Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
ABSTRACT
This paper was developed with a view to identifying the socio-cultural impacts
produced by the tourism in the life, habits and socialization of the population
of Barreirinhas, Maranhão, Brazil. The Project for a Sustainable Development
of Tourism in the Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses was taken as a
benchmark. The project proposes an upgrading of the infrastructure of tourism
in the communities around the Parque Nacional dos Lençóis including
Barreirinhas. In fact strong changes are happening. The analytical challenge
is to identify in which direction “the wind will blow” considering the impetuosity
and voracity of these changes that are displacing the time, locations, history
and tradition of Barreirinhas.
1 INTRODUÇÃO
*
Mestra. Coord. Curso de Especialização em Gestão Cultural. Docente-Faculdade São Luís.
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
2
voracidade das mudanças que estão a desalojar tempos, lugares, histórias e tradições de
Barreirinhas.
A opção pelo tema tem origem numa proposta mais abrangente de investigação,
no âmbito do meu Projeto de Tese de Doutoramento, que estou a desenvolver na área da
Cultura, na Universidade de Aveiro – Portugal. Com efeito, minha proposta investigativa tem
como universo empírico a cidade de Barreirinhas, um dos municípios que integram a região
dos Lençóis Maranhenses, com forte expressão na dimensão ecoturística, com um fluxo de
visitantes que vem se intensificando ao longo dos anos 2000.
Justifica-se então, meu foco de estudo, na confluência dos eixos temáticos
Cultura e Turismo. O fio condutor de minha tese de doutorado é investigar as mudanças
sócioculturais em Barreirinhas, sob o impacto do turismo, enfatizando as redefinições no
modo de vida da comunidade local, na (re)construção de identidades culturais. Neste
trabalho, tomo como objeto o fluxo das mudanças em Barreirinhas que apontam para uma
redefinição de identidades1.
Entendo que as reflexões aqui contidas, integram um processo de investigação
em curso, constituindo um recorte específico de meu objeto e do universo empírico de
estudo. Nesse contexto, dúvidas e contradições delineiam-se como desafios nos percursos
investigativos.
1
Na construção do meu raciocínio analítico, trabalho identidade como um conceito estratégico e posicional,
buscando romper com qualquer visão essencialista. Na linha teórica de Hall, “essa concepção aceita que as
identidades não são nunca singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições
que podem se cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujeitas a uma historicização radical, estando
constantemente em processo de mudança e transformação. (Hall, S. 2000, p. 108)
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
3
metade de seu território, mais precisamente, 44,86% no Parque dos Lençóis que, nos
tempos atuais, desponta como elemento fundamental de inserção do Maranhão nas rotas
mundializadas do turismo.
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi criado em 02.06.1981, pelo
Dec. Lei 86.060, como área especial de proteção ambiental, possuindo como elementos
característicos: vegetação costeira, mangue vermelho e um exótico complexo de dunas e
lagoas, considerado o “deserto brasileiro”. O Parque encontra-se sob guarda e gestão do
Governo Federal, através do IBAMA e, possui 155.000 hectares de área e 70 km de praias.
Como a oficialização do Parque dos Lençóis, começam intervenções pontuais e específicas
no âmbito do turismo, em termos de acordos e parcerias entre governo federal, estadual e
municipal.
Em 2000, o então Governo do Estado fez um contrato com o LABOHIDRO -
Laboratório de Hidrobiologia da UFMA - para elaboração do Plano de Manejo2, que contou
também com a participação de técnicos do IBAMA, especialistas em Unidades de
Conservação. Este Plano estabelece critérios técnicos e sócio-ambientais para uso do
Parque: organização das trilhas, definição das zonas de uso, bem como normas e regras de
acesso a cada uma das zonas. Assim, circunscreve delineamentos-chave para a afirmação
do Parque Nacional dos Lençóis como área de preservação ambiental e turismo.
Em 2003, celebra-se um Acordo de Cooperação Técnica celebrado entre a
Agência Espanhola de Cooperação Internacional – AECI, e o Ministério do Turismo – MTur,
com execução prevista num período de três anos: 2005/2007. Para viabilização está
previsto um sistema de ‘financiamento compartilhado’ entre a AECI, o Ministério de Turismo
e outros atores. Por força deste acordo institui-se o Projeto que, em termos oficiais
denomina-se “Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Turismo no Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses”, que passo, aqui, a denominar de “Projeto de Turismo no Parque dos
Lençóis”.
