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Política

Nacional
de Arquitetura
e Paisagem
PORTUGAL 2014
Direcção gráfica / Paginação página 28
Love Street Studio João Mendes Ribeiro; Fernando Guerra | FG+SG

Créditos página 31
Eduardo Souto de Moura; Fernando Guerra | FG+SG
capa
Douro Vinhateiro; ParqueEXPO página 32
Luís Paulo Ribeiro, Topiaris; João Morgado
páginas 10 e 11
Miguel Caetano Ferreira; Fernando Guerra | FG+SG páginas 34 e 35
ParqueEXPO
página 12
Álvaro Siza Vieira; João Morgado página 38
João Luís Carrilho da Graça; Fernando Guerra |
página 15 FG+SG
João Gomes da Silva + Leonor Cheis + Rosário
Salema + Inês Norton + José Adrião; ParqueEXPO página 43
Marlene Uldschmidt, Ultramarino; Fernando Guerra
página 17 | FG+SG
Gonçalo Byrne + José Barra; Fernando Guerra |
FG+SG página 45
Jorge Bonito
página 19
Aires Mateus & Associados + Frederico Valsassina +
PROAP; Fernando Guerra | FG+SG 15 de Setembro de 2014
Este libreto foi produzido no âmbito do processo de
página 25 consulta pública da Política Nacional de Arquitectura e
COMOCO; Fernando Guerra | FG+SG Paisagem, a decorrer até 31 de Outubro de 2014.

páginas 26 e 27
Nádia Shilling
Política
Nacional
de Arquitetura
e Paisagem
PORTUGAL 2014
Comissão Redatora

Despacho n.º 9010/2013, de 10 de julho

Vítor Reis, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, presidente



Cristina Cavaco, Direção-Geral do Território

João Carlos dos Santos, Direção-Geral do Património Cultural

Madalena Oliveira e Silva, Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
Jorge Bonito Santos, Ordem dos Arquitectos
Rosário Oliveira, Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas
Ana Tostões, especialista de reconhecido mérito

Cristina Castel-Branco, especialista de reconhecido mérito

Participaram também nos trabalhos da Comissão Redatora da PNAP

Carlos Bessa, Direção-Geral do Património Cultural



Alexandre Sottomayor, Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
João Rodeia, Ordem dos Arquitectos

João Bento, Ordem dos Arquitectos
Introdução 08

Enquadramento 13
1.1. Âmbito 13
1.2. Objeto 16
1.3. Fundamentos 18
1.4. Desafios 20

Ambição 29
2.1. Visão 29
2.2. Princípios orientadores 29

Objetivos 33
3.1. Qualidade de vida 34
3.2. Sustentabilidade 36
3.3. Cultura e património 36
3.4. Educação, participação e sensibilização 36
3.5. Economia e internacionalização 36

Implementação 39
4.1. Modelo de governação 39
4.2. Parceiros 41
4.3. Bases para o Plano de Ação 42
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM INTRODUÇÃO

Introdução
A Arquitetura e a Paisagem fazem parte do quotidiano dos portugueses, O amplo reconhecimento da qualidade da Arquitetura e da Paisagem como
determinando em grande medida a qualidade das suas vidas. Com efeito, um bem público que promove o bem-estar social, a competitividade
é hoje reconhecido, a nível nacional e internacional, o papel decisivo da económica e a identidade cultural, tem conduzido, ao longo das duas
Arquitetura e da Paisagem no bem-estar das populações, assegurando a últimas décadas, à adoção de convenções internacionais, de declarações
sustentabilidade ambiental, económica, social e cultural, e a promoção da e resoluções intergovernamentais e de outros compromissos, no âmbito
competitividade territorial. da União Europeia, do Conselho da Europa e das Nações Unidas, em
que Portugal participa e de que ressaltam a adoção do Esquema de
A Arquitetura e a Paisagem são expressão da identidade, história e cultura Desenvolvimento do Espaço Comunitário (EDEC), a ratificação da
coletivas, com particular reflexo na educação, na inclusão social e na Convenção Europeia da Paisagem (CEP), a Resolução do Conselho
participação dos cidadãos, e fortes implicações no desenvolvimento do Europeu sobre a qualidade da Arquitetura no ambiente urbano e rural
nosso país, designadamente nos quadros da inovação e da criatividade, e as Convenções das Nações Unidas para a proteção do património
da sustentabilidade ambiental, da eficiência energética e do combate às mundial, cultural e natural e para a proteção do património cultural
alterações climáticas, contribuindo para uma economia mais competitiva, imaterial.
para uma sociedade mais digna, justa e inclusiva.
A Política Nacional de Arquitetura e Paisagem assenta, por isso, numa
Arquitetura e Paisagem correspondem a duas áreas disciplinares distintas dupla fundamentação – ampliar a atuação de Portugal no quadro dos
que se devem complementar numa intervenção territorial equilibrada e compromissos internacionais e valorizar a qualidade do ambiente natural
harmoniosa, no quadro do ordenamento do território e do urbanismo, e construído, da Arquitetura e da Paisagem em Portugal, como fatores
capaz de promover a qualidade ambiental, o património construído e a estratégicos num quadro de desenvolvimento que garanta o bem-estar
identidade dos lugares. e a qualidade de vida dos cidadãos, aumentando a consciência cívica e
a participação dos cidadãos e das organizações da sociedade civil na sua
A grande maioria dos países da União Europeia reconheceu a Arquitetura implementação.
e a Paisagem como importantes recursos e linhas estratégicas de atuação
do Estado, concertadas através de políticas públicas que, visando a Por ser tal a relevância da Arquitetura e da Paisagem enquanto interesse
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, promovem a Arquitetura e público e bem-comum, a criação e implementação de uma política
a Paisagem entendidas como garante da qualidade e sustentabilidade do pública de Arquitetura e de Paisagem constitui como um desígnio de
ambiente natural e construído, e como recurso da cultura e da cidadania. Portugal.

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Projeto de Recuperação
Ecológica da Bacia
Hidrográfica da Lagoa das
Furnas | Laboratório de
Paisagem das Furnas,
São Miguel, Açores

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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

1 Enquadramento
Atentas às tarefas fundamentais do Estado estabelecidas
na Constituição da República Portuguesa, a Arquitetura
e a Paisagem constituem-se como objeto e domínio de
Política Pública, reconhecidos o seu valor social, cultural,
económico e ambiental, e o seu impacto no bem-estar e na
qualidade de vida das populações.

1.1. Âmbito A nível comunitário são já vários os Estados


Membros da União Europeia que relevam a
A qualidade da Arquitetura, do ambiente matéria nas suas agendas políticas nacionais,
construído e da Paisagem são matérias que consubstanciando, através da promulgação
têm vindo a merecer uma atenção crescente de políticas públicas de Arquitetura e de
nos Países Europeus, associadas aos obje- Paisagem, os princípios e compromissos
tivos do desenvolvimento sustentável, da assumidos no âmbito das convenções
salvaguarda e valorização da identidade ter- internacionais, das declarações e resoluções
ritorial, da proteção e valorização dos recur- intergovernamentais adotadas pela UE, pelo
sos e do património natural, paisagístico Conselho da Europa e pelas Nações Unidas.
e cultural, bem como do ordenamento
racional e harmonioso do território na ótica Ao adotar uma Política Nacional de Arqui-
do desenvolvimento e coesão territorial. tetura e Paisagem, Portugal vem corroborar
esses mesmos desígnios e compromissos,
Em Portugal, estes objetivos têm tido firmados e prosseguidos no âmbito da sua
sequência nos diplomas fundamentais que participação assídua nos fóruns europeus e
regulam o ordenamento do território, o internacionais, designadamente os rela-
urbanismo e o ambiente, e nos principais tivos à Arquitetura e à Paisa-gem como
documentos estratégicos que estabelecem são o Fórum Europeu para as Políticas de
as grandes orientações de política nesses Arquitetura, o Conselho dos Arquitetos da
mesmos domínios. De entre eles desta- Europa, o Comité de Monitorização para
ca-se o Programa Nacional das Políticas de a Cultura, o Património e a Paisagem, e as
Ordenamento do Território (PNPOT) que Conferências da Convenção Europeia da
identifica como medida prioritária o desen- Paisagem.
volvimento de uma PNAP, admitindo, de
forma expressa, a qualidade arquitetónica, a De entre os documentos que, a nível euro-
proteção e a valorização das paisagens e do peu e internacional, têm vindo a alicerçar a
património cultural como fatores funda- confirmação da Arquitetura e da Paisagem
Casa de Chá da Boa Nova, mentais na qualificação e desenvolvimento como domínios de Política Pública, desta-
Leça da Palmeira
do território e na promoção e melhoria da cam-se:
qualidade de vida dos cidadãos.

