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DOI: 10.1590/1413-81232017229.

13712017 3013

Violência institucional e humanização em saúde:

ARTIGO ARTICLE
apontamentos para o debate

Institutional violence and humanization in health:


notes to debate

Yuri Nishijima Azeredo 1


Lilia Blima Schraiber 1

Abstract This paper starts from humanization Resumo O presente trabalho parte das políti-
policies and the academic debate around them to cas de humanização e seu debate acadêmico para
reflect about institutional violence inside health refletir sobre a violência institucional na saúde.
services. Based on research on scientific publica- Tendo por base pesquisa sobre as publicações cien-
tions in Collective Health, it was observed that tíficas na Saúde Coletiva, constata-se que nesse de-
violence in relationships between health pro- bate a violência que se identifica nas relações entre
fessionals and users – which is at the core of the profissionais e usuários, núcleo das indagações na
humanization’s debate – is conceptualized as an temática da humanização, é concebida como um
excessive power in exercise of professional author- excessivo poder no uso da autoridade profissional,
ity. Using Hannah Arendt thinking as theoretical sendo esta pouco discutida. Apresentando as re-
contributions regarding the concepts of ‘authori- flexões de Hannah Arendt como um novo aporte
ty’, ‘power’ and ‘violence’, our objective is to de- teórico acerca dos conceitos de ‘autoridade’, ‘po-
fine and rethink these phenomena. Melting these der’ e ‘violência’, objetiva-se distinguir e repensar
reflections with the history of institutionalization esses fenômenos. Conjugando essas reflexões com
of health in Brazil, and especially the changes in a história da institucionalização da saúde no Bra-
medical work during the twentieth century, we sil, em especial as mudanças no trabalho médico
conclude that the problem of institutional vio- durante o século XX, concluímos que o problema
lence on health services is not based on excess of da violência institucional na saúde não se fun-
authority and power of professionals, but rather damenta em um excesso de autoridade e poder
in its opposite. When there is a vacuum of profes- dos profissionais, mas no seu contrário: quando
sional authority, and relationships between people a autoridade profissional se esvazia e as relações
do not happen through power relations, there is entre os homens não se dão através das relações de
space for the phenomenon of violence. poder é que está aberto o espaço para o fenômeno
Key words Violence, Power (psychology), Health da violência.
services, Humane care Palavras-chave Violência, Humanização da as-
1
sistência, Serviço de saúde, Poder
Departamento de
Medicina Preventiva,
Faculdade de Medicina,
USP. Av. Dr. Arnaldo,
Cerqueira César. 01246-903
São Paulo SP Brasil.
yuri.azeredo@gmail.com
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Azeredo YN, Schraiber LB

Introdução com a qual esse problema precisa ser enfrentado:


Aí foram fazer o exame do toque, maldito exame
O presente ensaio reflexivo é um dos produtos da do toque. Porque ele foi com toda vontade. Nossa,
pesquisa realizada acerca do debate, acadêmico acho que doeu mais do que na hora do parto. Por
e político, da humanização em saúde, que se dá isso que eu não gostei dele [médico]. Porque acho
no campo da Saúde Coletiva1. A relevância de se que ele não foi com... Se aquilo for delicado, o que
examinar tal debate é evidenciada pela crescente não for delicado me matava [...] Aí veio uma médi-
produção de publicações sobre o tema e se refor- ca [...] Tão boazinha, acho que ela tinha uns qua-
ça com o próprio surgimento, em 2003, de uma renta anos, mais ou menos, tão boazinha ela era.
política pública de caráter nacional, a Política Ela estourou minha bolsa, fez o exame de toque e eu
Nacional de Humanização (PNH). não senti tanta dor quanto a do homem7.
Tendo por objetivo identificar as distintas No entanto, embora o tema esteja sendo
temáticas e concepções de humanização opera- bastante explorado, existe uma série de proble-
das no interior do mencionado debate, este foi mas em seu debate. Talvez pela sua complexida-
abordado por meio de dois corpos documentais de ou pela grande diversidade de perspectivas
e que constituíram a base empírica da pesquisa1: epistemológicas e de desenhos metodológicos,
a produção bibliográfica na Saúde Coletiva, cujo o campo da Saúde Coletiva parece deter-se mais
levantamento resultou em 98 publicações cientí- (até pelo seu caráter pragmático, como apontam
ficas analisadas, e os textos oficiais da PNH. Paim e Almeida Filho9) sobre ‘como combater’
O exame desses documentos mostrou que o a violência institucional do que sobre ‘o que é’ a
conteúdo da política nacional, de modo conver- violência institucional, assim identificando suas
gente com as publicações do campo, acabou por causas e efeitos. Por conta disso, vemos uma série
erigir a violência institucional como um dos seus de sobreposições conceituais que entravam o já
principais alvos1, tornando profundamente rela- complexo debate acerca da violência dentro do
cionadas ambas as temáticas: a violência institu- campo. Assim, mesmo sendo a Saúde Coletiva
cional e a humanização. um campo profundamente marcado por incor-
Neste ensaio, vamos considerar essa vincula- porações da filosofia de Michel Foucault, que in-
ção entre violência institucional e humanização siste a existência de uma fundamental diferença
tal como se apresenta especificamente no debate e descontinuidade entre poder e violência10,11,
acadêmico desenvolvido nas publicações cientí- são comuns leituras no campo que, por exemplo,
ficas examinadas, sendo assim uma reflexão so- vêem a violência e o poder como sinônimos12,13,
bre um dos principais resultados da mencionada violência como produto de excesso de poder14 e a
pesquisa. indistinção entre autoridade e poder14-18.
No plano tanto internacional como nacio- O mesmo pode ser dito sobre o uso da hu-
nal, a violência é reconhecida como uma ques- manização dentro do campo da Saúde Coletiva.
tão social e da saúde, e tem sido tema de pesqui- Corroboramos com a visão de diversos auto-
sa em diversos países. Essas pesquisas mostram res19-26 que criticam um uso demasiado genérico
que, para além dos problemas econômicos e de do termo. No levantamento bibliográfico realiza-
infraestrutura que os diversos serviços de saúde do1, ‘humanização’ aparece majoritariamente em
sofrem, encontram-se aspectos socioculturais re- forma de propostas para enfrentar, conter e de-
lacionados às práticas violentas de caráter insti- sestimular a violência dentro dos serviços de saú-
tucional2-5. Pesquisas cujo empírico constitui-se de. Dessa forma, não será o objetivo do presente
através de entrevistas com profissionais e usuá- trabalho propor uma conceituação positiva para
rios dos mais diversos serviços nos mostram que a humanização, mas nos deter sobre essas no-
a questão da violência na saúde não é uma ques- ções, a saber, autoridade, poder e violência, que
tão pessoal ou pontual6,7. A constância e a alta surgem como causas da violência institucional
distribuição dos episódios de violência fazem dentro dos serviços de saúde e que constituem a
com que seja caracterizada como institucional, razão que torna necessário o debate, as propostas
ou seja, que existem elementos dentro da estru- e a política de humanização.
turação da relação entre o serviço e o usuário que Assim, buscando trazer novos aportes ao
encerram aí relações violentas. Esta violência se debate já existente, procederemos a duas or-
expressa como negligência na assistência, todas dens de consideração. Primeiro, apresentaremos
as formas de discriminação social, violência física uma possível leitura dos conceitos de ‘autorida-
e até sexual8. O teor dos relatos, ao mesmo tem- de’, ‘violência’ e ‘poder’ que, distinguindo-se das
po em que chocam, traz a percepção da urgência identificadas nas publicações do campo da Saúde
