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Centro Universitário Campos de Andrade.

Alunos: Carlos Eduardo Camargo Viana; Lucas da Silva dos Santos.


Curso: História.
Período: 5°
Disciplina: Teoria e Historiografia ll.
Prof. Dra. Mariana Bonat Trevisan.

Análise das reflexões sobre a história do filósofo alemão Walter


Benjamin e breve abordagem de sua concepção de história e o uso
da crítica a literatura.

CURITIBA
INTRODUÇÃO

Por meio desta análise busca-se conhecer a concepção de história de Walter


Benjamin, sua dedicação pela história crítica influenciada pelo romantismo alemão,
religião judaica e o marxismo. Pretendemos explicar a trajetória de Benjamin em
meio a Primeira Guerra e a ascensão do nazismo, desenvolvendo suas pesquisas
na Escola de Frankfurt. Através de suas obras, em especifico “Magia e técnica, arte
e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura.”, iremos ressaltar as críticas
literárias e visões de história por meio da burguesia alemã e da luta de classes, além
de seu posicionamento a respeito da conjuntura de sua época correlacionando com
o progresso tecnológico humano.

Walter Benjamin foi filósofo, ensaísta, crítico literário e tradutor alemão. Nasceu
em Berlim, Alemanha, no dia 15 de julho de 1892, de uma família abastada
burguesa judia. Em 1904, por problemas de saúde foi matriculado em um internato
na Turíngia, onde conheceu o pedagogo Gustav Wyneken e sob influência ingressou
no Movimento da Juventude, que tinha o objetivo de reformular o sistema
educacional da Alemanha em um sentido mais amplo da crítica da cultura e das
sociedades alemãs. Em 1913 estudou lógica em Berlim, no mesmo ano foi eleito
presidente do “Grupo de Estudantes Livres”, que integrava o movimento da
juventude. No ano seguinte, rompe com o Wyneken e o Movimento da Juventude,
por conta de idéias distintas em relação à Primeira Guerra. Logo conhece Gershom
Scholen, iniciando uma grande amizade passando a ter uma nova visão sobre a
esquerda e o judaísmo.
Entre 1923 a 1925 realizou sua obra mais ampla, “o drama do barroco alemão”,
apresentou seu ensaio a Universidade de Frankfurt, mas foi negada a licença
profissional que lhe concedia a docência do Departamento de Estética. Após as
rejeições colaborou em jornais e revistas, se tornando bolsista do Instituto de
Pesquisa, mais tarde sendo conhecida como “Escola de Frankfurt”. Em 1933 com a
ascensão do regime nazista Benjamin é exilado em Paris até sua morte, acabou
mudando de endereço muitas vezes, ficou hospedado na casa de Bertolt Brecht
também exilado na Dinamarca. Walter Benjamin estava sendo ameaçado
constantemente pelos nazistas e se suicida em 1940 com uma dose letal de morfina,
na fronteira franco-espanhola.
Walter Benjamin pertence á teoria crítica em sentido amplo, inspirado em Marx
que a partir da Escola de Frankfurt, pôs em questão não só o poder da burguesia,
mas também os fundamentos da racionalidade e da civilização ocidental.
Questionou a ideologia do progresso, como filosofia imprecisa e sem rigor, buscava
livrar o marxismo definitivamente de influências burguesas progressistas. Benjamin
foi afundo à luta de classes como princípio de compreensão da história e
transformação do mundo, para Benjamin a história não parece como um processo
de desenvolvimento de forças produtivas, mas como um combate entre opressores e
oprimidos, apostava nas classes oprimidas como força libertadora da humanidade,
ele vê nas classes dominadas a única força capaz de derrubar o sistema de
dominação.
O pensamento de Benjamin está enraizado na tradição romântica alemã e na
cultura judaica da Europa Central. Contudo, suas reflexões “Sobre o conceito de
história” fornecem informações para compreender realidades culturais, fenômenos
históricos e movimentos sociais em outros contextos. Em 1982, Benjamin publica
pela primeira vez, A obra das Passagens, em que desenvolve sua crítica à idéia do
progresso. Benjamin desenvolve uma versão própria do materialismo histórico
colocando o conceito de atualização, deixando claro em suas obras, que seu
objetivo era aniquilar a idéia do progresso utilizando a metodologia do materialismo
histórico. Segundo Benjamin a historiografia burguesa e a historiografia progressista
se apóiam na mesma concepção de um tempo, sendo homogêneo e vazio, um
tempo cronológico e linear.
Benjamin criticou duramente a visão historicista, exigia que o conceito de história
fosse observado a partir dos oprimidos, contrapondo ao estilo historicista. Benjamin
defende um caráter dentro da teologia, o caráter messiânico que ajudaria no
entendimento da história. Propondo unir o materialismo histórico ao espírito
messiânico para que assim a humanidade não se deixe levar pelas idéias de um
materialismo histórico ortodoxo, alimentando o conformismo enraizado no modelo
historicista diante da noção dominante-dominado, vencedor e vencido. O rigor das
críticas de Benjamin ao historicismo alemão é inspirada nas idéias marxistas e
também de origem nietzchiana. Na qual deveria ser estudada a história em sua
conjuntura, não apenas a narrativa dos fatos e o individualismo da modernidade.

