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PSICÓPIO
psicópio

REVISTA VIRTUAL DE
PSICOLOGIA HOSPITALAR
E DA SAÚDE

Editor
Susana Alamy

Ano 1 - Volume 1 - Número 2 - Julho a Dezembro-2005


Edição Semestral - Distribuição Gratuita
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano I, Volume 1, Número 2, Julho a Dezembro-2005

Editor: Susana Alamy


Idealização e Realização: Capa , Editoração, Diagramação e Arte Final: Susana Alamy
Revisão: Glenda Rose Gonçalves-Chaves
WebMaster: Carlos Alexandre de Melo Pantaleão

Conselho Editorial:
Susana Alamy – psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia hospitalar e supervisora de
estágios. CRPMG 6956
Elisângela Lins – psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia do CESUR – Centro de Ensino
Superior de Rondonópolis. CRPMT 1281-2
Luciane Jordão Pereira – psicoterapeuta, psicóloga clínica, gestora em saúde da Prefeitura Municipal de Itabira.
CRPMG 18744

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Os direitos autorais dos artigos publicados pertencem ao Editor de Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e
da Saúde, Susana Alamy. Copyright © Susana Alamy. Todos os direitos reservados. Esta revista é protegida por leis de
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ALAMY, Susana (Ed.). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.1, v.1, n.2,
jul.-dez. 2005. Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio>. Acesso em: (dia em números)
(mês abreviado em letras minúsculas) (ano).

Para citação de artigos da revista na bibliografia - modelo:


(Sobrenome do autor em letras maiúsculas), (nome do autor com a 1ª. letra maiúscula e as demais minúsculas). (Nome
do artigo em letras comuns). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.1, v.1,
n.2, jul.-dez. 2005. Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio>. Acesso em: (dia em
números) (mês abreviado em letras minúsculas) (ano).

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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. i
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano I, Volume 1, Número 2, Julho a Dezembro-2005

SUMÁRIO

Editorial ............................................................................................................................................................................................... iii

Nota Introdutória ............................................................................................................................................................................... iv

Humanização hospitalar (?) ............................................................................................................................................................. 05


Susana Alamy (Belo Horizonte/MG)

Psicologia e reabilitação: a importância da reabilitação facial para o paciente e sua subjetividade ................................... 13
Marília Silveira (Belo Horizonte/MG)

Considerações iniciais acerca do estresse do psicólogo hospitalar ........................................................................................... 18


Danielle Silva Veiga (Rio de Janeiro/RJ)

Primeiras impressões ao entrar em um hospital pediátrico ........................................................................................................ 22


Natália Fontes de Castro (Uberlândia/MG)

Observação de um hospital pediátrico ........................................................................................................................................... 23


Marina Borges e Silva (Uberlândia/MG)

Tocaram meu coração........................................................................................................................................................................ 25


Larissa Figueiredo Gomes (Belo Horizonte/MG)

Vivências do coração: relato de uma experiência de estágio ..................................................................................................... 29


Viviane Luzia Prestes Anchieta (Porto Alegre/RS)

Aspectos comportamentais da família e do recém-nascido de alto risco ................................................................................. 35


Fernanda Tosetti Geara (Juiz de Fora/MG)

A atuação do terapeuta comportamental em instituições de saúde ........................................................................................... 44


Roseli de Melo Braga dos Reis (Belo Horizonte/MG)

Equoterapia - um método terapêutico ............................................................................................................................................ 48


York da Silva Adário (Pouso Alegre/MG)

Do impacto do diagnóstico .............................................................................................................................................................. 68


Susana Alamy (Belo Horizonte/MG)

O valete tem bigode .......................................................................................................................................................................... 69


Terezinha Pereira (Pará de Minas/MG)

Links – Universidades Federais do Brasil ..................................................................................................................................... 71

Eventos ................................................................................................................................................................................................ 73

Normas para envio de artigos .......................................................................................................................................................... 74

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. ii
EDITORIAL

Em primeiro lugar, gostaria de falar do sucesso do nosso primeiro número da Psicópio, tendo sido baixado por centenas
de pessoas. Isso quer dizer que a Psicópio foi bem recebida, cumprindo seu principal objetivo: o de troca de
informações e de incentivo à escrita e à leitura, pois, assim, viabilizamos o acesso a informações de maneira gratuita e
democrática.

Recebemos vários textos com qualidade, de profissionais e de estudantes, e tivemos que fazer uma seleção dos que
seriam publicados neste número e os que ficariam para os próximos. Eliminamos apenas aqueles que não se
fundamentavam e/ou cuja formatação desobedecia em muito os critérios desta revista, mas que poderão ser refeitos
pelos seus autores se assim o desejarem.

Resolvemos alterar sutilmente o formato da revista para que ficasse mais estético e econômico na impressão e
esperamos que atenda à essa nossa pretensão.

Desejamo -lhes uma boa leitura e esperamos sua colaboração com o envio dos seus escritos e ajudando-nos a divulgar a
Psicópio.

Sejam bem-vindos!!!

Susana Alamy
Inverno de 2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. iii
NOTA INTRODUTÓRIA

(...)
A vida não tem ensaio
mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!
(Elisa Lucinda. “Libação”
In: euteamo e suas estréias) 1

A Psicologia Hospitalar e da Saúde necessariamente invade as questões da vida. Muitas vezes tocando em momentos
fronteiriços da vida. E é aí que o seu círculo apresenta-se mais evidente, como no poema de Elisa Lucinda.

Dentro dessa perspectiva e visualizando os frutos da 1ª edição dessa revista, a 2ª edição vem contemplar uma série de
textos instigantes e com abordagens variadas, que demonstram a multiplicidade de campo de atuações no âmbito da
Psicologia Hospitalar e da Saúde. Todas envoltas, entretanto, pela postura ética e compromissada dos profissionais de
saúde.

Neste número, temas questionadores, reflexivos, informativos e ilustrativos vêm ocupar o espaço da Psicópio. Assim,
os temas perpassam a humanização hospitalar, a reabilitação, o estresse do profissional, as primeiras impressões da
realidade hospitalar, as experiências com pacientes cardíacos, os aspectos comportamentais diante da gravidez, a
atuação do terapeuta comportamental, a equoterapia, finalizando ainda com um poema e um conto envolvendo a
temática da revista.

Dessa maneira, deseja-se que os frutos a serem colhidos nesta edição possam refazer-se nas futuras edições, a fim de
que se permita sempre multiplicar o alcance das contribuições e a amplitude de acesso da Psicópio.

Glenda Rose Gonçalves-Chaves

1
LUCINDA, Elisa. euteamo e suas estréias. São Paulo: Record, 1999, p. 39.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. iv
HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR (?)
Susana Alamy1
E-mail: susanaalamy@yahoo.com.br

“Com desemprego de 20% e poder aquisitivo em queda, uma parte considerável dos 35 milhões de brasileiros
que compraram planos 2 não pode continuar pagando, não tem para onde ir e está voltando para o
SUS, hoje desfinanciado (de R$ 216 per capita em 2001, passou para R$ 176 em 2003), mal administrado
e adaptado àqueles que suportam filas, falta de acesso, acolhimento ruim e demanda reprimida.”
José Aristodemo Pinotti 3

No Dicionário Eletrônico Aurélio 4 , humanizar refere-se a: “1. Ato ou efeito de humanizar(-se).” E humanizar é: “1.
Tornar humano; dar condição humana a; humanar. 2. Tornar benévolo, afável, tratável; humanar. 3. Fazer adquirir
hábitos sociais polidos; civilizar. 4. Bras. CE Amansar (animais). 5. Tornar-se humano; humanar-se.” Mas, como
humanizar quando na Saúde há déficit de investimento a cada ano, não podendo o cidadão brasileiro ser atendido
adequadamente em suas mínimas necessidades? Quando os profissionais da saúde, e não somente os diretamente
implicados no cuidado com a saúde do paciente, mas também aqueles que trabalham como porteiros, atendentes etc.,
não se comprometem com o bem-estar do paciente?

Outro dia acompanhei a minha empregada no socorro de uma de suas filhas, com quatro anos de idade, que havia
perdido a consciência em casa sem motivo aparente. Quando chegamos ao Posto de Saúde mais próximo de sua
residência, deparamo -nos com uma cena rara, apesar de ser feriado: não havia sequer um paciente à espera de
atendimento médico. O Posto estava vazio. Fomos até a sala onde estava a criança acompanhada de uma adolescente
(sua outra filha de dezesseis anos) em um choro velado de quem não sabe como agir. A criança de quatro anos de idade,
Joana5 estava no soro à espera de uma ambulância que a levaria para um hospital onde pudesse se consultar com um
Neurologista – especialidade que não tinha naquele Posto de Saúde – e já havia passado quatro horas. Movidos pela
ilusão de que plano de saúde é melhor do que o atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde), haviam acionado o
08006 para pedir a ambulância e haviam sido informados que deveriam aguardar. Assim faziam em passiva espera do
atendimento que não vinha.

Ligaram, então, novamente para a Central do Convênio reclamando da demora e tivemos a surpresa de ouvirmos que a
ambulância não poderia ir, porque não constava na ficha o nome do Hospital para onde deveria ser levada a criança e
que, para que isso acontecesse, seria imprescindível que o Hospital destinatário estivesse de acordo com o recebimento
da paciente – e que o pedido deveria ser feito pelo médico do posto onde estava a mesma.

Dirigimo -nos à recepção do Posto e pedimos que nos fizessem a gentileza de providenciar o aval do Hospital receptor.
A atendente, sentada em sua cadeira próxima à janela, no fundo da recepção e de lado para nós, respondeu-nos, sem se
virar, que não poderia fazer nada, porque isso era da competência do médico de plantão. Tivemos, então, que pedir a ela
que nos chamasse o médico de plantão. Ao que nos respondeu que não era um médico, mas uma médica. Quanto
“palavrório” desnecessário... mas, não poderíamos àquela altura permitir que o desconforto dos injustiçados se abatesse
sobre nós. E pedimos, então, que nos fizesse a gentileza de chamar a médica de plantão.

1
Psicóloga Clínica e Hospitalar. CRPMG 6956. Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Conselho Federal de Psicologia.
Especialista em Administração Hospitalar e Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG).
Professora de Psicologia Hospitalar. Autora do livro Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma (2003). Editor da
Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, lançada em 2005
(http://geocities,yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio).
2
José Aristodemo Pinotti refere-se a planos de saúde.
3
PINOTTI, José Aristodemo. Folha de São Paulo, São Paulo, 22 jun. 2005. Caderno opinião. “José Aristodemo Pinotti, 70,
professor titular aposentado de ginecologia da USP, membro da Academia Nacional de Medicina, é secretário de Educação do
município de São Paulo, pasta que já chefiou em 2000. Foi secretário da Educação (1986-87) e da Saúde (1987-91) do Estado de São
Paulo e reitor da Unicamp (1982-86).”
4
HUMANIZAR. In: DICIONÁRIO Aurélio Eletrônico. Século XXI. Versão 3.0. Lexikon Informática, nov. 1999.
5
Nome fictício.
6
0800 indica que o número a ser chamado não é pago pelo usuário do serviço, podendo a ligação telefônica ser feita de qualquer
telefone.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 5
Após alguns minutos, intervalo de tempo em que voltamos à sala onde Joana encontrava-se, uma saída na porta do
Posto e um dedinho de prosa com o porteiro, voltamos à recepção e pedimos novamente que chamassem a médica de
plantão. Uma senhora esparramada na cadeira nos ouviu, quando repetimos a mesma história na tentativa de que aquela
atendente nos compreendesse melhor e tomasse uma providência que deveria ser praxe no seu trabalho. Aí fomos pegos
de surpresa, mais uma vez, com o levantar súbito da senhora da cadeira, com um pedaço de papel na mão e já se
retirando daquele espaço. Mas... Tentamos uma resposta, mas ela bateu em retirada rapidamente e ficamos ali, com
caras de bobos, atônitos, desconsertados, tristes, quando a outra atendente nos dirigiu a palavra sem nos olhar: “ela é a
médica de plantão”.

