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LavraPalavra
Por Manuel Vega Z., via Revista Rosa, traduzido por Daniel Fabre
Longe de nossas paixões eleitorais conjunturais (e que alegria que Macri se foi e
que Peña Nieto também; e que Piñera partirá, Duque e Bolsonaro partirão),
precisamos entender o que é o neoliberalismo para superá-lo. O neoliberalismo
não é um governo, a cada vez. Essa constatação evita acreditar que remover um
grupo político do governo e colocar outro para administrar o mesmo com
algumas nuances diferentes é o suficiente para matar magicamente o
neoliberalismo.
Esses processos são de longa duração, são processos sociais materiais e não
apenas jornadas eleitorais periódicas. Tirar um grupo político apenas dizendo
que não haverá mais neoliberalismo e administrar a ordem existente sem
revertê-la e transformá-la, não é realmente atacar a matriz jurídico-econômica-
política em que se apoia o neoliberalismo.
O Estado que eles nos deixaram é neoliberal, o direito que eles nos deixaram é
neoliberal, as relações de trabalho que temos hoje são neoliberais, a
desapropriação de terras e a mercantilização da água que sofremos hoje são
neoliberais. Por isso, combater o neoliberalismo significa, então, transformar
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progressivamente as relações sociais produtoras de valor – e entre elas o Estado
O neoliberalismo não se extingue por decreto –... https://lavrapalavra.com/2020/04/06/o-neolibera...
e a lei como guardiões da reprodução social do capital -, em direção a um
estágio materialmente antineoliberal, verificável objetivamente e não apenas
discursivamente.
Não é possível fazer tudo isso em um ano. Então, por que sustentar a falsa ideia
de que o neoliberalismo já se foi? Ou pior ainda, porque ideologicamente afirmar
que vivemos em um estado social? Declarar que hoje temos um estado social no
México, um ano após a administração do novo governo, pelo qual votei e não me
arrependo, é apenas uma expressão ideológica de auto-engano, de uma
alienação panfletária sem autocrítica. O estado de direito social é totalmente
capitalista, porém não é neoliberal; é fordista-keynesiano. O objetivo é
identificar onde está o estado social no México? Um estado social é construído
em um ano? Um país dependente sujeito à divisão internacional do trabalho
pode erigir um estado social em um ano? Eu afirmo que não, e não se pode
esperar algo assim por pura vontade, porque seria irreal, quase mágico.
Por que enganar o povo dos países periféricos com a promessa de que a
construção de um estado de direito social, democrático e capitalista é possível
em nossas regiões? Essas teorias do estado de bem-estar nasceram nos centros
de acumulação mundial de capital. Era a promessa civilizatória de garantir “uma
vida decente” dentro do capitalismo através dos direitos sociais para neutralizar
a luta de classes. Mas eles esqueceram que o capital está passando por crises
cíclicas e hoje, mesmo na Europa e na América do Norte, os estados
assistenciais estão quebrando, a luta de classes está novamente se tornando
clara em todo o mundo. Nós, na periferia, temos estados dependentes, formas
estatais dominadas, submetidas sistematicamente ao subdesenvolvimento e à
divisão internacional do trabalho. Devemos pensar e orientar nossa práxis a
partir do lugar em que estamos localizados, com uma perspectiva ao mesmo
tempo internacionalista.
O Estado não é uma coisa eterna e imóvel, mas uma rede de relações sociais
concretas, historicamente determinadas e ligadas à universalização da produção
capitalista. E, nesse sentido, reverter a neoliberalização do Estado e do direito e
transformar as relações sociais neoliberais da reprodução é uma tarefa
estratégica fundamental. Com um horizonte epistemológico a ser desenvolvido
academicamente e para se disputar politicamente. Não é apenas uma disputa de
significado, mas fundamentalmente uma disputa de forças materiais reais.
6 de abril de 2020
Conjuntura
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