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Nacional
de Arquitetura
e Paisagem
PORTUGAL 2014
Direcção gráfica / Paginação página 28
Love Street Studio João Mendes Ribeiro; Fernando Guerra | FG+SG
Créditos página 31
Eduardo Souto de Moura; Fernando Guerra | FG+SG
capa
Douro Vinhateiro; ParqueEXPO página 32
Luís Paulo Ribeiro, Topiaris; João Morgado
páginas 10 e 11
Miguel Caetano Ferreira; Fernando Guerra | FG+SG páginas 34 e 35
ParqueEXPO
página 12
Álvaro Siza Vieira; João Morgado página 38
João Luís Carrilho da Graça; Fernando Guerra |
página 15 FG+SG
João Gomes da Silva + Leonor Cheis + Rosário
Salema + Inês Norton + José Adrião; ParqueEXPO página 43
Marlene Uldschmidt, Ultramarino; Fernando Guerra
página 17 | FG+SG
Gonçalo Byrne + José Barra; Fernando Guerra |
FG+SG página 45
Jorge Bonito
página 19
Aires Mateus & Associados + Frederico Valsassina +
PROAP; Fernando Guerra | FG+SG 15 de Setembro de 2014
Este libreto foi produzido no âmbito do processo de
página 25 consulta pública da Política Nacional de Arquitectura e
COMOCO; Fernando Guerra | FG+SG Paisagem, a decorrer até 31 de Outubro de 2014.
páginas 26 e 27
Nádia Shilling
Política
Nacional
de Arquitetura
e Paisagem
PORTUGAL 2014
Comissão Redatora
Enquadramento 13
1.1. Âmbito 13
1.2. Objeto 16
1.3. Fundamentos 18
1.4. Desafios 20
Ambição 29
2.1. Visão 29
2.2. Princípios orientadores 29
Objetivos 33
3.1. Qualidade de vida 34
3.2. Sustentabilidade 36
3.3. Cultura e património 36
3.4. Educação, participação e sensibilização 36
3.5. Economia e internacionalização 36
Implementação 39
4.1. Modelo de governação 39
4.2. Parceiros 41
4.3. Bases para o Plano de Ação 42
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM INTRODUÇÃO
Introdução
A Arquitetura e a Paisagem fazem parte do quotidiano dos portugueses, O amplo reconhecimento da qualidade da Arquitetura e da Paisagem como
determinando em grande medida a qualidade das suas vidas. Com efeito, um bem público que promove o bem-estar social, a competitividade
é hoje reconhecido, a nível nacional e internacional, o papel decisivo da económica e a identidade cultural, tem conduzido, ao longo das duas
Arquitetura e da Paisagem no bem-estar das populações, assegurando a últimas décadas, à adoção de convenções internacionais, de declarações
sustentabilidade ambiental, económica, social e cultural, e a promoção da e resoluções intergovernamentais e de outros compromissos, no âmbito
competitividade territorial. da União Europeia, do Conselho da Europa e das Nações Unidas, em
que Portugal participa e de que ressaltam a adoção do Esquema de
A Arquitetura e a Paisagem são expressão da identidade, história e cultura Desenvolvimento do Espaço Comunitário (EDEC), a ratificação da
coletivas, com particular reflexo na educação, na inclusão social e na Convenção Europeia da Paisagem (CEP), a Resolução do Conselho
participação dos cidadãos, e fortes implicações no desenvolvimento do Europeu sobre a qualidade da Arquitetura no ambiente urbano e rural
nosso país, designadamente nos quadros da inovação e da criatividade, e as Convenções das Nações Unidas para a proteção do património
da sustentabilidade ambiental, da eficiência energética e do combate às mundial, cultural e natural e para a proteção do património cultural
alterações climáticas, contribuindo para uma economia mais competitiva, imaterial.
para uma sociedade mais digna, justa e inclusiva.