E agora? O que aconteceria? Deveríamos ficar ali parados à espera de alguma coisa que nem sabíamos o quê?7 Haja
paciência! Coitado do cidadão que trabalha fora de casa quarenta horas por semana, que cuida da família, que faz contas
para pagar contas e que ainda não tem direito sequer de resposta à sua necessidade de atendimento médico.

Mas a luta estava somente começando e por isso mesmo não continuarei o relato pormenorizado, pois isso encheria
várias páginas de lamúrias, não sem justa causa, e a paciência de qualquer leitor ocupado. Na verdade este meu relato
tem a pretensão de questionar as responsabilidades, os papéis desempenhados pelos profissionais e pelo Governo, com a
intenção de trazer-lhes uma reflexão sobre a humanização e o que poderá ser feito para melhorar o Sistema de Saúde
enquanto um todo, onde cada um deverá arcar com a sua função da melhor maneira possível.

O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH –, foi lançado no dia 19 de junho de 2001,
e "tem o objetivo de melhorar a qualidade e a eficácia do atendimento prestado aos pacientes do Sistema Único de
Saúde – SUS –, além de promover uma nova cultura de humanização na rede hospitalar e capacitar profissionais para
um atendimento mais solidário"8 , mas, já estamos em junho de 2005 e os pacientes continuam morrendo nas filas 9 ,
continuam sem CTIs, continuam em macas nos corredores de pronto-socorros, continuam marcando consultas de
urgência para dois meses depois de ficarem à espera de vaga, continuam perambulando de hospital em hospital,
continuam procurando por especialistas que não existem na sua região e continuam pagando os seus impostos, cada vez
mais altos e mais aterrorizantes do seu mísero salário.10

Por outro lado, os funcionários das instituições de saúde apresentam-se cada vez mais mau-humorados e mau com “u”
mesmo, porque o que fazem é pura maldade com aquele seu semelhante e muito semelhante, semelhante em tudo: nas
dificuldades, nas insatisfações, na peleja pelo Direito Constitucional da Carta Magna de 1988, especialmente em seus
artigos 5º, 6º, 19611 , na luta pela sobrevivência. E nem assim se sensibilizam com a dor do outro. Nem pela

7
Talvez isso justifique o posto de atendimento estar tão vazio, talvez os pacientes tivessem migrado para outro.
8
Fonte: Ministério da Saúde
9
Transcrição da reportagem veiculada no jornal televisivo MGTV da Rede Globo de Televisão e publicada na internet
(http://globominas.globo.com/) em 24/06/2005: Criança morre à espera de atendimento médico na Grande BH.
Secretaria de Saúde de Ribeirão das Neves decide afastar preventivamente servidores que seriam responsáveis por tratar do bebê de
um mês.
Um bebê de um mês morreu, no início da manhã desta sexta-feira, na porta de um consultório médico de um centro de saúde, em
Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com a mãe da criança, a família aguardava atendimento
médico há quatro horas. O pai do menino acionou a polícia para garantir que o bebê tivesse prioridade, mas ele morreu meia hora
depois de dois agentes deixarem a policlínica com a promessa de que a criança seria atendida. Mais tarde, policiais voltaram ao local
para registrar ocorrência por omissão de socorro.
Segundo os pais, o menino tinha dificuldades para respirar há uma semana e não reagia à medicação. Eles também disseram que
foram à unidade de urgência depois de passar pelo Hospital Municipal de Ribeirão das Neves, onde, de acordo com eles, não havia
pediatra de plantão.
A Secretaria de Saúde da cidade informou que abriu sindicância para investigar o caso. O Executivo quer saber se houve
irregularidade na troca de plantão.
Dois servidores que seriam responsáveis pelo atendimento do bebê foram afastados preventivamente de suas funções pela prefeitura.
O laudo com a causa da morte do menino só deve sair em 30 dias.
10
Transcrição da reportagem veiculada no jornal televisivo MGTV da Rede Globo de Televisão e publicada na internet
(http://globominas.globo.com/) em 13/06/2005: Filas de espera e atendimento inadequado colocam a saúde em Belo Horizonte
em risco. Macas no corredor do Hospital das Clínicas. No pronto-atendimento, os pacientes deveriam ficar no máximo 24 horas e
depois ser transferidos para o setor de internação. Mas Dona Francisca está aqui há um mês.
11
TÍTULO II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, CAPÍTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E
COLETIVOS - Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
CAPÍTULO II, DOS DIREITOS SOCIAIS - Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 6
identificação.

Mas, há como fala r em humanização, uma vez que funcionários estão ocupando funções que jamais escolheriam
simplesmente porque não têm outro emprego, outra forma de sustento e que foram selecionados por profissionais
despreparados para tal fim? Ou foram aprovados em concurs os públicos (que prestaram só porque dão segurança e não
porque têm aptidão para a função) que exigem conhecimentos que jamais serão aplicados no dia-a-dia e que foram
decorados para somente “passar” na prova? Profissionais que, quando engajados no trabalho jamais tiveram a
oportunidade de um treinamento com o enfoque nos aspectos subjetivos do adoecer, nas implicações psicológicas do
paciente ter-se tornado um doente12 , com informações acerca dos sábios escritos de E. Kübler-Ross13 , para entenderem
que o paciente precisa ser amparado mesmo quando nos agride sem que isso tenha fundamento aparente. Isso seria
humano com o paciente e com o funcionário ou servidor público.

Isso remete-me à Amaral14 quando diz: “(...) No fim das contas, acabei percebendo que não temos como evitar que
aconteça aquilo que não queremos... Mas podemos, sim, deixar um pouco melhor o momento difícil da pessoa
doente...”. Utilizando das técnicas disponíveis para a tentativa de cura, sendo educado no tratamento que se dispensa
aos outros, sendo mais afetivo e vinculando-se mais com seu trabalho, que tem como primeiro olhar um sujeito com
sentimentos e emoções, podemos ajudá-lo.

Pode-se tentar despertar a humanização, porque, na verdade, não há como ensiná-la, não há como ensinar alguém a ser
bom, ou se é ou não se é. É inimaginável que alguém possa cumprir protocolos de como proceder tecnicamente para ser
bom. Seria como se houvesse maneira técnica de segurar com carinho a mão de alguém que a estende em sua direção ou
invés de furtar-se a esquivar-se de soslaio e fingir que nada viu. Mas, é possível fazê-lo entender que o mínimo é ser
educado, tratável, gentil com os outros. Humanizar é também considerar o paciente emocional, sofredor, que padece
psicologicamente entristecendo-se, que cria fantasias, que sente medos e que deve ser atendido por psicólogos
hospitalares preparados especificamente para esta função (e isso faz diferença, porque simplesmente tirar o psicólogo
do seu consultório e levá-lo para um hospital não garantirá a qualidade do trabalho, porque são funções distintas), que
são cuidadores naturais da “alma”.

Um estagiário de psicologia contou-me que uma criança de dois anos de idade, hospitalizada, chorava muito porque
queria mamadeira de leite. Ele prontificou-se a buscá-la, explicando ao pequeno paciente que iria pedir à enfermagem.
O pequeno paciente ficou quietinho esperando, mas, ao vê-lo retornar sem a mamadeira , começou a chorar novamente.
O que foi alegado pela enfermagem é que faltava meia hora para servir o jantar e que ele teria que esperar e que a
mamadeira só poderia vir depois. Claro que a criança, de apenas dois anos e que ainda não consegue abstrair e que sente
fome, uma necessidade fisiológica, não poderia compreender aquela norma. A enfermeira ainda disse ao estagiário que
as regras do hospital são boas , porque colocam limites que as crianças não têm em casa. Será que esta enfermeira não
percebe o ato desumano que está cometendo? Será que realmente acredita que uns poucos dias de internação e de
imposição de normas e regras, impostas sem o mínimo de carinho e de explicação, por um estranho, conseguirão
educar uma criança de apenas dois anos de idade que sente fome? Não teria sido mais humano dar-lhe a mamadeira?
Matar-lhe a fome em um momento tão singular como é o adoecer acompanhado de internação? Ações deste tipo
invadem os hospitais, contribuem para que o hospital seja um lugar ainda pior e mais desumanizado, onde normas e
regras ditadas em papéis valem como leis em detrimento do bem-estar dos pacientes. Humanizar é ponderar entre o que
está ditado e a relatividade do momento.

Humanizar é também cumprir as tarefas de um DRH (Departamento de Recursos Humanos) bem estruturado, que são
basicamente: recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, cursos de capacitação profissional, educação
continuada, plano de cargos e salários, plano organizado de medicina do trabalho, dentre outras. Funções que

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Seção II, DA SAÚDE - Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
12
Alamy, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. BH: [s.n.], 2003.
13
Kübler-Ross, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
14
Amaral, Lygia Barbiére. O Sono dos Hibiscos. São Paulo: Lachâtre, 2005. p. 235.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 7
possibilitam ao cuidador15 um ambiente mais propício também à sua própria realização profissional e que repercute na
excelência do seu trabalho voltado para o paciente.

Tive a oportunidade de acompanhar uma vez um médico cirurgião em uma cirurgia de hérnia de um recém-nascido.
Cheguei a emocionar-me ao vê-lo em seu trabalho. O bebê ali sedado, deitadinho na mesa de cirurgia e o cirurgião em
pé a segurar-lhe a mão. Este cirurgião (Dr. Fernando Augusto), ímpar, conversava com o bebê explicando-lhe o que iria
fazer e o porquê. Vez por outra passava a mão na cabecinha do bebê e dizia-lhe que era lindo e que ficaria bom.
Conversava com o bebê, explicando-lhe o que estava fazendo e o porquê. Como se este pudesse compreendê-lo. E
tratava-o como um ser humano e não como um órgão a ser operado. Isto é “humano”. Mas, será que isso poderá ser
ensinado como um procedimento técnico a ser cumprido?

A ação tem que vir de dentro do sujeito que deverá compreender em si o significado, antes de tudo, do que é ser bom. E
ser bom tem que ter valia para ele. Temos visto hoje a valoração de: ser esperto em detrimento de ser bom, da fala “não
precisa ser, mas tem que parecer” e coisas do gênero.

Mais do que um teatro de como ser bom, precisa-se ser bom e reavaliar a vaidade que hoje assume proporções somente
compatíveis com o capitalismo consumista, com o ter em detrimento do ser. Porque discursos são manipuláveis e ações
não. Quero dizer com isso que não basta direcionar o ideal de humanização apenas para as pessoas, há de se ter
estrutura física também. É como construir uma casa de palha, colocar uma pessoa trabalhando ali e convidar milhares
de outras pessoas para virem jantar. Você jamais conseguirá matar a fome delas, porque não há arquitetura compatível
com o desejo de oferecer um jantar.

No Manual PNHAH (Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar), “direcionado a agentes e usuários
do SUS”, são colocadas questões que inúmeras vezes vimos abordadas por hospitais particulares, porque dizem respeito
à qualificação de pessoal e satisfação de usuários, onde nestes temos um empreendimento econômico com fins
lucrativos, ou seja, se não houver uma satisfação do “cliente” ele irá embora e procurará o atendimento em outro lugar.
E por isso sempre encontramos nesses hospitais particulares caixinhas na portaria onde podemos emitir nossa opinião,
falando do que achamos que precis am melhorar, o que nos desagradou etc. São as tão conhecidas “caixas de reclamação
e de sugestão”. O que também não deixa de ser uma ilusão, pois o paciente particular tem a sensação de um bom
atendimento quando à sua disposição está um apartamento de luxo com ante-sala, banheiro individual com toalhas
trocadas diariamente e sempre que o paciente quiser, com televisão a cabo, telefone, frigobar, todas as refeições (além
da possibilidade de pedir um delivery), sofá de couro, poltrona, mesa, cadeiras, número liberado de visitantes etc.
Lembro-me que minha avó quando se internava no Hospital X16 exigia que seu apartamento não fosse de frente para a
rua, porque não gostava do barulho que vinha de fora, e imediatamente ela era atendida.17 Mas, esse mesmo hospital
dificultava a entrada de médicos, estranhos ao seu corpo clínico, que fossem para acompanhá-la e nem facilitava o
acesso ao prontuário18 . Havia uma imposição velada de que os médicos teriam que ser os seus e que seriam pagos
diretamente pelo paciente. Médicos desconhecidos para a paciente, com os quais jamais se estabeleceu uma relação de
confiança.

