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AULAS DE LITERATURAS

AFRICANAS EM LÍNGUA
PORTUGUESA
• ASPECTOS GERAIS
Imprensa
• Introdução da tipografia nas colónias: Cabo-verde (1842), Angola (1845),
Moçambique (1854), São Tomé e Príncipe (1857) e Guiné Bissau (1879).
• Primeiros órgão de comunicação: Boletim Oficial (legislação, noticiário oficial e
religiosos e textos literários).
• Com excepção de Angola, a imprensa foi menos importante do que se poderia
supor, devido à repressão.
• Moçambique: A historia da imprensa não oficial foi geralmente de oposição aos
governos, da colónia e de Lisboa.
• O Progresso teve apenas um número;
• Quatro jornais fundados por Carvalho e Silva foram encerrados pela censura.
• Os mais célebres jornais, pelo papel de consciencialização da
moçambicanidade: O Africano (1909-1918), O Brado Africano (1918) e o
Itinerário (1919).
• Guiné Bissau: o primeiro jornal (privado), Eco da Guiné, apareceu
somente em 1920.
• Em Cabo-Verde e São Tomé: a imprensa contribuiu decisivamente para o
incentivo à criação literária, no quadro da limitação insular.
• Angola:
• Depois da criação do Boletim Oficial, surge:
• A Aurora (1855) recreativo e literário;
• A Civilização da África Portuguesa (1866), dirigido por Urbano de Castro e
Alfredo Mântua, pugnava pela efectiva abolição da Escravatura.
• De 1860-1890 surge cerca de meia centena de títulos artesanais e episódicos,
mas importante no fomento da actividade intelectual e literária. Destacam-se:
• - Jorna de Luanda (1878), de Alfredo Troni: marca a transição jornalismo de
cariz colonial para o proto-nacionalista;
• - O Futuro de Angola
• - O Pharol do Povo
• Contribuíram para a elevação cultural e promoção das línguas e culturas locais.
• O primeiro jornal de africano chamava-se Eho de Angola (1881) e inaugurou
duas décadas de intensa de actividade jornalística, que ficou conhecida como
período da imprensa livre, terminando com a fundação de A Província de
Angola (1923).
• No inicio do seculo XX, algumas publicações literárias marcaram o
desejo de emancipação dos filhos do país. Destaque:
• - Voz d’Angola Clamando no Deserto: Coletânea de artigos não
assinados contra um artigo colonialista.
• - Luz e Crença, revista cujo segundo numero saiu um ano depois.

