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Vinícius Reccanello de Almeida

INDIVÍDUO, EDUCAÇÃO, ESCOLA E


O PROFESSOR
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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A concepção de sujeito – com todas as implicações que decorrem dela e das quais
somos herdeiros seguindo a tradição filosófica do Ocidente – tem sido, ainda hoje, no campo
das ciências humanas e sociais, alvo de controvérsias.
Quando se trata da educação, a concepção de sujeito parece se destacar quase que
naturalmente, pois não se pode pensar a educação sem aqueles que são seus agentes sociais,
os educadores, que assumem, neste caso, na perspectiva correntei , o lugar dos sujeitos do
processo educativo. No entanto, essa concepção trazendo, como seu correlato, a concepção
de objeto, leva-nos a inferir que, no caso da ação educativa, são os educandos, os alunos, os
objetos da ação dos sujeitos-educadores.
Estabelecendo-se, assim, os dois pólos da relação educativa – educadores e educandos -
trata-se, agora, de perguntar pela natureza do que é passado de uns para outros. Em um
âmbito mais abrangente, para além dos limites restritos da educação formal, observa-se que a
ação educativa acontece no contexto de um processo de socialização, que se inicia com o
nascimento do indivíduo.
Assim, o conteúdo da ação educativa, nesse âmbito, se constitui de orientações a serem
dadas às crianças, sob a forma de normas, regras, comportamentos, atitudes, etc., para que
estas se incorporem à vida social.

EDUCAÇÃO

1. ato ou processo de educar(-se).


2. aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físi-
co, intelectual e moral de um ser humano; pedagogia, didática, ensino.

No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e
valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A edu-
cação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indi-
víduo ao longo da sua vida.
O conceito de educação engloba o nível de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada
por um indivíduo e a sua capacidade de socialização.
De acordo com o filósofo teórico da área da pedagogia René Hubert, a educação é um
conjunto de ações e influências exercidas voluntariamente por um ser humano em outro,
normalmente de um adulto em um jovem. Essas ações pretendem alcançar um determinado
propósito no indivíduo para que ele possa desempenhar alguma função nos contextos sociais,
econômicos, culturais e políticos de uma sociedade.
No sentido técnico, a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculda-
des físicas, intelectuais e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade ou
no seu próprio grupo.

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Educar é a ação de promover a educação, que compreende todos os processos, institu-


cionalizados ou não, que visam transmitir determinados conhecimentos e padrões de compor-
tamento a fim de garantir a continuidade da cultura de uma sociedade.
No sentido mais amplo educar é socializar, é transmitir os hábitos que capacitam o indi-
víduo a viver numa sociedade, hábitos esses que começam na primeira infância, implicando no
ajustamento a determinados padrões culturais.
Educar é estimular, desenvolver e orientar as aptidões do indivíduo, de acordo com os
ideais de uma sociedade determinada. É aperfeiçoar e desenvolver as faculdades físicas, inte-
lectuais e morais, é preparar o cidadão para a vida.
Educar é ensinar, é transmitir os conhecimentos, é instruir. O caráter institucional da
educação torna-se nítido quando é manifestado na sua forma mais concreta que é a escola,
encarregada de preparar, de formar o indivíduo para sua futura vida profissional.
Em todas as culturas são encontrados mecanismos para perpetuação da educação, em
forma de normas que determinam algumas relações básicas entre pais e filhos, entre jovens e
idosos, entre mestres e alunos, a mera convivência das gerações se encarregam de completar
a educação.

AS FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO
Veremos as funções da educação, com base na autora Sara Pain1

1. FUNÇÃO MANTENEDORA: Ao reproduzir em cada indivíduo o conjunto


de normas que regem a ação possível, a educação garante a continuidade da espécie
humana. De fato, se a continuidade do comportamento animal está inscrita em sua
maior parte na disposição genética, a continuidade da conduta humana se realiza pela
aprendizagem, de tal maneira que a instância ensino-aprendizagem permite a cada in-
divíduo, pela transmissão das aquisições culturais de uma civilização, a vigência histó-
rica da mesma.

