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I. IDENTIFICAÇÃO DO TEXTO
O migrante parte de seu território, pedaço querido de que tem que se desgarrar e
vai deixando pelo caminho fragmentos de sua vida, de sua experiência exterior,
fragmentos deste passado, com as quais ele tenta remontar o roteiro de sua vida, de
sua memória (p. 247);
Esse sujeito, que “em vossa presença emigra” 1 vai encontrando pelo caminho
fragmentos de vida, de culturas, de experiências humanas, esses novos takes2 terão
que ser incorporados à novela de sua vida, à sua historia → a montagem de um novo
roteiro se torna necessário (p. 247);
O migrante que vive em busca de uma rota, constrói novos roteiros para suas
experiências, para a sua vida e muda a rotina dos lugares de onde sai e aonde chega,
esse sujeito vai deixando pelos vários lugares por onde passa andrajos, vai se
despindo de valores, costumes, comportamentos, falas e sentimentos tradicionais →
vai ficando nu (p. 247);
Torna-se um costureiro, que tenta construir uma nova roupa cultural, que lhe dê
uma nova identidade. Algo diferente aconteceu com ele → seu corpo e sua alma
mudaram nesta travessia → suas antigas vestimentas não sevem mais (p. 248).
Assim como ele balança pingente em suas paredes a construir, seus valores
culturais oscilam entre o passado que deixou para trás, que esta sendo reconstruído
no prédio da memória, e o presente que invade o corpo (olhos, ouvidos, boca, pele e
nervos) → Simulando um novo território que busca rejuntar as experiências cotidianas
do passado e presente (p. 248);
Esse sujeito não consegue totalizar as experiências que passam por ele mesmo,
que o atravessam. Ele é um entroncamento em que diferentes estradas, diferentes
séries históricas vêm encontrar-se, ao mesmo tempo, vêm separar-se (p. 248);
1
Referência ao poema “Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto.
2
Tomadas - registro ininterrupto de uma cena, por meio de câmara (HOUAISS, 2009).
Esse sujeito é nômade, que movimenta deixando para trás as divergências que se
tornaram excêntricas, afastando-se do mesmo lugar, da unidade (p. 248).
Partir do objeto estudado, o migrante, elabora uma grade conceitual que nos ajude a
descobrir a singularidade → essencial para justificar o nosso próprio ofício de
historiador, o que nos dá lugar no mundo do saber (p. 249);
Gilles Deleuze usa conceitos como de cultura, classe, tradição ou identidade, mas
procura construí-los ou desconstruí-los conforme seu objeto de estudo requeira ou
exija (p. 251);
A idéia de cultura como uma totalidade constrói e reconstrói “identidades”, que cria
simpatias culturais, mas ao mesmo tempo, reafirma diferenças, desvios e
singularidades → A cultura torna-se um fluxo permanente e excêntrico (p. 252).
O migrante se relaciona com outros indivíduos e grupos, relações que precisam ser
resgatadas para gerar zonas de simpatias, de aproximação, de identificação que
levam a representação de coletivos e à produção de “consciência de grupo” (p. 252);
Tal migrante procura a construção de um futuro melhor, que busca capturar, reduzir
e domar sua diferença (p. 253);
[5. Conclusão]
Uma história que não é processo único, mas o cruzamento de diferentes processos;
que não segue uma linearidade temporal; uma história que investiga muitas
possibilidades do singular, do diferente (p. 254).
Essa predisposição à aventura da pesquisa, da descoberta, da criação do novo,
deve nortear o trabalho deste historiador que busca, nos andaimes pingentes e
oscilantes da teoria, a construção de seu objeto, de seu trabalho, de sua
singularidade, enquanto profissional, resgatando, por sua vez, a noção de
singularidade na teoria histórica e a singularidade do que toma por objeto de estudos
(p. 254).