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RESUMO
O objetivo do artigo é fazer uma reflexão sobre a prática de educar do profissional
bibliotecário em bibliotecas universitárias tendo como referencial a teoria histórico-
cultural da atividade. O trabalho é composto por quatro partes. Introduzimos com uma
abordagem parcial sobre o cenário histórico do socialismo e as ideias de Marx, pois é
neste contexto em que nasce a teoria histórico-cultural pensada por Vigotsky. A
segunda parte aborda as bases da teoria acima citada e uma de suas continuidades
teóricas e ideológicas: a teoria histórico-cultural da atividade desenvolvida por
Leontiev. Para esta teoria o desenvolvimento dos seres humanos se dá por meio da
interação do homem com a natureza que o cerca e esta interação é realizada pela
atividade. Na terceira parte, trataremos da atividade de educar do bibliotecário em
contextos universitários com base nos pressupostos da teoria da atividade. Na última
parte, concluímos que mesmo uma teoria pensada em um contexto socialista pode ser
muito útil no processo de ensino-aprendizagem em uma sociedade capitalista.
ABSTRACT
The objective of this article is to reflect on the practice of educating the librarians in
academic libraries taking as reference the cultural-historical activity theory. The work
consists of four parts. We have introduced a partial approach to the historical setting of
socialism and the ideas of Marx, it is in this context that the cultural-historical theory of
Vygotsky thought is born. The second part covers the foundations of the theory cited
above and one of their theoretical and ideological continuities: a cultural-historical
activity theory developed by Leontiev. This theory to the development of humans
occurs through the interaction of man and nature that surrounds and this interaction is
accomplished by the activity. The third part will deal with the activity of educating the
librarian in university settings based on the assumptions of activity theory. In the last
part, we conclude that even a theory conceived in a socialist context can be very helpful
in the process of teaching and learning in a capitalist society.
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Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local – Centro Universitário uma
fabiana.ufmg@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
Vale frisar que, para alcançar o objetivo de formação desses sujeitos é fundamental a
participação de todos os profissionais envolvidos neste contexto. O objetivo do artigo é
fazer uma reflexão teórica sobre a prática de educar do profissional bibliotecário em
bibliotecas universitárias tendo como referencial teórico a teoria histórico-cultural da
atividade.
Para tanto, será necessário fazer uma breve reconstrução das ideias de Vygotsky e
Leontiev que surgiram em ocasião de afirmação dos ideais socialistas, vale apresentar
um pouco do contexto histórico para melhor entendimento das bases desses pensadores,
uma vez que o meio social influenciou de maneira decisiva as ideias dos mesmos.
Estamos falando de um contexto orientado sob a filosofia do materialismo dialético e
histórico, apoiado nas teorias socialistas de Marx, que fazia frente aos ideais do
liberalismo. O socialismo é um aparato organizado de posições filosóficas, econômicas,
políticas e sociais que compreende o homem como um ser social e histórico.
Para Marx, o homem se desenvolvia tanto nos seus aspectos biológicos como sociais de
acordo com o sistema social e financeiro ao qual estava submetido. A base econômica
determinaria aspectos políticos, culturais e também religiosos da sociedade.
Com base nas ideias da teoria histórico-cultural proposta por Vygotsky, Leontiev
constrói a teoria histórico-cultural da atividade, ou como hoje é mais conhecida teoria
da atividade. Nesta teoria, toda atividade advém de uma necessidade, seja ela física ou
psicológica. Porém, somente a necessidade não é fator para execução da atividade,
como elo é fundamental que haja um objetivo e assim, um motivo para execução da
atividade. (LEONTIEV, 1978, p. 71; 1960, p. 342). A partir do momento em que existe
um motivo, o sujeito reflete sobre as ações que podem ser realizadas para alcance
daquele objetivo. Essas ações são denominadas operações, ou seja, as formas reais que o
sujeito lança mão para realizar a atividade e atingir seus objetivos.
O que difere as atividades do homem para a dos animais é o modo como o primeiro
reflete e internaliza as opções do meio em que vive. Para Leontiev (1960, p. 344)
Las necesidades naturales humanas se diferencian de los animales por el objeto
y por la manera de satisfacerse. Tanto lo uno como lo otro es resultado del
desarrollo social.
Mientras que los animales satisfacen sus necesidades únicamente utilizando los
objetos naturales que encuentran ya preparados en el medio que le rodea, el
hombre elabora u produce con su trabajo los objetos que satisfacen sus
necesidades. Esto permite que el contenido objetivo y la manera de satisfacer
sus necesidades naturales cambien.
