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FACULDADE DE ENGENHARIA
LICENCIATURA EM ENGENHARIA MECÂNICA
4º NÍVEL
Recurso Hídrico
O recurso hídrico é o recurso que apresenta maior potencial económico em
Moçambique, com destaque para a cascata do Zambeze e para um vasto conjunto de
projectos de média dimensão ao longo de todo o território, tendo sido identificados e
estudados mais de 1.400 projectos, o que corresponde a um total de 18,6 GW de
potencial hidroeléctrico, dos quais 351 projectos, ou seja 5,6 GW, apresentam
préviabilidade técnica e económica.
Recurso Eólico
Ao nível do recurso eólico, foram confirmados ao longo de mais de um ano de
medições, 16 locais com um total de 4,5 GW de potencial eólico no Centro e Sul do
país. Destes, cerca de 1,1 GW de projectos apresentam viabilidade de ligação à rede e
horas equivalentes de produção entre 2.300 e 3.900 horas, com destaque para várias
zonas no sul do território próximas dos centros de consumo.
Recurso Solar
Moçambique apresenta uma radiação elevada e consistente ao longo do território, com
destaque para as províncias de Tete, Niassa, Nampula e Cabo Delgado, o que faz com
que o sol seja o recurso renovável mais abundante em Moçambique com um potencial
global de 23 TW, dos quais, cerca de 600 MW de projectos com viabilidade de ligação à
rede.
Biomassa
Moçambique tem diferentes recursos de biomassa e resíduos sólidos urbanos (RSU)
disponíveis para a produção de electricidade. Desde a biomassa florestal com um
potencial de 1 GW, com destaque para as províncias da Zambézia, Niassa e Manica,
passando pelas açucareiras com um potencial de projectos na ordem dos 0,8 GW, até
aos 63 MW em projectos de incineração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). De
destacar as explorações florestais em redor de Lichinga, o palmar doente e indústria do
arroz em Quelimane, as 4 açucareiras existentes e ainda o novo aterro de
Maputo/Matola onde se identificaram 128 MW de potenciais projectos no curto prazo.
Recurso Geotérmico
ao nível do recurso geotérmico, foram identificados 3 locais com potencial geotérmico,
todos eles ligados a fontes termais existentes nas províncias de Tete, Zambézia e Niassa.
No total foi identificado um potencial de 147 MW e temperaturas estimadas entre os
1400C e os 1600C a profundidades entre os 1.500 e os 2.500 metros Destaque para
Metangula na província do Niassa onde o maior gradiente e a maior necessidade de
geração térmica poderão justificar estudos adicionais.
Recurso Marítimo
Apesar da extensa costa, Moçambique apresenta um recurso marítimo limitado e com
reduzido potencial para geração de energia eléctrica devido ao efeito dissipador de
Madagáscar e do canal de Moçambique. O maior potencial verifica-se na costa da
província de Inhambane com valores em redor dos 10 kW/m.
Potencial de Projectos Renováveis
Em termos globais, Moçambique apresenta um enorme potencial de energias renováveis
de mais de 23 TW e milhares de possíveis projectos, desde pequenos projectos de
electrificação rural até às grandes hídricas do Zambeze. Deste potencial, cerca de 7 GW,
ou seja, mais de 500 projectos, maioritariamente hidroeléctricos, mas também eólicos,
solares, de biomassa e geotérmicos, constituem soluções e alternativas para o sistema
eléctrico de Moçambique a ponderar e possivelmente integrar em futuros planos de
expansão da Rede Eléctrica Nacional (REN).
Energias renováveis e electrificação rural Para além dos projectos de grande, média e
pequena dimensão identificados, a evolução tecnológica permite actualmente o
aproveitamento das energias renováveis em projectos de microescala, normalmente
unidades de 5 a 100 kW apropriados para a electrificação rural. Por exemplo, a
utilização de painéis solares, com uma combinação de baterias e gerador, ou a utilização
de pico-hídricas em cerca de 300 locais identificados no presente estudo, apresentam-se
como as soluções de electrificação mais económicas quando a rede eléctrica está
distante. De referir, ainda, as soluções de electrificação rural baseadas em unidades
solares individuais, que apesar de apresentarem menores níveis de serviço, constituem
uma boa alternativa de electrificação e requerem reduzidos investimentos.