A Política Nacional de Arquitetura e Paisagem assenta, por isso, numa
Arquitetura e Paisagem correspondem a duas áreas disciplinares distintas dupla fundamentação – ampliar a atuação de Portugal no quadro dos
que se devem complementar numa intervenção territorial equilibrada e compromissos internacionais e valorizar a qualidade do ambiente natural
harmoniosa, no quadro do ordenamento do território e do urbanismo, e construído, da Arquitetura e da Paisagem em Portugal, como fatores
capaz de promover a qualidade ambiental, o património construído e a estratégicos num quadro de desenvolvimento que garanta o bem-estar
identidade dos lugares. e a qualidade de vida dos cidadãos, aumentando a consciência cívica e
a participação dos cidadãos e das organizações da sociedade civil na sua
A grande maioria dos países da União Europeia reconheceu a Arquitetura implementação.
e a Paisagem como importantes recursos e linhas estratégicas de atuação
do Estado, concertadas através de políticas públicas que, visando a Por ser tal a relevância da Arquitetura e da Paisagem enquanto interesse
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, promovem a Arquitetura e público e bem-comum, a criação e implementação de uma política
a Paisagem entendidas como garante da qualidade e sustentabilidade do pública de Arquitetura e de Paisagem constitui como um desígnio de
ambiente natural e construído, e como recurso da cultura e da cidadania. Portugal.
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Projeto de Recuperação
Ecológica da Bacia
Hidrográfica da Lagoa das
Furnas | Laboratório de
Paisagem das Furnas,
São Miguel, Açores
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
1 Enquadramento
Atentas às tarefas fundamentais do Estado estabelecidas
na Constituição da República Portuguesa, a Arquitetura
e a Paisagem constituem-se como objeto e domínio de
Política Pública, reconhecidos o seu valor social, cultural,
económico e ambiental, e o seu impacto no bem-estar e na
qualidade de vida das populações.
12 13
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
1.1.1. O Esquema de Desenvolvimento mento, reforçando desta feita o contributo e Jardins Garcia de Orta,
Parque das Nações, Lisboa
do Espaço Comunitário (EDEC), valor da Arquitetura para o desenvolvimento
adotado em 1999 pela UE, que determina sustentável e, designadamente, para o desen-
o território como uma nova dimensão da volvimento urbano sustentável.
política europeia, reconhecendo as iden-
tidades territoriais locais e regionais como 1.1.4. A Carta de Leipzig das Cidades
fatores decisivos no enriquecimento da Europeias Sustentáveis, assinada em 2007
qualidade de vida dos cidadãos. O território, pelos ministros responsáveis pelo desenvolvi-
a Paisagem, a Arquitetura e o património mento urbano, que assinala o conceito de
cultural são considerados, eles próprios, Baukultur, sensibilizando para a importância
fatores ativos de desenvolvimento, sendo a de um espaço público, de uma Arquitetura
conservação e a gestão criativa das paisagens e ambiente construído de qualidade, na
culturais e do património arquitetónico melhoria das condições de vida da popu-
uma opção e objetivo de política central, lação urbana, no reforço da atratividade
tendo em vista o ordenamento e o desen- das cidades e da competitividade do espaço
volvimento territorial. urbano; uma questão que não é apenas cul-
tural, mas que cruza também aspetos sociais,
1.1.2. A Convenção Europeia da económicos e ambientais.
Paisagem, assinada em Florença no ano
2000 e ratificada por Portugal em fevereiro 1.1.5. As Agendas Territoriais da União
de 2005, que reconhece a Paisagem como Europeia, assinadas, respetivamente, em e Natural (Convenção de Paris), aprovada as Sociedades (Convenção de Faro) de 2005,
uma componente fundamental do patrimó- 2007 e em 2010, que determinam o reforço pela Organização das Nações Unidas para a promovida pelo Conselho Europeu e que se
nio cultural e natural europeu, contribuindo da coesão territorial como um objetivo Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) debruça sobre a natureza das relações entre
para a formação das culturas locais e para a comum e prioritário no âmbito da política em 1972 e ratificada por Portugal pelo o património e as sociedades atuais, nomea-
consolidação da identidade europeia. Sejam europeia, configurando um pré-requisito Decreto n.º 49/79, de 6 de junho, que damente os patrimónios arquitetónico e
áreas urbanas ou áreas rurais, áreas notáveis essencial na consolidação do crescimento define as bases e princípios da conservação paisagístico, e postula sobre os contributos
do ponto de vista patrimonial, áreas do económico sustentável e na implementação do património mundial natural e cultural, da conservação do património para o desen-
quotidiano ou, mesmo, áreas degradadas, a dos objetivos de coesão económica e social. tendo sido os critérios de inclusão na Lista volvimento socioeconómico das sociedades.
