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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍCAS PÚBLICAS
UFMA QUESTÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO NO SÉCULO XXI

BARREIRINHAS NOS FLUXOS DO PROJETO DE TURISMO NO PARQUE NACIONAL


DOS LENÇÓIS:
para onde apontam as mudanças na construção de identidades culturais?

Irlene Menezes Graça*

RESUMO

No presente trabalho, centro meu olhar nos impactos socioculturais


produzidos pelo turismo na vida, hábitos, modo de viver e conviver da
população de Barreirinhas. Tomo como marco o Projeto de Desenvolvimento
Sustentável do Turismo no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses que
encarna a poposta de melhoria da oferta turística das comunidades que estão
no entorno do Parque Nacional dos Lençóis, dentre elas, Barreirinhas. De
fato intensas mudanças se processam. O desafio analítico é entender para
onde apontam os “ventos” no ímpeto e voracidade destas mudanças
desalojando tempos, lugares, histórias e tradições de Barreirinhas.

Palavras-chave: impactos sócioculturais, identidades culturais.

ABSTRACT

This paper was developed with a view to identifying the socio-cultural impacts
produced by the tourism in the life, habits and socialization of the population
of Barreirinhas, Maranhão, Brazil. The Project for a Sustainable Development
of Tourism in the Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses was taken as a
benchmark. The project proposes an upgrading of the infrastructure of tourism
in the communities around the Parque Nacional dos Lençóis including
Barreirinhas. In fact strong changes are happening. The analytical challenge
is to identify in which direction “the wind will blow” considering the impetuosity
and voracity of these changes that are displacing the time, locations, history
and tradition of Barreirinhas.

Key-Words: Socio-cultural impacts, cultural identity, sustainability.

1 INTRODUÇÃO

No presente trabalho, centro meu olhar nos impactos socioculturais produzidos


pelo turismo na vida, nos hábitos, nos modos de viver e conviver da população de
Barreirinhas. De fato, à medida que a dinâmica da cidade vem se tornando, a cada dia, mais
exposta às influências externas, pelo fluxo intenso de turistas de todo o mundo, pela
presença e circulação de agentes diversos que integram a cadeia produtiva do turismo,
mudanças intensas se processam nas identidades culturais dos diferentes segmentos
sociais que lá residem. Quero entender para onde apontam os “ventos” no ímpeto e

*
Mestra. Coord. Curso de Especialização em Gestão Cultural. Docente-Faculdade São Luís.

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voracidade das mudanças que estão a desalojar tempos, lugares, histórias e tradições de
Barreirinhas.
A opção pelo tema tem origem numa proposta mais abrangente de investigação,
no âmbito do meu Projeto de Tese de Doutoramento, que estou a desenvolver na área da
Cultura, na Universidade de Aveiro – Portugal. Com efeito, minha proposta investigativa tem
como universo empírico a cidade de Barreirinhas, um dos municípios que integram a região
dos Lençóis Maranhenses, com forte expressão na dimensão ecoturística, com um fluxo de
visitantes que vem se intensificando ao longo dos anos 2000.
Justifica-se então, meu foco de estudo, na confluência dos eixos temáticos
Cultura e Turismo. O fio condutor de minha tese de doutorado é investigar as mudanças
sócioculturais em Barreirinhas, sob o impacto do turismo, enfatizando as redefinições no
modo de vida da comunidade local, na (re)construção de identidades culturais. Neste
trabalho, tomo como objeto o fluxo das mudanças em Barreirinhas que apontam para uma
redefinição de identidades1.
Entendo que as reflexões aqui contidas, integram um processo de investigação
em curso, constituindo um recorte específico de meu objeto e do universo empírico de
estudo. Nesse contexto, dúvidas e contradições delineiam-se como desafios nos percursos
investigativos.

2.BARREIRINHAS NO ÂMBITO DO PROJETO DE TURISMO NO PARQUE NACIONAL


DOS LENÇÓIS MARANHENSES.