• Através dos jornais, os letrados fazem aprendizagem da escrita,


vendo os seus vendo os seus escritos em letras de forma, modelando a
própria concepção de intervenção literária, que ficaria marcada por
essa prática de contretude e explicitude.
Ensino
• A educação nas colónias:
• Níveis baixos à entrada dos anos 60 do sec. XX. Angola 97%,
Moçambique 98%, Guiné Bissau cerca de 100%, Cabo Verde 78%.
• Razões do analfabetismo nas colónias: política portuguesa de criação
de uma elite restrita restrita de assimilados para o sector terciário.
• Em 1834 com o liberalismo, os padres Jesuítas e dominicanos, aos
quais, durante muito tempo ficou a responsabilidade do ensino, são
expulsos de Portugal, e o ensino passou para o domínio do estado
tornando-se laico. Em 1869 voltou a ser apoiado nas missões, mas o
progresso foi lento.
• Angola:
• Nos grandes centros populacionais havia escolas estatais para os
brancos e nas zonas rurais as missões encarregavam-se do ensino para
os negros.
• O Ensino durante muitos séculos manteve-se exclusivamente a nível
primário.
• Três anos depois da implementação da república portuguesa () deu-se
a separação da igreja e do Estado, substituindo-se as missões
religiosas. Seis anos depois tornaram-se auxiliadoras financiadas pelo
Estado, altura em que se fundou o Liceu Salvador Correia em Luanda.
• Em 1926, as missões foram abolidas devido ao fracasso no terreno.
• Língua utilizadas nas escolas: Português. As línguas nativa
serviam de auxílio no ensino da religião.
• A partir de 1945 acelera-se o processo de assimilação: Há um
esforço para a generalização do ensino primário e
desenvolvimento do ensino secundário.
• Com a eclosão da lita de libertação (devido à pressão dos
movimentos), foram implementos estudos gerais
universitários em Luanda, Nova Lisboa, Sá da
Bandeira(Angola) e Lourenço Marques (Moçambique)
• Os movimentos de libertação criaram ensino de
alfabetização, mas sem grande alcance, pois abrangia apenas
escassos milhares de militantes na clandestinidade.
• A literatura colonial
• A população das colónias portuguesas quase não lia jornais muito menos
literatura.
• A crítica literária era inexistente enquanto actividade regular e reguladora
das indicações de aquisição/opção de recepção de textos literários, da
hermenêutica literária conquanto episódica e avulsa.
• A circulação dos textos literários nas instituições literárias angolanas,
moçambicanas, santomense, cabo-veridiana, e guineense a partir da
segunda metade da década de 40, segundo padrões europeus, era diminuta,
lacunar, descontínua e improcedentes.
• Vigorava a literatura colonial nas quatro primeiras décadas do seculo XX,
incentivada com prémio e reconhecimento das entidades oficiais.
• Os textos de cor local baseavam-se em temas da colonização em que o
branco e negros estereotipados eram predominantes.
• Alguns desses textos preludiavam a fuga ao exotismo e à
superficialidade da análise da realidade como Nga Muturi, de Alfredo
Troni (Angola) e Poemas do complexo da cor, de Costa Alegre (São
Tomé).
• Para o colono, ou o funcionário e assalariado de passagem, a literatura
ou negra não podia interessar, porque se apresentava como um corpo
estranho à sua sensibilidade e compreensão.
• A literatura colonial servia para devolver ao leitor a imagem do seu
papel de desbravador de terra e civilizador de gentes, reiterando-lhe a
consciência de condição e estatuto superior.
• A Negritude
• O Termo negritude aparece no longo poema “cahier d’um retour au pays
natal”, de Aimé Césaire, poeta da Martinica, publicado na revista
Volontés, 10 (1939).
• Passou a nomear o movimento que se desenrolou por toda a década de
30 em Paris. Césaire, Senghor e Damas protagonizaram todas as
nuances do movimento.
• Damas – Pigments (1937)
• Césaire – “Cahier d’um retour au pays natal” (1939)
• Senghor: “Ce que l’mme noir aporte” (1939), Chants de l’mbre (1945),
Hostie noir (1945), Anthologie de la poesie de la nouvele poésie nègre
et malgaxe (1948), Étiopiques (1956).
UNIDADE I – LITERATURA
CABO-VERDIANA
Tema 1- Periodização
• 1º Período: INICIAÇÃO (das origens, introdução do prelo em 1842 até 1925)
• Influências da fase do baixo romantismo e do parnasianismo, antes da fase
moderna. Há iniciativa de vocação regionalista ou patriótica.
• - Publicação, em Lisboa, do Romance O Escravo (1856), de José Evaristo
D’Almeida.
• O Liceu Seminário de São Nicolau (1866-1928) muito contribuiu para o
surgimento de uma classe de letrados equiparável ou superior a dos angolanos.
• Criação, em 1877, da imprensa periódica não oficial.
• Publicação dos livros de poemas de Eugénio Tavares Amor que Salva e Mal de
Amor: coroa de espinhos (1916).
• 1923-24, Lançamento do jornal Manducu por Pedro Cardoso.
• 2º Período: HESPERITANO (1926-1935)
• Vigorou o cabo-verdianismo, caracterizado como regionalismo telúrico.
• Nalguns textos se expande para temas e elementos recentes da literatura cabo-
verdiana (fome, vento, terra seca…).
• Fundamento que leva à designação deste período como Hesperitano está num
apelo que determinadas obras publicadas neste período fazem a um mito da
antiguidade:
• 1926- Jardim das Hespérides, Pedro Cardoso; 1927 – Revista
Hespérides(orientada por mulheres); 1929 - Hesperitanas e Jardim das
Hespérides, ambas de José Lopes; 1930 – Hespérides, Pedro Cardoso; 1932 -
Mornas, Antigas Criolas, Eugênio Tavares; 1935 – Arquipélago, Jorge
Barbosa.
• Anos 30, poemas dispersos de Pedro Corsino Azevedo lançam a ponte para a
Claridade, que lhe publica alguns texto
• 3º Período: CABO-VERDIANIDADE (1936-1957)
• Publicação da revista Claridade (1936). Figuras de destaque: Jorge Barbosa,
Baltazar Lopes, Manuel Lopes,
• Publicação da revista Certeza (1944). Figuras de destaque: António Nunes,
Teixeira de Sousa, Arnaldo França, Nuno Miranda, Orlanda Amarílis.
• Em 1941 Ambiente, de Jorge Barbosa; 1945 – Poemas de Longe, António
Nunes; 1949 – Poemas de quem ficou, de Manuel Lopes; 1947 – Chiquinho,
de Baltazar Lopes; 1956 - Caderno de um Ilhéu, de Jorge Babosa; 1956 –
Chuva Braba, de Manuel Lopes, todos sem interferência da Negritude, mas
coincidindo no tempo, publicações dos neorrealistas e claridosos.
• Publicações nos 40 e 50 que tornaram os cabo verdianos em autores de
prestígio, com acolhimento pelos grupos da Seara nova e presença.
• O período se encerra com a publicação de duas novelas de António
Aurélio Gonçalves, Prodiga (1956) e O enterro de Nha Candinha de
Sena (1957).
• Outras obras do autor: Noite de Vento(1970); Virgem Louca (1971);
Recaída (1993).
• 4º Período: (1958-1965) CABOVERDIANITUDE, por não desdenhar
os ideais da Negritude.
• Tem por marco a publicação da revista Suplemento Cultural, com uma
única tiragem, devido à censura, que marcou a época nas Colónias.
• Fizeram parte da revista Suplemento Cultural do Boletim Cabo Verde:
Gabriel Mariano, Ovídeo Martins, Aguinaldo Fonseca, Terêncio Anahory
e Yolanda Morazzo.
• Traços deste período:
• Reforço da consciência da componente Africana na cultura insular;
• Reforço do compromisso político anti-colonial.
• Ligação entre os ideais neorrealista do período anterior e o
engajamento frontais de um discurso independentista.
• No Suplemento Sèló, do Nocícia de Cabo Verde, lançado por Arménio
Vieira, Osvaldo Osório, Mario Fonseca, Jorge Miranda Alfama,
adopta-se uma via literária que reforça o discurso críptico da
Caboverianidade, da Caboverdianitude e da crioulidade.
• 5º Período: (1966-1982) Universalismo (decurso da luta de libertação
pelo PAIGC desde 1963).
• Inicia-se com João Vário, que cria uma frente literária baseada no
intimismo, no abstracionismo e no cosmopolitismo.
• Publicação de Exemplo Geral, 1966, em Coimbra; Publicação de
Exemplo Relativo, 1968; Exemplo Dúbio, 1975.
• Outras obras, várias, surgiram neste período:
• Primeira recolha de Arménio Vieira, poeta independente, na herança
de uma estirpe culturalista, universal.
• Surgiemento da primeira escritora, Orlanda Amarílis, estreando-se um
um livro de contos, cuja acção decorre, em geral, no arquipélago.
• O Movimento Claridade; Jorge Barbosa e Manuel Lopes
• A revista Claridade
• (1ª fase: de Março de 1936 a Março de 1937 – Três números)
• - Marco da Cabo-verdianidade
• Colaboradores: Baltazar Lopes, Jorge Barbosa e Manuel Lopes.
Outros: Pedro Corsino de Azevedo e José Osório de Oliveira.
• Principais premissas:
• Afastar-se do Cânone Português.
• Exprimir a voz colectiva do povo cabo-verdiano, naquilo que
possuía de mais autêntico.
• Aspectos relevantes nos dois primeiros números:
• - Testemunho vivo do respeito aos valores cabo-verdianos,
destacando-se a Língua Crioula. Baltazar Lopes dedica um
longo estudo sobre a formação do crioulo no 2º número
“Notas para o estudo das línguas das Ilhas”,
• A revista revista era essencialmente literária: Poemas, contos
“O galo que cantou na Baía”, de Manuel Lopes, um excerto
do romance Chiquinho, de Baltazar Lopes, Mas continha
também artigos apontando para as características sociais de
Cabo-Verde (“Tomada de Vistas”, de Manuel Lopes e
“Apontamentos”, de João Lopes).
• (2ª Fase: 1947-1949, mais de 6 números). Tiragens em forma
de livro. Em 1958 sai 8º e em 1960, o 9º número.
• Colaboração diversificada:
• Noveletas de António Aurélio Gonçalves “Recaída” e “Noite
de Vento”;
• Artigos de etografia folclore, de Félix Monteiro;
• Estudos sobre Crioulo, de Baltazar Lopes;
• Poesias e contos, de Baltazar Lopes e Manuel Lopes;
• Poemas de Corsino Fortes, Gabriel Mariano, Jorge Pedro
Barbosa, Pedro Frusoni.
• A poesia de Jorge Barbosa
• CASEBRE
• Foi a estiagem
• E o silêncio depois
• Nem sinal de planta
nem restos de árvore
no cenário ressequido da planície.
• O casebre apenas
• de pedra solta
• e uma lembrança aflitiva
• O teto de palha
• levou-o
• a fúria do sueste.
• Sem batentes
• as portas e as janelas
• ficaram escancaradas
• para aquela desolação.
• Foi a estiagem que passou.
• Nesses tempos
• não tem descanso
• a padiola mortuária da regedoria.
• Levou primeiro
• o corpo mirrado da mulher
• com o filho nu ao lado
• de barriga inchada
• que se diria
• que foi de fartura que morreu.
• O homem depois
• com os olhos parados
• abertos ainda.
• Tão silenciosa a tragédia das secas nestas ilhas!
• Nem gritos nem alarme
• — somente o jeito passivo de morrer!
• No quintal do casebre
• três pedras juntas
• três pedras queimadas
• que há muito não serviram.
• E o arco do ferro do menino
• com a vareta ainda presa.
• Poema do Mar
• drama do Mar,
• O desassossego domar,
• sempre
• sempre
• dentro de nós!
• O Mar!
• cercando
• prendendo as nossa Ilhas!
• Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
• Roncando nas areias das nossas praias,
• Batendo a sua voz de encontro aos montes,
• baloiçando os barquinhos de pau que vão Poe estas costas...
• O Mar!
• pondo rezas nos lábios,
• deixando nos olhos dos que ficaram
• a nostalgia resignada de países distantes
• que chegam até nós nas estampas das ilustrações
• nas fitas de cinema
• e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
• quando desembarcam para ver a pobreza da terra!
• O Mar!
• a esperança na carta de longe
• que talvez não chegue mais!
• O Mar!
• Saudades dos velhos marinheiros contando histórias de tempos passados,
• Histórias da baleia que uma vez virou canoa...
• de bebedeiras, de rixas, de mulheres,
• nos portos estrangeiros...
• O Mar!
• dentro de nós todos,
• no canto da Morna,*
• no corpo das raparigas morenas,
• nas coxas ágeis das pretas,
• no desejo da viagem que fica em sonhos de muita gente!
• Este convite de toda a hora
• que o Mar nos faz para a evasão!
• Este desespero de querer partir
• e ter que ficar!
UNIDADE II – LITERATURA
MOÇAMBICANA
Tema 1. Periodização