12 13
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

1.1.1. O Esquema de Desenvolvimento mento, reforçando desta feita o contributo e Jardins Garcia de Orta,
Parque das Nações, Lisboa
do Espaço Comunitário (EDEC), valor da Arquitetura para o desenvolvimento
adotado em 1999 pela UE, que determina sustentável e, designadamente, para o desen-
o território como uma nova dimensão da volvimento urbano sustentável.
política europeia, reconhecendo as iden-
tidades territoriais locais e regionais como 1.1.4. A Carta de Leipzig das Cidades
fatores decisivos no enriquecimento da Europeias Sustentáveis, assinada em 2007
qualidade de vida dos cidadãos. O território, pelos ministros responsáveis pelo desenvolvi-
a Paisagem, a Arquitetura e o património mento urbano, que assinala o conceito de
cultural são considerados, eles próprios, Baukultur, sensibilizando para a importância
fatores ativos de desenvolvimento, sendo a de um espaço público, de uma Arquitetura
conservação e a gestão criativa das paisagens e ambiente construído de qualidade, na
culturais e do património arquitetónico melhoria das condições de vida da popu-
uma opção e objetivo de política central, lação urbana, no reforço da atratividade
tendo em vista o ordenamento e o desen- das cidades e da competitividade do espaço
volvimento territorial. urbano; uma questão que não é apenas cul-
tural, mas que cruza também aspetos sociais,
1.1.2. A Convenção Europeia da económicos e ambientais.
Paisagem, assinada em Florença no ano
2000 e ratificada por Portugal em fevereiro 1.1.5. As Agendas Territoriais da União
de 2005, que reconhece a Paisagem como Europeia, assinadas, respetivamente, em e Natural (Convenção de Paris), aprovada as Sociedades (Convenção de Faro) de 2005,
uma componente fundamental do patrimó- 2007 e em 2010, que determinam o reforço pela Organização das Nações Unidas para a promovida pelo Conselho Europeu e que se
nio cultural e natural europeu, contribuindo da coesão territorial como um objetivo Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) debruça sobre a natureza das relações entre
para a formação das culturas locais e para a comum e prioritário no âmbito da política em 1972 e ratificada por Portugal pelo o património e as sociedades atuais, nomea-
consolidação da identidade europeia. Sejam europeia, configurando um pré-requisito Decreto n.º 49/79, de 6 de junho, que damente os patrimónios arquitetónico e
áreas urbanas ou áreas rurais, áreas notáveis essencial na consolidação do crescimento define as bases e princípios da conservação paisagístico, e postula sobre os contributos
do ponto de vista patrimonial, áreas do económico sustentável e na implementação do património mundial natural e cultural, da conservação do património para o desen-
quotidiano ou, mesmo, áreas degradadas, a dos objetivos de coesão económica e social. tendo sido os critérios de inclusão na Lista volvimento socioeconómico das sociedades.
Paisagem é sempre entendida como um ele- As estruturas ecológicas, o património do Património Mundial revistos em 1992,
mento-chave para o bem-estar individual e cultural e natural, e em especial as paisagens de acordo com a proposta elaborada conjun- O conjunto de documentos atrás referidos
social, implicando, por essa razão, direitos e culturais, a Arquitetura e o ambiente cons- tamente pelo ICOMOS e pela União Inter- constituem marcos de referência de um
responsabilidades para cada cidadão, e uma truído de qualidade constituem potenciais nacional para a Conservação da Natureza debate que tem vindo a ganhar espaço e
proteção, ordenamento e gestão atentos do de valor no fortalecimento da diversidade e (UICN); (iii) a Carta de Florença sobre a solidez, sobretudo a nível Europeu, ancora-
bem em questão. da identidade locais e regionais, e o funda- Salvaguarda de Jardins Históricos, elaborada dos na dimensão territorial como um vetor
mento para um crescimento mais inclusivo, em 1981 pela Comissão Internacional de estruturante da Política de Coesão e do
1.1.3. A Resolução do Conselho Europeu inteligente e sustentável, suportado na Jardins Históricos ICOMOS-IFLA e que desenvolvimento sustentável.
sobre a Qualidade da Arquitetura em cultura e nos valores ambientais. consagra, pela primeira vez, o valor cultural
Ambiente Urbano e Rural, assinada em de construções humanas em que são utiliza- Tendo em conta que Portugal vai entrar
2000 pelos ministros da cultura e audiovi- 1.1.6. As convenções adotadas pela dos materiais vivos; (iv) a Convenção para num novo ciclo de financiamento com
sual e adotada formalmente em fevereiro de UNESCO e pelo Conselho da Europa a Salvaguarda do Património Arquitetónico fundos estruturais orientados através do
2001, que consubstancia, pela primeira vez no que respeita à salvaguarda, proteção Europeu (Convenção de Granada), aprovada Programa Portugal 2020, estamos perante
num documento de política a nível euro- e conservação do património cultural, em 1985 pelo Conselho de Europa e uma enorme oportunidade para o desen-
peu, a Arquitetura como um valor essencial de que se destacam: (i) a Carta de Veneza ratificada por Portugal pela Resolução da volvimento da Política Nacional de Arquite-
na prossecução da qualidade de vida dos (1964), sobre a Conservação e o Restauro Assembleia da República n.º 5/91, de 23 de tura e Paisagem focada no bem-estar e
cidadãos europeus, enfatizando em particu- de Monumentos e Sítios, elaborada pelo janeiro, onde se estabelecem três categorias na qualidade de vida dos cidadãos e num
lar a sua dimensão histórica e cultural. Em Comité Internacional de Monumentos e para o património arquitetónico – monu- crescimento de base territorial sustentável,
2008 as Conclusões do Conselho Europeu Sítios (ICOMOS); (ii) a Convenção para a mentos, conjuntos e sítios e (v) a Convenção inteligente e inclusivo.
sobre Arquitetura vêm alargar este entendi- Proteção do Património Mundial, Cultural sobre o Valor do Património Cultural para

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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

