Você está na página 1de 7

-

l'ORTUGAL-B l\ASÍL
IBERO-A M ERlC.~N I SMO
A R ·1· E

'
3.\ SERIE
N.º 2

Uma • •

Cantiga

em



V 1 l a n e e t e
Ao Lulz de :Mo11t11lvo.r - Para o seu eJplrito arlatoua.tJco.


N ão me peç11s mais canções

Por que a cantai· vou sofrendo:
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Se a minha voz conseguisse
Dissuadir tua frieza,
E a tua boca so1·risse !
Mas sóbria por natu1·eza,
Não a posso renovar,
E o brill10 vae-se perdendo ...
- Sou como as velas do altar •

Que dão luz e vão morrendo.



'
A.NTONIO BOTTO

55
Cancão o

de
!IA.RIO
de
SÃ-CARNEIRO
s grandes Horas ! ·vivê-las
A preço mesmo dum crime!
Só a beleza redime-
Sacrificios são novelas.

e anhar o pão do seu dia


Com o suor do seu rosto ... >
-Mas não ha maior desgosto
Nem ha maior vilania !

quem fôr Grande não venha


Dizer-me que passa fome :
Nada ha que se não dome
Quando a Estrela fôr tamanha!
14
~ em receios nem temores,
~lesmo que sof1·a por nós
Quem nos faz bem. Esses dós
Impeçam os inferiores.

s Grandes partam dominem


Sua sorte em suas mãos:
Toldados, inuteis, vãos,
Que o seu Destin(j imaginem!

Nãda nos pode deter:


O nosso caminho é d'Astro !
Luto - embora ! - o nosso rastro,
Se pra nós Oiro ha de ser ! ...
au Mt. CllfOel 4t DMUalt

15
LISEON REVISITED
(1 9 2 6) •

Nada me prende a nada.


Q11ero cincoentn co;sos ao mesmo tempo.
Arweio com ama angastia de fome de carne
O que ntto sei que seja -
Definidamente pelo Indefinido .. .
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as porias abstractas e neccssarias. •


Correram cortinas de todas as hypoteses que eu poderia ver da rua.
Nao ha na traoessa achada o numero da poria que me deram,

A ccordel para a mesma vida para qoe tinha adormecido.


Até os meus e:rercllos sonhados sofreram derrota.
Alé os meus sonhos se senJiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - alé essa vida . ..

Comprehendo a inlerval/os desconne.ros;


Escrevo por lapsos de cansaço;
E um ledio que é até do iedio arroja-me d praia.

Nao ~ci que destino ou futuro compete d minha angustia sem leme;
Nao sei que ilhas do Sal impossível ag1Jardam-me naafrago;
Oa que palmares de lilleralura me dart'la ao menos um verso.

Nao, nao sei isto, nem outra cousa, nem cousa nenhuma •..
E, no fundo do meu espirin11, onde sonho o que sonhei,
Nos campos ullimos da alma, onde memóró sem causa
(E o passado é uma nevoa natnral de lagrimas {alças),
Nas estradas e atalhos das florestas longiquas
Onde suppuz o meu ser,
Fogem desmantelados, ollim11s restos
Da illust'lo final,
Os meus e.rercitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cohortas por existir, esfacelados em Deus.

82
Outra vez /e revejo,
Cidade da minha in/ancla pavorosamente perdida . . •
Cidade triste e alegr1J, outra vez sonho aqui ..•
Eu? Mas S()IJ eu o mesmo que aqui vivi, e aqui vaflel,
E aqui /ornei a vo//ar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voflar 1
Ou somos, lodos os En que eslivlJ aquJ 011 estiveram,
lima série de contas-entes ligadas por um fio memoria,
lima série de sonhos de mim de algttem de f6ra dlJ mim?

Oatra vez /e revejo,


Com o coraç4o mais longiflllao, a alma menos minha.

Outra vez le revejo- Lisboa e Tejo e ludo-,


Transeunte ifllllil de li e de mim,
E.zlrangeiro aqui como em toda a parle,
Casual na vida como na alma,
Pl1anlasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das lab11ns que ranguem
/l'o castelo maldicto de ter qne vi1•tr ...

Outra 'l/ez /e revejo,


Sombra que passa atravez de sombras, e brilha
llm momento a uma luz funebre desconhecida,
E entra na noite um rastro de barco se perde
Na agua que del.ra de se ouvir . ..

Outra vez te revejo,



Alas, ai, a mim nllo me revejo I
Partiu-se o espenho magico em que me revia idenlico,
E em cada fragmento /alidico vejo s6 nm bocado de mim -
Um bocado de li e de mim/• .

