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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

ANÁLISE EXERGÉTICA DE PLANTAS DE SEPARAÇÃO DE AR

Amauri Oliveira de Almeida

São Paulo
2018
i

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

ANÁLISE EXERGÉTICA DE PLANTAS DE SEPARAÇÃO DE AR

Monografia apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de
Graduação em Engenharia

Amauri Oliveira de Almeida

Orientador: Prof. Dr. Silvio de


Oliveira Junior

Área de concentração:
Engenharia Mecânica

São Paulo
2018
ii

Resumo

As plantas de separação de ar produzem insumos essenciais para diversos


setores da indústria. A principal técnica empregada na separação de ar é a
destilação criogênica. O uso da análise exergética para a determinação da
eficiência e para a otimização do processo de separação de ar é o tema de
muitas pesquisas recentes, pois a redução na demanda de exergia nessas
plantas industriais possibilita ganhos econômicos associados à redução do
consumo de potência. Este trabalho tem por finalidade o estudo, simulação e
análise de plantas de separação de ar que operam por destilação criogênica,
para isso é utilizada uma abordagem exergética da análise termodinâmica
dos processos. Estudou-se inicialmente o ciclo Linde-Hampson de
separação de ar, partindo-se do caso mais simples e realizando algumas
modificações e em seguida foi analisado um ciclo com dupla coluna.
Realizaram-se as simulações dos ciclos utilizando-se o Engineering
Equation Solver (EES) e o Aspen Plus. Realizou-se também uma análise do
efeito Joule-Thomson, com a finalidade de se determinar quais as condições
mais propicias para o fluido antes da expansão. E também se analisou como
a modelagem do processo de compressão afeta o rendimento global do
ciclo, variando-se da compressão adiabática à compressão isentrópica. Os
resultados obtidos estão de acordo com os resultados disponíveis na
literatura. E indicam um ganho de eficiência considerável para o ciclo com as
melhorias implementadas no ciclo básico: o rendimento exergético do ciclo
passa de 6,8 % para 15,7 % com a implementação da refrigeração auxiliar.
Além disso, os resultados indicam que a maior parcela de destruição de
exergia está concentrada nos processos de compressão do ar e da
expansão na válvula. As purezas obtidas para o ciclo com coluna simples e
com dupla coluna são, respectivamente, 80 % e 95 % de oxigênio em fração
molar.
Palavras-chave: Separação de ar. Destilação criogênica. Exergia.
iii

Abstract

The air separation systems produce essential inputs to many areas of


industry. The main technique used for air separation process is the cryogenic
distillation method. Using exergy analysis to evaluate the performance of
these systems and look up for any process of the cycle that may be improve
it is the theme of many recent research, because the decrease of the exergy
consumption mean a considerable economic gain. This work intends to
study, simulate and analyze the thermodynamics aspects of air liquefaction
plants that operates by cryogenic distillation. In order to do that it is use the
exergy analysis. Initially, the Linde-Hampson liquefaction plant was studied. It
began with the simplest case of Linde-Hampson liquefaction plant and others
were obtained from modifications on the first case and afterwards a Linde-
Hampson cycle with double column was analysed. Simulations were made
on EES and also in Aspen Plus to determine the efficiency of the plants. It
was made a study about the Joule-Thomson effect, in order to determine the
best conditions to a drop of pressure provoke a considerable drop of
temperature. Also it was determined how the efficiency of the cycle depends
on the modeling of the compression process, using three different models of
compression process: adiabatic, isentropic and multi-stage. The results
obtained agree with those found in literature. They indicate a considerable
efficiency gain to the cycle, resulting of the improvements that have been
made on the basic cycle: The exergy efficiency increases from 6.8 % to 15.7
%. Furthermore, the results obtained indicate that the exergy destroyed
mostly occurred in the compress process and on the valve expansion. The
purities obtained for the cycle with a single column and the double column
cycle are, respectively, 80 % and 95 % of oxygen molar fraction.
Key words: Air separation. Cryogenic distillation. Exergy.
iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo Linde-Hampson Simples de liquefação. (Dincer e Rosen, 2007) ...................... 7


Figura 2. Ilustração de um Ciclo Linde. (Kotas, 1995). ............................................................. 8
Figura 3. Ciclo Linde com processo auxiliar de refrigeração. (Kotas, 1995). ........................... 8
Figura 4. Separação criogênica com duas colunas de separação. (Zeinab A. M. Khalel, Ali A.
Rabah, e Taj Alasfia M. Barakat, 2013). ................................................................................... 9
Figura 5. Ilustração de uma planta com duas colunas de destilação. (Ham, 2010)............... 10
Figura 6. Composição aproximada do ar em volume. (Autor) ............................................... 12
Figura 7. Composição aproximada do ar em massa. (Autor) ................................................. 12
Figura 8. Diagrama composição-Temperatura para mistura binária Oxigênio-Nitrogênio
(Wood, 1991) ......................................................................................................................... 14
Figura 9. Diagrama pressão-composição para a mistura binário. (Wood, 1991) .................. 15
Figura 10. Diagrama pressão-concentração para uma mistura binária. (Wood, 1991)......... 16
Figura 11. Fusão do hélio. (Wood, 1991) ............................................................................... 17
Figura 12. Sistema Linde-Hampson (Wood, 1991) ................................................................ 20
Figura 13. Diagrama T-s para liquefação de gás. (Wood, 1991) ............................................ 21
Figura 14. Sistema Claude com expansão realizando trabalho. (Wood, 1991) ..................... 22
Figura 15. Diagrama T-s para sistema Claude. (Wood, 1991) ................................................ 23
Figura 16. Sistema Linde de separação de ar. (Wood, 1991). ............................................... 24
Figura 17. Diagrama T-s para separação de ar. (Wood, 1991). ............................................. 24
Figura 18. Diagrama p-v para o Ciclo Stirling. (Wood, 1991). ................................................ 25
Figura 19. Diagrama T-s para o Ciclo Stirling. (Wood, 1991). ................................................ 25
Figura 20. Ciclo Brayton de refrigeração com regenerador. (Wood, 1991). ......................... 26
Figura 21. Diagrama T-s para o Ciclo Brayton de Refrigeração com Regeneração. (Wood,
1991). ..................................................................................................................................... 27
Figura 22. Unidade de operação para separação criogênica do ar. (Van Wylen, Sonntag e
Borgnakke, 2006). .................................................................................................................. 28
Figura 23. Volume de controle com uma entrada e uma saída. (Oliveira Jr., 2013). ............ 29
Figura 24. Sistema com interações com o meio na forma de calor. (Çengel e Boles., 2013).32
Figura 25. Ciclo Linde-Hampson de liquefação do ar. (Autor) ............................................... 36
Figura 26. Diagrama T-s para o ciclo Linde da figura 18. (Kotas, 1995). ................................ 37
Figura 27. Ilustração dos Fluxos de exergia e irreversibilidades. (Autor). ............................. 40
Figura 28. Modelo de um ciclo Linde-Hampson no Aspen Plus. (Autor) ............................... 41
Figura 29. Ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar. (Autor). ................................... 43
Figura 30. Diagrama de Grassmann para o ciclo Linde da figura 29. (Autor). ....................... 47
Figura 31. Eficiência exergética em função da refrigeração auxiliar. (Autor). ....................... 48
Figura 32. Diagrama T-s para o ar. (Autor usando EES). ........................................................ 49
Figura 33. Quantidade de exergia destruída em cada parte do ciclo. (Autor). ..................... 50
Figura 34. Ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar simulado no Aspen. (Autor) ..... 51
Figura 35. Ciclo de refrigeração a gás com regenerador. (Çengel, 2011). ............................. 53
Figura 36. Diagrama T-S para o ciclo de refrigeração com regenerador. (Çengel, 2011). ..... 54
Figura 37. Exergia destruída em cada um dos componentes do ciclo. (Autor). .................... 55
v

Figura 38. Eficiência de cada componente do ciclo de refrigeração. (Autor). ....................... 57


Figura 39. Ciclo Linde-Hampson com um ciclo Brayton reverso acoplado. (Autor) .............. 58
Figura 40. Ciclo Linde-Hampson com um ciclo Brayton reverso modelado no Aspen. (Autor)
............................................................................................................................................... 59
Figura 41. Ciclo de separação de ar com dupla coluna. (Autor) ............................................ 61
Figura 42. Ciclo de separação de ar com duas colunas. (Autor) ............................................ 62
Figura 43. Delta T na válvula para diferentes condições de entrada. (Autor). ...................... 63
Figura 44. Comparação entre compressão direta e compressão com intercooling. (Autor). 65
Figura 45. Eficiência de segunda Lei para um ciclo Linde-Hampson para diferentes métodos
de compressão. (Autor) ......................................................................................................... 66
Figura 46. Rendimentos para diferentes opções de ciclos Linde-Hampson. (Autor) ............ 68
vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Propriedades dos componentes do ar. (Fonte:adaptado de The Engineering


Toolbox ) ................................................................................................................................ 11
Tabela 2. Propriedades criogênicas de alguns componentes do ar. (Wood, 1991) .............. 13
Tabela 3. Temperaturas e vazões mássicas das correntes da simulação do modelo da Figura
28. (Autor) .............................................................................................................................. 42
Tabela 4. Frações molares das correntes S1 e S6. ................................................................. 42
Tabela 5. Variação da temperatura de saída da válvula e do título em função da
temperatura de entrada. (Autor) ........................................................................................... 49
Tabela 6. Frações Molares para cada fase da mistura. (Autor usando o ASPEN) .................. 51
Tabela 7. Temperaturas e vazões mássicas das correntes da simulação do modelo da Figura
34. (Autor) .............................................................................................................................. 52
Tabela 8. Frações molares das correntes S1 e S11. ............................................................... 52
Tabela 9. Valores de temperatura, pressão e vazão mássica para ciclo Linde-Hampson.
(Autor) .................................................................................................................................... 60
Tabela 10. Valores de temperatura, pressão e vazão mássica para o ciclo Brayton reverso.
(Autor) .................................................................................................................................... 60
Tabela 11. Composição molar para o ciclo Linde-Hampson com ciclo Brayton reverso.
(Autor) .................................................................................................................................... 60
Tabela 12. Síntese dos resultados para planta de dupla coluna. (Autor) .............................. 62
vii

LISTA DE SÍMBOLOS

𝐴 Área, m2
𝑐 Calor específico a pressão constante, kJ/kg.K

𝑐 Calor específico a volume constante, kJ/kg.K


𝐶𝑂𝑃 Coeficiente de performance, adimensional
ℎ Entalpia específica, kJ/kg
𝐼 Irreversibilidade total, kJ

𝑚 Massa, kg

𝑚̇ Fluxo de massa, kg/s


𝑀 Massa molar, kg/kmol
𝑚 Fração de massa, adimensional

𝑁 Número de mols, kmol


𝑝 Pressão, kPa ou MPa
𝑝 Pressão crítica, kPa ou MPa
𝑞 Transferência de calor por unidade de massa, kJ/kg
𝑞̇ Taxa de transferência de calor por unidade de massa, kJ/kg.s
𝑄 Calor transferido, kJ
𝑄̇ Taxa de transferência de calor, kJ/s
𝑠 Entropia específica, kJ/kg.K
𝑆 Entropia, kJ/K
𝑠 Entropia gerada específica, kJ/kg.K

𝑆 Entropia gerada, kJ/K

𝜂 Rendimento térmico, adimensional


𝜂 Rendimento isentrópico, adimensional
𝜂 Rendimento exergético, adimensional
viii

Catalogação-na-
publicação

Almeida, Amauri
ANÁLISE EXERGÉTICA DE PLANTAS DE SEPARAÇÃO DE AR / A.
Almeida -- São Paulo, 2018.
82 p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São


Paulo. Departamento de Engenharia Mecânica.

