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Dez Princípios de Economia
N. Gregory Mankiw Principles of Economics, Capítulo 1
Como as pessoas tomam decisões?
1 Quando tomam decisões, as pessoas enfrentam tradeoffs
(no free lunch)
2 O custo de um bem é dado pela alternativa de que você
abre mão para obtê-lo (custo de oportunidade)
3 Pessoas racionais decidem "na margem"
4 As pessoas tomam decisões respondendo a incentivos
Como as pessoas interagem?
5 A troca beneficia a todos
6 O uso de mercados é, em geral, mas nem sempre, uma
boa maneira de organizar a atividade econômica
7 O governo pode, às vezes, melhorar os resultados obtidos
com o uso de mercados
Como a economia como um todo funciona?
8 O padrão de vida de um país depende da sua capacidade
de produzir bens
9 Os preços sobem quando o governo imprime mais
dinheiro do que o necessário
10 A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre
inflação e desemprego Princípio 1
Quando tomam decisões, as pessoas enfrentam tradeoffs
(i.e. situações em que é preciso decidir entre duas coisas ou trocar uma coisa por outra)
Para obter um bem, geralmente você precisa abrir mão de
outro que também deseja
"There is no such thing as a free lunch"
Exemplo 1 Como alocar o tempo entre 2 e 3:45 da tarde:
estudar economia ou tirar uma soneca?
Exemplo 2 Como alocar o tempo durante o verão? Cigarra:
cantando; formiga: estocando comida para o inverno
Exemplo 3 Defesa nacional (armas) versus bens privados
(comida): quanto mais gastamos em armas menos gastamos em comida
Exemplo 4 Alto nível de renda versus poluição: leis para
reduzir a poluição aumentam os custos de produção, o que pode reduzir os lucros das firmas, os salários e aumentar os preços: os rendimentos dos donos das firmas, trabalhadores e consumidores podem assim se reduzir
Exemplo 5 Eficiência versus equidade: redistribuir renda
(repartir o bolo em pedaços mais iguais) pode reduzir a eficiência (o tamanho do bolo): a recompensa por trabalhar duro se reduz, as pessoas se esforçam menos e produzem menos bens
Reconhecer que as pessoas enfrentam tradeoffs não
significa dizer qual decisão é melhor: no exemplo 5, a redistribuição da renda não deve ser descartada com base na justificativa de que isso reduz os incentivos ao trabalho
Princípio 2
O custo de um bem é dado pela alternativa de que você
abre mão para obtê-lo Implicação do princípio 1: há custos e benefícios em decisões alternativas
Quando tomam decisões, as pessoas incorrem em custos
de oportunidade
O custo de oportunidade de um bem é dado pela melhor
alternativa de que você abre mão para obter o bem
Exemplo Entrar na universidade. Benefícios: melhores
oportunidades de emprego no futuro; custos: salário que se deixa de ganhar em um possível emprego no presente
Princípio 3
Pessoas racionais decidem "na margem", ou seja, a escolha
é feita quando o benefício marginal de uma decisão exceder o custo marginal
Exemplo 1 Fazer um curso de especialização de um ano
("margem"), após a sua formatura
Exemplo 2 Standby passenger. Um vôo em um avião de
200 assentos custa para uma empresa aérea US$ 100,000. O custo médio de cada passageiro é 100,000/200 = US$ 500. Pode-se pensar que a empresa nunca venderá um bilhete de passagem por menos de 500. Mas numa situação em que o avião está para decolar com alguns assentos vazios, a empresa pode vender um bilhete para o passageiro que se encontra esperando no saguão do aeroporto querendo pagar, digamos, $ 300. Embora o custo médio de um passageiro seja 500, o custo marginal seria apenas mais um almoço servido. A empresa pode aumentar seus lucros pensando na margem
Princípio 4
As pessoas decidem respondendo a incentivos
Outra implicação do princípio 2
Já que as pessoas comparam custos e benefícios quando
tomam decisões, seu comportamento pode mudar quando os custos e benefícios mudam: as pessoas respondem a incentivos
Exemplo 1 Quando o preço da maçã sobe, as pessoas
decidem comer mais peras, porque o custo de comprar uma maçã é mais alto: plantadores de maçã contratam mais trabalhadores para colher mais maçãs, já que o benefício de vender uma maçã é também mais alto
Exemplo 2 Cintos de segurança. A intenção da política é
obrigar o uso do cinto de segurança para reduzir o número de acidentes de trânsito: a probabilidade de sobreviver a um acidente aumenta para os motoristas: estes então alteram o seu comportamento com relação a velocidade e atenção no trânsito: dirigir devagar e com mais atenção tem custo em termos de tempo e esforço: o uso do cinto torna acidentes menos custosos para os motoristas porque isso reduz a probabilidade de morte: o benefício de se dirigir devagar e com mais atenção se reduz: como resultado, o número de acidentes aumenta, apesar de as mortes de motoristas em cada acidente se reduzirem: para os pedestres, as mortes aumentam com o aumento do número de acidentes. Moral: sem se considerar os incentivos, o efeito de uma política pode não ser o pretendido
Princípio 5
A troca pode deixar todos em melhor situação
Exemplo Quando alguém procura um emprego, concorre