A cidade de Barreirinhas situa-se na Mesorregião do Oeste Maranhense e na


Micro Região da Baixada Oriental Maranhense (Lençóis Maranhenses).
O município possui um contingente populacional de 39.669 habitantes (IBGE,
2000), dos quais apenas 33,3% residem nas, aproximadamente, 232 áreas urbanas estáveis
do território do município. A sede de Barreirinhas situa-se a 42 km da foz do rio Preguiças,
no povoado de Atins. O rio Preguiças é o principal recurso hídrico de Barreirinhas e, como
tal, desempenha funções essenciais na vida de seus moradores e visitantes: via de acesso
às comunidades e ao Parque Nacional; via de escoamento de produtos oriundos da pesca e
da pequena agricultura; fonte de alimentos e recursos; área de lazer e de trabalho.
Barreirinhas, juntamente com Primeira Cruz e Santo Amaro, encontram-se na
área do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM). Hoje, esta inserção no Parque,
constitui o capital turístico destes municípios, sobremaneira de Barreirinhas que tem quase

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Na construção do meu raciocínio analítico, trabalho identidade como um conceito estratégico e posicional,
buscando romper com qualquer visão essencialista. Na linha teórica de Hall, “essa concepção aceita que as
identidades não são nunca singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições
que podem se cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujeitas a uma historicização radical, estando
constantemente em processo de mudança e transformação. (Hall, S. 2000, p. 108)

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metade de seu território, mais precisamente, 44,86% no Parque dos Lençóis que, nos
tempos atuais, desponta como elemento fundamental de inserção do Maranhão nas rotas
mundializadas do turismo.
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi criado em 02.06.1981, pelo
Dec. Lei 86.060, como área especial de proteção ambiental, possuindo como elementos
característicos: vegetação costeira, mangue vermelho e um exótico complexo de dunas e
lagoas, considerado o “deserto brasileiro”. O Parque encontra-se sob guarda e gestão do
Governo Federal, através do IBAMA e, possui 155.000 hectares de área e 70 km de praias.
Como a oficialização do Parque dos Lençóis, começam intervenções pontuais e específicas
no âmbito do turismo, em termos de acordos e parcerias entre governo federal, estadual e
municipal.
Em 2000, o então Governo do Estado fez um contrato com o LABOHIDRO -
Laboratório de Hidrobiologia da UFMA - para elaboração do Plano de Manejo2, que contou
também com a participação de técnicos do IBAMA, especialistas em Unidades de
Conservação. Este Plano estabelece critérios técnicos e sócio-ambientais para uso do
Parque: organização das trilhas, definição das zonas de uso, bem como normas e regras de
acesso a cada uma das zonas. Assim, circunscreve delineamentos-chave para a afirmação
do Parque Nacional dos Lençóis como área de preservação ambiental e turismo.
Em 2003, celebra-se um Acordo de Cooperação Técnica celebrado entre a
Agência Espanhola de Cooperação Internacional – AECI, e o Ministério do Turismo – MTur,
com execução prevista num período de três anos: 2005/2007. Para viabilização está
previsto um sistema de ‘financiamento compartilhado’ entre a AECI, o Ministério de Turismo
e outros atores. Por força deste acordo institui-se o Projeto que, em termos oficiais
denomina-se “Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Turismo no Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses”, que passo, aqui, a denominar de “Projeto de Turismo no Parque dos
Lençóis”.
Em sintonia com o acordo celebrado, a perspectiva do Projeto é viabilizar o
desenvolvimento sustentável do turismo em regiões de baixo Índice de Desenvolvimento
Humano. De fato, os municípios de Barreirinhas, Paulino Neves, Tutóia – que estão no
entorno do Parque Nacional dos Lençóis – apresentam um dos mais baixos IDH do país.
Esses municípios, acrescido, posteriormente, do município de Santo Amaro, correspondem
à área de intervenção do Projeto. Especificamente, Barreirinhas apresenta o Índice de

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BRASIL. MMA /IBAMA. Plano de Manejo do PNLM, Barreirinhas, 2004. CD Room. O Plano de Manejo é o
instrumento oficial de planejamento das Unidades de Conservação (UC). Nele, estão contidas a caracterização
das Áreas de Influência e a Zona de Amortecimento do PNLM, onde são identificadas as ameaças e
oportunidades que o entorno oferece à UC, assim como, a avaliação dessa dinâmica para futuras ações de
manejo.