Paisagem é sempre entendida como um ele- As estruturas ecológicas, o património do Património Mundial revistos em 1992,
mento-chave para o bem-estar individual e cultural e natural, e em especial as paisagens de acordo com a proposta elaborada conjun- O conjunto de documentos atrás referidos
social, implicando, por essa razão, direitos e culturais, a Arquitetura e o ambiente cons- tamente pelo ICOMOS e pela União Inter- constituem marcos de referência de um
responsabilidades para cada cidadão, e uma truído de qualidade constituem potenciais nacional para a Conservação da Natureza debate que tem vindo a ganhar espaço e
proteção, ordenamento e gestão atentos do de valor no fortalecimento da diversidade e (UICN); (iii) a Carta de Florença sobre a solidez, sobretudo a nível Europeu, ancora-
bem em questão. da identidade locais e regionais, e o funda- Salvaguarda de Jardins Históricos, elaborada dos na dimensão territorial como um vetor
mento para um crescimento mais inclusivo, em 1981 pela Comissão Internacional de estruturante da Política de Coesão e do
1.1.3. A Resolução do Conselho Europeu inteligente e sustentável, suportado na Jardins Históricos ICOMOS-IFLA e que desenvolvimento sustentável.
sobre a Qualidade da Arquitetura em cultura e nos valores ambientais. consagra, pela primeira vez, o valor cultural
Ambiente Urbano e Rural, assinada em de construções humanas em que são utiliza- Tendo em conta que Portugal vai entrar
2000 pelos ministros da cultura e audiovi- 1.1.6. As convenções adotadas pela dos materiais vivos; (iv) a Convenção para num novo ciclo de financiamento com
sual e adotada formalmente em fevereiro de UNESCO e pelo Conselho da Europa a Salvaguarda do Património Arquitetónico fundos estruturais orientados através do
2001, que consubstancia, pela primeira vez no que respeita à salvaguarda, proteção Europeu (Convenção de Granada), aprovada Programa Portugal 2020, estamos perante
num documento de política a nível euro- e conservação do património cultural, em 1985 pelo Conselho de Europa e uma enorme oportunidade para o desen-
peu, a Arquitetura como um valor essencial de que se destacam: (i) a Carta de Veneza ratificada por Portugal pela Resolução da volvimento da Política Nacional de Arquite-
na prossecução da qualidade de vida dos (1964), sobre a Conservação e o Restauro Assembleia da República n.º 5/91, de 23 de tura e Paisagem focada no bem-estar e
cidadãos europeus, enfatizando em particu- de Monumentos e Sítios, elaborada pelo janeiro, onde se estabelecem três categorias na qualidade de vida dos cidadãos e num
lar a sua dimensão histórica e cultural. Em Comité Internacional de Monumentos e para o património arquitetónico – monu- crescimento de base territorial sustentável,
2008 as Conclusões do Conselho Europeu Sítios (ICOMOS); (ii) a Convenção para a mentos, conjuntos e sítios e (v) a Convenção inteligente e inclusivo.
sobre Arquitetura vêm alargar este entendi- Proteção do Património Mundial, Cultural sobre o Valor do Património Cultural para
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
1.4.3. Energéticos e Ambientais As políticas de adaptação, dirigidas à mini- Aumento da resiliência e eficiência territorial, dos edifícios e espaços
Os últimos 25 anos representaram para Por- mização dos efeitos negativos das alterações urbanos, prevenindo riscos, promovendo a adaptação dos territórios
tugal um progresso considerável em matéria climáticas nos sistemas biofísicos e socioeco- e áreas urbanas aos efeitos das alterações climáticas, designadamente
de comportamento ambiental, com a me- nómicos, assumem hoje particular relevo no através do planeamento e integração de estratégias de adaptação no
lhoria genérica dos serviços e infraestruturas quadro das políticas territoriais, tendo vindo âmbito do ordenamento do território, do urbanismo e dos instrumentos
ambientais, e a inversão, nos últimos anos, a conquistar terreno nos últimos anos, apesar de gestão territorial, fomentando a adoção de abordagens de projeto
da tendência ascendente de emissões de do muito que há ainda a fazer no campo da mais responsáveis, focadas na redução das emissões de gases com efeito
gases com efeito de estufa, sendo Portugal, adaptação. de estufa, no comportamento térmico e na adaptação e reutilização dos
neste particular, um dos países da União edifícios, atendendo às suas características tecnológicas e ciclo de vida útil.