No PNHAH fala-se de humanização, mas, caberia acrescentar-lhe que os hospitais devem ter o número adequado de
funcionários por número de pacientes, para se evitar a sobrecarga de trabalho, não se fala em remuneração adequada
dos profissionais, não se fala que o pagamento dos salários deve ser em dia (como prevê a Lei) – o pagamento adequado
e em dia poderia evitar o velho jargão “ele finge que me paga e eu finjo que trabalho” –, não fala de investimento na

15
Cuidador entendido aqui como todos aqueles que assistem o doente, médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais etc., e
todos os que indiretamente contribuem para o bem-estar do paciente, como o funcionário/servidor público da tesouraria, a
recepcionista, a faxineira etc.
16
O nome do hospital é omitido propositalmente.
17
Marketing feito por profissionais extremamente capazes de mostrar o que se quer vender, usando de armas de consumo e suposto
bem-estar físico, sem em momento algum salientar os méritos profissionais, por exemplo, de cada membro do corpo médico, mas
salientando a todos momento os equipamentos de última geração etc. Lembro-me de um amigo dizendo-me que havia consultado em
uma clínica excelente, onde "tinha até heliporto" (sic). Quando indaguei sobre as qualificações do médico que o atendeu, limitou-se a
responder que era um ótimo profissional. Médico que jamais ouvimos falar no meio acadêmico. Mais uma vez o material sobrepondo
as habilidades humanas.
18
O acesso ao prontuário é direito do paciente e de quem o assiste, podendo este inclusive levar uma cópia do mesmo na ocasião de
sua alta hospitalar.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 8
capacitação profissional, como na educação continuada, nem em investimento para acomodação dos acompanhantes dos
pacientes que foram beneficiados pela implantação do Alojamento Conjunto19 .

Um de seus objetivos é o “resgate da humanização na assistência à saúde, em benefício dos usuários e dos
profissionais de saúde”, o que remete-me, inevitavelmente, à fala de Pedro Salles 20 : "A fundação de hospitais é obra
antiqüíssima. Parece que os primeiros foram de origem romana, e eram hospitais militares, estabelecidos mais com o
espírito utilitário de recuperar os soldados para novas lutas e em face da observação corrente de que o moral das
tropas era melhor quando podiam contar com um serviço adequado de assistência médica. Não se tratava, pois, de
uma manifestação de solidariedade humana.", onde não furto-me a analogia de um ranso permanecer ainda nos dias de
hoje.

Temos Leis e Normas 21 que, se cumpridas, levam automaticamente à humanização dos serviços de saúde, sejam eles do
SUS ou de particulares que atendem SUS e convênios. Se os hospitais se dispuserem a cumprir as Leis Trabalhistas, os
Direitos dos Pacientes (anexo) e investissem no Departamento de Recursos Humanos, com certeza, teríamos pacientes
bem atendidos, profissionais competentes e não seria necessário que se clamasse por humanizar ações que vêm
paradoxalmente do ser humano.

Assim, a humanização deve ir além do cumprimento de leis e não posso deixar de citar o Prof. Dr. Renato Sabbatini22
quando faz referência a um hospital na cidade de Perdue, nos Estados Unidos, onde a humanização do hospital trouxe às
suas dependências físicas gatos e pássaros. “Com tudo isso, o hospital de Perdue conseguiu diminuir em 25% a
mortalidade dos seus pacientes internados. A idéia, que está sendo chamada de ‘edenização’ (de Éden, ou paraíso) é
humanizar as instituições médicas, asilos de velhos e crianças, por meio da interação com animais e plantas. Mais de
100 hospitais e asilos já adotaram essa idéia simples, mas revolucionária, proposta pelo Dr. William Thomas, com
resultados interessantíssimos. Pacientes em estado grave recobram a consciência, e o estado de ânimo de todos
(inclusive dos profissionais de saúde que trabalham com eles) melhora tremendamente, com repercussões positivas
sobre a vontade de viver e até sobre a resistência imunológica contra as doenças. ‘Os pacientes parecem ter uma nova
razão de viver’, diz o Dr. Thomas. ‘Animais, plantas e crianças não são uma panacéia, mas eles proporcionam um
tremendo estimulante, mesmo para os casos mais difíceis’.” Esta é também uma proposta de humanização, onde novas
maneiras de agir e interagir são valorizadas com vistas a atender o paciente também emocional e subjetivo. E que
poderia complementar as ações já propostas pelo PNHAH.

No livro de Pedro Salles, História da Medicina no Brasil, rico no apanhado de datas, estruturação física de hospitais e
avanço da medicina, em momento algum vemos menção aos aspectos psicológicos inerentes ao processo do adoecer, o
que constitui-se uma lástima, mas que com certeza fugia ao seu objetivo ao escrever; no entanto, vemos na evolução da
medicina uma preocupação com a estrutura física para a acomodação dos doentes.23 (...)"quando a Medicina brasileira
se iguala às de maior desenvolvimento em todo o mundo”24 (...), não deveria também o aspecto psicológico/emocional
acompanhar-lhe? 25 Assim, "ao lidar com nossos pacientes, não devemos esquecer de que curar não é tratar sintomas"26 ,

19
Vejo acompanhantes em cadeiras de plástico ao lado dos leitos, sem um mínimo de conforto, onde os acompanhantes deverão
passar todo o tempo, sem a mínima condição de deitar-se e que após um dia seus tornozelos estão inchados em proporções terríveis;
o banho com hora marcada depois de enfrentar uma fila na porta do banheiro; e ainda, pior, a falta de alimentos que só vêm para os
doentes.
20
Salles, Pedro. História da Medicina no Brasil. 2ª. ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2004. p. 59.
21
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Código Civil, CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), Lei 8.080/90,
Lei 8.142/90, NOB 01/96 (Norma Operacional Básica do Sistema de Saúde), NOAS 01/2001 (Norma Operacional de Assistência à
Saúde).
22
Sabbatini, Renato. Humanizando os hospitais. Disponível em: http://www.epub.org.br/svol/artigo30.html. Acessado em 02 jan.
2004.
23
Como exemplo temos Pedro Salles referindo-se à Santa Casa do Rio de Janeiro: "Em 1830 a Câmara Municipal nomeou uma
Comissão para examinar o hospital e o relatório apresentado foi um libelo violento, criticando desde a localização(...). Salienta as
más condições de umidade, deficiências higiênicas, falta de comodidade para os doentes, principalmente quanto ao pavimento
térreo, destinado aos inválidos e aos doidos, ficando estes infelizes acumulados em um verdadeiro xadrez." (p. 65). Isso hoje parece-
nos não mais existir, já estando tal problema sanado há muito tempo.
24
Salles, Pedro. História da Medicina no Brasil. 2ª. ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2004. p. 199.
25
"Cada paciente tem uma história pessoal, uma biografia e um ambiente psicossocial. A Doença e seu tratamento representam uma
marca, um acréscimo a essa história. Por isso, não se pode separar a operação realizada e a situação atual do paciente, do resto de
sua biografia. As respostas psicológicas são individuais, pessoais." (Schávelzon, José. Sobre Psicossomática e câncer. In.: Mello
Filho, Julio e Cols. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. p. 221).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 9
ou seja, o emocional, os sentimentos devem ser considerados no tratamento.

Podemos, então, pensar a humanização como um todo que considera e valoriza todas as singularidades que estão
envolvidas no bem-estar de quem assiste o doente, do doente e também de seus familiares, viabilizando a todos o acesso
à saúde física e mental, evitando conflitos motivados pela inadequação material e emocional, propiciando condições de
tratá-lo e de tratar-se como um ser humano sujeito, incluindo a propedêutica, a terapêutica e a profilaxia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. BH: [s.n.], 2003.

AMARAL, Lygia Barbiére. O Sono dos hibiscos. São Paulo: Lachâtre, 2005.

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LEXIKON Informática. Dicionário Aurélio Eletrônico. Século XXI. Versão 3.0.

MENEZES DE MELLO, Adolpho. Psicossomática e Pediatria. In.: Mello Filho, Julio e Cols. (Org.). Psicossomática hoje. Porto
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SALLES, Pedro. História da Medicina no Brasil. 2ª. ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2004.

SCHÁVELZON, José. Sobre Psicossomática e câncer. In.: Mello Filho, Julio e Cols. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1992.

TV Globo Minas – Plantão. Disponível em: http://globominas.globo.com. Acesso em: 13 jun. 2005.

TV Globo Minas – Plantão. Disponível em: http://globominas.globo.com. Acesso em: 24 jun. 2005.

26
Menezes de Mello, Adolpho. Psicossomática e Pediatria. In.: Mello Filho, Julio e Cols. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1992, p. 195.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 10
ANEXO

DIREITOS DOS PACIENTES 27

Os pacientes, de qualquer doença, deverão ter, assegurados, os seguintes direitos:

1 -Ter um atendimento digno, atencioso e respeitoso.

2 - Ser identificado e tratado pelo seu nome e sobrenome.

3 - Não ser identificado e tratado por: a) números; b) códigos ou; c) de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.

4 - Ter resguardado o sigilo sobre seus dados pessoais, desde que não acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública.

5 - Poder identificar as pessoas responsáveis direta e indiretamente por sua assistência, através de crachás visíveis,
legíveis e que contenham: a) nome completo; b) função; c) cargo; e d) nome da instituição.

6 - Receber informações claras, objetivas e compreensíveis sobre: a) suspeitas diagnósticas; b) diagnósticos realizados;
c) ações terapêuticas; d) riscos, benefícios e inconvenientes provenientes das medidas diagnósticas e terapêuticas
propostas; e)duração prevista do tratamento proposto; f) a necessidade ou não de anestesia, o tipo de anestesia a ser
aplicada, o instrumental a ser utilizado, as partes do corpo afetadas, os efeitos colaterais, os riscos e conseqüências
indesejáveis e a duração esperada do procedimento; g) os exames e condutas a que será submetido; h) a finalidade dos
materiais coletados para exame; i) as alternativas de diagnóstico e terapêuticas existentes no serviço em que está sendo
atendido e em outros serviço; e j) o que julgar necessário.

7 - Consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos cirúrgicos,
diagnósticos e/ou terapêuticos a que será submetido, para os quais deverá conceder autorização por escrito, através do
Termo de Consentimento.

8 - Ter acesso às informações existentes em seu prontuário.

9.- Receber, por escrito, o diagnóstico e o tratamento indicado, com a assinatura do nome do profissional e o seu
número de registro no órgão de regulamentação e controle da profissão.

10 - Receber as prescrições médicas: a) com o nome genérico das substâncias; b) datilografadas ou em caligrafia
legível; c) sem a utilização de códigos ou abreviaturas; e d) com o nome legível do profissional, assinatura e seu número
de registro no órgão de controle e regulamentação da profissão.

11 - Conhecer a procedência do sangue e dos hemoderivados e poder verificar, antes de recebê-los, os carimbos que
atestaram a origem, sorologias efetuadas e prazos de validade.

12 - Ter anotado em seu prontuário, principalmente se inconsciente durante o atendimento: a) todas as medicações, com
as dosagens utilizadas; e b) o registro da quantidade de sangue recebida e dos dados que permitam identificar a sua
origem, as sorologias efetuadas e prazos de validade.

27
CÂNCER – Faça valer os seus direitos. Disponível em: http://mariinha.adv.br/index2.htm. Acesso em: 30 jan. 2004.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 11
13 - Ter assegurada, durante as consultas, internações, procedimentos diagnósticos e terapêuticos, e na satisfação de
suas necessidades fisiológicas; a) a sua integridade física; b) a sua privacidade; c) a sua individualidade; d) o respeito
aos seus valores éticos e culturais; e) o sigilo de toda e qualquer informação pessoal; e f) a segurança do procedimento.