2. FUNÇÃO SOCIALIZADORA: a utilização dos utensílios, da linguagem, do


habitat, transforma o indivíduo em sujeito. Desta forma, na realidade a educação não
ensina a comer, a falar ou a cumprimentar. O que ela ensina são as modalidades des-
tas ações, regulamentadas pelas normas do manejo dos talheres, pela sintaxe, pelos
códigos gestuais da comunicação. O indivíduo, à medida que se sujeita a tal legalidade,
se transforma em sujeito social, e se identifica com o grupo, que com ele se submete
ao mesmo conjunto de normas.

3. FUNÇÃO REPRESSORA: se, por um lado, a educação permite a continu-


idade funcional do homem histórico, garante também a sobrevivência específica do
sistema que rege uma sociedade, constituindo-se como aparelho educativo, em ins-
trumento de controle e de reserva do cognoscível, com o objetivo de conservar e de
reproduzir as limitações que o poder destina a cada classe e grupo social, segundo o
papel que lhe atribui na realização de seu projeto socioeconômico.
Entretanto, a educação, pelo fato de cumprir simultaneamente funções conser-
vadoras e socializadoras, não reprime no mesmo nível que outros aparelhos, como,
por exemplo, o jurídico-policial, na medida em que produz uma autocensura, pela qual
o sujeito torna-se depositário de um conjunto de normas, que passa a assumir como
sendo sua própria ideologia.

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PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Ed. Artmed, 2008.

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4. FUNÇÃO TRANSFORMADORA: as contradições do sistema produzem


mobilizações primariamente emotivas, que aquele procura canalizar mediante com-
pensações reguladoras que o mantém estável. Mas, quando essas contradições são as-
sumidas por grupos situados no lugar da ruptura, elas se impõem às consciências de
maneira crescente. Daí surgem modalidades de militâncias que se transmitem por
meio de um processo educativo que consiste não apenas e doutrinação e em propa-
ganda política, mas que também revela formas peculiares de expressão revolucionário.

FUNÇÃO DA ESCOLA

O papel da escola se modificou ao longo dos anos acompanhando os avanços e


necessidades da sociedade, mudanças essas que foram significativas para o país,
principalmente no que diz respeito ao funcionamento e acesso à população brasileira ao
ensino público.
Novas formas de organização da sociedade foram surgindo, fazendo com que
desaparecessem os interesses comuns aos membros de um determinado grupo, assim o
processo educativo que era único passou a ser dividido pela desigualdade econômica,
separando os burgueses dos trabalhadores. Muito embora, houvesse ocorrido esta
fragmentação da educação no passado, impostas pelo capitalismo, hoje nos vemos diante da
escola como fator social influenciada pelas transformações do homem e da sociedade.
A escola como ato social foi assim vista pela primeira vez pelo pedagogo Émile
Durkheim, que defendia a postura social que a escola e a educação em si, devem permear.
Apesar deste autor não ter desenvolvido modelos pedagógicos, suas ideias ajudaram a
compreender o significado social do trabalho do professor, onde a educação escolar deixa de
ser vista de forma individualista e sim através de uma perspectiva coletiva.
A escola emerge como uma instituição fundamental para a constituição do indivíduo e
para ele próprio, da mesma forma como emerge para a evolução da sociedade e da própria
humanidade. A escola como instituição social possui objetivos e metas, empregando e
reelaborando os conhecimentos socialmente produzidos.
Este espaço de desenvolvimento e aprendizagem envolve todas as experiências
contempladas nesse processo, considerando tudo como significativo, como os padrões
relacionais, aspectos culturais, cognitivos, afetivos, sociais e históricos, os quais estão inseridos
nas interações e relações entre os diferentes segmentos. Assegurar o direito a educação
escolar em igualdade de condições de entrada e permanência pela oferta de ensino público e
gratuito e de qualidade em todos os níveis de ensino, é um dos maiores desafios da educação
atual, mesmo que tais questões já sejam amparadas pela Lei 9.394/90 – Estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB).
Contudo, certas lacunas deixadas pelas leis que regem a educação no Brasil devem ser
supridas pelas ações afirmativas na forma de políticas públicas educacionais. Essas medidas
especiais temporárias ou não, desencadeadas pelo Estado (assim entendido como todas as
esferas do poder público) têm como objetivo eliminar as desigualdades historicamente
acumuladas, de forma a compensar as perdas provocadas pela discriminação e marginalização
de determinados grupos sociais.