A periodização seguida nestes temas é a de Pires Laranjeira (1995):
• 1º Período: Incipiência: (das origens da permanência portuguesa em
Moçambique a 1924)
• Instalação do prelo em Moçambique em (1854).
• Publicação dispersa, nos anos 60, 70 e 80 do século XIX, de textos
de Campos Oliveira (31 poemas, segundo Manuel Ferreira).
• Fundação de O Brado Africano por João Albasini e Ferdinand
Bruheim em 1918:
• Pendor Cultural e Político;
• Participação: João Albsini, José Albasini, Rui de Noronha.
• 2º Período – Prelúdio (da publicação de O Livro da Dor,
1925, ao fim da II Guerra Mundial
• Publicação da coletânea de contos O Livro da Dor de João
Albasini (1925);
• Poemas dispersos de Rui de Noronha, publicados em edição
póstuma, sob o título Sonetos (1946).
• Herança formal – 3º Romantismo português (Antero de Quental);
• Temas: de influência cristã; tradições nativas de Moçambique;
inversão da mitologia propagandista da histórica colonial).
• Primeiros sinais de assunção de uma Moçambicanidade.
• 3º Período – Formação (1945/48 - 1964)
• Consciência literária grupal
• Influência do Neo-realismo e da Negritude.
• Poesia de Noémia de Sousa – (escrita entre 1948 e 1951);
• Circulação de seu livro Sangue Negro (1951), tendo inclusive
deixado um exemplar em Luanda;
• Publicação de Godido e Outros Contos, de João Dias, pela CEI
em edição Póstuma.
• Publicação, através da CEI, da Antologia Poesia em Moçambique
(1951) por Luís Polanah, Orlando Albuquerque e Víctor Evaristo.
• Tiragem única do Jornal Msaho (1952) de caris
investigatório da cultural ancestral e popular.
• Surgimento de uma plêiade de poetas tais como José
Craverinha, Noémia de Sousa, Rui Nogar, Rui Knopfli,
Virgílio de Lemos, Rui Guerra, Fonseca Amaral, Orlando
Mendes.
• 4º Período – Desenvolvimento (1964 - 1975)
• Intensa actividade cultural e literária no hinterland do ghuetto.
• Texto marcadamente político – Eugênio Lisboa, Rui Knopfli, António
Quadro.
• Na guerrilha – poemas anticolonial (temas sobre revolução e luta
armada).
• Publicação de Nós Matamos o cão tinhoso, de Luís Bernado
Honwana, conferindo preponderância à narrativa em relação a poesia.
• Publicação de Chigubo, de José Craverinha, editado pela CEI
• Publicação, em 1966, de Portagem, de Orlando Mendes, primeiro
romance moçambicano.
• Publicação, em 1971, dos três primeiros volumes da revista Caliban.
• Publicação da Poesia de Combate, pela FRELIMO, 1974.
• Publicação de Karingana ua karigana, de José Craverinha.


