Você está na página 1de 50

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho, em que trata da incidência da culpa consciente e do


dolo eventual nos crimes de homicídio no trânsito, pretende identificar os
critérios utilizados pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina para determinar
ou não a incidência deles.
É imprescíndivel saber que o crime praticado com dolo eventual
consiste em o agente não querer a realização direta do tipo penal, mas aceitar
esse resultado como possível ou até provável, assumindo o risco da produção
do resultado. Motivo pelo qual é tênue a linha que separa o dolo eventual da
culpa consciente. Que, por sua vez, ocorre quando o autor prevê o resultado
mas espera que ele não ocorra, acreditando que possa evitar com sua
habilidade.
Por conta disso, a caracterização da conjunção do dolo eventual
acaba sendo altamente subjetiva. Nos crimes de homicídios de trânsito, é uma
tarefa ainda mais árdua de se verificar e determinar ocorrência do elemento
subjetivo do tipo, qual seja, o risco.
Têm-se como objetivo desse trabalho, por intermédio de um estudo
jurisprudencial da egrégia Corte Catarinense, indicar os critérios utilizados pelo
referido Tribunal de Justiça a fim de determinar a incidência ou não da culpa
consciente e do dolo eventual nos crimes de homícidios ocorrido no trânsito.
Assim, no primeiro capítulo, será feita a descrição acerca dos
elementos subjetivos do tipo, o dolo e a culpa, bem como suas espécies,
teorias e diferença entre a culpa consciente e o dolo eventual e suas distinções
aos demais elementos subjetivos do tipo.
Já o segundo capítulo discorrerá sobre os elementos do crime de
homicídio e suas particularidades do homicídio no trânsito. As distinções entre
o homicídio culposo e doloso praticados na direção de veículos automotores e,
por fim, acerca das dificuldades na caracterização da culpas consciente e do
dolo eventual.
Por derradeiro, no terceiro e último capítulo, aponta-se acerca do
entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o dolo eventual e a culpa
consciente, assim como seus ritos processuais e juízo competente, bem como
serão os critérios utilizados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa
Catarina para determinar a incidência, ou não, do dolo eventual em homicídios
praticados no trânsito.
Quanto à metodologia utilizada para desenvolvimento deste
trabalho, utilizou-se o método dedutivo. Adotou-se, também, como técnica
investigativa, consulta à jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina e pesquisas doutrinárias.
Esta monografia tem como intuito suprir uma lacuna existente no
conhecimento, fazendo o mapeamento dos critérios objetivos e subjetivos do
posicionamento jurisprudencial acerca da incidência ou não da culpa
consciente e do dolo eventual nos crimes de homicídio no trânsito.
2 DOS ELEMENTOS SUBJETIVOS DO DELITO: DOLO E CULPA

Para o ilustríssimo doutrinador e professor CARRARA (1956, p. 56),


considerado um dos maiores penalistas clássicos, definiu o crime como sendo
“a infração da lei do Estado, promulgada para proteger a segurança dos
cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo,
moralmente imputável e politicamente danoso”.
O art. 1ª a Lei de Introdução ao Código Penal define crime dispõe:

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de


reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração
penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de
multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.

Para TELES (2006, p, 119) trata-se de um conceito puramente


formal, que nada explica, a não ser quais penas correspondem ao crime e
quais à contravenção penal.
No mesmo sentido, MIRABETE (2011, p. 79) afirma que o Código
Penal vigente não contém uma definição de crime, que é deixada à elaboração
da doutrina, a qual tem-se procurado definir o ilícito penal sob três aspectos
diversos, a definição formal, a material ou substancial e o conceito analítico.
O doutrinador define o conceito formal, nos termos jurídicos, como a
contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato
contrário à norma penal praticado.
ESTEFAM (2008, p.55) entende por conceito material como toda
ação ou omissão consciente, voluntária, e dirigida a uma finalidade, que cria
um risco juridicamente proibido e relevantre a bens considerados essenciais
para a paz e o convívio em sociedade.
Por fim, o conceito formal de delito com referência aos elementos
que compõem (melhor seria falar-se em aspectos ou características do crime),
de caráter analítico, discorre TELES (2008, p. 123) no seguinte sentido:
Conceituar, analiticamente, o crime é extrair de todo e qualquer crime
aquilo que for comum a todos eles, é descobrir suas características,
suas notas essenciais, seus elementos, é descobrir suas
características, suas notas essenciais, seus elementos estruturais.
[...] Estudar o crime, então, é estudar essas três características: o fato
típico, a ilicitude e a culpabilidade, tarefa sobre a qual se debruçará
daqui por diante.

Conclui-se por tanto que crime é todo fato típico, ilícito e culpável.
É necessário, portanto, na hora de avaliar a conduta típica e
antijurídica do agente observar qual sua real intenção. Assim pode-se verificar
se o crime foi cometido com culpa ou com dolo.

2.1 DOLO

2.1.1 Conceito do dolo

Dissertando sobre as origens do dolo, a doutrinadora COPELLO


(1999, p.27) esclarece que:

[...] o dolo, como pressuposto do delito, aparece pela primeira vez no


Direito romano, onde foi concebido com perfis muito nítidos e
definidos, identificando-o com a intenção ou, melhor ainda, com a ‘má
intenção’ ou malícia na realização do fato ilícito. Deste modo ficava
superada a primitiva concepção do ilícito penal como mera causação
objetiva de resultados, exigindo-se a ‘intenção imoral dirigida a um fim
antijurídico’ – o ‘dolus malus’ – como fundamento para a aplicação da
pena pública.

Conforme preleciona WELZEL (1987, p. 77), “toda ação consciente


é conduzida pela decisão da ação, quer dizer pela consciência do que se quer
– o momento intelectual – pela decisão a respeito de querer realiza-lo – o
momento volitivo. Ambos os momentos, conjuntamente, como fatores
configuradores de uma ação típica real, formam o dolo ( = dolo do tipo)”.
Para GARCIA (1982, p. 277) “O dolo vem a ser a vontade, que tem
o agente, de praticar um ato, previsto como crime, consciente da relação de
causalidade entre a ação e o resultado”.
No mesmo sentido CAPEZ (2005, p.193) ensina que o crime doloso
é “a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo legal.
Mais amplamente, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a
conduta”.
Sob a ótica de NUCCI (2007, p. 219), entende que depende da
teoria adotada:
a) é a vontade consciente de praticar a conduta típica (visão finalista
– é o denominado dolo natural); b) é a vontade consciente de praticar
a conduta típica, acompanhada da consciência de que se realiza um
ato ilícito (visão causalista – é o denominado dolo normativo); c) é a
vontade consciente de praticar a conduta típica, compreendendo o
desvalor que a conduta representa (é o denominado dolo axiológico,
exposto por Miguel Reale Júnior,Antijuridicidade concreta, p. 42).

O crime doloso é definido no Código Penal Brasileiro em seu artigo


18, inciso I, o qual dispõe: “o crime é doloso, quando o agente quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo”.
Dispõe ainda o parágrafo único do artigo supracitado a seguinte
redação: “Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando pratica dolosamente”.
Comenta GRECO (2012, p. 61) que a regra contida nesse parágrafo
é a de que todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição
pela prática de conduta culposa se a lei assim o previr expressamente.
O doutrinador TELES (2006, p. 149) conceitua o dolo como “a
consciência do fato e a vontade de causar o resultado, ou em duas palavras,
consciência e vontade, ou simplesmente, vontade de causar o resultado – é
insuficiente, pois somente se aplica aos tipos legais de crimes que descrevem,
além da conduta, a produção de um resultado, como no homicídio simples, do
art. 121, caput, do Código Penal, “matar alguém”.
Já JESUS (2010, p. 249) discorda desse conceito afirmando que “o
dolo deve abranger todos os elementos da figura típica”.
Por todo o exposto, percebe-se que o dolo é formado por um
elemento intelectual e um elemento volitivo e, que, em síntese, o dolo é tido
como a regra; a culpa a exceção.

2.1.2 Teorias do dolo

A doutrina traz quatro teorias a respeito do dolo para explicar sua


incidência na prática, quais sejam: teoria da vontade; teoria do assentimento;
teoria da representação; teoria da probabilidade.
Segundo a teoria da vontade trazida por GRECO (2012, p.61),
“dolo seria tão somente a vontade livre e consciente de querer praticar a
infração penal, insto é, de querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal
incriminador” (grifo nosso).
Conforme os ensinamentos de SANTOS (2000, p. 63) “o verbo
querer, empregado para exprimir a vontade humano, é um verbo auxiliar que
necessita, sempre, de um verbo principal para explicar seu conteúdo; neste
caso, o verbo querer deve ser complementado com o verbo realizar, porque o
direito penal proíbe realizar crimes e, portanto, o componente volitivo do dolo
define-se como querer realizar o tipo objetivo do crime”.
Para BITTENCOURT (2003 p. 85), esta teoria destaca-se, além de
tudo, a importância da vontade de produzir o resultado, não se negando a
existência da representação (consciência) do fato, que é indispensável. A
essência do dolo está na vontade de realizar a ação e obter o resultado.
TELES (2008, p. 146) afirma que “quem assim agir, segundo essa
teoria, age dolosamente. É quem consegue representar o futuro resultado,
quem o prevê e, simultaneamente, deseja alcançá-lo. Dolo é, portanto,
previsão do resultado e, a um só tempo, vontade de alcança-lo. Dolo é
consciência (previsão) e vontade” (grifo nosso).
Sobre a teoria do assentimento ou assunção, TAVARES (2000, p.
278-219) leciona que “é a teoria dominante e tem por base uma vinculação
emocional do agente para com o resultado. Vale dizer, exige não apenas o
conhecimento ou a previsão de que a conduta e o resultado típicos podem
realizar-se, como também que o agente se ponha de acordo com isso ou na
forma de conformar-se ou de aceitar ou de assumir o risco de sua
produção” (grifo nosso).
MIRABETE (2010, p.126) concordam que, por esta teoria, a previsão
do resultado faz parte do dolo ao qual o agente adere não sendo necessário
que ele o queira, portanto, existe dolo simplesmente quando o agente consente
em causar o resultado praticando a conduta.
O doutrinador ESTEFAM (2008, p.105) esclarece dizendo que
“consentir na produção do resultado é o mesmo que querê-lo. Aquele que,
prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo, age dolosamente”.
A teoria da representação, de acordo com MIRABETE (2010, p.
126), tem certa semelhança com a teoria do assentimento, pois entende que
em ambas o dolo remanescerá quando o agente tiver tão somente a previsão
da possibilidade de ocorrência do fato danoso e, ainda assim, opte pela
continuidade de seu procedimento. Discorda da teoria anterior porque, para os
adeptos desta teoria, não se leva em consideração se o agente agiu com
desprezo ou indiferença à possibilidade da ocorrência do efeito danoso ou se
simplesmente acreditava que este não iria acontecer.
MIRABETE (2010, p. 125) leciona que para esta teoria “o dolo é a
simples previsão do resultado. Embora não se negue a existência da vontade
na ação, o que importa para essa posição é a consciência de que a conduta
provocará o resultado. Argumenta-se, contudo, que a simples previsão do
resultado, sem a vontade efetivamente exercida na ação, nada representa e
que, além disso, quem tem vontade de causar o resultado evidentemente tem
a representação deste”.
Para BITENCOURT (2010, p. 315), essa é hoje uma teoria
completamente desacreditada, pois até mesmo seus ferrenhos defensores Von
Liszt e Frank, acabaram, enfim, reconhecendo que somente a representação
do resultado era insuficiente para exaurir a noção de dolo, sendo necessário
um momento psiquicamente intenso entre o agente e o resultado, que
inegavelmente, está presente na vontade.
Para facilitar o entendimento, TELES (2008, p. 146) trouxe um
exemplo, conforme segue:

Quem, dirigindo seu veículo por uma avenida movimentada –


avistando à frente alguns transeuntes próximos da pista, que
aparentam querer atravessá-la, e prevendo a possibilidade de um
travessia e possível atropelamento, com seu veículo -, continua,
apesar a previsão do atropelamento, no percurso, sem se deter, e
acaba por atropelar alguém, causando-lhe ferimentos, só por ter
previsto a possibilidade do resultado, só por tê-lo representado, só
por isso, já teria agido com dolo.
Para essa teoria não é necessário que o agente tenha vontade de
produzir o resultado, basta que o tenha previsto. Dolo seria a
representação do resultado.

E continua (2008, p.147):

Das três teorias, a da representação não pode, em nenhuma


hipótese, ser aceita, pois não pode ser tido como doloso o simples
“prever resultado”, que não é comportamento, mas um puro
acontecimento psicológico, não revelando nenhuma atitude, nem
mesmo interna do sujeito, mas um simples pensamento, uma simples
constatação, aliás, absolutamente indemonstrável.
Quem apenas prevê o resultado não pode ser tratado igualmente ao
que, além de prever, deseja alcança-lo. É certo que o dolo não pode
ser apenas previsão.
[...] É dolosa a conduta quando o agente “quis o resultado”, e é
também quando, mesmo sem querê-lo, o agente “assume o risco” de
sua produção, o que significa “aceita-o, se ele ocorrer”. Não se deve
afirmar que age com dolo o agente que arrisca um comportamento,
mas o que aceita o risco de sua produção. Aceitar ou assumir o risco
não tem o mesmo sentido do popular “arriscar”, que significa, sim, um
comportamento perigoso, arriscado, mas que não quer dizer,
necessariamente, que o agente aceita o resultado lesivo, se ele vier a
acontecer.