Pátio das Escolas,


Coimbra

1.2. Objeto Por sua vez, mais do que um simples


cenário ou entidade visual, a Paisagem é
Arquitetura e Paisagem são conceitos uma parte do território tal qual é apreen-
polissémicos. Aquilo que significam para dida pelas populações, um sistema com-
uns pode não ter exata correspondência no plexo e dinâmico que resulta da constante
entendimento de outros, da mesma forma ação e interação do Homem com a Natu-
que o sentido adotado em determinado reza ao longo do tempo. A arquitetura
contexto pode diferir daquele que releva paisagista é, nessa medida, simultaneamente
em contexto diferente. Também os limites arte e ciência, de natureza arquitetónica,
entre os conceitos de Arquitetura e Paisa- capaz de sintetizar na sua intervenção o
gem não são evidentes. Encerrando, cada conhecimento relativo à natureza e à cul-
um deles, âmbitos e especificidades muito tura, através de metodologias integrativas
próprios, partilham contudo um enfoque e abordagens holísticas. A construção da Pai-
e esfera de atuação comuns que respeitam sagem é orientada por princípios e objetivos
ao ambiente construído, à construção do que conferem qualidade ao território, em
território e dos lugares, à espacialização da termos funcionais, identitários e estéticos.
ação do homem no território enquanto
expressão de uma cultura e parte integrante Com base neste entendimento, a opção
de uma identidade coletiva. Arquitetura e passa por integrar a Arquitetura e a Pai-
Paisagem são, por isso, aqui entendidas na sagem numa mesma política pública, que
sua aceção mais lata. considerando as dimensões e especificidades
próprias de cada um destes domínios,
Muito mais do que o mero objeto cons- procura observar e valorizar os aspetos, os
truído, a Arquitetura compreende todo o princípios e esferas de atuação que têm em
espaço edificado, integrando não apenas os comum. A Política Nacional de Arquite-
edifícios, os seus espaços interiores, e todas tura e Paisagem é, pois, uma política de
as outras estruturas construídas que povoam carácter transversal, não apenas pela ênfase
o território, mas também os espaços exte- que é colocada nas sinergias existentes entre
riores que compõe a Arquitetura da cidade a Arquitetura e a Paisagem com vista à
e desenham o território. Na ótica disci- prossecução de objetivos partilhados, mas
plinar, a Arquitetura é a arte e a ciência de também e sobretudo porque, atendendo
construir, de conceber e desenhar o vazio à natureza transversal dos domínios em
por intermédio da forma física construída, questão, deve ser considerada e integrada
conferindo ao espaço e ao objeto edificado, nas demais políticas setoriais com impacto
materialidade, utilidade e beleza. no quadro de vida, no bem-estar e quali-
dade de vida das populações.

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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

ótica, elementos propulsores do crescimento lientes, recuperando e adequando técnicas


económico e do desenvolvimento. e ensinamentos ancestrais. A intervenção
1.3. Fundamentos do passado coletivo, materializando em na Paisagem promovendo a sua multifun-
obra e sedimentando no espaço a cronologia 1.3.4. O valor ambiental da Arquitetura e cionalidade, assegurando o provimento
O principal fundamento para a adoção do tempo histórico, a herança da própria da Paisagem de serviços ambientais sem descurar a sua
de uma Política Nacional de Arquitetura História. Arquitetura e Paisagem condensam A Arquitetura e a Paisagem são o resul- função económica, social, recreativa e
e Paisagem sedia-se no reconhecimento memórias, registam vivências, simbolizam tado da intervenção humana no ambiente cultural, bem como a sua qualidade visual,
da Arquitetura e da Paisagem como bem ideias e valores. Definem, por isso, o espírito natural e construído. Devem, nessa medida, indo ao encontro das soluções mais adequa-
de interesse público, e na valorização da dos lugares e são elemento de identidade atender e respeitar o ambiente, ora miti- das às características e especificidades dos
qualidade do ambiente construído, da coletiva, determinando o sentido de enrai- gando os efeitos adversos que nele possam lugares, e mais eficientes e duradouras para
qualidade da Arquitetura e da Paisagem, zamento e pertença, fator inerente à própria causar, ora adaptando-se à variabilidade o bem-estar presente e futuro das popu-
como um fator e elemento chave na garan- condição humana, essencial ao bem-estar climática e aos impactos que decorrem lações. Sempre que a sustentabilidade dos
tia do bem-estar e da qualidade de vida dos dos indivíduos e à qualidade de vida do ser dessas alterações. A Arquitetura observando recursos é respeitada e que, num quadro de
cidadãos, no presente e para o futuro. social. Proteger, salvaguardar e valorizar o o ciclo de vida dos edifícios, dos espaços e responsabilidade ambiental, as necessidades
património e as paisagens culturais é perpe- estruturas construídos, na ótica do para- do Homem são satisfeitas, a Arquitetura e a
Reconhecendo a relevância e o contributo tuar e transmitir para o futuro a mensagem ETAR de Alcântara, digma working with nature, antecipando Paisagem concorrem para o valor e a quali-
Lisboa
da Arquitetura e da Paisagem na determi- e o conhecimento do passado, alicerçando a cenários, gerando soluções criativas e resi- dade ambiental.
nação e construção da identidade cultural gestão e a sistemática construção e rein-
e na prossecução de um desenvolvimento venção do presente sobre o testemunho da
sustentável, são quatro os valores que lhes História e o fundamento da cultura.
estão associados:
1.3.3. O valor económico da Arquitetura
1.3.1. O valor social da Arquitetura e da e da Paisagem
Paisagem A Arquitetura e a Paisagem são um bem
A Arquitetura e a Paisagem configuram e um recurso gerador de riqueza e de
o suporte espacial e biofísico da vida em benefícios para a sociedade. A Arquitetura é
sociedade, estabelecendo o quadro espacial mesmo um dos mais proeminentes e dina-
quotidiano para as atividades humanas. mizadores agentes do sector cultural e cria-
Não só proporcionam aos indivíduos e à tivo. Para além de representarem a prestação
sociedade as condições necessárias ao seu de um serviço e uma atividade profissional
habitat, como lhes aportam sentido e valor. no âmbito da Arquitetura e da Arquitetura
A Casa, a Cidade, a Paisagem, o território, Paisagista, com valor acrescido para a econo-
tornam-se uma extensão dos indivíduos mia, para o comércio e indústria, designa-
e das comunidades, traduzem a expressão damente da construção, uma Arquitetura
materializada do viver em sociedade, a e uma Paisagem de qualidade representam
apropriação que o Homem faz do espaço, ainda um fator potenciador de crescimento
enquanto ser individual e coletivo, e o económico e de desenvolvimento na medida
modo como, em interação com a Natureza, em que contribuem para a atratividade das
se integra nos ecossistemas alterando-os. cidades e das regiões, alavancando a sua
A Arquitetura e a Paisagem condicionam e capacidade de atrair pessoas, atividades e
são condicionadas pela sociedade. investimento, com especial enfoque para a
indústria do turismo. O sector das indústrias
1.3.2. O valor cultural da Arquitetura e criativas encontra-se entre os mais emer-
da Paisagem gentes no contexto europeu, embora as
A Arquitetura e a Paisagem são um bem exportações de produtos criativos e culturais
histórico e cultural, constituindo uma parte nacionais fossem, até 2005, de apenas
importante do património dos povos e das 14% face aos 51% da média europeia. A
nações. Constituem um testemunho vivo Arquitetura e a Paisagem constituem, nesta

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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