Segundo Benjamin, o homem moderno é um ser incapaz de recordar-se e


de intercambiar experiências, porque está inteiramente concentrado na
intercepção dos choques da vida cotidiana, que exigem uma permanente
mobilização da consciência (ROUANET, 1988, P.47).

Influenciado pelo marxista Lukacs, Benjamin parte da idéia do sujeito como


possibilidade da construção histórica, como aparece em suas teses: O historicismo
culmina legitimamente na história universal.

[...] Em seu método, a historiografia marxista se distancia dela mais


radicalmente que qualquer outra. A história universal não tem qualquer
armação teórica. Seu procedimento é aditivo. Ela utiliza a massa dos fatos,
para com eles preencher o tempo homogêneo e vazio. Ao contrário, a
historiografia marxista tem em sua base um princípio construtivo [...]
(BENJAMIN, 1996, P.231)

Segundo Benjamin, o sujeito do conhecimento histórico é a própria classe


combatente e oprimida, atribuindo na visão marxista, à classe operária o papel de
salvar gerações futuras. Para Benjamin, a história deve ser escrita como abertura
para novas interpretações a partir de novas constelações presentes, em que o texto
produzido pelo historiador deve possuir o caráter aberto de um conhecimento que se
perpetua no tempo, superando o aspecto puramente informativo e fechado em si
mesmo. “Nos domínios de que tratamos aqui, o conhecimento existe apenas em
lampejos. O texto é o trovão que segue ressoando por muito tempo” (BENJAMIN,
2007, p. 499 – N 1,1).
Para Benjamin, a História tida como em seu estudo entre uma relação presente-
passado é vista ao princípio de uma história materialista, isto é, um materialismo
histórico qual o próprio autor define primeiramente como uma conexão entre o
presente particular e o passado determinado por quem irá estudá-la. Reafirmando
essa questão em sua obra Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e
história da cultura: “O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja
irreversivelmente, no momento em que é reconhecido. [...] Pois irrecuperável é cada
imagem do passado que se dirige ao presente, sem que esse presente se sinta
visado por ela” (Benjamin, 1996, p. 224).
Então ao discernir o historicista materialista dos que estudam a história através
de arquivos políticos meramente, sem fazer quaisquer conexões, Benjamin trás esse
modelo de estudo da História, qual visa adentrar num passado específico a ser
estudado, sendo esse o passado dos "descendentes liberados", que priva o
revolucionário de suas forças (Benjamin, 1996, p. 229), um passado qual pretende
voltar ao tempo presente do historicista, um passado revolucionário.
Em sua crítica, Valter também trás uma abordagem mais assídua a respeito dos
que defendem a história contada somente por documentos "dos vencedores", isto é,
uma história produzida pelos quais se sobrepõem a outros e impõem seu próprio
modelo de história.
Com isso, ao tratar da idéia de "escovar a história a contrapelo" (Benjamin, 1996,
p. 225), o autor discorre sobre o papel do materialista histórico ao analisar os
documentos da forma qual julga mais adequada. Ou seja, Benjamin tratava o papel
do materialista histórico como o papel dos que viam a história sobre todos os fatos e
ângulos, não somente abordando-a a partir da visão dos vencedores e de suas
glórias, mas que ao analisar esse tipo de produção histórica estivesse também
ciente de que haviam os massacrados, as vítimas da barbárie, os derrotados,
reafirmando essa idéia no seguinte trecho retirado de sua obra Magia e técnica, arte
e política: ensaios sobre literatura e história da cultura: "Nunca houve um
monumento da cultura que não fosse também monumento da barbárie." (Benjamin,
1996, p. 225).
Assim, o historiador deve proceder com os documentos, com os fragmentos da
história. O historiador passa a ser o único que é capaz de interpretar novos sentidos
do passado. E isso não quer dizer que o historiador seja justo ao propor esses
sentidos, pois essas proposições devem seguir um critério que ele mesmo define
como necessário: o historiador deve buscar resgatar as perspectivas daqueles que
“fracassaram” ao longo da história, os vencidos.
Com isso, ao comentar a respeito do materialismo histórico, comenta também
sobre sua ligação com uma suposta história universal, criticando-a, apresentando
essa idéia como distante de como deve ser o historicismo. Para Benjamin:

"O materialista histórico não pode renunciar ao conceito de um presente que


não é transição, mas para no tempo e se imobiliza. Porque esse conceito
define exatamente aquele presente em que ele mesmo escreve a história. O
historicista apresenta a imagem "eterna" do passado" (Benjamin, 1996, p.
230-231)

Isto é, uma recriação de um passado absoluto e universal, enquanto o


materialista, trás esse passado como único a cada um, qual por ele é defendido
durante o texto.
E com isso, Benjamin temia que o progresso tecnológico humano em conjunto
com a continuidade do processo ideológico do fascismo pudesse vier a monopolizar
a história novamente, trazendo a visão única e exclusiva do vencedor, mas de forma
universal, chegando a todos os que fossem aprende-la.
Por fim, essa análise conclui que Walter Benjamin foi um filósofo alemão muito
crítico para seu período, deixando uma nova forma de análise da história mais
assídua e mais questionadora para as gerações seguintes.
A importância da analise da teoria da história do autor, bem como a
contextualização sobre a própria história de Walter, se da nos aspectos atuais de
análise de fontes, as quais exigem do historiador um olhar mais crítico e inquieto
sobre a história, sobre como ela vem sendo reconstruída, para e por quem ela vem
sendo ressalta na conjuntura política atual, de forma a tornar o historiador atual mais
atento a História e como ela pode ser reproduzida de forma a abordar visões únicas
(visão do vencedor), deixando de lado outros aspectos que também devem ser
tratados para a contextualização de suas análises.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e


história da cultura. Obras escolhidas, v. 1. São Paulo: Brasiliense, 1985. Sobre o
conceito de história, p. 222-232.
- FONTANA, Josep. A História dos Homens. Bauru (SP): EDUSC, 2004. Cap. 11: Os
marxismos, p. 318-326, 340, 341.
- LÖWY, Michael. A filosofia da história de Walter Benjamin. Estudos Avançados,
São Paulo, v. 16, n. 45, p. 199-206, maio/agosto, 2002.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200013
[acesso em 07/05/2019 às 22:16]
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142006000100016
[acesso em: 07/05/2018 às 22:53
SCHOLEM, Gershom & BENJAMIN, Walter. Correspondência (1933-1940).
Tradução de Neusa Soliz. São Paulo: Perspectiva, 1993, p. 32-3.]
- JESUS, Aline Ludmila de. Reflexões sobre o conceito de história em Walter
Benjamin. Publicado pela UFU (XII SIC – Décimo segundo seminário de iniciação
científica), pg. 1-9, 2008.
- BARBOSA, André Antonio; PRYSTHON, Angela. Uma política do passado: a
história em Benjamin, a memória em Bergson. Revista Fronteiras, Vol. 15 Nº 1 -
janeiro/abril 2013.

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