GRECO (2012, p. 61) afirma que para esta teoria “não há distinção
entre dolo eventual e culpa consciente, uma vez que a antevisão do resultado
leva à responsabilização do agente a título de dolo”.
A teoria da probabilidade, para o doutrinador CEREZO MIR (2001,
p. 149) “se o sujeito considerava provável a produção do resultado estaríamos
diante do dolo eventual. Se considerava que a produção do resultado era
meramente possível, se daria a imprudência consciente ou com
representação”.
GRECO (2012, p.61-62) esclarece afirmando que “a teoria da
probabilidade trabalha com dados estatísticos, ou seja, se, de acordo com
determinado comportamento praticado pelo agente, estatisticamente, houvesse
grande probabilidade de ocorrência do resultado, estaríamos diante do dolo
eventual”.
Por esta teoria Damásio de Jesus (2010, p. 331), salienta que para
que ocorra o dolo eventual a previsão da possibilidade de ocorrência do
evento, não é suficiente, é preciso que seja provável admitindo ou não o autor
da conduta.

2.1.3 Espécies de dolo

A corrente doutrinaria traz as seguintes espécies de dolo: direto


(primeiro e segundo grau) ou indireto (alternativo e eventual).
De acordo com o ensinamento jurídico de GRECO (2012, p.62)
“costuma-se distinguir o dolo em: direto ou indireto. O dolo direto se biparte
em: dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau. O dolo
indireto, a seu turno, pode ser concebido como: dolo alternativo e dolo
eventual. A alternatividade do dolo pode ser: subjetiva (quando se referir à
pessoa) e objetiva (quando disser respeito ao resultado)” (grifo nosso).
TAVAREZ (1972, p.22) esclarece que “não há mesmo razão
científica alguma na apreciação da terminologia de dolo de ímpeto, dolo
alternativo, dolo determinado, dolo indireto, dolo específico ou dolo genérico,
que podem somente trazer confusão à matéria e que se enquadram ou entre
os elementos subjetivos do tipo ou nas duas espécies mencionadas”.
BITENCOURT (2003, p. 215.) refere-se a uma subdivisão do dolo
direto, entre de “primeiro” e de “segundo” grau. Para este doutrinador: dolo
direto de primeiro grau seria referente ao dano que se pretende gerar (dano
desejado e provocado pelo autor); o dolo direto de segundo grau seria relativo
aos outros danos secundários necessários causados em função do meio de
execução escolhido pelo agente que, embora não sejam ansiados pelo agente,
fazem-se necessários para conseguir seu objetivo final.
De forma resumida, ESTEFAM (2008, p. 105) traz a lição de que
este dolo “dá-se quando o agente quer produzir o resultado”.
A doutrina, raramente, traz comentários sobre tais subdivisões, pois
os dois episódios são discutidos como dolo direto tendo importância,
essencialmente, na dosimetria da pena.
Já no dolo indireto, segundo as lições de MIRABETE (2011, p.129)
o conteúdo do dolo não é preciso, definido. Neste caso, poderá existir o dolo
alternativo, em que o agente quer, entre dois ou mais resultados (matar ou ferir,
por exemplo), qualquer deles ou o dolo eventual.
Neste sentido, o professor Damásio de Jesus (2001, p.290) afirma
que acontece quando a vontade do indivíduo não é direcionada à produção de
um resultado determinado, o mesmo é subdividido em dolo alternativo e dolo
eventual.
Na subdivisão o dolo alternativo, para TELES (2008, p.149) ocorre
“quando o sujeito quer um ou outro resultado, por exemplo, matar ou ferir seu
desafeto. Sua vontade dirige-se a qualquer dos resultados, não a um deles
especificamente. Se acontecer o primeiro, estava na vontade do agente. Se
acontecer o segundo, do mesmo modo, era resultado almejado.
Esclarece BASTOS JUNIOR (2006, p. 108) que este dolo é quando
o agente não visa um resultado certo e ocorre quando o agente deseja um dos
resultados possíveis de sua conduta, como no caso em que golpeia a vítima
objetivando, de forma indiferente, matá-la ou feri-la.
Em relação ao dolo eventual, para Damásio de Jesus (2001, p.
291) se caracteriza pela presença de duas características elementares: a
previsibilidade objetiva, que é a possibilidade do agente antever que a conduta
a ser percorrida poderá produzir um resultado danoso, devendo esta
previsibilidade se orientar pelo discernimento que um cidadão comum teria na
mesma situação; e a anuência do autor para com este possível resultado
(indiferença).
LEAL (2004, p. 243) assevera que:

O dolo eventual ocorre quando o agente, embora não desejando


diretamente o resultado, considera como seriamente provável que
sua conduta poderá realizar o tipo penal previsto e concorda com sua
possibilidade. Para utilizar o discurso corrente, caracteriza-se o dolo
eventual em assumir o risco de realizar o resultado. O agente não
quer diretamente assumir o risco de realizar o resultado. O agente
não quer diretamente aquele resultado, mas prevendo-o, assumo o
risco de produzi-lo. Utilizando a conhecida fórmula preconizada pelo
penalista alemão Frank, o dolo será eventual quando o agente,
prevendo o resultado como provável, disser a si mesmo: seja como
for, aconteça o que acontecer, mesmo assim não deixarei de produzir
o resultado.

No mesmo sentido FÜHRER (2003, p. 34) leciona que no “dolo


eventual o agente prevê o resultado. Mas diz para si mesmo : seja como for, dê
no que der, eu não deixo de agir. O resultado para ele é indiferente , mas não
afasta da conduta. Se ocorrer o dano, diz ele, tanto pior para a vítima”.
Portanto, podemos concluir, com base na corrente doutrinária que o
dolo eventual existirá quando o agente mostrar-se indiferente à produção do
resultado.

2.2 CULPA

2.2.1 Conceito

O Código Penal em seu art. 18, inciso II, define: “o crime é culposo
quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia”.
Segundo BITTENCOURT (2010, p. 328) a culpa é a falta de
observância do dever objetivo de cuidado presente em uma conduta que
acarreta um resultado não desejado, porém perfeitamente previsível. A culpa
no sentido, strictu sensu, tem suas raízes fundadas no Direito Romano, mais
precisamente na Lex aquilia. Entretanto, somente bem mais tarde o Direito
Penal o recepcionou, por meio do senatus consultus, depois do seu
aperfeiçoamento no Direito Privado
Para NUCCI (2010, p. 210), culpa “é o comportamento voluntário
desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito ou ilícito, embora
produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que podia ter sido
evitado”.
BRUNO (1966, p. 88) assevera que a culpa “consiste em praticar
voluntariamente, sem a atenção ou cuidado devido, um ato do qual decorre um
resultado definido na lei como crime, que não foi querido nem previsto pelo
agente, mas era previsível”.
MIRABETE (2011, p.138) conceitua o crime culposo como “a
conduta humana voluntária (ação ou omissão) que produz resultado
antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que
podia, com a devida atenção, ser evitado”.
Portanto, a partir da corrente doutrinária acima mencionada,
podemos concluir que o crime culposo consiste na conduta violadora do dever
de cuidado, causadora de um resultado involuntário e que, nas circunstâncias,
era previsível ou deveria ter sido previsto ou evitado.

2.2.2 Elementos da culpa

O doutrinador Damásio de Jesus (2011, p. 340) sustenta que os


elementos do fato do típico culposo são:
1) Conduta humana voluntária, de fazer ou não fazer;
2) inobservância do cuidado objetivo (imputação objetiva)
manifestada na imprudência, negligência ou imperícia;
3) previsibilidade objetiva;
4) ausência de previsão;
5) resultado involuntário;
6)nexo de causalidade;
7) imputação objetiva;
8) tipicidade.”

WELZEL (1970, p.38) assevera que “o injusto culposo tem uma


estrutura completamente diferente do injusto doloso, não contendo o chamado
tipo subjetivo, em razão da natureza normativa da culpa”.
Dito isto, passamos a discorrer acerca de cada um dos elementos
que compõem a culpa. Senão vejamos:
Acerca do primeiro elemento necessário, qual seja, a conduta
humana voluntária (comissiva ou omissiva), segue as lições de GRECO
(2009, p. 200):
A conduta, nos delitos de natureza culposa, é o ato humano
voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que,
por imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter o agente
observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não
querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal.

Sob a ótica de COSTA JÚNIOR (1996, p. 23-24) “a finalidade


endereça-se a um resultado juridicamente irrelevante. A ação culposa
caracteriza-se por uma deficiência na execução da direção final. E esta
deficiência se deve ao fato de a orientação dos meios não corresponder àquela
que deveria em realidade ser imprimida para evitar as lesões aos bens
jurídicos”.
GRECO (2009, p. 200) exemplifica:

[...] alguém, querendo chegar mais cedo em sua residência para


assistir a uma partida de futebol, imprime velocidade excessiva em
seu veículo e, em virtude disso, atropela e causa a morte de uma
criança que tentava efetuar a travessia da avenida pela qual o
automóvel do agente transitava em alta velocidade. A finalidade do
agente era lícita, ou seja, ele não queria cometer qualquer infração
penal, mas sim chegar com maior brevidade possível a sua casa para
que não perdesse a partida de futebol. Contudo, embora lícita a
finalidade do agente, a utilização dos meios para alcança-la é que foi
inadequada, porquanto não observou o seu dever de cuidado, agindo
de forma imprudente ao imprimir em seu veículo velocidade não
compatível com o local. O mais importante é que percebamos que em
toda conduta, seja dolosa ou culposa, haverá sempre uma finalidade.

Comenta ZAFFARONI (1996, p. 228) que “se a conduta não


concebe sem vontade, e a vontade não se concebe sem finalidade, a conduta
que individualiza o tipo culposo terá uma finalidade, tal qual a que individualiza
o tipo doloso [...]. O tipo culposo não individualiza a conduta pela finalidade,
mas sim porque pela forma que se obtém essa finalidade se viola um dever de
cuidado”.
Em relação a outro elemento necessário à caracterização do crime
culposo tem-se a chamada inobservância do cuidado objetivo, manifestada
pela imprudência, negligência ou imperícia.
O art. 18, inciso II do Código Penal descreve que “Diz-se crime
culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência
ou imperícia”.
BITENCOURT (2010, p. 336) afirma que a imprudência se traduz na
prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem o caráter comissivo;
caracterizando-se pela intempestividade, precipitação, insensatez ou
imoderação. É a culpa de quem age, ou seja, aquela que surge durante a
realização de um fato sem o cuidado necessário, podendo ser definida como a
ação descuidada.
Na precisa lição de TELES (2008, p. 228):
Nos dias de hoje – em que a vida incorpora, cada vez mais, novos e
modernos instrumentos e mecanismos, destinados a facilitar a vida do
homem, mas que, conforme sejam manipulados, podem causar sérios
danos -, todos nós temos, cada vez maior, um dever geral objetivo de
adotar toda a cautela, toda a preocupação e precaução, todo o
cuidado possível, para não causarmos, com nossos comportamentos,
lesões aos bens jurídicos.

Conforme as lições de GRECO (2012, p. 63) “imprudente seria a


conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar seu dever de
cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível”.
BRUNO (1967, p. 88) define que “consiste a imprudência na prática
de um ato perigoso sem os cuidados que o caso requer”.
O doutrinador CAPEZ (2013, p. 233) define a negligência nos
seguintes termos:
É a culpa na sua forma omissiva, consiste em deixar alguém de tomar
o cuidado devido antes de começar a agir. Ao contrário da
imprudência, que ocorre durante a ação, a negligência dá-se sempre
antes do início da conduta. Implica, pois, a abstenção de um
comportamento que era devido. O negligente deixa de tomar, antes
de agir, as cautelas que deveria.

GRECO (2009, p. 207) conceitua que a negligência, ao contrário da


imprudência, é um deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha. E
exemplifica, é o caso do motorista que não conserta os freios já gastos de seu
automóvel ou o do pai que deixa arma de fogo ao alcance de seus filhos
menores.
Sobre a imperícia, o doutrinador LEAL (2004, p.256) assevera que
“consiste na falta e habilidade técnica para o exercício de determinada
atividade”.
JESUS (2011, p. 342) discorre que:

Imperícia é a falta de aptidão para o exercício da arte ou profissão. O


químico, o eletricista, o motorista, o médico, o engenheiro, o
farmacêutico etc. necessitam de aptidão teórica e prática para o
exercício de suas atividades. É possível que, em face de ausência de
conhecimento técnico ou de prática, essas pessoas, no desempenho
de suas atividades, venham a causar dano a interesses jurídicos de
terceiros. Fala-se, então, em imperícia. De observar que se o sujeito
realiza uma conduta fora de sua arte, ofício, profissão, não se em fala
em imperícia, mas em imprudência ou negligência. A imperícia
pressupõe que o fato tenha sido cometido no exercício desses
misteres. Além disso, é possível que, não obstante o fato tenha sido
cometido no exercício da profissão, ocorra imprudência ou
negligência. A imperícia não se confunde com o erro profissional. É o
caso do médica que emprega determinada técnica ao executar uma
intervenção cirúrgica em face de escusável erro de diagnóstico.

No tocante a previsibilidade objetiva, MEDINA (2008, p. 492)


afirma que:

[...] é determinada mediante um juízo que se adquire colocando-se o


observador na posição do autor da conduta descuidada no momento
de sua realização, levando em consideração as circunstâncias do
caso concreto e a experiência comum da época sobre os cursos
causais. Sendo o resultado imprevisível não haverá delito algum.

JESUS (2010, p.341) define previsibilidade da seguinte forma:


“significa a possibilidade de antevisão do resultado” e traz à baila outro
elemento “ausência de previsão” afirmando que é necessário que o sujeito não
tenha previsto o resultado. Se previu não estamos no terreno da culpa, mas do
dolo”.
E prossegue ensinando que há dois tipos de previsibilidade, qual
seja, a objetiva e a subjetiva:

[...]sendo que para o critério objetivo, ela deve ser encarada, não só
do ponto subjeito, que realiza a conduta, mas face do homem
prudente e de discernimento colocado nas condições concretas.
Para o critério subjetivo, deve ser conferida mirando às condições
pessoais do sujeito, isto é, a problemática de o resultado ser ou não
previsível é resolvido tendo por base as circunstâncias que precedem
á sua produção.