Qualificação das paisagens e do ambiente construído, ancorada


numa aposta estratégica na reabilitação e regeneração urbanas e
1.4. Desafios residenciais e nas áreas de ocupação dis- no desenvolvimento de mecanismos, no âmbito da política de solos,
persa, particularmente deficitárias em ordenamento do território e urbanismo, para suster a expansão e
A observação das dinâmicas económicas e termos de equipamentos e espaços públi- inverter e corrigir os efeitos negativos do crescimento recente, tendo
socio-territoriais nas últimas décadas coloca cos coletivos de qualidade, e pobres do em vista um desenvolvimento urbano e territorial mais equilibrado
em evidência um conjunto de debilidades ponto de vista da qualidade construtiva, e eficiente, na prossecução da qualidade de vida e o bem-estar da
e desafios que, não só constituem o ponto da Arquitetura e do desenho urbano. Este população portuguesa.
de partida para a estratégia definida na fenómeno, no seu conjunto, constitui-se
presente política, como contribuem para como um problema grave de desqualifi-
justificar a oportunidade e a pertinência da cação da paisagem a nível nacional, de que 1.4.2. Cívicos e Culturais do Estado para garantir as condições e os
própria PNAP. resultam a falta de coesão territorial e o A conservação e salvaguarda do património cuidados necessários à sua proteção, inte-
empobrecimento das dinâmicas urbano- cultural têm merecido nas últimas décadas gridade e gestão. A insuficiência de meios,
Identificaram-se seis ordens de desafios que -rurais. uma particular atenção, com a consolidação nomeadamente financeiros, mas também a
se colocam à Arquitetura e à Paisagem nos de uma política de conservação integrada ausência ou ineficácia de mecanismos legais
próximos anos: Nos núcleos centrais e centros históricos, e a progressiva ampliação do conceito de e institucionais conducentes, por exemplo,
as dinâmicas confirmam, ao invés, uma património a novas dimensões, geografias e à adoção de novos modelos e práticas de
1.4.1. Qualidade e Bem-estar tendência de decrescimento, também ela tipologias de bens. Portugal foi acompan- gestão integrada do património e da Pai-
A progressiva urbanização da sociedade conducente à desqualificação do espaço hando de perto os debates e progressos con- sagem, em articulação com os instrumen-
portuguesa ao longo do século XX, decor- e paisagens urbanos. O abandono dos quistados, designadamente no âmbito das tos de gestão territorial, são algumas das
rente da crescente concentração da popu- centros, associado ao progressivo envelheci- Nações Unidas e do Conselho da Europa, debilidades identificadas. A urbanização,
lação nas áreas urbanas e metropolitanas, e mento da população residente e à emergên- cujas cartas e convenções em muito têm a exploração agrícola intensiva, noutros
o subsequente abandono dos campos e da cia de situações de precaridade social, tem contribuído para a universalização de con- casos o abandono agrícola, o desenvolvi-
atividade no setor primário, consequência, conduzido à gradual degradação do parque ceitos e critérios, e para despertar consciên- mento acelerado de infraestruturas pesadas
igualmente, da terciarização tardia e dese- edificado, sustentada pelo próprio conge- cias quanto à importância do património e o investimento em operações turísticas
quilibrada da economia nacional, geraram lamento do mercado de arrendamento e histórico e cultural na construção de uma de grande impacto territorial, por vezes
alterações profundas no modelo de organi- pela insuficiência de meios e de resposta memória e identidade coletivas e na valo- consideradas de maior interesse nacional,
zação do território nacional. pública para alavancar ações de reabilitação rização da diversidade e singularidade dos têm colocado uma pressão acrescida nos
e regeneração urbana. territórios e dos lugares. valores paisagísticos e culturais, à qual o
O acentuado processo de urbanização das instrumento de classificação (o primeiro
últimas décadas, em muito motivado pelo As cidades espelham, por isso, um dos As políticas nacionais registam de igual senão único reduto formal para assegurar
forte investimento e disseminação das redes maiores desafios dos nossos dias: crescer modo esse percurso ascendente, orientadas a proteção de monumentos, conjuntos e
de infraestruturas e pela ausência de meios economicamente garantindo o progresso para a classificação, inventariação, proteção sítios) não permite responder com a agili-
e instrumentos político-regulamentares social e a responsabilidade ambiental. O e valorização do património cultural por- dade e eficácia necessárias no contexto de
que assegurassem uma transformação e desenvolvimento urbano sustentável deverá tuguês. Contudo, persistem inúmeros uma proteção, gestão e ordenamento inte-
ocupação territorial justa e equilibrada, basear-se no aproveitamento das condições problemas e dificuldades que colocam em grados da Paisagem, e de uma conservação e
resultou numa expansão urbana avulsa e locais, no respeito pela envolvente e na risco o nosso património paisagístico e valorização ativas do património cultural.
desordenada que se constitui como uma das adequação ao clima, entendimentos que arquitetónico, a começar pela incapacidade
razões para a fragmentação e degradação ditaram durante séculos a forma de cons-
das áreas naturais e agrícolas, condicionando truir. Ao olhar para as práticas tradicionais,
o seu valor ecológico, paisagístico e produ- saberemos referenciar mais sabiamente o Proteção e valorização do património cultural e paisagístico
tivo. Também a fraca qualidade dos tecidos futuro, o qual deverá ser informado pela português, prevenindo e mitigando os efeitos da sobre-exploração
urbanos e do ambiente construído resulta criatividade, investigação e inovação, de dos recursos culturais e naturais, designadamente com o turismo de
em grande medida da explosão urbanística modo a poder responder às necessidades e massas, fomentando o reforço de uma cultura cívica e de participação,
das últimas décadas, em especial nas franjas desafios dos anos vindouros. valorizadora do património, da qualidade arquitetónica e da Paisagem,
e o reconhecimento da Paisagem e do património arquitetónico como
elementos capitais de uma política de desenvolvimento territorial
sustentável.

20 21
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

1.4.3. Energéticos e Ambientais As políticas de adaptação, dirigidas à mini- Aumento da resiliência e eficiência territorial, dos edifícios e espaços
Os últimos 25 anos representaram para Por- mização dos efeitos negativos das alterações urbanos, prevenindo riscos, promovendo a adaptação dos territórios
tugal um progresso considerável em matéria climáticas nos sistemas biofísicos e socioeco- e áreas urbanas aos efeitos das alterações climáticas, designadamente
de comportamento ambiental, com a me- nómicos, assumem hoje particular relevo no através do planeamento e integração de estratégias de adaptação no
lhoria genérica dos serviços e infraestruturas quadro das políticas territoriais, tendo vindo âmbito do ordenamento do território, do urbanismo e dos instrumentos
ambientais, e a inversão, nos últimos anos, a conquistar terreno nos últimos anos, apesar de gestão territorial, fomentando a adoção de abordagens de projeto
da tendência ascendente de emissões de do muito que há ainda a fazer no campo da mais responsáveis, focadas na redução das emissões de gases com efeito
gases com efeito de estufa, sendo Portugal, adaptação. de estufa, no comportamento térmico e na adaptação e reutilização dos
neste particular, um dos países da União edifícios, atendendo às suas características tecnológicas e ciclo de vida útil.
Europeia com melhores resultados per No que diz respeito ao sector dos edifícios,
capita. Apesar de ter visto diminuir o seu este representa cerca de 40% do consumo O desafio passa por aliar sustentabilidade e construção, respeitando o
défice ecológico, e de apresentar cerca de de energia na maioria dos países da União ser humano e o ambiente, no presente e no futuro. A adoção de soluções
um quinto do território nacional coberto Europeia. A climatização e a ilumnação, sustentáveis passa igualmente pelo envolvimento de um conjunto
por áreas com interesse para a conservação efetuadas quase sempre a partir de com- alargado de partes, com contributos relevantes em diferentes áreas do
da natureza, Portugal, aliás à semelhança de bustíveis fósseis são as fontes de maior conhecimento.
toda a região mediterrânica, acumula uma emissão de CO2. É urgente intervir na
pegada ecológica que excede em muito a procura de um novo equilíbrio sustentável,
sua bio capacidade. Para tal tem também em harmonia com o ambiente e que res- 1.4.4. Sociais e Demográficos Às tendências demográficas verificadas não
contribuído o crescimento descoordenado peite os direitos das gerações futuras, sendo As dinâmicas demográficas e sociais dos correspondeu, no entanto, uma variação
da infraestruturação e da urbanização um fator importante aumentar a eficiência últimos anos representam um desafio de consentânea do parque habitacional. A
registado nas últimas décadas, ainda que energética e reduzir o consumo de energia peso no quadro de uma política pública realidade é hoje oposta à assinalada nos
no sector residencial se tenham verificado e as emissões de carbono. A melhoria do de Arquitetura e Paisagem, refletindo as anos 50, 60 e 70, onde o défice na oferta
melhorias ao nível da eficiência energética desempenho energético dos edifícios e a mudanças profundas que resultaram nas habitacional, sobretudo nos centros urbanos
das habitações. arborização urbana devem ser uma priori- paisagens da vida quotidiana e nas estrutu- nucleares, levou à proliferação de situações
dade nos esforços para aliviar a dependência ras sociais que estão na base das tipologias de irregularidade e precaridade, com a
Por outro lado, o aumento da ocorrência das importações de energia da União Euro- habitacionais. explosão de construções e urbanizações de
e intensidade de fenómenos climáticos peia, atualmente em cerca de 48%. génese ilegal e a emergência de bairros de
extremos tem despoletado o interesse Complementarmente à concentração barracas nas franjas das principais cidades.
prioritário pela problemática das altera- Concretamente em Portugal, os edifícios crescente da população nas áreas urbanas, De uma situação de escassez, Portugal
ções climáticas e dos riscos ambientais, representam cerca de 30% do consumo em particular nas regiões metropolitanas de passou para o extremo oposto, de explosão
com enfoque particular na vulnerabilidade de energia. Dada a dependência e o custo Lisboa e Porto e ao longo da faixa costeira imobiliária e excesso de número de fogos,
dos territórios e na respetiva capacidade de elevado das fontes de energia tradicionais, litoral, as transformações demográficas fenómenos que estão na base da urbanização
resistência e reação aos efeitos daí decor- juntamente com a necessidade de evitar revelam uma forte tendência para o envelhe- extensiva verificada nas últimas décadas.
rentes. No contexto dos países europeus, a poluição e os impactos das alterações cimento da população portuguesa, com a Também a escalada dos preços do imo-
Portugal, bem como toda a região medi- climáticas, é urgente a diversificação dos inversão acentuada da pirâmide etária e a biliário, com particular incidência nas áreas
terrânica, são considerados uma das áreas sistemas de energia utilizados, tendo em diminuição do número de nascimentos a metropolitanas e núcleos urbanos centrais,
de maior vulnerabilidade, enfrentando conta a eficiência da produção, do arma- ultrapassar o limiar mínimo que permite contribuiu para o abandono dos centros
períodos de seca prolongada face a outros zenamento, da distribuição e do consumo assegurar a substituição de gerações. Ao e o aumento da ocupação suburbana. Se,
de intensa precipitação, concentrando energético. O parque habitacional portu- envelhecimento populacional juntam-se por um lado, a erradicação do flagelo das
um elevado risco de incêndios florestais e guês atinge cerca de 5,9 milhões de aloja- as transformações nas estruturas familiares barracas está hoje perto do fim, seguindo
apresentando fenómenos de erosão costeira, mentos familiares, pelo que o potencial de clássicas, verificando-se uma redução da caminho idêntico os processos de legalização
de desertificação e degradação dos solos. As poupança é muito significativo. De facto, dimensão média das famílias que passa das áreas urbanas de génese ilegal, por outro
atenções começaram por ser dirigidas para para se poder atingir uma redução eficaz pelo aumento dos núcleos unipessoais, lado, emergem novos fenómenos e fragili-
a mitigação, com o estabelecimento de um do consumo final no sector dos edifícios é monoparentais e dos casais sem filhos, dades, ligados nomeadamente ao excedente
conjunto de instrumentos e medidas de necessário atuar ao nível da construção exis- acompanhado pelo recuo no número de do parque habitacional, ao número de fogos
política que visam diminuir a emissão para tente, através da reabilitação energética. famílias numerosas. desocupados e às situações de urbanizações
a atmosfera dos gases com efeito de estufa. e edificações devolutas ou inacabadas, fruto
do despoletar em 2008 da crise do subprime.

