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Universidade Federal de Santa Catarina

From the SelectedWorks of Sergio Da Silva

2003

Dez Princípios de Economia


Sergio Da Silva

Available at: https://works.bepress.com/sergiodasilva/63/


Dez Princípios de Economia

N. Gregory Mankiw
Principles of Economics, Capítulo 1

Como as pessoas tomam decisões?

1 Quando tomam decisões, as pessoas enfrentam tradeoffs


(no free lunch)

2 O custo de um bem é dado pela alternativa de que você


abre mão para obtê-lo (custo de oportunidade)

3 Pessoas racionais decidem "na margem"

4 As pessoas tomam decisões respondendo a incentivos

Como as pessoas interagem?

5 A troca beneficia a todos

6 O uso de mercados é, em geral, mas nem sempre, uma


boa maneira de organizar a atividade econômica

7 O governo pode, às vezes, melhorar os resultados obtidos


com o uso de mercados

Como a economia como um todo funciona?

8 O padrão de vida de um país depende da sua capacidade


de produzir bens

9 Os preços sobem quando o governo imprime mais


dinheiro do que o necessário

10 A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre


inflação e desemprego
Princípio 1

Quando tomam decisões, as pessoas enfrentam tradeoffs


(i.e. situações em que é preciso decidir entre duas coisas
ou trocar uma coisa por outra)

Para obter um bem, geralmente você precisa abrir mão de


outro que também deseja

"There is no such thing as a free lunch"

Exemplo 1 Como alocar o tempo entre 2 e 3:45 da tarde:


estudar economia ou tirar uma soneca?

Exemplo 2 Como alocar o tempo durante o verão? Cigarra:


cantando; formiga: estocando comida para o inverno

Exemplo 3 Defesa nacional (armas) versus bens privados


(comida): quanto mais gastamos em armas menos
gastamos em comida

Exemplo 4 Alto nível de renda versus poluição: leis para


reduzir a poluição aumentam os custos de produção, o que
pode reduzir os lucros das firmas, os salários e aumentar os
preços: os rendimentos dos donos das firmas,
trabalhadores e consumidores podem assim se reduzir

Exemplo 5 Eficiência versus equidade: redistribuir renda


(repartir o bolo em pedaços mais iguais) pode reduzir a
eficiência (o tamanho do bolo): a recompensa por trabalhar
duro se reduz, as pessoas se esforçam menos e produzem
menos bens

Reconhecer que as pessoas enfrentam tradeoffs não


significa dizer qual decisão é melhor: no exemplo 5, a
redistribuição da renda não deve ser descartada com base
na justificativa de que isso reduz os incentivos ao trabalho

Princípio 2

O custo de um bem é dado pela alternativa de que você


abre mão para obtê-lo
Implicação do princípio 1: há custos e benefícios em
decisões alternativas

Quando tomam decisões, as pessoas incorrem em custos


de oportunidade

O custo de oportunidade de um bem é dado pela melhor


alternativa de que você abre mão para obter o bem

Exemplo Entrar na universidade. Benefícios: melhores


oportunidades de emprego no futuro; custos: salário que se
deixa de ganhar em um possível emprego no presente

Princípio 3

Pessoas racionais decidem "na margem", ou seja, a escolha


é feita quando o benefício marginal de uma decisão exceder
o custo marginal

Exemplo 1 Fazer um curso de especialização de um ano


("margem"), após a sua formatura

Exemplo 2 Standby passenger. Um vôo em um avião de


200 assentos custa para uma empresa aérea US$ 100,000.
O custo médio de cada passageiro é 100,000/200 = US$
500. Pode-se pensar que a empresa nunca venderá um
bilhete de passagem por menos de 500. Mas numa situação
em que o avião está para decolar com alguns assentos
vazios, a empresa pode vender um bilhete para o
passageiro que se encontra esperando no saguão do
aeroporto querendo pagar, digamos, $ 300. Embora o custo
médio de um passageiro seja 500, o custo marginal seria
apenas mais um almoço servido. A empresa pode aumentar
seus lucros pensando na margem

Princípio 4

As pessoas decidem respondendo a incentivos

Outra implicação do princípio 2

Já que as pessoas comparam custos e benefícios quando


tomam decisões, seu comportamento pode mudar quando
os custos e benefícios mudam: as pessoas respondem a
incentivos

Exemplo 1 Quando o preço da maçã sobe, as pessoas


decidem comer mais peras, porque o custo de comprar
uma maçã é mais alto: plantadores de maçã contratam
mais trabalhadores para colher mais maçãs, já que o
benefício de vender uma maçã é também mais alto

Exemplo 2 Cintos de segurança. A intenção da política é


obrigar o uso do cinto de segurança para reduzir o número
de acidentes de trânsito: a probabilidade de sobreviver a
um acidente aumenta para os motoristas: estes então
alteram o seu comportamento com relação a velocidade e
atenção no trânsito: dirigir devagar e com mais atenção
tem custo em termos de tempo e esforço: o uso do cinto
torna acidentes menos custosos para os motoristas porque
isso reduz a probabilidade de morte: o benefício de se
dirigir devagar e com mais atenção se reduz: como
resultado, o número de acidentes aumenta, apesar de as
mortes de motoristas em cada acidente se reduzirem: para
os pedestres, as mortes aumentam com o aumento do
número de acidentes. Moral: sem se considerar os
incentivos, o efeito de uma política pode não ser o
pretendido

