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Varnhagen Identidade Nacional e Concepcao Acerca Do Indio No XIX PDF
Varnhagen Identidade Nacional e Concepcao Acerca Do Indio No XIX PDF
Analise
interpretativa do autor e Sua “História Geral do Brasil”.
Resumo
Varnhagen foi uma grande figura e influente pensador do século XIX, sua concepção
acerca do índio e do negro atravessou eras e é impossível se estudar a historiografia
brasileira sem ter que beber desse autor. Estudando sua obra e autores que trabalharam
com essa figura histórica, procuramos apresentar seu pensamento e estudar suas
causas. Demonstrar sua importância para a historiografia nacional, analisando-o em seu
contexto, assim como problematizar sua relação de aversão ao gentio. Tendo em base
suas afirmativas em defesa de seu ideal colonizador, tirânico e português.
Abstract
Varnhagen was a great figure and influential thinker of the nineteenth century, their
conceptions of the Indian and Negro across ages and it is impossible to study the Brazilian
historiography without having todrink this author. Studying his work and research
about this historical figure, we present his thought and study its causes. Demonstrate its
importance to the national historiography, analyzing it in its context,
and discuss their relationship aversion Gentile. Having based their
assertions on the crap your ideal colonizer, tyrannical andPortuguese..
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Cursando III- Período em Licenciatura em História pela Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. E-mail:
santos-ailtonsilva@hotmail.com
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Cursando III- Período em Licenciatura em História pela Faculdade José Augusto Vieira – FJAV.
humanas espalham as intenções de quem as pratica” foi um marco para historiadores
brasileiros recém-surgidos.
Deixa claro sua preferência portuguesa, lembremos que ele realizou todos os seus
estudos em Lisboa, cursando em um colégio militar e ingressando nas tropas de D. Pedro
IV contra D. Miguel nas guerras liberais, inicia sua grande obra “Historia Geral do Brasil”
com uma narrativa enfadonha e rebuscada da partida das naus portuguesas e citando
figuras ilustres a seu ver termina por narrar essa partida e travessia transatlântica e
continua sua obra mostrando aspectos e apresentando formas geográficas de nosso país,
assim como fauna e flora.
Percebendo o Brasil como uma obra iluminada por Portugal, que só terá seu futuro
e desenvolvimento sob a tutela do branco católico liderada pela casa de Bragança,
quando falamos branco católico nos referimos à elite, ao o portador de títulos e meios
comerciais, para assim se chegar à civilização, a evolução e o progresso. E tendo os
olhos posto no continente a partir da caravela conquistadora logo percebemos o papel do
indígena para a sociedade vivida e vislumbrada pelo autor, desse continente que estava
legado as sombras da involução e da barbárie, que logo começa a estipular a não anterior
ocupação indígena no novo mundo.
-Segundo os princípios admitidos pelos publicistas, não é possível
reconhecer que os nossos antigos índios, pouquíssimos proporcionalmente
em numero, eram os legítimos donos das terras, que, em vez de habitar,
percorriam nómandes, disfructando dellas em quanto não espantavam a
caça, ou em quanto com sua primitiva agricultura não haviam, ao cabo de
uns quatro annos em que seus tejupares ou ranchos haviam apodrecido,
cançado a terra, cujas matas primitivas ou virgens haviam derrubado-
(Varnhagen, Discurso Preliminar, 1953, p.XVI; tomo II).
Tentando provar que a vida nômade dos indígenas atestava a não atribuição de
posse do território ocupado, uma não ocupação efetiva, tornando assim valida a natureza
de quem chegasse e tomasse posse poderia ter o usufruto. Nômades e também
estrangeiros, atestam isso apresentando uma ideia teórica de que o gentio seria provindo
de terras além da America, de algum lugar da Ásia Menor ou Egito.