Europeia com melhores resultados per No que diz respeito ao sector dos edifícios,
capita. Apesar de ter visto diminuir o seu este representa cerca de 40% do consumo O desafio passa por aliar sustentabilidade e construção, respeitando o
défice ecológico, e de apresentar cerca de de energia na maioria dos países da União ser humano e o ambiente, no presente e no futuro. A adoção de soluções
um quinto do território nacional coberto Europeia. A climatização e a ilumnação, sustentáveis passa igualmente pelo envolvimento de um conjunto
por áreas com interesse para a conservação efetuadas quase sempre a partir de com- alargado de partes, com contributos relevantes em diferentes áreas do
da natureza, Portugal, aliás à semelhança de bustíveis fósseis são as fontes de maior conhecimento.
toda a região mediterrânica, acumula uma emissão de CO2. É urgente intervir na
pegada ecológica que excede em muito a procura de um novo equilíbrio sustentável,
sua bio capacidade. Para tal tem também em harmonia com o ambiente e que res- 1.4.4. Sociais e Demográficos Às tendências demográficas verificadas não
contribuído o crescimento descoordenado peite os direitos das gerações futuras, sendo As dinâmicas demográficas e sociais dos correspondeu, no entanto, uma variação
da infraestruturação e da urbanização um fator importante aumentar a eficiência últimos anos representam um desafio de consentânea do parque habitacional. A
registado nas últimas décadas, ainda que energética e reduzir o consumo de energia peso no quadro de uma política pública realidade é hoje oposta à assinalada nos
no sector residencial se tenham verificado e as emissões de carbono. A melhoria do de Arquitetura e Paisagem, refletindo as anos 50, 60 e 70, onde o défice na oferta
melhorias ao nível da eficiência energética desempenho energético dos edifícios e a mudanças profundas que resultaram nas habitacional, sobretudo nos centros urbanos
das habitações. arborização urbana devem ser uma priori- paisagens da vida quotidiana e nas estrutu- nucleares, levou à proliferação de situações
dade nos esforços para aliviar a dependência ras sociais que estão na base das tipologias de irregularidade e precaridade, com a
Por outro lado, o aumento da ocorrência das importações de energia da União Euro- habitacionais. explosão de construções e urbanizações de
e intensidade de fenómenos climáticos peia, atualmente em cerca de 48%. génese ilegal e a emergência de bairros de
extremos tem despoletado o interesse Complementarmente à concentração barracas nas franjas das principais cidades.
prioritário pela problemática das altera- Concretamente em Portugal, os edifícios crescente da população nas áreas urbanas, De uma situação de escassez, Portugal
ções climáticas e dos riscos ambientais, representam cerca de 30% do consumo em particular nas regiões metropolitanas de passou para o extremo oposto, de explosão
com enfoque particular na vulnerabilidade de energia. Dada a dependência e o custo Lisboa e Porto e ao longo da faixa costeira imobiliária e excesso de número de fogos,
dos territórios e na respetiva capacidade de elevado das fontes de energia tradicionais, litoral, as transformações demográficas fenómenos que estão na base da urbanização
resistência e reação aos efeitos daí decor- juntamente com a necessidade de evitar revelam uma forte tendência para o envelhe- extensiva verificada nas últimas décadas.