com outrem. Quando vão às compras, as pessoas também competem: procuram comprar os melhores bens pelos preços mais baixos. Apesar dessa competição, uma pessoa não estaria em melhor situação se estivesse isolada das outras: isolado, alguém teria que produzir toda a comida que come, fazer todas as suas roupas, construir sua própria casa,... claramente uma pessoa ganha ao transacionar com outras: com a troca, cada pessoa se especializa na atividade em que é melhor: ao transacionar, alguém pode comprar uma maior variedade de bens a um custo mais baixo. O argumento pode ser também aplicado a países Princípio 6
O uso de mercados é, em geral, mas nem sempre, uma boa
maneira de coordenar as trocas entre as pessoas
Se a "mão visível" do governo decide que bens privados
produzir, como produzi-los e quem vai produzir ou consumir esses bens, ela decide sem a informação que está embutida nos preços (quando estes estão livres para responder às mudanças da oferta e da demanda): isso pode explicar a falha do planejamento central para organizar toda a economia
Adam Smith (The Wealth of Nations, 1776): indivíduos e
firmas interagindo em mercados agem como se fossem guiados por uma "mão invisível" que conduz ao máximo bem-estar geral
Como isso ocorre? Pelo sistema de preços. Os preços são o
meio pelo qual a "mão invisível" organiza a economia. Os preços afetam tanto o valor de um bem para a sociedade como o custo para a sociedade de produzi-lo
Já que indivíduos e firmas se guiam pelos preços, ao decidir
o que comprar e vender eles (sem que se apercebam) levam em conta os benefícios e custos sociais de suas ações
Princípio 7
Quando o mercado falha, a interferência do governo pode
melhorar as trocas entre as pessoas
Diante de externalidade e poder de mercado, os mercados
podem falhar: o governo pode organizar melhor a economia, i.e. aumentar a eficiência e promover a equidade
Externalidade: o impacto de uma ação de uma pessoa
sobre o bem-estar de outra não envolvida diretamente com a ação Poder de mercado: a capacidade de uma pessoa ou firma influenciar os preços de mercado: concorrência imperfeita: se o governo regular o preço cobrado por um monopolista, a eficiência aumenta
O mercado distribui renda a cada pessoa de acordo com
sua capacidade de produzir bens que outras estão querendo obter: isso pode não gerar equidade: o governo, através do imposto de renda e do sistema de bem-estar, pode procurar distribuir a renda mais equitativamente
Dizer que o governo pode melhorar os resultados do
mercado não significa dizer que sempre isso ocorre: há falhas de governo também, i.e. da escolha pública, através do sistema de votação por maioria (por exemplo, o paradoxo do voto)
Princípio 8
O padrão de vida de um país depende da sua capacidade de
produzir bens
O que explica a riqueza das nações? Resposta:
produtividade (i.e. a quantidade de bens produzidos por hora por uma pessoa): a taxa de crescimento da produtividade de uma economia determina, em última análise, a taxa de crescimento de sua renda média
Exemplo 1 Sindicatos e leis de salário mínimo não seriam
responsáveis pelo alto padrão de vida dos trabalhadores americanos: a causa seria a sua crescente produtividade
Exemplo 2 A desaceleração do crescimento da renda
americana não seria explicada pela concorrência com o Japão e outros países: a culpa seria da desaceleração do crescimento da produtividade nos Estados Unidos
Exemplo 3 Para aumentar o padrão de vida, a política deve
levar em conta fatores que aumentam a produtividade das pessoas, i.e. educação, melhores instrumentos de trabalho, tecnologia Exemplo 4 Déficit orçamentário do governo (i.e. o excesso de gastos do governo sobre suas receitas) pode reduzir o padrão de vida porque pode reduzir a produtividade. Para financiar seu déficit, o governo toma emprestado no mercado financeiro: isso reduz a quantidade de empréstimos disponíveis para pessoas e firmas: cai o investimento em capital humano (educação) e físico (máquinas): menos investimento hoje leva a baixa produtividade no futuro
Princípio 9
Os preços sobem quando o governo imprime mais dinheiro
do que o necessário
Quando os preços sobem ao mesmo tempo (inflação), há
custos para as pessoas e firmas
Alta e persistente inflação está associada, em última
análise, ao crescimento da quantidade de moeda
Exemplo 1 Alemanha do começo dos anos 1920: preços
triplicando a cada mês estavam associados ao fato de a quantidade de moeda estar triplicando a cada mês
Exemplo 2 Estados Unidos: nos anos 1970, a alta inflação
esteve associada com o rápido crescimento da quantidade de moeda; nos anos 1990, a baixa inflação esteve ligada ao lento crescimento da quantidade de moeda
Princípio 10
Há um tradeoff de curto prazo entre inflação e desemprego
Reduzir a inflação pode aumentar o desemprego
temporariamente: curva de Phillips
Razão: alguns preços se ajustam lentamente: as firmas
precisam de tempo para reimprimir novos catálogos com os preços reduzidos, os sindicatos precisam aceitar metas reduzidas para aumento de salários, os restaurantes precisam imprimir novos menus com preços reduzidos,... Exemplo Se o governo reduzir a quantidade de dinheiro, as pessoas ficam com menos para gastar: como os preços não se reduzem de imediato, as firmas vendem menos: as firmas desempregam trabalhadores temporariamente (desemprego): no curto prazo há desemprego e alguns preços ainda estão altos, mas, no longo prazo, os preços caem e o desemprego se reduz
O governo pode explorar o fato de que os preços não se
ajustam de imediato: políticas fiscais (alteração do montante que o governo gasta e o que cobra em impostos) e monetárias (alteração da quantidade de dinheiro)