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Educação Unisinos

13(1):43-50, janeiro/abril 2009


© 2009 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2009.131.04

Mulher e educação na República Velha:


transitando entre o discurso histórico e o literário
Women and education in the Old Republic: Moving
between the historical and the literary discourse

Cristiane Souza de Menezes


crisme@terra.com.br
Charliton José dos Santos Machado
charlitonlara@yahoo.com.br
Maria Lúcia da Silva Nunes
mlsnunes@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho, vinculado ao grupo de pesquisa HISTEDBR/GT-PB e ao projeto de


pesquisa “Educação e educadoras na Paraíba do século XX: práticas, leituras e representações”,
tem por objetivo compreender os significados do magistério e da educação feminina na República
Velha a partir das representações de mulher correntes na sociedade brasileira nesse período. A
metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, com análise de duas obras, A educação nacional,
de José Veríssimo Dias de Matos, publicado em 1890 e reeditado em 1906 com o acréscimo do
capítulo A educação da mulher brasileira, e o romance O quinze, de Raquel de Queiroz, publicado
em 1930, que tem como personagem principal a professora Conceição. A pesquisa se inscreve nos
Estudos de Gênero e nos pressupostos teórico-metodológicos da Nova História Cultural. Embora
no período em estudo o incentivo ao magistério feminino e à educação da mulher fosse justificado
pela associação desta à representação de mãe, esposa e dona-de-casa, primeira e principal
educadora dos futuros cidadãos, as obras analisadas também desvelaram a incipiente inserção
feminina num processo social mais amplo, com as mudanças no comportamento da mulher e a
paulatina conquista do espaço público, avanços ligados ao acesso das moças à continuidade da
educação escolar e ao mercado de trabalho por meio do magistério.

Palavras-chave: magistério, educação feminina, República Velha.

Abstract: This paper, which is linked to the HISTEDBR/GT-PB research group and to the research
project “Education and educators in the state of Paraíba in the 20th century: practices, readings
and representations”, aims to understand the meanings of teaching and female education
in the Old Republic on the Basis of the representations of women that were common in this
period of Brazilian society. Its methodology is a bibliographic research, with the analysis of two
literary works, A educação nacional, by José Veríssimo Dias de Matos, published in 1890 and
again in 1906 with the addition of a chapter titled A educação da mulher brasileira, and the
novel O quinze, by Raquel de Queiroz, published in 1930, which has as its main character the
teacher Conceição. This research project is situated in the area of Gender Studies and adopts
the theoretical and methodological assumptions of the New Cultural History. Although in that
period the encouragement of female teaching and women’s education was justified by their
association to the representations of women as mothers, wives and housewives, as first and
primary educators of the future citizens, both literary works also show the incipient insertion of
women in a wider social process, with changes in women’s behavior and the gradual occupation
of the public space. These are advances connected to women’s access to continued school
education and the labor market through teaching.

Key words: teaching, women’s education, Old Republic.

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Cristiane Souza de Menezes, Charliton José dos Santos Machado, Maria Lúcia da Silva Nunes