• 5º Período – Consolidação (1975 - Actualidade)
• 1. Divulgação de textos que tinham ficados nas gavetas ou se
encontravam dispersos.
• 2. textos de exaltação patriótica, do culto dos heróis da luta de
libertação nacional, de temas doutrinários, militante ou
empenhado no tempo da independência.
• Publicação de Raiz de Orvalho, de Mia Couto, da revista
Charrua (a partir de 1984, 8 números) abrem novas
perspectivas fora da literatura empenhada permitindo-lhe
caminhos até aí impensáveis, como a livre criação da palavra,
temas tabus como da convivência de raças e mistura de cultura.
• Noémia de Sousa: A voz efémera que permanece
• Nasceu em 20 de setembro de 1926 em Maputo.
• Autora do caderno policopiado Sangue negro, com 43
poemas. Publicados aos pucos em revistas como O Brado
Africano, Itinerário, Vértice e Mensagem (CEI)
• Impacto sobre a poesia angolano, indiciando as vias que esta
havia de seguir (valorização da herança negra e revolta
contra a dominação colonial).
• Situa-se na intersecção o Neo-realismo e a Negritude
francófona.
• Influências:
• Situação colonial com elevada discriminação racial;
• Conhecimento das línguas francesa e inglesa;
• Contacto com Black Renaissance norte-americano e
indigenismo haitiano e negrismo cubano.
• Resultado em termos discursivos:
• Negritude intuitiva
• Estrutura (organização) do caderno:
• Nossa voz; Biografia; Munhuana 1951; Livro de João;
Sangue Negro:
• Poemas representativos da africanidade e moçambicanidade,
e mais divulgados da autora:
• «Nossa voz», «Se me quiseres conhecer», «Deixa passar o
meu povo», «Magaíça», «Negra», «Um dia», «Poema para
Rui de Noronha», «Godido», «A Billie Holliday», «Sangue
Negro»
• NOSSA VOZ
Ao J. Craveirinha