14 - Ser acompanhado, se assim o desejar, nas consultas, exames e no momento da internação por uma pessoa por ele
indicada.

15 - Ser acompanhado, se maior de sessenta anos, durante o período da internação, de acordo com o que dispõe o
Estatuto dos Idosos.

16 - Ser acompanhado nas consultas, exames e durante a internação se for menor de idade, de acordo com o que dispõe
o Estatuto da Criança e do Adolescente.

17- Ter asseguradas durante a hospitalização a sua segurança e a dos seus pertences que forem considerados
indispensáveis pela instituição.

18 -Ter direito, se criança ou adolescente, de desfrutar de alguma forma de recreação, prevista na Resolução nº 41, do
Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente.

19 - Ter direito durante longos períodos de hospitalização, de desfrutar de ambientes adequados para o lazer.

20 - Ter garantia de comunicação com o meio externo como, por exemplo, acesso ao telefone.

21 - Ser prévia e claramente informado quando o tratamento proposto estiver relacionado a projeto de pesquisa em seres
humanos, observando o que dispõe a Resolução nº 196, de 10 de Outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde.

22 - Ter liberdade de recusar a participação ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização
alguma e sem prejuízo ao seu tratamento.

23 - Ter assegurada, após a alta hospitalar, a continuidade da assistência médica.

24 - Ter assegurada, durante a internação e após a alta, a assistência para o tratamento da dor e as orientações
necessárias para o atendimento domiciliar, mesmo quando considerado fora de possibilidades terapêuticas atuais.

25 - Receber ou recusar assistência moral, psicológica, social ou religiosa.

26 - Recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida.

27 - Optar pelo local de morte.

_____________________
Recebido em 30/06/2005.
Aprovado em 28/08/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 12
PSICOLOGIA E REABILITAÇÃO:
A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO FACIAL PARA O PACIENTE E SUA
SUBJETIVIDADE
Marília Silveira 1
marilia_aus@yahoo.com.br

Fotos cedidas por Maria Elizabeth Souza Silveira. 2

Sinopse: Neste artigo procura-se uma discussão sobre a importância da reabilitação facial para pacientes mutilados e
sua subjetividade, levando em conta que a psicologia e a reabilitação facial trabalham juntas para ajudar este paciente
em sua relação com o “eu” e com o outro, reconstruindo assim sua auto-imagem e reinserindo-o no contexto social.

Palavras chave: Reabilitação, psicologia, auto-estima, autoconfiança e pacientes mutilados.

Introdução:

Devido a uma experiência de estágio realizada na Oculart – confecção e adaptação de prótese ocular – foi possível
perceber alterações comportamentais apresentadas por pacientes após passarem pelo processo de reabilitação facial.
Com o objetivo de verificar a importância desta reabilitação para os pacientes com mutilações faciais e sua
subjetividade, foram entrevistados profissionais da área de psicologia, protesista ocular e pacientes mutilados
reabilitados.

1. Conceitos: Prótese facial e paciente mutilado.

Segundo Graziani (1982), denomina-se prótese a reposição artificial de uma parte perdida do organismo. Tratando-se de
reconstituição facial, esta passa a ser chamada de prótese buco-maxilo-facial, tendo por objetivos principais restaurar a
aparência, proteger a área danificada e trabalhar o psicológico do paciente em relação a sua auto-estima e
autoconfiança. Assim a prótese facial aparece como um recurso científico para a manutenção da relação sujeito e perda.

“Sob o ponto de vista da estética e da beleza, ela (a prótese facial) atua sobre a própria sede da expressão
fisionômica. A fisionomia é definida como o resultado das expressões transmitidas a face pelos sentimentos e
emoções habituais do indivíduo”. (GRAZIANI, 1982. p.1).

Paciente mutilado, de acordo com as idéias de Moroni (1982), é aquele que sofreu uma deformidade ou deformação,
destruindo total, ou parcialmente partes da face, como olho, orelha, maxilar, nariz, sofrendo, muitas vezes, extensas
mutilações faciais que comprometem o funcionamento fisiológico das partes afetadas. De acordo com Maroni (1982),
as malformações congênitas ou traumatismos, seqüelas pós-infecciosas, pós-cirúrgicas e pós-queimaduras, os tumores e
suas conseqüências , constituem os principais fatores etiológicos responsáveis pelas mutilações faciais.

1
Graduando de psicologia da PUC-MINAS, núcleo Coração Eucarístico, 3ºperíodo, 1º semestre de 2005.
2
Protesista e artista plástica. Oculart - Confecção e Adaptação de Prótese Ocular.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 13
2. Abordagem psicológica; o psicólogo diante do paciente mutilado.

A normalidade do indivíduo é refletida intensamente pela integração da face, uma vez que, através dela, somos capazes
de expressar o estado de saúde e emoções. Quando na face é sofrida alguma alteração estética ou funcional, a
probabilidade de causar repercussões psicológicas em diversos graus é bastante grande. Conseqüentemente, o trabalho
de reabilitação com o paciente mutilado requer um cuidado especial; uma equipe multidisciplinar, na qual o psicólogo é
um membro importante. Diante da afirmação da Dr. Maria Elizabeth Silveira, protesista ocular, “...a reabilitação facial é
de grande importância uma vez que as pessoas com defeito faciais possuem grande dificuldade de reintegrar-se na
sociedade, retraindo-se e se isolando quando não reabilitados...”(sic), dessa forma, é possível perceber a necessidade de
profissionais variados para lidar com estes pacientes.

“O psicólogo é o profissional que orienta o paciente como agir com a sua nova situação, levanta novas
possibilidades de trabalho, apóia e orienta a família em como lidar com o paciente, animando-o quanto aos
progressos que vem realizando (mesmo que pequenos), treina-o como usar a prótese (...) e mais outras
atividades específicas de cada caso”. (FONSECA, 1987, p.183)

Segundo Maroni (1982), o processo de reabilitação procede-se ao levantamento de como era o sistema de vida do
indivíduo antes do evento alterador, - no caso: tumores, malformações, seqüelas pós-cirúrgicas, etc. - a análise do
sistema de vida atual do paciente mutilado e a determinação do procedimento que objetiva o retorno do sistema de vida
anterior ou algum outro sistema de vida, desde que o satisfaça.

O profissional da área de psicologia está sujeito a deparar-se com pacientes em situações de negação, revolta,
isolamento, resignação, entre outros comportamentos esperados diante a uma doença ou mutilação. Portanto é
necessário, de acordo com Maroni (1982), deixar com que estes pacientes mutilados compartilhem suas emoções e
desenvolvam confiança no profissional que o está acompanhando. Diante de pacientes mutilados que recusa olhar sua
lesão, o psicólogo deve desmistificá-la, falar mais sobre ela, mostrar fotos de casos parecidos, com o intuito de que este
paciente adquirira confiança para enfrentá-la. É preciso distinguir o acompanhamento do paciente do envolvimento com
o mesmo. O psicólogo pode acompanhar o paciente mutilado sem, necessariamente, estar envolvido com ele.

Como dito anteriormente, este paciente irá estabelecer, também, vínculo de tratamento com outros profissionais que o
ajudará no tratamento de reabilitação oferecendo outros recursos como a própria prótese.

3. Aspectos psicológicos:

A tendência do ser humano, segundo Fonseca (1987), é obedecer à lei da sobrevivência, buscando o equilíbrio entre o
meio externo e si próprio, entre suas necessidades básicas como respirar, alimentar, mover; os seus sentimentos,
emoções, valores e o meio social, nas relações em geral. Os próprios sujeitos da pós-modernidade impõem padrões de
beleza, de perfeição e vaidade que, por muitos, são seguidos rigorosamente, não esperando assim que a maioria deles
esteja preparada a lidar com defeitos e mutilações, principalmente quando estes atingem partes essenciais do corpo
como a face.

Muitos pacientes adquirem perturbações de ordem psíquica em função das conseqüências negativas trazidas pelas
mutilações. Conseqüências essas que englobam a área de relacionamento afetivo, familiar e profissional do paciente,
desencadeando o seu isolamento, diminuição da auto-estima e autoconfiança, insegurança, depressão, entre outras
patologias psíquicas. No caso das mutilações causadas por tumores, o impacto psíquico é duplo, devido à deformidade
física e a perda do órgão causada por eles.

Os sentimentos de inferioridade e desvalorização, para o paciente mutilado, as sensações de perda e o medo da vida ser
dolorosa ou não ter sentido podem tornar-se intensos e exigir orientação ou tratamento psicológico. Existem diferentes
técnicas e epistemologias ligadas a este fim. Uma delas é o behaviorismo , que de acordo com as idéias de Neto Barros
(1999), engloba a psicoterapia cognitivo-comportamental, apresenta como objetivo eliminar os “medos” mediante a

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 14
exposição do paciente diante situações que os provocam, desenvolvendo a habituação e eliminação dos sintomas,
melhorando assim a qualidade de vida do paciente.

Segundo Caballo (2003), a terapia cognitivo-comportamental se dedica, também, a pacientes com preocupações
excessivas da aparência – TDC: transtorno dismórfico corporal – que, muitas vezes, temem ser avaliados negativamente
diante dos outros, apresentando conseqüentemente fobia-social, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, entre
outras patologias psíquicas.

4.Auto-estima e autoconfiança nos pacientes pré e pós-reabilitados.

Dentre as muitas repercussões psicológicas e os desequilíbrios causados pelas mutilações, Fonseca (1987) afirma a
existência de um abalo da conseqüente interação do sujeito com o meio interno, ou seja, consigo mesmo através de seus
sentimentos, emoções, cognições e, principalmente, autoconfiança. E, também, na sua interação com o meio externo
social, no trabalho, nas relações afetivas, no lazer, que requerem uma elevada auto-estima.

“Auto-estima, autoconfiança, e responsabilidade são sentimentos associados à maturidade e a felicidade de


uma pessoa. Ter todas essas qualidades significa estar harmoniosamente integrado ao contexto de vida
familiar, escolar, profissional e afetivo.” (GUILHARDI, 2002 )

Fotos cedidas por Maria Elizabeth Souza Silveira. 3

Quando se trata de uma pessoa mutilada, os estados corporais referidos anteriormente tornam-se muitas vezes
incipientes, devido ao fato de que a auto-estima, de acordo com Galhiardi (2002), desenvolve-se a partir de reforços
sociais. Ao sair às ruas sem qualquer curativo ou prótese, o paciente mutilado recebe olhares diferenciados; de negação,
pena e reprovação, por parte da sociedade em geral, contribuindo assim para a diminuição da sua auto-estima.
Conseqüentemente, devido à insegurança de emitir comportamentos e não obter reforços para ele, há uma perda
gradativa de sua autoconfiança, que, segundo Guilhardi (2002), está associada aos comportamentos bem sucedidos.

Após a observação e entrevista com pacientes mutilados, pode-se comprovar esse fato. Eles se sentem diferentes,
rejeitados e excluídos. Como conseqüência, ao sair às ruas, utilizam-se de vários artifícios, como óculos escuros, lenços
e o próprio cabelo, para esconder sua lesão. Andam cabisbaixos, retraem-se e evitam comunicar-se com os outros.
Muitos deprimem-se devido à falta de expectativa para o futuro.

Feita a reabilitação com a prótese facial, estes pacientes recuperam a auto-estima e autoconfiança. “Com a prótese sinto
mais firmeza e segurança por estar igual aos outros.” (S.J. sic). Eles voltam a ser aceitos na sociedade, estabelecendo
novas relações afetivas, familiares e profissionais.

3
Ibidem.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 15
Ao traçar um paralelo entre o paciente mutilado pré e pós-reabilitado, é possível perceber a ocorrência de grandes
avanços sociais e psicológicos, uma vez que depois da reabilitação estes pacientes reinserem-se na sociedade,
retomando suas atividades rotineiras, sua vida familiar e afetiva. Os pacientes reabilitados valorizam sua auto-imagem,
voltam a olhar-se no espelho e despertar em si a vontade de viver novamente.