Com a Nova História, o conceito trabalho, o autor procura evidenciar (e ainda são) usadas para justificar a
de documento foi modificado qualita- “as raízes portuguesas da sujeição submissão e a opressão de mulheres.
tivamente, passando a abarcar a cul- feminina no Brasil, sua desvincula- Por suas “características”, o espaço
tura material, a imagem e a literatura. ção do processo geral da cultura e por excelência da mulher era o espaço
Assim, o uso de romances e discursos os perigos que isso representa para privado, representado pelo lar. Neste,
literários como fonte histórica é re- a educação do brasileiro de modo ela estaria protegida e poderia cumprir
sultado das renovações conceituais e geral” (Barbosa, 1985, p. 11). de maneira eficiente suas funções de
metodológicas da História ocorridas Quanto ao romance O quinze, esposa e mãe. Já os homens assumiam
a partir da década de 1930 (Silva e escrito em 1930, foi o primeiro as funções produtivas e ocupavam o
Silva, 2006, p. 159). livro de Raquel de Queiroz. Tem espaço público. Devido à sua função
Nesse sentido, o presente traba- como pano de fundo a grande seca reprodutiva, a educação das mulheres
lho, que está vinculado ao grupo de 1915 e narra duas histórias: a era, na maioria das vezes, limitada a
de pesquisa HISTEDBR/GT-PB e do amor irrealizado de Conceição melhor prepará-las para cuidar das
ao projeto de pesquisa Educação e e seu primo Vicente e a da luta pela atividades do lar.
Educadoras na Paraíba do século sobrevivência de Chico Bento e De acordo com José Veríssimo
XX: práticas, leituras e representa- sua família, retirantes que sonham de Matos, na sociedade portuguesa,
ções, tem por objetivo compreender com dias melhores no Amazonas. marcada fortemente pelo modelo
os significados do magistério e da Enquadra-se no conjunto de obras patriarcal, o lema que prevaleceu em
educação feminina na República literárias conhecido como romance relação à educação feminina foi: “O
Velha a partir das representações de trinta ou, ainda, romance regiona- melhor livro é a almofada e o basti-
de mulher correntes na sociedade lista, pela predominância da temática dor” (Matos, 1985, p. 117). O autor
brasileira nesse período. Inscrito rural. Essas obras caracterizam-se destaca ainda o enclausuramento em
nos pressupostos da Nova História por apresentar as contradições de que vivia tanto a mulher portuguesa
Cultural e nos Estudos de Gênero, um país que se modernizava, com quanto a brasileira. Nessas socie-
a metodologia utilizada é a pesquisa uma industrialização e urbanização dades, a mulher deveria apresentar
bibliográfica com análise de duas crescentes, mas que ainda mantinha qualidades que a tornavam seme-
obras, A educação nacional, de au- fortes traços arcaicos ligados a um lhante a uma monja: calada, sofrida,
toria do crítico e historiador literário recente passado agrário-exportador. sem enfeites, sendo comum encontrar
paraense José Veríssimo Dias de O primeiro romance de Raquel de senhoras de famílias abastadas ainda
Matos (1985) e o romance O quin- Queiroz faz parte do chamado ciclo analfabetas. Essa situação só come-
ze, de Raquel de Queiroz (2006). A nordestino do romance de trinta. çaria a se modificar com as reformas
primeira, produzida no alvorecer do Fiel ao período em que foi publi- do Marquês de Pombal, permitindo
regime republicano, e a segunda, no cado (1930), um dos temas que se que aos poucos as mulheres tivessem
último ano da República Velha. sobressai no livro é o da condição acesso à educação escolar.
A educação nacional foi publicada feminina na sociedade moderna. Em Na história do nosso país, herdeiro
em 1890 e reeditada em 1906 com o O quinze, quem representa a mulher da cultura lusa, a mulher também
acréscimo do capítulo A educação que começa a conquistar a sua eman- conquistou tardiamente o direito de
da mulher. Escrita sob o impacto cipação no início do século XX, por escolarizar-se. Após a Independência,
da proclamação da república, num meio de uma profissão, numa socie- buscando inserir o Brasil no mundo
momento em que a sociedade brasi- dade ainda patriarcalista, é Conceição, moderno, foram surgindo escolas
leira se preparava para transformações jovem professora de 22 anos de idade, fundadas tanto por ordens religiosas
profundas, a obra foi elaborada ini- personagem principal do romance, elo quanto por leigos. Contudo, havia
cialmente com o intuito de contribuir entre as histórias narradas na obra. um maior número de escolas para
para as reformas que deveriam surgir meninos do que para meninas. Além
com o novo regime político. Em suas A educação da mulher disso, existia também uma diferen-
páginas, a educação, desde que pen- no Brasil: apontamentos ciação nos currículos: nas escolas
sada em bases nacionais, é vista como iniciais primárias masculinas, ensinavam-se
o eixo em torno do qual deve girar a a leitura, a escrita e conhecimentos
instrução (Barbosa, 1985, p. 9-10). Baseadas nas diferenças biológicas de aritmética, geografia e línguas;
44 Além disso, no capítulo dedicado entre os sexos, as sociedades tece- nas femininas, ensinavam-se as pri-
especificamente à educação femini- ram concepções de masculinidade e meiras letras, gramática portuguesa
na, principal foco do interesse deste feminilidade que, geralmente, eram e francesa, os “trabalhos de agulha”,

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Mulher e educação na República Velha: transitando entre o discurso histórico e o literário