22 23
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

Adequação das abordagens de projeto, de ordenamento e gestão das Valorização da Arquitetura e da Paisagem no âmbito de uma estratégia
paisagens às transformações demográficas e societais, promovendo de recuperação e internacionalização da economia portuguesa,
aproximações territoriais focadas na coesão e inclusão social e na tomando por base um processo de disciplina do uso do solo, de
oferta de habitação condigna e a preços justos, em especial nos regulação dos processos de formação de valor e de afetação social
núcleos urbanos e centros históricos, dinamizando zonas desvitalizadas, das mais-valias decorrentes das alterações de uso, e potenciando
garantindo níveis satisfatórios de espaços públicos e espaços verdes os recursos e serviços associados à Arquitetura e à Paisagem para
coletivos e procurando soluções de projeto inclusivas e flexíveis, promover o turismo sustentável, a criação de emprego, a dinamização
ajustadas às estruturas familiares emergentes e aos novos padrões de da indústria transformadora ligada à construção e a competitividade e
vida, e acessíveis aos grupos mais vulneráveis. internacionalização da economia nacional.

1.4.5. Económicos e Globais planeamento. Assim, o alargamento dos 1.4.6. Regulamentares e Governativos há muito um dos problemas apontados,
A terciarização da economia portuguesa perímetros urbanos e a delimitação, em Os aspetos da governação têm sido, nos afetando a eficácia das políticas territoriais,
impulsionada pela adesão de Portugal à sede de Plano Diretor Municipal, de áreas últimos anos, alvo de uma particular a qualidade e eficiência do sistema de pla-
União Europeia, e a progressiva desrurali- urbanizáveis muito acima das perspetivas de atenção, seja no que respeita à acuidade neamento e ainda a própria aceitação social
zação económica e desindustrialização da crescimento esperadas, associadas à con- das políticas públicas e respetivos quadros das regras impostas aos particulares. Apesar
estrutura produtiva nacional, constituem centração progressiva da propriedade num regulatórios, seja no que respeita ao próprio do longo caminho percorrido, que condu-
hoje fatores determinantes no desequilíbrio número limitado de proprietários, serviu de processo de governança, à capacidade de ziu, depois de décadas de legislação avulsa
das trocas comerciais, condicionando alavanca direta para a criação de um “mer- cooperação, organização e agenciamento e contraditória, à publicação, em 1998,
duramente a inversão do ciclo recessivo dos cado de futuros” ligado ao uso do solo, que das próprias instituições, nos seus diferentes da primeira Lei de Bases das Políticas de
últimos anos. Para além do insuficiente peso não só esteve na base da retenção de terrenos níveis de atuação, e à participação e envolvi- Ordenamento do Território e Urbanismo
das exportações na balança comercial, tam- e de fogos para potenciar o encaixe futuro mento dos cidadãos. e ao alinhamento de um sistema de gestão
bém a falta de competitividade da economia de mais-valias, como ainda motivou, por via territorial coordenado e coerente, persistem
portuguesa e a fraca participação e projeção da urbanização avulso e da construção fora A este respeito, a complexidade, a opaci- deficiências que, não obstante os esforços
de Portugal nos fluxos de investimento dos perímetros urbanos, a própria dispersão dade, o peso burocrático e a desarticulação continuados para aumentar a transparência
internacionais são fatores que relevam no urbanística, a fragmentação dos espaços do quadro legislativo e regulamentar portu- e simplificar procedimentos, contribuem
atual contexto de assistência financeira inter- agrícolas e silvestres e a sobrevalorização de guês em matéria de edificação, urbanismo e para descredibilizar a imagem pública do
nacional. Contudo, é no imobiliário e no terrenos rústicos, tornando impraticável ordenamento do território, tem sido desde ordenamento do território em Portugal.
mercado de solos que reside um dos fatores a sua afetação a atividades produtivas. A
mais críticos de desequilíbrio e distorção escalada dos preços do imobiliário e da habi-
da economia e finanças públicas nacionais, tação é, pois, a consequência direta de uma
que esteve na origem do eclodir da crise de política de solos que valorizou o recurso solo Encosta do Castelo,
Pombal
2008. enquanto ativo financeiro, desvalorizando a
sua função social.
Com efeito, a expansão urbana das últimas
décadas traduz o resultado de uma simbiose Enfrentamos hoje uma mudança de para-
crítica entre um modelo de crescimento digma, com a inversão dos ciclos financeiro
económico estimulado pela descida das taxas (a contração da disponibilidade de crédito),
de juro e pelo acesso facilitado ao crédito, económico (a perda de importância do
e uma política de solos, de planeamento sector da construção no contexto da estru-
e ordenamento do território que, desde tura económica nacional), imobiliário
1965, assentou na sucessiva privatização dos (o decréscimo da procura e a descida
direitos de urbanização e na desregulação dos preços), urbanístico (a contenção da
do mercado de solos, sem garantir a recon- expansão urbana) e demográfico (a contração
dução social das mais-valias geradas por atos populacional), a que não poderá ficar alheia
administrativos decorrentes do processo de uma política de Arquitetura e Paisagem.