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Coletiva no tema da humanização, toma por re- da tradição e nunca fora deles. Já o sujeito que
ferência, principalmente, as reflexões de Hannah observa (o sujeito do conhecimento) é histórico
Arendt. Sendo pensadora que se volta para ques- e contextual, impossibilitado de uma apreensão
tões ético-políticas e, sobretudo, morais, e tendo neutra e direta do mundo. Todo conhecimento,
em vista que podemos abordar as práticas de nesse sentido, é interpretação e é impossível apre-
saúde, em particular a médica, como ações téc- ender-se os objetos do mundo como eles são, pois
nicas bastante dependentes das dimensões ética novos contextos geram, necessariamente, novas
e moral27, entrevemos nas contribuições aren- interpretações. O conhecimento da hermenêuti-
dtianas, ao nos colocar diante de novas concei- ca filosófica não visa buscar repetições constan-
tuações, uma grande potencialidade de ampliar tes, verificáveis e previsíveis do empirismo, mas
nossa compreensão. Em seguida, nos debruçare- justamente o seu contrário: aquilo que é único,
mos sobre o adjetivo ‘institucional’ que segue a aquilo que é experimentado fora do comum.
‘violência’, ou seja, articularemos esses conceitos Assim, para Gadamer29, conhecemos o mun-
com a história da institucionalização da saúde no do não através de um método, mas através de um
Brasil para, enfim, inseri-los no debate do campo horizonte, já que a aquisição de linguagem e o
acerca da violência institucional. processo de aculturação constituem uma pers-
Antes, porém, são necessárias algumas obser- pectiva do mundo através da qual o enxergamos.
vações de caráter metodológico em que se anco- A hermenêutica gadameriana não desenvolve um
ram nossas considerações. conjunto de regras universais para a condução
das ciências humanas, mas defende que a inter-
pretação se dá através da “fusão de horizontes”29,
Aspectos metodológicos entre o horizonte do leitor e o do texto. O autor
quer dizer com isso, em primeiro lugar, que não
A Saúde Coletiva pode ser definida como um existe interpretação neutra, mas que o resultado
campo de produção de conhecimento interdisci- final é a junção entre a perspectiva histórica do
plinar, na interseção entre a Ciência da Natureza interprete e a sua leitura do texto. Por conseguin-
e a Ciência dos Homens. Enquanto a primeira te, não existe conhecimento sem pressupostos
está preocupada com as regularidades dos fenô- como postulam o Iluminismo e o Positivismo,
menos através de leis gerais de caráter funcional mas que todo conhecimento está inevitavelmente
de causas e efeitos, a segunda estaria preocupada marcado pelos pré-juízos do autor e do contexto
justamente no que os fenômenos apresentam de social que o circunda.
singular28. Para trabalhar essa interseção, esco- O que aqui mais nos interessa da hermenêu-
lhemos as reflexões de Hans-Georg Gadamer29 tica gadameriana é o fato de que as reflexões do
como referência metodológica para o presente autor impossibilitam uma visão na qual existi-
trabalho. O autor constrói uma crítica ao método ria uma interpretação pura ou correta. No nos-
cartesiano, expondo que o exclusivo uso da razão, so contexto, isso quer dizer que as significações
a partir da exclusão da tradição e da autoridade, que apresentarmos de ‘autoridade’, ‘violência’ e
ofusca formas alternativas de abordar a verdade, ‘poder’ não são as únicas possíveis ou melhores
além de não alcançar as certezas “claras e eviden- que as outras. Antes, que a nossa interpretação
tes” que o programa da modernidade prescreve. seja diferente das outras e que possa enriquecer
Gadamer rejeita a verdade como adequação, ou o debate no campo da Saúde Coletiva. Portanto,
seja, a ideia de que seria possível alcançar uma acreditamos que as reflexões teóricas de Hannah
correspondência entre a percepção humana do Arendt acerca da ‘autoridade’, ‘poder’ e ‘violência’
objeto que se quer conhecer e a maneira que o podem contribuir com novas interpretações para
objeto é. o campo da Saúde Coletiva, tendo em vista que
A crítica gadameriana acerca da impossibili- se trata de um conjunto teórico ainda pouco ex-
dade de uma completa correspondência entre o plorado30-32.
conhecimento sobre um objeto e o próprio obje-
to de pesquisa ancora-se na visão do autor sobre Poder, violência e autoridade
a linguagem. Essa tem inseparável ligação com na temática da humanização
a tradição: o uso das palavras necessariamente
ressoa os significados que tiveram no passado, No debate acadêmico das publicações exa-
mesmo sendo operativas no presente com novos minadas, poder, violência e autoridade surgiram
conteúdos. Dessa maneira, o próprio racional como categorias conceitualmente relacionadas.
só pode ser entendido a partir dos parâmetros De maneira geral, os autores consideram poder
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e autoridade conceitos equivalentes e que ambos como mecanismos de perpetuação de uma rela-
condicionariam o fenômeno da violência. Ou ção desigual entre profissionais e usuários, cuja
