social.
De acordo com Durkheim, os fatos sociais são o objeto de estudo da sociologia. Eles
podem ser definidos como padrões de comportamento que são capazes de exercer algum
poder coercitivo sobre os indivíduos. Estes padrões são internalizados durante o processo de
socialização e educação e passam a fazer parte da consciência individual.
É facto social toda a maneira de fazer susceptível de exercer sobre os indivíduos
uma coacção exterior ou ainda que é geral na extensão de uma sociedade
dada, tendo ao mesmo tempo uma existência própria, independente das suas
manifestações individuais1 .
Emile Durkheim
Estas restrições levam à obrigação moral de obedecer regras que determinam a vida em sociedade.
1 Aron, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Lisboa: Publicações D. Quixote, 2007, p.354.
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Estas forças externas são a consciência coletiva, definida como uma relação social expressa
por ideias, valores, crenças que são institucionalizadas na estrutura social e internalizadas pelos
membros da cultura em questão.
Ele analisa as causas e efeitos do enfraquecimento dos laços entre os indivíduos em dois
trabalhos: a Divisão do Trabalho Social (1893) e o Suicídio (1897).
No livro a Divisão do Trabalho Social, ele identifica duas formas de solidariedade que tem
origens diferentes. A primeira é a solidariedade mecânica, que surge em sociedades relativamente
homogêneas, em que as pessoas estão envolvidas em atividades semelhantes e vivem as mesmas
experiências. Nessas sociedades, as poucas instituições existentes expressam valores similares e
regras que se interligam e se reforçam.
Os valores, normas e crenças são homogêneos e a consciência individual é virtualmente
idêntica a consciência coletiva. De acordo com Durkheim, nestas sociedades tradicionais, as
culturas experimentam um alto grau de integração e pouco espaço para o individualismo.
As pessoas, nessas sociedades, participam do mesmo tipo de atividade e têm os mesmos
valores, portanto, todos se consideram parte do grupo.
A segunda forma de solidariedade é definida pelo autor, como solidariedade orgânica. Esta é
fruto da divisão do trabalho, que marca as sociedades mais complexas e como as experiências
concreta tornam-se muito diversas, os interesses, valores e crenças tendem a se diferenciar.
Nessas condições, os indivíduos têm cada vez menos valores em comum, contudo, devido às
condições concretas, suas atividades estão interligadas e interdependentes.
O crescimento do individualismo, neste contexto, seria inevitável e levaria ao enfraquecimentos
dos valores coletivos e o sacrifício do sentido de comunidade.
A coesão social se enfraquece e os seus valores estruturantes deixam de garantir uma moral
consistente e que fornece os parâmetros para o comportamento social.
A diversidade de normas e valores é capaz de libertar o indivíduo das tradições criadas pelas
instituições como família e igreja, contudo, este potencial também se traduz em problemas para
a vida em sociedade.
O indivíduo tem inúmeras possibilidades de comportamento, que nem sempre são marcadas
pelo bem comum, e como as regras tornam mais frouxas é possível que ele enverede por
elas. Seu comportamento passa a ser marcado pela ideia de que todos os seus atos devem ser
pautados pela noção de “Será que este comportamento atende as minhas necessidades?” e
não mais pela ideia de “Será que este comportamento atende o bem comum?.
A questão do suicídio.
Segundo Durkheim, nenhum comportamento humano pode ser reduzido a aspectos psicológicos
pois, todo o comportamento humano é reforçado pelos aspectos da vida em sociedade.
Suicídio é todo o caso de morte que resulta directamente ou indirectamente de
um acto positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia dever
produzir esse resultado2.
2 Aron, Raymond.As Etapas do Pensamento Sociológico. Lisboa:Publicações D. Quixote, 2007, p.325.
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Com o objetivo de demostrar esta ideia, Durkheim volta sua reflexão aos aspectos que
envolvem o suicídio. A escolha do tema está no fato do ato de tirar a própria vida ser reconhecido
como algo puramente psicológico, um ato único de um único indivíduo.
Os dados sobre o suicídio, segundo o autor, mostram uma variação que não pode ser
explicada por aspectos psicológicos: por que os suicídios se concentram em uma determinada
faixa de idade? Por que os números de suicídios variam de cultura para cultura?
Durkheim insiste que estes números são determinados por questões sociais, pois muito do
que somos, o nosso tipo de comportamento e as nossas crenças são fruto das forças sociais, que
nos moldam.
Segundo sua análise, o aumento do número de suicídios está ligado ao enfraquecimento da
coesão social e solidariedade dos membros do grupo, que não oferecem mais o apoio necessários
nos momentos de crise individual.
Em seu estudo, ele diferencia três tipos de suicídio: o altruísta, o egoísta e o anômico.
O suicídio altruísta é marcado pela convicção do indivíduo de que sua ação favorecerá um
grupo ou uma causa, um exemplo deste tipo de raciocínio são kamikazes, os pilotos japoneses
que para infringir perdas aos americanos e proteger o império atiravam seus aviões nos navios
que estavam lutando no Pacífico. Neste caso, o que se observa é a subordinação excessiva do
individuo a sua comunidade.
