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[27/03/2020] [13:29]
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Em novembro de 2015, dois familiares do ditador venezuelano Nicolás Maduro foram
presos em flagrante no Haiti. Eles estavam negociando com um agente encoberto da
Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA, conforme a sigla em inglês) o envio de 800
quilos de cocaína para os Estados Unidos. Várias outras evidências já confirmavam que não
existia uma fronteira entre o regime venezuelano e o narcotráfico, mas a prisão de um
sobrinho do presidente, que era tratado por ele como filho, levou para dentro o seio da
família a vinculação com o tráfico de cocaína.
Nesta semana, Nicolás Maduro foi formalmente denunciado pela Justiça dos Estados
Unidos. O procurador-geral William Barr leu a lista de crimes pelos quais o venezuelano é
acusado: narcotráfico, terrorismo internacional e corrupção. Além de Maduro, foram
denunciados outros quatorze chavistas, entre eles o ministro da Defesa, Vladimir Padrino;
o presidente da Suprema Corte, Maikel Moreno; e o poderoso Diosdado Cabello, peça
central no comando do tráfico de drogas na Venezuela.
Esta é a primeira vez, desde o final dos anos 1980, que os Estados Unidos acusam
formalmente um presidente por narcotráfico. Antes de Maduro, apenas o panamenho
Manuel Noriega, preso em dezembro de 1989.
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O clássico narcoestado. Situação em que o poder formal é penetrado pelo crime e com ele
cria uma relação de mutualismo na qual políticos criminosos e criminosos políticos
interagem para o bem de seus negócios. Situação em que a corrupção e o crime funcionam
no coração das instituições, mas nas trevas. Por serem absolutamente incompatíveis a
normalidade institucional do país que ainda sobrevive.
Na Venezuela, Hugo Chávez foi além. Quando atendeu a um conselho de Fidel Castro, ele
construiu as bases do que projetaria a Venezuela para além do que foi o narcoestado
colombiano.
Sob a orientação de Fidel Castro, Chávez fez isso sob a “justificativa moral”. A cocaína seria
usada como arma contra o inimigo eterno, os Estados Unidos. Além disso, seria um ato de
solidariedade para com as FARC, que na Colômbia caminhavam para uma derrota militar.
“Cocaína como arma”, como finalmente as autoridades americanas entenderam, não é uma
novidade para os cubanos. Em 1983, Fidel Castro fechou um contrato com Pablo Escobar
para enviar milhares de quilos de cocaína para os Estados Unidos. O ditador cubano
recebia 1 milhão de dólares por dia para oferecer Cuba como base operacional.
Armazenava a droga que chegava da Colômbia em pequenos aviões e oferecia a
infraestrutura militar, como radares para monitorar a presença da Guarda Costeira
americana.
Maduro, seus generais e auxiliares mais próximos finalmente passam a ser vistos não mais
como autoridades políticas, mas chefes e membros de uma organização de crime
transnacional em escala estatal. Capaz de distribuir toneladas de cocaína pelo mundo, lavar
dinheiro por meio de empresas públicas como a petroleira PDVSA, usar veículos e aviões
militares para o transporte de drogas em escala industrial e, como se não bastasse
gozando da legitimidade de um Estado formal com direito a assento e influência em todos
os organismos multilaterais internacionais.
Para fins ilustrativos, seria como pensar Marcola do PCC fazendo discurso na Assembleia-
Geral da ONU e indicando alguns de seus parças para fazer parte do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas. Surreal? Não. Para o “estado-narco” de Nicolas Maduro, não.
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Leonardo Coutinho
Jornalista, autor do livro “Hugo Chávez, o espectro”, pesquisador e comentarista sobre
segurança e relações internacionais. Escreve semanalmente, desde Washington, D.C.
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