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Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), de 0,552, considerado, o segundo valor mais


baixo de todo o Brasil, de acordo com fontes documentais do Projeto.
Para delimitar as questões-chave que seriam objeto de intervenção desse
Projeto, foi realizado um trabalho preliminar em termos de um processo de participação
representativa, envolvendo o conjunto de agentes sociais a serem atingidos, no âmbito do
turismo, agrupando-os por municípios. O objetivo era obter “uma visão múltipla da
problemática do turismo na região e dos diferentes interesses das coletividades envolvidas.”
(Projeto:2003, p. 7)
A partir de um processo sistemático de oficinas de trabalho, o Projeto definiu
como objetivo prioritário: “Melhoria da oferta turística das comunidades de Barreirinhas,
Paulino Neves e Tutóia, na zona de influência do Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses”. Nesta perspectiva, foram definidos como componentes básicos de atuação:
“Preservação da riqueza natural da área; diversificação da oferta turística; melhoria dos
serviços turísticos básicos e, estímulo a uma promoção adequada dos atrativos turísticos da
região”.
Submetendo esta proposição do Projeto a um olhar crítico, uma primeira
observação que merece destaque é o foco inteiramente voltado para a oferta / demanda
turística. Os municípios são vistos sob este foco que é, em última instância, o foco do
capital.
Considerando serem estes municípios classificados com baixo IDH, questiono-
me acerca dos destinos da população que está a viver grandes mudanças no seu cotidiano,
correndo o risco de ficar à margem do desenvolvimento do turismo. Interessa-me investigar
a perspectiva deste Projeto no tocante a inserção social das populações. Neste sentido,
coloca-se em questão a própria dimensão da sustentabilidade consignada por este Projeto.
Em que sentidos, esta sustentabilidade3 vem sendo trabalhada? E aqui vislumbro quatro
dimensões básicas que precisam ser contempladas: sustentabilidade ambiental
(reprodutibilidade, regeneração natural); sustentabilidade econômica (eficiência no uso dos
recursos); sustentabilidade social (equidade) e sustentabilidade cultural (modernização com
preservação de identidades locais).
É este um dos eixos básicos do meu projeto de pesquisa que estou a trabalhar,
configurando, mesmo, um dos meus desafios de estudo.
Numa primeira aproximação, a partir de estudos documentais, observações
sistemáticas “in loco” de eventos, de situações e de entrevistas com gestores públicos

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O conceito de desenvolvimento sustentável foi institucionalizado pelo Relatório Brundtland, em 1987. A partir de
então, suas dimensões vêm sendo ampliadas, tendo sido propostas, recentemente, oito (SACHS, 1996): social
/econômica / ecológica / ambiental / espacial / política-nacional / política-internacional e cultural. É um conceito
que enfrenta severas críticas por parte dos estudos de diferentes áreas, por sua ‘indefinição’, pela compreensão
equivocada e uso indiscriminado, assim como pelas dificuldades em sua operacionalização.

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municipais e segmentos diversos da sociedade local, cabe destacar, ações desenvolvidas


no âmbito do Projeto de Turismo no Parque dos Lençóis, no espaço local de Barreirinhas:
● Fortalecimento e estímulo ao processo associativo local, mediante a
contratação de uma equipe técnica da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares
(ITCP/UFRJ), junto a diferentes segmentos sociais (condutores turísticos, donos de lanchas
‘voadeiras’ e embarcações, artesãos, taxistas, donos de toyotas), que integram a cadeia
produtiva do turismo.
● Capacitação de professores da rede pública municipal e estadual de ensino
(das 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e das séries do ensino médio), e, técnicos com
perfil de multiplicadores, através de uma Oficina “Caminhos do Futuro”, com proposta
metodológica de inserção transversal na grade curricular, de conteúdos, relacionados ao
temas: meio ambiente / cidadania / cultura / geografia, etc.
No entanto, a questão da inserção social das populações pobres e vulneráveis
nestes circuitos do desenvolvimento turístico permanecem como o grande enígma que
precisa ser compreendido e trabalhado. Até que ponto e em que medida as questões da
sustentabilidade social, da sustentabilidade cultural estão a merecer atenção dos órgãos
gestores do turismo em Barreirinhas?

3.BARREIRINHAS SOB A ÉGIDE DAS MUDANÇAS: para onde elas apontam?