rentes. No contexto dos países europeus, a poluição e os impactos das alterações cimento da população portuguesa, com a Também a escalada dos preços do imo-
Portugal, bem como toda a região medi- climáticas, é urgente a diversificação dos inversão acentuada da pirâmide etária e a biliário, com particular incidência nas áreas
terrânica, são considerados uma das áreas sistemas de energia utilizados, tendo em diminuição do número de nascimentos a metropolitanas e núcleos urbanos centrais,
de maior vulnerabilidade, enfrentando conta a eficiência da produção, do arma- ultrapassar o limiar mínimo que permite contribuiu para o abandono dos centros
períodos de seca prolongada face a outros zenamento, da distribuição e do consumo assegurar a substituição de gerações. Ao e o aumento da ocupação suburbana. Se,
de intensa precipitação, concentrando energético. O parque habitacional portu- envelhecimento populacional juntam-se por um lado, a erradicação do flagelo das
um elevado risco de incêndios florestais e guês atinge cerca de 5,9 milhões de aloja- as transformações nas estruturas familiares barracas está hoje perto do fim, seguindo
apresentando fenómenos de erosão costeira, mentos familiares, pelo que o potencial de clássicas, verificando-se uma redução da caminho idêntico os processos de legalização
de desertificação e degradação dos solos. As poupança é muito significativo. De facto, dimensão média das famílias que passa das áreas urbanas de génese ilegal, por outro
atenções começaram por ser dirigidas para para se poder atingir uma redução eficaz pelo aumento dos núcleos unipessoais, lado, emergem novos fenómenos e fragili-
a mitigação, com o estabelecimento de um do consumo final no sector dos edifícios é monoparentais e dos casais sem filhos, dades, ligados nomeadamente ao excedente
conjunto de instrumentos e medidas de necessário atuar ao nível da construção exis- acompanhado pelo recuo no número de do parque habitacional, ao número de fogos
política que visam diminuir a emissão para tente, através da reabilitação energética. famílias numerosas. desocupados e às situações de urbanizações
a atmosfera dos gases com efeito de estufa. e edificações devolutas ou inacabadas, fruto
do despoletar em 2008 da crise do subprime.
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
Adequação das abordagens de projeto, de ordenamento e gestão das Valorização da Arquitetura e da Paisagem no âmbito de uma estratégia
paisagens às transformações demográficas e societais, promovendo de recuperação e internacionalização da economia portuguesa,
aproximações territoriais focadas na coesão e inclusão social e na tomando por base um processo de disciplina do uso do solo, de
oferta de habitação condigna e a preços justos, em especial nos regulação dos processos de formação de valor e de afetação social
núcleos urbanos e centros históricos, dinamizando zonas desvitalizadas, das mais-valias decorrentes das alterações de uso, e potenciando
garantindo níveis satisfatórios de espaços públicos e espaços verdes os recursos e serviços associados à Arquitetura e à Paisagem para
coletivos e procurando soluções de projeto inclusivas e flexíveis, promover o turismo sustentável, a criação de emprego, a dinamização
ajustadas às estruturas familiares emergentes e aos novos padrões de da indústria transformadora ligada à construção e a competitividade e
vida, e acessíveis aos grupos mais vulneráveis. internacionalização da economia nacional.
1.4.5. Económicos e Globais planeamento. Assim, o alargamento dos 1.4.6. Regulamentares e Governativos há muito um dos problemas apontados,
A terciarização da economia portuguesa perímetros urbanos e a delimitação, em Os aspetos da governação têm sido, nos afetando a eficácia das políticas territoriais,
impulsionada pela adesão de Portugal à sede de Plano Diretor Municipal, de áreas últimos anos, alvo de uma particular a qualidade e eficiência do sistema de pla-
União Europeia, e a progressiva desrurali- urbanizáveis muito acima das perspetivas de atenção, seja no que respeita à acuidade neamento e ainda a própria aceitação social
zação económica e desindustrialização da crescimento esperadas, associadas à con- das políticas públicas e respetivos quadros das regras impostas aos particulares. Apesar
estrutura produtiva nacional, constituem centração progressiva da propriedade num regulatórios, seja no que respeita ao próprio do longo caminho percorrido, que condu-
hoje fatores determinantes no desequilíbrio número limitado de proprietários, serviu de processo de governança, à capacidade de ziu, depois de décadas de legislação avulsa
das trocas comerciais, condicionando alavanca direta para a criação de um “mer- cooperação, organização e agenciamento e contraditória, à publicação, em 1998,
duramente a inversão do ciclo recessivo dos cado de futuros” ligado ao uso do solo, que das próprias instituições, nos seus diferentes da primeira Lei de Bases das Políticas de
últimos anos. Para além do insuficiente peso não só esteve na base da retenção de terrenos níveis de atuação, e à participação e envolvi- Ordenamento do Território e Urbanismo
das exportações na balança comercial, tam- e de fogos para potenciar o encaixe futuro mento dos cidadãos. e ao alinhamento de um sistema de gestão
bém a falta de competitividade da economia de mais-valias, como ainda motivou, por via territorial coordenado e coerente, persistem
portuguesa e a fraca participação e projeção da urbanização avulso e da construção fora A este respeito, a complexidade, a opaci- deficiências que, não obstante os esforços
de Portugal nos fluxos de investimento dos perímetros urbanos, a própria dispersão dade, o peso burocrático e a desarticulação continuados para aumentar a transparência
internacionais são fatores que relevam no urbanística, a fragmentação dos espaços do quadro legislativo e regulamentar portu- e simplificar procedimentos, contribuem
atual contexto de assistência financeira inter- agrícolas e silvestres e a sobrevalorização de guês em matéria de edificação, urbanismo e para descredibilizar a imagem pública do
nacional. Contudo, é no imobiliário e no terrenos rústicos, tornando impraticável ordenamento do território, tem sido desde ordenamento do território em Portugal.