Acerca do resultado involuntário, FÜHRER (2003, p. 36) assevera


que “na caracterização do crime culposo é necessário que haja um resultado, e
que o resultado tenha sido causado por culpa do agente. Sem resultado lesivo
não há crime culposo, salvo se se tratar de crime de mera conduta”. [sic]
Já sob a ótica do doutrinador ZAFFARONI (2006, p. 438) “todas as
teorias que abordaram a culpa a partir do resultado estiveram completamente
equivocadas, precisamente por sobrevalorar [sic] a função dele, que no tipo
culposo é apenas de delimitar os alcances da proibição. O resultado é um
delimitador da tipicidade objetiva culposa, que alguns têm chamado
‘componente de azar’”.
E continua (2006, p.438):
Quando uma pessoa circula por uma estrada em excesso de
velocidade, realiza exatamente a mesma conduta violadora do dever
de cuidado que quando circula pela mesma estrada e a igual
velocidade, mas com diferença de que causa uma lesão ou uma
morte. Sem embargo, no primeiro caso a conduta será atípica e no
segundo será típica.
A realidade é que o resultado é, efetivamente, um “componente de
azar”, que responde à própria função garantidora – função política –
que deve cumprir o tipo, num sistema de tipos legal. O resultado não
pode ser considerado fora do tipo culposo, nem se pode pretender
que seja uma “condição objetiva de punibilidade”, e sim uma limitação
à atipicidade objetiva, mas que se encontra dentro do tipo objetivo. Se
considerássemos o resultado fora do tipo, os elementos do tipo
objetivo culposo ficariam muito reduzidos, e o tipo culposo ficara
quase limitado a um conjunto de elementos normativos e subjetivos, o
que afetaria seriamente a segurança jurídica. O resultado integra o
tipo porque assim o exige a função garantidora cumprida pelo tipo e a
lei penal em geral, para dizer de todo o direito.

Quanto ao nexo de causalidade, ZAFFARONI (2006, p. 439): A


causalidade no tipo culposo participa das mesmas dificuldades que o resultado,
mas quanto ao mais, sendo um conceito físico, tal como tipo doloso. A
relevância da causalidade para o tipo culposo, não reside na sua utilidade para
a determinação da tipicidade objetiva, mas apenas para a sua delimitação,
posto que a conduta daquele que viola o dever de cuidado é tão causal como a
daquele que age com a sua observância.
BITENCOURT (2007, p. 282) nos ensina acerca da relação à
produção de um resultado e nexo causal, afirmando que “o crime culposo não
tem existência real sem o resultado. Há crime culposo quando o agente não
quer e nem assume o risco da produção de um resultado, previsível, mas que
mesmo assim ocorre. Se houver inobservância de um dever de cuidado, mas
se o resultado não sobrevier, não haverá crime”.
Em relação à tipicidade da conduta, o professor doutrinador
Damásio de Jesus (2011, p. 337-338) ensina que “é típica toda conduta que
infringe o ‘cuidado necessário objetivo’”.
Neste mesmo sentido, LEAL (2004, p. 251) suscita que o causador
de um resultado não desejado realiza um tipo culposo, sempre que sua
conduta negligenciar o dever de cuidado exigível de todo o cidadão.
MIRABETE (2010, p. 135) afirma que:
Os crimes culposos são tipos abertos, carecendo de complementação
de outra norma de caráter geral não integrante do tipo. Para haver a
tipicidade, as condutas cúmplices com modalidade culposa
necessitam ser complementadas pelo artigo 18, inciso II do CP, este
acompanhando o princípio da excepcionalidade do crime culposo, nos
termos do parágrafo único do artigo 18: “salvo os casos expressos em
lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão
quando o pratica dolosamente”. Em outras palavras, somente existirá
crime culposo quando vier declarado explicitamente em lei.

Nas palavras do doutrinador FRAGOSO (1985, p. 230) a tipicidade,


nos crimes, culposos, determina-se através da comparação entre a conduta do
agente e o comportamento presumível que, nas mesmas circunstâncias, teria
uma pessoa de discernimento e prudência ordinários.
Conforme assinalou WESSELS, os delitos culposos, por sua própria
natureza, exigem a evitabilidade da realização do tipo: “O autor negligente será
punido porque não evitou o resultado desaprovado, embora para isso fosse
objetivamente obrigado e subjetivamente capaz”.

2.2.3 Espécies de Culpa

Existem três modalidades das espécies de culpa, quais sejam: culpa


consciente e inconsciente; culpa própria e imprópria; e culpa mediata ou
indireta.
Acerca da primeira espécie de culpa, quais sejam, culpa
consciente e inconsciente, os doutrinadores manifestam-se da seguinte
forma. Vejamos:
Sobre culpa consciente, o ilustríssimo doutrinador ZAFFARONI
(2006, p. 444) conceitua da seguinte forma: “Chama-se culpa com
representação, ou culpa consciente, aquela em que o sujeito ativo representou
para si a possibilidade da produção do resultado, embora a tenha rejeitado, na
crença de que, chegado o momento, poderá evita-lo ou simplesmente não
ocorrerá”.
FÜHRER (2003, p. 37) ensina que “é uma forma excepcional de
culpa, em que o agente prevê o resultado, mas acredita que o mesmo não
ocorrerá, por confiar erradamente na sua perícia ou nas circunstâncias”.
Neste mesmo sentido, GONÇALVES (2003, p. 55) afirma “O agente
prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra. Há a previsão do resultado,
mas ele supõe que poderá evita-lo com sua habilidade. O agente imagina
sinceramente que poderá evitar o resultado”.
Em relação à culpa inconsciente, o doutrinador Damásio de Jesus
(2011, p. 343
FÜHRER (2003, p. 37) afirma que “é a culpa comum, nas
modalidades de negligência, imprudência e imperícia. O fato era previsível,
mas o agente não previu, por falta de atenção devida”.
O professor MEDINA (2008, p. 495) traz à baila uma observação
que, excepcionalmente, a culpa inconsciente pode ser mais grave do que a
consciente. Vejamos:

Normalmente a culpa inconsciente constitui a espécie menos grave


de culpa, uma vez que a censurabilidade da conduta é maior na culpa
consciente, visto que aquela é fruto de desatenção. Entretanto, e
excepcionalmente, a culpa inconsciente pode ser mais grave, na
hipótese de desatenção grosseira do autor (culpa temerária), quando
o agente, com sua atitude, esteja perante uma ação particularmente
perigosa e de um resultado de verificação altamente provável à lua da
conduta adotada, revelando uma atitude particularmente censurável
de leviandade ou de descuido perando o comando jurídico-penal.

Nas palavras GRECO (2012, p. 64) a culpa inconsciente distingue-


se da culpa consciente no que diz respeito à previsão do resultado:
[...] naquela, o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo
agente; nesta, o resultado é previsto, mas o agente, confiando em si
mesmo, nas suas habilidades pessoais, acredita sinceramente que
este não venha a ocorrer. A culpa inconsciente é a culpa sem
previsão e a culpa consciente é a culpa com previsão.

No mesmo sentido ESTEFAM (2008, p. 111), discorre que “nos dois


casos teremos crime culposo; contudo quando age com culpa consciente o
sujeito comete uma ação ou omissão mais reprovável, merecendo pena maior
do que aquele que age com culpa inconsciente”.
Sobre a segunda espécie culposa, quais sejam, culpa própria e
imprópria, os doutrinadores ensinam da seguinte forma:
Damásio de Jesus (2011, p. 344), suscita que culpa própria é a
comum, em que o resultado não é previsto, embora seja previsível. Nela o
agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo.
Nesta ênfase para ESTEFAM (2008, p. 112) a culpa própria é a que
vem sendo estudada, ou seja, aquela oriunda de uma conduta imprudente,
negligente ou imperita.
Em relação à culpa imprópria GONÇALVES (2003, p. 55) traz seu
conceito:
também chamada de culpa por extensão, por assimilação, por
equiparação. É aquela em que o agente supõe estar agiando
acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante putativa) e,
em razão disso, provoca intencionalmente um resultado ilícito. Apesar
de a ação ser dolosa, o agente responde por crime culposo na
medida em que sua avaliação acerca da situação fática foi
equivocada.

O professor MEDINA (2008, p. 495) leciona que a culpa imprópria só


pode decorrer de erro, e de erro culposo, sobre a legitimidade da ação
realizada [...] o erro culposo não se confunde com crime culposo. Daí que a
culpa imprópria decorre do erro de tipo evitável nas descriminantes putativas
ou de excesso nas causas de justificação. Nessa hipótese, o agente quer o
resultado pelo fato de sua vontade encontra-se viciada por um erro que, com
mais cuidado, poderia ter evitado.
Para facilitar o entendimento, o professor Damásio de Jesus (2011,
p. 344) nos trouxe um exemplo. Vejamos:

[...] suponha-se que o sujeito seja a vítima de crime de furto em sua


residência em dias seguidos. Em determinada noite, arma-se com um
revólver e se posta de atalaia, à espera do ladrão. Vendo penetrar um
vulto no jardim, levianamente (imprudentemente, negligentemente)
supõe tratar-se do ladrão. Acreditando estar agindo em legítima
defesa de sua propriedade, atira na direção do vulto, matando a
vítima. Prova-se, posteriormente, que não se tratava do ladrão
contumaz, mas de terceiro inocente. O agente não responde por
homicídio doloso, mas sim por homicídio culposo. Note-se que o
resultado (morte da vítima) foi querido. O agente, porém, realizou a
conduta por erro de tipo, pois as circunstâncias indicavam que o vulto
era do ladrão. Trata-se de erro de tipo vencível e inescusável, pois se
ele fosse mais atento e diligente, teria percebido que não era o
ladrão, mas terceiro inocente (um parente, p. ex.).
Enquanto o erro de tipo escusável exclui o dolo e a culpa, o
inescusável afasta o dolo, subsistindo a culpa. Por isso, o sujeito
responde por crime culposo (homicídio culposo, no caso) e não
doloso.
Por fim, temos terceira espécie de culpa a chamada culpa mediata
ou indireta, que conforme o doutrinador Damásio de Jesus (2011, p. 345) dar-
se-á quando o sujeito, determinando de forma imediata certo resultado, vem a
dar causa a outro.
ESTEFAM (2008, p. 112) aborda sobre esta espécie de culpa da
seguinte maneira:
Verifica-se com a produção indireta de um resultado de forma
culposa. Imagine um assaltante que aborda um motorista parado no
semáforo, assustando-o de tal modo que ele acelere o veículo
impensadamente e colida com outro automóvel que cruzava a bia,
gerando a morte dos envolvidos no acidente. Aquele que produziu a
conduta inicial (o assaltante, no exemplo elaborado) não responderá
pelo resultado indireto, a não ser que: 1) haja nexo causal entre sua
conduta e o resultado posterior; 2) o resultado final possa ser
considerado como um desdobramento previsível e esperado.

Por todo o exposto, vimos que, sob o ponto de vista de sua


estrutura, há quatro classes de tipos penais: dolosos e culposos, objetivos e
subjetivos, as quais se combinam para dar origem aos tipos dolosos objetivos,
tipos dolosos subjetivos, tipos culposos objetivos e tipos culposos subjetivos.
Desta forma, na sequência, abordaremos acerca da diferença da
culpa consciente e do dolo eventual.

2.3 DIFERENÇA ENTRE A CULPA CONSCIENTE E O DOLO


EVENTUAL

Inicialmente, cumpre destacar que, conforme visto anteriormente, a


culpa consciente e dolo eventual são conceitos excludentes e sua distinção
constitui uma das mais difíceis questões do Direito Penal, tanto do ponto de
vista dogmático, como ainda do ponto de vista de sua aplicação prática.
Segundo o doutrinador MEDINA (2008, p. 496) existe um traço
comum entre um e outro: a previsão do resultado ilícito. Mas, enquanto no dolo
eventual o agente consente com esse resultado, assumindo o risco de produzi-
lo, em vez de renunciar à conduta; na culpa consciente, ao contrário, ele repele
a hipótese da ocorrência do resultado, esperando que este não ocorrerá.
GRECO (2012, p. 64) leciona que:

Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita


sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é
querido ou mesmo assumido pelo agente. Já no dolo eventual, o
agente, embora não queira diretamente o resultado, assume o risco
de vir e produzi-lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente,
acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não
quer diretamente produzir o resultado, mas, se este vier a acontecer,
pouco importa.

No mesmo sentindo o doutrinador GONÇALVES (2003, p. 55)


ensina que a culpa consciente “difere do dolo eventual, porque neste o gente
prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra. Para o agente que atua
com dolo eventual, é indiferente que o resultado ocorra ou não”.
Já ESTEFAM (2008, p. 111) aduz que “não se pode confundir culpa
consciente com dolo eventual. Em ambos, o agente prevê o resultado, mas não
deseja que ele ocorra; porém, na culpa consciente, ele tenta evita-lo, enquanto
no dolo eventual mostra-se indiferente quanto à sua ocorrência, não tentando
impedi-lo.
E nos traz um exemplo:

[...] se o agente dirige um veículo perigosamente e em alta velocidade


e vê um pedestre atravessando a rua, tentando, sem êxito, evitar o
atropelamento, teremos culpa consciente. Se nas mesmas
circunstâncias, em vez de buscar evitar o acidente, o motorista
continua com sua direção imprudente, pensando “se morrer, morreu”,
haverá dolo eventual”.

