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Gramática, criatividade e uso

Professora Dra. Benedita Vieira de Andrade


 Por que estudar gramática?
 Mostrar que ensino de gramática tem papel
importante tanto na formação do aluno da
educação básica, como na formação dos
professores nos cursos de letras.
 Contribuir para discussão e reflexão de
fenômenos gramaticais que envolvem a
língua em uso.
 Apontar caminhos que levem a outras
possibilidades de exploração dos recursos
expressivos da língua para a construção do
sentido.
 O conhecimento do professor deve ir muito
além daquilo que ele ensina.

 Ensinar gramática é operar com o


conhecimento que o falante tem de sua
própria língua.
 Levando em consideração a concepção de
que a língua é flexível e sofre mudanças com
o uso que dela fazem os falantes, o primeiro
passo para que o professor trabalhe a
gramática de forma que realmente atenda às
necessidades reais de aprendizagem de seus
alunos, é levá-los a refletir sobre a língua.
 Para isso, o professor deverá realizar
pesquisas, observando em situações reais
comunicativas os fenômenos linguísticos que
mais ocorrem, e a partir dessas observações,
contrastar esses fenômenos com as regras
gramaticais. Assim, o aluno irá compreender
que, dependendo do contexto ou da situação
comunicativa, ele pode ou não empregar
determinadas regras.
 Fonética e fonologia (nível dos sons)
 Morfologia (nível das palavras)
 Sintaxe (nível das frases)
 O texto (nível da unidade construída acima
das frases)
 A enunciação (nível das intenções com que os
textos são produzidos)
 O discurso (nível da interação entre os
locutores).
Morfema → Vocábulo → Sintagma → Frase → Texto
O cachorrr- cachorro o cachorro O cachorro O cachorro
morreu morreu?

Observações: Para diferenciar a unidade linguística frase da unidade considerada texto, é


necessário recorrer ao contexto ou situação de comunicação.
Qualquer unidade linguística pode assumir um status de texto desde que inserida em um
determinado contexto.
 Morfemas lexicais – inventário aberto:
substantivos, adjetivos, verbos, advérbios
nominais.
 Morfemas gramaticais - inventário fechado:
 Dependentes: prefixos, sufixos, vogais
temáticas, desinências.
 Independentes:
 artigos, preposições, pronomes, numerais,
advérbios pronominais
Imaginemos os seguintes diálogos:

A – Você tem horas?


B – Sim, são 10 horas.

A – Você sabia que a sala da coordenação vai


fechar para reforma?
B- Bem, o instituto é grande. Há muitas outras
salas.
 Texto: é o produto de uma enunciação.
 Enunciação: é a intenção do falante quando
produz um texto.
 Discurso: instância de interlocução em que
são atribuídos os sentidos do texto.
 A Semântica é o estudo dos significados da
língua
 A Pragmática é a ciência que se ocupa do
estudo da enunciação.
 Morfologia: estuda a palavra e seus constituintes
(morfemas radicais e morfemas afixos).
 Sintaxe: investiga como as palavras são
organizadas de modo a formar frases.
 Semântica: investiga o significado das sentenças.
 Pragmática: estuda a maneira pela qual a
gramática, como um todo, pode ser usada em
situações comunicativas concretas.

Exemplo:
A porta está aberta.
 Forma, função e sentido

Homem grande - Grande homem


Funcionário novo - Novo funcionário

Essa foi a melhor sala para o curso acontecer.


Essa foi a melhor hora para o curso acontecer.

Personagem esquisita /Um bonito personagem


Esse pires está limpo / muitos pires estão sujos
Texto I Texto II

“Marinheiro triste Marinheiro que voltas


que voltas para bordo triste para bordo
Que pensamentos são
que pensamentos são
esses que te ocupam?
esses que te ocupam?”

(Manuel Bandeira)
Compare:

Paulo foi criticado quando lutava pelos colegas.

Paulo foi criticado, quando lutava, pelos


colegas
 Substantivo: palavra que se deixa anteceder pelos
determinantes.
 Adjetivo: palavra variável em gênero e/ou número
que se deixa anteceder por “tão” (ou qualquer
outro intensificador como bem ou muito)
 Verbo: palavra marcada pelas desinências número-
pessoais/modo-temporais e que se articulam com
os pronomes pessoais do caso reto
 Advérbio: palavra invariável em gênero e/ou
número que se deixa anteceder por “tão” (ou
qualquer outro intensificador como bem ou muito)
 Observação:
 Há alguns advérbios que funcionam como nomes:
agora, hoje, ontem, amanhã, nunca, sempre.
 Há alguns advérbios que funcionam como
pronomes e, como estes, fazem parte do inventário
fechado da língua, sendo, pois, mais fácil de se
reconhecer: aqui, lá, acolá.
 Advérbios como meio, mais, menos e demais não
se deixam anteceder por tão, mas seguem as
mesmas condições de serem invariáveis e
articulam-se com adjetivo ou verbo (Ela está meio
cansada. Ela falou menos)
 A professora de Literatura americana
 A professora de Literatura americana
 Um dono de restaurante italiano
 Um dono de restaurante caro
 Uma blusa de renda importada
 A cortina de seda antiga
 A música da concertista premiada
 A mesa de madeira valiosa
 A professora da faculdade nova
 A fábrica de roupa francesa
 O projeto do jardim japonês
 O vestido de renda importado
 A aluna deixou a sala agitada.
 A aluna deixou a sala agitada.
 A aluna deixou a sala agitada.
Com esses apontamentos, percebemos que é
essencial no ensino de gramática tratar de
descrever, entender e explicar a língua, levando
em conta as suas mudanças e transformações.
Esses estudos, portanto, não podem ficar
estagnados, devem sempre ser revistos e
incorporados às novas concepções linguísticas. O
ensino de gramática não pode limitar-se a regras
preestabelecidas nos manuais, alheando-se das
pesquisas linguísticas. O ensino de gramática não
deve limitar-se a buscar a resposta, o certo, o
errado. Esse ensino deve, como as ciências,
trabalhar com a dúvida, questionar, testar as
hipóteses.
Nessa perspectiva, o professor poderá desenvolver
estratégias, levando em consideração os
fenômenos linguísticos analisados, desenvolvendo
propostas pedagógicas que se fundamentem no
que realmente é relevante para a aprendizagem
dos alunos, tornando-os capazes de refletir sobre
os fenômenos linguísticos, sobre a riqueza da
língua e suas várias nuances e, consequentemente,
tornarem-se mais capacitados para a escrita e a
fala, produzindo textos coerentes nos diversos
contextos comunicativos.
KENEDY, Eduardo; OTHERO, Gabriel. Para conhecer
Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2028.

MARTINS, Marco Antônio (org.). Gramática e ensino.


Natal: EDUFRN, 2013.

SAUTCHUK, Inez. Prática de Morfossintaxe. 3. ed.


Barueri, SP: Manole, 2018

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