5. Conclusão:

É interessante pensar que a reabilitação facial exerce varias funções simultaneamente. Além da reabilitação fisiológica,
melhora da estética, proteção da área danificada, entre outras funções, ela proporciona, como conseqüência, a
reabilitação social do paciente, uma vez que com a prótese facial ele melhora o seu desempenho perante a si mesmo e a
sociedade.

Dentre dez pacientes entrevistados que já passaram pelo processo de reabilitação, não houve nenhum caso em que
ocorresse acompanhamento psicológico, porém todos eles apresentaram uma grande melhora de auto-estima e
autoconfiança, possibilitando assim que melhorassem suas atividades sociais. Alguns conseguiram empregos e outros
estabeleceram relações afetivas devido a melhora da autoconfiança e estética possibilitada pela reabilitação facial.
Porém, três deles não conseguem lidar com a perda do órgão; quando estão utilizando a prótese sentem-se normais, mas
ao retirá-la para limpar é necessário que fiquem sozinhos, caso contrário não há possibilidades de a retirarem, somente
na presença do médico. Eles, também, não se olham no espelho na ausência da prótese. “Ninguém sabe que eu tenho
prótese, nem minha família, falo pra eles que eu estou usando lente. Nunca tirei a prótese na frente de ninguém que não
seja a doutora (...) você já viu alguém sem prótese? É horrível.” ( M. B. sic)

Conclui-se, então, que a reabilitação facial promove uma reestruturação psicológica no paciente mutilado até certo
ponto. A reação diante da mutilação é diferente para cada paciente, podendo provocar desde grandes traumas psíquicos,
onde é indispensável um acompanhamento psicológico individualizado, até um pequeno transtorno que, somente com a
reabilitação facial, pode ser superado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Artes Médicas, 1998. p. 67-73.

CABALLO, Vicente. Manual para o tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológicos: transtornos de ansiedade,
sexuais, afetivos e psicóticos. São Paulo: Santos Livraria, 2003.

FONSECA, Edmundo. Prótese ocular. São Paulo: Panamed, 1987.

GUILHARDI, Hélio. Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. Disponível em: http://www.terapiaporcontingencias.com.br.


Acesso em: 05 maio 2005.

GRAZIANI, Mario. Prótese maxilo-facial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.

MORONI, Plínio. Reabilitação buco-facial: cirurgia e prótese. São Paulo: Panamed, 1982.

RESENDE, José. Fundamentos da prótese buco-maxilo-facial. São Paulo: Sarvier, 1997.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 16
VASH, Carolyn. Enfrentando a deficiência: a manifestação, a psicologia, a reabilitação. São Paulo: Universidade de São Paulo,
1988.

ZILAH, Maria. Comportamento humano: tudo (ou quase tudo) que você gostaria de saber para viver melhor. Santo André: Editores
Associados, 2002.

_________________
Recebido em 26/07/2005.
Aprovado em 27/08/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 17
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO ESTRESSE
DO PSICÓLOGO HOSPITALAR
Danielle Silva Veiga1
Danielle992@uol.com.br

Não é de hoje que o estresse vem desempenhando um importante papel na vida de todos nós. O excesso de informações
a que somos submetidos, as múltiplas tarefas que devemos desempenhar e as constantes mudanças que vivemos são
responsáveis por grande parte deste estresse, em algumas pessoas somam-se aí certas características de personalidade.
Inúmeras pesquisas têm sido realizadas sobre a relação do estresse com o adoecimento e mostram a estreita correlação
entre os dois termos. Quando se fala em estresse dos trabalhadores da área da saúde, as publicações elegem quase
sempre médicos, enfermeiras ou a equipe de saúde como um todo como participantes da pesquisa. Há poucos estudos
sobre o estresse do psicólogo, e no caso do psicólogo hospitalar nenhum estudo foi encontrado. Por este motivo
decidimos realizar uma pesquisa no segundo semestre de 2003 com psicólogos hospitalares (e estagiários) que
trabalhassem (ou já tivessem trabalhado) em enfermaria e desejassem participar da pesquisa. Enviamos um e-mail a
alguns membros da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH) e, através do presidente da Associação
Brasileira de Psicologia da Saúde e Hospitalar (ABPSH), foram encaminhados novos e-mails aos sócios da entidade.
Foram também encaminhados e-mails a contatos pessoais da autora. Cada e-mail continha um breve resumo da
pesquisa, contatos da autora e das orientadoras e algumas questões abertas às quais o participante deveria responder. Foi
dado um prazo até fevereiro de 2004 para que fossem enviadas as respostas.

Após o vencimento do prazo para respostas, verificamos ter recebido trinta e-mails entre profissionais e estagiários. A
maioria foi da cidade do Rio de Janeiro (onde reside a autora), porém, houve participação dos seguintes estados: São
Paulo, Rio Grande do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. O tempo de experiência na área hospitalar
variou de cinco meses a mais de vinte anos. As enfermarias com maior representatividade foram cardiologia, obstetrícia
e pediatria, no entanto, também havia representantes de: ortopedia, cirurgia geral, cirurgia geral masculina, oncologia e
urologia/nefrologia. A maioria dos profissionais trabalha em hospital público (tanto estagiários como profissionais). O
número de profissionais superou em muito o número de estagiários participantes. Verificou-se também que a psicologia
hospitalar ainda é um campo em maioria escolhido pelas mulheres. Apenas um homem respondeu ao questionário.

FATORES ESTRESSANTES

Partimos da literatura para postular algumas prováveis dificuldades do psicólogo hospitalar. Entre elas estão:

1) O contato constante com dor, morte e sofrimento: Este torna-se especialmente difícil pela morte ser um tabu em
nossa sociedade e o assunto ser pouco discutido nas universidades. Laham e Chiba (2003) consideram que a morte é um
fracasso para a equipe de saúde e isto inclui o psicólogo, já que este também é um ser humano e pode ser tocado pelas
mesmas problemáticas.

Na pesquisa de 2003, percebemos que o psicólogo é bastante envolvido na problemática do paciente, especialmente o
de classe mais baixa com problemas além de físicos, sociais. A questão da morte foi tida como bastante mobilizante. A
morte do primeiro paciente parece ser um marco na vida de quem trabalha nesta área.

“Até hoje lembro de um caso que mexeu muito comigo: um paciente que aguardava um coração para ser
submetido ao transplante, que tinha a mesma idade que eu (25 anos), estava noivo como eu, tinha uma
história muito parecida com a minha e acabou não suportando a espera e faleceu. Fiquei muito triste.
Conseguia separar o que era meu e o que era dele, mas desgastava muito durante os atendimentos” –
Daiana

2) Problemas de Inserção na Equipe de Saúde : Este tópico diz respeito à entrada do psicólogo numa área que não é
teoricamente a sua. São grandes as queixas de que o psicólogo é excluído da equipe, de que o médico não o trata como
igual, etc.

1
Psicóloga, CRP 05/31191. Especializanda em Psicologia Hospitalar – Santa Casa da Misericórdia/RJ.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 18
Os participantes da pesquisa responderam que o psicólogo não é excluído da equipe mas este mesmo se exclui seja por
medo ou falta de experiência. Em outras palavras, o psicólogo sente que seu trabalho é diferente dos demais e fica,
geralmente, à parte em sua sala, ainda tentando adaptar o modelo de consultório ao hospital. O preconceito em relação
aos médicos continua. Alguns participantes citaram o papel inadequado que desempenha o psicólogo, muitas vezes,
querendo ensinar psicologia ao médico ou não tentando integrar-se na equipe.

“Julgo que os locais mais difíceis (de se trabalhar) são aqueles onde não conseguimos despertar na equipe
a necessidade e o reconhecimento do trabalho do psicólogo." - Renata

3) Submissão às Regras da Instituição: Este item diz respeito à falta de espaço, materiais e salas e a uma certa
limitação do trabalho do psicólogo por conta da Instituição onde ele trabalha. Projetos de trabalho, algumas vezes, não
são aceitos pelos responsáveis pelo hospital e isso traz frustração ao profissional que pode ter visto uma boa chance de
melhora dos pacientes ir embora. Lopes (2003) e Penna (1997) afirmam que, para uma boa adaptação no trabalho da
saúde, o psicólogo deveria ter muita flexibilidade e alta tolerância à frustração.

Na pesquisa foi percebido que o problema dos materiais , muitas vezes, é resolvido pelo psicólogo que compra materiais
de arteterapia, por exemplo, folhas em branco para impressão de textos e formulários, etc. Em relação ao local, o
psicólogo costuma ter uma sala ao menos para guardar materiais e atender algum caso individual, mas muitos trabalhos
são adaptados para o local possível como a sala de espera e enfermarias. Parece que os projetos são melhor aceitos
quando o responsável pela enfermaria conhece de perto o trabalho da psicologia.

“Acredito que existam obstáculos que estão no próprio profissional e outros que se referem mais à
instituição e ao modo de organização do trabalho. Exemplos são a resistência que se coloca à entrada do
psicólogo no hospital, a pouca compreensão por parte de outros profissionais do trabalho do psicólogo
hospitalar (muitos ficam com a representação do psicólogo clínico mesmo), a falta de preparo do próprio
profissional." - Lúcia

4) Envolvimento Emocional com pacientes: O psicólogo lida mais intensamente com o paciente que o médico e isto
cria uma forte ligação entre eles, mesmo na curta estada do paciente. Além disso, nos hospitais públicos há um grande
número de pessoas com problemas psicológicos e sociais, o que pode mobilizar no psicólogo sentimentos de
compaixão, pena e impotência diante da situação.

Na pesquisa percebemos que o psicólogo freqüentemente se vê envolvido com questões de seus pacientes. Alguns
participantes relataram ter chorado depois do atendimento ou terem ficado felizes após a melhora repentina de um
paciente. Uma frase freqüente dos entrevistados era: “Nós também somos humanos”. Alguns afirmavam que: “se
envolver é diferente de se misturar”. Ficou claro o referencial psicanalítico de muitos participantes nesta questão, pois
falaram da análise da contratransferência e na importância da análise pessoal para conseguir se manter no papel
profissional adequado.

“Diversas vezes senti-me apegada emocionalmente a um ou outro paciente, eu sentia a dor dele, sofria
junto com ele, e isso me fazia muito mal.” - Carolina (estagiária)

5) Trabalho com pacientes não desejosos do atendimento/situações de crise: Este item diz respeito ao atendimento
psicológico quando prestado à pacientes em crise que, por vezes, nem sabem o que é psicologia ou à abordagem de
pacientes agressivos, poliqueixosos, hipocondríacos, geralmente rotulados de “pacientes difíceis”. Bárbara Zas Ros
(2000) afirma que o papel de “bombeiro” ainda continua sendo do psicólogo.

Os participantes da pesquisa mostraram que apesar deste ser um trabalho difícil, não o é tanto para o psicólogo, que
melhor preparado para lidar com as questões emocionais, pode, muitas vezes, compreender o motivo daquele
comportamento e entender em que contexto ele ocorre. Além disso, pelo fato da maioria dos psicólogos já terem feito

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 19
terapia e trabalhado seus próprios aspectos emocionais, parece ser mais fácil distinguir a rejeição que o paciente faz
porque está assustado com o psicólogo, de uma rejeição à pessoa do psicólogo, causando menos frustração.

6) Falta de Formação na área hospitalar : Camon (2000) cita, exaustivamente, a falta de preparo do psicólogo
hospitalar para lidar com essa nova área de trabalho. Muitos psicólogos caem de “pára-quedas”, nesta área sem ter
nunca estagiado em um hospital, tido uma boa supervisão ou lido textos a este respeito. As universidades também não
oferecem matérias sobre saúde e hospital, as que oferecem geralmente dão matérias eletivas cujas vagas são bastante
concorridas e cujo conteúdo introdutório é dado em apenas um semestre.