24 25
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO

Atrasos e omissões na concretização de algu- Arribas da Foz do Arelho, Robustecimento dos processos de governação inerentes à edificação,
Caldas da Rainha
mas das peças do sistema, de que se destaca à urbanização, ao ordenamento e gestão da Paisagem, fortalecendo as
a Lei de Solos, mas também alguns exces- redes e estruturas de governança, a integração estratégica entre os
sos e certas interpretações formalistas que vários setores e níveis administrativos, e promovendo a sistematização,
conduzem a aplicações enviesadas da lei, são a clarificação e a coerência do código normativo da construção e da
algumas das fragilidades detetadas, a que o edificação, valorizando critérios qualitativos em detrimento dos usuais
atual processo de reforma do quadro legal quantitativos; bem com a integração, no quadro legal do ordenamento
do ordenamento do território e urbanismo do território e urbanismo, das referências e critérios conducentes à
pretende responder. proteção, à gestão e ordenamento das paisagens.

A falta de clareza e sistematização legisla-


tiva é, por sua vez, reincidente no campo
específico da Arquitetura e da Paisagem,
onde, nomeadamente, a obsolescência e
fragmentação do quadro normativo que
regula a construção e a edificação é sin-
tomático do desfasamento que se verifica
face à emergência de um novo paradigma
e ao surgimento de um conjunto de novas
abordagens e regimes jurídicos, no âmbito
da reabilitação urbana, das acessibilidades,
da segurança, da eficiência energética, sem
que esteja garantida a necessária coerência e
articulação integrada.

Nesta ótica, acresce a pertinência cres-


cente das questões relativas à governança
territorial. Por um lado, é amplamente
reconhecido que são, em grande medida,
os impedimentos organizativos e a fraca
cultura de cooperação intersectorial e
interinstitucional que constituem um dos
principais entraves à qualidade e eficiência
do processo de governação. Por outro lado,
consolidam-se as perspetivas de abordagem
integrada que apelam necessariamente à
coordenação de políticas setoriais, à assídua
ponderação de valores e interesses e ao
investimento em novas formas de parceria e
pactos territoriais.

26 27
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM AMBIÇÃO

2 Ambição

2.1. Visão Pretende-se que Portugal se torne, cada vez


mais, uma referência mundial no domínio
Dada a sua natureza transversal a vários da Arquitetura e da Paisagem pelos bons
setores e níveis da Administração Pública, exemplos que resultam das suas políticas
uma Política Nacional de Arquitetura e da públicas, nomeadamente no desenvolvi-
Paisagem para Portugal deverá ambicio- mento sustentável, no ordenamento do
nar potenciar a Arquitetura e a Paisagem território, na proteção da natureza e da
como recursos estratégicos das políticas de biodiversidade, na reabilitação urbana, no
desenvolvimento do País, aos níveis central, desenvolvimento rural, na defesa do patri-
regional e local. mónio cultural, na valorização turística e na
proteção da orla costeira.
Pretende-se que Portugal seja uma nação
onde os cidadãos em geral e as organi- A arquitetura e a arquitetura paisagista
zações em particular, sejam elas públicas ou portuguesas têm vindo a alcançar uma
privadas, assumam a necessidade de con- notoriedade nacional e internacional ímpar
tribuir para a divulgação e a disseminação – Portugal tem já hoje dois prémios Pritzker
das boas práticas e dos bons exemplos que de Arquitetura e um prémio Sir Geoffrey
integrem critérios de qualidade, de estética, Jellicoe de Arquitetura Paisagista, o melhor
de durabilidade e racionalidade nos vários exemplo do reconhecimento que se pode
processos de transformação, proteção e alcançar nestes domínios.
reabilitação do meio urbano e rural, dos
seus espaços, das suas construções ou dos
seus elementos naturais e paisagísticos.

2.2. Princípios orientadores humano, sadio e ecologicamente equilibrado,


de uma Arquitetura, ambiente construído e
A implementação da Política Nacional de Paisagem harmoniosos e de qualidade, em
Arquitetura e Paisagem e a prossecução da respeito pelos recursos e valores naturais,
Visão e dos Objetivos nela considerados ecológicos, culturais e visuais, pelos inte-
deverão assentar nos seguintes princípios: resses, direitos e garantias individuais e pela
liberdade de criação artística e intelectual.
2.2.1. Interesse público da Arquitetura e
da Paisagem 2.2.2. Direito a uma Arquitetura e a uma
A Arquitetura e a Paisagem são matérias de Paisagem de qualidade
interesse geral, reconhecidos os seus valores Todos têm direito a uma Arquitetura e a
sociais, culturais, económicos e ambientais, e uma Paisagem de qualidade, capazes de
Casa da Escrita, os benefícios que decorrem para o bem- observar e traduzir, do ponto de vista do
Coimbra
-comum e para um ambiente de vida uso e ocupação do solo, da organização

28 29
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM AMBIÇÃO

do espaço, da conservação e valorização 2.2.5. Responsabilidade do Estado


do património, da proteção e gestão dos Incumbe ao Estado, em colaboração com
sistemas ecológicos e dos recursos naturais, as os governos regionais e as autarquias locais,
necessidades e aspirações dos indivíduos, dos promover a qualidade de vida do povo
grupos sociais e das coletividades, atendendo português e o desenvolvimento harmonioso
ao bem-comum e ao princípio da sustentabi- de todo o território nacional, designada-
lidade intra e intergeracional. mente a qualidade do ambiente construído,
do património cultural, da arquitetura e
2.2.3. Democratização cultural e das paisagens, assegurando a definição de
capacitação coletiva um quadro organizacional e legislativo
Todos têm direito à cultura, à fruição e à flexível e coordenado, a integração dos
criação cultural, sendo incumbência do diferentes órgãos executivos e a elaboração
Estado fomentar a capacitação coletiva, das políticas e instrumentos de planea-
designadamente nos domínios da Arquite- mento necessários, figurando como exem-
tura e da Paisagem, através da educação em plo de boas práticas ao nível da encomenda
cultura arquitetónica e ordenamento do ter- pública, designadamente de edifícios,
ritório, da sensibilização da opinião pública espaço público, planos e programas territo-
para a importância da Arquitetura, do pla- riais.
neamento urbano e da Paisagem na criação
de um ambiente construído de qualidade, 2.2.6. Participação pública Casa das Histórias
Paula Rego,
e da divulgação e disseminação da Arquite- Todos têm o direito e o dever de participar Cascais
tura nacional e de boas práticas de projeto, ativamente na construção do seu quadro
de ordenamento e gestão da Paisagem. e ambiente de vida, cabendo ao Estado
assegurar o acesso à informação e ao conhe-
2.2.4. Transversalidade e integração de cimento, e a manutenção das instituições
políticas e plataformas necessárias para promover
O ordenamento e gestão de uma Paisagem e uma participação ativa e atempada das
ambiente construído de qualidade requerem populações na transformação do espaço
uma coordenação e integração horizontal e construído e da Paisagem, através de proces-
vertical entre diferentes políticas setoriais, os sos de partilha e envolvimento alargados
vários atores e níveis de governação (nacio- e tomando como base um princípio de
nal, regional e local), através da criação das responsabilização coletiva.
redes de governança adequadas, da mobi-
lização dos múltiplos setores da sociedade 2.2.7. Sustentabilidade e eficiência
portuguesa para os valores da Arquitetura e A defesa do ambiente e a utilização racional
da Paisagem, e da conceção, ordenamento e eficiente dos recursos naturais e culturais,
e gestão do espaço edificado e da Paisagem em respeito pelo princípio de solidariedade
como uma abordagem holística e integra- entre gerações, é um direito e um dever
dora de objetivos culturais, económicos, de todos os cidadãos, sendo incumbência
sociais e ambientais. do Estado promover um desenvolvimento
territorial sustentável, a proteção e a valori-
zação das paisagens e a educação e respeito
pelos valores ambientais, atendendo desi-
gnadamente ao papel determinante da
Arquitetura e da Paisagem na prossecução
dos objetivos da sustentabilidade.