seja, esses autores analisam que a desigualdade finalidade seria a manutenção de uma relação
de poder ou de autoridade dentro da relação en- de submissão, de controle e objetificação do ou-
tre profissional de saúde e usuário estimularia o tro. Autoridade e poder, assim, seriam a origem
fenômeno da violência, sendo este, ademais, um do problema da violência em saúde. Portanto, a
excesso daqueles. solução para o problema da violência na saúde
Esses pesquisadores, cujas publicações foram estaria na diminuição da autoridade e do poder
examinadas entendem que a autoridade profis- dos profissionais, inclusive entendendo-se que o
sional usurparia a fala e o saber dos usuários15. A contrário da assimetria é a emancipação: “A pro-
autoridade também é vista como aquele elemento posta de humanização é um referencial impor-
da relação entre profissional de saúde e usuário tante para transformar a relação profissional-pa-
que justificaria o controle, que demandaria sub- ciente fortemente hierarquizada, numa interação
missão e obediência: “Espera-se da mulher uma emancipatória”33.
atitude de submissão, de obediência, de passivi- Mas examinemos melhor essa proposta de
dade, de silêncio e de aceitação da autoridade do tornar a relação entre profissional de saúde e
profissional como aquele que tem o direito de usuário em uma relação entre iguais, o que já se
controlar e prescrever os horários, as expressões, afigura como proposição complicada de se sus-
a mobilidade, entre outros comportamentos”14. tentar do ponto de vista teórico e prático.
De maneira correlata, os pesquisadores veem a A relação entre profissional de saúde e usuá-
autoridade como fundamento de uma relação rio é, por sua própria constituição, uma relação
violenta entre os próprios profissionais13 e che- entre desiguais, já que não haveria nenhum mo-
gam a equacionar autoridade e tirania18. A partir tivo para um paciente procurar um médico se
dessas reflexões, a conclusão dos pesquisadores é não acreditasse que existe entre eles uma assime-
que a autoridade profissional deveria ser, de toda tria, no mínimo, em relação ao saber acerca dos
forma, evitada: A dura realidade nos mostra que os adoecimentos e das terapêuticas. Como coloca
enfermeiros estão, em sua grande maioria, insatis- o sociólogo Paul Starr34, a autoridade técnica da
feitos com o seu trabalho e com o reconhecimento profissão se funda na legitimidade científica de
da profissão; têm dificuldade de se comunicar com seus conhecimentos e da dependência da socie-
o paciente sem deixar de demonstrar autoridade16. dade em relação a esses mesmos conhecimentos.
O poder aparece, nas publicações seleciona- No entanto, a autoridade não se desdobra inva-
das, com um uso bastante próximo ao de auto- riavelmente em uma relação de mando-obediên-
ridade, por vezes, tal qual sinônimos. Assim, o cia como as publicações que analisamos parecem
poder é tratado como tendo dentro de si a possi- compreender. Como mostraremos, a interpreta-
blidade do exercício da violência como se, poder ção arendtiana defende que uma das situações
e violência, fossem consubstanciais: “como um relacionais que não pertencem à autoridade é a
Problema de Poder: quando a violência física, da obediência automática.
psicológica ou moral é praticada direta ou indi-
retamente por uma pessoa ou grupo de pesso- Medicina liberal: autoridade e tradição
as, contra outra pessoa ou grupo de pessoas ou
coisas. A violência é apenas o instrumento ou Ao contrário das publicações selecionadas
a expressão do poder, e este é o cerne da ques- do campo da Saúde Coletiva que enxergam a
tão”13. Em um plano mais concreto das práticas autoridade como um problema pela sua pre-
de saúde, o poder é visto como a ocultação de dominância na contemporaneidade, a análise
informações sobre os procedimentos e o estado histórico-interpretativa de Arendt35 constata a
de saúde dos usuários por parte dos profissionais, existência de uma profunda crise da autoridade
cujo objetivo seria, como no caso da autoridade, no mundo moderno. A autoridade é entendida
tornar mais desigual a relação entre profissional por Arendt como uma relação especificamente
e usuário8. Dentro dessa desigualdade, o poder é assimétrica entre dois indivíduos. Essa diferença
visto como o elemento que levaria à imposição entre os dois polos da relação não está pautada
da vontade dos profissionais sobre os corpos dos na violência, como numa relação entre senhor
usuários; toda forma de cerceamento de liberda- e escravo, tampouco no convencimento e per-
de, inclusive a decisão sobre a vida e a morte14. suasão, já que estes só podem existir dentro de
Considerando essas reflexões, as publicações uma relação entre iguais: “[...] o que eles [o que
selecionadas enxergam a autoridade e o poder manda e o que obedece] possuem em comum é
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a própria hierarquia, cujo direito e legitimidade decisões, por um lado, nos elementos anatomo-
ambos reconhecem e na qual ambos têm seu lu- fisio-patológicos da transposição do corpo abs-