COSTA (2012, p. 35) leciona que “a culpa consciente é muito


semelhante ao dolo eventual. Em ambos os casos, os agentes visualizam e
não querem o resultado antijurídico. Só que na culpa consciente o agente
repele mentalmente o resultado, tem certeza de que não irá alcança-lo,
enquanto que no dolo eventual o agente, mesmo não querendo o resultado, o
aceita se ele vier a ocorrer”.
ZAFFARONI (2006, p. 44) assevera sobre a distinção entre a culpa
consciente e o dolo eventual da seguinte forma: “Aqui há um conhecimento
efetivo do perigo que correm os bens jurídicos, que não se deve confundir com
a aceitação da possibilidade de produção do resultado e, no entanto, não o fez.
Nestes casos há apenas um conhecimento “potencial” do perigo aos bens
jurídicos alheios”.
Pois bem, como podemos ver a distinção entre dolo eventual e culpa
consciente a doutrina apresenta uma multiplicidade infindável de critérios. E a
solução proposta para o problema dar-se-á através da aplicação de três teorias
fundamentais, quais sejam: teoria da probabilidade; teoria da representação ; e
teoria da assentimento (assunto exposto no tópico 2.1.2)
Conforme os ensinamentos de MEDINA (2008, p. 496-497), para a
teoria da probabilidade a distinção entre o dolo eventual e culpa consciente
reside no plano cognitivo, e por isso, de certa forma, no elemento intelectual.
E continua:

Segundo elas não é suficiente para a diferenciação a mera


representação do resultado ilícito como algo possível, uma vez que
essa representação constitui elemento comum tanto a um quanto a
outro. Para o dolo eventual se exige uma espécie de representação
qualificada, ou seja, não basta a exigência da mera possibilidade de
realização, mas requer-se, ainda, que a representação assuma a
forma de probabilidade, ou mesmo de uma probabilidade
relativamente alta.

SANTOS (2002, p. 69) leciona que se deve partir de dois


pressupostos fundamentais para estabelecer de forma coerente à distinção
proposta: o primeiro trata-se da comparação do dolo eventual ao dolo direto no
tocante aos seus efeitos; e o segundo, da avaliação da consciência do agente
ao realizar o tipo, ou seja, o agente deve estar ciente da lesão ao bem jurídico
protegido em decorrência de sua conduta para que se caracterize o dolo
eventual.
Podemos, portanto, observar que a teoria da Probabilidade separa o
dolo eventual em razão do grau de probabilidade da confirmação do resultado
almejado pelo agente, tendo dificuldades em apresentar o elemento vontade.
Assim, haverá o dolo eventual quando o agente prevê como provável, e não
somente como possível o resultado, admitindo ou não o resultado.
Acerca da teoria da representação MEDINA (2008, p. 497) ensina
que “essas teorias propõem para a distinção entre o dolo eventual e a culpa
consciente a análise da vontade do agente. Neste sentido se pergunta se o
agente, apesar da representação da realização típica como possível, aceitou
intimamente a sua verificação, ou ao menos, revelou a sua indiferença perante
ela (dolo eventual); ou se, diversamente, a rejeitou intimamente, esperando
que ela não se verificasse (culpa consciente).
E para facilitar, nos traz um exemplo do caso “Lacman”, de que se
ocupa praticamente a totalidade da doutrina alemã, vejamos:
A aposta com B que é capaz de quebrar, com um tiro, um copo que
uma moça, C, segura não mãe, sem, contudo, atingi-la. A está
consciente de que pode errar o tiro e atingi-la, mas espera que esse
resultado não aconteça, para, dessa forma, ganhar a aposta. A,
embora sinta como um mal a realização típica, considera a sua
possibilidade como um mal menor, e se dispõe a aceita sua
ocorrência. Nessa hipótese, o agente, em vista da finalidade
perseguida, principalmente por não poder alcança-la de outro modo,
se resigna com a possibilidade de que a sua conduta venha a
provocar o efeito indesejado.

Para finalizar, a respeito da teoria do assentimento, MEDINA


(2008, p. 497-498) assevera que nessas teorias partem da ideia de que o dolo
pressupõe algo mais que o conhecimento do perigo da realização típica. O
agente pode, apesar de tal conhecimento, confiar, embora levianamente, que o
resultado ilícito não ocorrerá e age então, comente com culpa consciente.
E continua a destacar que o “essencial para essas teorias é que o
agente leve a sério o risco de (possível) lesão do bem jurídico, que tenha esse
risco em consideração e, não obstante, se decida pela realização da conduta.
O agente está intimamente disposto a arcar com os riscos da sua ação”.
Como exemplo que, considera instrutivo, para a hipótese, o caso
chamado da “correia de couro”, decidido pela jurisprudência alemã. Vejamos:

A e B decidem roubar C, apertando-lhe o pescoço com uma correia


de couro até que ele perca a consciência. Propondo-se a evitar a
morte de C, que previram como possível, resolveram, entretanto,
golpeá-lo antes na cabeça, com um saco de areia, até que ele ficasse
inconsciente. No ato, porém, o saco de areia arrebentou e os ladrões
reverteram o plano inicial, aplicando a correia de couro que tinham
levado e apertando o pescoço de C até que este se imobilizou, para
em seguida se apoderarem dos seus pertences. Após o que,
receando que C já não respirasse, iniciaram procedimento de
reanimação; no entanto C morreu. [...] Neste caso se mostrou
exemplarmente que a morte de C não era, em definitivo, desejada
pelos ladrões; todavia não até um ponto que os conduzisse a omitir a
aplicação da correia de couro, que eles representaram seriamente
como produtora possível de um risco de morte. Logo, nessa base, o
dolo eventual de homicídio deve ser afirmado, na base de que os
agentes se “conformaram” com a realização típica.

Por todo o exposto, podemos analisar que é clara a distinção entre a


culpa consciente e o dolo eventual, onde, basicamente, no primeiro o agente
ignora mentalmente o resultado e no outro ele, mesmo não querendo o
resultado, aceita se ele ocorrer.

3 DO HOMÍCIDIO EM ACIDENTES DE TRÂNSITO


3.1 PARTICULARIDADES DO HOMICÍDIO NO TRÂNSITO

3.1.1 As Modificações Relativas ao Homicídio na Direção de Veículo


Automotor

Inicialmente, cumpre asseverar que muito embora o homicídio ser


considerado crime desde os tempos imemoriais, o homicídio pratico no trânsito
pode-se considerar que é algo relativamente novo, existindo há pouco mais de
um século, o que passa a ser um tempo ínfimo se comparado à história da
humanidade.
No entanto, tal conduta tem-se demonstrado como uma grande
preocupação para a humanidade.
O Código de Trânsito Brasileiro preceitua, in verbis:

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.
Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de
veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o
agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo
veículo de transporte de passageiros.

Essa conduta é culposa, tratando-se, na generalidade dos casos, de


crime comissivo, sendo certo que, em algumas situações, pode ser comissivo
por omissão; como é um crime comum, não se exige qualquer qualidade
especial do agente. Considerando que o tipo penal é claro ao referir-se a
pratica de homicídio, o objeto jurídico tutelado também é a vida humana. O
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que esteja conduzindo um veículo
automotor, independentemente de ser habilitado ou não, consoante se extrai
de julgado do egrégio Superior Tribunal de Justiça:

Inadmissível a responsabilização do pai como coautor em homicídio


culposo ocasionado por seu filho menor que , sem sua autorização,
retira as chaves do carro, mesmo guardadas em local conhecido, e
causa grave acidente, já que inexiste, nesse caso, nexo material ou
psicológico entre a conduta de um e outro (STJ, REsp 85.946/MG, 6ª
T, rel. Ministro Anselmo Santiago, DJU de 4-3-1998, RT 754/585 in
MARCÃO, Renato. Crimes de Trânsito: Anotações e interpretação
jurisprudencial da parte criminal da Lei n. 9.503, de 23- 9-1997. 3ª ed.
São Paulo:Saraiava, 2011)

No entanto, cabe frisar que, neste crime, o legislador restringiu ainda


mais o sujeito ativo, tendo em vista que não basta o delito se enquadrar como
tendo sido praticado no trânsito, uma vez que a conduta deve ser praticada na
condução de veículo automotor. Sendo assim, os condutores de outros
veículos não automotores que cometerem homicídio culposo, mesmo que
enquadrados no Código de Trânsito Brasileiro em outros ilícitos, não são
capitulados pelo artigo 302, do CTB, e sim pelo crime de homicídio culposo
comum, previsto no artigo 121, parágrafo 3°, do Código Penal.
O sujeito passivo do crime de homicídio culposo na direção de
veículo automotor é qualquer pessoa viva, pedestre ou passageira de veículo.
Por fim, Marcão (p. 22, 2011) ressalta que, como o elemento subjetivo desse
crime é a culpa, não há que se falar em o condutor agir com a finalidade
específica de matar.
O art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro tipifica o homicídio
culposo praticado na condução de veículo automotor - não mais sendo aplicado
o artigo 121, parágrafo 3°, do Código Penal - trazendo, além da tipificação mais
específica, a inovação de aumento da pena para a mesma conduta, com a
especificidade de ter sido praticada na direção de veículo automotor. Lima e
Bierrenbach (2005, p. 165) ressaltam que veículos automotores são: “[...]
veículos de propulsão que circulem por seus próprios meios e que servem
normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulem
sobre trilhos (ônibus elétrico)”.
No que tange ao artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro,
ressaltam Lima e Bierrenbach (2005, p. 161) ser estranha a maneira que o
legislador encontrou para tipificar uma ação delituosa, pois, ao invés de
descrever a conduta típica, faz menção ao homicídio culposo. Entretanto,
esses autores não vislumbram violação ao princípio da legalidade, pois,
“apesar de atécnico o atuar legislativo, trata-se de um delito que remete a outro
já tipificado no Código penal, sendo que já é conhecida a figura típica do
homicídio culposo” (LIMA e BIERRENBACH, 2005, p. 162).
Carvalho (2010, p. 81) também ressalta que a técnica legislativa
utilizada para tipificar o delito de homicídio culposo na direção de veículo
automotor tem recebido diversas críticas, isso porque, segundo a referida
Autora, o verbo tecnicamente designa o núcleo do tipo, ou seja, a conduta
indesejável que, por violar o bem juridicamente tutelado, deve sofrer a sanção
descrita na pena.

3.1.2 Homicídio Culposo

Conforme anteriormente ressaltado, o crime culposo é aquele em


que o agente agiu sem o intento de praticar o injusto, nem assumiu o risco de
cometê-lo, mas deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia. Assim, Honorato (2007, p. 461) destaca que há crime culposo no
trânsito quando o condutor do veículo, com ausência de dolo, ou seja, sem
desejar ou assumir o risco de produzir o resultado, “deixa de observar as
regras gerais de circulação e de segurança, e realiza a infração de trânsito,
dando causa a um resultado juridicamente relevante (morte ou lesão corporal)”.
No mesmo sentido, é o conceito formulado por Carvalho (2010, p.
73), que sustenta que “o que se pune no tipo culposo não é a conduta dirigida
a um fim ilícito, mas aquela conduta que, mesmo objetivando um fim
juridicamente irrelevante, é mal dirigida, causando lesão ou perigo de lesão ao
bem jurídico”.
O Código Penal brasileiro estabelece, no seu art. 18, inciso II, que
ocorre o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia. Assim, Lima e Bierrenbach (2005, p.
165) assim definem essas formas de expressão da falta de dever de cuidado
objetivo, elemento do crime culposo:

A imprudência é a ação realizada sem a cautela necessária, com o


agente agindo sem o cuidado exigido na vida de relação e conhecido
pela experiência do homem médio. A imperícia é a falta de aptidão
técnica ou mesmo teórica, a falta de conhecimentos necessários para
a prática do ato, ou para exercer uma profissão, arte ou atividade. A
negligência, por sua vez, tem caráter omissivo, ou seja, é um não-
agir, com falta de cautela ou dever objetivo de cuidado.

O homicídio previsto no artigo 302 do Código de Transito Brasileiro,


como o seu próprio enunciado tipifica, é cometido de forma culposa, remetendo
ao artigo 18, inciso II, do Código Penal. Contudo, prevê uma pena mais
acentuada que a tipificada no código repressivo, no seu artigo 121, parágrafo
3o. A pena prevista para o homicídio culposo praticado no trânsito é de
detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor; enquanto, no Código
Penal, a pena prevista para homicídio culposo é de um a três anos.

Com essas figuras criou-se um novo ramo ou campo do direito penal.


Saem da vala comum do CP os chamados crimes do automóvel, que
eram sempre enquadrados na modalidade culposa do homicídio e
das lesões corporais, o que implicava penas ridiculamente baixas e
ineficazes, tornando o crime sem importância. (RIZZARDO, 2007, p.
586).

No mesmo sentido, é o posicionamento de Honorato (2007, p. 459),


que destaca ser a vida humana o bem jurídico mais precioso, porquanto “Os
crimes de trânsito não podem ser vistos como meras infrações de menor
potencial ofensivo, ou ainda como um fardo, em razão do excesso de serviço
gerado aos órgãos de segurança do trânsito, ao Poder Judiciário ou ao
Ministério Público”. Carvalho (2010) também destaca a importância do bem da
vida e ressalta a relevância de a legislação específica adotar uma pena maior
para o crime de homicídio culposo, cometido na direção de veículo automotor,
porquanto:
[...] tal disposição não fere o princípio da isonomia, porquanto o
trânsito traz as suas especificidades e o maior dever de cautela por
parte daquele que conduz o veículo automotor, dado seu maior risco
de acidentes em comparação à maioria das situações cotidianas.
(CARVALHO, 2010, p. 81).