Princípio 5

A troca pode deixar todos em melhor situação

Exemplo Quando alguém procura um emprego, concorre


com outrem. Quando vão às compras, as pessoas também
competem: procuram comprar os melhores bens pelos
preços mais baixos. Apesar dessa competição, uma pessoa
não estaria em melhor situação se estivesse isolada das
outras: isolado, alguém teria que produzir toda a comida
que come, fazer todas as suas roupas, construir sua própria
casa,... claramente uma pessoa ganha ao transacionar com
outras: com a troca, cada pessoa se especializa na
atividade em que é melhor: ao transacionar, alguém pode
comprar uma maior variedade de bens a um custo mais
baixo. O argumento pode ser também aplicado a países
Princípio 6

O uso de mercados é, em geral, mas nem sempre, uma boa


maneira de coordenar as trocas entre as pessoas

Se a "mão visível" do governo decide que bens privados


produzir, como produzi-los e quem vai produzir ou
consumir esses bens, ela decide sem a informação que está
embutida nos preços (quando estes estão livres para
responder às mudanças da oferta e da demanda): isso
pode explicar a falha do planejamento central para
organizar toda a economia

Adam Smith (The Wealth of Nations, 1776): indivíduos e


firmas interagindo em mercados agem como se fossem
guiados por uma "mão invisível" que conduz ao máximo
bem-estar geral

Como isso ocorre? Pelo sistema de preços. Os preços são o


meio pelo qual a "mão invisível" organiza a economia. Os
preços afetam tanto o valor de um bem para a sociedade
como o custo para a sociedade de produzi-lo

Já que indivíduos e firmas se guiam pelos preços, ao decidir


o que comprar e vender eles (sem que se apercebam)
levam em conta os benefícios e custos sociais de suas
ações

Princípio 7

Quando o mercado falha, a interferência do governo pode


melhorar as trocas entre as pessoas

Diante de externalidade e poder de mercado, os mercados


podem falhar: o governo pode organizar melhor a
economia, i.e. aumentar a eficiência e promover a equidade

Externalidade: o impacto de uma ação de uma pessoa


sobre o bem-estar de outra não envolvida diretamente com
a ação
Poder de mercado: a capacidade de uma pessoa ou firma
influenciar os preços de mercado: concorrência imperfeita:
se o governo regular o preço cobrado por um monopolista,
a eficiência aumenta

O mercado distribui renda a cada pessoa de acordo com


sua capacidade de produzir bens que outras estão querendo
obter: isso pode não gerar equidade: o governo, através do
imposto de renda e do sistema de bem-estar, pode
procurar distribuir a renda mais equitativamente

Dizer que o governo pode melhorar os resultados do


mercado não significa dizer que sempre isso ocorre: há
falhas de governo também, i.e. da escolha pública, através
do sistema de votação por maioria (por exemplo, o
paradoxo do voto)

Princípio 8

O padrão de vida de um país depende da sua capacidade de


produzir bens

O que explica a riqueza das nações? Resposta:


produtividade (i.e. a quantidade de bens produzidos por
hora por uma pessoa): a taxa de crescimento da
produtividade de uma economia determina, em última
análise, a taxa de crescimento de sua renda média

Exemplo 1 Sindicatos e leis de salário mínimo não seriam


responsáveis pelo alto padrão de vida dos trabalhadores
americanos: a causa seria a sua crescente produtividade

Exemplo 2 A desaceleração do crescimento da renda


americana não seria explicada pela concorrência com o
Japão e outros países: a culpa seria da desaceleração do
crescimento da produtividade nos Estados Unidos

Exemplo 3 Para aumentar o padrão de vida, a política deve


levar em conta fatores que aumentam a produtividade das
pessoas, i.e. educação, melhores instrumentos de trabalho,
tecnologia
Exemplo 4 Déficit orçamentário do governo (i.e. o excesso
de gastos do governo sobre suas receitas) pode reduzir o
padrão de vida porque pode reduzir a produtividade. Para
financiar seu déficit, o governo toma emprestado no
mercado financeiro: isso reduz a quantidade de
empréstimos disponíveis para pessoas e firmas: cai o
investimento em capital humano (educação) e físico
(máquinas): menos investimento hoje leva a baixa
produtividade no futuro

Princípio 9

Os preços sobem quando o governo imprime mais dinheiro


do que o necessário

Quando os preços sobem ao mesmo tempo (inflação), há


custos para as pessoas e firmas

Alta e persistente inflação está associada, em última


análise, ao crescimento da quantidade de moeda

Exemplo 1 Alemanha do começo dos anos 1920: preços


triplicando a cada mês estavam associados ao fato de a
quantidade de moeda estar triplicando a cada mês

Exemplo 2 Estados Unidos: nos anos 1970, a alta inflação


esteve associada com o rápido crescimento da quantidade
de moeda; nos anos 1990, a baixa inflação esteve ligada ao
lento crescimento da quantidade de moeda

Princípio 10

Há um tradeoff de curto prazo entre inflação e desemprego

Reduzir a inflação pode aumentar o desemprego


temporariamente: curva de Phillips

Razão: alguns preços se ajustam lentamente: as firmas


precisam de tempo para reimprimir novos catálogos com os
preços reduzidos, os sindicatos precisam aceitar metas
reduzidas para aumento de salários, os restaurantes
precisam imprimir novos menus com preços reduzidos,...
Exemplo Se o governo reduzir a quantidade de dinheiro, as
pessoas ficam com menos para gastar: como os preços não
se reduzem de imediato, as firmas vendem menos: as
firmas desempregam trabalhadores temporariamente
(desemprego): no curto prazo há desemprego e alguns
preços ainda estão altos, mas, no longo prazo, os preços
caem e o desemprego se reduz

O governo pode explorar o fato de que os preços não se


ajustam de imediato: políticas fiscais (alteração do
montante que o governo gasta e o que cobra em impostos)
e monetárias (alteração da quantidade de dinheiro)

 Resumo Sergio Da Silva 2000

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