Chegados aqui graças a sua marinha bem desenvolvida. Sim os índios não
brotaram do chão da nossa terra eles migraram de outro lugar de origem, mas não
pequemos como Varnhagen e nos dirijamos ao índio e sim a raça humana, seres
migrantes que segundo teorias teriam atravessado o Estreito de Bering saindo assim da
África e se dirigindo a outras paragens. Se eram esses humanos, aqui, afeitos índios,
exímios construtores navais capazes de atravessar águas tormentosas e salobras, sob
chuva e todas as demais intempéries, com suas canoas aqui utilizadas para navegarem
rios, não sabemos. Apenas podemos concordar que não é uma teoria de todo
descartável, mas irrelevante no contexto estudado devido a sua natureza improvável e
muito legado à fantasia.
E tendo conquistado a costa brasileira implantaram aqui a indústria da mandioca e
a cultura do milho.
O que faltou ao autor foi uma avaliação de costumes e representações, essas que
ele não enxergava como cultura e como histórica, mas como suscitamos ele foi um claro
filho de seu tempo, e na época em questão o foco era dominar e pilhar riquezas para a
metrópole, ainda mais em tempos tortuosos. Discorrendo sobre os costumes dos gentios,
não deixa de falar da mulher índia e da divisão dos trabalhos e tarefas.
Na narrativa acerca dos costumes o autor peca em não dar um enfoque a didática,
as formas de ensinamentos e aprendizagem dos gentios. Ao pouco que ele se refere é de
forma sucinta e racista. Mas entendemos que ao molde pedagógico da época, tudo o que
se construía, no processo de ensino-aprendizagem, na tribo nada mais era que a
propagação de conceitos e características bárbaras e tribais.
As “gentes vagabundas” guerreavam constantemente entre si, caminhando
sozinhos para a própria destruição. E seguindo sua narrativa e interpretação em relação
aos conflitos entre as tribos o autor acaba por reduzir toda a miríade de tribos e etnias
indígenas, com dialetos e costumes diversos e diferentes a uma única raça, o Tupi.
-Para Varnhagen, os tupis eram a grande nação que existia no Brasil antes
da chegada dos portugueses: O interesse demonstrado por Varnhagen em
relação à língua indígena deve ser entendido como um empenho em saber
como era o Brasil antes da chegada da civilização-. (RODRIGUES, Kléber,
2011, p.6).
A providência divina chegou por meio dos jesuítas, para salvar a novo continente
de falsos deuses e dos costumes bárbaros, tornando possível a civilização. Mas o autor
encara a catequese ministrada pelos jesuítas, mesmo que necessária, uma
pseudofilantropia, pois os mesmos eram contra a escravidão dos gentios, o que era uma
necessidade para o colonizador, mas utilizavam de seu trabalho, escravo, para
construção de templos e localidades que desejassem, assim como cultivo de terras.
“Assim taes rixas perpetuariam neste abençoado solo a anarchia selvagem, ou viriam a
deixal-o sem população, se a Providencia Divina não tivesse accudido a dispor que o
christianismo viesse ter mão a tão triste e degradante estado!” (Varnhagen, 1953, p.107;
tomo I)
Mesmo defendendo o discurso da não escravidão indígena se beneficiavam de seu
trabalho, e se constituíam assim como rivais do mercado colonial. Pois com a não
utilização da mão de obra indígena foi-se necessário à importação de escravos africanos,
que acabaram por se mostrar mais fortes, resistentes e trabalhadores que os indígenas,
que segundo o autor eram vagabundos e preguiçosos, só que também mais caros, o que
provocava o aumento dos preços dos produtos, o que impossibilitava a competição
comercial com os jesuítas e seus preços.
-Se eram porêm tam favorecidos nos dotes do corpo e nos sentidos, outro
tanto não succedia com os do espirito. Eram falsos e infiéis; inconstantes e
ingratos, e bastante desconfiados. Além de que desconheciam a virtude da
compaixão. Não tinham ideas algumas de sã moral; isto é, da que nasce
dos sentimentos do pudor e da sensibilidade, da moral que respeita o
decoro e a boa fé; e eram dotados de uma quasi estúpida brutalidade, e
difíceis de abalar-se de seu gênio fleugmatico-. (Varnhagen, 1953, p.130-
131; tomo I).