Contudo, não é cediço o acolhimento dos doutrinadores e juristas


acerca da necessidade de previsão legal especifica para iguais condutas
delituosas - mesmo com a especificidade de serem cometidas no trânsito. Para
D‟Urso (1998, p. 6), era desnecessária a previsão de tipos penais no Código de
Trânsito Brasileiro, tendo em vista que o Código Penal vigente já se mostrava
adequado para punir as condutas criminais perpetradas no trânsito. “Preferiu o
legislador inaugurar novo capítulo penal, bem mais severo e absolutamente
descompassado da codificação penal vigente, representando um verdadeiro
absurdo”.

3.1.3 Homicídio Doloso

O dolo direto, conforme anteriormente definido, é previsto no artigo


18, inciso I (primeira parte), do Código Penal. Portanto, para praticar de crime
de homicídio, com dolo direto, na direção de veículo automotor, o condutor
deve desejar o resultado, ou seja, deve querer que a vítima seja morta. Nesse
caso de incidência de dolo direto, deverá o condutor de o veículo perseguir a
vítima e atirar o veículo, intencionalmente, com vontade de matar, sobre ela,
utilizando-o como arma para atingir o fim esperado: morte da vítima. Assim, o
agente estaria utilizando o veículo diretamente e intencionalmente como uma
arma e deverá sim ser enquadrado na prática de homicídio com dolo direto.
Conforme preceitua Pierangeli (2007, p. 61):
Sempre sustentamos difícil a ocorrência de crime doloso no trânsito,
mas isso não é impossível, quando o automóvel ou máquina similar é utilizado
como meio para a prática de um delito.
Também é possível ser o delito cometido por meio de embriaguez
pré-ordenada, isto é, numa hipótese de actío libera in causa, mas tanto uma
como outra são hipóteses de perpetração do delito com dolo direto, abrigando
situações quase sempre alimentadas pela vingança ou por outro motivo torpe.
No entanto, caso o agente não deseje diretamente a prática do
homicídio na direção de veículo automotor, mas assuma o risco de produzir
esse resultado, não estará incorrendo no dolo direto, mas sim no dolo eventual.
Apesar de o conceito ser relativamente claro, Pierangeli (2007b, p. 61) destaca
que “A hipótese de homicídio cometido mediante dolo eventual é, além de rara,
como informa a doutrina, de difícil comprovação”.
Ressalta-se que o Código de Transito Brasileiro não tipifica o
homicídio doloso cometido no trânsito, em nenhuma de suas formas, nem
direta e nem eventual, bem como que o art. 5°, inciso XXXVIII, alínea d, da
Constituição Federal brasileira de 1988, assegura ao júri a competência para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Sendo assim, se o condutor
praticou o homicídio com dolo, querendo o resultado ou assumindo o risco de
produzi-lo, ele será julgado pelo júri popular e sua conduta será capitulada no
art. 121, caput, do Código Penal, conforme destaca Rizzaldo (2007, p. 609):
“Se presente o dolo, numa de suas modalidades, a capitulação opera-se em
geral no caput do art. 121 do CP, sem afastar as situações dos parágrafos 1° e
2°”.
Não há consenso doutrinário acerca dos critérios utilizados para
determinar a incidência do dolo eventual nos ilícitos penais, corolário exposto
no primeiro capítulo. Em relação aos homicídios cometidos com dolo eventual
na direção de veículos automotores, essa premissa não é diferente. Sobre a
diferenciação entre dolo eventual e culpa consciente em homicídios praticados
no trânsito, preceitua Pierangeli (2007b, p.55): “Estamos, agora, diante de um
dos mais árduos problemas da dogmática jurídico-penal. Mesmo em teoria, a
diferenciação não é fácil. Na prática, é quase sempre impossível”.
Carvalho (2010, p. 83) destaca que diante de acidentes de trânsito,
em que se pretenda saber quanto à ocorrência de dolo ou culpa, o que se deve
perguntar é se o condutor, prevendo a possibilidade do resultado, desejou-o
ainda que indiretamente, o que o nosso Código penal conceitua como assumir
o risco de produzir o resultado previsível. “O condutor que se envolver em
acidente deverá, para que seja processado por crime doloso, não só ter
previsto a possibilidade do resultado, posto que este é também elemento da
culpa, mas, prevendo-o, ter sido no mínimo indiferente quanto a sua
ocorrência” (CARVALHO, 2010, p. 83).
Gomes e Cunha (2010, p. 1084) reconhecem a impossibilidade de
se estabelecer previamente uma regra pela qual se poderia identificar, com
precisão, se o agente agiu culposamente ou se com dolo eventual, mas
ressaltam a importância de se padronizar os julgados com o intuito de
preservar a justiça, tendo em vista a grave repercussão que esse
enquadramento produz.
Outro debate que anima a doutrina é o que diz respeito ao chamado
dolo eventual, cujo reconhecimento, em delitos de trânsito, tem uma
repercussão gravíssima, pois submete o agente para o julgamento pelo
Tribunal do Júri, com a possibilidade de condenação pela prática de homicídio
doloso [...] (GOMES e CUNHA, 2010, p. 1084).
Não há consenso doutrinário acerca dos critérios utilizados para
determinar a incidência do dolo eventual nos ilícitos penais, corolário exposto
no primeiro capítulo. Em relação aos homicídios cometidos com dolo eventual
na direção de veículos automotores, essa premissa não é diferente. Sobre a
diferenciação entre dolo eventual e culpa consciente em homicídios praticados
no trânsito, preceitua Pierangeli (2007b, p.55): “Estamos, agora, diante de um
dos mais árduos problemas da dogmática jurídico-penal. Mesmo em teoria, a
diferenciação não é fácil. Na prática, é quase sempre impossível”. Carvalho
(2010, p. 83) destaca que diante de acidentes de trânsito, em que se pretenda
saber quanto à ocorrência de dolo ou culpa, o que se deve perguntar é se o
condutor, prevendo a possibilidade do resultado, desejou-o ainda que
indiretamente, o que o nosso Código penal conceitua como assumir o risco de
produzir o resultado previsível. “O condutor que se envolver em acidente
deverá, para que seja processado por crime doloso, não só ter previsto a
possibilidade do resultado, posto que este é também elemento da culpa, mas,
prevendo-o, ter sido no mínimo indiferente quanto a sua ocorrência”
(CARVALHO, 2010, p. 83). Gomes e Cunha (2010, p. 1084) reconhecem a
impossibilidade de se estabelecer previamente uma regra pela qual se poderia
identificar, com precisão, se o agente agiu culposamente ou se com dolo
eventual, mas ressaltam a importância de se padronizar os julgados com o
intuito de preservar a justiça, tendo em vista a grave repercussão que esse
enquadramento produz.
Outro debate que anima a doutrina é o que diz respeito ao chamado
dolo eventual, cujo reconhecimento, em delitos de trânsito, tem uma
repercussão gravíssima, pois submete o agente para o julgamento pelo
Tribunal do Júri, com a possibilidade de condenação pela prática de homicídio
doloso [...] (GOMES e CUNHA, 2010, p. 1084).
As inúmeras campanhas realizadas, demonstrando o perigo da
direção perigosa e manifestamente ousada, são suficientes para esclarecer os
motoristas da vedação legal de certas condutas, tais como o racha, a direção
em alta velocidade, sob embriaguez, entre outras. Se apesar disso, continua o
condutor do veículo a agir dessa forma nitidamente arriscada, está
demonstrado o seu desapego à incolumidade alheia, podendo responder por
delito doloso.
Da mesma forma, Rizzardo (2007, p. 608) acredita que são essas
discussões doutrinárias sutis, como a da incidência do dolo eventual nos
crimes de trânsito, que emperram uma eficiente aplicação da lei e contribuem
para o aumento da violência em níveis incontroláveis. Por isso, esse Autor
ressalta a necessidade de classificar a ocorrência do dolo, afirmando que:
[...] há dolo eventual sempre que se dá adesão ao resultado
previsível, e assim quando alguém arremessa um veículo contra outrem,
quando se imprime desenfreada velocidade em via perigosa e com pedestres
em seu leito, quando o motorista se lança na direção encontrando-se
embriagado, dentre centenas de outras hipóteses. (RIZZARDO, 2007, p. 608).
No que tange mais especificamente à pratica de homicídio na
condução de veículo automotor, estando o agente em estado de embriaguez,
aliada à alta velocidade, para bunal do Júri; e, ao final, o réu deverá ser
condenado pela prática de dois (ou mais) crimes: homicídio doloso no trânsito
(art. 121, do CP) e embriaguez a volante (art. 306, do CTB), em concurso
material, em razão de suas objetividades jurídicas serem distintas.
(HONORATO, 2007, p.482).
Quanto aos quesitos mencionados da embriaguez e da velocidade
excessiva, Pierangeli (2007b, p. 60) discorda com a supracitada interpretação.
Esse Autor destaca que a embriaguez não é somente um problema social,
mas, também, um grande problema jurídico e, por isso, as soluções devem ser
diferenciadas. Assim, preleciona que: [...] atribuir responsabilidade penal ao
motorista causador de um acidente, fundada apenas e tão-somente na
embriaguez e na velocidade excessiva, constitui uma indisfarçável adoção da
responsabilidade objetiva. Uma opção pela responsabilidade penal em razão
do evento passa, no nosso entendimento, pela inequívoca aceitação de um
comportamento anímico de comprovação quase impossível, ou por uma
embriaguez pré-ordenada. (PIERANGELI, 2007b, p. 60).
A estipulação de dados quanto à incidência do dolo no crime de
homicídio praticado no trânsito, sem analisar o caso concreto, é criticada por
Puppe (2007, p. 111), na medida em que essa Autora preceitua: “Salta aos
olhos que os tribunais se contentam com o mero conhecimento da
possibilidade de realização do tipo, e aplicam (quando o fazem) a expressão da
assunção aprovadora do risco realmente só com fórmula vazia”. Diante do
posicionamento doutrinário, Wunderlich (1998, p. 462) faz o seguinte
questionamento: “será possível enquadrarmos os autores dos homicídios no
trânsito no homicídio doloso (dolo eventual) sem que, para isso, se tripudie
sobre os fundamentos basilares da teoria geral do delito?”. Nesse viés,
Carvalho (2010, p. 82) destaca:
É nesses casos em que, frente ao clamor vingativo popular, tem se
visto atrocidades jurídicas das mais diversas, várias vezes decidindo por uma
precipitada configuração de dolo eventual, a chocar com o valoroso princípio in
dubio pro reo, consagrado em nosso ordenamento.
Para Pierangeli (2007, p. 58), o aumento do tráfego no Brasil, o
crescimento da indústria automobilística no país e o acesso mais facilitado ao
automóvel, tudo isso em uma estrutura física inadequada, aliados à falta de
fiscalização permitindo que veículos inadequados circulem, determinam a
enorme elevação no número de acidentes. Com isso,
Essa incidência levou a mídia e organismos criados em meio a
situações emocionais a clamarem por punições mais severas. E da pressão
popular advieram, em seguida, os desacertos de decisões e a conseqüente
ruptura com o saber do direito penal. Bem se disse que quando a emoção está
no seu máximo, o direito está no seu mínimo. Daí, crimes claramente culposos
se convertem em dolosos; o dolo eventual, pela sua imprecisão, substitui a
culpa, o versar! in te illicita volta a ganhar dimensão e, com tais adições; temos
a volta da insegurança e da desconfiança em relação à validade do
ordenamento jurídico-penal. (PIERANGELI, 2007, p. 58).
Coutinho (2013), em reportagem publicada Revista Veja, na data de
7 de agosto de 2013, trouxe como matéria de capa37, sob a seguinte
manchete: “Assassinos ao Volante: As mortes no trânsito no Brasil já superam
os crimes de homicídio”, vários dados estatísticos referentes aos homicídios
praticados no trânsito no Brasil, dados esses alarmantes que demonstram
serem os crimes de trânsito a segunda maior causa de morte no país, “Ou seja,
nós, brasileiros, temos mais motivos para temer um cidadão qualquer sentado
ao volante ou sobre uma moto do que a possibilidade de deparar com um
assaltante ou de enfrentar um tumor maligno”. (COUTINHO, 2013, p. 100).
A mencionada reportagem ilustra bem a colocação de Pierangeli
(2007b), demonstrando que a mídia, ao apresentar ao público os índices
alarmantes de homicídios ocorridos no trânsito, faz com que a população
clame, cada vez mais, por punições mais severas e alastre a interpretação dos
homicídios praticados no trânsito para homicídio com dolo eventual. Callegari
(1996, p. 191) alerta que tais interpretações acarretariam até uma
responsabilidade objetiva pelo ilícito, devido à repercussão social, submetendo
o condutor do veículo ao julgamento pelo Júri popular, o que implica dizer que,
no dizer desse autor, “Torna-se claro os resultados de tais julgamentos, onde
praticamente a imprensa e a comunidade já decidiram o veredicto do réu, o júri
serve tão somente para ratificá-lo, ou, tornar o julgamento legal”.
Nesse mesmo sentido, é o posicionamento de Wunderlich (1998, p.
475), que sustenta ser equivocada e divorciada dos novos paradigmas do
direito penal moderno a tentativa de levar ao plenário do júri os homicídios
praticados na direção de veículos automotores e com isso alcançar uma
reprimenda mais gravosa. Além disso, esse autor afirma que, “na tentativa de
dar-se aos crimes de trânsito o enquadramento do dolo eventual, podemos
estar criando perigosamente uma representação genérica em vez de uma
previsão específica, como leciona o moderno posicionamento garantista”
(WUNDERLICH, 1998, p. 475).