2.3.2 Hidrologia
O estudo hidrológico no local do aproveitamento hidroelétrico envolve a recolha de
valores que caracterizam o recurso hídrico. Este estudo permite estimar a quantidade de
água que é possível captar e consequente saber qual a potência que é possível extrair do
aproveitamento hidroeléctrico. Para além do recurso hídrico, e para aumentar a sua
qualidade, o estudo pode ainda abranger os níveis de pluviosidade que se verificam na
região.
Como o caudal que passa numa determinada secção de um rio é uma variável aleatória,
com repartição uniforme ao longo de um ano, os estudos hidrológicos apenas podem
facultar as probabilidades de ocorrência dos caudais, normalmente através de valores
médios diários. Os dados recolhidos devem abranger um longo espaço temporal,
idealmente devem ser analisados dados dos caudais recolhidos ao longo de pelo menos,
vinte anos (20) por forma a dar maior credibilidade ao estudo. Quando estes dados não
se encontram disponíveis, seja por falta de medições ou devido à inexistência de uma
estação hidrométrica, pode ser feita uma previsão tendo como base outros recursos
hídricos com características semelhantes. No caso de não existir uma estação de
medição nas proximidades, podem ainda ser feitas medições no local, de forma manual,
através de equipamentos e técnicas próprias para essa finalidade ou em último caso,
instalar uma estação junto ao local onde será instalado a central. Para além das
medições dos caudais médios diários, existe ainda a possibilidade de recolher dados
relativos ao nível hidrométrico instantâneo e/ou ao nível médio diário. Com estes dados
e conhecendo as curvas de vazão, é possível obter-se o caudal, expresso em m 3/s,
através da expressão:
Q=a1 ( h−h 0 )b 1
(eq. 01)
Onde:
h é a altura hidrométrica [m];
a1 e b1 são parâmetros da curva da vazão;
h0 é a altura hidrométrica para a qual se anula o caudal [m].
Pn=γ ×Qn × hb × η
Nesta fase, devido à dificuldade para quantificar o caudal nominal e para simplificar o
processo, é comum igualar-se o caudal nominal ao caudal médio. O rendimento global
do aproveitamento eléctrico depende directamente da queda e do caudal e é em grande
parte definido pelo produto dos rendimentos da turbina, do gerador e do transformador.
É recorrente fazer-se uma simplificação. Admitindo um rendimento global do
aproveitamento elétrico de 81,6% e exprimindo o peso volúmico da água em kN/m 3, a
potência nominal a instalar passa a ser expressa em kW, e é obtida pela equação abaixo:
(Eq. 03)
Pn=8× Qn × hb
A aproximação anterior, nos casos de pequenos aproveitamentos, pode ser vista como
demasiado otimista, por isso, é vulgar nestas situações encontrar-se valores do
rendimento mais conservadores, na ordem dos 70%, de acordo com a expressão que se
segue:
(Eq. 04)
Pn=7 × Q n × hb
O valor aqui calculado serve como referência para a escolha do grupo turbina-gerador.
Tendo em consideração a limitação de potências disponíveis no mercado,a escolha da
potência do grupo deve estar próxima do cálculo teórico. Essa potência define depois o
caudal nominal, por isso, é necessário proceder à correção da estimação inicial através
da equação 04.
O cálculo da energia eléctrica produzível, em ano médio, tem como base a curva de
duração de caudais, obtida pelo estudo hidrológico. Na curva são definidos os limites
assim como o caudal de cheia, acima do qual a queda é muito baixa e onde se torna
impossível produzir. Ao serem definidos estes limites, estão-se a definir os tempos t0, t1
e t2, que dizem respeito, respetivamente, ao momento em que o caudal de cheia, o
caudal máximo e o caudal mínimo de operação são igualados ou excedidos, conforme a
figura abaixo:
Considerando um rendimento global e uma altura de queda constantes, a energia
produzida, em kWh, é proporcional à área de exploração delimitada pela curva de
duração de caudais (Q). Em termos analíticos pode-se exprimir através da equação 05:
Inserir formula:
Constituição
A constituição de uma mini-hídrica depende de vários factores como a altura da queda,
as caracteristicas do terreno ou as restrições ambientais. De um modo geral, as mini-
hídricas são constituídas por:
O Açude
Que representa a estrutura que impede o fluxo natural da água, criando uma albufeira.
