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semináriosfolha

NORUEGA
HHH
ab
quinta-Feira, 26 De novembro De 2015

ALEMA-
NHA

FRANÇA

VIGILÂNCIA GLOBAL
Instrumentos usados ESPANHA
VIGILÂNCIA
para GLOBAL
reduzir as emis-
Instrumentos
sões usados
de carbono ITÁLIA
para reduzir as
ISLÂNDIA SUÍÇA
emissões de carbono

ETS (sistema de REINO


comércio de carbono, na UNIDO
JAPÃO
sigla em inglês) imple-
CALIFÓRNIA CHINA
mentada ou em vias de PORTUGAL
implementação
TAIWAN
Tarifa de carbono
implementada ou em MÉXICO
vias de implementação
TAILÂNDIA

ETS ou tarifa de
carbono em estudo
BRASIL

ETS e tarifa de RIO DE JANEIRO


carbono implementada
ou em vias de imple- SÃO PAULO ÁFRICA
mentação DO SUL

CHILE
ETS implementado
ou agendado, tarifa de NOVA ZELÂNDIA
carbono em estudo

Tarifa de carbono
implementada ou
agendada, ets em estudo

FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO
carbono
baixo
Quando cientistas do Pai-
nel Intergovernamental sobre
Entenda por
que os países
querem reduzir
em Sustentabilidade da Fun-
dação Getúlio Vargas).
Se a tarifa for muito baixa,
pode-se optar por incluir seu
valor nos custos de produção
emissões previamente esta-
belecida, o preço das cotas
flutua de acordo com a lei da
oferta e da procura.
A União Europeia criou o
Mudança do Clima (IPCC) e continuar a poluir. Se for primeiro mercado de emissão
apresentaram seu primeiro a emissão de muito alta, os custos podem de carbono do mundo (ETS
estudo a respeito do impacto aumentar significativamen- EU) e, com a recessão pós-cri-
da atividade humana sobre a carbono e que te, comprometendo lucro, se financeira de 2008, o pre-
atmosfera, em 1990, os gases
de efeito estufa foram apon- armas usam emprego e consumo.
“Muitos países resistem à
ço da tonelada despencou.
qual é o melhor?
tados como grandes vilões do
aquecimento global.
para isso ideia de taxas, especialmen-
te aqueles que dependem de- Apesar de terem o mesmo
E foi dada a largada para o mais da queima de recursos objetivo, a tarifa e o mercado
debate sobre o controle de fósseis, como a Índia”, rela- são instrumentos diferentes.
emissões de carbono —seja ta José Eli da Veiga, professor Enquanto a tarifa controla o
pelo setor produtivo, seja por ção é difusa, é difícil contro- da Faculdade de Economia e preço, mas não a quantidade
indivíduos— cujo modelo es- lar e valorar sua emissão”, diz Administração da USP. total de emissões, o mercado
tá longe de um consenso. Felipe Botini, sócio-fundador controla este limite, mas não
Quem deve pagar a conta? da consultoria em sustenta- o uso do mercado o preço do carbono.
Países desenvolvidos, cuja ri- bilidade Green Domus. O segundo instrumento, Há economistas que reco-