30 31
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM OBJETIVOS

3 Objetivos
A Política Nacional de Arquitetura e Paisagem tem como
principal finalidade contribuir para:

• A melhoria da qualidade de vida e o bem-estar dos


portugueses;
• A prossecução do desenvolvimento sustentável e do
desenvolvimento urbano sustentável;
• A proteção e valorização do património cultural
português;
• O incremento e disseminação de uma cultura cívica
territorial;
• A competitividade da economia nacional e a
afirmação do país e da cultura portuguesa na Europa e
no mundo.

Parque Linear Ribeirinho


do Estuário do Tejo,
Póvoa de Santa Iria, Vila
Franca de Xira

32 33
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM OBJETIVOS

3.1. 1. 2. 3. 4. 5.
Qualidade de Vida Evidenciar a importância Promover a qualidade do Apostar na reabilitação e Assegurar a integração da Estimular a adoção de
e o papel da qualidade da ambiente construído e das regeneração como um setor Arquitetura e da Paisagem práticas de projeto, de
Arquitetura e da Paisagem paisagens, contrariando a estratégico e implementar nas políticas de ordenamento construção, de gestão e
na prossecução da qualidade expansão urbana e garan- políticas conducentes à do território e urbanismo e ordenamento das paisa-
de vida e do bem-estar social tindo a qualidade construtiva melhoria das condições de nas várias políticas setoriais, gens éticas e responsáveis,
e na preservação e valori- e ambiental das edificações, habitabilidade, à segurança em especial nas áreas da cul- privilegiando soluções e
zação dos recursos naturais, em especial dos espaços e de pessoas e bens, à inclusão tura, ambiente, agricultura, metodologias sustentáveis e
culturais e humanos. edifícios públicos. e coesão social e à defesa e economia e social. valorizadoras da qualidade.
recuperação das paisagens
culturais.

Parque das Nações,


Lisboa

34 35
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM OBJETIVOS

3.2. 1. 2. 3. 4.
Sustentabilidade Promover uma Arquitetura Contribuir, ao nível da Investir na qualificação dos Incentivar a investigação e a
e um urbanismo ecológicos gestão e ordenamento das profissionais de arquitetura educação ligada à construção
e eficientes na utilização dos paisagens, do planeamento e arquitetura paisagista, bem sustentável, estimulando
recursos, em especial a ener- e da construção para a imple- como dos profissionais da a inovação tecnológica
gia e a água, e a sustentabili- mentação das estratégias de construção civil, sensibili- no âmbito da construção,
dade do ambiente construído mitigação e de adaptação às zando para os desafios da dos materiais, do conforto
e das paisagens. alterações climáticas, bem reabilitação urbana, da sus- térmico e da produção e
como as de prevenção e tentabilidade e da eficiência consumo de energia.
redução dos riscos. energética.

3.3. 1. 2. 3. 4. 5.
Cultura e património Incentivar a preservação, a tura, e estimulando a par- Promover a arquitetura, a Fomentar a adoção de Implementar a excelência nas Mitigar os efeitos da
salvaguarda e a valorização ticipação dos cidadãos, das arquitetura paisagista e as metodologias e processos de intervenções arquitetónicas urbanização extensiva e da
do património arquitetónico, organizações e dos diferentes paisagens culturais como gestão integrada do patrimó- e de ordenamento das áreas exploração agrícola e turística
arqueológico e paisagístico, interesses socioeconómicos parte integrante das artes e nio, arquitetónico e urbano, urbanas e rurais, garantindo intensivas e fomentar um
aumentando a consciência em processos de conservação da cultura. e da paisagem, bem como a que são planeadas e executa- desenvolvimento territorial
cívica sobre o valor cultural e valorização do património implementação de práticas das em respeito pelo patrimó- sustentável, valorizador do
das paisagens e da arquite- cultural. de conservação e reabilitação nio cultural e natural. património e das paisagens.
sensíveis e respeitadoras da
história e da memória.

3.4. 1. 2. 3. 4.
Educação, participação Promover o conhecimento, Estimular o sentido de Motivar o interesse e envolvi- Reforçar, nas áreas da
a compreensão e a educação pertença, de identidade e mento dos cidadãos e das Arquitetura e da Paisagem, a
e sensibilização
para a Arquitetura e para a de responsabilidade dos comunidades nos processos colaboração e interação entre
Paisagem. indivíduos perante a comu- de decisão, de participação e as comunidades científica,
nidade e o território. avaliação. técnica e política e a articu-
lação destas com a população
em geral.

3.5. 1. 2. 3. 4.
Economia e internacionalização Potenciar a projeção e Promover a arquitetura Incentivar o crescimento, Incentivar a criatividade e
visibilidade internacional e a arquitetura paisagista a qualidade e a eficiência a inovação em arquitetura
da arquitetura e arquitetura portuguesas como recursos da indústria de construção e em arquitetura paisagista
paisagista nacionais. para a criação de emprego, nacional através de uma com vista à criação de novas
para a promoção do turismo maior incorporação de áreas de negócio, à melhoria
e economia nacionais. serviços de arquitetura. da qualidade e do com-
portamento ambiental dos
territórios e suas edificações.

36 37
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO

4 Implementação

4.1. Modelo de governação

O modelo de governação da Política de Arquitetura e Paisagem concretiza-se através da


definição de uma estrutura nacional para coordenação e acompanhamento da PNAP,
composta designadamente por um conselho consultivo, por uma comissão executiva e
respetivo secretariado técnico de apoio.

4.1.1. O Conselho Consultivo da Arquitetura e da Paisagem (CCAP) é o órgão con-


sultivo independente que tem como principal atribuição acompanhar a implementação da
PNAP.

COMPETÊNCIAS DO CCAP

• Acompanhar a implementação da PNAP;


• Emitir pareceres ou recomendações relativas à Arquitetura e à Paisagem por sua
iniciativa ou a solicitação do membro do governo responsável pela área do ordena-
mento do território e do desenvolvimento urbano;
• Aprovar o programa de ação da PNAP.

COMPOSIÇÃO DO CCAP

• Diretor-Geral do Território, que preside;


• Representante da OA;
• Representante da APAP;
• Representante do membro do Governo responsável pela área das finanças;
• Representante do membro do Governo responsável pela área da cultura e do patrimó-
nio cultural;
• Representante do membro do Governo responsável pela área da conservação da
natureza;
• Representante do membro do Governo responsável pela área da habitação e reabili-
tação urbana;
• Representante do membro do Governo responsável pela área das obras públicas e
transportes;
Ponte Pedonal sobre a • Representante do membro do Governo responsável pela área da economia;
Ribeira da Carpinteira,
Covilhã
• Representante do membro do Governo responsável pela área da educação, ensino
superior e ciência;

38 39
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO

• Representante do membro do Governo responsável pela área da agricultura; • Gerir programas de apoio financeiro e orientar a aplicação de fundos comunitários
• Representantes dos Governos Regionais; para os domínios da Arquitetura e Paisagem;
• Representante da ANMP; • Gerir a criação e manutenção do sítio da internet da PNAP.
• Representante de cada uma das CCDR;
• Duas personalidades de reconhecido mérito.

COMPOSIÇÃO DO CEAP
Para além destes, poderão ser chamados a participar nas reuniões do CCAP representantes
de outros ministérios ou organizações não-governamentais nele não representados, sempre • Diretor-Geral do Território, que preside;
que as matérias em discussão assim o justifiquem. • Representante da OA;
• Representante da APAP;
No âmbito do CCAP podem ser criadas comissões especializadas e grupos de trabalho para • Representante da DGPC.
desenvolver tarefas ou projetos específicos decorrentes das suas competências e funções e
preparatórios das suas deliberações.
O CEAP funciona junto da DGT sendo todo o apoio técnico, logístico e administrativo
As comissões especializadas são constituídas exclusivamente por vogais do CCAP, possuem necessário ao seu funcionamento, prestado por este organismo.
caráter permanente ou prolongado e são criadas quando a natureza e a importância das
matérias aconselhe o seu acompanhamento regular ou tratamento especializado. 4.1.3. O Secretariado Técnico da PNAP tem como função assegurar o funcionamento
permanente do CEAP, apoiando-o no cumprimento das suas competências, e dar suporte
Os grupos de trabalho podem integrar pessoas ou entidades externas ao CCAP, reconheci- administrativo ao CCAP, sendo composto por um técnico da carreira técnica superior.
das como especialmente habilitadas na matéria a tratar, possuem caráter temporário e são
criados quando se revele necessário proceder a estudo ou debate aprofundado de matérias
ou temas necessários ao exercício das suas competências e funções.