gar estável predeterminado”35. A autoridade, em trato da ciência para o caso clínico e, por outro,
Arendt, fundamenta-se no reconhecimento dos nas dinâmicas da vida, trabalho, costumes e con-
dois polos acerca de sua condição desigual. dições sociais de seus pacientes. Schraiber27 mos-
Nessa leitura, a violência institucional não es- tra que a medicina liberal foi ainda o tempo em
taria ligada a um excesso de autoridade, mas a seu que o saber prático, a experiência do cotidiano
contrário: “(...) a autoridade exclui a utilização de de trabalho, tinha lugar na prática clínica. Assim,
meios externos de coerção; onde a força é usada, a medicina enquanto prática liberal ancorou-se
a autoridade em si mesmo fracassou”35. Se não na crença dos médicos em seus próprios discer-
funciona nem pela violência e nem pela persua- nimentos, ou seja, acreditavam efetivamente em
são, qual o mecanismo da autoridade? Como ela sua capacidade de bem articular o conhecimento
produz algum tipo de obediência? Segundo Aren- abstrato advindo da ciência com a experiência da
dt, a autoridade é “mais que um conselho e menos prática, reforçando a pessoa do médico como re-
que uma ordem”35, ou seja, a autoridade está jus- ferente da intervenção prudente e segura.
tamente nesse terreno nebuloso entre uma relação Como profissão consultante, um aspecto fun-
entre iguais que funciona através da persuasão e a damental do trabalho médico liberal é a constru-
relação de violência. Para que exista a autoridade é ção de uma boa relação com seus pacientes, para
necessário que esta esteja dotada de legitimidade. que possa prescrever os tratamentos que serão
Dessa maneira, a crise da autoridade é uma crise, utilizados em determinado caso, que esses sejam
antes de tudo, de legitimidade. Para compreender seguidos e que o paciente o procure em caso de
essa crise, será necessário apresentarmos as refle- necessidade. Assim, é necessário que o médico
xões de Arendt acerca do conceito de tradição. conquiste a confiança do paciente dentro do en-
A tradição em Arendt35 é entendida como os contro clínico36.
postulados do passado que auxiliavam os ho- A autoridade médica, dessa forma, ganha le-
mens do presente nos momentos de (in)decisões, gitimidade social por conta de diversos fatores.
de dificuldades e mudanças. Esses postulados são Em primeiro lugar, na medida em que suas prá-
questionados durante o período Moderno, prin- ticas terapêuticas são reconhecidas socialmen-
cipalmente por conta do novo lugar da ciência te como eficientes e eficazes na restauração dos
na vida da sociedade. Assim, esse fio que ligava corpos. Em segundo lugar, como coloca Starr34,
o passado ao futuro é rompido pelo imperativo na dependência social que se cria em relação aos
da dúvida cartesiana que põe em cheque toda conhecimentos e práticas médicas. Por último,
forma de autoridade, de hierarquia e de herança como lembra Freidson37, na sua participação
do passado. Faz-se necessário, então, pensar a que como ‘homens de Estado’ durante o século XIX,
tradição a medicina (como primeira e principal que lhes permite criar normas de fortalecimen-
profissão de saúde) se liga, ou seja, quais elemen- to de sua corporação, progressiva legitimação de
tos ajudaram os médicos a nomear e selecionar, seus conhecimentos técnicos e das ciências bio-
transitar e preservar. médicas que os amparam e o controle (por vezes
Seguindo as entrevistas com médicos pau- exclusão) de quaisquer outras práticas terapêuti-
listas realizadas por Schraiber27, a tradição em cas, adquirindo, de certa forma, um ‘monopólio
medicina está ligada ao ideário do trabalho de sobre o corpo’.
cunho liberal, a saber, aquele no qual o produtor A crise da tradição do trabalho médico, nes-
detém o controle sobre os meios de produção de sa perspectiva, tem duas dimensões consubstan-
seu trabalho. Assim, o profissional liberal detém ciais. Em primeiro lugar, é a pressão das novas
uma autonomia sobre o fluxo de sua clientela, so- (e caras) tecnologias em saúde que empurram a
bre o valor de troca de seu serviço, sobre o modo profissão médica rumo ao trabalho assalariado.
de organizar e produzir seu serviço e uma auto- Em segundo lugar, a crise da tradição do trabalho
nomia técnica na tomada de decisões clínicas27. médico é o rebaixamento de todas essas formas
A imagem daquele médico que carregava de saber – do paciente sobre seu corpo e sua do-
uma pequena maleta rumo à morada de seus pa- ença, do médico sobre tudo aquilo que envolve o
cientes, conhecia sua família, trabalho e hábitos, seu paciente para além do corpo e da doença e,
é o imaginário social que conformou o referente por fim, da própria experiência do médico – em
tradicional da medicina. relação ao conhecimento anatomo-fisio-patoló-
Um trabalho de baixa utilização de tecnolo- gico da ciência.
gia, no qual o profissional fundamentava suas
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Medicina tecnológica e a crise por exames. Essa mudança acarreta um aumento