mercado de solos que reside um dos fatores a sua afetação a atividades produtivas. A
mais críticos de desequilíbrio e distorção escalada dos preços do imobiliário e da habi-
da economia e finanças públicas nacionais, tação é, pois, a consequência direta de uma
que esteve na origem do eclodir da crise de política de solos que valorizou o recurso solo Encosta do Castelo,
Pombal
2008. enquanto ativo financeiro, desvalorizando a
sua função social.
Com efeito, a expansão urbana das últimas
décadas traduz o resultado de uma simbiose Enfrentamos hoje uma mudança de para-
crítica entre um modelo de crescimento digma, com a inversão dos ciclos financeiro
económico estimulado pela descida das taxas (a contração da disponibilidade de crédito),
de juro e pelo acesso facilitado ao crédito, económico (a perda de importância do
e uma política de solos, de planeamento sector da construção no contexto da estru-
e ordenamento do território que, desde tura económica nacional), imobiliário
1965, assentou na sucessiva privatização dos (o decréscimo da procura e a descida
direitos de urbanização e na desregulação dos preços), urbanístico (a contenção da
do mercado de solos, sem garantir a recon- expansão urbana) e demográfico (a contração
dução social das mais-valias geradas por atos populacional), a que não poderá ficar alheia
administrativos decorrentes do processo de uma política de Arquitetura e Paisagem.
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM ENQUADRAMENTO
Atrasos e omissões na concretização de algu- Arribas da Foz do Arelho, Robustecimento dos processos de governação inerentes à edificação,
Caldas da Rainha
mas das peças do sistema, de que se destaca à urbanização, ao ordenamento e gestão da Paisagem, fortalecendo as
a Lei de Solos, mas também alguns exces- redes e estruturas de governança, a integração estratégica entre os
sos e certas interpretações formalistas que vários setores e níveis administrativos, e promovendo a sistematização,
conduzem a aplicações enviesadas da lei, são a clarificação e a coerência do código normativo da construção e da
algumas das fragilidades detetadas, a que o edificação, valorizando critérios qualitativos em detrimento dos usuais
atual processo de reforma do quadro legal quantitativos; bem com a integração, no quadro legal do ordenamento
do ordenamento do território e urbanismo do território e urbanismo, das referências e critérios conducentes à
pretende responder. proteção, à gestão e ordenamento das paisagens.
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM AMBIÇÃO
2 Ambição
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM AMBIÇÃO
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM OBJETIVOS
3 Objetivos
A Política Nacional de Arquitetura e Paisagem tem como
principal finalidade contribuir para:
32 33
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM OBJETIVOS
3.1. 1. 2. 3. 4. 5.
Qualidade de Vida Evidenciar a importância Promover a qualidade do Apostar na reabilitação e Assegurar a integração da Estimular a adoção de
e o papel da qualidade da ambiente construído e das regeneração como um setor Arquitetura e da Paisagem práticas de projeto, de
Arquitetura e da Paisagem paisagens, contrariando a estratégico e implementar nas políticas de ordenamento construção, de gestão e
na prossecução da qualidade expansão urbana e garan- políticas conducentes à do território e urbanismo e ordenamento das paisa-
de vida e do bem-estar social tindo a qualidade construtiva melhoria das condições de nas várias políticas setoriais, gens éticas e responsáveis,
e na preservação e valori- e ambiental das edificações, habitabilidade, à segurança em especial nas áreas da cul- privilegiando soluções e
zação dos recursos naturais, em especial dos espaços e de pessoas e bens, à inclusão tura, ambiente, agricultura, metodologias sustentáveis e
culturais e humanos. edifícios públicos. e coesão social e à defesa e economia e social. valorizadoras da qualidade.
recuperação das paisagens
culturais.