1.Separação de ar 2.Exergia 3.Destilação criogênica I.Universidade de São


Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia Mecânica II.t.
ix

SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................... iv
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................... vi
LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................................................ vii
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
2 OBJETIVOS ............................................................................................................................. 2
3 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 3
4 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................................... 4
4.1 Diferentes métodos de separação do ar........................................................................ 4
4.1.1 Tecnologia de separação de ar por processo criogênico. Linde-Hampson............. 4
4.1.2 Processos não criogênicos ...................................................................................... 4
4.2 Comparação dos processos ........................................................................................... 5
4.3 Conceituação de Exergia ................................................................................................ 6
4.4 Análise exergética de plantas de separação de ar ......................................................... 6
5 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ................................................................................................. 11
5.1 Composição e propriedades do ar atmosférico ........................................................... 11
5.2 Introdução à criogenia ................................................................................................. 13
5.3 Propriedades do ar a temperaturas criogênicas .......................................................... 13
5.4 Propriedades das principais substâncias de sistemas criogênicos .............................. 17
5.5 Efeito Joule – Thomson ................................................................................................ 18
5.6 Liquefação de gases ..................................................................................................... 18
5.7 Resfriamento de gás por efeito Joule-Thomson .......................................................... 19
5.8 Expansão em turbina ou motor para liquefazer um gás.............................................. 21
5.9 Sistema de separação de ar ......................................................................................... 23
5.10 Ciclos de refrigeração................................................................................................. 25
5.11 Processo criogênico de separação de ar .................................................................... 27
5.12 Desenvolvendo o balanço de exergia ........................................................................ 28
5.13 Eficiência exergética................................................................................................... 31
6 MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE PLANTAS DE SEPARAÇÃO DE AR POR DESTILAÇÃO
CRIOGÊNICA ........................................................................................................................... 35
x

6.1 Modelagem e simulação de um Ciclo Linde-Hampson simples de liquefação de ar ... 36


6.2 Simulação de um ciclo Linde-Hampson no Aspen Plus V8.6 ....................................... 41
6.3 Modelagem e simulação de um Ciclo Linde com processo auxiliar de refrigeração ... 42
6.4 Simulação de um ciclo Linde-Hampson com refrigeração auxiliar no Aspen Plus V8.6
........................................................................................................................................... 51
6.5 Modelagem e simulação do processo de refrigeração auxiliar ................................... 52
6.6 Simulação do ciclo Linde-Hampson com intercooling e ciclo Brayton reverso de
refrigeração auxiliar ........................................................................................................... 58
6.7 Modelagem e Simulação de um ciclo com dupla coluna ............................................. 61
7 EFEITO JOULE-THOMSON NO CICLO DE LIQUEFAÇÃO LINDE-HAMPSON........................... 62
8 AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO PROCESSO DE COMPRESSÃO NO RENDIMENTO DO CICLO
............................................................................................................................................... 63
8.1 Processo de compressão direta com modelo adiabático e reversível......................... 63
8.2 Processo de compressão direta com modelo isotérmico ............................................ 64
8.3 Processo de compressão com múltiplos estágios de resfriamento............................. 64
8.4 Comparação entre os diferentes modelos de compressão ......................................... 65
9 CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................................................... 67
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 69
APÊNDICE ............................................................................................................................... 70
ANEXO .................................................................................................................................... 71
1

1 INTRODUÇÃO

Plantas de separação de ar são instalações de grande importância porque fornecem


insumos para diversas aplicações industriais. Oxigênio, nitrogênio e gases nobres
como o hélio são obtidos dessas plantas. Dentre as diversas aplicações destes
produtos destacam-se: o uso médico-hospitalar, a indústria metal mecânica, a
indústria aeroespacial, a indústria petroquímica e de fertilizantes. Além disso,
destaca-se também o uso na geração de potência para plataformas offshore com a
técnica de oxy-fuel combustion process, nesse processo a planta de separação de
ar é integrada com uma turbina a gás. Este processo pode ocorrer com captura de
carbono (Carbon Capture and Storage Technology - CCS), o que reduz o impacto
ambiental da geração de potência (KRIEGER et al, 2015).
Há diversas técnicas utilizadas nos processos industriais de separação de ar, dentre
elas destacam-se as seguintes: o método de absorção, o método químico, o método
da membrana polimérica, membrana de transporte de íons e o processo de
destilação criogênica (SMITH E KLOSEK, 2000). O processo mais usado é o de
destilação criogênica, que será abordado com mais detalhes.
Neste trabalho, estuda-se a separação de ar pelo processo de destilação criogênica
a partir do ponto de vista exergético, com o intuito de otimizar o processo por meio
da redução da destruição de exergia. Os modelos estudados neste trabalho para
simulações de plantas de separação de ar são baseados em um ciclo Linde-
Hampson, tal como encontrado na literatura (KOTAS, 1995) e (SMITH E KLOSEK,
2000) e também é feita a simulação e análise de uma planta de destilação com
dupla coluna.
São realizadas análises e modificações pontuais nos modelos presentes na literatura
e realizam-se as simulações dos sistemas para avaliar o impacto das modificações
nos rendimentos. Sendo assim, são analisadas as seguintes configurações de
plantas de separação de ar: Linde-Hampson simples, Linde-Hampson com
resfriamento auxiliar, Linde-Hampson com resfriamento auxiliar fornecido por um
ciclo Brayton reverso e o ciclo com dupla coluna de destilação. As simulações são
desenvolvidas tanto no Engineering Equation Solver (EES) quanto no Aspen Plus.
2

2 OBJETIVOS

Este trabalho se propõe a estudar plantas de separação de ar por destilação


criogênica, pretende-se realizar uma análise termodinâmica do processo com uma
abordagem exergética. Almeja-se avaliar o desempenho da planta de separação de
ar por meio de simulações e comparar os resultados obtidos com dados encontrados
na literatura. A seguir estão listados os principais objetivos deste trabalho:
 Revisar e aprofundar conhecimentos sobre Termodinâmica básica, tais como
a primeira e a segunda lei da Termodinâmica;
 Estudar plantas de separação de ar com a técnica de destilação criogênica;
 Propor modelos matemáticos das plantas de separação;
 Simular os modelos matemáticos obtidos com o uso de programas
adequados: Engineering Equation Solver (EES) e Aspen Plus;
 Avaliar o efeito no desempenho da planta de algumas alterações implantadas
em decorrência da análise exergética da planta original;
 Comparar os resultados com dados encontrados na literatura.
3

3 METODOLOGIA

Realizou-se um levantamento das informações disponíveis na literatura relativas às


plantas de separação de ar por meio da destilação criogênica. A partir das
informações obtidas e dos modelos levantados, aplicou-se a análise exergética, o
que resultou em modelos matemáticos que posteriormente foram simulados
utilizando-se o EES. No caso do Aspen Plus, a modelagem é feita de forma
iconográfica e a simulação é realizada a partir do próprio diagrama do ciclo.
Comparou-se um ciclo Linde-Hampson simples com o mesmo ciclo incluindo uma
refrigeração auxiliar. Também se realizou um estudo paramétrico do processo,
utilizando-se como parâmetro a quantidade de calor retirado pelo ciclo de
refrigeração auxiliar.
Implementou-se o ciclo de refrigeração auxiliar como um ciclo de refrigeração
Brayton para avaliar a exergia consumida neste ciclo auxiliar e determinar o quanto
essa parcela de exergia representa no total de exergia consumida no ciclo. E, é
claro, aprimorar o modelo anterior que apresentava uma refrigeração auxiliar
genérica.
Também foi modelado e simulado no Apen Plus um ciclo de separação de ar com
dupla coluna de separação e dois níveis de pressão. Em todas as simulações no
Aspen Plus, um plug-in para o excel foi utilizado para realizar o cálculo da eficiência
exergética.
A análise do efeito Joule-Thomson para diversas combinações de pressão e
temperatura também foi realizada para verificar em quais condições a queda de
temperatura é maior. De modo a atingir temperaturas mais baixas com o
aproveitamento máximo da queda de pressão.
Foi analisada a influência da modelagem do processo de compressão no rendimento
do ciclo. Para isso foram simulados três modelos distintos: compressão isentrópica,
isotérmica e com uma com intercooling e quatro estágios.
4

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 Diferentes métodos de separação do ar

Existem diferentes alternativas para a separação do ar. Cada método possui as suas
peculiaridades, o que o torna vantajoso ou inviável a depender da escala de
produção e do grau de pureza exigido dos componentes finais: oxigênio, nitrogênio e
argônio. A seguir, há uma descrição breve dos principais métodos empregados
industrialmente.
4.1.1 Tecnologia de separação de ar por processo criogênico. Linde-Hampson

O ar é liquefeito e posteriormente separado em uma coluna de destilação a partir


das diferenças entre os pontos de condensação / ebulição dos diferentes
componentes do ar. Este processo pode ser implementado em uma coluna simples
de destilação, no qual há produção de uma corrente de líquido rica em oxigênio e de
uma corrente de vapor rico em nitrogênio. Contudo este processo simples não
fornece um grau de pureza arbitrário. Para a obtenção de graus de pureza arbitrários
implementa-se o ciclo Linde-Hampson com dupla coluna de destilação (SMITH, A.
R., KLOSEK, J, 2000).

4.1.2 Processos não criogênicos

4.1.2.1 Adsorção

Neste método o ar passa através de um material com afinidade por adsorção de


nitrogênio e do outro lado emerge uma corrente rica em oxigênio. Um material
utilizado é o zeólito, um mineral poroso. A pureza obtida com este método é de 93 –
95 % de oxigênio em volume. O custo desse processo aumenta mais rapidamente
com o aumento da produção do que o método criogênico (SMITH, A. R., KLOSEK, J,
2000).

4.1.2.2 Método químico

Alguns materiais tem a capacidade de absorver oxigênio em determinadas


condições de temperatura e pressão e de liberar o oxigênio em outras condições de
temperatura e pressão. O oxigênio do ar é absorvido pelo fluxo e posteriormente
este material é aquecido e tem sua pressão reduzida, liberando oxigênio. Uma
técnica desenvolvida com esse princípio foi o MOLTOXTM, que utiliza sal fundido
5

como material absorvedor. Esse processo apresenta uma produção com pureza de
99,9 % em volume de oxigênio, contudo há problemas com corrosão, que afetam
sua viabilidade econômica.