4 DO DOLO EVENTUAL E DA CULPA CONSCIENTE NOS


HOMICÍDIOS DE TRÂNSITO

4.1 DO HOMICIDIO CULPOSO COMETIDO EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO

RIZZARDO (2007, p. 607) ensina que: “a primeira figura penal que


passa a ser regulamentada pelo CTB é o homicídio culposo, considerado como
a eliminação da vida de uma pessoa por ato de outra, através de uma causa
gerada por culpa, nas espécies imprudência, negligência ou imperícia”.
No entendimento do doutrinador MARQUES (1961, p. 250) o crime
automobilístico “é toda infração penal oriunda de veículo motorizado, na sua
função de meio de locomoção e transporte, quer de carga como de pessoas”.
Damásio de Jesus (2006, p. 72) define a figura do homicídio culposo
como sendo “a morte de um homem provocada culposamente por outro na
direção de veículo automotor”.
Ressalta-se, portanto, que para caracterizar o homicídio culposo de
trânsito, faz-se necessário estar presente o elemento do tipo, o veículo
automotor.
JESUS (2006, p.74) define veículo automotor como sendo:
“automóveis, motocicleta, motonetas, ciclomotor, trator, ônibus elétrico,
caminhão, caminhão trator, caminhonete, camioneta, microônibus, motor- casa
(motor house) e utilitários”.
Neste sentido, FUKASSAWA (2003, p. 145) assevera que:

Haverá realização típica no matar alguém (homicídio) [...], através de


conduta comissiva, posto que o autor do fato deverá necessariamente
estar desenvolvendo uma atividade,qual seja, estar “na direção de
veículo automotor”,em via pública ou não, tais como
estacionamentos, garagens, etc. [...] direção de veículo automotor
significa estar na posição de dirigí-lo, ao volante do automóvel ou ao
guidão da motocicleta em condições da pessoa operar os seus
mecanismos e estabelecer controle de movimentação e rumo. Assim,
não praticará o crime culposo especial de trânsito o sujeito que
estacionar o seu veículo automotor e dele sair momentaneamente
fazer algo, não freia-lo devidamente e com isso permitir que desça
rua abaixo colhendo uma pessoa.

Desta forma, não estando presente o elemento do tipo, o homicídio


culposo não será regulado pelo Código de Trânsito Brasileiro, e sim pelo
Código Penal.
O artigo 302 do CTB é composto ainda de causas de aumento e
diminuição de pena, que será tratado na sequência.

4.1.1 Das Causas de Aumento e Diminuição de Pena

O doutrinador José Geraldo da Silva (2001, p. 06) leciona acerca


das causas de aumento de pena, senão vejamos:

O fato de o agente cometer homicídio culposo na direção de veículo


automotor, sem ser devidamente habilitado, autoriza a incidência da
causa de aumento de pena, e não funciona como crime autônomo,
mas é absorvido pelo homicídio, em razão do princípio da consunção.
Pode-se aplicar a causa de aumento de pena do inciso III, ainda que
o socorro tenha sido prestado por terceiro, uma vez que foi
descumprido o dever legal de socorrer por parte do agente. Todavia,
se a omissão do agente tiver sido decorrente de perigo de
linchamento, este não responderá pelo delito com agravação da
pena. Quando se realizar-se sobre a faixa de pedestres ou na
calçada, independentemente de a vítima vir a falecer no hospital, ele
responderá pelo homicídio culposo com a pena aumentada.
Finalmente, o fato de o agente conduzir veículo de transporte de
passageiros, como táxi, ônibus escolar, lotação etc. Autoriza a
incidência da causa de aumento de pena.

No mesmo sentido, MIRABETE (2007, p. 974) comenta sobre o


inciso III do artigo em comento: “No homicídio culposo praticado na condução
de veículo automotor, qualifica o crime a circunstância de deixar o agente de
prestar socorro à vítima, quando possível faze-lo sem risco pessoal”.
Sobre o tema, é o posicionamento do Supremo Tribunal Federal:

Homicídio culposo – socorro à vítima – Alcance. No homicídio culposo


a ausência de imediato socorro à vítima é causa de aumento de pena
- § 4º do artigo do Código Penal – descabendo cogitar da atenuante
da alínea b do inciso III do artigo 65 deste Código. A observância da
pena prevista no § 3º do citado artigo, sem aumento, pressupõe haja
o agente prestado, imediatamente, socorro (JSTF 165/291).

Com o advento da Lei nº. 11.275/06, a qual acrescentou o inciso V,


que trata também de uma causa de aumento de pena, se o agente estiver sob
influência de bebida alcoólica ou substância tóxica ou entorpecente.
Sobre este inciso, JESUS (2006, p.91) comenta que “é prescindível
que porte mais de seis decigramas de substância etílica por litro de sangue.
Não basta que o sujeito esteja sob influência de álcool, sendo necessário que
haja nexo de causalidade entre a embriaguez e a conduta proibida (direção
anormal). Não exigir essa condição conduz à responsabilidade penal objetiva”.
Fernando Capez e Victor Eduardo Rios Gonçalves (1999, 32-33)
comentam acerca da não possibilidade de o magistrado reconhecer mais de
uma das causas de aumento de penal, com base na vedação do artigo 68 do
CP:
Hipóteses em que as penas sofrerão acréscimo de um terço até a
metade. Não poderá o magistrado, entretanto, ao reconhecer mais de
uma das causas de aumento, aplicar duas elevações autônomas,
uma vez que o art. 68, parágrafo único, do Código Penal veda tal
atitude. Por questão de equidade e justiça, entretanto, o
reconhecimento de mais de uma delas deverá implicar uma
exacerbação acima do mínimo legal de um terço.

E continuam:

Em relação ao homicídio culposo tem-se admitido a aplicação do


instituto do arrependimento posterior previsto no art. 16 do Código
Penal, que permite a redução da pena de um a dois terços nos crimes
cometidos sem violência ou grave ameaça quando a reparação do
dano é feita antes do recebimento da denúncia. Entende-se que no
homicídio culposo, por ser involuntária a violência, não fica afastada a
possibilidade de incidência dessa causa de diminuição de pena.

Assim, e de ressaltar-se que dependendo de como ocorreu o


homicídio a pena poderá ser diminuída, com fulcro na figura do arrependimento
posterior.
No entanto, faz-se mister salientar que o artigo 302 do Código de
Trânsito Brasileiro tem trazido discussões entre os estudiosos, visto que a
maioria entende que sua previsão possa ser inconstitucional.

4.1.2 Do Conflito de Normas (art. 121 § 3º CP e art. 302 CTB):


Inobservância do Princípio da Legalidade e Aplicação do Princípio da
Especialidade

O doutrinador Paulo José da Costa Júnior (1999, p.55) aduz ser


inconstitucional o artigo 302 do CTB, haja vista que “o dispositivo ofende o
princípio da taxatividade do tipo penal, um dos corolários do princípio da
legalidade. A redação correta para a conduta do homicídio seria ‘matar alguém
e não praticar homicídio’”.
LOPES (1994, p. 128) sustenta sobre o princípio da taxatividade: “É
mister que a lei defina o fato criminoso, ou melhor enuncie com clareza os
atributos essenciais da conduta humana de forma a torná-la inconfundível com
outra, e lhe comine pena balizada dentro dos limites não exagerados”.
FRANCO e outros doutrinadores (1993, p. 21) discorrem sobre a
violação do princípio da legalidade:

A origem e predominante sentido do princípio da legalidade foram


fundamentalmente políticos, na medida em que, através de certeza
jurídica própria do Estado de Direito, se cuidou de obter segurança
política do cidadão. Esta clara significação política do princípio nullum
crimen nulla sine lege explica que se o conceba não apenas como um
aforismo de exclusividade sentido jurídico- penal, mas também como
um postulado de nível constitucional.

Damásio de Jesus (2006, p. 72) suscita sobre o conceito típico do


artigo em comento:
O conceito típico é criticável. Nunca houve maneira mais estranha de
descrever delito. O verbo, que tecnicamente representa o núcleo do
tipo, refletindo a ação e a omissão, não menciona a conduta principal
do autor. É “praticar”. Ora, o comportamento do autor do homicídio
culposo, para fins de definição típica não consiste em “praticar
homicídio culposo”, e sim “matar alguém culposamente”. O verbo
típico é “matar”, e não “praticar”. O sujeito é punido não porque
“praticou”, mas sim porque “matou alguém”. Autor é quem realiza a
conduta contida no verbo do tipo, e não quem “pratica homicídio”.

Por outro lado, NUCCI (1999, p. 34) afirma que:

A legalidade foi respeitada. Quanto à isonomia, nada impede que o


legislador queira dar tratamento mais severo ao homicídio culposo
praticado na direção de veículo automotor, mesmo porque sabe-se
que, mundialmente, é cenário do trânsito que mais ocorrem
homicídios e lesões culposas. Assim, buscou-se tornar mais graves
as sanções penais. Se essa postura será ou não eficaz somente o
tempo vai dizer.

Fernando Y. Fukassawa (2003, p. 143) faz uma critica quanto a falta


de observância do princípio da legalidade:

O legislador não fez convenientemente a descrição típica das


condutas proibidas; deveria fazê-lo com maior precisão possível em
homenagem e para a preservação do princípio da legalidade. Posto
que o tipo penal deve descrever a conduta que se quer proibir, é ele
formulado através de verbos ( matar, ofender, subtrair, constranger
etc.), por vezes de dois ou mais verbos num só tipo ( obter vantagem
ilícita como induzir a vítima em erro, no caso de estelionato – art. 171
do Código Penal). Ao invés de assim proceder, contrariando
recomendações cientifica, não utilizou os verbos identificadores dos
núcleos típicos, “matar” alguém e “ofender” a integridade corporal ou
a saúde de outrem, como corretamente se encontram nos arts. 121 e
129 do mesmo diploma legal.

SOBREIRA (2001, p. 89) afirma que:

É irrecusável a constatação da inconstitucionalidade do art.302 do


CTB, devendo ficar afastada a possibilidade, mesmo puramente
hipotética, de que o defeituoso dispositivo venha a ter incidência e
conseqüente aplicabilidade em casos concretos. Do contrário, estará
irremediavelmente sacrificando o mais elementar sentido de justiça,
que de modo nenhum harmoniza-se com o despotismo legislativo.

Desta forma, conclui-se que, por mais que existe uma discussão, o
posicionamento da maioria dos doutrinadores é no sentido de que o legislador
deveria na promulgação das normas legais, legislar observando o princípio da
legalidade, visto que de nada valerá elaborar normas repressivas de conteúdo
vago ou indefinido.
Para isto, faz-se análise a seguir do conflito aparente de normas.
O homicídio culposo, presente no artigo 121 § 3º do Código Penal é
um tipo penal aberto, poderá ser qualquer tipo de homicídio culposo, já no
artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, ele trata especificamente do
homicídio culposo cometido no trânsito.
Cássio Mattos Honorato (2000, p. 410) comenta a redação do artigo
302 do CTB e aborda acerca da aplicação do Princípio da Especialidade para a
solução do conflito:
O legislador do novo Código de Trânsito Brasileiro inaugurou a parte
especial dos crimes de trânsito criando um tipo penal especial em
relação ao homicídio culposo, previsto no art. 121 § 3º, do Código
Penal. Utilizando-se o Princípio da Especialidade para solucionar o
conflito aparente entre essas duas normas penais incriminadoras,
conclui-se que toda conduta culposa daquele que conduz veículo
automotor, a partir de 22 de janeiro de 1998, que venha a matar
alguém, poderá adequar-se ao tipo penal previsto no art. 302 da Lei
9503/97.

Giuseppe Bettiol (1971. p. 327) traz esclarecimentos acerca no que


tange à especialidade:

Para que haja especialidade é mister, portanto, que a lei especial,


contenha por necessidade lógica, todos os elementos da lei geral e
mais o elemento especializador, que justifica sua existência. Desde
que esta relação subsista entre duas normas, a lei de caráter geral
deve ceder lugar à de caráter especial. É mister, além disso, que as
leis em relação de gênero e espécie sejam colocadas na tutela de um
mesmo bem jurídico, tenham a mesma objetividade jurídica.

Edmund Mezger (apud. FUKASSAWA, 2003, p. 134) leciona que:

O tipo especial prefere ao geral, podendo estar na mesma lei ou leis


diversas. A composição é abstrata. A especialidade é aceita por
todos. O princípio da especialidade tem de peculiar o seguinte: por
seu conteúdo lógico, permite comparação em abstrato sobre as leis a
serem aplicadas, enquanto que os demais exigem um confronto in
concreto das normas que incidem sobre o fato.

FUKASSAWA (2003, p. 150) assevera sobre o aparente concurso


entre as normas:

Os tipos previstos no Código de Trânsito Brasileiro, de homicídio


culposo e lesão corporal culposa (arts. 302 e 303), são especiais em
face dos tipos gerais de idênticos crimes previstos nos arts. 121, § 3º
e 129, § 6º, do Código Penal. É elemento especializante a situação
ou condição de fato em que se encontra o agente: “na direção de
veículo automotor”. Dessa forma, não será difícil, através de
comparação abstrata, concluir que deixará de ser crime de trânsito o
caso em que o condutor saindo do veículo para fazer algo, o
estaciona mal por isso se desgoverna rua abaixo colhendo um
transeunte que vem sofrer lesões ou morte.
Ex positis, observa-se que o Princípio da Especialidade é capaz de
cessar a discussão entre o crime de homicídio culposo previsto no Código
Penal e no Código de Trânsito Brasileiro, prevalecendo a norma especial sobre
a geral.

4.2 DO PROCEDIMENTO PARA JULGAR O HOMICÍDIO CULPOSO


EM ACIDENTE DE TRÂNSITO

Damásio de Jesus (2006, p. 72) ensina:

[...] a ação penal cabível neste caso é ação incondicionada e o rito


processual é “dos crimes apenados com detenção” este previsto no
artigo 539 do Código de Processo Penal. E quanto à suspensão
condicional do processo figura prevista no artigo 89 da Lei dos Juízos
Especiais, “é inaplicável ao homicídio culposo no trânsito, salvo nas
hipóteses de arrependimento posterior (CP, art.16) e semi-
responsabilidade (CP, art. 26, parágrafo único), em razão de redução
da pena.