Os participantes da pesquisa queixaram-se bastante deste fato, especialmente das poucas cadeiras relacionadas a
trabalho de grupo, uma constante no hospital. Quando foi pedido que definissem a psicologia hospitalar, os psicólogos
não deram uma resposta unânime e muito menos aproximada, o que mostra que esta definição acaba sendo um tanto
subjetiva pela falta de leitura nesta área.

“ No hospital você tem o quê? Grupo! Vai ver quantas matérias você teve na faculdade sobre dinâmica de
grupo... No máximo uma. No Hospital a gente trabalha com grupo o tempo todo: equipe de saúde, grupos
de pacientes, sala de espera...” - Verônica

OUTRAS CONCLUSÕES

Afora as conclusões postuladas a partir da literatura, podemos obter outras, algumas um tanto animadoras.

- Quase a totalidade dos psicólogos considerou a terapia pessoal como importante para a prática hospitalar, sendo que
destes, os que ainda não fazem terapia pretendem fazer em breve. Muitos profissionais relataram ter iniciado a terapia
antes mesmo do estágio em hospitalar.

“Lidar com as frustrações, saber perceber seus limites, poder compartilhar para se sentir mais livre é a
função que a minha terapia tem com relação ao meu trabalho.” - Júlia

- Ainda se acredita no trabalho verdadeiramente interdisciplinar, no entanto, o que se tem conseguido, por enquanto, são
pequenas parceiras com médicos, enfermeiras e outros profissionais e que vêm melhorando a qualidade do atendimento.

- Muitos participantes relataram ter sentido cansaço físico durante o atendimento. Não por conta das enfermidades que
vêm ou do ambiente (com algumas exceções), mas por conta de ficar em pé ao lado do leito por várias horas. Os
sintomas mais freqüentes foram cansaço generalizado e dor nas costas e nas pernas. Três participantes mencionaram
também uma espécie de esgotamento mental “como se o paciente sugasse o que temos de bom” (sic).

“O que sinto é às vezes , em determinados momentos, um esvaziamento energético comum nesse tipo de
atendimento (hospitalar)” - Lívia

- O pior lugar do hospital para se trabalhar parece ser aquele onde o psicólogo não é aceito ou a equipe é por demais
rígida para aceitar um novo membro.

- O profissional que mais se estressa no hospital é a enfermeira, na opinião dos participantes pois esta é mal
remunerada, trabalha muito e tem grandes responsabilidades. Em segundo lugar, apareceu o médico pela sua
responsabilidade com a vida do paciente. O psicólogo não foi citado nenhuma vez.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 20
- Como solução para o estresse do psicólogo, os participantes citaram grupos Balint com os médicos, pronto-socorro
psicológico, ginástica, alongamento e relaxamento pela manhã, melhor formação e remuneração dos profissionais.

- Percebeu-se também que o psicólogo hospitalar é muitas vezes definido pelo que ele não é, o que foi praticamente
unânime entre os participantes. O psicólogo hospitalar não é médico, não dá notícias, não “apaga incêndios”, “deve
fazer aquilo para o que foi formado”(sic).

FINALIZANDO...

A partir dos dados relatados podemos perceber que os psicólogos hospitalares ainda não estão suficientemente
preparados para exercer suas funções. Para compensar a ausência ou precariedade de formação universitária, é
necessário atualizar-se através de palestras, cursos, seminários e estágios, além da leitura constante de artigos e livros. O
psicólogo precisa também ter mais confiança no trabalho que desempenha, confiança esta que vai permitir a ele não
sentir-se mais um intruso no hospital e isolar-se numa sala no setor de saúde mental. Parece que estamos dando
pequenos passos nesta direção porém os problemas ainda são muitos. A equipe de saúde ainda desconhece a função do
psicólogo, muitas vezes, rotulando o atendimento como um “bate-papo” informal e interrompendo constantemente. A
população também não entende, na maioria das vezes, o trabalho do psicólogo. Alguns pacientes parecem desconfiados
e arredios à primeira abordagem ou crêem que estão sendo atendidos por apresentarem algum problema, quando o
serviço é de rotina. Porém, aos poucos aumentam as vagas em concursos públicos para psicólogo, pois se percebe a
importância deste profissional no alívio da ansiedade pré-operatória, por exemp lo. É necessário mobilizar a equipe para
a importância do serviço, no entanto, é necessário mobilizar primeiramente o psicólogo, que não sabe muito bem quais
são suas funções e como deve ser dirigir ao resto da equipe de saúde. Só assim o estresse deste profissional poderá ser
amenizado. É necessária também a realização de mais estudos a este respeito, com amostras maiores e maior
representatividade de outros estados.

BIBLIOGRAFIA

ANGERAMI-CAMON, V. A. (Org.). Psicologia da Saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Thomson
Learning, 2000.

LAHAM, C. F.; CHIBA, T. Terminalidade: ética, dignidade e respeito. In: QUAYLE, J.; LUCIA, M.C. S. de. Adoecer: as interações
do doente com sua doença. São Paulo: Atheneu, 2003.

LOPES, V. R. Psicologia hospitalar infantil. Apostila do curso de mesmo nome. Rio de Janeiro, 2003.

PENNA, T. L. M. Psicoterapia no hospital geral. Cadernos IPUB n.6, 1997.

ROS, B.Z. La Psicologia en lãs Instituiciones de Salud. 2000. Disponível em http://www.psicologia-


online.com/colaboradores/bárbara/index.shtml. Acesso em março de 2004.

_____________________
Recebido em 18/02/2005.
Aprovado em 18/03/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 21
PRIMEIRAS IMPRESSÕES AO ENTRAR
EM UM HOSPITAL PEDIÁTRICO
Natália Fontes de Castro 1
nattycastro@hotmail.com

No momento em que entrei no primeiro andar do hospital, às 8 horas, observei que a maioria das mães estavam
carregando seus bebes no colo. Pelo fato dos leitos estarem localizados próximos uns dos outros, as mães conversavam
bastante entre si. O choro das crianças era intenso, a maioria delas estava acordada esperando a mamadeira. Observei
que a expressão facial de algumas mães era de desconsolo e, às vezes, certo desespero, principalmente quando a criança
começava a chorar constantemente. O nível socioeconômico daquelas mães é baixo e para mim, tal fato se confirmou
quando uma mãe estava no orelhão do primeiro andar do hospital, supostamente estava conversando com seu
companheiro, disse que havia pegado o cartão telefônico emprestado para ligar para ele e dizer que não tinha dinheiro
para voltar para casa. A falta de paciência era marcante, uma mãe disse a outra que não agüentava mais ouvir o choro
daquelas crianças. Depois que as mamadeiras foram distribuídas, observei que o ambiente havia ficado menos tenso, o
choro tinha cessado.

O segundo andar não era tão diferente, havia choro, o desânimo das mães era visível, ficavam sentadas nas cadeiras,
cansadas e com um olhar “morto”, no teto tinha alguns enfeites dependurados. A linguagem utilizada pelas mães é
diferente, é carregada com alguns palavrões. Observei a precocidade da maternidade em algumas mães, o medo que as
crianças tem do jaleco branco, medo que pode ser explicado pela dor da agulha. O mais triste foi perceber que algumas
mães ainda reforçam essa desagradável situação com frases do tipo: “Se você não ficar quieto, a moça de branco vai te
dar uma agulhada”. Talvez aqui começasse a aversão por hospitais e o medo de injeção quando adulto.

Já o terceiro andar era mais calmo, silencioso, lá ficavam crianças maiores. Neste andar tinham três pais (homens),
chegaram bem cedo, visto que a partir das 22 horas a presença destes é proibida pelo hospital. Algumas crianças
estavam brincando, outras vendo desenho e outras deitadas no leito. As roupas usadas pelas crianças são fornecidas pelo
hospital. Alguns acompanhantes (mães) deixam suas crianças nos leitos e vão para a entrada do hospital para distraírem
e relaxar, algumas mães aproveitam para fumar.

A própria dependência do serviço médico causa um desequilíbrio do sujeito, a impotência da mãe frente a patologia da
criança causa muito desespero. Deve-se dar importância ao desconforto físico do paciente, a situação pela qual eles
passam é desconhecida, podendo levar ao estresse físico e emocional. O desconforto dos acompanhantes é relevante,
visto que este, gera mal-estar, falta de paciência, brigar e mau-humor. Observa-se que o limiar para tolerância diminui,
facilitando o desentendimento com algumas enfermeiras. Acredito que quando se tem um óbito dentro do hospital a
tensão triplica, o humor de algumas mães contagiam o resto, tanto positivamente quando negativamente. Quando uma
criança chora muito e as outras mães dos leitos ao lado percebem que a mãe já fez de tudo para a criança parar de
chorar, tanto a mãe da criança quanto às outras se sentem angustiadas. Os acompanhantes têm medo da patologia e da
internação, ficam ansiosas para ouvir do médico qual a será a data que o paciente receberá alta.A perda de paciência
com o serviço médico é esperada. As mães que nunca presenciaram alguma internação de seus filhos ficam mais
angustiadas.

Acredito que trabalhar neste hospital não seja fácil, as carências são grandes e preocupantes, é preciso ter muita
paciência e um jeito muito especial de abordar essas mães e crianças que muitas vezes são extremante carentes. O nosso
trabalho é essencial, mas a rotatividade dos pacientes deixou-me triste, senti um vazio, fiquei pensando que poderia ter
feito algo mais... Mais o quê? É justamente isso que não consegui encontrar. A idéia do acompanhamento (atendimento,
mais especificamente) psicológico é rica para os pacientes, pois se sentem mais envolvidos e com uma voz ativa dentro
do hospital. Percebi que o trabalho do psicólogo é de extrema importância tanto para o hospital quanto para seus
pacientes e acompanhantes, pois nós damos um suporte que nesse momento está difícil de se encontrar e também
tentamos minimizar o sofrimento daqueles que se encontram fragilizados e debilitados.

_____________________
Recebido em 01/08/2005.
Aprovado em 28/08/2005.

1
Estudante do 5º. período de Psicologia na UFU (Universidade Federal de Uberlândia).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 22
OBSERVAÇÃO DE UM HOSPITAL PEDIÁTRICO
Marina Borges e Silva 1
marinabs_psico@hotmail.com

A partir de uma visita a um hospital pediátrico na cidade de Belo Horizonte, pôde-se realizar uma observação em que
pontos fundamentais que interferem na adaptação, no equilíbrio e no bem-estar da criança e do acompanhante foram
percebidos. É fundamental compreender a importância do papel dos acompanhantes dos pacientes frente à patologia e
internação.

Notou-se que alguns fatores eram grandes causadores de estresse e angústia dentro do hospital. A questão da alta
hospitalar gera sempre ansiedade e impaciência, sendo que, na maioria dos casos, o paciente e o acompanhante desejam
voltar logo para casa. Neste caso, o fato de esperarem a alta para determinado dia e não a receberem gera certa revolta
no acompanhante. Sabe-se, entretanto, que se tratando de um hospital que atende pacientes do SUS, é possível que
alguns tenham melhores condições no hospital onde se alimentam e tomam banho que fora dele, tomando assim atitudes
que permitam a permanência no hospital por mais algum período.

Observou-se também que não há, no hospital, uma estrutura física para o acompanhante. Falta o mínimo de conforto e
isso causa um cansaço muito grande. O acompanhante (geralmente a mãe) dorme sentado em uma cadeira de plástico ao
lado do leito, o que desencadeia dores físicas e noites mal dormidas. Isso desencadeia um mal-estar e um nervosismo
que geralmente a mãe transmite ao filho internado.

Percebeu-se que há uma grande interação entre as mães, sendo que há uma ajuda mútua no cuidado com os filhos.
Enquanto uma sai da enfermaria para dar uma volta ou resolver algum problema, a outra fica responsável pelo paciente.
Elas também são solidárias com as mães que não possuem fraldas plásticas e pomadas. Percebeu-se também que há um
barulho intenso nas enfermarias. Trata-se do choro das crianças, da televisão, da conversa entre as mães e das crianças
brincando. No terceiro andar (o hospital em questão está com três andares em funcionamento), o ambiente é mais
calmo, as crianças são um pouco maiores e brincam sozinhas, além de, nesse dia, estar mais vazio. Outro momento
complicado é o da limpeza em que as mães têm que sair da divisória onde estão, causando um certo transtorno, uma vez
que as crianças estão quase sempre tomando soro.

