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Breve

panorama das
literaturas
africanas em
língua
portuguesa

Profa. Julia Pinheiro Gomes


Recapitulando:
os PALOP
Como é que uma
Três perguntas literatura africana é Quais são suas
iniciais sobre as escrita num idioma origens históricas?
literaturas não-africano?
africanas em
língua
portuguesa Como é esta
segundo literatura com
Hamilton (2000) respeito a conteúdo,
temas e estilo?
Uma questão
linguística
(HAMILTON, 2000, p. 12-13)

• As populações de Cabo Verde, Guiné


Bissau e São Tomé e Príncipe têm
majoritariamente o crioulo como língua
materna.
• Tais crioulos guardam “forte presença
gramatical, fonética e particularmente
lexical” do português, porém “também
se verifica a influência [...] de uma ou
várias línguas indígenas”.
• Em Angola e Moçambique, “várias
línguas indígenas da família banto
coexistem com português já adaptado
ao meio africano”.
• Hoje, “a maioria dos angolanos e
moçambicanos [...] que fazem parte das
camadas médias sabe português”.
A possível origem das literaturas
africanas em língua portuguesa

“Na década de 1960, na Biblioteca Pública de


Nova Iorque, Moser descobriu um exemplar de
Espontaneidades da minha alma, poemas
dedicados ‘às senhoras africanas’. José da Silva
Maia Ferreira (1827-81), o autor dos poemas,
era natural de Benguela, cidade ao sul de
Angola, e o volume foi publicado em Luanda,
em 1849. [...] Maia Ferreira era português, ou
melhor, um luso-angolano que se identificava
com a cultura crioulizada da sua cidade natal.”
(HAMILTON, 2000, p. 13-14)
O debate sobre as origens

“Alguns estudiosos mantêm que Maia Ferreira, assim como outros escritores de
origem portuguesa radicados em Angola e nas outras colônias, são os precursores
dos que deveriam ser considerados os iniciadores de uma autêntica literatura
africana de língua portuguesa. O debate continua ainda hoje sobre o que constitui
uma obra literária autenticamente angolana, cabo-verdiana, guineense,
moçambicana ou são-tomense – o que, inevitável, relaciona-se em muito à questão
de quem merece ser designado escritor angolano, cabo-verdiano, guineense,
moçambicano ou são-tomense.” (HAMILTON, 2000, p. 14)
Assimilação, conscientização e nativismo
nas colônias

“Paradoxalmente, a assimilação, como veículo da missão civilizadora proclamada


pelos europeus, deu um impulso à conscientização social, cultural e política de
muitos súditos negros e mestiços do regime colonial. A partir mais ou menos da
segunda metade do século XIX, grupos de assimilados começavam a exercer
influência palpável na vida social dos centros urbanos de Angola e Moçambique.
Os assimilados [...] iam ganhando uma visão de mundo que lhes permitia adquirir
uma perspectiva cada vez mais reflexiva a respeito das justaposição entre o
colonizador e o colonizado. [...] Dali surgiriam também os escritores que dariam
início a uma expressão literária também aculturada, porém de nítido nativismo –
definido como a preservação ou revivificação dos interesses sociais e culturais
dos povos indígenas ou crioulizados.” (HAMILTON, 2000, p. 14-15)
Cordeiro da Matta (1857-94)

“Além de ser filólogo e etnógrafo, Cordeiro da


Matta era poeta e novelista; e sem negar os
valores do mundo ocidental, também
procurava valorizar certos usos e costumes
africanos, particularmente os das suas próprias
origens do grupo étnico quimbundo. [...] A
despeito de restarem poucos exemplos da
criação literária de Cordeiro da Matta, ele é
considerado um dos pais espirituais da
literatura angolana moderna.” (HAMILTON,
2000, p. 15)
O princípio da literatura moçambicana

“Nas cidades
moçambicanas de Lourenço
Marques (hoje Maputo) e
Beira, os princípios do
século XX viram a
emergência de uma elite
negra e mestiça que daria
início a um jornalismo e
uma literatura que
defendiam os direitos
básicos dos habitantes
africanos.” (HAMILTON,
Jornal O Africano (1908-19), Livro Sonetos (1949), de Rui de 2000, p. 16)
fundado pelos irmãos Albasini Noronha
As literaturas africanas a
partir dos anos 1930

“[...] os intelectuais negros e mestiços [do fim do século XIX e início do


século XX], através de seus jornais, associações fraternais e atividades
culturais, preparam o terreno para os movimentos que arrancariam entre os
anos de 1930 e 1940 em Cabo Verde, Angola e Moçambique.” (HAMILTON,
2000, p. 16)
Cabo Verde e a
Claridade
“Cronologicamente, o primeiro movimento
cultural-literário nativista da África lusófona
surgiu em Cabo Verde. Os padrões
históricos da colonização do arquipélago,
com a instalação relativamente cedo de
instituições educacionais e sociais [...]
favoreceram a arrancada dum movimento
cultural-literário em 1936, ano em que um
grupo de intelectuais [...], na cidade de
Mindelo, ilha de São Vicente, lançou a
revista Claridade. [...] os claridosos [...]
abriram a porta para uma literatura que
reivindicaria uma sociedade cabo-verdiana
biológica e culturalmente híbrida, também
ligada ao continente africano.” (HAMILTON,
2000, p. 18)
Os Novos Intelectuais de
Angola
“[...] grupo recém-estabelecido [1948], que,
em 1951, lançou Mensagem, gazeta
literária que publicava poemas, contos e
ensaios, alguns explicitamente
desafiadores. Por causa da mensagem
contestatória da revista, depois de um ano
do seu lançamento, as autoridades
proibiram sua publicação.” (HAMILTON,
2000, p. 19)
Agostinho Neto (1922-1979)

“Um dos muito exemplos da inter-relação


da resistência contra o colonialismo com a
expressão literária é o de Agostinho Neto.
Este poeta de etnia quimbundo, formado
em medicina em Portugal, viria a ser o
primeiro presidente de Angola.”
(HAMILTON, 2000, p. 20)
Msaho e Paralelo 20
em Moçambique
“Em Moçambique, durante as década de cinquenta e
sessenta, a atividade cultural nativista também
ganhava ímpeto. [...] escritores e intelectuais
consciencializados lançaram revistas e folhas literárias,
sendo as mais importantes Msaho [...] e a Paralelo 20
[...]. Se bem que alguns dos poemas publicados [...]
fossem nativistas e contestatórios, em Moçambique
havia um maior grau de dissidência entre escritores e
intelectuais sobre a questão da arte pela arte ou da
literatura a serviço de uma causa social ou política
[...].” (HAMILTON, 2000, p. 20)
Noémia de Sousa
(1926-2002)
“[…] considerada por alguns como uma das
vozes mais poderosas da moçambicanidade
e solidariedade pan-africanista, conceitos em
evolução nos anos cinquenta. Noémia de
Sousa tem a distinção de ser a primeira
mulher africana, escrevendo em qualquer
língua, a ganhar fama internacional como
poeta.” (HAMILTON, 2000, p. 21)

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