ALVARO DE CAMPOS

83
ma arta

rio t á= arntiro tm
rova a stm razão
• • •
uc rctcn eram 1m1nu1r
as
m
rt a
u
õts tntrt o rtista
t • Paris, 19
qutrldo
amigo cssoa ª'
Ntbl l1onlrm o litU ~o.ola! que bt lobo o raroçno ngrnbt(o. Q)rnlá sr rtall!.t n llnbn tfprnut(R qut nrlr rsbo(JI. IQnt
no"rmbro
dr 19 1s
glorio: ~oci rm :paris: :prrcisaua tanta bu11111 olmo, 101110 ••• \!" srt s6 be trio: pocê, ci :prs•oa r o ,fca11co. ;;\q11l-
lrrls4o suprtmll, nunca l~O bl5tt nlt pllt UtrgonlJll - lllÍ p0590 falar AO !trnanbe bo f.'ntnorn ! ! ! (1) C. ba f;, O tipo
compltlo ba "nurrn mrbiorrlbllbt" - ~to é: bo pnllfr. bo grnnbr patifr, cl)ifn: rmbora ~omrnt s.rnsato t, ptlbllcomr111r,
snt 11111n mnnrlJa •••
ci\norn tn111bc111 estou dr. ucJt.G rom o ~ori1r ~trnnnbtf, ~· u111 pobct biabu, mns lrom rapnJ - no mtnoe ... ~ort pobt br111
auollnr n ltutlurl 9ollbdD bo meu r~plrito t o nnsia bournbn com q1Lt o nbrncarln, mru qurribo ~osé ;pnrlJrro ! i11 ! que btsrjo br
1rr ao mru lnbo nlnuun que falr n mln~n lh101u1 ••• ~n{R o l111pos9lurl, mt11 amigo-por mim, ptl.G trnnco t por uorr ! ! O,ut !!on~o
FDbtrmo·nos juntAr nq11l os !ri• !~las trnlJo stmprt lilo pouco sortt, corrtm-mr ali nrstr mautrnto ns roisns tao mal, hlo 1nal qu.e
do rrtlo qur 1nr posso s11rrbrr too nrnnbt ítllclbabt.
)sto udG sno btclnm(óts bt amor - mns ttnlJo 111111n ntct5Sibabr be l~t bl1rr, lnnhl : - !tlru qurillo ~o•i pac~rr4,
u110 gosto br si !
porque o meu Pai outra "criatura
(17,' o 111r1111u1 que 11os 11111111116 cartas, infa11111t11rn1r, c11 11ioo no mtn lJal - é
adorl!Vtl" onlrn crlnlnrn "como uor(s". ({l rstn frnst toocn bc "rrinlnra nbornurl" é 11n orrbnbe oqntln qnr mcll1or 11!9niflca
• que cu quero rrprltnlr.
l)rrbor-nte lttbo isto - utns nnbo hlo ltistt, 1110 brsolnbo. (lluc uoninbr hurnfn bt clJoror ! !lno iulont qnr Isto r llttrcitura
n prsslmltmo bnrnto. <!:' 119.sim lnl t qual.
!Jln!I ndo quero 1mportu1111-lo ntnls rorn os mlu~as mtigua!l. iJrrb.or-mr - rrpllo- cstr bt~nln1fo. l':' uma 11u1611 bt t5tar
1a sut1 qtttrlbn t11111pon1J iJJ •..
- ,~ l~rorgcllt foi onlrm procurnc-111c. ~ló.o me rnrontrnnbo beirou biic qur uollnrln IJofc. ~ssint arontrrtu. (l'ontun-iuc qnt
ur1bcrn mnn rnrtn bo mru amigo bl1cnbo·ll1e que a ~rnnro t!llnun Jií no mtn !Joltl - r uln~o bJ1cr-l11c "bott jour". prrnuntou-mr e1
~llt snbi.1 bo Jrnnro. <!'11 'blsst-llJt o que stl r t s.6 o que jil to1111111iq11ti no mru nmlgo: q11c ele mr torrruru ~n L2 bins bl1rnbo que btuia
slr fnt llccncn 1111r lobo '''' mrs• .tlolrl lntoomrntr com n roµ11rlg11 qnr ncl1rl beutrn!l lnltrcr.$nnlr nn sun ronucnu1- falamos br lltt·
r1111ra. Ylo&lrrl-LIJt ~s utrus llllro~ t o "(l)rftu" fntrnbo rcssallnr ne suns cnpns bo ~lsprre6o, Q!:eu cm ~õgo e CJ>ríru qur ria ac~•u
alto belas nlnbn qur muito, mullo rstrn11!1ns. <!:utflm pnssrl IJorn r mtln muHo 09rnbnutl. cr.'ln bifllt·me que l~t lo e•rrrurr 11ma11~ã.
- ~lmn proun bt q11r o~ . .!'rrrrirn i bom rnpaJ: tnbenbo bn rri&ltttria bo &ronco, por cu l~r ler fnlabo ntlr, foi ltr ror.1 o
~.s~itr bt «nrual~O por este tstnr tncnrrcgnbO bt bi,;tribuir íunboll be ÍfSIDS e bonnll0Jl6 que lttn cm Stll pobtr, para Ot OOIUnlarfoS
f•rtuguror11. ;?.ssltn o frnnco rtctbrrrl nus mllrtis quanbo ulrr n ,Pnri11- o qut nllo nconlrrrcln sr nao fosse o culbabo trpo11111nco
•~ lf. ~trrrlrn pois o e,. be rnrunllJO i311or11uo por co1nplrto-r111110 lobn o gente- n trintc11cl11 bu111 uolnnlnrio portuguls «11r-
IQt ;franco.
- (/'." tubo qunnto por IJojt ll1r ttnlJG n bl1rr, mru nmlJ)o. ~ttplicnun·l~t tnrnreclbnntenlt, como um ~rocjo intslhnnurl, que
o mais brrut p~.11slurl me nrus11ast 11 rrctvfno btsta rnrtn • .Cacn um rr.forço-11111 lllmplt$ postal. ~tl!·tnt t4o btnt rrcrbrr nlltlcill5
nas! CrufJn b6 bt num! ~stnr rm l)11rls, por Jllori.oso qut 11tln, r ciptnas 11111a rompr11s11c110 p11r11 a min~a tristr1a.
Unt grnnbr abrnfo com loba n mlnl111 nltnn.
(9 !\til, Stll

Você também pode gostar