Um aspecto interessante a ser mencionado é que as crianças demonstravam medo das enfermeiras, do pessoal do
laboratório, dos médicos, enfim de todos aqueles que usavam branco. O medo era das agulhas e da dor que essas
causavam. As mães também demonstraram que esse momento de “furar os filhos” era um dos mais difíceis dentro do
hospital. Assim, o uso do jaleco branco, de alguma maneira transmitia certa desconfiança e medo às crianças.

A presença de pais no hospital é bastante restrita sendo que no primeiro andar não havia nenhum pai, no segundo dois
pais e no terceiro três. Esse fato pode ser justificável pela necessidade de alguém da casa não deixar de trabalhar. Os
pais também não podem dormir no hospital, só podem permanecer no local até as dez da noite para que não cause
maiores problemas ao hospital.

É importante ressaltar a boa receptividade da equipe do hospital. Os estagiários de psicologia foram muito bem
recebidos, demonstrando a credibilidade do serviço. As mães também demonstraram interesse e curiosidade nas pessoas
que ali estavam e se aproximavam e questionavam sobre a função destas.

Esses pontos verificados durante a observação puderam ser comprovados e enriquecidos com o desabafo de uma mãe
que se aproxi mou. Através de seu relato pôde-se perceber mais claramente as dificuldades e as tensões vividas no
hospital. A mãe disse estar com o filho internado há quase um mês, o que raramente ocorre nesse hospital onde a
rotatividade é muito alta. Disse ter tido febre, ter passado mal e não ter recebido nenhum tipo de atendimento ou
tratamento da enfermagem. A mãe demonstrou estar bastante agitada e notou-se a ansiedade pela alta em seu discurso.

1
Aluna do 5º. período de Psicologia da UFU – Universidade Federal de Uberlândia

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 23
“Se aquele careca não me der alta, eu vou fazer o maior escândalo, vou xingar todo mundo.Eu sei que as enfermeiras
não têm culpa, mas se me estressar eu desço do salto.” (sic). Também ficou evidente a falta de conforto físico. “Já faz
uma semana que eu não durmo nada, isso aqui é horrível, não dá pra dormir naquela cadeirinha.” (sic). A mãe também
disse estar se alimentando mal, ou seja reclamou muito e demonstrou bastante revolta. Transmitiu ter muito carinho
com o filho e em oposição a isso transmitiu também uma postura conformista em relação ao mesmo. “Ah, Deus é quem
sabe, se for a hora de levar o M., eu acho ruim porque ele é nosso único filho e ele é tão bonitinho.” (sic). Essa postura
pode ser encarada como um mecanismo de defesa por parte da mãe.

A maior gratificação durante a observação foi o momento em que a mesma mãe que havia se aproximado para
conversar, disse que o desabafo havia sido ótimo, uma vez que ela estava muito nervosa e precisando falar. Assim, já na
observação pôde-se compreender a importância do psicólogo no contexto hospitalar.

_____________________
Recebido em 31/07/2005.
Aprovado em 27/08/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 24
TOCARAM MEU CORAÇÃO
Larissa Figueiredo Gomes 1
larissafigueiredo@hotmail.com

Resumo

A partir da necessidade de ressaltar a presença de fatores psicológicos agindo como agentes etiológicos de
complicações cardiopáticas e da verificação que as doenças cardíacas ocupam um lugar primordial nas grandes
enfermidades humanas, pretendo avaliar neste estudo de caso, a importância do apoio psicológico a pacientes cardíacos,
salientando a relevância da atuação da clínica da psicologia em equipes interdisciplinares dos hospitais.

Palavras-chave: psicologia hospitalar; interdisciplinaridade; cardiologia .

Sabe-se que as Cardiopatias são multicausais (FERNADES, 2002). Indubitavelmente não há como negar suas causas
genéticas, que são bastante relevantes, mas pode-se ressaltar que, no momento do surgimento da doença, algo da
história do Sujeito pode ter alcançado forma de expressão através do corpo, mais precisamente, no coração.

A hospitalização normalmente ocorre para que haja um tratamento eficaz das cardiopatias. Esta internação, por si só,
induz um efeito de estresse e de desorganização do controle emocional do paciente (FERNANDES, 2002), surgindo
como uma paralisação de projetos de vida e como uma separação de seu meio social, familiar e de trabalho, causando
uma sensação de despersonalização: “O doente é uma frase da história do sofrimento humano que, como tal, se
dissociou do texto completo...” (EAKSTERMANN, 1996, p.26).

O principal discurso de uma Instituição Hospitalar é o que Clavreul (1983) denominou “A Ordem Médica”, que tem
como premissa articular o saber ao corpo, enquanto estrutura orgânica. Esta articulação é feita por uma objetividade
científica, que faz emergir o avanço da medicina, propiciando a restituição e o prolongamento da saúde do corpo.
Poré m, infelizmente, algo escapa a este saber médico, o que pode causar o apagamento da subjetividade daquele que é
alvo da terapêutica. Ao dar entrada em um hospital, geralmente, o paciente é visto como um conjunto de órgãos, em vez
de uma unidade viva e subjetiva.

O desafio da Psicologia Hospitalar é poder desenvolver estratégias que, sem escamotear a realidade de um hospital,
possam apresentar ao paciente a compreensão da significação, singular, que a sua doença possui. Procura-se fazer com
que aspectos de natureza trágica tenham um encaminhamento que possa reposicionar o sujeito frente à incapacidade
humana de dar conta de algumas vivências que lhes são extremamente dolorosas, como por exemplo, a morte, a
mutilação e seqüelas, que estão sempre presentes nas dependências das instituições hospitalares (PITTA, 1991).

Confiando em um encontro pacífico da equipe médica com os psicólogos hospitalares e sabendo da antinomia radical
das posições de cada um, o presente trabalho visa mostrar os resultados obtidos por uma equipe interdisciplinar de um
Hospital Geral de Belo Horizonte. Esta interdisciplinaridade só foi possível por meio do reconhecimento das diferenças
e, conseqüentemente, do respeito e da consideração pelo trabalho de todos.

Como membro da Equipe da Cirurgia Cardiovascular do Hospital Felício Rocho, deparei-me recentemente com uma
paciente coronariopata. Assim como tantos outros pacientes internados na instituição, ela não me pediu nada, nem
mesmo sabia da existência de uma equipe de psicologia hospitalar. Este encontro só foi possível porque a equipe de
médicos e enfermeiros implicou com um “certo quadro depressivo desta paciente”, que aguardava decisões sobre o seu
tratamento clínico e optou por um trabalho interdisciplinar, solicitando a clínica da psicologia hospitalar.

Talvez devêssemos comparar a mulher em suas manifestações a uma árvore cujos frutos não podem ser

1
Aluna do 9º período da graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 25
colhidos, separados, embalados e expedidos, como se fossem produzidos para diversos fins. Devem ser
vistos como uma manifestação global da árvore em seu processo de maturação, beleza global de sombra –
em sua simples forma de estar-aí, de agir (...) (SALOMÉ apud HAUDENSCHILD, 2003, P. 655).

Fui eu, portanto, que iniciei a conversa no nosso primeiro encontro, confiando que esta pudesse resultar na preparação
de um trabalho, onde “a doença terá sido para o sujeito a ocasião, o argumento, uma espécie de despertar, se o desejo do
Outro desperta” (WARTEL, 1990, p.12). Confiei também nos efeitos da “palavrinha mágica” psicóloga, utilizada na
minha apresentação a esta paciente, que comumente se remete à pessoa com capacidade inata para lidar com outras
pessoas, levando em conta suas características psicológicas. Ainda contei com o contexto hospitalar, onde o paciente se
encontra frente a uma ruptura afetiva e a feridas narcísicas, que o colocam em situação de vulnerabilidade, percebendo
que a realidade não oferece inteira satisfação de sua necessidade de amor, voltando-se inevitavelmente, com uma certa
esperança libidinal, para todo personagem que entra em sua vida.

Vamos ao caso clínico então. Trata-se de N., sexo feminino, 63 anos, casada, do lar, que se encontra deitada em seu
leito, de camisola, apática, frente a frente com uma psicóloga. Começa a narrar tudo que, pelo senso comum, parece se
endereçar a um psicólogo: tristezas, fatalidades, angústias e ainda suas supostas “falhas”.

Fala pouco sobre sua enfermidade, sobre os hematomas em seu corpo ocasionados pela medicação intravenosa. Queixa -
se apenas de uma insistente prisão de ventre, já medicada, há dois dias, sem sucesso.

Em sua narrativa conta que é mãe de onze filhos vivos (um morreu com um ano de vida, vítima de sarampo), seis
homens e cinco mulheres. Possui vinte e um netos e dois bisnetos. Há sete anos, seu marido viajou para São Paulo a
trabalho, alegando voltar para buscá-la. Como isto não ocorreu, já foi atrás dele três vezes sem êxito. Quatro de seus
filhos foram também atrás do pai e permaneceram na capital paulista. Seus outros filhos já se casaram e moram com
suas famí lias. N. reside com seu filho caçula, de 19 anos. Declara que pretende recuperar-se para ir viver com o marido
em São Paulo e utiliza um ganho secundário da doença: “se ele me ver assim, doente, é capaz de me aceitar na casa
dele”.

Groddeck (1970) já dizia mesmo, que adoecemos por alguém, para alguém e com alguém! E a senhora N ainda retifica
com certo pesar, referindo-se ao marido: “mesmo sabendo que eu sou diabética, ele foi embora, nem voltou para me
ver. Mas agora é mais sério, né?”.

Neste primeiro encontro, minha intervenção foi simplesmente uma escuta atenta.

Dois dias depois, reencontro a senhora N. bastante abatida. Assim que me vê, queixa -se de enjôos e vômitos
recorrentes. Começa a chorar, dizendo não suportar a ausência do filho caçula. Logo que ela foi internada, este foi
morar com o pai. Conta-me que pediu para uma de suas filhas arrumar uma foto dele para ela colocar ao lado do seu
leito. N. permanece chorando, segurando minhas mãos firmemente, sem dizer mais nada, por bastante tempo. Assim
que se acalma, deixo seu leito. Retorno duas horas mais tarde. Seu enjôo e episódios de vômitos haviam cessado.

Nosso terceiro encontro é também iniciado por uma crise de choro, desta vez bem mais breve. N. repete toda narrativa
sobre seu filho caçula. Queixa -se da longa permanência no hospital. Procuro escutar suas angústias e oriento-a sobre
rotinas hospitalares. O fato de ficar deitada todo o dia, sem companhia, aguardando resultados de exames que nortearão
seu tratamento a deixa bastante ansiosa. Pela primeira vez, surge a questão de sua feminilidade, que foi deixada de lado
assim que o marido a abandonou. Procuro implicá-la neste abandono e na elaboração de suas perdas.

No dia seguinte, encontro N. bem vestida, de brincos e batom, bem humorada. Ao reforçar este comportamento,
obtenho como resposta: “me sinto mais forte quando me sinto mais bonita”. Novamente escuto a história de seu filho
caçula, mas desta vez os netos também aparecem em seu discurso. A partir deste dia, não mais encontrei N. de
camisola.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 26
No quinto encontro, N. me comunica que a equipe médica decidiu intervir de forma cirúrgica. Revela uma ambigüidade
afetiva: ao mesmo tempo em que se sente aliviada pela decisão de seu tratamento, angustia-se frente ao agendamento da
cirurgia para o dia seguinte. Queixa-se novamente de prisão de ventre. Penso nas palavras de Groddeck sobre esta
questão:

Com a prisão de ventre, o isso diz aos que querem ouvir: no meu interior existem coisas que não dou, e já
que o isso supõe que no interior, além dos restos de comida, se reúnem também todas as impressões
psíquicas que são absorvidas através dos olhos, dos ouvidos, e de todos os sentidos, que a barriga é a sede
da alma, então esta retenção do conteúdo corporal pode estar relacionada com material psíquico
(...).(GRODDECK, 1970, p.213).