queza foi em boa parte cons- chamado tecnicamente de mendem modelos híbridos,
truída a partir da queima de o uso de tributos sistema “cap-and-trade” (te- em que cada instrumento é
combustíveis fósseis, portan- De Kyoto para cá, no entan- to e comércio, em inglês) ou aplicado em um setor diferen-
to, emissores de dióxido de to, floresceram arranjos na- de ETS (sistema de comércio te, ou ainda o estabelecimen-
carbono (CO₂)? Ou países em cionais e subnacionais de de emissões, na sigla em in- to de um teto de emissões ao
desenvolvimento, que ainda contenção de emissões, que glês), estabelece um nível mesmo tempo em que o pre-
poderiam se beneficiar dessas se valem de dois instrumen- máximo de emissões permi- ço do carbono é ajustado pa-
fontes poluentes de energia? tos: a tarifação e a criação de tidas para certo período e dis- ra se manter dentro de uma
O dilema entrou nas dis- um mercado de carbono. tribui cotas entre empresas. margem aceitável.
cussões do Protocolo de Kyo- O primeiro instrumento Essas cotas de emissão de “Não existe receita com
to (tratado das Nações Uni- impõe um tributo por unida- carbono podem ser inicial- instrumento único que resol-
das para conter as mudanças de de carbono emitida (geral- mente distribuídas ou leiloa- va todos os problemas. É ne-
do clima, de 1997), que criou mente, por tonelada de CO₂) das pelo governo e são poste- cessário um conjunto de ins-
um mecanismo no qual paí- que funciona como incentivo riormente comercializadas trumentos para se criar uma
ses ricos poderiam comprar para que empresas reduzam entre emissores. Cada tone- política ambiental”, destaca
“créditos” de carbono dos a poluição que provocam. lada de CO₂ emitida por uma Osório.
países que usavam fontes me- “O tributo determina o pre- empresa precisa ter uma co- Um problema de base, no
nos poluentes. ço do carbono, e o desafio é ta como lastro. entanto, permanece em qual-
A assinatura e ratificação acertar o preço que leve à re- Como alguns setores têm quer cenário futuro, como
do Protocolo de Kyoto foi tão dução desejada pela política mais facilidade em renovar aponta Eli da Veiga: “Todo
controversa e lenta que ele só de clima”, afirma Guarany seus processos para reduzir mundo quer que o vizinho to-
entrou em vigor em 2005. Osório, coordenador de Polí- a emissão de poluentes que me uma medida contra emis-
“Hoje, a questão é o valor tica e Economia Ambiental outros, e como o número de sões porque ele mesmo não
do carbono. Como a produ- da FVCes (Centro de Estudos cotas é limitado pela meta de quer perdercompetitividade”.
2 semináriosfolha HHH quinta-Feira, 26 De novembro De 2015 ab