a música, o canto e a dança (Rocha- autor como os primeiros estabeleci- vam vinculados à modernização da
Coutinho, 1994, p. 80). mentos de ensino moderno do país. sociedade e ao discurso higienista, no
Nota-se que a pouca instrução Até meados do século XIX, a qual competia a ela cuidar da higiene
recebida pelas mulheres não tinha o docência era uma atividade pre- dos filhos e da casa. Nesse sentido,
mesmo objetivo que a oferecida aos dominantemente masculina. Mas, Matos (1985, p. 116), em A educação
homens. Enquanto a escolarização progressivamente foi crescendo a nacional, defende que a educação
dos homens visava a prepará-los para participação da mulher, até configu- da sociedade deveria começar pela
a inserção no espaço público e para rar-se como uma ocupação majorita- educação daquela que seria mãe e
o desempenho profissional, a das riamente feminina (Almeida, 1991, primeira educadora do indivíduo.
mulheres tinha por finalidade melhor p. 22). Alguns fatores contribuíram Era necessário então que a mulher
prepará-las para administrar o lar, para isso, entre eles o paradigma fosse introduzida nos conhecimentos
servir ao marido e educar os filhos. naturalista, segundo o qual a mulher e conceitos científicos da psicologia,
É a partir da 1ª Lei de Instrução poderia desempenhar melhor essa da economia doméstica e da pueri-
Pública do Brasil, de 1827 (Brasil, função devido as suas “característi- cultura. Nessa perspectiva, Matos
1998), que a escola começa a abrir- cas naturais” (afetivas, “destinadas” (1985, p. 21) assinala a multiplicação
se para a mulher brasileira, se bem à maternidade, etc.). de Escolas Normais por todo o país,
que, mesmo criando escolas primá- Além disso, em A educação na- embora destacando o insucesso das
rias para o sexo feminino em todo o cional encontramos que: reformas na instrução pública pro-
império, essa lei não tenha instituído movidas pelo Ministério de Ensino
a abertura desses estabelecimentos Para a máxima parte dos professores Público (que durou apenas até 1892)
para meninas como uma obrigação do ensino oficial, o magistério, que e também pelos estados.
legal (Louro, 2001a, p. 447). Mesmo devia ser sua principal ocupação, Como consequência da falta de
com esse limite na legislação, é ine- tornou-se apenas uma função subsi- real interesse pela instrução pública,
diária da sua atividade, uma achega,
gável que a partir desse momento fo- ocorreu o fechamento de muitas Es-
para muitos um pis aller. Crescido
ram sendo criadas as condições para colas Normais (e também de ensino
número deles o abandonaram de todo
que a mulher avançasse nos estudos, ou o desleixaram totalmente pela primário) em vários estados, tão logo
podendo ir além do ensino primário, política, pelas finanças, pela indústria se instalou a crise financeira (Matos,
posto que se instituía a necessidade e por negócios e interesses de toda a 1985, p. 21-22). Além disso, o autor
de formar mestras: ordem (Matos, 1985, p. 29). critica o apoio dado pelo governo à
iniciativa particular, na criação de
Como naquela época, no Brasil e tam- Assim, percebe-se que outro fator Escolas Normais livres, que para
bém na Europa, as aulas eram dadas que também contribuiu para o maior Matos não tinham credibilidade.
em turmas separadas por sexo, foi
ingresso de mulheres no magistério Outro aspecto para o qual o autor de
preciso que se admitissem mulheres
para lecionar nas turmas femininas;
primário foi o processo de urbaniza- A educação nacional chama a atenção
assim foram criadas as primeiras ção e industrialização do país, que são as mudanças nos costumes e nos
vagas para o magistério feminino atraiu os homens para setores mais hábitos femininos durante a Primeira
(Schaffrath, 2000, p. 4). lucrativos. República. Embora considerando que
grande parte dessas mudanças fossem
Nesse sentido, José Veríssimo Educação, mulher e frivolidades, o crítico paraense põe
de Matos destaca que “a melhoria magistério feminino: em destaque a maior circulação das
da instrução da mulher começou no algumas páginas de A mulheres no espaço público, a prá-
Brasil [...] com a criação das Escolas educação nacional tica de leitura (não mais restrita aos
Normais para formar professoras pri- missais), uma formação mais culta
márias” (Matos, 1985, p. 125). Essas Com a República, os argumentos (embora ainda artificial) e o crescente
instituições são consideradas pelo a favor da educação da mulher esta- interesse pelo feminismo1. De acor-

1
No Brasil, a participação do feminino no espaço público ou a chamada primeira onda feminista, ocorrida entre o final do século XIX e a década de
1930, caracterizou-se pela luta por direitos civis e políticos da mulher, tendo como principal marca o movimento sufragista liderado pela médica e
escritora Bertha Lutz. Fruto dessa mobilização originária, novas ondas do feminismo firmaram suas bandeiras em momentos históricos posteriores,
45
quais sejam: a chamada segunda onda ocorrida a partir dos anos de 1960, combinando a revolução dos comportamentos que atingia o mundo
ocidental e o combate à ditadura militar e, posteriormente, nos anos de 1980-1990, a terceira, de cunho acadêmico, deliberando espaço na atuação
política para se discutir e problematizar cientificamente as relações sociais de gênero.