Porém, para que a necessidade seja fator de execução de uma atividade é essencial um
objetivo que responda a necessidade e que seja um estímulo que mostre como ela pode
ser satisfeita
En el hombre, los objetivos que le estimulan a actuar pueden reflejarse en forma de
imágenes o representaciones, de pensamientos ó de conceptos, y también en forma de
ideas morales.
Se denomina motivo de la actividad aquello que reflejándose en el cerebro del hombre
excita a actuar y dirige esta actuación a satisfacer una necesidad determinada”.
(LEONTIEV, 1960, p. 346)
Para que um motivo origine uma atividade são necessárias condições que permitam ao
sujeito atuar. As ações desenvolvidas pelos homens, assim com suas necessidades, são
mais complexas que a dos animais. Então, se o homem está com fome ele não somente
mata uma galinha, como depena e a cozinha antes de comer, diferentemente do animal
que a come crua. De acordo com Duarte (2003, 2004) citado por Piccolo (2012, p. 286)
Inversamente, a complexidade da atividade humana, portanto, coletiva e social,
produziu historicamente, a dissociação (não necessariamente alienante) entre o
motivo e o objeto da atividade, cuja existência está alicerçada no processo de
desenvolvimento da divisão técnica do trabalho e, mais especificamente, na
originalidade que envolve o processo de superação do ser biológico a um ser
cultural sócio-histórico, enfim, a humanização do humano.
Com o distanciamento das relações entre as ações e objetivos a sociedade se fez cada
vez mais abrangente e dialeticamente aumentou-se o grau de complexidade das
atividades humanas. E como afirma Piccolo (2012, p. 286) “a atividade passa a ser
composta por ações mediante um processo de divisão técnica do trabalho, que se
acentua posteriormente com o aparecimento da sociedade de classes e da propriedade
privada.”
Assim, o bibliotecário tem que atuar orientando para busca e uso de informações que
gerem conhecimentos, habilidades e valores. Essa atuação sempre tem que estar
centralizada no aprendiz e em seus processos de construção de conhecimento a partir da
busca da informação.
A educação pode ser considerada uma atividade superior extremante complexa, uma vez
que demanda da mobilização de várias ações e operações do profissional bibliotecário.
O meio no qual os sujeitos estão inseridos é de fundamental importância, pois ele
propicia e até possibilita essas ações, mas para que estas ações sejam realizadas de
forma eficaz é importante despertar o interesse nos alunos, uma vez que interagir e
aprender com os bibliotecários não é a atividade fim de um graduando. Para Leontiev
(1960, p. 351)
El interés es muy importante para aprender. Para aprender algo con éxito es
fundamental que se tenga interés hacia aquello que se estudia. Lo que se
estudia adquiere un sentido para el estudiante, si su contenido le interesa y
responde a lo que desea conocer, lo cual depende de los motivos de su
actividad. Esto significa que el aprendizaje debe estar relacionado con la
actividad del escolar y con la actitud que tiene con respecto al mundo y a la
sociedad.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo faz uma reflexão sobre a prática de educar dos bibliotecários em contextos
universitários tomando como base a teoria histórico-cultural da atividade. Verificou-se
que mesmo uma teoria pensada em um contexto socialista, esta pode ser muito útil no
processo de ensino-aprendizagem em uma sociedade capitalista. Desse modo, a teoria se
fundamenta através das possíveis práticas desses profissionais.
Para o bibliotecário atuar tendo como pano de fundo os pressupostos da teoria histórico-
cultural da atividade e trazer à tona sua significação social é preciso ter em mente que se
está lidando com sujeitos, e que esta interação é de fundamental importância para sua
formação e interpretação da realidade que o cerca, dialeticamente também causará
consequências na cultura produzida por estes. Assim, pode-se influir que contextos
acadêmicos formam mais que profissionais, podem formar cidadãos.
Vale frisar que este trabalho não esgotou o campo para pesquisa, pois para pensar a
teoria da atividade enquanto prática do bibliotecário é fundamental investigar as ações
destes profissionais e de alunos não apenas de maneira descritiva, mas refletindo sobre
suas ações, os objetos/motivos da atividade e quais são os sentidos dados.
MORETTI, Vanessa Dias; ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; RIGON, Algacir José. O
humano no homem: os pressupostos teórico-metodológicos da teoria histórico-cultural.
Psicol. Soc., Florianópolis, v. 23, n. 3, dez. 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822011000300005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 jun. 2014.