Em sintonia com o acordo celebrado, a perspectiva do Projeto é viabilizar o
desenvolvimento sustentável do turismo em regiões de baixo Índice de Desenvolvimento
Humano. De fato, os municípios de Barreirinhas, Paulino Neves, Tutóia – que estão no
entorno do Parque Nacional dos Lençóis – apresentam um dos mais baixos IDH do país.
Esses municípios, acrescido, posteriormente, do município de Santo Amaro, correspondem
à área de intervenção do Projeto. Especificamente, Barreirinhas apresenta o Índice de
2
BRASIL. MMA /IBAMA. Plano de Manejo do PNLM, Barreirinhas, 2004. CD Room. O Plano de Manejo é o
instrumento oficial de planejamento das Unidades de Conservação (UC). Nele, estão contidas a caracterização
das Áreas de Influência e a Zona de Amortecimento do PNLM, onde são identificadas as ameaças e
oportunidades que o entorno oferece à UC, assim como, a avaliação dessa dinâmica para futuras ações de
manejo.
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
4
3
O conceito de desenvolvimento sustentável foi institucionalizado pelo Relatório Brundtland, em 1987. A partir de
então, suas dimensões vêm sendo ampliadas, tendo sido propostas, recentemente, oito (SACHS, 1996): social
/econômica / ecológica / ambiental / espacial / política-nacional / política-internacional e cultural. É um conceito
que enfrenta severas críticas por parte dos estudos de diferentes áreas, por sua ‘indefinição’, pela compreensão
equivocada e uso indiscriminado, assim como pelas dificuldades em sua operacionalização.
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
5
O que era Barreirinhas há dez anos atrás? Uma pequena e pacata cidade do
interior do Estado, que vivia “preguiçosamente”, às margens do Rio Preguiças. Em face das
dificuldades de acesso, não havia muitos veículos circulando pela cidade. Os moradores
guardavam antigos hábitos de convivência, como sentar-se, ao final da tarde, às portas de
suas residências. Estou falando de um período em que os moradores, de modo geral, se
conheciam uns aos outros, sabiam a procedência de seus vizinhos e as relações de
parentesco. Mantinham, entre si, laços afetivos e relações de amizade, baseada na
solidariedade e cordialidade mútuas, vivenciando tradicionais relações de conflito, de
disputa política. Enfim, vivia-se, então, em Barreirinhas uma sociabilidade típica da zona
rural: as teias de sentidos da cultura fundavam-se no compartilhamento de valores, de
práticas e de bens simbólicos, no âmbito de formas de domínio social, peculiares às
heranças culturais da população brasileira.
Hoje, as mudanças saltam aos olhos! Qualquer pessoa que tenha retornado,
após três ou quatro anos, ou mesmo, os próprios moradores de Barreirinhas têm a
percepção das mudanças que tem o turismo como centro gerador. A população local,
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
6
principalmente, está a respirar, no seu cotidiano, os novos ares de uma cidade em mutação
constante, intensa e rápida em diferentes aspectos e dimensões da vida.
Em verdade, o ritmo intenso das mudanças estabelece novas conexões de
tempo-espaço no cotidiano da cidade. Isso significa que a cidade e sua população estão
envolvidos em um ciclo de turismo que confere um processo acelerado de vida e uma
reconfiguração do espaço pela dinâmica da mundialização fundada em novos sistemas de
comunicação, impondo estilos de vida, padrões de consumo, valores e referências.
No percurso etnográfico que estou a viver, em diferentes momentos, percebo
que a população local vem se inserindo nos circuitos globais via presença, na cidade, de
turistas de diferentes partes do mundo, de agentes empreendedores dos diversos ramos de
negócios interligados ao turismo. Tudo isso tem gerado novos processos de sociabilidade,
de interações, conflitos e acomodações. Esses processos envolvem, portanto, relações de
poder, inclusive para definir quem é incluído e quem é excluído, reforçando a experiência de
divisões / assimetrias e desigualdades sociais, na cadeia produtiva do turismo em
Barreirinhas.
Além do fluxo de turistas e da presença de diferentes agentes e
empreendedores turísticos, fica claro que a “explosão de gente de fora” tem se ampliado
com outros atores do mundo acadêmico e das instâncias técnicas: pesquisadores nacionais
e internacionais, consultores técnicos, professores de universidades públicas e privadas do
país. Um dos fatores determinantes da estadia desses novos personagens na vida da
cidade tem sido a multiplicidade de eventos.