Nossa voz ergueu-se consciente e bárbara


sobre o branco egoísmo dos homens
sobre a indiferença assassina de todos.
Nossa voz molhada das cacimbadas do sertão
nossa voz ardente como o sol das malangas
nossa voz atabaque chamando
nossa voz lança de Maguiguana
nossa voz, irmão,
nossa voz trespassou a atmosfera conformista da cidade
e revolucionou-a
arrastou-a como um ciclone de conhecimento.
• E acordou remorsos de olhos amarelos de hiena
e fez escorrer suores frios de condenados
e acendeu luzes de esperança em almas sombrias de desesperados...

Nossa voz, irmão!


nossa voz atabaque chamando.
• Nossa voz lua cheia em noite escura de desesperança
nossa voz farol em mar de tempestade
nossa voz limando grades, grades seculares
nossa voz, irmão! nossa voz milhares,
nossa voz milhões de vozes clamando!
• Nossa voz gemendo, sacudindo sacas imundas,
nossa voz gorda de miséria,
nossa voz arrastando grilhetas
nossa voz nostálgica de ímpis
nossa voz África
nossa voz cansada da masturbação dos batuques da guerra
nossa voz gritando, gritando, gritando!
Nossa voz que descobriu até ao fundo,
lá onde coaxam as rãs,
a amargura imensa, inexprimível, enorme como o mundo,
da simples palavra ESCRAVIDÃO:
• Nossa voz gritando sem cessar,
nossa voz apontando caminhos
nossa voz xipalapala
nossa voz atabaque chamando
nossa voz, irmão!
nossa voz milhões de vozes clamando, clamando, clamando.
• SE ME QUISERES CONHECER,

• Se me quiseres conhecer,
• estuda com olhos bem de ver
• esse pedaço de pau preto
• que um desconhecido irmão maconde
• de mãos inspiradas
• talhou e trabalhou
• em terras distantes lá do Norte.

• Ah, essa sou eu: • pelos chicotes da
• órbitas vazias no desespero escravatura...
de possuir vida, • Torturada e magnífica,
• boca rasgada em feridas de • altiva e mística,
angústia, • África da cabeça aos pés,
• mãos enormes, espalmadas, • - ah, essa sou eu
• erguendo-se em jeito de
quem implora e ameaça,
• corpo tatuado de feridas
visíveis e invisíveis
• Se quiseres compreender-me dentro...
• vem debruçar-te sobre minha •
alma de África, • E nada mais perguntes,
• nos gemidos dos negros no cais • se é que me queres conhecer...
• nos batuques frenéticos dos • Que não sou mais que um
muchopes búzio de carne,
• na rebeldia dos machanganas • onde a revolta de África
• na estranha melancolia se congelou
evolando • seu grito inchado de esperança.
• duma canção nativa, noite
• DEIXA PASSAR O MEU POVO
• Noite morna de Moçambique
• e sons longínquos de marimbas chegam até mim
• _ certos e constantes _
• vindos não sei eu donde.
• Em minha casa de madeira e zinco,
• abro o rádio
• *
• e deixo-me embalar...
• Mas vozes da América remexem-me a alma e os nervos.
• E Robeson e Marian cantam para mim
• spirituals negros de Harlém.
• “Let my people go”
• _ oh deixa passar o meu povo,
• deixa passar o meu povo! _
• dizem.
• E eu abro os olhos e já não posso dormir.
• Dentro de mim soam-me Anderson e Paul
• e não são doces vozes de embalo.
• “Let my people go”!
• Nervosamente,
• eu sento-me à mesa e escrevo...
• Dentro de mim,
• deixa passar o meu povo,
• “oh let my people go...”
• E já não sou mais que instrumento
• do meu sangue em turbilhão
• com Marian me ajudando
• com sua voz profunda _ minha irmã!
• Escrevo...
• Na minha mesa, vultos familiares se vêm debruçar.
• Minha Mãe de mãos rudes e rosto cansado
• e revoltas, dores, humilhações,
• tatuando de negro o virgem papel branco.
• E Paulo, que não conheço,
• mas é do mesmo sangue e da mesma seiva amada de
Moçambique,
• e misérias, janelas gradeadas, adeuses de magaíças,
• algodoais, o meu inesquecível companheiro branco
• E Zé _ meu irmão _ e Saúl,
• e tu, Amigo de doce olhar azul,
• pegando na minha mão e me obrigando a escrever
• com o fel que me vem da revolta.
• Todos se vêm debruçar sobre o meu ombro,
• enquanto escrevo, noite adiante,
• com Marian e Robeson vigiando pelo olho luminoso do rádio
• _ “ let my people go,
• oh let my people go!”
• E enquanto me vierem do Harlém
• vozes de lamentação
• e meus vultos familiares me visitarem
• em longas noites de insônia,
• não poderei deixar-me embalar pela música fútil
• das valsas de Strauss.
• Escreverei, escreverei,
• com Robeson e Marian gritando comigo:
• Let my people go,
• OH DEIXA PASSAR O MEU POVO!
• NEGRA
• Gentes estranhas com seus olhos cheios doutros mundos
quiseram cantar teus encantos
para elas só de mistérios profundos,
de delírios e feitiçarias...
Teus encantos profundos de Africa.