“E sem moral, sem admissão das virtudes, com a certeza do castigo dos vícios
oppostos a ellas, sem a sujeição das paixões do homem solitário em favor do gênero
humano, não há civilisação possível” (p.XIX). Para Varnhagen o que os indígenas viviam
não era nem a sombra de uma sociedade organizada, ele não via formas sociais,
representações sociais ou culturais naquele amontoado de gente nua e sem Deus.
Então era preciso opor a eles a civilização e Deus, “Não hesitamos em asseverar
que sem o emprego da força não era, nem é possível reduzir os selvagens; assim como
não poderia haver sociedade sem castigos para os delinquentes” (p.XIX), mesmo que
pela força bruta, imposta de forma déspota e cruel, naturalmente justificada pelo ‘bem
maior’ dado a eles. “A escravidão e a subordinação são o primeiro passo para a
civilisação das nações: Disse, com admirável philosofia e coragem, o virtuoso e sábio
bispo brazileiro Azevedo Coutinho” (p.XXI), era preciso escravizar, não só pela
necessidade de mão de obra para a construção da colônia, que virou império, mas para a
absolvição, por partes dos gentios, de valores sociáveis.
Em seu texto fica claro o quanto o autor quer demonstrar a benéfica intervenção
portuguesa no mundo indígena, até no que se refere à escravidão, pois todos os meios
empregados pelo colonizador foram formas de tirar o indígena de seu estado inferior, a
barbárie, de destruição mútua e vida de pecados. “Sim: Acudamos, em quanto é tempo, a
esses infelizes, que se estão exterminando e devorando mutuamente, e que todos são
nossos parentes por Adão: procuremos-lhes o bem, apezar delles, que não sabem o que
fazem” (p.XXI), o índio é apresentado como uma criança ingênua e indefesa que precisa
ser tutelada, guiada pelo caminho dos valores e virtudes, e sua vida sem regras,
desvirtuada e sem cristo representa a perda de valores e uma nodoa que deve ser
domesticada.
“Quereis saber o que é a nação brazileira? Olhae para o próprio brazão d’armas
que a symbolisa. Nelle vereis a esfera armillar, significando a origem da dynastia de
Christo, que representa por si só a historia da civilização do paiz” (p.XXV), para
Varnhagen o Brasil era português e o indígena não contribuía para a identidade nacional,
não antes da guerra contra a Holanda que foi o marco da identidade nacional, e mesmo
assim para o autor ela serviu para comprovar a superioridade dos portugueses não só
contra os holandeses, mas sobre todas as raças que habitavam esse lado do atlântico. A
identidade brasileira estava nos brasões, em cristo, mas e a selva, Tupã e a cultura e
todas as suas manifestações existentes em Pindorama? Eram conceitos a serem
descartados quando da chegada da civilização.
-Claro está que, se o elemento europeu é o que essencialmente constitue
a nacionalidade actual, e com mais razão (pela vinda de novos colonos da
Europa) constituirá a futura, é com esse elemento christão e civilizador que
principalmente devem andar abraçadas as antigas glorias da pátria, e, por
conseguinte a historia nacional- (Varnhagen, Discurso Preliminar, 1953,
p.XXV; tomo II).
Vemos novamente que para o autor, o indígena não tem espaço na constituição de
uma história nacional, nem na vigente nem na futura. “Convem que todos estejamos
persuadidos que o nosso passado, o actual império mesmo interessará tanto mais ás
outras nações civilizadas e instruídas quanto mais longe podermos fazer remontar, não as
fontes da nossa história, mas os mythos de seus tempos heroicos, - mas as inspirações
de sua poesia” (p.XXVI), remontando esse passado heroico, cortam-se todo e qualquer
vinculo com uma possível história que esteja ligada ao ‘descobrimento’ da colônia. Mitos
heroicos iria fortalecer a nacionalidade, que, diga-se de passagem, não teria nada de
nacional.
