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Boletim Operário Ano XI

Nº 592
Caxias do Sul,04/abr/2020

O Paiz

Rio de Janeiro
26 e 27 de fevereiro de 1896.

Edição nº 49 – Ano III


Página 2

Greve
- Que estranhei ter de pagar a farmácia, logo no primeiro mês
O Fechamento da Fábrica do Corcovado
em que conta era satisfeita pelo montepio dos operários, o dobro
Senhor Redator d’A Noticia:
da importância que no máximo os operários pagavam
- Para esclarecimentos do que a comissão diretora da greve
anteriormente;
dos operários da Fábrica do Corcovado omitiu quando procurou
- Que chegando os meses de dezembro e janeiro atingiram a
essa redação para a informar dos motivos que obrigaram os
cifra superior a um conto de réis em cada mês;
operários a abandonar o trabalho, e a impedirem por meios
- Que nesta progressão não havia porcentagem possível só para
violentos, como hoje sucedeu, a que a maioria trabalhasse,
satisfazer a farmácia, quanto mais aos outros encargos de
devo igualmente informar Vossa Senhoria
médico, enfermeiro, etc.
- Que é do regulamento geral da fábrica, desde que ela
- Que investigando das causas que motivaram o acréscimo das
funciona, que 2% dos ordenados de todo o pessoal, sejam
despesas pude saber que alguns operários usavam e abusavam
aplicados ao serviço médico;
das consultas médicas e do aviamento das receitas em favor
- Que desse serviço beneficiam operários e demais pessoal, e
não só de pessoas que não eram de suas famílias, como
pessoas de suas famílias, o que de resto está estabelecido em
estranhas por completo à fábrica;
todas as fábricas com igual percentagem, ou por outra qualquer
- Que, querendo coibir abusos, avisei os operários de que eles
forma;
praticavam e das medidas que julgava necessárias para o evitar;
- que em tempo eram os remédios à custa do operário;
- Que entre essas medidas declarava que o serviço médico
- que julgando prestar-lhes um serviço, evitando que cada um
continuava sendo para os operários e pessoas de suas famílias
de per si e do seu bolso pagasse a farmácia, procurei saber se
quando provado que o fossem e os medicamentos somente
pagando eles 1% a mais quereriam que os remédios fosses
seriam fornecidos aos operários da fábrica;
pagos pelo que eu chamava Montepio dos Operários;
- Que estranhei ter sido procurado pela Comissão que me
- Que julgo, suficiente essa porcentagem para esse serviço,
entregou a representação que Vossa Senhoria publica, porque
pois que nunca as importâncias pagas a farmácia por eles,
julgava que mais depressa os operários consultariam aqueles
quando os remédios eram à sua custa, passou além de
dos seus companheiros que os estava defraudando do que a
trezentos mil réis mensais;
mim, que procurava zelar os seus interesses;
- Que tendo sido bem aceita por aqueles a quem apresentei
- Quem vendo nessa representação insinuações à minha
esta minha ideia tratei de a por em prática;
pessoa, sobre a forma como eu tinha aplicado o dinheiro do
Montepio dos Operários, dei nessa ocasião a Comissão que me
entregou a representação todos os esclarecimentos precisos;

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- Que nessa mesma ocasião respondi a Comissão que a


porcentagem de 1% a mais que cobrava para botica podia
desde logo deixar de a receber por ter sido resolução minha,
mas que a porcentagem de 2% para médico como letra que era
do regulamento geral, em nada a podia alterar, por ser isso só
competência da Direção; - Que o operário Dodanino Pacheco não compareceu ao
- Que refletissem melhor e resolvessem se queriam deixar ficar trabalho no sábado de manhã, voltando depois do almoço para
os 3% e as coisas seguirem como até então, procurando eu e declarar ao mestre da sua oficina de que não tinha vindo no
eles todos os meios para evitar que menos escrupulosos terço da manhã por doença, e que por esse motivo se recolhia
praticassem os abusos que estavam praticando, ou se queriam de novo a casa, sendo certo porém que houve quem o visse
voltar a pagar somente os 2% como era do regulamento, para seguir de manhã para a cidade, a andar durante o dia nas
serviço médico; circunvizinhanças da fábrica e tendo-o eu próprio visto e com ele
- Que voltaram dois dias depois para me declararem que não falado de tarde, quando se dirigia para uma reunião onde devia
queriam uma nem a outra coisa, ou que fosse facultativo o conferenciar com o procurador escolhido, e na qual ele próprio
pagamento da porcentagem de 2% para os que quisessem; Donadino serviu de Secretário da mesa;
- Quem não sendo possível a cobrança da porcentagem do - Que o Mestre da Oficina sabedor dos motivos pelos quais ele
modo como me era indicada, porque não cobriria ela os tinha faltado ao trabalho, que não foram os de doença despediu-
encargos de médico, enfermeiro, etc., disse-lhes que as coisas o quando na segunda-feira se apresentou a trabalhar;
continuariam por enquanto como estavame que pensassem - Que os Senhores Doutores Lafayette e Silva Mattos
bem e que pensassem no beneficio que todos gozavam entenderam-se hoje com os Operários e eles aceitaram voltar
daquela por assim dizer associação de socorros mútuos por amanhã ao trabalho, sendo-lhes por mim declarado por escrito o
eles formada; que já tinha verbalmente lhes dito, isto é:
- Que não voltaram a reclamar, e nesse mesmo dia fez constar - Que a porcentagem de 1% a mais, e que era aplicada ao
verbalmente pelos mestres das oficinas, que os remédios serviço de farmácia, ficava sem efeito;
continuariam a ser fornecidos aos operários e pessoas de suas - Que a porcentagem de 2% para o serviço médico, sendo do
famílias, provadas que fossem ser suas mulheres, filhos, pais e regulamento geral da fábrica, e nada sobre ela podendo eu
irmãos até 10 anos; resolver, submeteria a deliberação da Direção a pretensão dos
- Que depois fui informado que o presidente da direção operários;
respondeu a esse procurado, que as pretensões dos operários - Que quando a Direção tivesse qualquer resolução a transmitiria
deveriam ser somente resolvidas entre os operários e a aos operários;
gerência ou Direção; Agradecendo a Vossas Senhorias a publicação destas
informações, confesso-me de Vossas Senhorias muito atento
venerador – José da Cruz, Gerente da Fábrica Fiação e Tecidos
Corcovado. Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 1896.
P.S. 26 de fevereiro – A greve continua hoje, e não tendo a
Direção conhecimento dos motivos dela, depois do acordo de

ontem estabelecido entre a autoridade e operários, resolveu


fechar a fábrica por tempo indeterminado.

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