‘Imposto verde’ quer CUSTOS E BENEFÍCIOS


Qual o impacto do tributo por tonelada emitida de CO2?

unir ação ambiental


com tributo de com tributo de com tributo de
US$ 10 por US$ 50 por US$ 36 por
tonelada, tonelada, tonelada
o impacto é de... o impacto é de... + simplificação do

e competitividade
PIS-Cofins,
o impacto é de...
Emissões
(em milhões de toneladas de CO2)

Sozinha, nova taxa derrubaria PIB em até 1%, mas, com


reforma do PIS-Cofins proposta, aqueceria a economia

MARCELO LEITE que os efeitos aqui analisa- ganização ineficiente da es- -1,2
DE SÃO PAULO dos são de curto prazo”, diz
o estudo, “referindo-se ape-
trutura produtiva do país.
Além disso, a legislação é
-1,6
Nem todos os economistas nas à redução na demanda cheia de regimes especiais,
do Brasil têm olhos só para a por produtos intensivos em que tornam esse tributo mui-
crise do governo Dilma Rous- combustíveis fósseis e não to complexo. As normas do
seff. Alguns se preocupam considerando mudanças tec- PIS-Cofins, diz Appy, somam
também com a mudança do nológicas e/ou mudança de mais de 1.800 páginas. “É um
clima, tema da Conferência combustíveis, como, por inferno.”
de Paris que começa segun- exemplo, de gasolina para Na hipótese simulada pe-
da-feira (30), e perguntam: etanol, cujo impacto tende a lo estudo do Escolhas, a sim-
o que aconteceria se o país ser muito mais relevante.” plificação tornaria esse tribu-
adotasse um imposto sobre o Só que a premissa do estu- to mais parecido com um im-
carbono? do nunca foi a de aumentar a posto sobre valor agregado
A resposta se acha no pri- arrecadação, e, sim, investi- (IVA), não cumulativo.
meiro estudo produzido pelo
Instituto Escolhas, “Taxação
gar o efeito de uma única ca-
jadada para matar dois coe-
A alíquota seria de 6,6%,
uniforme para todos os bens -6,01
sobre Carbono e Correção de lhos: introduzir um imposto e serviços.
Distorções Tributárias: Im- moderno, já adotado em duas O cálculo do efeito da re-
pactos Econômicos, Sociais, dezenas de países, para com- dução da cumulatividade
Ambientais no Contexto Bra- pensar a queda de receita que apontou que a arrecadação
sileiro”, que foi lançado na resultaria da melhora da qua- do PIS-Cofins perderia R$ 37,4 PIB
última terça-feira (24). lidade de um tributo cheio de bilhões, de um total de R$ 208 (em pontos
O estudo contou com a su- distorções como o PIS-Cofins. bilhões (a preços de 2011). percentuais)
pervisão do economista Ber-
nard Appy. Membro do con-
“Os impactos de tal impos-
to [sobre carbono emitido
O estudo utilizou uma ma-
triz insumo-produto da eco-
Sistemas em uso
selho científico do instituto, com combustíveis fósseis] so- nomia brasileira, com dados -0,19 no mundo têm
o ex-secretário-executivo e bre a competitividade das do Sistema de Contas Nacio-
ex-secretário de Política Eco- empresas são os mais diver- nais e do Balanço Energético efeitos diferentes
nômica do Ministério da Fa- sos”, diz o sumário executivo Nacional, ambos de 2011. -0,94
zenda no governo Lula (2003- do trabalho. DE SÃO PAULO
2009) foi quem propôs o te- “Idealmente, espera-se um imposto neutro
ma inaugural. efeito positivo sobre o merca- No cenário esmiuçado pe- 0,47 Uma alternativa adotada
Nações tão díspares como do, pois a taxação induz em- lo estudo, o imposto sobre em vários países são sistemas
Reino Unido, África do Sul, presas a adotar práticas ino- carbono entraria com a mis- de comércio de emissões
México e Japão estão adotan- vadoras, limpas e mais efi- são de compensar essa que- (ETS, na sigla em inglês),
do a via tributária para pôr cientes, tendendo a excluir a bra de receita. Em outras pa- também conhecidos como
um preço nas emissões de parcela das empresas inefi- lavras, nasceria um imposto Salários “cap-and-trade” (teto e co-
carbono (principalmente cientes e relativamente mais neutro em termos de arreca- (em pontos mércio de emissões).
CO₂, o mais comum dos ga- poluidoras.” dação, mas para isso a alí- percentuais) Neste caso, um governo fi-
ses do efeito estufa). O obje- quota teria de ser de US$ 36 xa a quantidade máxima de
tivo é desestimular a queima VALor AGreGADo por tonelada de CO₂. CO₂ que um ou mais setores
de combustíveis fósseis nos O primeiro defeito do PIS- De acordo com as proje- poderão emitir em determi-
