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Texto 16

I. IDENTIFICAÇÃO DO TEXTO

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. No castelo da História só há processos e


metamorfoses, sem veredicto final. IN: _______. História: a arte de inventar o
passado. Bauru: Edusc, 2007. p. 67-83.

II. APRESENTAÇÃO DO AUTOR

Durval Muniz de Albuquerque Júnior possui graduação em Licenciatura Plena


em História pela Universidade Estadual da Paraíba (1982), mestrado em História pela
Universidade Estadual de Campinas (1988) e doutorado em História pela Universidade
Estadual de Campinas (1994). Atualmente é colaborador da Universidade Federal de
Pernambuco, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem
experiência na área de História, com ênfase em Teoria e Filosofia da História, atuando
principalmente nos seguintes temas: gênero, nordeste, masculinidade, identidade,
cultura, biografia histórica e produção de subjetividade. Faz, neste momento, estágio
de pós-doutorado junto a Universidade de Coimbra, Portugal.

III. ESTRUTURA DO TEXTO

[1. Conservação da memória]


[2. Em busca de transformação]
[3. Construção de uma história “não fascista”]
[4. Comportamento e adaptações do migrante]
[5. Conclusão]

IV. APRESENTAÇÃO DO TEXTO

A singularidade: uma construção nos andaimes pingentes da teoria da história

[1. Conservação da memória]

 O migrante parte de seu território, pedaço querido de que tem que se desgarrar e
vai deixando pelo caminho fragmentos de sua vida, de sua experiência exterior,
fragmentos deste passado, com as quais ele tenta remontar o roteiro de sua vida, de
sua memória (p. 247);

 Esse sujeito, que “em vossa presença emigra” 1 vai encontrando pelo caminho
fragmentos de vida, de culturas, de experiências humanas, esses novos takes2 terão
que ser incorporados à novela de sua vida, à sua historia → a montagem de um novo
roteiro se torna necessário (p. 247);

 O migrante que vive em busca de uma rota, constrói novos roteiros para suas
experiências, para a sua vida e muda a rotina dos lugares de onde sai e aonde chega,
esse sujeito vai deixando pelos vários lugares por onde passa andrajos, vai se
despindo de valores, costumes, comportamentos, falas e sentimentos tradicionais →
vai ficando nu (p. 247);

 Torna-se um costureiro, que tenta construir uma nova roupa cultural, que lhe dê
uma nova identidade. Algo diferente aconteceu com ele → seu corpo e sua alma
mudaram nesta travessia → suas antigas vestimentas não sevem mais (p. 248).

[2. Em busca da transformação]

 Na travessia, estes modelos se alteraram. Na cidade aonde chega, parece


reproduzir os mesmos padrões culturais de seu lugar de origem, só que esta tradição
esta sendo recriada (p. 248);

 Assim como ele balança pingente em suas paredes a construir, seus valores
culturais oscilam entre o passado que deixou para trás, que esta sendo reconstruído
no prédio da memória, e o presente que invade o corpo (olhos, ouvidos, boca, pele e
nervos) → Simulando um novo território que busca rejuntar as experiências cotidianas
do passado e presente (p. 248);

 Esse sujeito não consegue totalizar as experiências que passam por ele mesmo,
que o atravessam. Ele é um entroncamento em que diferentes estradas, diferentes
séries históricas vêm encontrar-se, ao mesmo tempo, vêm separar-se (p. 248);

1
Referência ao poema “Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto.

2
Tomadas - registro ininterrupto de uma cena, por meio de câmara (HOUAISS, 2009).
 Esse sujeito é nômade, que movimenta deixando para trás as divergências que se
tornaram excêntricas, afastando-se do mesmo lugar, da unidade (p. 248).

 As características variadas do migrante: camponês-trabalhador, urbano-operário,


vagabundo-criminoso, estranho, observador, reconstruidor, alienígena nas grandes
cidades e outros (p.249).