Segundo o doutrinador Fernando Y. Fukassawa (2003, p. 153) no


homicídio culposo, ação penal será publica incondicionada, de competência da
Justiça Comum, fora da competência do Juizado Especial Criminal. Não admite
o sursis processual porque a pena mínima detentiva é de dois anos.
A suspensão condicional do processo é discutível entre os
doutrinadores, visto que para alguns se admite desde que presente o
arrependimento posterior, conforme explicado no tópico anterior, tipo previsto
no artigo 16 do Código Penal.
Sobre o assunto, leciona Walérian Garcelan Loma Garcia (apud,
FUSSAKAWA, 2003, p. 153-154):

Forçoso concluir que presente o instituto arrependimento posterior,


previsto no art. 16 do Código Penal, causa de diminuição de pena de
um a dois terços, é possível a aplicação da suspensão condicional do
processo nos termos do art.89 da Lei n. 9.099/1995, posto que
considerada a diminuição máxima (2/3), a pena mínima passa a ser
inferior a um ano (oito meses), o que viabiliza a proposta de
transação processual.

Discorre HONORATO (2000, p. 364) “que pelo fato do crime


homicídio culposo previsto no artigo 302 do Código Trânsito Brasileiro, não é
considerado crime de menor potencial ofensivo e prevendo seu preceito
secundário pena detentiva, aplica-se o procedimento sumário, previsto no
Código de Processo Penal”.
Observa-se que quanto ao procedimento nos crimes culposos no
trânsito, não há divergência doutrinária, far-se-á pelo rito sumário (artigo 539 do
CPP).
O doutrinador Fernando Y. Fussakawa (2003, p. 23-25) traz à baila
ensinamentos pertinentes à figura das conexões ou continências entre os
crimes de homicídio culposo e os crimes de perigo, vejamos:

a) o inquérito policial deverá ser instaurado, posto que de


competência do Juízo Criminal Comum o processo e julgamento do
homicídio culposo;
b) remetido o inquérito policial ao Juízo Criminal Comum, o Ministério
Público oferecerá a denúncia pelo homicídio culposo, se for o caso,
prosseguindo-se nos seus ulteriores termos, lembrando que nesse
crime, se cometido por autor que não possui permissão ou
habilitação, haverá causa especial de aumento de pena (art. 302,
parágrafo único, I);
c) os crimes de perigo, se eventualmente não absorvidos pelo
homicídio culposo, serão processados e julgados conforme o Juízo
competente, Comum ou Especial;
d) em caso de arquivamento de inquérito policial porque não
configurado ou impersequível o homicídio culposo, restarão apenas
os referidos crimes de perigo.

Entre o homicídio culposo e lesão corporal:

a) o inquérito policial deverá ser instaurado, havendo ou não


representação da vítima do crime de lesão corporal (art. 88 da Lei
n.9.099/1995), posto que o homicídio culposo é de ação penal pública
incondicionada;
b) o inquérito policial terá destino o Juízo Criminal Comum

Agora entre o homicídio culposo e a omissão de socorro:

a) o inquérito policial deverá ser instaurado, posto que o homicídio


culposo é de competência do Juízo Comum, para onde deverá ser
remetido após conclusão;
b) embora o crime de omissão de socorro (nas duas modalidades
alternativas) seja competência do Juízo Especial Criminal, se estiver
atrelado com o homicídio culposo, a omissão de socorro (na
modalidade própria de “deixar de prestar socorro”) será somente
causa especial de aumento de pena;
c) se o crime de omissão de socorro for na modalidade de “deixar de
solicitar auxílio” (não prevista como causa especial de aumento de
pena de homicídio culposo), haverá concurso material entre ambas
infrações e, com disjunção dos procedimentos, será necessário lavrar
termo circunstanciado relativo ao crime de omissão, remetendo-a ao
Juízo Especial Criminal
E, por fim, a conexão entre do homicídio culposo e afastamento do
local do acidente:
a) o inquérito policial deverá ser instaurado, posto que o homicídio
culposo é de competência do Juízo Criminal Comum, para onde
deverá ser remetido após conclusão;
b) o crime de homicídio culposo não absorve, pelo princípio da
consunção, o de afastamento do local de acidente, razão porque,
disjunção dos procedimentos, com relação a este último crime será
necessário lavrar apartadamente o termo circunstanciado,
rementendo-o ao Juizado Especial Criminal, posto que se insere na
sua competência

Diante do exposto, conclui-se que, comprovada a materialidade e


autoria do delito, causada por imperícia, negligência e imprudência, elementes
estes que caracterizam a figura do homicídio culposo, seguirá o procedimento
do rito sumário (art. 593 CPP).

4.3 DO ENTENDIMENTO DA JURISPRUDÊNCIA EM RELAÇÃO À


FIGURA DOLOSA NOS HOMICÍDIOS OCORRIDOS EM
ACIDENTES DE TRÂNSITO

Conforme visto anteriormente, o homicídio culposo em acidente de


trânsito é previsto no art. 302 Código de Trânsito Brasileiro. Contudo, a Lei não
trouxe tipo penal para o homicídio doloso, motivo pelo qual a tipificação do
delito, nestes casos, será feita a partir do Código Penal.
Desta forma, resta travada uma imensa discussão, tanto na doutrina
quanto na jurisprudência, acerca da ocorrência do dolo eventual e da culpa
consciente nos acidentes de trânsito, sendo que, na forma culposa aplica-se o
Código de Trânsito Brasileiro e, na dolosa, o Código Penal.
FUKASSAWA (2006, p. 119) aduz que “não tão raramente, alguns
casos de homicídios no trânsito, posto identificado corretamente ou não o dolo
eventual, são levados ao julgamento popular do júri”.
Para melhor entendimento da aplicação do dolo eventual e da culpa,
assinalam-se alguns dos entendimentos dos Tribunais pátrios.
Para o Tribunal de Justiça de São Paulo age com dolo eventual
quem assume o resultado:

Atua com dolo eventual aquele que pratica o denominado “racha”


(corrida de carros em via pública em alta velocidade), pois embora
não pretenda causar a morte de ninguém, assume, de alguma forma,
o resultado, que é perfeitamente previsível, provável e possível
(TJSP, 1ª Câmara, 8.4.1996, Rel. Des. Jarbas Mazzoni, RT 731/568

No mesmo sentido, foi o pronunciamento da Suprema Corte Federal:

A conduta social desajustada daquele que, agindo com intensa


reprovabilidade ético-jurídica, participa, com seu veículo automotor,
de inaceitável disputa automobilística realizada em plena via pública,
nesta desenvolvendo velocidade exagerada – além de ensejar a
possibilidade de reconhecimento do dolo eventual inerente a esse
comportamento do agente - justifica a especial exasperação da pena,
motivada pela necessidade de o Estado responder, grave e
energicamente, à atitude de quem assim agindo, comete os delitos de
homicídio doloso e de lesões corporais (STF, 1ª Turma, 20.6.1995,
Rel. Min. Celso de Mello, RT 733/478).

Atualmente a jurisprudência tem reconhecido o dolo eventual


quando conjugados o excesso de velocidade e a embriaguez.

Na verdade, comete, em tese, homicídios dolosos o motorista de


automóvel que, alcoolizado, desenvolve velocidade inadequada em
via pública, sem reduzi-la mesmo ao ver adiante pessoas tentando a
travessia, atropelando e tirando a vida de três delas de modo violento.
A conduta evidencia o dolo eventual, porquanto o agente tem
consciência do perigo concreto criado por sua conduta. (TJSP, rel.
Des.Silva Pinto, RJTJSP 179/265).

Por outro lado, a egrégia Corte Catarinense entende que o dolo


eventual é aplicável quando o agente emprega velocidade incompatível com o
local e sob influência de álcool e, ainda, somados indícios de outras
circunstâncias:

ACIDENTE DE TRÂNSITO – HOMIDÍDIO – RECONHECIMENTO DE


CULPA CONSCIENTE – DESCLASSIFICAÇÃO PARA A
MODALIDADE CULPOSA – VELOCIDADE EXCESSIVA
EMPREGADA – INDÍCIOS DE OUTRAS CIRCUSTÂNCIAS QUE,
SOMADAS, APONTAM PARA A CONFIGURAÇÃO DE DOLO
EVENTUAL – DÚVIDA QUE DEVE SER DIRIMIDA PELO
CONSELHO POPULAR – DECISÃO REFORMADA – RECURSO
MINISTERIAL PROVIDO TJSC (Recurso criminal n. 03.025397-1, da
Capital – Relator: Des. Irineu João da Silva - 04/05/2004).

Em outro julgado, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina


reconheceu que o fato do agente trafegar na rodovia, embriagado e em alta
velocidade, efetivamente arriscando-se a produzir um resultado lesivo, não
desistindo da conduta, configura o dolo eventual, vejamos:

ACIDENTE DE TRÂNSITO - HOMICÍDIO SIMPLES - RÉU QUE


DIRIGE SEU VEÍCULO EM PISTA ASFÁLTICA DE PERÍMETRO
URBANO, EM VELOCIDADE EXCESSIVA E EM ESTADO DE
EMBRIAGUEZ - PRESENÇA DE OUTROS VEÍCULOS NA PISTA NO
MESMO E EM SENTIDO CONTRÁRIO DE DIREÇÃO - DOLO
EVENTUAL CARACTERIZADO - DECISÃO DOS JURADOS QUE
NÃO CONTRARIA A PROVA DOS AUTOS, EIS QUE RESPALDADA
NO CONJUNTO PROBATÓRIO AMEALHADO, INCLUSIVE NUMA
DAS VERSÕES DOS FATOS APRESENTADAS PELO PRÓPRIO
RÉU - APELAÇÃO IMPROVIDA. - A decisão do Conselho de
Sentença, respaldada na prova dos autos, inclusive numa das
versões apresentada pelo próprio acusado, não pode ser acoimada
de ter sido tomada completamente ao arrepio da lei, pois, na verdade,
o réu dirigia seu veículo, no momento do acidente, sob a influência de
bebida alcoólica e em velocidade excessiva, incondizente para as
condições do local e do momento, eis que trafegava em perímetro
urbano. Em assim agindo, indiscutivelmente, assumiu o risco de
produzir o evento danoso, quedando indicado, conseqüentemente, a
existência de dolo eventual, já que não ignorava a presença de
veículos transitando no mesmo sentido e no sentido contrário ao do
seu (TJSC - Apelação criminal n. 97.010667-0, de Balneário
Camburiú - Relator: Des. Alberto Costa - 12/05/1998).

No entanto, os julgadores utilizaram-se de preceitos contidos na


teoria volitiva, na qual o elemento da vontade do agente deve estar presente
mesmo para a caracterização do dolo indireto, ou eventual.
Desta forma, é o entendimento do relator do seguinte julgado, no
sentido de que a embriaguez, alta velocidade e manobras perigosas não são
suficientes para caracterizar o dolo eventual tendo em vista a ausência de
indícios subjetivos de que o réu agiu de modo a não se importar com o
resultado lesivo:
ACIDENTE DE TRÂNSITO. DENÚNCIA RECEBIDA POR INFRAÇÃO
AO CAPUT DO ARTIGO 121 DO CÓDIGO PENAL. PRONÚNCIA.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA
FIGURA TÍPICA DO HOMICÍDIO CULPOSO PREVISTO NA
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA. QUESTÃO QUE EXIGE A ANÁLISE
MINUCIOSA DA PROVA. A decisão de pronúncia corresponde
apenas ao juízo de admissibilidade da acusação, o que determina ser
defeso ao julgador adentrar minuciosamente na apreciação da prova,
bem como fazer juízo de valoração a seu respeito, sob pena de
influenciar os juízes naturais nos crimes dolosos contra a vida.
Contudo, é relevante salientar a tênue diferença entre dolo eventual e
culpa consciente, o que vem a exigir do julgador togado uma maior
profundidade na apreciação do conjunto probatório, ainda mais
quando se tratar de crimes de trânsito, para os quais há legislação
própria, inclusive com tipos penais específicos.
No momento do judicium acussationis é necessária a análise do
elemento subjetivo do tipo, para pronunciar, tão-somente, os
crimes contra a vida cometidos com dolo (direto ou eventual);
evitando, pois, lançar à sorte, em nome do princípio do in dubio
pro societate, os crimes cometidos a título de culpa (consciente
ou inconsciente). Caso contrário, seriam totalmente infundadas as
hipóteses de desclassificação, impronúncia ou absolvição sumária
(REsp n. 705.416/SC, rel. Min. Paulo Medina, j. em 23/5/2006)
(Recurso Criminal n. 2007.063865-9, de Joinville, rel. Des. Moacyr de
Moraes Lima Filho) (grifo nosso).
Assim, com base nos julgados acima expostos, percebe-se que, em
sua maioria, basta somente a previsibilidade para configurar dolo eventual,
estando o agente embriagado e/ou em velocidade excessiva para
configuração.
Ademais, conforme visto no primeiro capítulo desta monografia, o
dolo eventual exige, além da previsão do resultado, também a sua aceitação.
Diferente da culpa consciente, onde é necessária a aceitação do resultado.
Desta forma, diante da tamanha imprecisão de saber diferencias se
o agente queria ou não o resultado, é que os Tribunais têm decidido levar em
consideração as circunstâncias de cada caso.