4.1.2. A Comissão Executiva da Arquitetura e da Paisagem (CEAP) é o órgão executivo 4.2. Parceiros
da Política Nacional de Arquitetura e Paisagem e tem como função assegurar a implemen-
tação da PNAP nos seus vários domínios. O desenvolvimento da Política Nacional de Arquitetura e da Paisagem deve passar pela
criação de uma rede aberta de parceiros, públicos e privados, pessoas individuais e coleti-
vas, que partilham a sua visão e objetivos e contribuem para a sua implementação.

COMPETÊNCIAS DO CEAP • À Administração central compete integrar a temática da Paisagem e da qualidade da


Arquitetura nas políticas setoriais, em particular nas que têm impactos no território,
• Acompanhamento e monitorização das medidas e ações constantes da PNAP; definindo princípios gerais, estratégias integradas e linhas orientadoras que permitam
• Elaboração de relatórios de progresso e de avaliação da implementação da política; a adoção de medidas específicas tendo em vista a proteção, a gestão e o ordenamento
• Apoio ao CNAP no acompanhamento e preparação de medidas legislativas e regula- da Paisagem, a qualificação da Arquitetura e dos espaços urbanos;
mentares no âmbito da Arquitetura e da Paisagem;
• Apoio ao CNAP na emissão de pareceres sobre questões relativas à concretização • À Administração regional e local compete adequar as estratégias e linhas orientadoras
de medidas de política no âmbito da PNAP e outras relacionadas com a Arquitetura, definidas a nível nacional à sua realidade e, no caso da Paisagem, de acordo com os
a Paisagem e o espaço construído; objetivos de qualidade de Paisagem definidos, adotar medidas específicas adequadas,
• Disseminação de boas práticas e promoção de ações de formação e de sensibili- nomeadamente no quadro da elaboração e implementação dos instrumentos de gestão
zação da população; territorial. O nível local é um ator privilegiado em virtude das suas responsabilidades
• Promoção de programas e projetos de investigação e desenvolvimento nas áreas da diretas na gestão do uso do solo, na criação e gestão do quadro de vida quotidiana dos
Arquitetura e da Paisagem; cidadãos e no licenciamento das iniciativas urbanísticas dos particulares;
• Elaboração de recomendações técnicas e guias orientadores;
• À sociedade civil em geral, e a cada cidadão em particular, cabe a responsabilidade
e o dever de participar nos processos de planeamento e tomada de decisão, e de
contribuir para a melhoria e qualificação dos espaços e estruturas que constituem

40 41
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO

o seu quadro de vida quotidiano, evitando a sua degradação e contribuindo para a sua • Criar uma base de dados que registe a presença ativa no estrangeiro de profissionais
manutenção, projetando as suas aspirações e procurando responder às suas necessidades; ou empresas portuguesas de arquitetura e de arquitetura paisagista e demais atividades
conexas;
• Ao setor empresarial privado em geral, nomeadamente ao setor agrícola e florestal,
fundamental na construção da Paisagem rural, e ao setor imobiliário e da construção, • Promover parcerias alargadas entre empresas do setor da arquitetura e arquitetura
ator importante na transformação do quadro de vida edificado e das paisagens urba- paisagista e suas associações e empresas de construção e serviços conexos, com o
nas, cabe contribuir para a concretização dos objetivos de qualidade e de sustenta- objetivo de aumentar o valor acrescentado nacional nas obras a realizar no país e no
bilidade, privilegiando soluções mais ecológicas e de menor intensidade carbónica e estrangeiro;
apostando na reabilitação urbana como um setor de futuro;
• Participar nos fóruns europeus e internacionais e cooperar com os parceiros interna-
• Ao sector universitário compete a responsabilidade de aumentar o conhecimento cionais no sentido de assumir compromissos alargados para promoção e valorização da
sobre o nosso território, o nosso quadro de vida edificado e as nossas paisagens, Arquitetura, da cultura, do património e da Paisagem;
desenvolver quadros conceptuais e metodológicos inovadores capazes de responder à
evolução da sociedade e dos seus valores e transmitir esse conhecimento de forma • Promover e participar em projetos de cooperação territorial a nível europeu e transna-
adequada, não apenas aos profissionais mas em moldes que possam ser apreendidos cional.
pela população em geral, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma cultura
do território e para apoiar uma participação informada; 4.3.2. Medidas legislativas e de regulação

• Aos profissionais das áreas relacionadas compete dar resposta adequada e de qualidade • Contribuir, em sede de processos legislativos e de regulação, para a melhoria da legis-
à implementação das medidas de política que forem definidas, e contribuir para que as lação, normativos e regulamentos;
transformações do território, do quadro de vida edificado e das paisagens se processem
em termos compatíveis com os objetivos de qualificação e sustentabilidade propostos. • Elaborar manuais de boas práticas e guias que permitam a valorização das práticas
profissionais de todos os agentes destes setores;
Será criado um sistema de registo de parceiros no portal da PNAP, o que permitirá a
adesão de todos os que pretendam participar na PNAP. • Propor a definição de critérios de qualidade, eficiência e eficácia que contribuam para
melhorar os processos de contratação pública em matérias de Arquitetura e Paisagem;

• Desenvolver os instrumentos adequados à participação pública ativa nas ações de prepa-


ração, implementação e monitorização da PNAP.
4.3. Bases para o Plano de Ação

Estabelecem-se seguidamente as principais linhas de orientação para a implementação e


desenvolvimento da PNAP, ao longo do seu primeiro período de existência – 2014|2020. Ferragudo
Caberá à sua Comissão Executiva a formalização de um Plano de Ação que permita desen-
volver uma agenda programática para a concretização da PNAP e um quadro financeiro
para a sua implementação.

4.3.1. Medidas de estratégia e coordenação

• Criar a rede de parceiros da PNAP;

• Articular todas as iniciativas que se possam enquadrar no âmbito da PNAP, assegu-


rando as redes e estruturas de governança necessárias;

• Contribuir para a promoção internacional e exportação dos setores de serviços de


arquitetura e de arquitetura paisagista, divulgando a excelência das obras nacionais e seus
autores, nomeadamente no âmbito de ações relacionadas com a projeção da imagem
de Portugal;

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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO

4.3.3. Medidas de informação, sensibilização e educação Vila-Viçosa

• Criar e desenvolver o portal da PNAP;

• Realizar eventos, publicações e exposições destinadas a divulgar a PNAP e a sensibilizar


a opinião pública para esta temática;

• Selecionar e divulgar exemplos de boas práticas e iniciativas de excelência passíveis de


serem constituídas como referências da PNAP;

• Promover o recurso a conhecimentos, processos e técnicas tradicionais associados à cons-


trução e manutenção de edifícios, com vista a assegurar a sua salvaguarda e transmissão
às gerações futuras;

• Promover a integração das temáticas da Arquitetura, da Cidade e da Paisagem nos


programas escolares dos vários níveis de ensino não especializado, em particular
nos currículos do Ensino Básico e Secundário, que visem estimular uma cultura de
cidadania;

• Desenvolver ações de formação nos âmbitos da Arquitetura e da Paisagem, designada-


mente nas áreas da arquitetura e urbanismo sustentável, da conservação, reabilitação e
regeneração arquitetónica e urbanas, da proteção, gestão e ordenamento das paisagens;

• Promover prémios e concursos de arquitetura e arquitetura paisagista, assegurando a


manutenção e disseminação dos prémios já existentes.

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