[3. Construção de uma história “não fascista”]

 Partir do objeto estudado, o migrante, elabora uma grade conceitual que nos ajude a
descobrir a singularidade → essencial para justificar o nosso próprio ofício de
historiador, o que nos dá lugar no mundo do saber (p. 249);

 A operação historiográfica teria como tarefa → elaborar aparatos conceituais e


procedimentos metodológicos capazes de falar do diferente sem reluzi-lo ao parecido,
sem associá-lo ao conhecido (p. 250);

 O historiador deve ser aquele que descobre bifurcações, entroncamentos,


cruzamentos de caminhos, que são ao mesmo tempo fronteiras e possibilidades. O
historiador é um construtor do passado, nas andanças do presente. Presente e
passado são caminhos a percorrer e construir com certezas e incertezas (p. 250);

 Gilles Deleuze usa conceitos como de cultura, classe, tradição ou identidade, mas
procura construí-los ou desconstruí-los conforme seu objeto de estudo requeira ou
exija (p. 251);

 O conceito identidade cultural com o qual o migrante é constantemente trabalhado,


esta relacionado na Antropologia, na Sociologia ou na História. Mas o que realmente
deve-se ressaltar no trabalho do historiador são as desigualdades, são as resistências
ou as fugas de se integrar a uma dada identidade coletiva de grupo ou classe (p. 250).

 Chama atenção para um discurso unificador e homogeneizado que significa o


silenciamento de outros discursos e a ida de alguns discursos para a margem →
buscar resgatar o que teima em ser singular no reino homogêneo, do coletivo, do
todo, é a tarefa mais “nobre” do historiador (p. 251);
 Por que em vez de procurar trilhar a estrada “principal” da formação da classe
operária, não buscar encontrar o migrante nos atalhos da vagabundagem, do crime,
da vida de artista, de produtor de cultura, de trabalhador autônomo? (p. 251);

 O historiador inglês E. P. Thompson reconheceu que para resgatar a experiência de


formação da classe operária, é preciso juntar muitos cacos que foram deixados pelo
caminho, muitas singularidades foram dissolvidas ou eliminadas (p. 251);

 A cultura tradicional pode ser compreendida como um conjunto de medidas que


busca construir códigos que facilitam o cotidiano → conjunto de regras, práticas e
valores (p. 251);

 A idéia de cultura como uma totalidade constrói e reconstrói “identidades”, que cria
simpatias culturais, mas ao mesmo tempo, reafirma diferenças, desvios e
singularidades → A cultura torna-se um fluxo permanente e excêntrico (p. 252).

[4. Comportamentos e adaptações do migrante]

 O migrante se relaciona com outros indivíduos e grupos, relações que precisam ser
resgatadas para gerar zonas de simpatias, de aproximação, de identificação que
levam a representação de coletivos e à produção de “consciência de grupo” (p. 252);

 Este migrante comporta-se de acordo com o imaginário coletivo, agindo conforme


os estereótipos sociais e os esquemas teóricos consagrados. O que faz dele um
objeto singular → que respeitar sua diferença não é calar diante dele, mas emitir um
discurso que reverencia exatamente o que há de novo e estranho nele (p. 252);

 Tal migrante procura a construção de um futuro melhor, que busca capturar, reduzir
e domar sua diferença (p. 253);

[5. Conclusão]

 Uma história que não é processo único, mas o cruzamento de diferentes processos;
que não segue uma linearidade temporal; uma história que investiga muitas
possibilidades do singular, do diferente (p. 254).
 Essa predisposição à aventura da pesquisa, da descoberta, da criação do novo,
deve nortear o trabalho deste historiador que busca, nos andaimes pingentes e
oscilantes da teoria, a construção de seu objeto, de seu trabalho, de sua
singularidade, enquanto profissional, resgatando, por sua vez, a noção de
singularidade na teoria histórica e a singularidade do que toma por objeto de estudos
(p. 254).

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