Mas não puderam.


Em seus formais e rendilhados cantos,
ausentes de emoção e sinceridade,
quedas-te longínqua, inatingível,
virgem de contactos mais fundos.
E te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual,
jarra etrusca, exotismo tropical,
demência, atracção, crueldade,
animalidade, magia...
e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias.
• Em seus formais cantos rendilhados
foste tudo, negra...
menos tu.

E ainda bem.
Ainda bem que nos deixaram a nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a glória única e sentida de te cantar
com emoção verdadeira e radical,
a glória comovida de te cantar, toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE
• A poesia de José Craveirinha
• J. Craveirinha nasceu no bairro da Mafalala em Maputo em 28 de
Maio de 1922.
• Trabalhou como jornalista, passando pelo Notícia, O Brado Africano,
A Tribuna, Notícia da Beira, O Jornal e Voz de Moçambique.
• Prémio Camões (1991) e outros.
• Primeiro presidente da Associação dos Escritores Moçambicanos
(AEMO).
• Poeta nacional moçambicano.
• Obras:
• Chigubo (1964), ed. CEI, Xigubo (1980).
• Cantico a un dio de catrame (1966).
• Karingana ua Karingana (1974), 2ª ed. (1982);
• Cela 1 (1980).
• Maria (1988)
• Temas:
• Dominação colonial,
• identidade nacional,
• lirismo amoroso ou irónico.
Elementos e recursos típicos:
Estrofes de grande dimensão; Dramatização; poder
declamatório; exclamação; interjeição; frases dialogais;
estrutura enumerativa; contínua; repetição; redundância;
paralelismo; anáfora múltiplas; intensidade panagírica; modos
verbais imperativos e exortativos; tom polémico e agressivo;
verbos ser, ter, dizer na 1ª pessoa do indicativo.
Características gerais:
Neo-realismo; narratividade; adjectivação luxuriante; ironia;
elementos surrealizantes; Negritude; moçambicanidade.
• “Manifesto”

• Oh!

Meus belos e curtos cabelos crespos
e meus olhos negros como insurrectas
grandes luas de pasmo na noite mais bela
das mais belas noites inesquecíveis das terras do Zambeze.
• Como pássaros desconfiados
incorruptos voando com estrelas nas asas meus olhos
enormes de pesadelos e fantasmas estranhos motorizados
e minhas maravilhosas mãos escuras raízes do cosmos
nostálgicas de novos ritos de iniciação
dura da velha rota das canoas das tribos
e belas como carvões de micaias
na noite das quizumbas.
• E a minha boca de lábios túmidos
cheios da bela virilidade ímpia de negro
mordendo a nudez lúbrica de um pão
ao som da orgia dos insectos urbanos
apodrecendo na manhã nova
cantando a cega-rega inútil das cigarras obesas.
• Oh! E meus belos dentes brancos de marfim espoliado
puros brilhando na minha negra reencarnada face altiva
e no ventre maternal dos campos da nossa indisfrutada colheita
de milho
o cálido encantamento selvagem da minha pele tropical.
• Ah! E meu
corpo flexível como o relâmpago fatal da flecha de caça
e meus ombros lisos de negro da Guiné
e meus músculos tensos e brunidos ao sol das colheitas e da carga
e na capulana austral de um céu intangível
os búzios de gente soprando os velhos sons cabalísticos de
África.
• Hino à minha terra
• O sangue dos nomes
• é o sangue dos homens.
• Suga-o tu também se és capaz
• tu que não nos amas.
• Amanhece
• sobre as cidades do futuro.
• E uma saudade cresce no nome das coisas
• e digo Metengobalame e Macomia
• e é Metengobalame a cálida palavra
• que os negros inventaram
• e não outra coisa Macomia.
• E grito Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
• E torno a gritar Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
• E outros nomes da minha terra
• afluem doces e altivos na memória filial
• e na exacta pronúncia desnudo-lhes a beleza.
• Chulamáti! Manhoca! Chinhambanine!
• Morrumbala, Namaponda e Namarroi
• e o vento a agitar sensualmente as folhas dos canhoeiros
• eu grito Angoche, Marrupa, Michafutene e Zóbuè
• e apanho as sementes do cutlho e a raíz da txumbula
• e mergulho as mãos na terra fresca de Zitundo.
• Oh, as belas terras do meu áfrico País
• e os belos animais astutos
• ágeis e fortes dos matos do meu País
• e os belos rios e os belos lagos e os belos peixes
• e as belas aves dos céus do meu país
• e todos os nomes que eu amo belos na língua ronga
• macua, suaíli, changana,
• xitsua e bitonga
• dos negros de Camunguine, Zavala, Meponda, Chissibuca
• Zongoene, Ribáuè e Mossuril.
• – Quissimajulo! Quissimajulo! – gritamos
• nossas bocas autenticadas no hausto da terra.
• – Aruángua! – Responde a voz dos ventos na cúpula das micaias.