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do com o autor, essas mudanças se deveria ignorar), o indispensável ao segmentos da sociedade brasileira
davam tanto pelas necessidades da cumprimento racional e proveitoso que consideravam uma insensatez
época que, mais do que as teorias, iam de sua função social: “entregar às mulheres usualmente
modificando a sociedade de maneira despreparadas, portadoras de cére-
rápida e profunda, como também pelo [...] ser mãe, esposa, amiga e compa- bros ‘pouco desenvolvidos’ pelo seu
caráter móbil e inconstante da mulher. nheira do homem, sua aliada na luta ‘desuso’ a educação das crianças”
da vida, criadora e primeira mestra de (Louro, 2001a, p. 450).
Essa “inconstância”
seus filhos, confidente e conselheira
Mesmo Matos, que defendia a
natural do seu marido, guia da sua
[...] facilitou, no Brasil, como em mulher como a primeira e imediata
prole, dona e reguladora da economia
Portugal, a transformação da mulher educadora do homem, também a
da sua casa, com todos os mais de-
dos tempos antigos, a nossa velha veres correlativos a cada uma destas julgava portadora de uma natureza
dona honesta, severa, ignorante e, funções (Matos, 1985, p. 122). mais débil, tendo afirmado, inclusi-
como quer que seja, indolente, nas
ve, que: “[...] mais nervosa, de uma
nossas mulheres de hoje, que tocam
piano, cantam e representam até em O autor defende então que, por sensibilidade mais aguda, como
espetáculos públicos, falam Fran- sua missão na sociedade, para dar parece até cientificamente provado, é
cês e, às vezes, até Inglês, vestem ao país uma posição proeminente no por isso mesmo menos consistente e
como as de Paris, saem sós, fazem mundo, cumpria melhorar a educa- mais volúvel” (Matos, 1985, p. 121).
elas mesmas as suas compras e os ção feminina. Ou seja: Chegando, ainda, em 1911, a se po-
seus casamentos, lêem romances, sicionar contrário à elegibilidade de
frequentam conferências literárias, A educação da mulher seria feita, mulheres para a Academia Brasileira
não só conversam mas discutem portanto, para além dela, já que sua de Letras, então sob sua presidência
com homens, jogam nas corridas de justificativa não se encontrava em seus
cavalos ou nas bancas dos roleteiros,
(Jorge, 1999, p. 151).
próprios anseios ou necessidades, mas
começam a jogar o croquet e o lawn- em sua função social de educadora dos
Entretanto, a crise de 1920 con-
tennis e a montar bicicletas em trajes filhos ou, na linguagem republicana, duz ao incentivo da educação das
quase masculinos, e principiam a na função de formadora dos futuros mulheres, objetivando sua autos-
interessar-se pelo feminismo (Matos, cidadãos (Louro, 2001a, p. 447). suficiência econômica, garantindo
1985, p. 121). às que não se casassem meios de se
Nesse sentido, José Veríssimo de sustentar, para não se tornarem um
Criticando a superficialidade e o Matos põe em relevo a importância fardo à família e à sociedade. O le-
artificialismo desse tipo de educa- das Escolas Normais para a continui- que de profissões, porém, era restrito
ção, que desnacionalizaria a mulher, dade da instrução da mulher, embora àquelas que estivessem associadas
o autor defende uma “educação reconhecendo as deficiências desses ao papel feminino socialmente es-
nova”, mais sólida, “que lhe desse estabelecimentos. Assim, defende perado. Nesse contexto, continua a
da vida, dos seus deveres, das suas também a criação de institutos se destacar a participação da mulher
obrigações para com a humanidade, especiais de instrução feminina e no magistério infantil. Fragoso e An-
do mundo uma noção larga, mais a melhora das Escolas Normais drade (2003, p. 65-66) argumentam
exata, mais positiva e mais com- existentes, que cumpririam duas que isso ocorreu porque a profissão
pleta” (Matos, 1985, p. 121), a fim finalidades: formar mestras e dar docente apresentava “um sentido de
de que a mesma pudesse contribuir uma instrução geral às mulheres, missão, vocação, doação a alguém,
para a evolução do país e a educação cuja base deveria ser constituída como se fosse uma extensão do pa-
eficaz da sociedade. pelo ensino de Matemática (um pel de mulher”.
Assim, a instrução feminina é pouco além das elementares), Física, Nessa perspectiva, durante toda
pensada como a do cidadão, integral Química, Ciências Naturais, Lín- a Primeira República, o curso de
e enciclopédica. Todavia, para o au- gua e Literatura nacionais. O autor magistério foi uma das poucas opor-
tor isso não significava que a mulher acrescenta ainda a Educação Física tunidades de continuidade de esco-
deveria se aprofundar e especializar e a Educação Estética, “dada sob a larização para a mulher, pois apenas
nas ciências, tendo em vista que forma do ensino racional e completo em 1930 é que começa a haver um
estaria incapacitada por sua inteli- do desenho” (Matos, 1985, p. 128), ingresso feminino significativo em
gência inferior a do homem, mas substituindo os trabalhos manuais. cursos superiores.
46 sim aprender o mínimo necessário No entanto, a crescente partici- No entanto, a participação da
(noções dos conhecimentos que pação da mulher na Escola Normal mulher no magistério, mesmo mar-
todo homem de média cultura não não se deu sem oposições de alguns cada pela associação da função da