O que era Barreirinhas há dez anos atrás? Uma pequena e pacata cidade do
interior do Estado, que vivia “preguiçosamente”, às margens do Rio Preguiças. Em face das
dificuldades de acesso, não havia muitos veículos circulando pela cidade. Os moradores
guardavam antigos hábitos de convivência, como sentar-se, ao final da tarde, às portas de
suas residências. Estou falando de um período em que os moradores, de modo geral, se
conheciam uns aos outros, sabiam a procedência de seus vizinhos e as relações de
parentesco. Mantinham, entre si, laços afetivos e relações de amizade, baseada na
solidariedade e cordialidade mútuas, vivenciando tradicionais relações de conflito, de
disputa política. Enfim, vivia-se, então, em Barreirinhas uma sociabilidade típica da zona
rural: as teias de sentidos da cultura fundavam-se no compartilhamento de valores, de
práticas e de bens simbólicos, no âmbito de formas de domínio social, peculiares às
heranças culturais da população brasileira.
Hoje, as mudanças saltam aos olhos! Qualquer pessoa que tenha retornado,
após três ou quatro anos, ou mesmo, os próprios moradores de Barreirinhas têm a
percepção das mudanças que tem o turismo como centro gerador. A população local,

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principalmente, está a respirar, no seu cotidiano, os novos ares de uma cidade em mutação
constante, intensa e rápida em diferentes aspectos e dimensões da vida.
Em verdade, o ritmo intenso das mudanças estabelece novas conexões de
tempo-espaço no cotidiano da cidade. Isso significa que a cidade e sua população estão
envolvidos em um ciclo de turismo que confere um processo acelerado de vida e uma
reconfiguração do espaço pela dinâmica da mundialização fundada em novos sistemas de
comunicação, impondo estilos de vida, padrões de consumo, valores e referências.
No percurso etnográfico que estou a viver, em diferentes momentos, percebo
que a população local vem se inserindo nos circuitos globais via presença, na cidade, de
turistas de diferentes partes do mundo, de agentes empreendedores dos diversos ramos de
negócios interligados ao turismo. Tudo isso tem gerado novos processos de sociabilidade,
de interações, conflitos e acomodações. Esses processos envolvem, portanto, relações de
poder, inclusive para definir quem é incluído e quem é excluído, reforçando a experiência de
divisões / assimetrias e desigualdades sociais, na cadeia produtiva do turismo em
Barreirinhas.
Além do fluxo de turistas e da presença de diferentes agentes e
empreendedores turísticos, fica claro que a “explosão de gente de fora” tem se ampliado
com outros atores do mundo acadêmico e das instâncias técnicas: pesquisadores nacionais
e internacionais, consultores técnicos, professores de universidades públicas e privadas do
país. Um dos fatores determinantes da estadia desses novos personagens na vida da
cidade tem sido a multiplicidade de eventos.
Numa visão macro da dinâmica local no contexto contemporâneo, identifico que
esse processo de mudança é gerado e intensificado no âmbito da própria cadeia produtiva
do turismo, acrescidas das ações desencadeadas pelo poder público, via políticas públicas,
em resposta às demandas que se colocam para o município. Além dessas forças oriundas
do mercado turístico e do Estado (em seus diferentes níveis), considera-se, também, a
própria dinâmica da sociedade que sofre influências e impactos, mas tem suas estratégias
de sobrevivência, suas formas de resistência e busca de alternativas, face à chegada do
‘furacão’ do turismo em suas vidas.
Percebo, portanto, que na teia das relações político-institucionais que contam
com a participação dos setores do ‘trade’ turístico e de segmentos da sociedade civil,
ocorrem processos de interação, de cooperação, de negociação, mas também de conflitos e
disputas pelo poder, por recursos simbólicos e materiais, pelo mercado consumidor, no
contexto da sociedade local de Barreirinhas e, no âmbito local/global. Assim, verificam-se
“encontros” e “desencontros” entre as elites empresariais, o poder público municipal, as
ONGs e a população com a sua cultura, seus modos de viver e conviver.