4.1.2.3 Membranas poliméricas

Baseia-se na diferença de velocidade de difusão das moléculas dos gases oxigênio


(menor) e nitrogênio (maior). Fluxo e seletividade/capacidade (faixa de valores dos
raios das moléculas que são filtradas) de filtragem são parâmetros importantes para
o aspecto econômico. Permeabilidade da membrana varia com o tipo de material
membranoso. Usualmente, os processos de separação de ar por membrana
polimérica estão limitados a purezas da ordem de 25 – 50 % em volume de oxigênio.

4.1.2.4 Membrana de transporte de íons

Neste processo são utilizados óxidos sólidos e inorgânicos de material cerâmico


(Estrutura cristalina). Opera-se a alta temperatura, aproximadamente 600 ºC. O
oxigênio é transformado em íon e depois é aplicada tensão elétrica que o transporta
através da membrana na qual os íons de oxigênio podem ser convertidos em
oxigênio puro ou podem ser utilizados num processo de gas-to-liquid conversion.

4.2 Comparação dos processos

O processo criogênico é o processo mais utilizado para o fornecimento de gases


(oxigênio, etc.) para grandes instalações industriais. A integração de processos
dentro da planta industrial pode aumentar a eficiência e reduzir os custos. Conceitos
avançados de melhor aproveitamento do calor podem favorecer o uso do processo
químico e de Íons no futuro. Há um nicho de mercado para geração de nitrogênio
por meio de membrana polimérica para suprir demanda em regiões remotas e como
fonte de gás inerte (SMITH e KLOSEK, 2000).
A tecnologia de separação de ar por destilação criogênica tem sido utilizada com
sucesso e é a principal forma de produção dos gases nitrogênio e oxigênio (SMITH e
KLOSEK, 2000). Contudo há outras formas em atividade e em estudo que podem ser
vantajosas para pequena escala de produção. Pode-se citar o método de absorção
utilizando zeólitos cuja desvantagem é o rápido crescimento do custo com o
aumento da produção, se comparado ao método criogênico (SMITH e KLOSEK,
2000). O método químico por sua vez apresenta a vantagem de produzir oxigênio
com elevada pureza (99% de oxigênio em volume), mas apresenta problemas de
6

corrosão devido aos sais e ao próprio oxigênio. A tecnologia de separação por meio
da membrana polimérica se baseia na diferença entre o tamanho das moléculas e
consequentemente das taxas de difusão dos diferentes gases. Neste caso, o
máximo que se consegue produzir é ar rico em oxigênio (25-50%, em volume). A
membrana de transporte de íons: esse sistema opera a alta temperatura,
aproximadamente 860 K (SMITH e KLOSEK, 2000), o que implica em altos custos
energéticos. Neste processo oxigênio é produzido pela passagem de íons de
oxigênio por meio de uma cerâmica. Oxigênio é transformado em íons na superfície
e transportado pela aplicação de uma corrente elétrica (SMITH e KLOSEK, 2000).

4.3 Conceituação de Exergia

Na literatura, conceitua-se exergia física como o trabalho que pode ser realizado por
um sistema enquanto este é levado para um estado de equilíbrio com o meio por
meio de processos reversíveis (SZARGUT, MORRIS E STEWARD, 1998). Desta
definição pode-se concluir que o meio desempenha papel relevante na avaliação da
exergia. Deve-se notar, entretanto, que a exergia é o limite superior de trabalho que
um dado sistema pode produzir até atingir o equilíbrio com o meio ambiente sem
violar nenhuma lei da Termodinâmica, não é, portanto, a real quantidade de trabalho
que será produzido. Outro ponto que deve ser destacado é que a exergia não se
conserva, como ocorre com a energia.

4.4 Análise exergética de plantas de separação de ar

O método da análise exergética foi utilizado para avaliar o desempenho de uma


planta de separação de ar por Kotas (1995). Neste trabalho, foram comparadas as
respectivas eficiências exergéticas de uma planta de separação de ar sem
resfriamento auxiliar e de uma planta análoga com a inclusão do resfriamento
auxiliar. Kotas concluiu que a planta sem o resfriamento auxiliar apresentava 6,6 %
de rendimento exergético enquanto a planta com a inclusão do resfriamento resultou
em 15,7 % de rendimento exergético.
Na mesma linha de pesquisa, encontram-se trabalhos de Dincer e Rosen. No
trabalho intitulado Exergy Analysis of Cryogenic Systems é abordado um modelo de
planta de separação de ar semelhante ao modelo sem resfriamento auxiliar utilizado
por Kotas. Neste trabalho, Dincer e Rosen determinaram que a eficiência exergética
para a planta em estudo, Figura 1, é de 13,4 %.
Ham e Kjelstrup (2010) mostraram que a eficiência de uma unidade de separação de
ar (USA, sigla em inglês) pode ser melhorada por meio da utilização de três colunas
7

de destilação em vez de duas. Pode-se reduzir em 31% a destruição de exergia


nesse processo específico e de até 12% no total. Já Cornelessen e Hirs (1998)
realizaram um estudo que apontou que o maior responsável pela destruição de
exergia no processo são os compressores.
Há, portanto, oportunidades de aperfeiçoamento do processo tanto por meio da
otimização dos processos quanto por meio de uma maior integração dos processos,
como, por exemplo, aproveitamento do ar retirado do compressor de uma turbina a
gás e reaproveitado numa USA.
Alguns modelos para simulação de plantas de separação de ar encontrados na
literatura:
A Figura 1 apresenta um modelo esquemático de um ciclo de liquefação de ar. Este
modelo foi utilizado por Dincer e Rosen para simulação de e estudo exergético de
um ciclo Linde-Hampson de liquefação de ar.

Figura 1. Ciclo Linde-Hampson Simples de liquefação. (Dincer e Rosen, 2007)


8

Figura 2. Ilustração de um Ciclo Linde. (Kotas, 1995).

Figura 3. Ciclo Linde com processo auxiliar de refrigeração. (Kotas, 1995).


9

A Figura 4 apresenta um modelo esquemático de uma planta de separação de ar


composta por compressores C1 e C2, turbina T, Trocadores de calor HX1 e HX2 e
Colunas de destilação LPC e HPC.

Figura 4. Separação criogênica com duas colunas de separação. (Zeinab A. M. Khalel, Ali A. Rabah, e Taj Alasfia M. Barakat,
2013).

A Figura 5 apresenta mais um modelo de planta de separação de ar. Neste caso, há


uma coluna de alta pressão (High Pressure Column) e uma coluna de baixa pressão
(Low Pressure Column). Este tipo de ciclo trabalha com pressões significativamente
menores do que os ciclos apresentados anteriormente. Além de apresentar
claramente uma configuração mais complexa do que os exemplos anteriores.
10

Figura 5. Ilustração de uma planta com duas colunas de destilação. (Ham, 2010)
11

5 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

5.1 Composição e propriedades do ar atmosférico

O ar é uma mistura de diversos gases e vapor de água. Os principais componentes


do ar seco são o nitrogênio e o oxigênio, por isso muitas vezes se faz uma
aproximação do ar para uma mistura binária desses dois componentes. A Tabela 1
apresenta algumas informações sobre os componentes do ar. Como pode ser
observada na última coluna, a temperatura de ebulição do oxigênio é de -183 ºC e a
do nitrogênio é de -195,8 ºC, o que implica que o oxigênio se liquefaz primeiro
quando uma mistura de ambos os gases é resfriado. A Figura 6 e a Figura 7
apresentam uma aproximação para o ar binário em volume e em massa, nessa
ordem.

Tabela 1. Propriedades dos componentes do ar. (Fonte:adaptado de The Engineering Toolbox )

Componente Porcentagem em volume [%] Massa Molar [kg/kmol] Temperatura de ebulição [C]
Nitrogênio 78,084 28,013 -195,8
Oxigênio 20,9476 31,999 -183
Argônio 0,964 39,948 -185,8
Dióxido de Carbono 0,0314 44,01 -78,5
Neônio 0,001818 20,18 -246
Metano 0,0002 4,003 -269
Hélio 0,000524 16,042 -268,9
Criptônio 0,000114 83,798 -153,4
Hidrogênio 0,00005 2,016 -252,9
Xenônio 0,0000087 131,293 -108,1
12

Oxigênio
21%

Nitrogênio
79%

Figura 6. Composição aproximada do ar em volume. (Autor)

Oxigênio
23%

Nitrogênio
77%

Figura 7. Composição aproximada do ar em massa. (Autor)


13

5.2 Introdução à criogenia

A criogenia (o prefixo crio vem do grego “kruos”, que significa muito frio) é o estudo
das propriedades das substâncias a temperaturas ditas criogênicas, porém não há
uma definição oficial sobre o conceito de temperatura criogênica. Alguns autores
definem temperatura criogênica como temperaturas abaixo de 123 K (-150 ºC)
(Scott,1960) ou temperaturas abaixo de 173 K (-100 ºC) (Sittig e Kidd, 1963) e o
limite inferior é a temperatura de ebulição do hélio líquido. Para atingir temperaturas
da ordem de 120 K (-153 ºC) é necessário um sistema de refrigeração com
excelente desempenho de troca de calor.

5.3 Propriedades do ar a temperaturas criogênicas

Para entender o funcionamento de sistemas de refrigeração que operam em


temperaturas criogênicas é necessário que se conheça as propriedades das
substâncias que compõem o ar em temperaturas da ordem de 100 K (-173 ºC). O
comportamento dos gases nessa faixa de temperatura se aproxima mais dos
vapores do que do gás perfeito porque as temperaturas estão próximas da
temperatura crítica. Na Tabela 2 encontram-se algumas propriedades dos principais
componentes do ar.