-Os índios não eram donos do Brazil, nem lhes é applicavel como
selvagens o nome de Brasileiros; não podiam civilizar-se sem a presença
da força, da qual não se abusou tanto como se assoalha; e finalmente de
modo algum podem elles ser tomados para nossos guias no presente e no
passado em sentimentos de patriotismo ou em representação da
nacionalidade- (Varnhagen, Discurso Preliminar, 1953, p.XXVIII; tomo II).
Bárbaros, sem pátria e sem uma cultura a ser valorizada. ‘Os índios não eram
donos do Brazil’ e nem lhes cabia o reconhecimento de habitantes transformadores do
ambiente. Eram peças, esperadas para serem usadas no xadrez do imperialismo
despótico do colonizador. Meros animais sem racionalidade, sentimentos ou pensamento
relevante, pois lhe era impossível à construção de uma identidade nacional a seus
moldes. Varnhagen lhes tira a terra, os modos, a cultura, a liberdade e ate os
sentimentos. Tudo em nome de uma forma bruta de dominação e usurpação em prol do
poder, visão geral da época, difundida com maestria por um de nossos maiores
historiadores, o Heródoto brasileiro.
Não era essa, a definição ansiada por Varnhagen para seu povo luso-brasileiro.
Tendo nascido no Brasil, mas ido morar e estudar em Portugal aos seis anos de idade
retorna ao seu amado país em 1940 e em 1941 entra para o IHGB (Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro), órgão criado pelo imperador e intelectuais da época com a missão
de definir o território, classificando cidades, rios e etc. E salvaguardar a memória nacional,
difundindo os mitos criadores e enaltecendo heróis da pátria.
Em Capistrano vemos o gentio como agente ativo e não puramente passivo que
precisa ser tutelado. De inicio Capistrano bebe das considerações de Varnhagen, não
atribuindo ao índio a característica de ‘povo brasileiro’: “O povo brasileiro, começando
pelo Oriente a ocupação do território, concentrou-se principalmente na zona da mata, que
lhe fornecia pau-brasil, madeira de construção, terrenos próprios para cana, para fumo e,
afinal, para café”. (ABREU, Capistrano, 1907, p.50-51).
Mas ao decorrer de sua obra, e de sua investigação, sua concepção é alterada e
ele passa a valorizar os povos indígenas como agentes do meio e transformador.
Capistrano viveu em uma época de grandes transformações e turbulentos conflitos no
meio intelectual, que tinham como fim a concepção da criação de uma identidade
nacional. Filho do ceará, estudante puramente brasileiro, ele reconhece o indígena e o
negro como agentes integrantes do ‘povo brasileiro’, sua obra é impar e temos em sua
critica e sarcasmo um melhor vislumbre do oficio do historiador. E em seu texto,
Capítulos da Historia colonial, temos uma melhor visão dos elementos marginalizados por
estudiosos da época, e o indígena é apresentado em sua forma ativa e transformadora.
Ao confrontar o pensamento desses dois historiadores logo notamos diversas
dicotomias. Capistrano embriagou-se de Varnhagen em seus estudos, não tendo esse
pensamento libertário e igualitário, na sua concepção de povo do Brasil, em inicio. Seu
marco característico como pesquisador. Mas a observação do contexto de vida dessas
duas figuras históricas, seus momentos, meios de influência e por ultimo suas
concepções, podemos compreender o porquê de tão larga dicotomia de pensamento.
Capistrano se constituiu a antítese de seu igual.
5 - considerações finais
ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500 – 1800) [primeira edição:
1907], Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. Tomo 1. 5ª ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1953.
WEB
Analise do Discurso Fundante de Varhagem. Disponível em:
<http://www.webartigos.com/artigos/analise-do-discurso-fundante-de-varnhagen-no-brasil-
imperio/10718/> Acessado em: 29 agosto. 2012.