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professora à maternidade e à afe- cas entre os sexos em desigualdades, vimentos reivindicatórios feministas
tividade, representou também uma em hierarquias historicamente utili- como as lutas pela direito ao voto,
ruptura com a ordem vigente, na zadas para colocar as mulheres em à educação e à participação no mer-
medida em que uma posição de desvantagem. cado de trabalho, e as mudanças na
Assim, quando a personagem moda que conferiram à mulher uma
O magistério representava para as Conceição, de O quinze, é apresen- aparência andrógina (com o uso de
mulheres, ao mesmo tempo, um meio tada, percebe-se que nem sempre as cabelos curtos a la garçon, as rou-
de subsistência e libertação, tendo em mulheres se encaixavam exatamente pas mais soltas para não marcar as
vista que, com os recursos advindos nesse “molde natural” e que as curvas femininas, etc.).
do seu trabalho, elas podiam se
relações de gênero estão em perma- Além disso, o país começava a
manter e podiam transitar em outros
domínios que não a igreja e o lar; nente processo de reconfiguração e perceber que, para alcançar a mo-
como também, por meio da instrução, ressignificação, o que denota o seu dernização e o progresso almejados,
diversificavam seus conhecimentos. caráter histórico, social e cultural: seria essencial ampliar o acesso à es-
O trabalho remunerado lhes dava “Conceição tinha vinte e dois anos e cola. Nesse contexto, especialmente
relativa independência e autonomia, não falava em casar. As suas poucas com a crise econômica de 1920, há
podendo, assim, usufruir de algumas tentativas de namoro tinham ido em- um incentivo para a educação de
prerrogativas masculinas (Santos, bora com os dezoito anos e o tempo mulheres e para sua participação no
2004, p. 53). de normalista; dizia alegremente mercado de trabalho, praticamente
que nascera solteirona” (Queiroz, restrita ao magistério.
A mulher-professora nas 2006, p. 14). Embora algumas moças fossem
primeiras décadas do Esse tipo de comportamento era atraídas para o magistério por ne-
século XX em O quinze motivo de críticas por parte da avó, cessidade econômica, na tentativa
representando o pensamento corren- de obter um meio de sustento, e que
O século XIX, marcado pelo pa- te da sociedade do início do século
radigma naturalista, foi o momento para muitas o curso normal fosse
XX: “[...] mulher que não casa é um entendido como curso “espera mari-
histórico em que teve lugar uma aleijão” (Queiroz, 2006, p.14). Ou
preocupação em se estabelecer uma do” (tanto que muitas abandonavam
seja, a mulher que não casava e que, a escola ao casarem-se), outras
identidade para cada sexo. Segun- consequentemente, não se tornava
do esse paradigma, existiria uma ingressavam nesse curso “por am-
mãe, não cumpriria o destino reser- bicionarem ir além dos tradicionais
“natureza” própria para homens e vado a todas pela natureza. Nesse
mulheres, baseada nas diferenças espaços sociais e intelectuais” (Lou-
sentido, a solteirona representava ro, 2001a, p. 453). Esse parece ser o
biológicas. Por suas características, uma aberração.
o espaço por excelência da mulher caso de Conceição, já que pertencia
No entanto, através da educação
seria o privado, representado pelo lar. a uma família que tinha posses e não
escolar e do exercício da docência,
Neste, ela estaria protegida e poderia lhe faltavam pretendentes.
foi possível para Conceição conquis-
cumprir de maneira eficiente suas Inclusive, o trabalho de profes-
tar um espaço na esfera pública e,
funções de esposa e mãe, formadora sora permitia a Conceição ter uma
assim, poder alargar seus horizontes
dos futuros cidadãos, funções estas liberdade que mocinhas casadoiras
e perceber que a vida da mulher não
que representariam destino e desejo e mulheres casadas não podiam
se encerrava no lar, havendo outras
natural de todas. usufruir na época, como a de circu-
formas de realização pessoal além
No entanto, Miriam Grossi afirma lar desacompanhada pelas ruas sem
do casamento.
que “não existe uma determinação macular a sua honra. Há um episódio
Neste sentido, Machado (2006, p.
natural dos comportamentos de no livro que ilustra esse privilégio.
32) e Abrantes (2006, p. 70) desta-
homens e de mulheres, apesar das Ao se deparar com a prima voltando
cam que, nas primeiras décadas do
inúmeras regras sociais calcadas para casa sozinha depois do trabalho,
século XX, a produção literária e
numa suposta determinação bioló- Vicente questiona:
jornalística tinha como um de seus
gica diferencial dos sexos” (Grossi, temas recorrentes a mudança dos
- Foi por causa da doença que veio
1998, p. 4). Na verdade, ainda de costumes observada no Brasil com só? [...]
acordo com a autora, essa explicação a República, especialmente as trans-
da ordem natural nada mais é do que formações no comportamento das
- Só? Eu sempre ando só! Tinha que
ver, de cada vez que fosse à escola,
47
uma formulação ideológica que tem mulheres. Assim, foram registrados, arranjar companhia...
transformado as diferenças biológi- nos jornais e livros da época, os mo-