Tabela 2. Propriedades criogênicas de alguns componentes do ar. (Wood, 1991)

Peso Ponto triplo Temperatura de inversão Ponto crítico


Molecular K atm K K atm
Oxigênio 32 54,36 0,0015 893 154,7 50,1
Argônio 39,94 83,78 0,68 723 150 48
Nitrogênio 28,96 63,16 0,1237 621 126,1 33,49

O ar pode ser modelado como uma mistura composta por 79% de nitrogênio e 21%
de oxigênio (base molar ou volumétrica) ou como 77% de nitrogênio e 23% de
oxigênio (base mássica). A Figura 8 apresenta um diagrama temperatura-
concentração para o ar como mistura binária de oxigênio e nitrogênio. Pode-se
observar que para pressão atmosférica (1 atm), a temperatura de condensação do
oxigênio e do nitrogênio são, respectivamente, 90 K e 77 K. Sendo assim, com o
resfriamento da mistura, o primeiro componente a liquefazer será o oxigênio (90 K).
14

Figura 8. Diagrama composição-Temperatura para mistura binária Oxigênio-Nitrogênio (Wood, 1991)

Na Figura 9, há um diagrama de pressão-concentração na qual é possível observar


linhas isotérmicas para líquido saturado e vapor saturado. Além disso, a Figura 5
apresenta a linha de máxima pressão de equilíbrio líquido-vapor para qualquer
concentração e também a linha de máxima concentração de equilíbrio para cada
temperatura.
15

Figura 9. Diagrama pressão-composição para a mistura binário. (Wood, 1991)

A condensação retrógrada pode ser visualizada na Figura 10. Considerando o ponto


B e aumentando paulatinamente a pressão, ocorre evaporação (ponto D). Contudo,
prosseguindo com o aumento de pressão, ocorre condensação no ponto A1, ou seja,
ocorre o fenômeno conhecido como condensação retrógrada.
16

Figura 10. Diagrama pressão-concentração para uma mistura binária. (Wood, 1991)
17

5.4 Propriedades das principais substâncias de sistemas


criogênicos

Propriedades do hidrogênio. O hidrogênio é uma molécula diatômica com dois


prótons e dois elétrons. Há o orto-hidrogênio, que possui spins na mesma direção, e
o para-hidrogênio, que possui spins em direções opostas. A pressão de 1 atm e
temperatura de 298 K, o hidrogênio é composto por uma mistura de composição: 75
% de orto-hidrogênio e 25% de para-hidrogênio, essa composição é conhecida como
normal ou n-hidrogênio. Essa predominância da fase orto-hidrogênio frente a fase
para-hidrogênio é invertida na temperatura de evaporação para 1 atm.
Propriedades do hélio. Uma peculiaridade do hélio é a ausência de um ponto triplo.
As linhas de sólido-líquido e a de líquido I - líquido II. Observa-se que a fusão ocorre
a uma distância expressiva do ponto crítico. Uma propriedade notável do hélio
líquido II é que a sua condutividade é maior do que a do cobre, apesar de a do hélio
líquido I ser praticamente igual a condutividade do ar para temperatura de 298 K.,
conforme pode ser observado na Figura 11.

Figura 11. Fusão do hélio. (Wood, 1991)


18

5.5 Efeito Joule – Thomson

Para um gás perfeito, uma expansão isentálpica não resulta numa mudança de
temperatura, conduto isso não ocorre para os gases reais em geral. Assim, uma
expansão isentálpica provoca uma variação da temperatura do gás em questão. A
eq.(1) define um coeficiente para determinar o quanto a temperatura deve mudar
com uma mudança na pressão do gás. 𝑇, 𝑝 e ℎ representam, respectivamente, a
temperatura, a pressão e a entalpia.

Ә𝑇
𝜇= ( ) (𝟏)
Ә𝑝

Da eq.(1), pode-se concluir que um 𝜇 positivo indica que uma queda na pressão
durante a expansão provoca uma redução na temperatura do gás. Por outro lado,
um 𝜇 negativo significa que uma redução na pressão causaria um aumento na
temperatura do gás.
Os gases apresentam, em geral, um coeficiente de Joule – Thomson positivo para
temperatura de 298 K e pressão de 1 atm. Existem algumas exceções notáveis:
hélio, hidrogênio e neônio, que apresentam µ negativo para essa condição. Sempre
há, contudo, uma temperatura suficientemente alta para a qual o coeficiente de
Joule – Thomson é negativo.
Com o uso de algumas relações termodinâmicas é possível escrever a eq.(1) numa
outra forma:

1 Ә𝑢 Ә𝑝𝑣
𝜇= −( ) − ( ) (𝟐)
𝐶 Ә𝑝 Ә𝑝

Na eq.(2) foram introduzidos dois novos elementos: 𝑢 e 𝑣 que representam, nesta


ordem, a energia interna e o volume específico. A partir da eq.(2) é possível
encontrar o ponto de inversão, isto é, o valor da temperatura a partir da qual o valor
do coeficiente de Joule – Thomson muda de sinal. Essa temperatura de inversão é
determinada igualando-se o termo entre colchetes a zero.

5.6 Liquefação de gases


19

É realizada de quatro maneiras distintas, a saber: por resfriamento externo, efeito


Joule – Thomson, expansão isentrópica num êmbolo ou pela expansão do gás numa
turbina.
O trabalho mínimo para liquefazer um gás a uma dada pressão e temperatura para
um líquido a mesma pressão é dado pela eq.(3), na qual 𝑤 , 𝑇 , 𝑠 , 𝑠 , ℎ e ℎ são,
respectivamente, o trabalho líquido necessário para liquefazer um gás, a
temperatura inicial do gás, a entropia do gás inicial, a entropia do líquido final, a
entalpia do gás inicial e a entalpia do líquido final. Ressalta-se que este processo é
apenas um parâmetro para comparação com processos reais, esse processo cujo
trabalho líquido é dado pela eq.(3) é impraticável devido à necessidade de uma
razão de pressões muito elevada.

𝑤 =𝑇 𝑠 −𝑠 − ℎ −ℎ (𝟑)

5.7 Resfriamento de gás por efeito Joule-Thomson

Sempre existe uma temperatura T suficientemente baixa para que o gás apresente
coeficiente Joule – Thomson positivo. Sendo assim, a expansão de gases é uma
maneira útil para resfriamento dos gases para liquefação. Dois sistemas de
liquefação de gases que utilizam o efeito Joule – Thomson são conhecidos como
Linde-Hampson e foram desenvolvidos no mesmo ano por esses pesquisadores que
dão nome ao ciclo. Este sistema é mostrado na Figura 12.
20

Figura 12. Sistema Linde-Hampson (Wood, 1991)

Na Figura 12, o efeito Joule – Thomson ocorre entre os pontos (d) e (e). Um
exemplo de diagrama T-s para um sistema Linde-Hampson é mostrado na Figura
13.
21

Figura 13. Diagrama T-s para liquefação de gás. (Wood, 1991)

Há dois indicadores de desempenho para sistema de liquefação de gases, a saber:


o rendimento, 𝑌, e o trabalho específico,𝑊 . A eq.(4) define 𝑌 e 𝑊 é conceituado
como uma unidade de energia requerida para liquefazer uma unidade de massa de
gás. Na eq.(4), 𝑚̇ é a quantidade de massa de líquido produzido por unidade de
tempo e 𝑚̇ é a quantidade de massa de gás comprimido por unidade de tempo. E
na eq.(5) 𝑊 é o trabalho usado na compressão do gás e 𝑚 é a quantidade de
massa liquefeita.

𝑚̇
𝑌= (𝟒)
𝑚̇

𝑊 (𝟓)
𝑊 =
𝑚

5.8 Expansão em turbina ou motor para liquefazer um gás


22

É possível aproveitar a expansão do gás, cuja principal função é o resfriamento,


para a geração de energia para a planta. Como, por exemplo, a movimentação de
um motor ou uma turbina a gás. É possível obter líquido direto da expansão, porém
isso não é vantajoso do ponto de vista prático. A Figura 14 ilustra esta aplicação, a
expansão do ponto b para o ponto i ocorre com realização de trabalho. E a Figura 15
indica o diagrama T-s para o sistema Claude.

Figura 14. Sistema Claude com expansão realizando trabalho. (Wood, 1991)
23

Figura 15. Diagrama T-s para sistema Claude. (Wood, 1991)

5.9 Sistema de separação de ar

A forma mais utilizada de separação do ar em componentes de interesse tais como


oxigênio, nitrogênio e argônio é a destilação em coluna de separação. O primeiro
sistema de separação por meio de colunas de destilação é conhecido como sistema
Linde-Hampson de separação de ar. Há variações desse sistema com apenas uma
ou com duas colunas de separação. Na Figura 16, há um sistema Linde-Hampson
de separação de ar. O ar captado é purificado, comprimido, resfriado e expandido, o
que resulta num líquido rico em oxigênio e num gás rico em nitrogênio, assim obtém-
se oxigênio líquido e nitrogênio gasoso. A Figura 17 ilustra o processo por meio do
diagrama T-s.
24

Figura 16. Sistema Linde de separação de ar. (Wood, 1991).

Figura 17. Diagrama T-s para separação de ar. (Wood, 1991).


25

5.10 Ciclos de refrigeração

Dois ciclos de refrigeração utilizados para atingir temperaturas criogênicas (da


ordem de 170 K) são o ciclo Stirling e o ciclo Brayton com regeneração. Como pode
ser observado na Figura 18 e na Figr, o ciclo Stirling é composto de uma expansão
isotérmica (a para b), de uma troca de calor a volume constante (b para c), de uma
compressão isotérmica (c para d) e de outra troca de calor a volume constante (d
para a).

Figura 18. Diagrama p-v para o Ciclo Stirling. (Wood, 1991).

Figura 19. Diagrama T-s para o Ciclo Stirling. (Wood, 1991).


26

O ciclo Brayton reverso é composto por duas trocas de calor a pressão constante
(de a para n e de c para m), por uma expansão adiabática e reversível, por uma
compressão também adiabática e reversível e por um regenerador, conforme pode
ser observado na Figura 20. Na Figura 21 é apresentado um diagrama T-s para o
ciclo Brayton de refrigeração com regeneração.

Figura 20. Ciclo Brayton de refrigeração com regenerador. (Wood, 1991).


27

Figura 21. Diagrama T-s para o Ciclo Brayton de Refrigeração com Regeneração. (Wood, 1991).

5.11 Processo criogênico de separação de ar

Este processo é o mais eficiente e economicamente viável, produzindo oxigênios em


alto nível de pureza, pode-se chegar a 99% de oxigênio em volume (SMITH e
KLOSEK, 2000) e também pode gerar nitrogênio como subproduto com pequeno
acréscimo de investimento (SMITH e KLOSEK, 2000). A Figura 22 ilustra o esquema
simplificado de uma planta de separação de ar com a produção de nitrogênio gasoso
e oxigênio líquido.
28

Figura 22. Unidade de operação para separação criogênica do ar. (Van Wylen, Sonntag e Borgnakke, 2006).

O ar obtido na atmosfera é comprimido até atingir uma pressão entre 2 a 3 MPa.


Passa então por um processo de purificação para eliminar contaminantes tais como
particulado e dióxido de carbono. Especialmente o dióxido de carbono, porque ele
solidificaria enquanto o ar é liquefeito, o que poderia obstruir o escoamento. O ar é
novamente comprimido, dessa vez para pressões entre 15 e 20 MPa, o ar é então
resfriado para temperatura ambiente e secado para remoção de vapor d’água, que
também poderia solidificar e obstruir o escoamento. A refrigeração do ar é composta
de duas etapas, a saber: a expansão do ar com realização de trabalho e a
passagem do ar por um uma válvula de estrangulamento. Como ilustrado na figura
acima, parte do ar que sai do secador é expandido no num motor para realização de
trabalho e outra parte passa por uma válvula de estrangulamento. E os dois fluxos
se encontram (ambos a pressão de 0,5 a 1 MPa) e são enviados para a coluna de
destilação. Este fluxo entra na parte inferior da coluna (alta pressão) e é enviado
para a parte superior (baixa pressão) por meio de válvulas. O ar é separado em dois
componentes principais: O2 e N2, o O2 líquido é retirado e o N2 é para um trocador
de calor e retirado na fase gasosa.