4.4 DO PROCEDIMENTO PARA JULGAR HOMICÍDIO DOLOSO


COMETIDO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO

O artigo 74 § 2º Código de Processo Penal preceitua: “compete ao


tribunal do júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122,
parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumando ou
tentado”.
São denominados os crimes de competência do tribunal do júri de
dolosos contra a vida, podendo ser tanto o dolo direto como o dolo eventual.
Assim, o procedimento para processar os crimes dolosos contra a
vida, consumados ou tentados, está previsto nos artigos 394 a 405 CPP, fase
de instrução criminal, e nos artigos 406 a 497 CPP, fase própria de
competência do júri.
MIRABETE (2007, p. 1077) ensina que “após o encerramento da
instrução, realizada nos termos dos art. 394 a 405, devem as partes oferecer
as alegações finais no processo dos crimes de competência do Júri, no prazo
de 5 dias, conforme a ordem estabelecida no dispositivo”.
E discorre acerca das alegações finais (2007, p. 1078):

O Ministério Público, o querelante e o assistente pedirão a pronúncia


do réu para que seja julgado pelo júri pelos crimes a eles imputados.
Nada impede, porém, que diante das provas colhidas, seja pedida a
impronuncia ou a absolvição sumária do acusado. Tais
manifestações, porém, não vinculam o juiz, que poderá pronunciar o
réu, como aliás, pode condená-lo, apesar de pedido de absolvição,
nos crimes que se apuraram mediante ação penal pública (art.385).
[...] O defensor do réu deve manifestar-se pela impronuncia,
desclassificação do delito ou absolvição sumária. [...] a defesa pode
ser apresentada em duas fases, como a da contrariedade ao libelo
crime e em plenário.

Segundo o Julio Fabbrini Mirabete (2007, p. 1081), após as


alegações finais, o magistrado determina as diligências necessárias para sanar
eventual nulidade da instrução, onde, na ausência de diligencias ou, realizadas
estas, os autos devem ir conclusos para o juiz proferir a sentença que poderá
ser de pronúncia, impronúncia, desclassificação ou absolvição sumária. O
prazo para que profira a sentença é de 10 dias, contado da conclusão
(art.800,I).
MIRABETE (2007, p. 1084) afirma que na sentença de pronúncia
deve o magistrado estar convencido da existência do delito e dos indícios da
autoria:
Como juízo de admissibilidade, não é necessário à pronúncia que
exista a certeza sobre a autoria que se exige para a condenação. Daí
que não vige o princípio do in dúbio pro reo, mas se resolvem em
favor da sociedade as eventuais incertezas propiciadas pela prova ( in
dúbio pro societate). O juiz, porém, está obrigado a dar os motivos de
seu convencimento, apreciando a prova existente nos autos, embora
não deva valorá-los subjetivamente.

Conforme preleciona o artigo 581, inciso IV, do Código de Processo


Penal, a parte inconformada com a sentença poderá recorrer em sentido
estrito.
A Corte Catarinense entende que se o réu em homicídio de trânsito
for pronunciado deverá ser este julgado pelo tribunal do júri, em fase do
princípio in dúbio pro societate, conforme julgado abaixo:

RECURSOS CRIMINAIS - CRIME CONTRA A VIDA - HOMICÍDIO


QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, INC. III, POR DUAS VEZES, C/C O
ART. 18, INC. I, PARTE FINAL, AMBOS DO CP) - ACIDENTE DE
TRÂNSITO - DECISÃO QUE DESCLASSIFICOU A CONDUTA PARA
O DELITO PREVISTO NO ART. 302, CAPUT, DA LEI N. 9.503/97 -
NULIDADE PELO EXCESSO DE LINGUAGEM AFASTADA
ALMEJADA A PRONÚNCIA NOS TERMOS DA EXORDIAL
ACUSATÓRIA – MATERIALIDADE E SUFICIENTES INDÍCIOS DE
AUTORIA COMPROVADOS NOS AUTOS – DOLO EVENTUAL EM
TESE EVIDENCIADO. Havendo materialidade e indícios suficientes
da autoria do crime, torna-se mais prudente remeter a apreciação das
provas para o corpo de jurados do Tribunal do Júri, por deter esse
competência exclusiva. Nesses crimes, o princípio do in dubio pro
reo dá lugar ao princípio do in dubio pro societate.( Recurso
Criminal n. 2008.059141-9, de Chapecó Relator: Des. Solon d'Eça
Neves) (grifo nosso)

Muito embora outro julgado utilizar-se do mesmo princípio, a


justificativa trazida pelo Relator não se baseou somente nestes termos,
utilizando-se também da teoria da representação, haja vista que levou em
consideração os elementos objetivos da conduta nos quais se pode auferir a
possível ocorrência do dolo eventual, conforme vejamos:

MÉRITO. PRETENDIDA PRONÚNCIA DOS RÉUS.


MATERIALIDADE COMPROVADA E INDÍCIOS DE AUTORIA
EVIDENCIADOS. MOTORISTA DE CAMINHÃO QUE, CIENTE DE
DEFEITO NOS FREIOS, SEGUIU VIAGEM POR SERRA
TRANSPORTANDO CARGA DE 25 TONELADAS (grifo meu).
CONDUTOR QUE EFETUOU CHAMADA DO CORRÉU, SEU
EMPREGADOR, QUE SABIA DO PROBLEMA E DETERMINOU QUE
SEGUISSE O ITINERÁRIO. DEFEITO QUE SE MANIFESTOU E FEZ
COM QUE O MOTORISTA PERDESSE O CONTROLE DA
DIREÇÃO, INVADINDO A PISTA CONTRÁRIA E COLIDINDO COM
O VEÍCULO OCUPADO PELAS VÍTIMAS. ELEMENTOS QUE
INDICAM A EXISTÊNCIA DE DOLO EVENTUAL (grifo meu). NA
CONDUTA DOS AUTORES. QUESTÃO A SER DIRIMIDA PELO
CONSELHO DE SENTENÇA. PRONÚNCIA. RECURSO PROVIDO.
As dúvidas oriundas eventualmente do conteúdo probatório não
autorizam à impronúncia, absolvição ou desclassificação, porquanto
nessa fase impera o princípio do in dubio pro societate. Somente em
circunstâncias extremas de ausência de provas, ou de configuração
inequívoca de excludente de ilicitude é que pode o julgador singular
afastar o caso da apreciação do seu juiz natural (art. 5º,XXXVIII, da
CF).
[...] Dessarte, considerando todos os depoimentos testemunhais,
aliados à prova técnica relativa aos danos percebidos no caminhão, a
ciência manifesta dos réus sobre essa circunstância e o gravoso
resultado do acidente, emerge significativa dúvida sobre o
elemento subjetivo a motivar a conduta dos acusados, se atuou
com dolo eventual (assumindo o risco de produzir o resultado,
ao trafegar em estrada sinuosa, em descida, transportando carga
de aproximadamente 25 toneladas com o sistema de freios
comprometido) ou com culpa consciente, cuja distinção é uma linha
conceitualmente tênue, muitas vezes só encontrada após exaustivo
exame da situação concreta e das provas existentes, o que, nesta
etapa processual implicaria, inevitavelmente, em impróprio juízo
valorativo da prova, desencadeando indevida invasão da competência
do Tribunal do Júri. (Recurso Criminal n. 2012.037444-5, de
Trombudo Central, Relator: Des. Torres Marques) (grifei)

In casu, conforme se depreende do acórdão acima exposto, o


Tribunal de Justiça de Catarina entendeu que ficou caracterizado o dolo
eventual pelo fato de existirem elementos que permitiram ao menos supor a
verossimilhança, em que o motorista teria agido com indiferença aos defeitos
no freio e, portanto, à vida alheia.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS JUNIOR, Edmundo José. Código Penal em exemplos práticos. 5.ed.


Florianópolis: Terceiro Milênio, 2006

BETTIOL, Giuseppe. Direito penal . Trad. Paulo José da Costa Jr. v. 2. São
Paulo: RT, 1971. p.327.

BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte especial. 3.ed. São Paulo:


Saraiva, 2003.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – parte geral. São
Paulo: Saraiva. 2007.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 16ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.

BITENCOURT. Tratado de direito penal: parte geral 1, 15 ed. São Paulo:


Saraiva, 2010.

BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 1966.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 8.ed. São Paulo:
Saraiva, 2005.

CAPEZ, Fernando. Gonçalves, Victor Eduardo Rios. Aspectos Criminais do


Código de Trânsito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 32-33.

CARRARA, Francesco. Programa de curso de direito crimina: parte geral. São


Paulo: Saraiva, 1956. V.1.

CEREZO MIR, José. Curso de derecho penal español – Parte geral. Madrid:
Tecnos, 2001. V II e III.

COPELLO, Patricia Laurenzo. Dolo y conocimiento. Valencia: Tirant lo Blanch,


1999.

COSTA JUNIOR, Paulo José da. QUEIJO, Maria Elizabeth. Comentários aos
crimes do código de trânsito . 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 55.

COSTA JÚNOR, Paulo José da. Nexo Causal. São Paulo: Malheiros, 1996.

COSTA, Fernando José da. Direito Penal: Parte Geral: arts. 1º a 120º. – 3ª Ed.
– São Paulo: Atlas, 2012.

ESTEFAM, André. Direito Penal: Parte Geral – 5. Ed. Rev. e Atual – São Paulo:
Saraiva, 2008.

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – Parte Geral. 8ª Ed. – Rio
de Janeiro: Forense, 1985.
FRANCO, Alberto Silva, SILVA JUNIOR, José, BETANHO, Luiz Carlos,
STOCO, Rui, FELTRIN, Sebastião Oscar, GUASTINI, Vicente Celso da
Rocha,NINNO, Wilson. Código Penal e sua interpretação Jurisprudencial. 4.ed,
ver. e ampl., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1993, p.21.

FÜHRER, Maximilianus Cláudio A. Resumo de Direito Penal: Parte Geral. 22ª


Ed. – São Paulo: Malheiros Editores, 2003.

FUKASSAWA, Fernando Y. Crimes de Trânsito: de acordo com a lei n.9.503,


de 23-9-1997. 2003.

GARCIA, Basileu. Instituições do Direito Penal, São Paulo, Max Limonad, 1982,
v.1.

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal: Parte Geral, volume 7. – 8ª


Ed. – São Paula: Saraiva, 2003.

GRECO, Rogério. Código Penal: Comentado – 6. Ed. – Niterói, RJ: Impetus,


2012.

HONORATO, Cássio Mattos. Trânsito: Infrações e Crimes. 2000. p. 410.

JESUS, Damásio de. Direito Penal, Parte Geral. 31 ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2010.

JESUS, Damásio E. Crimes de Trânsito. 2006. p.72.

JESUS, Damásio E. de. Direito penal: parte geral. 24 ed. São Paulo: Saraiva,
2001.

JESUS. Direito Penal, Parte Geral. 32 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010

JESUS. Direito penal: Parte geral.15.ed.São Paulo: Saraiva, 1992. V.2.

LEAL, João José. Direito Penal Geral. – 3ª Ed. – Florianópolis: OAB/SC editora,
2004.

LIMA, Marcellus Polastri e BIERRENBACH, Sheila. Crimes de Trânsito:


aspéctos penais e processuais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1ª ed. 2005.
LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da Legalidade. S ão Paulo: Editora
Revista dos Tribunais. 1994, p.128.

MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal: Parte Especial . São


Paulo: Saraiva, 1961. vol. 4.

MEDINA, Rafael de Castro Alves. Direito Penal Acadêmico – Parte Geral. 1ª


Ed. – Rio de Janeiro: Andréa Ferreira e Morgado Editores, 2008.

MIRABETE, Júlio Fabbrini e FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal.


26.ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MIRABETE, Julio Fabbrini e FABRINI,Renato N. Manual de direito penal. Parte


geral. 1 vol. 26 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MIRABETE, Julio Fabbrini, Renato N. Fabbrini. Manual de Direito Penal,


volume I: Parte Geral, arts. 1º a 120º do CP – 27ª Ed. Rev. e Atual até 4 de
janeiro de 2011. – São Paulo: Atlas, 2011.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 6.ed. São Paulo: Atlas,
2007. p.974

MIRABETE. Manual de direito penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2000. v. I-II.

MOSSIN, Heráclito Antônio. Júri: Crimes e Processo. Rio de Janeiro: Editora


Forense, 2 ed, 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 10.ed. São Paulo:


Editora Revista dos Tribunais, 2010.

NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes de Trânsito : Lei n.9.503/97. São Paulo:


Juarez de Oliveira, 1999.p.34.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – Parte Geral Parte


Especial. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 1072 p.

PIERANGELI, José Henrique. Direito Penal Brasileiro V.2: Parte Especial. Rio
de Janeiro, Renavan, 2007.
RIZZARDO, Arnaldo. Comentário de Transito Brasileiro. 2007.

SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível. 2. ed. Rio de
Janeiro: Revan, 2002

SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 2000.

SILVA, José Geraldo da. Genofre, Fabiano. Lavorenti, Wilson. Leis Penais
Especiais anotadas. 2001. p.16.

SOBREIRA, Marcelo Ferreira da Rosa. Código de Trânsito Brasileiro – Lei nº


9.503/97 – inconstitucionalidade do artigo 302. Revista Síntese de Direito Penal
e Processo Penal – Porto Alegre: Síntese, v.1,n.6, fev/mar, 2001.

TAVARES, Juarez. Espécies de dolo e outros elementos subjetivos do tipo.


Revista de Direito Penal, n.6, Rio de Janeiro, BORSOI, 1972.

TAVAREZ, Juarez. Teoria do injusto penal. Belo horizonte: Del rey, 2000.

TELES, Ney Moura. Direito Penal: Parte Geral: arts. 1º a 120, volume I – 2ª Ed.
– São Paulo: Atlas, 2006

WELZEL, Derecho Penal alemán. Santiago, Ed Jurídica de Chile, 1970

WELZEL, Hans. Derecho penal alemán. Tradução de Juan Bustos Ramirez e


Sergio Yañes Peréz. Chile: Jurídica do chile, 1987.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de derecho penal – parte general. Buenos


Aires: Ediar, 1996.

ZAFFARONI. Manual de Direito Penal Brasileiro, volume 1: Parte Geral. 6ª Ed.


rev. e atual. – São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 2006

Você também pode gostar