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- Pois eu pensei que não se usava uma De acordo com as páginas de O Além disso, a jovem professora
moça andar só, na cidade. [...] quinze, havia outro fator também não é apenas uma leitora assídua.
- Mas eu, é porque sou uma professora ligado à educação que contribuía As páginas de O quinze também
velha, que vou para o meu trabalho! para que Conceição se diferenciasse mencionam as práticas de escrita
Uma mocinha bonitinha não passeia das outras moças: o acesso e o hábito dessa personagem que se dedicava
só, não! (Queiroz, 2006, p. 80). de ler livros científicos (herança de à redação de um livro sobre pedago-
seu avô, livre-pensador), alguns de gia, além de já ter produzido alguns
A representação da professora conteúdo socialista e feminista. Es- sonetos.
solteirona continha algumas ambi- sas leituras eram a origem das suas Em alguns momentos, porém, a
guidades. Se por um lado ela era uma ideias sobre o casamento e a vida: personagem mostra certa ambigui-
mulher que “falhara”, por não ter “Chegara até a se arriscar em leitu- dade. Mesmo afirmando que não
casado nem tido filhos, por outro ela ras socialistas, e justamente dessas pensava em casar e que tinha certeza
“tinha uma instrução mais elevada, leituras é que lhe saíam as piores das de ter nascido para viver só, Con-
trabalhava fora do lar, com uma pos- tais ideias, estranhas e absurdas a ceição deixa transparecer que sente
sibilidade de circulação pelo espaço avó” (Queiroz, 2006, p. 14). Em um certo vazio em sua vida por não ter
público maior do que as demais mu- episódio, enquanto lia alguns livros, casado nem tido filhos, e que busca,
lheres” (Louro, 2001b, p.104-105). foi inquirida por Dona Inácia sobre os por meio do estudo e das leituras,
Além de poder garantir seu sustento motivos da leitura, inclusive por não preenchê-lo:
através da remuneração que recebia. se tratar de um romance, produção
Assim, mesmo com restrições, essa literária que na época era considerada - Mãe Nácia, quando a gente renuncia
mulher usufruía alguns privilégios a certas obrigações, casa, filhos, fa-
a mais apropriada para moças:
mília, tem que arranjar outras coisas
masculinos.
com que se preocupe... Senão a vida
José Veríssimo de Matos, ao co- - E esses livros prestam para moça fica vazia demais...
mentar a criação das Escolas Normais, ler, Conceição? No meu tempo, - E para quê você torceu sua nature-
também faz referência à circulação das moça só lia romance que o padre za? Por que não se casa? [...]
moças no espaço público como uma mandava [...] - Nunca achei quem valesse a pena...
- Isso não é romance, Mãe Nácia. (Queiroz, 2006, p. 131).
conquista advinda da sua inserção
Você não está vendo? É um livro
nesses estabelecimentos de ensino e sério, de estudo [...]. Trata da questão
acrescenta, ainda, a possibilidade da No entanto, com o desenrolar da
feminina, da situação da mulher na
convivência com o sexo oposto: sociedade, dos direitos maternais,
história, o que parece mesmo faltar
do problema... a Conceição é um filho. Assim, na
Conquanto especialmente destinadas a - E minha filha, para que uma moça impossibilidade de gerar o seu, já
formar mestras para as escolas públicas, precisa saber disso? [...] que este só deveria ser concebido
serviram geralmente à propagação da - Qual o que, Mãe Nácia! Leio para com as bênçãos do matrimônio, pois
instrução feminina, pois foi em toda aprender, para me documentar [...] uma professora antes de tudo deveria
a parte a sua frequência considerável. (Queiroz, 2006, p. 130-131).
Tiveram demais outro efeito relevante, ser um exemplo de retidão e conduta
acabar com o sistema de clausura que até moral, surge o projeto de criar uma
então prevalecera na educação das mo- As práticas de leitura de mulhe- criança que, no caso, vem a ser o
ças brasileiras. Pela necessidade de irem res no final do século XIX eram seu afilhado Duquinha. Assim, nos
à Escola, começaram a sair diariamente, controladas, havendo “um explícito cuidados com o menino “Conceição
e até sós, a se dirigirem, a se criarem e interesse, tanto em orientar leituras toda se desvelava em exageros de
a sentirem uma responsabilidade, com amenas e delicadas, especialmente maternidade” (Queiroz, 2006, p.
o que forçosamente se desenvolveria a de cunho religioso, bem como con- 112), cumprindo, ao menos em parte,
sua individualidade, até ali atrofiadas trolar todo nível de escrito conside- o que na época era esperado para
por absoluta falta de exercício. Também
rado obsceno ou político” (Machado, toda mulher.
pôs em contato imediato, num trabalho
comum e numa emulação útil, pois 2005, p. 19). Essa censura e sua É no capítulo final do livro que
em muitas dessas Escolas o ensino era permanência nas primeiras décadas fica mais explícito o desejo de Con-
misto, dado simultaneamente a moços do século seguinte são reveladas na ceição em corresponder à represen-
e moças, os dois sexos, que tinham afirmação de Dona Inácia sobre o tação da “mulher-mãe”. Embora a
48 sempre vivido separados, sequestrados tipo de livro que ela costumava ler própria figura da professora fosse
um do outro, como inimigos recíprocos quando moça e nas críticas feitas às fortemente associada à ideia de
(Matos, 1985, p. 125). leituras de Conceição. “mãe espiritual” ou à de “segunda