5.12 Desenvolvendo o balanço de exergia

A análise da eficiência de processos baseada na Primeira Lei da Termodinâmica é


suficiente para alguns aspectos, contudo não é a única maneira de avaliar e otimizar
o desempenho dos processos e, a depender do escopo da análise em questão, não
é também a abordagem mais adequada. Outra maneira de analisar o desempenho
de processos é a análise exergética. O conceito de exergia: máximo trabalho teórico
29

que pode ser obtido de um sistema enquanto esse sistema é levado ao equilíbrio
com o meio (Moran et al., 2011). Essa abordagem considera a disponibilidade e as
irreversibilidades dos processos. Simulações utilizando esses conceitos são
indispensáveis no projeto e na determinação da condição ótima de operação de
sistemas/processos (Van Wylen, Sonntag e Borgnakke, 2006).
Pode ser mostrado que o balanço de exergia é, na verdade, uma combinação linear
dos balanços de energia e entropia (Oliveira Jr., 2013). Para ilustrar este fato,
considera-se um volume de controle simples, isto é, com somente uma entrada e
uma saída, que interage com o meio por meio de transferência de calor e realização
de trabalho, como ilustrado na Figura 23.

Figura 23. Volume de controle com uma entrada e uma saída. (Oliveira Jr., 2013).

𝑞̇ = ℎ − ℎ + 𝑤̇ (𝟔)

𝛿𝑞̇
𝑠 −𝑠 = + 𝑠̇ (𝟕)
𝑇

A eq.(6) e a eq.(7) representam, respectivamente, o balanço de energia e o balanço


de entropia, ambas por unidade de massa. Na eq.(6), 𝑞̇ , ℎ , ℎ e 𝑤̇ são,
respectivamente, a taxa de calor trocada por unidade de massa, a entalpia
específica que deixa o volume de controle, a entalpia específica que entra no volume
de controle e a taxa de realização de trabalho. Na eq.(7), 𝑠 , 𝑠 , ∫ e 𝑠̇
representam, nessa ordem, a entropia específica que deixa o volume de controle, a
entropia específica que entra no volume de controle, a transferência de entropia com
o calor e a entropia gerada no processo. O máximo trabalho específico seria obtido
se todos os processos fossem reversíveis e se houvesse um ciclo de Carnot
operando entre a temperatura 𝑇 do volume de controle e 𝑇 , temperatura do meio.
Reescrevendo as equações anteriores, obtém-se:
30

𝑞̇ = ℎ − ℎ + 𝑤̇ (𝟖)

𝑞̇
𝑠 −𝑠 = (𝟗)
𝑇

Combinando as equações anteriores, obtém-se a eq.(10), que quantifica o máximo


potencial para realização de trabalho:

𝑤̇ = ℎ − ℎ − 𝑇 (𝑠 − 𝑠 ) (𝟏𝟎)

Na eq.(10), 𝑤̇ e 𝑇 (𝑠 − 𝑠 ) representam, respectivamente, o máximo trabalho


obtido do sistema e o calor transferido, observa-se então que esta última parcela
depende da temperatura do meio. A definição de exergia específica (exergia por
unidade de massa) 𝑏, desprezando-se as parcelas de energia cinética e potencial é
dada pela eq.(11).

𝑏 = (ℎ − ℎ ) − 𝑇 (𝑠 − 𝑠 ) (𝟏𝟏)

Na eq.(11), ℎ , 𝑠 e 𝑇 representam a entalpia específica, a entropia específica e a


temperatura avaliadas na condição de equilíbrio com o meio. E ℎ e 𝑠 representam: a
entalpia e a entropia específica para o estado em estudo. A equação de balanço de
exergia, para um volume de controle com várias entradas e várias saídas é dada
pela eq.(12).

𝑑𝐵 𝑇
= 1− 𝑄̇ − 𝑊̇ + 𝑚̇ 𝑏 − 𝑚̇ 𝑏 − 𝑇 𝑆̇ (𝟏𝟐)
𝑑𝑡 𝑇

Na eq.(12), ,∑ 1− 𝑄̇ , 𝑊̇ ,∑ 𝑚̇ 𝑏 − ∑ 𝑚̇ 𝑏 , 𝑚̇ , 𝑚̇ e 𝑇 𝑆̇ representam, nessa


ordem: a taxa de variação de exergia, fluxo de exergia relacionada à troca de calor,
fluxo de exergia pura, balanço do fluxo de exergia no volume de controle, o fluxo de
massa que entra no volume de controle, o fluxo de massa que deixa o volume de
controle e a taxa de exergia destruída. Com a hipótese de regime de regime
permanente, a eq.(12) pode ser simplificada na forma da eq.(13).
31

𝑇
1− 𝑄̇ − 𝑊̇ + 𝑚̇ 𝑏 − 𝑚̇ 𝑏 − 𝑇 𝑆̇ =0 (𝟏𝟑)
𝑇

Com a eq.(13) é possível obter o trabalho reversível, para tanto basta supor que a
exergia destruída é nula, vide eq.(14).

𝑇
𝑊̇ = 1− 𝑄̇ + 𝑚̇ 𝑏 − 𝑚̇ 𝑏 (𝟏𝟒)
𝑇

Nas equações anteriores, utiliza-se 𝑊 que é o trabalho útil. Conforme está indicada
pela eq.(15), 𝑊̇ é a diferença entre o trabalho real 𝑊̇ e o trabalho realizado pela
variação de volume no volume de controle 𝑝 . Quando se adota modelos com
volume constante essa parcela é nula.

𝑑𝑉
𝑊̇ = 𝑊̇ − 𝑝 (𝟏𝟓)
𝑑𝑡

A eq.(12) permite avaliar melhor a o aproveitamento dos recursos disponíveis


porque não só quantifica como também qualifica a energia disponível. A equação de
balanço de energia afirma que a energia não pode ser destruída, o que não ocorre
na equação de balanço de exergia. A exergia pode ser destruída, não se conserva
em processos reais.

5.13 Eficiência exergética

Para ilustrar a aplicação da eficiência exergética num dispositivo considere a Figura


24, na qual é ilustrada a situação em que duas máquinas térmicas atuam com o
mesmo rendimento térmico a partir de fontes de energia térmica com temperaturas
distintas.
32

Figura 24. Sistema com interações com o meio na forma de calor. (Çengel e Boles., 2013).

A eq.(16) sintetiza a informação dos rendimentos térmicos, conforme a Figura 24.

𝜂 = 30 % (𝟏𝟔)

Já a eq.(17) e a eq.(18) representam os rendimentos térmicos reversíveis para uma


máquina térmica operando entre as temperaturas das respectivas fontes quentes e
frias. Esse rendimento reversível é o máximo rendimento que pode ser atingido por
uma máquina térmica operando na condição dada.

𝑇 300
𝜂 , = (1 − ) = 1− = 0,5 (𝟏𝟕)
𝑇 600

𝑇 300
𝜂 , = 1− = 1− = 0,7 (𝟏𝟖)
𝑇 1000

O rendimento de segunda Lei por outro lado pode ser obtido com a razão entre o
rendimento térmico real e o rendimento térmico reversível, conforme indica a eq.(19).
33

𝜂
𝜂 = (𝟏𝟗)
𝜂 ,

Aplicando-se a eq.(19) para o ciclo A, obtém-se:

0,3
𝜂 = = 0,6
0,5 (𝟐𝟎)

E aplicando-se a eq.(19) para o ciclo B, obtém-se:

0,3
𝜂 = = 0,42 (𝟐𝟏)
0,7

Conclui-se que a eficiência de segunda Lei do ciclo A é maior do que a


correspondente eficiência do ciclo B. Isso significa que há maior destruição de
exergia no ciclo B.
A eficiência de segunda Lei pode ser obtida para um dispositivo que consome
trabalho por meio da eq.(22).

𝑊
𝜂 = (𝟐𝟐)
𝑊

Já a eficiência de segunda lei para um dispositivo que produz trabalho pode ser
avaliada a partir da eq.(23).

𝑊
𝜂 = (𝟐𝟑)
𝑊

Para um refrigerador ou uma bomba de calor a eficiência de segunda Lei é dada


pela eq.(24).

𝐶𝑂𝑃
𝜂 = (𝟐𝟒)
𝐶𝑂𝑃
34

Há na literatura diferentes formas de calcular a eficiência exergética, contudo é


prudente avaliar a eficiência exergética com a abordagem apresentada pela eq.(25).

𝐵 𝐵 í
𝜂 = =1− (𝟐𝟓)
𝐵 𝐵

Como pode ser observada na eq.(25), a eficiência baseada na segunda Lei varia de
0 % até 100 %. O primeiro valor é para processos sem exergia destruída e o
segundo para processo com destruição de toda exergia.
35

6 MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE PLANTAS DE SEPARAÇÃO DE


AR POR DESTILAÇÃO CRIOGÊNICA

Nesta seção são apresentados modelos de plantas de separação de ar por


destilação criogênica. Para os modelos simulados no EES também é apresentado o
equacionamento já para os modelos simulados no Aspen Plus é apresentado
somente os modelos iconográficos
Primeira realiza-se a simulação do ciclo Linde-Hampson simples tanto no EES
quanto no Aspen Plus e em seguida são realizadas simulações análogas para o
ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar, novamente uma simulação no EES e
outra no Aspen Plus.
Também são realizadas simulações para um ciclo Brayton reverso que é utilizado
para a obtenção da refrigeração auxiliar. E este ciclo é acoplado ao ciclo Linde-
Hampson para uma simulação de ambos os ciclos simultaneamente.
Por fim, é apresentado um ciclo Linde-Hampson com dupla coluna. O modelo
iconográfico e apresentado e a simulação foi realizada no Aspen Plus.
36

6.1 Modelagem e simulação de um Ciclo Linde-Hampson simples


de liquefação de ar

Neste item, apresenta-se um modelo de uma planta criogênica de separação de ar,


como ilustra a Figura 25. Realizam-se simulações tanto no EES quanto no ASPEN
para determinar os rendimentos exergéticos da planta e se avaliar como a eficiência
varia com mudanças em alguns parâmetros. Esse estudo da variação da eficiência é
fundamental para a otimização da planta.
Dados para simulação do Ciclo: pressão e temperatura ambiente: 𝑃 = 0,1 𝑀𝑃𝑎, 𝑇 =
298 𝐾; temperatura de saída do compressor: 𝑇 = 298 𝐾; pressão de saída do
processo de compressão: 𝑃 = 20 𝑀𝑃𝑎; temperatura de descarga do vapor de ar no
ambiente: 𝑇 = 293 𝐾; eficiência mecânica do compressor: 𝜂 = 0,95; eficiência
isentrópica: 𝜂 = 0,85.
Hipóteses simplificadoras: perda de carga no trocador de calor é desprezível;
energias cinética e potencial são desprezíveis; compressor é especificado pelos
rendimentos isentrópico e mecânico; todos os valores de exergia e irreversibilidade
serão especificados por quilograma de ar liquefeito.

