Por que estudar gramática? Mostrar que ensino de gramática tem papel importante tanto na formação do aluno da educação básica, como na formação dos professores nos cursos de letras. Contribuir para discussão e reflexão de fenômenos gramaticais que envolvem a língua em uso. Apontar caminhos que levem a outras possibilidades de exploração dos recursos expressivos da língua para a construção do sentido. O conhecimento do professor deve ir muito além daquilo que ele ensina.
Ensinar gramática é operar com o
conhecimento que o falante tem de sua própria língua. Levando em consideração a concepção de que a língua é flexível e sofre mudanças com o uso que dela fazem os falantes, o primeiro passo para que o professor trabalhe a gramática de forma que realmente atenda às necessidades reais de aprendizagem de seus alunos, é levá-los a refletir sobre a língua. Para isso, o professor deverá realizar pesquisas, observando em situações reais comunicativas os fenômenos linguísticos que mais ocorrem, e a partir dessas observações, contrastar esses fenômenos com as regras gramaticais. Assim, o aluno irá compreender que, dependendo do contexto ou da situação comunicativa, ele pode ou não empregar determinadas regras. Fonética e fonologia (nível dos sons) Morfologia (nível das palavras) Sintaxe (nível das frases) O texto (nível da unidade construída acima das frases) A enunciação (nível das intenções com que os textos são produzidos) O discurso (nível da interação entre os locutores). Morfema → Vocábulo → Sintagma → Frase → Texto O cachorrr- cachorro o cachorro O cachorro O cachorro morreu morreu?
Observações: Para diferenciar a unidade linguística frase da unidade considerada texto, é
necessário recorrer ao contexto ou situação de comunicação. Qualquer unidade linguística pode assumir um status de texto desde que inserida em um determinado contexto. Morfemas lexicais – inventário aberto: substantivos, adjetivos, verbos, advérbios nominais. Morfemas gramaticais - inventário fechado: Dependentes: prefixos, sufixos, vogais temáticas, desinências. Independentes: artigos, preposições, pronomes, numerais, advérbios pronominais Imaginemos os seguintes diálogos:
A – Você tem horas?
B – Sim, são 10 horas.
A – Você sabia que a sala da coordenação vai
fechar para reforma? B- Bem, o instituto é grande. Há muitas outras salas. Texto: é o produto de uma enunciação. Enunciação: é a intenção do falante quando produz um texto. Discurso: instância de interlocução em que são atribuídos os sentidos do texto. A Semântica é o estudo dos significados da língua A Pragmática é a ciência que se ocupa do estudo da enunciação. Morfologia: estuda a palavra e seus constituintes (morfemas radicais e morfemas afixos). Sintaxe: investiga como as palavras são organizadas de modo a formar frases. Semântica: investiga o significado das sentenças. Pragmática: estuda a maneira pela qual a gramática, como um todo, pode ser usada em situações comunicativas concretas.
Exemplo: A porta está aberta. Forma, função e sentido
Homem grande - Grande homem
Funcionário novo - Novo funcionário
Essa foi a melhor sala para o curso acontecer.
Essa foi a melhor hora para o curso acontecer.
Personagem esquisita /Um bonito personagem
Esse pires está limpo / muitos pires estão sujos Texto I Texto II
“Marinheiro triste Marinheiro que voltas
que voltas para bordo triste para bordo Que pensamentos são que pensamentos são esses que te ocupam? esses que te ocupam?”
(Manuel Bandeira) Compare:
Paulo foi criticado quando lutava pelos colegas.
Paulo foi criticado, quando lutava, pelos
colegas Substantivo: palavra que se deixa anteceder pelos determinantes. Adjetivo: palavra variável em gênero e/ou número que se deixa anteceder por “tão” (ou qualquer outro intensificador como bem ou muito) Verbo: palavra marcada pelas desinências número- pessoais/modo-temporais e que se articulam com os pronomes pessoais do caso reto Advérbio: palavra invariável em gênero e/ou número que se deixa anteceder por “tão” (ou qualquer outro intensificador como bem ou muito) Observação: Há alguns advérbios que funcionam como nomes: agora, hoje, ontem, amanhã, nunca, sempre. Há alguns advérbios que funcionam como pronomes e, como estes, fazem parte do inventário fechado da língua, sendo, pois, mais fácil de se reconhecer: aqui, lá, acolá. Advérbios como meio, mais, menos e demais não se deixam anteceder por tão, mas seguem as mesmas condições de serem invariáveis e articulam-se com adjetivo ou verbo (Ela está meio cansada. Ela falou menos) A professora de Literatura americana A professora de Literatura americana Um dono de restaurante italiano Um dono de restaurante caro Uma blusa de renda importada A cortina de seda antiga A música da concertista premiada A mesa de madeira valiosa A professora da faculdade nova A fábrica de roupa francesa O projeto do jardim japonês O vestido de renda importado A aluna deixou a sala agitada. A aluna deixou a sala agitada. A aluna deixou a sala agitada. Com esses apontamentos, percebemos que é essencial no ensino de gramática tratar de descrever, entender e explicar a língua, levando em conta as suas mudanças e transformações. Esses estudos, portanto, não podem ficar estagnados, devem sempre ser revistos e incorporados às novas concepções linguísticas. O ensino de gramática não pode limitar-se a regras preestabelecidas nos manuais, alheando-se das pesquisas linguísticas. O ensino de gramática não deve limitar-se a buscar a resposta, o certo, o errado. Esse ensino deve, como as ciências, trabalhar com a dúvida, questionar, testar as hipóteses. Nessa perspectiva, o professor poderá desenvolver estratégias, levando em consideração os fenômenos linguísticos analisados, desenvolvendo propostas pedagógicas que se fundamentem no que realmente é relevante para a aprendizagem dos alunos, tornando-os capazes de refletir sobre os fenômenos linguísticos, sobre a riqueza da língua e suas várias nuances e, consequentemente, tornarem-se mais capacitados para a escrita e a fala, produzindo textos coerentes nos diversos contextos comunicativos. KENEDY, Eduardo; OTHERO, Gabriel. Para conhecer Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2028.
MARTINS, Marco Antônio (org.). Gramática e ensino.