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Mulher e educação na República Velha: transitando entre o discurso histórico e o literário

mãe” de seus alunos, ao observar significou um movimento simultâneo (org.), Representações de gênero e de
a felicidade materna de Lourdinha, de conservação e ruptura. Embora sexualidades: inventários diversifica-
justificado pela associação do sujeito dos. João Pessoa, Editora Universitária/
irmã de Vicente, Conceição fica
UFPB, p. 66-73.
amargurada: feminino às tradicionais representa-
ALMEIDA, C.C. de. 1991. A educação da
ções de mãe, esposa e dona-de-casa mulher: a feminização do magistério.
Afinal, o verdadeiro destino de toda (por isso primeira e principal educa- Teoria & Educação, 4:22-40.
mulher é acalentar uma criança no dora dos futuros cidadãos), ao mesmo BARBOSA, J.A. 1985. Introdução: a vertente
peito... E sentia no seu coração o tempo abriu espaço para a inserção pedagógica. In: J.V.D. de MATOS, A
vácuo da maternidade impreenchi- feminina num processo social mais educação nacional. 3ª ed., Porto Alegre,
da. [...] Mercado Aberto, p. 5-12.
amplo, com a paulatina conquista do
Seria sempre estéril, inútil, só... Seu BRASIL. 1998. Lei Imperial de 15 de outubro
coração não alimentaria outra vida,
espaço público e consequente assun-
de 1827. Manda criar escolas de primeiras
sua alma não se prolongaria noutra ção de novos papéis que se abriram
letras em todas as cidades, vilas e lugares
pequenina alma... Mulher sem filhos, para a mulher por meio do acesso à
mais populosos do império. In: Pedago-
elo partido na cadeia da imortalida- continuidade da educação escolar e gia em foco. Disponível em: http://www.
de... Ai dos sós... ao mercado de trabalho. pedagogiaemfoco.pro.br/heb05a.htm,
Mas ao chegar em frente à calçada Assim, o exercício do magisté- acesso em: 03/04/2008.
da prima [...] Duquinha afastou-se rio, ao garantir meios de sustento, FRAGOSO, K. da S.; ANDRADE, F.C.B.
das saias de dona Inácia, e correu-lhe abriu-lhe possibilidades de percor- de. 2003. Profissão mulher: implicações
ao encontro. [...] À vista do menino, de gênero na escolha pela pedagogia. In:
rer outros caminhos, que não o do
adoçou-se a amargura no coração de C.S.G. dos SANTOS; F.C.B. ANDRADE
casamento, antes única forma de
moça. [...] E, consolada, murmurou: (orgs.), Representações sociais e forma-
- Afinal, também posso dizer que realização pessoal, prestígio social e
ção do educador: revelando interseções
criei um filho (Queiroz, 2006, p. possibilidade de uma vida digna, não do discurso. João Pessoa, Universitária/
156-157). subordinada à caridade alheia. UFPB, p. 61-78.
Além disso, uma escolarização GROSSI, M.P. 1992. O masculino e o femini-
As ideias sobre a existência de mais longa permitiu que, sobretudo, no na educação. In: M.P. GROSSI (org),
uma “natureza feminina” têm como professoras e normalistas adentras- Paixão de aprender. Petrópolis, Vozes,
sem no mundo da escrita, com con- p. 252-258.
principal eixo a maternidade. “A
sequente conquista de visibilidade GROSSI, M. P. 1998. Identidade de gênero
mulher teria um ‘destino biológico’ a
e sexualidade. Antropologia em Primeira
cumprir, destino este frequentemente na esfera pública por meio, princi-
Mão, 26:1-15.
formulado em termos de instinto – o palmente, da imprensa e da literatura
JORGE, F.P.A. 1999. A Academia do fardão
instinto maternal de toda mulher” feminina, canais de divulgação da e da confusão: a Academia Brasileira de
(Rocha-Coutinho, 1994, p. 95). luta por direitos políticos e civis. Letras e os seus “imortais” mortais. São
Nesse sentido, a própria formação da Desse modo, a mulher começou a Paulo, Geração Editorial, 374 p.
personagem para o magistério no pe- ocupar os escassos espaços de atuação LOURO, G. 2001a. Mulheres na sala de aula.