0
I

CP1 CP2

CP4 CP3

1 5

II IV
III
2 3

6
4
q" Ar líquido

Água de resfriamento Ar Vapor saturado de ar

Figura 25. Ciclo Linde-Hampson de liquefação do ar. (Autor)


37

Balanço de energia no conjunto formado pelas regiões II, III e IV:

" (𝟐𝟔)
ℎ + 𝑞 = 𝑧 ℎ + (1 − 𝑧 )ℎ

Na eq.(26), ℎ e a entalpia específica da do ar entrando na seção (1), 𝑞 " é o calor


recebido do ambiente pelo volume de controle, 𝑧 é a fração liquefeita do ar, ℎ é a
entalpia específica do líquido que deixa o volume de controle e ℎ é a entalpia
específica do ar que deixa o volume de controle.
Resolvendo a eq.(26) para 𝑧 , utilizando-se o EES, obtém-se a eq.(27).

(ℎ − ℎ − 𝑞 " )
𝑧 = = 0,07 (𝟐𝟕)
(ℎ − ℎ )

E como o inverso de 𝑧 é a massa de ar requerida para liquefazer um quilograma de


ar durante o ciclo, conclui-se que são necessários 14,85 kg de ar para produzir um
quilograma de mistura líquida.

𝑚̇ = 14,85 𝑘𝑔/𝑠 (𝟐𝟖)

Figura 26. Diagrama T-s para o ciclo Linde da figura 18. (Kotas, 1995).
38

Como a expansão na válvula é modelada como adiabática, pode-se afirmar que ℎ =


ℎ , assim, aplicando-se o balanço de energia na região IV, obtém-se a eq. (29).

ℎ = ℎ + (ℎ − ℎ )(1 − 𝑧 ) (𝟐𝟗)

Com a eq.(29), obtém-se ℎ com o auxílio do EES. O que também permite avaliar ℎ
imediatamente.

ℎ = ℎ = 64,2 𝑘𝐽/𝑘𝑔 (𝟑𝟎)

O trabalho do processo de compressão isentrópico é dado pela eq.(31):

𝑘𝑅𝑇 𝑃
𝑤 = −1 (𝟑𝟏)
𝑛−1 𝑃

Aplicando-se a eficiência isotérmica do compressor e a eficiência mecânica do motor


para determinar o trabalho requerido:

𝑊 8276
𝑊 = = 𝑘𝑊 = 9737 𝑘𝑊 (𝟑𝟐)
𝜂 0,85

𝑊 9737
𝑊 = = 𝑘𝐽 = 13910 𝑘𝑊 (𝟑𝟑)
𝜂 0,95

Análise exergética.
A análise exergética é facilitada pelo uso do Diagrama de Grassmann. A construção
do diagrama de Grassmann é feita calculando-se as exergias e irreversibilidades em
cada etapa do processo.
Região I. Processo de compressão
A irreversibilidade do processo de compressão pode ser calculada realizando um
balanço de exergia na região I:
39

𝐼 = 𝑊 − 𝐵 = 13910 − 6716 = 5676 𝑘𝑊 (𝟑𝟒)

Região II. Trocador de calor


O balanço de exergia para o trocador de calor é dado pela eq.(35).

𝑇 (𝟑𝟓)
𝐼 = (𝐵 − 𝐵 ) − (𝐵 − 𝐵 ) + 𝑚̇ 𝑞0 " ( − 1) = 1450 𝑘𝑊
𝑇

Região III. Válvula de estrangulamento.


O balanço de exergia para a válvula de expansão é dada pela eq.(36).

𝐼 = 𝐵 − 𝐵 = 4644 𝑘𝑊 (𝟑𝟔)

Região IV. Tanque de separação.


Como o líquido é separado do vapor por nas condições de saturação e com o uso da
gravidade, a irreversibilidade é nula, conforme indica a eq.(37).

𝐼 =0 (𝟑𝟕)
40

Figura 27. Ilustração dos Fluxos de exergia e irreversibilidades. (Autor).

Eficiência exergética da planta:

𝐵 732,4
𝜓= = = 5,3 % (𝟑𝟖)
𝑊 13910

Como se pode perceber pela eq.(38), a eficiência do processo é baixa, o que está
associado às irreversibilidades que ocorrem, sobretudo, nos processos de
compressão, troca de calor e expansão. Para melhorar a eficiência ou reduzir a
irreversibilidade na válvula de estrangulamento, a temperatura do gás que entra na
válvula deve se aproximar da temperatura do líquido saturado que deixa a válvula,
ou seja, é necessário resfriar o gás que entra na válvula, a fim de melhorar seu
desempenho, isso justifica o processo prévio de resfriamento.
41

6.2 Simulação de um ciclo Linde-Hampson no Aspen Plus V8.6

A Figura 28 apresenta um ciclo Linde-Hampson análogo ao da Figura 25, mas que


foi simulado no Aspen Plus.

Figura 28. Modelo de um ciclo Linde-Hampson no Aspen Plus. (Autor)


42

Tabela 3. Temperaturas e vazões mássicas das correntes da simulação do modelo da Figura 28. (Autor)

Corrente Temperatura [C] Pressão [Bar] Fluxo de massa [Ton/hora]


S0 25 1 14,83
S01 185 3,81 14,83
S1 25 3,81 14,83
S02 185 14,14 14,83
S2 25 14,14 14,83
S03 186 53,17 14,83
S3 25 53,17 14,83
S04 186 200 14,83
S4 25 200 14,83
S5 -101 200 14,83
S6 -192 1 14,83
S7 -192 1 1,21
S8 -192 1 13,62
S9 20 1 13,62

Tabela 4. Frações molares das correntes S1 e S6.

Fração molar
Corrente
Oxigênio Nitrogênio
S1 0,79 0,21
S6 0,48 0,52

Análise exergética
O rendimento exergético para este ciclo simulado no Aspen é de 3,82 %.

6.3 Modelagem e simulação de um Ciclo Linde com processo


auxiliar de refrigeração

As diferenças entre os ciclos apresentados na Figura 25 e Figura 29 são: o ciclo da


Figura 29 apresenta trocadores de calor e estados termodinâmicos adicionais, que
estão indicados pelos estados (7), (8) e (9) na Figura 29.
As simplificações assumidas para o ciclo simples também são mantidas para este
ciclo com um processo de refrigeração adicional. Contudo a troca de calor que
ocorria entre o ambiente e o trocador de calor do sistema simples, agora é dividida
43

em três partes, uma para cada um dos trocadores de calor do processo modificado.
Conforme as equações (39), (40) e (41).

𝑞 = 0,4 𝑘𝐽 (𝟑𝟗)

𝑞 = 0,7 𝑘𝐽 (𝟒𝟎)

𝑞 = 1,0 𝑘𝐽 (𝟒𝟏)

Ar de entrada
0
I

CP1 CP2

1
CP4 CP3
6 II

q0_II

7
III
q0_III 5
Resfriamento auxiliar

IV VI
9
V
8 2 3

4
Ar líquido

q0_IV

Água de resfriamento Ar Vapor saturado de ar Resfriamento auxiliar

Figura 29. Ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar. (Autor).

As temperaturas nas seções (8) e (9) devem ser determinadas por um processo de
otimização, com o intuito de obter o máximo rendimento da planta. Neste caso as
temperaturas são dadas pelas equações (42) e (43).

𝑇 = 200 𝐾 (𝟒𝟐)

𝑇 = 195 𝐾 (𝟒𝟑)
44

Com as temperaturas e pressões dos pontos (8) e (9) determinam-se as entalpias


correspondentes.

𝑘𝐽
ℎ = 233,4 (𝟒𝟒)
𝑘𝑔

𝑘𝐽
ℎ = 288,2 (𝟒𝟓)
𝑘𝑔

A fração de ar que é liquefeita pode ser calculada do mesmo modo que foi calculado
para o ciclo simples, eq.(27).

(ℎ − ℎ − 𝑞 )
𝑧 = = 0,237 (𝟒𝟔)
(ℎ − ℎ )

1
𝑚̇ = = 4,2 𝑘𝑔/𝑠 (𝟒𝟕)
𝑧

Comparando as equações (28) e (47) percebe-se que a massa de ar atmosférico


necessária para gerar um quilograma de ar liquefeito é menor no caso do processo
com resfriamento auxiliar. Como não houve alteração nas sub-regiões I e II, as
eficiências destas áreas serão as mesmas do processo sem resfriamento auxiliar.
Ainda assim há uma melhora na eficiência global do processo.
Calcula-se o trabalho isotérmico com a eq.(48):

𝑘𝑅𝑇 𝑃
𝑤 = − 1 = 2337 𝑘𝑊 (𝟒𝟖)
𝑛−1 𝑃

Com o auxílio do rendimento isentrópico do compressor, calcula-se o trabalho


indicado necessário para realizar a compressão, eq.(49).

𝑊 2337
𝑊 = = 𝑘𝐽 = 2749 𝑘𝑊 (𝟒𝟗)
𝜂 0,85
45

Então aplicando-se o rendimento mecânico do motor elétrico que aciona o


compressor, obtém-se o trabalho que deve ser fornecido pelo rede elétrica, dado
pela eq.(50).

𝑊 2749
𝑊 = = 𝑘𝑊 = 3927 𝑘𝑊 (𝟓𝟎)
𝜂 0,95

Balanço de energia para a região III


Processo isobárico de troca de calor:

𝑄 = 𝑚 (ℎ − ℎ ) − 𝑞 = −297,6 𝑘𝑊 (𝟓𝟏)

Supondo que o fluido de trabalho responsável pela refrigeração auxiliar evapora à


temperatura constante, 𝑇 = 195 𝐾.

𝑇 −𝑇
𝐵 = 𝑄 = 157,2 𝑘𝑊 (𝟓𝟐)
𝑇

As Irreversibilidades podem ser calculadas pela diferença entre a exergia que entra
e a que deixa o volume de controle.
Região I. Processo de compressão

𝐼 = 𝑊 − 𝐵 = 3927 − 1906 = 1590 𝑘𝑊 (𝟓𝟑)

Região II. Trocador de calor.


O balanço de exergia para o trocador de calor da região II é dado pela eq.(54).

𝑇 (𝟓𝟒)
𝐼 = (𝐵 + 𝐵 ) − (𝐵 + 𝐵 ) + 𝑚̇ 𝑞0 𝐼𝐼 ( − 1) = 65,62 𝑘𝑊
𝑇
46

Região III. Trocador de calor.


O balanço de exergia para o trocador de calor da região III é dada pela eq.(55).

𝑇 (𝟓𝟓)
𝐼 = 𝐵 − 𝐵 + 𝑚̇ 𝑞0 𝐼𝐼𝐼 ( − 1) = 53,55 𝑘𝑊
𝑇

Região IV. Trocador de calor.


O balanço de exergia para o trocador de calor da região IV é dada pela eq.(56).

𝑇 (𝟓𝟔)
𝐼 = 𝐵 − 𝐵 + 𝑚̇ 𝑞0 𝐼𝑉 ( − 1) = 382,4 𝑘𝑊
𝑇

Região V. Válvula de estrangulamento.


O balanço de exergia para a válvula de expansão é dada pela eq.(57).