Já o suicídio egoísta atinge pessoas que não estão integradas à sociedade e que por esse
motivo não internalizaram as regras sociais e os parâmetros de comportamento. Quando essas
pessoas enfrentam uma crise, não encontram nenhum tipo de apoio do grupo, o que os leva a
ação. O senso de desobrigação com os outros e a centralidade do eu marcam estes casos.
O suicídio anômico ocorre quando o grupo falha em garantir ao indivíduo as regras e
parâmetros claros de comportamento. Esse tipo de suicídio é associado à modernidade, pois é
reflexo da divisão do trabalho e do individualismo.
Anomia
Para Durkheim, vivemos uma sociedade que não garante aos indivíduos regras e padrões de
comportamento claros; aliás, estes chegam a ser contraditórios.
Ele define este fenômeno como anomia, ou seja, a inexistência de regras claras e padrões
morais consistentes deixa o indivíduo a mercê de seus interesses particulares. Sem as regulações
normativas e as regras morais, as pressões internas e o stress atingem a todos os membros.
Este fenômeno, como destacado, é associado à modernidade e mais especificamente, à
divisão social do trabalho e às rápidas mudanças sociais. O ponto central deste conceito é
a noção de que quanto mais o trabalho fica especializado, menos senso de identificação e
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comunidade é desenvolvido e isso provoca o enfraquecimento dos padrões normativos. O
resultado é o aumento do comportamento egocêntrico, violação dos padrões normativos e a
desconfiança contra os poderes estabelecidos.
Durkheim postula que, como consequência desta situação, cria-se a necessidade de estabelecer
alguma regra e, neste momento uma nova forma de integração social era emergir.
Funcionalismo
Na perspectiva de Durkheim, a pesquisa social tem dois objetivos: conhecer a origem histórica
dos fenômenos sociais e explicar a função do sistema social como um todo.
Determinar a função social das instituições e dos fatos sociais é a questão central da obra
de Durkheim.
Um exemplo é a sua abordagem em relação ao crime. Segundo ele, o crime aparece em
todas as organizações sociais e sua função é estabelecer as fronteiras do comportamento
humana aceitável e, ao punir os infratores, reforça as relações entre os não infratores. Além
disso, o crime seria sinal flexibilidade as relações sociais, pois, segundo Durkheim, algumas
vezes, o crime é indicativo de uma forma futura de moralidade. Um bom exemplo é a luta
dos negros estadunidenses por direitos iguais. As ações de pessoas como o de Rosa Parks,
que se recusou a levantar dos bancos reservados aos brancos no ônibus e foi presa por isso,
marcam o caminho de uma nova forma de relação, em que estes indivíduos lutaram para
ter seus direitos reconhecidos.
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“Você não vai se levantar? mandou o motorista. Rosa Parks olhou diretamente para ele e
disse: Não. Frustrado e sem saber exatamente o que fazer, Blake retrucou: Ok, eu vou mandar
prender você. E Parks, ainda sentada perto da janela, falou baixinho: Faça isso.
Douglas Brinkley - na biografia de Rosa Park publicada em 2000.
Religião
Emile Durheim
A religião seria uma das forças mais importantes da consciência coletiva, pois é através
dela que o individuo transcende a preocupação com si mesmo e passa da se interessar
pelo bem comum.
No mundo moderno, as religiões tradicionais enfrentam uma profunda crise, contudo segundo
Durkheim, outras irão surgir. Isso acontece porque os grupos humanos tem a necessidade de
expressar os seus sentimentos coletivos, ideias e desejos em cerimonias regulares.
As formas e símbolos podem mudar, mas, segundo ele, a religião é eterna.
A Educação
A educação mereceu um lugar especial no pensamento de Durkheim, visto que ele considera
que educar corresponde ao processo de socialização da nova geração pela geração anterior.
Neste sentido, ele destacava a importância sociedade na formação do indivíduo, ele chega a
declarar que o homem é o produto de sua sociedade e não seu criador.
3 Aron, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Lisboa: Publicações D. Quixote, 2007, p. 339
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Portanto, a educação eficiente promove o desenvolvimento da comunidade como um todo,
sendo um ato coletivo que permite ao indivíduo cristalizar os valores e regras de sua sociedade.
Durkheim não desenvolveu nenhum método pedagógico, mas suas ideias levaram ao
desenvolvimento da noção de que o trabalho do professor tem impacto no coletivo pois, como
já foi dito, educar é socializar e preparar para a vida coletiva.
O processo de ensino deveria ser marcado pelo aspecto normativos da relação do professor
com o aluno ou seja, o professor bem preparado deve controlar a relação de aprendizado,
cabendo ao aluno reconhecer a sua autoridade.
Agora, para que isso seja possível, devemos retomar uma definição que já discutimos: a de
fato social. Considerando este ponto de partida, ele postula que os fatos sociais devem ser
entendidos e observados com independência e livre de preconceitos.
4 Aron, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Lisboa: Publicações D. Quixote, 2007, p.355
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Material Complementar
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Referências
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Anotações
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