do trabalho médico de eficiência (do serviço e não necessariamente
da cura), mas traz consigo a substituição do su-
Na medicina tecnológica do século XX, como jeito paciente, com todo o seu contexto de vida,
o próprio nome aponta, a ciência se tornará o pela aplicação quase imediata da biomedicina
grande crivo do trabalho médico. As maquina- do corpo abstrato da ciência sobre o corpo real.
rias tornam impossível o trabalho médico na A importância dos aparatos tecnológicos cresce
modalidade solo e a profissão será empregada tanto na Modernidade que o profissional de saú-
em instituições (públicas e privadas) que terão de torna-se um mero intermediário entre o pa-
as posses dos meios de produção do trabalho. ciente e a tecnologia e do ponto de vista de sua
Embora os médicos continuem com a autono- técnica, mais um refém do que seu agente.
mia técnica, perderam o controle sobre o fluxo O processo do rebaixamento do julgamento
de clientes e a negociação sobre a remuneração. do homem em relação ao poderio da maquinaria
Assim, a figura do médico trabalhador liberal fica é, para Arendt38, característico da Modernidade.
somente como ideário no imaginário social da A comprovação telescópica de que é a Terra que
profissão, uma referência mais ideológica da pro- gira em torno do sol e não o contrário, realizada
fissão do que prática materializada na sociedade. por Galileu, eleva ao posto de crivo da verdade os
Como realidade, temos um médico que trabalha instrumentos criados pelo homem, instaurando
em um determinado serviço em que os pacientes de maneira generalizada a desconfiança sobre os
atendidos serão aqueles que surgirem durante o sentidos humanos em relação à busca da verdade.
seu período de trabalho e, se não for um serviço A desconfiança sobre o julgamento médico pa-
de atenção básica, provavelmente somente para rece crescer, na modernidade, em proporção ao
uma ou duas consultas. Com isso, restará ao desenvolvimento dos instrumentos que primei-
médico tratar seu paciente somente em relação ramente auxiliariam o discernimento do profis-
àquele problema específico, acentuando-se a ló- sional, mas que, na contemporaneidade, tendem
gica de tratar a doença muito mais que o doente. a substituí-lo27.
Do lado do paciente, a referência assisten- Assim, o que vemos hoje é um paciente que
cial sai da figura do médico e se encaminha para já ‘sabe’ o exame que ele precisa para detectar de-
o plano de saúde, hospital ou serviço. Assim, o terminada doença e o remédio que necessita para
paciente não procura um médico em específico, saná-la. Com isso, a autoridade sobre as decisões
mas utilizará o serviço que lhe couber pelos con- clínicas parece sair das mãos do julgamento dos
tratos de assistência, ou que for mais próximo ou profissionais rumo às empresas de tecnologia
mais bem referendado. biomédicas e farmacêuticas. Abalada a figura do
Esse fenômeno que atinge os sujeitos da rela- médico como referente da boa prática, a crise da
ção assistencial, seja o agente profissional, seja o autoridade parece criar nos profissionais uma sé-
usuário do serviço, conforma o que Schraiber27 rie de atitudes defensivas. Esses profissionais pro-
chamou de ‘crise dos vínculos de confiança’, ou curam fazer valer uma autoridade que acreditam
seja, que a relação estabelecida diretamente en- ainda mais legítima em razão do maior desenvol-
tre médico e paciente durante a medicina liberal vimento dos fundamentos científicos de sua prá-
muda de conformação com a entrada de um ter- tica. Assim, buscam impor suas perspectivas ao
ceiro elemento na medicina tecnológica. Assim, invés de dialogar com o paciente, assegurando tal
essa relação passa a ser sobredeterminada por um imposição pelo controle que ainda efetivamente
ente externo. Estado ou empresa privada passam detém no acesso às diversas tecnologias, diagnós-
a determinar as condições sobre as quais essa re- ticas e terapêuticas, e no acesso ao próprio siste-
lação ocorrerá, quais os instrumentos, as tecno- ma de saúde. Essas atitudes reforçam a perda da
logias e os medicamentos que estarão disponíveis interação e se apresentam em relações nas quais a
bem como quanto tempo as consultas poderão autoridade é substituída pela violência. Assim, o
durar e sob qual fluxo e dinâmica assistencial irão uso por parte do médico do antigo posto de auto-
ocorrer. ridade que antes ocupava, perdida a legitimidade
A sobredeterminação dessa relação acarreta a para fazê-lo, transforma-se apenas em exercício
despersonificação dos entes envolvidos, no senti- de mando e controle do paciente, situação em
do de que o médico torna-se um nome que cons- que, como diz Arendt39, não há nada mais ali de
ta na lista do convênio e o paciente um número poder, apenas violência.
na fila do atendimento. Essa transformação pode Enquanto o poder, em Arendt38, é conceitu-
ser vista, por exemplo, na diminuição progressi- ado como uma ação orquestrada e decidida en-
va do tempo de consulta e sua quase substituição tre homens iguais para o exercício da política e é