𝐼 = 𝐵 − 𝐵 = 1088 𝑘𝑊 (𝟓𝟕)

Região VI. Tanque de separação.


Como o líquido é separado do vapor por nas condições de saturação e com o uso da
gravidade, a irreversibilidade é nula, conforme indica a eq.(58).

𝐼 =0 (𝟓𝟖)
47

Figura 30. Diagrama de Grassmann para o ciclo Linde da figura 29. (Autor).

Discussão.
Houve melhora no desempenho do sistema com o acréscimo da refrigeração
auxiliar, como pode ser observado comparando-se os diagramas de Grassmann das
Figuras 27 e 30.
Observa-se que a eficiência aumenta numa taxa de 0,106/0,053 = 2. Considerando a
planta auxiliar que é necessária para operar a refrigeração auxiliar e adotando uma
eficiência de 10 % para o processo auxiliar.

(𝑊 )
= 10 (𝟓𝟗)
𝑄

𝐵
𝜓" = = 10,6 % (𝟔𝟎)
𝑊 + (𝑊 )

Para verificar como o resfriamento auxiliar modifica o rendimento da planta, foi feito
um estudo paramétrico, onde a quantidade de calor retirado no resfriamento auxiliar
foi variada e para cada valor de calor retirado foi computado um rendimento. Como
pode ser observado na Figura 31, o rendimento cresce à medida que a intensidade
da refrigeração auxiliar e incrementada. Contudo, devido às restrições relativas ao
funcionamento da planta e dos trocadores de calor esse resfriamento não pode
ultrapassar um o limite para o qual a temperatura T8 fique abaixo ou igual a T5,
48

porque isso tornaria inútil parte da planta, o que passaria a influenciar negativamente
no rendimento.

16

14
Rendimento do ciclo [%]

12

10

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Calor retirado pelo resfriamento auxiliar [kW]

Figura 31. Eficiência exergética em função da refrigeração auxiliar. (Autor).

Além disso, o próprio coeficiente de Joule-Thomson deixa de ser positivo para


valores abaixo de 77,78 K, conforme pode observar na Tabela 5. Para uma queda
de pressão de (2) para (3), a temperatura aumenta. O que indica coeficiente de
Joule-Thomson negativo. Não se pode operar com coeficiente de Joule-Thomson
negativo porque a queda de pressão não seria utilizada no resfriamento do gás.
49

Figura 32. Diagrama T-s para o ar. (Autor usando EES).

Tabela 5. Variação da temperatura de saída da válvula e do título em função da temperatura de entrada. (Autor)

T2 [K] T3 [K] x [-]


100 79,52 0,583
94,44 79,38 0,2088
88,89 79,24 0,1594
83,33 79,1 0,1101
77,78 78,96 0,06062
72,22 78,82 0,01105
66,67 74,66 -
61,11 69,3 -
55,56 63,88 -
50,00 58,24 -
50

A Figura 33 resume a quantidade de exergia destruída em cada um dos


equipamentos do ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar. Como se pode
observar o processo de compressão e o processo de expansão na válvula são os
responsáveis pelas maiores parcelas de exergia destruída em todo o ciclo.

1800
1600
Exergia destruída [kW/kg]

1400
1200
1000
800
600
400
200
0
Trocador de Trocador de Trocador de Válvula de Processo de
calor Auxiliar calor II calor IV expansão Compressão
Componentes do Ciclo

Figura 33. Quantidade de exergia destruída em cada parte do ciclo. (Autor).

O modelo utilizado no EES para o ar não permite a determinação das composições


de cada uma das fases. No entanto, com o auxílio do ASPEN é possível determinar
a composição molar de cada uma das fases da mistura em questão.
51

Tabela 6. Frações Molares para cada fase da mistura. (Autor usando o ASPEN)

Fração Molar
Componente Mistura Liquido Vapor
N2 0,7812 0,584052 0,843359
O2 0,2096 0,401952 0,148953
AR 0,0092 0,013996 0,007688

Conforme pode ser observado na Tabela 6, a fração molar de oxigênio na fase


líquida é maior do que a fração de oxigênio na fase gasosa do ar de entrada, o que
evidencia que o processo de separação de oxigênio está ocorrendo no sentido
correto, isto é, no sentido de aumentar a concentração de oxigênio para a fase
líquida, contudo a concentração molar de oxigênio nesta fase ainda não é superior a
50 %.

6.4 Simulação de um ciclo Linde-Hampson com refrigeração


auxiliar no Aspen Plus V8.6

A Figura 34 apresenta um ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar, indicado


pelo trocador de calor entre os fluxos S5 e S6.

Figura 34. Ciclo Linde-Hampson com resfriamento auxiliar simulado no Aspen. (Autor)
52

A Tabela 7 traz os valores para temperaturas, pressões e fluxo de massa para cada
um dos trechos do ciclo. E a Tabela 8 fornece informações sobre a composição do
produto do ciclo, comparando-o com a composição da entrada.

Tabela 7. Temperaturas e vazões mássicas das correntes da simulação do modelo da Figura 34. (Autor)

Corrente Temperatura [C] Pressão [Bar] Fluxo de massa [Ton/hora]


S0 25 1 14,83
S01 185 3,81 14,83
S1 25 3,81 14,83
S02 185 14,14 14,83
S2 25 14,14 14,83
S03 186 53,17 14,83
S3 25 53,17 14,83
S04 186 200 14,83
S4 25 200 14,83
S5 -30 200 14,83
S6 -73 200 14,83
S7 -119 200 14,83
S8 -192 1 14,83
S9 -192 1 3,69
S10 -192 1 11,14
S11 -192 1 11,14
S12 -78 1 11,14
S13 -78 1 11,14
S14 20 1 11,14

Tabela 8. Frações molares das correntes S1 e S11.

Fração molar
Corrente
Oxigênio Nitrogênio
S1 0,79 0,21
S11 0,4 0,6

Análise exergética
O rendimento exergético para este ciclo é de 18,9 %.

6.5 Modelagem e simulação do processo de refrigeração auxiliar

O ciclo de refrigeração auxiliar adicionado ao processo Linde-Hampson é um ciclo


de refrigeração a gás com regenerador, conforme pode ser observado na Figura 34.
É necessária a utilização de um ciclo de refrigeração auxiliar a gás porque as
53

temperaturas são da ordem de -70 ºC. Isso inviabiliza o uso de um ciclo de


compressão de vapor.

Hipóteses assumidas na modelagem desse ciclo: os rendimentos isoentrópicos da


turbina e do compressor são, respectivamente, 0,95 e 0,85. T6 fixado em 225 K,
razão de compressão do ciclo igual a 7, vazão mássica de ar refrigerado igual a 4,2
kg/s.
O ciclo opera entre as temperaturas 200 K do meio que deve ser refrigerado e 298 K
temperatura do ambiente. Portanto, o coeficiente de performance (COP) para um
ciclo reversível operando entre essas temperaturas é dado pela eq.(61).

1
𝐶𝑂𝑃 = = 2,041 (𝟔𝟏)
298
200 − 1

O valor de 𝐶𝑂𝑃 representa um limite superior para o 𝐶𝑂𝑃 de qualquer ciclo real
implementado entre os limites 200 K e 298 K.

Figura 35. Ciclo de refrigeração a gás com regenerador. (Çengel, 2011).


54

Figura 36. Diagrama T-S para o ciclo de refrigeração com regenerador. (Çengel, 2011).
55

Exergia destruída
70
60
Exergia destruída [kJ/kg]

50
40
30
20
10
0
Compressor Trocador de Regenerador Turbina Trocador de
calor 1 calor 2
Componente do ciclo

Figura 37. Exergia destruída em cada um dos componentes do ciclo. (Autor).

𝑄 31,83
COP = = = 0,2311 (𝟔𝟐)
𝑊 137,7

COP
η= = 0,1132 (𝟔𝟑)
𝐶𝑂𝑃

Conforme pode ser observado na Figura 36, a maior parcela da exergia destruída e,
portanto, a maior irreversibilidade está concentrada no Trocador de calor 1 que
opera entre os pontos (2) e (3) do Ciclo. A partir deste resultado é prudente avaliar
qual seria o impacto no rendimento do ciclo de um melhor aproveitamento da
exergia desperdiçada no processo de (2) para (3). Uma maneira de fazer isso é
supor que há um ciclo de Carnot operando entre este trocador de calor e o meio
ambiente. O trabalho que seria produzido a partir do aproveitamento desta exergia é
igual a própria exergia destruída porque se trata de uma máquina de Carnot.

𝑄 31,83
𝐶𝑂𝑃 = = = 0,4278 (𝟔𝟒)
𝑊 − 𝑊𝑟𝑒𝑣 137,7 − 63,36

E avaliando-se novamente a eficiência de segunda lei, usando-se o 𝐶𝑂𝑃 ,


eq.(64), no lugar do COP, eq.(62). Tem-se:
56

𝐶𝑂𝑃
η= = 0,2096 (𝟔𝟓)
𝐶𝑂𝑃

Obteve-se, portanto uma melhora no rendimento de segunda lei com o acréscimo do


ciclo de Carnot. Passou-se de 11 % para aproximadamente 21 %. Praticamente
dobrou-se o rendimento do ciclo, o que indica que a melhoria é válida e deve ser
estudada mais a fundo.
A quantidade de exergia destruída é um bom indicador, contudo não indica
claramente se o processo em si pode e deve ser ajustado. Por outro lado, a
combinação do valor da eficiência destruída com a eficiência de segunda lei do
processo pode deixar claro a necessidade e a pertinência de um investimento na
melhoria do processo em questão. A eq.(66) fornece a eficiência de segunda lei para
o Trocador de calor 1 que opera entre os pontos (2) e (3).

𝑇
𝑄̇ (1 − 𝑇 )
𝜂 = =0 (𝟔𝟔)
𝑚̇[ℎ − ℎ − 𝑇 (𝑠 − 𝑠 )]

Contudo a temperatura do meio para o qual o calor 𝑄̇ é transferido é justamente a


temperatura ambiente 𝑇 . Com isso o termo da direita da eq.(66) anula-se, o que
indica que o rendimento do trocador de calor é o menor possível. Agora,
combinando a informação de que dentro do ciclo de refrigeração o Trocador de calor
1 é o que mais destrói exergia por unidade de massa e que sua eficiência é a mais
baixa possível, pode-se finalmente afirmar que este é o melhor ponto para
implementação de melhorias no ciclo.
A eficiência de segunda lei para o compressor do ciclo de refrigeração é dada pela
eq.(67).

(𝑏 − 𝑏 )
𝜂 = = 0,91 (𝟔𝟕)
(ℎ − ℎ )

A eficiência de Segunda Lei para o regenerador do ciclo de refrigeração é dada pela


eq.(68).

(𝑏 + 𝑏 )
𝜂 = = 0,91 (𝟔𝟖)
(ℎ + ℎ )
57

A eficiência de Segunda Lei para a turbina do ciclo de refrigeração é dada pela


eq.(69).