• E no luar de cabelos de marfim nas noites de Murrupula


• e nas verdes campinas das terras de Sofala a nostalgia sinto
• das cidades inconstruídas de Quissico
• dos chindjiguiritanas no chilro tropical de Mapulanguene
• das árvores de Namacurra, Muxilipo, Massinga
• das inexistentes ruas largas de Pindagonga
• e das casas de Chinhanguanine, Mugazine e Bala-Bala
• nunca vistas nem jamais sonhadas ainda.
• Oh! O côncavo seio azul-marinho da baía de Pemba
• e as correntes dos rios Nhacuaze, Incomáti, Matola, Púnguè
• e o potente espasmo das águas do Limpopo.
• Ah! E um cacho das vinhas de espuma do Zambeze coalha ao sol
• e os bagos amadurecem fartos um por um
• amuletos bantos no esplendor da mais bela vindima.

• E o balir pungente do chango e da impala
• o meigo olhar negro do xipene
• o trote nervoso do egocero assustado
• a fuga desvairada do inhacoso bravo no Funhalouro
• o espírito de Mahazul nos poentes da Munhuana
• o voar das sécuas na Gorongoza
• o rugir do leão na Zambézia
• o salto do leopardo em Manjacaze
• a xidana-kata nas redes dos pescadores da Inhaca
• a maresia no remanso idílico de Bilene Macia
• o veneno da mamba no capim das terras do régulo Santaca
• a música da timbila e do xipendana
• o ácido sabor da nhantsuma doce
• o sumo da mampsincha madura
• o amarelo quente da mavúngua
• o gosto da cuácua na boca
• o feitiço misterioso de Nengué-ua-Suna.
• Meus nomes puros dos tempos
• de livres troncos de chanfuta umbila e mucarala
• livres estradas de água
• livres pomos tumefactos de sémen
• livres xingombelas de mulheres e crianças
• e xigubos de homens completamente livres!
• Grito Nhanzilo, Eráti, Macequece
• e o eco das micaias responde: Amaramba, Murrupula,
• e nos nomes virgens eu renovo o seu mosto em Muanacamba
• e sem medo um negro queima as cinzas e as penas de corvos de
agoiro
• não corvos sim manguavavas
• no esconjuro milenário do nosso invencível Xicuembo!
• E o som da xipalapala exprime
• os caninos amarelos das quizumbas ainda
• mordendo agudas glandes intumescidas de África
• antes da circuncisão ébria dos tambores incandescentes
• da nossa maior Lua Nova.
• Xigubo
• Para Claude Coufon
• Minha mãe África
• meu irmão Zambeze
• Culucumba! Culucumba!

• Xigubo estremece terra do mato
• e negros fundem-se ao sopro da xipalapala
• e negrinhos de peitos nus na sua cadência
• levantam os braços para o lume da irmã lua
• e dançam as danças do tempo da guerra
• das velhas tribos da margem do rio.

• Ao tantã do tambor
• o leopardo traiçoeiro fugiu.
• E na noite de assombrações
• brilham alucinados de vermelho
• os olhos dos homens e brilha ainda
• mais o fio azul do aço das catanas.
• Dum-dum!
• Tantã!
• E negro Maiela
• músculos tensos na azagaia rubra
• salta o fogo da fogueira amarela
• e dança as danças do tempo da guerra
• das velhas tribos da margem do rio.