34 35
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM OBJETIVOS
3.2. 1. 2. 3. 4.
Sustentabilidade Promover uma Arquitetura Contribuir, ao nível da Investir na qualificação dos Incentivar a investigação e a
e um urbanismo ecológicos gestão e ordenamento das profissionais de arquitetura educação ligada à construção
e eficientes na utilização dos paisagens, do planeamento e arquitetura paisagista, bem sustentável, estimulando
recursos, em especial a ener- e da construção para a imple- como dos profissionais da a inovação tecnológica
gia e a água, e a sustentabili- mentação das estratégias de construção civil, sensibili- no âmbito da construção,
dade do ambiente construído mitigação e de adaptação às zando para os desafios da dos materiais, do conforto
e das paisagens. alterações climáticas, bem reabilitação urbana, da sus- térmico e da produção e
como as de prevenção e tentabilidade e da eficiência consumo de energia.
redução dos riscos. energética.
3.3. 1. 2. 3. 4. 5.
Cultura e património Incentivar a preservação, a tura, e estimulando a par- Promover a arquitetura, a Fomentar a adoção de Implementar a excelência nas Mitigar os efeitos da
salvaguarda e a valorização ticipação dos cidadãos, das arquitetura paisagista e as metodologias e processos de intervenções arquitetónicas urbanização extensiva e da
do património arquitetónico, organizações e dos diferentes paisagens culturais como gestão integrada do patrimó- e de ordenamento das áreas exploração agrícola e turística
arqueológico e paisagístico, interesses socioeconómicos parte integrante das artes e nio, arquitetónico e urbano, urbanas e rurais, garantindo intensivas e fomentar um
aumentando a consciência em processos de conservação da cultura. e da paisagem, bem como a que são planeadas e executa- desenvolvimento territorial
cívica sobre o valor cultural e valorização do património implementação de práticas das em respeito pelo patrimó- sustentável, valorizador do
das paisagens e da arquite- cultural. de conservação e reabilitação nio cultural e natural. património e das paisagens.
sensíveis e respeitadoras da
história e da memória.
3.4. 1. 2. 3. 4.
Educação, participação Promover o conhecimento, Estimular o sentido de Motivar o interesse e envolvi- Reforçar, nas áreas da
a compreensão e a educação pertença, de identidade e mento dos cidadãos e das Arquitetura e da Paisagem, a
e sensibilização
para a Arquitetura e para a de responsabilidade dos comunidades nos processos colaboração e interação entre
Paisagem. indivíduos perante a comu- de decisão, de participação e as comunidades científica,
nidade e o território. avaliação. técnica e política e a articu-
lação destas com a população
em geral.
3.5. 1. 2. 3. 4.
Economia e internacionalização Potenciar a projeção e Promover a arquitetura Incentivar o crescimento, Incentivar a criatividade e
visibilidade internacional e a arquitetura paisagista a qualidade e a eficiência a inovação em arquitetura
da arquitetura e arquitetura portuguesas como recursos da indústria de construção e em arquitetura paisagista
paisagista nacionais. para a criação de emprego, nacional através de uma com vista à criação de novas
para a promoção do turismo maior incorporação de áreas de negócio, à melhoria
e economia nacionais. serviços de arquitetura. da qualidade e do com-
portamento ambiental dos
territórios e suas edificações.
36 37
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO
4 Implementação
COMPETÊNCIAS DO CCAP
COMPOSIÇÃO DO CCAP
38 39
POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO
• Representante do membro do Governo responsável pela área da agricultura; • Gerir programas de apoio financeiro e orientar a aplicação de fundos comunitários
• Representantes dos Governos Regionais; para os domínios da Arquitetura e Paisagem;
• Representante da ANMP; • Gerir a criação e manutenção do sítio da internet da PNAP.
• Representante de cada uma das CCDR;
• Duas personalidades de reconhecido mérito.
COMPOSIÇÃO DO CEAP
Para além destes, poderão ser chamados a participar nas reuniões do CCAP representantes
de outros ministérios ou organizações não-governamentais nele não representados, sempre • Diretor-Geral do Território, que preside;
que as matérias em discussão assim o justifiquem. • Representante da OA;
• Representante da APAP;
No âmbito do CCAP podem ser criadas comissões especializadas e grupos de trabalho para • Representante da DGPC.
desenvolver tarefas ou projetos específicos decorrentes das suas competências e funções e
preparatórios das suas deliberações.