TEXTO COMPLEMENTAR

A função social da escola no mundo globalizado (por Marilene Meira de Camargo)

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No mundo globalizado todas as atividades, sejam elas econômicas, comerciais, culturais


estão concentradas em redes (Internet, Empresas Multinacionais entre outras) que cada vez
mais dominam o planeta, tornando-o mais diversificado. As fronteiras territoriais dos países,
estados e cidades estão cada vez mais diluídas em meio a uma sociedade altamente
informatizada – uma sociedade em rede – que foi produzida pela revolução tecnológica e pela
reestruturação do capitalis.
O tempo e o espaço social foram transformados em um tempo intemporal e em um es-
paço de fluxos, onde a vida social é atingida em todos os seus níveis por essa nova forma de
organização da sociedade.
Uma das mais significativas consequências deste processo é a perda da identidade, a
perda de referenciais, através de uma redução progressiva dos valores sociais. Esse fenômeno
é universal, e sua intensidade varia.
Nesse sentido, a educação é uma das mais importantes ferramentas sociais no mundo
globalizado, pois é através dela que o indivíduo se torna um cidadão consciente e um agente
social ativo no meio onde vive.
É neste sentido que a escola se apresenta como um espaço genuíno de convivência hu-
mana, que pode colaborar para a construção de identidades.
Uma importante ação pode ser alcançada através da elaboração de Projetos de Identi-
dade, da realização de Conselhos de Classe Participativos, da discussão de Obras Clássicas da
Literatura, entre outras coisas, que permitam a reflexão crítica sobre a formação histórica da
sociedade, promovendo a discussão de problemas, para encontrar as melhores soluções, e
principalmente que conduza a reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo que os cerca.
Ou seja, a formação de protagonistas de políticas públicas e não de indivíduos que ape-
nas sejam planejadas por parte dos governantes.
Essa participação permite reflexões importantes sobre o futuro e principalmente sobre a
possibilidade de busca por evolução em todos os aspectos da condição humana.
Para tanto, precisa-se entender a Educação em seu sentido mais amplo, o da capacidade
de aprender a aprender e de constantemente repensar suas ações. É esse o patrimônio mais
estratégico da pessoa e da sociedade, a capacidade de desenvolver, juntos, propostas que
primem por uma escola comprometida com os reais interesses da população, ou seja, uma
escola que promova seu reconhecimento, valorização e conhecimento mútuo, o compromisso
com a aprendizagem, o respeito às diferenças individuais, fortalecendo a igualdade de direitos
e de condições à justiça, à liberdade e principalmente ao diálogo.
Desta projeta-se uma escola engajada na comunidade, favorecendo a formação de um
sujeito crítico e consciente para enfrentar os desafios que a vida apresenta.
Essa nova maneira de pensar a educação escolar só será realizada por sujeitos autorre-
flexivos, esclarecidos e conscientes do seu próprio papel social.

O PROFESSOR
Com as mudanças que estão ocorrendo na sociedade, como a banalização da
informação, a revolução digital, da nova política, da nova economia e dos desequilíbrios
familiares, torna-se necessário que o professor faça dos conteúdos habituais de suas
disciplinas instrumentos, que além de qualificarem para a vida, estimulem capacidade e
competências, com o intuito de estimular todas as inteligências de seus alunos.
O professor deve se reconstruir, criando no aluno um ser crítico, auxiliando na
formação de sua personalidade. Valorizando a luta pelo seu espaço na sociedade, derrubando
barreiras e vencendo obstáculos que a vida possa lhe proporcionar.
Se os docentes têm a intenção de estimular em seus alunos o amor pelo saber e o
respeito pela diversidade e criação, devem buscar o contraste crítico e reflexivo. Ainda, o