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um fim em si mesmo, a violência é compreendi- parte dos profissionais de saúde, como se estes
da pela autora como um meio: “do cano de uma estivessem impondo uma vontade pessoal sobre
arma emerge o comando mais efetivo, resultando os corpos dos usuários. O que aparece dentro dos
na mais perfeita e instantânea obediência. O que relatos1 produzidos dentro do campo da Saúde
nunca emergirá daí é o poder”38. Assim, quanto Coletiva é a violência perpetrada dentro dos ser-
mais poder, ou seja, quanto mais podemos decidir viços de saúde como a imposição literal e irrestri-
e agir em conjunto, menos violência. Resta saber, ta de normas técnicas, de gestão e de tecnologia.
seguindo essa linha de raciocínio, para qual fim a Assim, a violência parece ter origem no fim da
violência institucional em saúde seria um meio. autoridade em saúde dos profissionais e o esva-
Parece-nos que a violência institucional ziamento dos espaços políticos de poder dentro
cumpre o papel de adequar os corpos reais, sua da relação clínica, tomados de assalto pelo desen-
história e a subjetividade do paciente dentro das volvimento tecnológico, pela divisão do trabalho
rotinas de procedimentos, das burocracias e das em saúde que gera um mecanismo parcelar do
técnicas dos serviços de saúde. Ao contrário da cuidado e as novas conformações do trabalho
prática médica liberal, na qual o trabalho do mé- dentro da saúde. Não se trata de excluir a divi-
dico era adequar, através de seu julgamento, os são do trabalho ou a tecnologia dos serviços. Mas
conhecimentos científicos dos corpos em abs- a grande necessidade parece ser encontrar um
trato relativamente ao corpo concreto, através equilíbrio entre o desenvolvimento tecnológico
do famoso imperativo ‘cada caso é um caso’, a e as novas conformações do trabalho com a sin-
medicina tecnológica inverte essa relação. Duas gularidade de cada caso. O que torna cada caso
ordens de fenômenos parecem condicionar essa (em verdade, cada sujeito) único é justamente o
situação. Do ponto de vista das dinâmicas pro- elemento que não pode ser abarcado pela ciência
dutivas dentro de nossa sociedade, a divisão do ou pelas suas derivações tecnológicas.
trabalho em saúde – a especialização do trabalho A singularidade não é o objeto da ciência em
médico e o surgimento de todas as demais pro- sua busca por uniformidade e constância nos fe-
fissões de saúde, referidas como paramédicas por nômenos que estuda. A singularidade, em verda-
Freidson37 – privilegia a dimensão biomédica no de, é objeto do cuidado que busca a transposição
tratamento dos problemas de saúde através da dos entes abstratos que a ciência cria para os cor-
fragmentação do corpo em unidades autônomas pos reais dos casos clínicos.
cuja responsabilidade é rotina de procedimentos
constantes e desconectados. Do ponto de vista
epistemológico, a hegemonia da ciência (e de Considerações Finais
seus subprodutos como a tecnologia) como úni-
co critério de verdade na Modernidade exclui da Em primeiro lugar, é importante salientar que as
cena clínica toda sorte de outros conhecimentos, críticas à medicina tecnológica e a sua compara-
ignorando dos pacientes o saber sobre a sua pró- ção com o modelo anterior não significam que
pria experiência de adoecimento e dos profissio- defendemos um retorno aos tempos da medici-
nais a possibilidade de julgar aquele caso especí- na liberal, como se se tratasse de um saudosis-
fico através de suas singularidades. mo romântico do passado. A institucionalização
Por esse caminho de pensamento podemos do trabalho em saúde, a divisão do trabalho e o
compreender como se conectam casos de vio- desenvolvimento científico-tecnológico da área
lência institucional em saúde tão díspares ao foram mudanças decisivas para o acesso de largas
mesmo tempo em que tão frequentes. Por esses porções da população já que, na medicina liberal,
mecanismos que os usuários de saúde mental a cobertura de atendimento era restrita às elites
experienciam a violência como a massificação de e pequenas porções das classes médias urbanas36.
sua condição40. As mulheres se sentem violenta- Em segundo lugar, parece-nos que o pro-
das nos serviços se não têm um comportamento blema da violência institucional na saúde não
padronizado dentro do trabalho de parto7 e sen- é, a priori, um problema que pode ser resolvido
tem o ambiente dos serviços como se constituin- através de mudanças educacionais dentro dos
do através de um padrão industrial, tal qual fosse currículos das graduações de saúde. Como nossa
uma ‘fábrica de bebês’. interpretação engendra uma crítica ao lugar da
Portanto, defendemos que a violência nos ciência dentro dos regimes de verdade da socie-
serviços de saúde não está pautada em um ex- dade contemporânea e as novas conformações
cesso de poder ou autoridade dos profissionais. do trabalho em saúde, propostas educacionais
Não nos parece que a violência institucional te- podem atuar sobre a primeira questão, mas difi-
nha como causa um poder do tipo tirânico por cilmente afetam a segunda.
3020
Azeredo YN, Schraiber LB