ríodo histórico retratado era cercada social nas primeiras décadas do regi- In: M. DEL PRIORE (org.), História das
me republicano no país, propagando mulheres no Brasil. 5ª ed., São Paulo,
de referências à maternidade (Louro, Contexto, p. 443-479.
2001a). Foi então sob essa ideologia, ideias inovadoras e articuladas, por
LOURO, G. 2001b. Gênero, sexualidade e
exaustivamente propagada ontem, e exemplo, ao debate sufragista femini-
educação: uma perspectiva pós-estrutu-
no, demonstrando uma evidente tática
mesmo ainda hoje, que Conceição ralista. Petrópolis, Vozes, 179 p.
de inclusão lenta e gradual nos espaços
foi socializada2. MACHADO, C.J. dos S. 2005. A dimensão da
que a sociedade, aos poucos, possibili- palavra: práticas de escrita de mulheres.
tava-lhe ou acabava cedendo. João Pessoa, Universitária/UFPB, 191 p.
MACHADO, C.J. dos S. 2006. Mulher e
Considerações finais
Referências educação: histórias, práticas e repre-
sentações. João Pessoa, Universitária/
As obras A educação nacional e UFPB, 122 p.
ABRANTES, A. 2006. Que faz da Para-
O quinze revelam que o incentivo à íba uma “mulher-macho”? Gênero, MATOS, J.V.D. de. 1985. A educação na-
educação da mulher e à sua participa- política e saber na construção de uma cional. 3ª ed., Porto Alegre, Mercado
ção no magistério na República Velha identidade regional. In: A.P.D. SILVA Aberto, 148 p.

49
2
Já há algumas décadas, a identidade da mulher colada à imagem de mãe começou a ser questionada e redefinida. De acordo com Grossi (1992),
apesar de a maternidade ter um suporte biológico, a forma como ela é vivida é uma construção sociocultural.

volume 13, número 1, janeiro • abril 2009

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Cristiane Souza de Menezes, Charliton José dos Santos Machado, Maria Lúcia da Silva Nunes

QUEIROZ, R. de. 2006. O quinze. 82ª ed., Rio


de Janeiro, José Olympio, 157 p.
ROCHA-COUTINHO, M.L. 1994. A mulher
no Brasil. In: M.L. ROCHA-COUTI-
NHO, Tecendo por trás dos panos: a
mulher brasileira nas relações familiares.
Rio de Janeiro, Rocco, p. 66-125.
SANTOS, M. do C.G. 2004. As representa-
ções sociais de gênero das professoras
sobre o magistério: feminização-femi-
nilização do campo socioprofissional.
Recife, PE. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Pernambuco –
UFPE, 215 p.
SCHAFFRATH, M. dos A.S. 2000. Profis-
sionalização do magistério feminino: uma
história de emancipação e preconceitos. In:
REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 23, Ca-
xambu, 2000. Anais... Caxambu, ANPED.
2000. Disponível em: http://www.anped.
org.br/reunioes/23/textos/0217t.PDF,
acesso em: 22/04/2008.
SILVA, K.V.; SILVA, M.H. 2006. Dicionário
de conceitos históricos. 2ª ed., São Paulo,
Contexto, 440 p.

Submetido em: 24/07/2008


Aceito em: 03/02/2009

Cristiane Souza de Menezes


Universidade Federal da Paraíba
Av. da Saudade, 747, Guadalupe
53240-440, Olinda, PE, Brasil

Charliton José dos Santos Machado


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Ed. Enseada do Guarujá VI,
Bairro Aeroclube
58036 –280, João Pessoa, PB, Brasil

Maria Lúcia da Silva Nunes


50 Universidade Federal da Paraíba
Rua Francisco Brandão, 1117, apto 301
Ed. Sylvio Porto, Manaíra
58038-520, João Pessoa, PB, Brasil

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