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educador deveria ter por objetivo preparar adultos livres de traumas psicológicos, pessoas que
não estivessem intencionadas de tirar dos outros a felicidade que delas próprias foi retirada.
O professor deve ter um compromisso essencial com o aprendizado do aluno para que
este obtenha sucesso em suas atividades. Dessa maneira, o docente precisa ter conhecimento
não apenas da matéria que administra, mas, sua formação deve estar pautada em um leque de
conhecimentos quer sejam eles, sociais, políticos, econômicos ou culturais.
Deixando, assim para trás a lembrança de professores que ensinam exclusivamente as
disciplinas da grade curricular, levando os educandos a adquirir algumas qualificações
essenciais para a vida, como saber pensar, falar, ouvir, ver, analisar, criticar e principalmente
ser capaz de tomar decisões.
Quanto ao processo de ensino-aprendizagem, o seu sentido dependerá do entusiasmo
do educador, da fantasia, de se educar com alegria sem pensar nos problemas em que estão
envolvidos sabendo separar a sala de aula do que se passa em sua vida particular.
O que torna necessário uma reflexão por parte dos educadores da importância da sua
atuação profissional e da necessidade de se tomar conhecimento de si mesmo. Dessa forma, é
essencial todo educador desenvolver a consciência de sua profissão e o sentido de
solidariedade e justiça que a mesma expressa. Deixando claro o lado humano e cidadão de
cada professor, suscetível de crítica e ávido de aprimoramento profissional, envolvido na
consciência de um construtor da sociedade.
Partindo deste principio pode-se considerar o docente como principal agente no
processo de ensino, tendo um papel ativo na formação de seus alunos, auxiliando e incitando a
reconstrução dos esquemas de pensamento, sentimento e comportamento de cada indivíduo.
Esta concepção inclui tanto despertar a ativa participação intelectual do próprio educando
como facilitar o contraste com as formulações alternativas das representações críticas da
cultura intelectual.
Os professores estão muitos presentes na vida de milhares de famílias, que lhes
conferem a enorme responsabilidade pela educação de seus filhos, sabendo que, não faltará a
sua atribuição e competência. A profissão professor é de suma importância, para a sociedade,
pois o profissional trabalha, para formar um estudante, pleno de uma cultura geral e de
diversidade, de um conhecimento científico, de raciocínio lógico, capacidade de comunicação
e trabalho em grupo, que seja reflexivo e capaz de aprender a aprender, de ser, fazer e
conhecer, além é claro de ser criativo, habilidoso e competente.

O PROFESSOR MEDIADOR
O mundo está mudando e isso está ocorrendo a uma velocidade sem precedentes na
evolução histórica da humanidade. A globalização, o surgimento de novas tecnologias, como o
avanço das telecomunicações e da informática, contribuem para que ocorra mudanças,
também, na Educação. A interação professor - aluno vem se tornando muito mais dinâmica
nos últimos anos.
O professor tem deixado de ser um mero transmissor de conhecimentos para ser mais
um orientador, um estimulador de todos os processos que levam os alunos a construírem seus
conceitos, valores, atitudes e habilidades que lhes permitam crescer como pessoas, como
cidadãos e futuros trabalhadores, desempenhando uma influência verdadeiramente
construtiva.
A Educação deve não apenas formar trabalhadores para as exigências do mercado de
trabalho, mas cidadãos críticos capazes de transformar um mercado de exploração em um
mercado que valorize uma mercadoria cada vez mais importante: o conhecimento. Dentro
deste contexto, é imprescindível proporcionar aos educandos uma compreensão racional do
mundo que o cerca, levando-os a um posicionamento de vida isento de preconceitos ou

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superstições e a uma postura mais adequada em relação a sua participação como indivíduo na
sociedade em que vive e do ambiente que ocupa.
O desafio de contribuir com a educação do jovem e do cidadão, num momento de
mudanças e incertezas e a necessidade de resgatar valores tão importantes condizentes com a
sociedade contemporânea leva o professor a entender que deverá exercer um novo papel, de
acordo com os princípios de ensino-aprendizagem adotados, como saber lidar com os erros,
estimular a aprendizagem, ajudar os alunos a se organizarem, educar através do ensino, entre
outros.
O aluno precisa adquirir habilidades como fazer consultas em livros, entender o que lê,
tomar notas, fazer síntese, redigir conclusões, interpretar gráficos e dados, realizar
experiências e discutir os resultados obtidos e, ainda, usar instrumentos de medida quando
necessário, bem como compreender as relações que existem entre os problemas atuais e o
desenvolvimento científico. Isso só será possível, a partir do momento que o professor assumir
o seu papel de mediador do processo ensino-aprendizagem, favorecendo a postura reflexiva e
investigativa. Desta maneira ele irá colaborar para a construção da autonomia de pensamento
e de ação, ampliando a possibilidade de participação social e desenvolvimento mental,
capacitando os alunos a exercerem o seu papel de cidadão do mundo.

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