setores de energia e transpor- Cofins é a complicação. Há ções do Instituto Escolhas, a nado período. Essa quantia-
tes, maiores fontes de polui- dois regimes em vigor, depen- compensação não resultaria -0,16 teto é então repartida em per-
ção climática no mundo. dendo do tipo de empresa. O num jogo de soma zero, mas missões distribuídas entre as
cumulativo tem alíquota de em saldo positivo. empresas, que podem com-
efeito sobre o pib 3,65% sobre o faturamento, e Não só não haveria amea- -0,79 prá-las e vendê-las.
Se fosse apenas mais um as empresas não se apro- ça ao equilíbrio fiscal como o A filosofia do “cap-and-tra-
imposto, a taxação do carbo- priam de qualquer crédito, aperfeiçoamento do PIS-Co- de” é criar um incentivo para
no —na média do que se pra- mas têm a competitividade de fins favoreceria os preços re- que firmas se esforcem para
tica no exterior, US$ 10 por seus produtos prejudicada. lativos de vários produtos que 0,41 ficar abaixo da cota recebida,
tonelada emitida de CO₂ (dió- No regime não cumulativo, o Brasil exporta, com aumen- pois assim poderão obter re-
xido de carbono)— tiraria a alíquota é de 9,25%, e as fir- to da competitividade exter- ceita financeira com a venda
quase 0,2 ponto percentual mas têm direito a crédito so- na e discreto incremento no dos créditos que sobrarem.
do crescimento do PIB brasi- bre os insumos adquiridos. PIB (0,47 ponto percentual). A vantagem desse sistema
leiro. Se a alíquota do novo Mas, para a Receita Federal, “Se a introdução do im- é que se conhece de antemão,
imposto fosse de US$ 50 por só geram créditos os insumos posto sobre emissões for de forma precisa, quanto se-
tonelada de CO₂, a queda se- fisicamente incorporados ao acompanhada de medidas rá emitido. Já o imposto se
ria de quase um ponto per- produto. compensatórias de desone- Emprego mostra mais promissor quan-
centual do PIB. Como ele já Na prática, abre-se um ração das exportações e one- (em pontos do o objetivo é diminuir as
cai sozinho para trás, seria enorme contencioso entre ração das importações, o im- percentuais) emissões de um setor oligo-
mais um tiro no pé. empresas e fisco sobre o que pacto sobre a competitivida- polizado, como o de energia
Haveria também impacto deve ser considerado insumo, de será positivo para todos na África do Sul.
sobre um universo de 99.560 ou não. os setores”, afirma o sumá- -0,21
postos de trabalho: queda de Por causa dos vários defei- rio executivo. sob meDiDA
0,2 ponto percentual no caso tos do PIS-Cofins, o imposto “Não estamos defendendo “Não existe sistema mais
da primeira alíquota e de um se acumula ao longo da ca- que se faça isso”, apressa-se fácil ou mais adequado”, afir-
ponto, no da segunda. deia produtiva —o tributo pa- em esclarecer Appy. “Nosso -1,03 ma Alexandre Kossoy, econo-
Por outro lado, as emissões go numa etapa não é recupe- objetivo é trazer os números mista brasileiro da Unidade
caem apenas 1,2 milhão e 6 rado como crédito na etapa para a discussão. Não sei nem de Finanças de Carbono no
milhões de toneladas anuais, seguinte. A consequência é a se um imposto é o melhor 0,53 Banco Mundial.
respectivamente. perda de competitividade da [meio de precificar o carbo- Ele chama a atenção para
“É importante ressaltar produção nacional e uma or- no] para o Brasil.” o fato de que as emissões na-
cionais se concentrarem em
setores (desmatamento e
agropecuária) que não são os
tradicionalmente visados
(energia e transportes) por es-
quemas de precificação de
carbono.
Para cumprir a meta de re-
Ilustrações William Mur duzir 43% das emissões até
2030, o Brasil precisará de al-
go mais que um imposto so-
Arrecadação bre combustíveis fósseis.
ações William Mur
(em R$ bi) Mas, tendo em vista que a
geração de eletricidade se faz
+ 43,9 cada vez mais com eles e que
a política de preços da Petro-
bras prejudicou o mercado de
etanol, um tributo sobre car-
bono alvejaria justamente os
setores mais poluidores. E
surgiria um incentivo para
adotar mais fontes renováveis
de energia (eólica, solar e bio-
+ 8,9 massa/biocombustíveis).
O Ministério da Fazenda,
em parceria com o Banco
Mundial, já conduz estudos
neutro sobre precificação de emis-
sões de gases do efeito estu-
fa no Brasil. A meta é produ-
zir conclusões e recomenda-
ções até o fim de 2017. (ml)
ab quinta-Feira, 26 De novembro De 2015 HHH semináriosfolha 3