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Vale destacar, aqui, uma estreita relação entre turismo e o marketing que, ao
reproduzir no campo do lazer e do entretenimento, a lógica da valorização dos espaços
como mercadorias, constroi a percepção e o desejo simbólico do consumidor. No caso
particular de Barreirinhas, o apelo publicitário de estímulo a um tipo de lazer, desperta
desejo de fruição das belezas naturais representadas pelos ‘grandes lençóis’, ‘lagoas e
dunas’ de uma reserva ecológica, que bem se coadunam ao ecoturismo ou turismo de
aventura. Assim, Barreirinhas, como cidade turística e “portal de entrada” de um Parque
Nacional, é o centro de atenções e desejos das pessoas.
Aproximando nossa lente para o plano micro dos atores que estão na ponta da
cadeia produtiva, aqui destaco, dois segmentos da população local que têm recebido um
impacto intenso e direto em suas vidas: Artesãos e os Condutores Turísticos, incluindo os
Toyoteiros e Operadores de Lanchas. De fato, no contexto das múltiplas relações que
estabelecem, seja na venda do produto artesanal, seja no serviço que prestam na condução
do turista aos passeios no Parque dos Lençóis, estes segmentos têm viabilizado formas de
inclusão nos processos da oferta turística.
Os Artesãos têm uma trajetória de organização, desde o processo embrionário
de formação que se iniciou em 1999, passando pelo período de constituição formal da
“Associação de Artesãos de Tapuio e Laranjeiras” (povoados rurais de Barreirinhas), em
2004 e, mais recentemente, em 2006, culminando com o registro formal da “Cooperativa dos
Artesãos dos Lençóis Maranhenses”, (ARTCOOP). A Cooperativa conta atualmente, com 94
associados, abrangendo um total de 12 comunidades da zona urbana e rural, de
Barreirinhas. Durante essa trajetória de vida associativa os artesãos têm contado com o
apoio técnico, tanto no âmbito da administração organizacional, como financeiro, de órgãos
públicos e privados, como o Sebrae, o Banco do Brasil, o Ministério do Desenvolvimento
Agrário, a Prefeitura Municipal e, recentemente, (final de 2006), a ITCP (Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares).
Os Condutores Turísticos integram um segmento da juventude local com
inserção na atividade turística. Este segmento, em sua maioria, formado por jovens na faixa
etária entre 18 e 25 anos, vem se inserindo há mais de quatro anos no mercado de trabalho,
prestando serviços como: “Condutores Turísticos”, “Toyoteiros” e “Operadores de Lanchas”,
conquistando um espaço de trabalho que, a cada dia, vem se ampliando e exigindo
qualificação profissional. Muitos deles mantêm vínculos empregatícios junto a Agências
Locais de turismo, outros, trabalham de forma independente.
Em 2006, os Condutores Turíscos de Barreirinhas foram capacitados, através
do Curso de Monitores Ambientais, oferecido pelo IBAMA, com possibilidades de vir a se
constituir uma Cooperativa de prestação de serviços. O processo de capacitação teve um
significado relevante na vida desses jovens e na (re)construção de identidades.

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Na verdade, este destaque das vivências e novas oportunidades surgidas tanto


na vida dos Artesãos, como dos Condutores Turísticos, evidencia de fato uma inserção
desse público, na cadeia produtiva do turismo. É um resultado positivo, mas que parece
apontar para uma “inserção seletiva”, ou seja, inserção de alguns com exclusão de uma
grande maioria. Entendo ser esta uma dimensão que precisa ser devidamente, refletida e
avaliada.

4 CONCLUSÃO

As intensas mudanças que atingem, com voracidade, a vida em Barreirinhas,


provocando novas concexões de tempo-espaço vem gestando processos de redefinições de
identidades.
Para desvendar este processo, pauto-me nas pistas analíticas de Homi K.
Bhabha, Stuart Hall e Canclini. Assim, elaboro que, em Barreirinhas estão em curso
processos que articulam, numa dinâmica de hibridação, modos de ser e de viver tradicionais
com novos modos de ser, de viver, de conviver que chegam pelos circuitos do turismo.
Nesta tessitura de identidades, vejo o segmento dos jovens e dos artesãos como aqueles
que, neste primeiro momento (re)constroem identidades.
Que identidades são essas forjadas ao ‘vento’ do turismo no Parque Nacional
dos Lençóis Maranhenses? É esta a ‘pedra de toque’ do meu percurso investigativo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Turismo-Mtur/Agência Espanhola de Cooperação Internacional-AECI.


Projeto de desenvolvimento sustentável do turismo no Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses. 2003.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente/IBAMA . Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses –


Plano de manejo: Lei 9985/00. Barreirinhas, 2004. CD-Room.

CANCLINI, N. Garcia. Culturas híbridas:estratégias para entrar e sair da modernidade. São


Paulo: EDUSP, 1997.

HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da S. (org.) Identidade
e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In:


SILVA, Tomaz T. da. (org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais .
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

BHABHA, Homi K. O local da cultura. 3ª reimpressão. Belo Horizonte: Ed. UFMG,2005.

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