(ℎ − ℎ )
𝜂 = = 0,92 (𝟔𝟗)
(ℎ + ℎ )

A eficiência de Segunda Lei para o trocador de calor 2 do ciclo de refrigeração é


dada pela eq.(70).

𝑚̇ (𝑏 − 𝑏 )
𝜂 = = 0,84 (𝟕𝟎)
𝑚̇ (𝑏 − 𝑏 )

Figura 38. Eficiência de cada componente do ciclo de refrigeração. (Autor).

Conforme pode ser observado na, as eficiências dos componentes do ciclo de


refrigeração auxiliar estão situadas acima dos 80 %, exceto pelo trocador de calor 1,
que por rejeitar calor para o ambiente apresenta eficiência de Segunda Lei igual a
zero. Como as parcelas de exergia destruída que estão presentes no compressor,
trocador de calor 2, regenerador ou turbina são consideravelmente menores do que
a destruição de exergia que ocorre no trocador de calor 1 (Vide Figura 38), reforça-
se a ideia de que este é o ponto do ciclo que merece mais atenção porque pode
oferecer melhores oportunidades de melhorias no rendimento global do ciclo.
58

6.6 Simulação do ciclo Linde-Hampson com intercooling e ciclo


Brayton reverso de refrigeração auxiliar

A Figura 39 e a Figura 40 trazem o ciclo Brayton reverso acoplado ao ciclo Linde-


Hampson.
Ar de entrada
0
I

CP1 CP2

1
CP4
CP3
6 II
TC2 Regenerador
f
7
c
III TC1
d b

q0_III
Turb CP
9 8 e
5

IV VI
V
2 3

4
Ar líquido
q0_IV

Água de resfriamento Ar Vapor saturado de ar Resfriamento auxiliar Resfriamento auxiliar

Figura 39. Ciclo Linde-Hampson com um ciclo Brayton reverso acoplado. (Autor)
59

Figura 40. Ciclo Linde-Hampson com um ciclo Brayton reverso modelado no Aspen. (Autor)

A Tabela 9 e a Tabela 10, indicam, respectivamente, as propriedades para cada


seção do ciclo apresentado na Figura 40. E a Tabela 11 fornece a composição dos
produtos do ciclo, comparando-a com a composição da entrada.
60

Tabela 9. Valores de temperatura, pressão e vazão mássica para ciclo Linde-Hampson. (Autor)

Corrente Temperatura [C] Pressão [Bar] Fluxo de massa [Ton/hora]


S0 25 1 39,6
S01 185 3,81 39,6
S1 25 3,81 39,6
S02 185 14,14 39,6
S2 25 14,14 39,6
S03 186 53,17 39,6
S3 25 53,17 39,6
S04 186 200 39,6
S4 25 200 39,6
S5 -39 200 39,6
S6 -46 200 39,6
S7 -104 200 39,6
S8 -192 1 39,6
S9 -192 1 4,27
S10 -192 1 35,33
S11 -78 1 35,33
S12 20 1 35,33

Tabela 10. Valores de temperatura, pressão e vazão mássica para o ciclo Brayton reverso. (Autor)

Corrente Temperatura [C] Pressão [Bar] Fluxo de massa [Ton/hora]


Saux1 25 1,5 7
Saux2 101 3 7
Saux3 25 6 7
Saux4 102 6 7
Saux5 25 6 7
Saux6 -37,5 6 7
Saux7 -74,3 1,5 7
Saux8 -43,3 1,5 7

Tabela 11. Composição molar para o ciclo Linde-Hampson com ciclo Brayton reverso. (Autor)

Fração molar
Corrente
Oxigênio Nitrogênio
S1 0,21 0,79
S14 0,46 0,54
61

Análise exergética
O rendimento exergético deste ciclo, considerando a exergia química, é de 11,4 %.

6.7 Modelagem e Simulação de um ciclo com dupla coluna

As Figuras 41 e 42 apresentam um ciclo de separação de ar com duas colunas e


dois níveis de pressão. Este modelo foi construído e simulado no Aspen Plus.

Figura 41. Ciclo de separação de ar com dupla coluna. (Autor)


62

Figura 42. Ciclo de separação de ar com duas colunas. (Autor)

Tabela 12. Síntese dos resultados para planta de dupla coluna. (Autor)

Trabalhob líquido [kW] Exergia do N2-OUT [kW] Exergia do O2-OUT [kW] Eficiência exergética [%]
84230,37608 3204,496 3844,52342 25

7 EFEITO JOULE-THOMSON NO CICLO DE LIQUEFAÇÃO LINDE-


HAMPSON

Conforme discutido no item 2.7, o efeito Joule-Thompson pode aumentar ou diminuir


a temperatura do fluido em questão no processo de queda de pressão. Isso depende
da pressão e temperatura que o fluido apresentava antes da redução de pressão,
isto é, antes da válvula.
63

Figura 43. Delta T na válvula para diferentes condições de entrada. (Autor).

Conforme pode ser observado na Figura 43, as maiores quedas de temperatura


ocorrem na região que apresenta baixas temperaturas, por volta de 250 K, e
pressões moderadas, entre 20 e 70 MPa. Com isso tem-se um indicador de quais
condições devem ser ajustadas na entrada da válvula para otimizar a queda de
temperatura nesse processo.

8 AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO PROCESSO DE COMPRESSÃO


NO RENDIMENTO DO CICLO

8.1 Processo de compressão direta com modelo adiabático e


reversível
64

O processo de compressão modelado como adiabático e reversível é


obrigatoriamente isentrópico. Assim, o trabalho requerido para efetuar a compressão
do ar por unidade de massa de ar é dado pela eq.(71).

(𝟕𝟏)
𝑘𝑅𝑇 𝑃
𝑤 = [ − 1]
𝑛−1 𝑃

8.2 Processo de compressão direta com modelo isotérmico

A compressão isotérmica é o modelo que supõe o resfriamento do ar à condição


inicial da seção de entrada.

𝑤 = 𝑅𝑇𝑙𝑛(𝑝𝑠/𝑝𝑒) (𝟕𝟐)

8.3 Processo de compressão com múltiplos estágios de


resfriamento

Neste modelo, o ar é comprimido e resfriado seguidas vezes, cada um destes ciclos


é chamado de estágio. Este processo se repete em número igual ao número de
estágios do processo de compressão. E o trabalho consumido por este processo é a
soma dos trabalhos consumidos em cada estágio. Aumentando-se o número de
estágios, o trabalho requerido por este processo se aproxima daquele requerido no
caso da compressão isotérmica, e no limite com infinitos estágios tem-se uma
compressão isotérmica. A eq.(73) apresenta a expressão matemática para o cálculo
do trabalho por unidade de massa para uma compressão com intercooling com 𝑧
estágios.

𝑛𝑅𝑇 𝑃
𝑤 = [ − 1] (𝟕𝟑)
𝑛−1 𝑃
65

8.4 Comparação entre os diferentes modelos de compressão

A compressão direta ocorre em um único estágio, no qual a pressão é levada para o


valor final desejado num único processo de compressão. Contudo esse método
apresenta desvantagens em relação à compressão com intercooling, tais como
maior consumo de potência e temperaturas mais elevadas do fluido na saída. A
diferença entre a potência consumida em cada caso deve-se a variação do volume
específico, 𝑣, com o resfriamento. Como 𝑣 diminui com o resfriamento e aumenta
com o aquecimento, o processo com resfriamento consumirá menor potência
conforme pode ser deduzido com a eq.(74).

𝑤 = − 𝑣𝑑𝑝 (𝟕𝟒)

Foram realizadas simulações da compressão direta e da compressão com


intercooling, tomando como pressão inicial a pressão atmosférica do modelo
utilizado na simulação do Ciclo Linde e como pressão final a pressão do ciclo após a
fase de compressão. Para ambos os casos adotaram-se rendimentos isentrópicos
de 85 % para os compressores em questão. A compressão com intercooling foi
modelada em quatro estágios para atingir a pressão final, entre dois estágios
seguidos ocorre o resfriamento.

Trabalho específico requerido [kJ/kg]

Compressão com intercooling

Compressão direta

0 200 400 600 800 1000 1200


Trabalho específico [kJ/kg]

Figura 44. Comparação entre compressão direta e compressão com intercooling. (Autor).
66

7
Rendimento de Segunda Lei [%]

0
Isentrópica Multi estágios Isotérmica

Figura 45. Eficiência de segunda Lei para um ciclo Linde-Hampson para diferentes métodos de compressão. (Autor)
67

9 CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados obtidos nas simulações do ciclo Linde-Hampson simples e com


refrigeração auxiliar são coerentes com os valores encontrados na literatura (Kotas).
Conforme o esperado, a eficiência do ciclo Linde-Hampson aumenta com o
acréscimo de refrigeração auxiliar, contudo há limites para o incremento desse
resfriamento.
O rendimento exergético cresce com o aumento da refrigeração auxiliar, porém essa
refrigeração não pode levar a temperatura do ponto (8), T8, abaixo de 81 K,
temperatura do vapor saturado,Figura 29. Se isso ocorresse, o vapor saturado antes
usado para resfriar o fluxo de ar passaria a aquecê-lo, o que vai de encontro a
segunda lei da Termodinâmica.
Portanto, é interessante não só determinar o quanto o resfriamento afeta o
rendimento do ciclo, mas também o ponto ótimo de resfriamento, que produz
máximo rendimento respeitando-se as condições técnicas viáveis. Como a
destruição de exergia concentra-se nos processos de compressão e de expansão na
válvula, é prudente concentrar os esforços de otimização da planta por estes dois
processos. Pois são esses processos que apresentam as maiores oportunidades de
melhorias.
A implementação do sistema de refrigeração auxiliar mostrou que a exergia
consumida neste ciclo auxiliar corresponde a aproximadamente 10 % da exergia
consumida no conjunto ciclo Linde-Hampson e ciclo auxiliar de refrigeração.
Outro aspecto importante diz respeito à pureza dos produtos. O ciclo Linde com uma
única coluna de destilação resultou num produto com pureza de 80 % de oxigênio e
a planta com dupla coluna apresentou um resultado significativamente melhor: 95 %
de oxigênio.
Conforme pode ser observado na Figura 46, a eficiência exergética de uma planta
com dupla coluna supera o rendimento do ciclo Linde-Hampson com coluna única.
Também é importante destacar que os níveis de pressão deste ciclo são
consideravelmente menores do que aqueles encontrados nos ciclos de coluna única
estudados neste trabalho.
68

24

10,6
8,2 7,9
6,3 5,3

Com Com Brayton Com Simples no Simples no Dupla coluna


resfriamento reverso no resfriamento Aspen EES
auxiliar no Aspen auxiliar no
EES Aspen

Figura 46. Rendimentos para diferentes opções de ciclos Linde-Hampson. (Autor)


69

REFERÊNCIAS

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Disponível em: <https://www.engineeringtoolbox.com/air-composition-d_212.html>.
Acessado em 26/02/2018.
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Termodinâmica Clássica, Blucher, São Paulo, 2006.
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Cryogenic Air Separation Process with Flash Separator; Hindawi; Khartoum;
2013.
70

APÊNDICE
71

ANEXO

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