MArinA silVA ex-senadora riCArdo AbrAMoVAy professor titular neCA setubAl educadora e presidente do
(Rede Sustentabilidade) da USP e conselheiro do Instituto Escolhas conselho do Centro de Estudos e Pesquisas
em Educação, Cultura e Ação Comunitária

Sempre disse que é fundamental unir A preocupação sobre precificação de O estudo é muito relevante para o
ecologia e economia. Meio ambiente CO₂ é não aumentar a carga tributária debate entre economistas e
e desenvolvimento são parte de uma para o país. O estudo traz a opção de ambientalistas e levanta questões.
só equação. O esforço de conciliar substituição de um sistema de Será que setores sociais diferentes
essas áreas usando instrumentos de tributação irracional por um tributo precisariam ter taxas de carbono
taxação de CO₂ é muito bem-vindo ambiental sem desonerar nada diferentes? É preciso discutir

Fotos Danilo Verpa/Folhapress


Seminário em
auditório do
insper, em SP

Agronegócio, energia e uso da


terra são áreas-chave no Brasil
Especialistas discutem como superar a polarização entre economistas e ambientalistas para
avançar no debate de uma economia que possa crescer e manter baixas as emissões de carbono

DE SÃO PAULO ta em planejamento e eficiên- cificar o CO₂ ao mesmo tem- importações de setores mais ta não fecha, como hoje.”
cia energética, que definiu os po em que se dá “um sinal pa- impactados pelo novo impos- Foi arguido também se de-
Superar a polarização en- três setores mais importantes ra a sociedade, já que os pro- to. “Isenções ou ressarcimen- veria haver tratamento dife-
tre economistas e ambienta- na emissão de gases de efei- dutos que poluem menos pas- tos podem ser programados rente para emissões com fun-
listas para avançar no deba- to estufa no Brasil: uso da ter- sam a ter uma diferença de para declinar com o tempo e ção sociais, como saneamen-
te de uma economia de baixo ra, agropecuária e energia. preço, o que promove fontes promover troca da base ener- to básico e transporte público.
carbono. Essa foi a tônica do Segundo Kishinami, a re- renováveis e métodos susten- gética para novas fontes.” O economista defendeu
debate promovido na terça versão de emissões do primei- táveis de produção”. Para ele, no entanto, o efei- que é preciso separar os ins-
(24), em São Paulo, pela Fo- ro setor depende de políticas O grande temor dos seto- to mais importante de um im- trumentos e que quando o
lha em parceria com o Insper públicas de contenção do res produtivos em relação a posto sobre CO₂ não é o de “imposto é usado para fazer
e o Instituto Escolhas. desmatamento. No segundo este instrumento, porém, é a curto prazo (impacto no PIB política, perde em transpa-
No encontro, que reuniu setor, já existe o chamado perda da competitividade. e no emprego), mas o de lon- rência”. “Se o objetivo é redu-
ecólogos, ativistas e econo- Plano ABC (Agricultura de go prazo: mudança para um zir CO₂, não faz sentido criar
mistas, foi apresentado o es- Baixo Carbono), do Ministé- TRIBUTO x GASTO modelo produtivo renovável. diferenças porque a política
tudo “Impactos Econômicos rio da Agricultura, que tem li- Appy argumentou que o Durante o debate que se se- tem de ser feita pelo lado do
e Sociais da Tributação de dado com as emissões. ideal seria que o mundo todo guiu à apresentação do estu- gasto e não da arrecadação.”
Carbono no Brasil”, liderado Mas é o setor de energia adotasse um mesmo valor pa- do, Appy foi questionado se A ex-senadora Marina Sil-
pelo economista Bernard Ap- aquele com emissões mais ra o CO₂, o que evitaria dese- é politicamente viável, no ce- va, fundadora da Rede Sus-
py (leia na pág. 2). disseminadas na sociedade, quilíbrio na competitividade. nário político atual, a criação tentabilidade, elogiou a ini-
e cujo aumento entre 2010 e Para contornar essa ausên- de um novo imposto. “Ne- ciativa de conciliar “ambien-
IMPOSTO SOBRE CO₂ 2014 foi da ordem de 30%. cia de um preço global, ele nhuma proposta de aumen- te e desenvolvimento, que são
O estudo foi inicialmente Segundo Kishinami, a cria- sugere diminuir a tributação to da carga tributária é bem- parte da mesma equação” e
apresentado pelo físico Ro- ção de um imposto sobre sobre produtos exportados e vinda mesmo quando temos podem gerar inovação e em-
berto Kishinami, especialis- emissões é uma forma de pre- aumentar barreiras para as uma situação em que a con- pregos. (fernAndA MenA)

André ferreirA diretor presidente CristiAne fontes da Aliança MArCelo furtAdo diretor-executivo
do Instituto de Energia e Meio Ambiente pelo Clima e Uso da Terra do Instituto Arapyaú

O encontro e o debate foram A peculiaridade deste estudo foi dar Não vamos virar a chave do dia para
maravilhosos. O instrumento centralidade para a questão a noite, portanto, precisamos de
apresentado, no entanto, me parece ambiental a partir da economia, que informação qualificada a serviço
ter limitações, porque, num ambiente é o inverso do que se faz. Ele foca no deste debate, que é contemporâneo.
desigual como o brasileiro, ele que é essencial sem as polarizações Ainda há muito pouco estudo sobre
pode amplificar as distorções que engessam o debate economia descarbonizada
4 semináriosfolha ★ ★ ★ quInta-FeIra, 26 De noveMbro De 2015 ab

Karime Xavier - 18.set.2015/ Folhapress


raio-x
Qual é o
que a
Marcos LIsboa
Formação
doutor em economia pela
Universidade da Pensilvânia