• E a noite desflorada
• abre o sexo ao orgasmo do tambor
• e a planície arde todas as luas cheias
• no feitiço viril da insuperstição das catanas.
• Tantã!
• E os negros dançam ao ritmo da Lua Nova
• rangem os dentes na volúpia do xigubo
• e provam o aço ardente das catanas ferozes
• na carne sangrenta da micaia grande.
• E as vozes rasgam o silêncio da terra
• enquanto os pés batem
• enquanto os tambores batem
• e enquanto a planície vibra os ecos milenários
• aqui outra vez os homens desta terra
• dançam as danças do tempo da guerra
• das velhas tribos juntas na margem do rio.
• GRITO NEGRO
• Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
• Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.
• Narrativa Moçambicana da década de 60 e a poesia da FRELIMO
• Arranque decisivo da literatura moçambicana como instituição e sistema
literário regular. Marcas:
• A) Produção de textos de um nacionalismo pan-africanista de herança
de tendência neo-realista, negritudinista: José Craverinha, Orlando
Mendes, Rui Nogar, Luís Bernardo Honwana;
• B) Produção de textos de herança fundamentalmente lusófona e
anglófona, tendo como padrão estético as grandes obras da literatura
universal, desde a antiguidade: Rui Knopfli, Eugénio Lisboa, João
Pedro Grabado Dias, Maria de Lourdes Cortez;
• C) Produção de texto e sua publicação, foram de Portugal e das
Colônias, de temática guerrilheira, quase só de poesia.
• Nós matamos o cão tinhoso (1964)
• Estabeleceu um novo paradigma para o texto narrativo moçambicano.
• Os contos revelam as forças produtivas em jogo, as relações sociais, a
organização do Estado Colonial, através dos seus tentáculos
autoritário e administrativo, as instituições do seu aparelho ideológico
e aspectos da consciência social e de classe a que as personagens dão
corpo.
• No conto “Dina”, encontramos os temas da rudeza do
trabalho rural, do sofrimento do trabalhador sujeito a uma
disciplina desumana, da arrogância do branco em relação ao
negro, da impotência perante o opressor, da prostituição
como forma de sobrevivência, da incompreensão e da
alienação, os quais realçam as configurações mais salientes
de um espaço social violentado.
• Os demais contos mostram também situações concretas de
exploração, humilhação e racismo, comportando, assim, uma
perspectiva crítica e desmistificadora, típica da chamada
literatura comprometida.
• Semelhante problemática ocupa a atenção do enunciador do conto
“PAPÁ, COBRA E EU”, no qual está retratado o quotidiano de uma
família africana, com destaque para as tensões, como a relacionada à
língua utilizada e à humilhação à qual os negros têm de se sujeitar
perante o explorador branco.
• A humilhação baseada na cor da pele é tematizada também em “AS
MÃOS DOS PRETOS”, cujo protagonista, aborda a impotência dos
negros perante os argumentos aparentemente inabaláveis dos colonos
sobre a segregação racial.
• O último conto, “NHINGUITIMO”, evolui para a revolta, entendida
como meio de romper com a colonização, e faz uma crítica ao
comodismo dos negros assimilados, em favor da esperança na
construção de uma sociedade diferente.
• Portagem, de Orlando Mendes - considerado o primeiro
romance moçambicano. protagonista: João Xilim
• A acção decorre em vários espaços, tanto rurais como
urbanos, para mostrar a inadaptação do protagonista, o
mulato João Xilim, que, oscilando entre os valores dos
contextos europeu e moçambicano, termina por
reencontrar-se no seu destino de africano. Ao longo do seu
percurso existencial, a personagem central é confrontada
com situações que tematizam a marginalização de João
Xilim, tanto no plano profissional, como no plano afectivo.
• Da condição de emigrado nas minas da África do Sul até à de
ajudante numa oficina gráfica, o protagonista exerce empregos
precários (marinheiro, capataz, tipógrafo e pescador), passando
pela actividade de contrabandista e pela situação de recluso
devido a uma tentativa de homicídio. Todos os acontecimentos
apontam para a subalternidade dos negros e dos mulatos numa
sociedade conotada pela exploração, pela assimilação e pelo
racismo. O universo das personagens com as quais o protagonista
convive ou que enfrenta é outra marca da condição de
inferioridade à qual está condenado o africano.
• NAMPIALI • verde carmim azul e violeta
• • enchem os nossos olhos
• Verde carmim azul e violeta •
• e nós • É já o por do sol
• marchando no planalto •
• • Vamos marchando
• Em baixo • e as vozes vão cantando
• o vale •
• e as machambas de Nachinhoco • “somos soldados
• • da FRELIMOOO...”
• Mais longe •
• nas encostas do Nampiali
• as árvores
• Verde carmim azul e violeta • “Decididos
• e nós • Nós lutaremos...”
• marchando no planalto • Nós
• seguindo sempre para além • marchando no planalto
• • seguindo para além
• verde carmim azul e violeta •
• Aqui os portugueses foram esmagados • e sempre nos nossos olhos
• Aqui os portugueses não voltarão • as cores suaves e doces
• Agora nascem os campos de produção • de verde carmim azul e violeta
• • na paisagem quente
• Nós • da terra livre de Moçambique.
• marchando no planalto • Marcelino dos Santos
• seguindo sempre para a frente
• e as vozes cantando

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