O CEAP funciona junto da DGT sendo todo o apoio técnico, logístico e administrativo
As comissões especializadas são constituídas exclusivamente por vogais do CCAP, possuem necessário ao seu funcionamento, prestado por este organismo.
caráter permanente ou prolongado e são criadas quando a natureza e a importância das
matérias aconselhe o seu acompanhamento regular ou tratamento especializado. 4.1.3. O Secretariado Técnico da PNAP tem como função assegurar o funcionamento
permanente do CEAP, apoiando-o no cumprimento das suas competências, e dar suporte
Os grupos de trabalho podem integrar pessoas ou entidades externas ao CCAP, reconheci- administrativo ao CCAP, sendo composto por um técnico da carreira técnica superior.
das como especialmente habilitadas na matéria a tratar, possuem caráter temporário e são
criados quando se revele necessário proceder a estudo ou debate aprofundado de matérias
ou temas necessários ao exercício das suas competências e funções.
4.1.2. A Comissão Executiva da Arquitetura e da Paisagem (CEAP) é o órgão executivo 4.2. Parceiros
da Política Nacional de Arquitetura e Paisagem e tem como função assegurar a implemen-
tação da PNAP nos seus vários domínios. O desenvolvimento da Política Nacional de Arquitetura e da Paisagem deve passar pela
criação de uma rede aberta de parceiros, públicos e privados, pessoas individuais e coleti-
vas, que partilham a sua visão e objetivos e contribuem para a sua implementação.
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POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM IMPLEMENTAÇÃO
o seu quadro de vida quotidiano, evitando a sua degradação e contribuindo para a sua • Criar uma base de dados que registe a presença ativa no estrangeiro de profissionais
manutenção, projetando as suas aspirações e procurando responder às suas necessidades; ou empresas portuguesas de arquitetura e de arquitetura paisagista e demais atividades
conexas;
• Ao setor empresarial privado em geral, nomeadamente ao setor agrícola e florestal,
fundamental na construção da Paisagem rural, e ao setor imobiliário e da construção, • Promover parcerias alargadas entre empresas do setor da arquitetura e arquitetura
ator importante na transformação do quadro de vida edificado e das paisagens urba- paisagista e suas associações e empresas de construção e serviços conexos, com o
nas, cabe contribuir para a concretização dos objetivos de qualidade e de sustenta- objetivo de aumentar o valor acrescentado nacional nas obras a realizar no país e no
bilidade, privilegiando soluções mais ecológicas e de menor intensidade carbónica e estrangeiro;
apostando na reabilitação urbana como um setor de futuro;
• Participar nos fóruns europeus e internacionais e cooperar com os parceiros interna-
• Ao sector universitário compete a responsabilidade de aumentar o conhecimento cionais no sentido de assumir compromissos alargados para promoção e valorização da
sobre o nosso território, o nosso quadro de vida edificado e as nossas paisagens, Arquitetura, da cultura, do património e da Paisagem;
desenvolver quadros conceptuais e metodológicos inovadores capazes de responder à
evolução da sociedade e dos seus valores e transmitir esse conhecimento de forma • Promover e participar em projetos de cooperação territorial a nível europeu e transna-
adequada, não apenas aos profissionais mas em moldes que possam ser apreendidos cional.
pela população em geral, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma cultura
do território e para apoiar uma participação informada; 4.3.2. Medidas legislativas e de regulação
• Aos profissionais das áreas relacionadas compete dar resposta adequada e de qualidade • Contribuir, em sede de processos legislativos e de regulação, para a melhoria da legis-
à implementação das medidas de política que forem definidas, e contribuir para que as lação, normativos e regulamentos;
transformações do território, do quadro de vida edificado e das paisagens se processem
em termos compatíveis com os objetivos de qualificação e sustentabilidade propostos. • Elaborar manuais de boas práticas e guias que permitam a valorização das práticas
profissionais de todos os agentes destes setores;
Será criado um sistema de registo de parceiros no portal da PNAP, o que permitirá a
adesão de todos os que pretendam participar na PNAP. • Propor a definição de critérios de qualidade, eficiência e eficácia que contribuam para
melhorar os processos de contratação pública em matérias de Arquitetura e Paisagem;
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