A crise, para Arendt35, não é vista como um lhados através dos mecanismos de democracia
desajuste que pode ser consertado sem que se direta, que o SUS é a grande vanguarda desde a
mexa no funcionamento geral da estrutura. A cri- constituição de 1988, dentro dos serviços. Nessa
se aparece como uma oportunidade de mudança. situação, ao contrário do encontro clínico que
Oportunidade para refletir e transformar. As- entendemos ser necessariamente uma relação
sim, parece-nos fundamental que se reconstrua assimétrica, as distinções entre profissionais e
a autoridade dos profissionais de saúde. Como já usuários devem ser deixadas de lado em detri-
dissemos, não se trata de retornar à autoridade mento a investidura social de cidadão que todos
médica da medicina liberal, mas construir algo compartilham. Uma gestão mais próxima e mais
novo, que inclua as outras profissões dentro de democrática parece ser o caminho mais adequa-
uma perspectiva coletiva e multiprofissional. É do para se enfrentar a violência gerada pela buro-
necessário que se construam práticas de saúde cracia e pelas rotinas de trabalho.
com saberes múltiplos, científicos ou não, que Por fim, gostaríamos de reafirmar a impor-
possam compor um julgamento coletivo sobre tância dos aportes filosóficos que têm na Saúde
o caso real. Nesse sentido, nos aproximamos das Coletiva um lugar privilegiado dentro da gran-
reflexões de Ayres41 sobre o êxito técnico e o su- de área da Saúde. As distinções conceituais e as
cesso prático. O primeiro seria a dimensão estri- diferentes visões que os aportes filosóficos tra-
tamente científica e técnica. Mas, para se alcançar zem sobre os fenômenos sociais são uma aposta
a dimensão do sucesso prático, será necessário muito interessante para se enriquecer o debate e
incluir os saberes do paciente acerca do seu corpo propiciar um terreno fértil para novas propostas
(e os usos que faz dele), da sua experiência sobre na área de Saúde. As reflexões de Hannah Aren-
o adoecimento bem como os saberes práticos ad- dt, nesse sentido, nos parecem pertinentes e que
vindo da experiência dos profissionais. muito podem contribuir nos debates da Saúde
Os problemas gerados pelas novas confor- Coletiva.
mações da produção de saúde podem ser traba-

Colaboradores Agradecimentos

Os autores YN Azeredo e LB Schraiber participa- Este artigo contou com apoio CNPq.
ram igualmente de todas as etapas de elaboração
do artigo.
3021

Ciência & Saúde Coletiva, 22(9):3013-3022, 2017


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Artigo apresentado em 05/01/2017


Aprovado em 18/04/2017
Versão final apresentada em 12/06/2017

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