Cargo
Diretor presidente do Insper

Carreira
sociedade está
disposta a aceitar?
secretário de Política
Econômica do Ministério
da Fazenda (2003-2005),
diretor-executivo (2006-
DE SÃO PAULO 2009) e vice-presidente
(2009-2013) do Itaú- te difícil de resolver. É caro,
O economista Marcos Lis- Unibanco, presidente do é demorado, e no Brasil nós
boa, diretor presidente do Instituto de Resseguros do Presidente do Insper defende que o Brasil descuidamos imensamente
Insper, admite abertamente
que não acompanha a nego-
Brasil (2005-2006) passe a conhecer melhor os problemas da infraestrutura.
São Paulo não deveria ter
ciação internacional sobre a para poder fazer as escolhas necessárias um problema de água. Olha o
mudança do clima, por exem- tamanho dos rios que a gente
plo. Mas isso não quer dizer tem. São Paulo é uma cidade
que o assunto não tenha im- coberta de rios, agora rios en-
portância para ele. terrados. Em pleno século 21
“É preciso trazer para o de- jogamos os esgotos nos rios.
bate as evidências que há”, Há diversas agências, e cada
afirma. “Por que acadêmicos uma cuida de um pedaço da
discordam tanto sobre o ta- água.
manho do impacto?” Aqui a governança leva à
Lisboa considera que o paralisia, os projetos não an-
despertar tardio dos econo- aquecimento global. No Bra- dam.
mistas brasileiros para a sil, porém, ainda é comum a Com o governo e o Congres-
questão ambiental foi um noção de que combater a mu- so que temos, acredita que
efeito colateral do que chama dança climática atrapalha o o tema vai decolar no Brasil,
de “fetiche com a macroeco- desenvolvimento. Por quê? como deveria, nos próximos
nomia” —só câmbio e taxa de Agora está menos pior que três anos?
juros importavam. Em segun- no passado. O Brasil está Deveria começar com a
do plano ficaram temas de muito distante dos debates sociedade civil discutindo os
microeconomia corriqueiros de economia que ocorrem processos institucionais.
fora do país, como ambiente nos principais centros. O desenho das instituições
de negócios, educação, sa- Um traço negativo, aqui, é importa. Precisamos ter uma
neamento, ambiente. sempre a tentativa de polari- estrutura para mediar esses
Por essa razão o Insper aco- zação. Você é liberal ou você é conflitos. Se não fica essa
lheu o recém-criado Institu- desenvolvimentista, contra o guerrilha, um quer tocar a
to Escolhas. “Conhecer os da- mercado ou contra o Estado. obra, outro quer parar a obra.
dos e arrumar as informações Tem sempre alguém culpa- Ou a obra fica parada, ou é
são o primeiro passo para que do, e a solução é sempre óti- tocada de maneira inadequa-
a gente possa enfrentar esco- ma, fácil, os interesses é que da. Quem perde é a sociedade
lhas difíceis.” (MARCELO LEITE) proíbem. e é o ambiente.
Esse debate simplista aca-
★ ba impedindo o conhecimen- Por fim: tendo em vista o ob-
Folha – Qual é a relação do to e o aprofundamento cuida- jetivo de médio e longo prazo
Insper com o Instituto Esco- doso dos difíceis dilemas que de descarbonizar a economia,
lhas? existem nas instituições. o que o Brasil deve fazer com
Marcos Lisboa – O Esco- Fazemos escolhas meio o pré-sal?
lhas são pessoas que fazem abruptas: agora abre intei- [Risos]Denovo:asgrandes
umtrabalhomuitobacanano ramente a economia, fecha a teses e as grandes respostas
campo do ambiente. Abrimos economia; dá crédito subsi- em geral podem ser boas pa-
alguns grupos de pesquisa, e diado, não tem mais crédito ra a retórica política, mas elas
a regra do jogo é esta: vamos subsidiado. É um pouco da não enfrentam os problemas.
tentar trazer dados, boa mo- América Latina: um discurso Por isso o projeto do Ins-
delagem, para o debate, com em geral simplista, pouco ba- tituto Escolhas é tão baca-
pessoas das mais diversas seado emdados,que não pro- na, porque olha para o caso
tradições, sobre temas rele- cura entender o fenômeno. concreto: como é que se faz a
vantes da economia e do am- O tema do ambiente é ex- transição, com que tecnolo-
biente, procurando introdu- tremamente importante. A gia? Os dilemas e as soluções
zir todo o cuidado com a base polarização do tipo “cuidar devem ser enfrentados nos
de dados, a metodologia e a do ambiente impede o de- casos particulares.
estatística. Com base nisso, senvolvimento”, ou “cuidar Certamente, no caso do
fazer o debate sobre as esco- do ambiente independente- Brasil, poderíamos estar
lhas, os dilemas de políticas mente do desenvolvimento”, muito melhor do que esta-