Numa visão macro da dinâmica local no contexto contemporâneo, identifico que
esse processo de mudança é gerado e intensificado no âmbito da própria cadeia produtiva
do turismo, acrescidas das ações desencadeadas pelo poder público, via políticas públicas,
em resposta às demandas que se colocam para o município. Além dessas forças oriundas
do mercado turístico e do Estado (em seus diferentes níveis), considera-se, também, a
própria dinâmica da sociedade que sofre influências e impactos, mas tem suas estratégias
de sobrevivência, suas formas de resistência e busca de alternativas, face à chegada do
‘furacão’ do turismo em suas vidas.
Percebo, portanto, que na teia das relações político-institucionais que contam
com a participação dos setores do ‘trade’ turístico e de segmentos da sociedade civil,
ocorrem processos de interação, de cooperação, de negociação, mas também de conflitos e
disputas pelo poder, por recursos simbólicos e materiais, pelo mercado consumidor, no
contexto da sociedade local de Barreirinhas e, no âmbito local/global. Assim, verificam-se
“encontros” e “desencontros” entre as elites empresariais, o poder público municipal, as
ONGs e a população com a sua cultura, seus modos de viver e conviver.
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
7
Vale destacar, aqui, uma estreita relação entre turismo e o marketing que, ao
reproduzir no campo do lazer e do entretenimento, a lógica da valorização dos espaços
como mercadorias, constroi a percepção e o desejo simbólico do consumidor. No caso
particular de Barreirinhas, o apelo publicitário de estímulo a um tipo de lazer, desperta
desejo de fruição das belezas naturais representadas pelos ‘grandes lençóis’, ‘lagoas e
dunas’ de uma reserva ecológica, que bem se coadunam ao ecoturismo ou turismo de
aventura. Assim, Barreirinhas, como cidade turística e “portal de entrada” de um Parque
Nacional, é o centro de atenções e desejos das pessoas.
Aproximando nossa lente para o plano micro dos atores que estão na ponta da
cadeia produtiva, aqui destaco, dois segmentos da população local que têm recebido um
impacto intenso e direto em suas vidas: Artesãos e os Condutores Turísticos, incluindo os
Toyoteiros e Operadores de Lanchas. De fato, no contexto das múltiplas relações que
estabelecem, seja na venda do produto artesanal, seja no serviço que prestam na condução
do turista aos passeios no Parque dos Lençóis, estes segmentos têm viabilizado formas de
inclusão nos processos da oferta turística.
Os Artesãos têm uma trajetória de organização, desde o processo embrionário
de formação que se iniciou em 1999, passando pelo período de constituição formal da
“Associação de Artesãos de Tapuio e Laranjeiras” (povoados rurais de Barreirinhas), em
2004 e, mais recentemente, em 2006, culminando com o registro formal da “Cooperativa dos
Artesãos dos Lençóis Maranhenses”, (ARTCOOP). A Cooperativa conta atualmente, com 94
associados, abrangendo um total de 12 comunidades da zona urbana e rural, de
Barreirinhas. Durante essa trajetória de vida associativa os artesãos têm contado com o
apoio técnico, tanto no âmbito da administração organizacional, como financeiro, de órgãos
públicos e privados, como o Sebrae, o Banco do Brasil, o Ministério do Desenvolvimento
Agrário, a Prefeitura Municipal e, recentemente, (final de 2006), a ITCP (Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares).
Os Condutores Turísticos integram um segmento da juventude local com
inserção na atividade turística. Este segmento, em sua maioria, formado por jovens na faixa
etária entre 18 e 25 anos, vem se inserindo há mais de quatro anos no mercado de trabalho,
prestando serviços como: “Condutores Turísticos”, “Toyoteiros” e “Operadores de Lanchas”,
conquistando um espaço de trabalho que, a cada dia, vem se ampliando e exigindo
qualificação profissional. Muitos deles mantêm vínculos empregatícios junto a Agências
Locais de turismo, outros, trabalham de forma independente.
Em 2006, os Condutores Turíscos de Barreirinhas foram capacitados, através
do Curso de Monitores Ambientais, oferecido pelo IBAMA, com possibilidades de vir a se
constituir uma Cooperativa de prestação de serviços. O processo de capacitação teve um
significado relevante na vida desses jovens e na (re)construção de identidades.
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.
8
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da S. (org.) Identidade
e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.