Quanto maior for a altura do açude maior será a altura que a água pode atingir a
montante do açude. Assim, quanto maior a altura do açude, maior a quantidade de
energia que a mesma quantidade de água vai permitir produzir. O açude permite ainda
regularizar o caudal e aumentar o potencial da central, graças à albufeira por si criada. O
potencial da central está directamente relacionado com os proveitos provenientes da sua
construção. A construção do açude permite o armazenamento de água na albufeira, para
que esta seja utilizada para produção de electricidade nas horas com a tarifa mais
elevada. Permite ainda a regularização do caudal, e mediante a existência de valores
extremos de caudal afluente, a quantidade de água desperdiçada é diminuída, o que
permite maiores proveitos, através de um melhor aproveitamento do recurso. Há no
entanto algumas considerações a tomar antes da construção do açude, como a sua exacta
localização e o modo de construção para que seja seguro, a área de terrenos inundados e
ainda as questões ambientais.
Albufeira
Albufeira é a designação usualmente atribuída a um reservatório de água artificial,
resultante da construção de uma barragem ou de um açude
Canal de adução
É através do canal de adução que a água chega à câmara de carga, podendo ser
proveniente da albufeira, caso exista, ou então, do leito do rio. O canal de adução não
apresenta grande desnível, apenas o necessário para permitir a circulação da água. O
canal de adução é usualmente construído em canal aberto, mas quando não é possível e
caso os prós vençam os contras, pode ser construído um túnel para o canal de adução.
O comprimento de um canal de adução pode ir desde algumas dezenas de metros até
alguns quilómetros dependendo da dimensão do projecto.
Câmara de Carga
A câmara de carga encontra-se entre o canal de adução e a conduta forçada e tem a
função de:
Promover a transição entre o escoamento livre do canal de adução para o
escoamento sob pressão da conduta forçada;
Atenuar o choque hidráulico que se verifica na conduta forçada quando ocorre o
fecho brusco do dispositivo de controlo do caudal na turbina;
Fornecer água à conduta forçada quando há abertura brusca do dispositivo de
controlo do caudal, até que se estabeleça novamente o regime permanente de
escoamento no canal de adução;
Conduta Forçada
Na conduta forçada é transportada a água desde a câmara de carga, até ao edifício da
central, mais precisamente até às turbinas. As condutas forçadas já apresentam elevados
desníveis, em oposição ao que acontece no canal de adução. Quanto maior for o
desnível, maior será a queda e por isso maior será a energia produzida, de acordo com a
equação de definição da pontencia a instalar. A conduta forçada possui uma forma
cilíndrica, sendo usual a sua construção em aço. Sempre que possível a conduta forçada
é fixada à superfície, mas perante contrariedades também pode estar enterrada.
Casa de Maquinas
É nela onde contém a maior parte dos equipamentos eléctricos e mecânicos, sendo
construído de um modo convencional e, geralmente, com o menor tamanho possível. A
localização da casa das máquinas é muito variável, podendo estar encastrada na
barragem, ou então mais distante, recorrendo a um canal e a uma conduta forçada.
Figura : Pequena Central Hidrica
A figura acima ilustra uma central com uma queda média/alta e um circuito hidráulico
que se estende por várias dezenas ou centenas de metros, desde a albufeira até ao ponto
de restituição. Existem ainda um conjunto de variantes que permitem adaptar o
aproveitamento hidroelétrico às diversas restrições do local, seja devido às
características do terreno, à proximidade a outras infraestruturas como casas ou estradas
ou até por questões ambientais.