públicas, que são inevitáveis. é igualmente equivocada. mos, na desorganização do
O papel da economia não é Qual é o impacto ambien- processo. Todos os lados
propor uma escolha, é dar os tal ou o custo que a sociedade acabam saindo insatisfeitos.
fundamentos e as evidências está disposta a aceitar? Será Projetos mais longos, mais
para os “trade-offs” [relações que não há soluções que per- caros e com maior impacto
custo/benefício], os dilemas mitam mais desenvolvimen- do que deveriam. Belo Mon-
existentes. to sem danos ambientais? te é um exemplo, e há tantos
As escolhas não são a par- exemplos.
Nos EUA, nomes do esta- tir do princípio geral, mas Vamos aprender como ou-
blishment como Robert Ru- sempre do caso particular. tros países resolvem os con-
bin, Hank Paulson, Michael flitos. Não vai ter saída fácil.
Bloomberg e George Shultz Alguns economistas brasi- As soluções serão parciais,
se uniram na iniciativa Risky leiros, como Bernard Appy, de conciliação, ponderando
Business para alertar sobre a Eduardo Giannetti, André La- custos e benefícios.
ameaça da mudança do clima. ra Resende e até Delfim Netto, Marcos Conhecer os dados e ar-
No Reino Unido, já em 2006 têm mostrado mais abertura Lisboa, rumar as informações são o
um economista como Nicho- para questões ambientais. O diretor primeiro passo para que a
las Stern liderou um estudo que deu início a essa abertura? presidente gente possa enfrentar esco-
sobre impactos e custos do A economia do Brasil sem- do Insper lhas difíceis.
preficounofetichedamacroe-
conomia. Câmbio e juros, os
grandes temas que mobiliza-
vam corações e mentes. Aca-
bou-se por relegar uma vasta que é o normal do estudo da Esse é o tipo da polarização Assunção, da PUC do Rio.
área da economia que lida economia fora do Brasil, ago- que busca a vilanização. Há Trabalhos profundos, cui-
comosproblemasdodiaadia. ra, começa a entrar. o bem e o mal, e a saída fácil dadosos, publicados nas
Equivocadamente apos- para o problema difícil. melhores revistas. Sai um
Poderíamos tou-se em que temas como Na sua opinião, quão séria é a A Europa medieval dizi- mundo ali que não é nem um Um traço
estar muito câmbio e juros seriam os ameaça climática para a eco- mou seus ecossistemas. E o extremo nem o outro. É pre- negativo é a
melhor do que determinantes da economia nomia mundial? mundo moderno viu, em vá- ciso entender quais são os tentativa de
brasileira. Não se cuidou da Esse é o tipo do tema que rios países europeus, o resga- grandes dilemas, os grandes
estamos. microeconomia, do ambien- ainda está bastante polêmi- te de rios. O mundo lida hoje desafios, como resolver os polarização.
Todos os lados te de negócios, da estrutura co. É preciso trazer para o muito melhor com a questão problemas concretos. Você é contra
tributária, das regras para o debate as evidências que há. da água. Existem experiên- Nós temos um problema
acabam crédito e da relação da econo- Por que acadêmicos discor- cias incríveis com o reúso sério de mediação de con- o mercado ou
saindo mia com o ambiente. dam tanto sobre o tamanho de água em Cingapura, em flitos no Brasil, não conse- contra o
Há muita coisa por fazer no do impacto? Parte do nosso Israel, no Peru, aqui do lado. guimos ter uma governança
insatisfeitos. Brasil em matéria de gestão. trabalho aqui é exatamente Temos uma consciência mui- organizada, para que as di- Estado. Tem
Projetos mais A questão do ambiente ficou tentar entender qual é a di- to maior dos problemas hoje. versas partes envolvidas pos- sempre um
longos, mais polarizada num confronto mensão do problema. A polarização não ajuda. sam se coordenar e garantir culpado, e a
do contra e do a favor, que A controversa autora Naomi Se você faz projeções pavoro- que uma solução ponderada
caros e com não é produtivo. Na minha Klein considera que o aque- sas e elas não se confirmam, possa ser obtida. solução é
maior impacto geração, e um pouco depois, cimento global ameaça a desmoraliza o argumento. PegaocasodaáguaemSão sempre fácil,
os temas da micro voltaram própria sobrevivência do ca- Há hoje pesquisadores Paulo. De quem é a água? De
do que a atrair interesse: ambiente, pitalismo. O sr. deve ser mais incríveis lidando com esses quem é o saneamento? Não os interesses é
deveriam educação, saneamento. Isso otimista, não? problemas, como o Juliano é um problema tecnicamen- que proíbem

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