Intervenho, dizendo: “O que mais está preso, Dona N.?”. Surge uma nova crise de choro, desvelando uma narrativa
riquíssima sobre o dia em que N. passou mal pela primeira vez e foi encaminhada ao hospital. A paciente relata que
brigou com a namorada de seu filho caçula, pegando um tijolo para bater na menina. Porém, quando a ia agredir, seu
filho a segurou, impedindo-a. Neste momento, desmaiou, apenas escutando uma de suas filhas gritando para o caçula:
“Você vai matar a mamãe”. Após este episódio, acordou no hospital, com o diagnóstico de Insuficiência Coronariana.
Durante o relato N. faz comentários sobre o caçula: “Ele não me ajudava mais em casa, ficava o dia todo na casa da
namorada”, “Logo o meu filho caçula, que amamentei por quatro anos, fica contra mim? Tinha mais que passar mal
mesmo”, “Ainda bem que ele resolveu mudar pra São Paulo logo que adoeci, assim fica perto do meu marido e longe
dessa mulherzinha ordinária”.

Reforçou que assim que receber alta hospitalar irá para São Paulo, mas ainda questiona se o marido irá aceitá-la.
Demonstra uma enorme dor psíquica pela perda real do marido, revelando que esta dor não é proveniente da perda do
ser amado, mas sim por continuar amando-o mais do que nunca, mesmo sabendo-o irremediavelmente perdido. Sente
ainda uma forte angústia pela ameaça de perda eventual do filho. Relata um grande medo, o que gera uma enorme
vontade de desistir da cirurgia: o sentimento de culpa em relação a todas as perdas que havia sofrido em sua vida
prejudicava sua expectativa de melhora e sua disposição em seguir o tratamento. No mesmo dia, à noite, Senhora N.
livrou-se da prisão de ventre.

Este desabafo de N., às vésperas da cirurgia, acabou me remetendo a Freud que recorreu “à medida heróica de fixar um
limite de tempo para a análise” (FREUD, 1969c, p.248). Não há dúvidas que N. não se encontrava em processo de
análise na instituição hospitalar, mas esta delimitação temporal, marcada pela realização de uma cirurgia bastante
delicada, fe z com que suas resistências se definhassem, tornando-a capaz de reproduzir algumas de suas lembranças e
descobrir as conexões que pareciam necessárias para diminuir suas angústias naquele momento específico.

Senhora N. foi submetida à cirurgia de revascularização do miocárdio, porém, ainda não obteve o resultado esperado.
Encontra-se na Unidade de Tratamento Intensivo, em estado grave, sedada, com pneumonia e insuficiência renal.
Recebe diariamente visita de suas filhas, porém, nem o marido, nem o filho, vieram vê-la no hospital. A equipe da
psicologia hospitalar continua atendendo a Senhora N. e apoiando a família, escutando suas angústias.

Esta paciente parece ter vindo buscar a cura para o seu coração, órgão adoecido. A palavra “cura”, com seu encanto
particular, impôs-se ao médico e exigiu que este exercesse sua teoria. A demanda implícita de N., que descrevia sua dor
como única, era que alguém pudesse “curá-la”. Mantinha-se numa atitude passiva e de expectativa de uma melhora,
fazendo um grande investimento sobre a figura de seu médico, esperando que este reparasse os efeitos negativos de suas
rupturas afetivas e de suas feridas narcísicas, ao curar seu coração.

Suplicando ao médico um ato de milagre, que a “curasse”, N. denunciou uma fenda no saber médico, que pretende curar
com intervenções cirúrgicas e medicamentosas , apenas o órgão, deixando para a psicologia a dor da alma, que também
requer cuidados. É justamente esta fenda que aponta para a necessidade de uma intervenção interdisciplinar. Cabe
lembrar que, ao defender a introdução da subjetividade no campo da prática médica, a equipe da psicologia não deixa de
reconhecer, e admirar, as conquistas das ciências biológicas e positivistas e os efeitos objetivos de seus produtos, sem os
quais não seria possível a nossa práxis. Não esquecemos jamais que o “psíquico se baseia no orgânico” (FREUD,
1969a, p.202).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 27
A Equipe Hospitalar, composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, assistentes
sociais e psicólogos, buscou como terapêutica a restituição do sujeito como um todo. Neste caso, a doença ainda
apresentou-se como forma de lidar com o sofrimento, com as perdas e fracassos. A Senhora N. padece da falta de amor:
implora por um acolhimento, um olhar, pois a sua dor bateu fundo, atravessou o corpo e instalou-se no seu inconsciente.
À psicologia, especificamente, coube a tentativa de produzir efeitos curativos, tentando incentivá-la a buscar uma
melhora nas suas posições subjetivas, a comprometê-la com a sua lucidez, prevendo implicação e mudança de posição,
já “que não somos senhores nem em nossa própria casa” (FREUD, 1969b, p.336), visando uma redução do seu
sofrimento psíquico. Tentamos revitalizar sua linguagem, encorajando-a a assumir suas questões existenciais, pois
“onde tem doença, tem história e pulsa desejo” (LEMOS, 2005, p.3).

Atuando como psicóloga em um Hospital Geral, percebo o resultado do meu trabalho em muitos casos e analiso as
minhas limitações em outros. Situada na posição de psicóloga, sem abandonar o discurso que é próprio da minha área
de atuação, posso atuar interdisciplinarmente, intervindo juntamente com a equipe nas limitações existentes em uma
instituição hospitalar, obtendo um alcance e uma eficácia muito maiores do que comumente pode-se imaginar.

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_____________________
Recebido em 04/08/2005.
Aprovado em 27/08/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 28
VIVÊNCIAS DO CORAÇÃO:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
Viviane Luzia Prestes Anchieta
vivianeanchieta@yahoo.com.br

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo elucidar um caso de atendimento clínico realizado no Pavilhão Cristo Redentor na
internação de cardiologia na Policlínica Santa Clara da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Trata-
se de uma paciente de 37 anos com diagnóstico de arteriosclerose coronariana, grávida de quatro meses de seu terceiro
filho. Neste caso, entendeu-se a dor como de ordem física e psíquica, sendo esta última, agravada por sua situação
peculiar. O caso foi atendido durante sua hospitalização, em forma de psicoterapia breve.
Palavras-chave: cardiologia; hospitalização; psicoterapia breve.

ABSTRACT

This paper aims to elucidate a clinical case accomplished at Cristo Redentor Pavilion in the Cardiologic ward at Santa
Clara Polyclinic at ISCM in Porto Alegre. It refers to a thirty-seven-year-old patient with coronary arteriosclerosis who
was four months’ pregnant of her third child. In this case, the pain was understood as of physical and psychic order and
the last one was aggravated because of a peculiar situation. This case was attended during the hospitalization using brief
dynamic psychotherapy.
Key-words: cardiologic; hospitalization; dynamic psychotherapy.

INTRODUÇÃO

O atendimento do psicólogo ao paciente internado não faz parte do enquadre clínico clássico de sua atividade. No
entanto, percebe-se o grande crescimento de sua atuação no âmbito hospitalar.

Na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, este profissional está inserido na Equipe Multidisciplinar
do Serviço de Cardiologia, acompanhando, junto ao leito, pacientes adultos que necessitem de apoio psicológico.

Campos (1995) veicula que a idéia dos psicólogos em prestar assistência aos pacientes internados faz-se numa forma
de atender as condições emocionais envolvidas no processo de adoecer, ajudando a lidar com as vivências afetivas,
ansiedades, angústias, esclarecendo e conscientizando o doente de sua doença, criando um movimento interno de auto-
escuta e compreensão que ajude na expressão e entendimento dos seus sentimentos.

Sendo assim, o Serviço de Psicologia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, através da
psicoterapia breve, oportuniza aos seus pacientes a compreensão de sua situação particular, vivenciada, muitas vezes,
com intenso sofrimento. O psicólogo, que ali trabalha, tentará minimizar suas ansiedades e fortificar os recursos
egóicos disponíveis para o enfrentamento desse momento de crise.

Compreendendo a Arteriosclerose Coronariana

Liza é uma mulher de 37 anos, casada, mãe de um casal de filhos, um menino de 7 anos e uma menina de 5 anos.
Grávida de quatro meses do seu terceiro filho, foi encaminhada para atendimento psicológico por apresentar “tristeza,
choro fácil e sensação de morte iminente”. Associado a estes sintomas, estava o diagnóstico de arteriosclerose
coronariana, agravado pela “falta de ar e dores no peito” .

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 29
O primeiro contato que tive com a paciente foi no final do mês de outubro de 2003. Após conversar com o residente
que a acompanhava, soube que sua gravidez era delicada, visto que além do diagnóstico de arteriosclerose
coronariana, a paciente sofria de hipertensão.

Deitada sobre os cobertores da cama, Liza destacava-se facilmente das demais pacientes, não apenas pelo seu biotipo
magro, mas também pela pequena barriga de gravidez que começava a aparecer. Ao apresentar-me, disse ser estagiária
de Psicologia e ela responde o seu nome. Pergunto se Liza sabe o que faço. Ela diz não saber “(...)pensava que vocês
só conversavam com loucos.”(sic). Esclareço para a paciente que conversamos com pessoas que estão chateadas,
tristes, enfim, com dificuldades, neste momento delicado de hospitalização. Liza referiu que tinha “um misto de tudo,
principalmente depois que falaram da tal da arteriosclerose.”(sic).

Ruschel (in Romano, 1994) refere que a arteriosclerose coronariana caracteriza-se pala ocorrência de uma diminuição
do fluxo sanguíneo no miocárdio (parede muscular do coração, constituída por fibras musculares que cruzam em
diferentes direções, destinadas a aumentar a resistência do órgão) devido a uma ou mais obstruções dos vasos
coronarianos.

Esta coronariopatia apresenta algumas características que contribuem para o aparecimento das alterações psicológicas
do paciente. Seu início é muitas vezes súbito e, não tendo possibilidade de cura, fará com que o paciente conviva com
a doença por toda a sua vida. O acometimento de grupos etários mais jovens é também um aspecto preocupante. É
uma doença complexa e grave, possui uma evolução lenta e imprevisível. Pode manter-se estável por um tempo
prolongado ou evoluir a curto prazo (OLIVEIRA; ISMAEL, 1994).

De acordo com Lamosa (1990), o coração está sujeito às influências internas e externas, aumentando, diminuindo ou
redistribuindo o fluxo conforme as circunstâncias, pela profunda sensibilidade do sistema cardiovascular. Quanto mais
duradoura e intensa for a ação dos estressantes, mais significativa será a repercussão sobre o sistema cardiovascular.

Naquele primeiro momento de atendimento, vi com a paciente aspectos mais relacionados à sua doença, à sua
hospitalização, se ela realmente sabia o que estava acontecendo com o seu corpo e o que fariam com o seu corpo. A
paciente disse saber do seu diagnóstico “que é um nome estranho(...) mas que nunca tinha ouvido falar antes(...) não
sei muito bem o que está acontecendo comigo(...) de repente choro sem motivo, tenho vontade de morrer,
principalmente depois que vim para cá.”(sic).

Liza estava muito angustiada com a situação na qual se encontrava, “não entendo porque isto está acontecendo
comigo logo agora, queria que fosse como a gravidez dos outros(...) estou ansiosa, não quero que nada de mal
aconteça com a criança, quero que nasça sadia e forte(...) será que a internação vai fazer mal para ela?”(sic)

Indo ao encontro da fala de Liza, McDougall (1983) ressalta que o próprio corpo [do paciente] torna-se um campo de
batalha, como se a luta aí travada exigisse esse preço para se fazer ouvir, embora o sentido do que está em jogo não
seja claro.

Para Carvalho (2001), o esquema corporal no ser humano evolui e reestrutura-se constantemente, mas também
permanece em parte como uma espécie de organização primitiva e indiferenciada, resquícios das primeiras vivências
somatopsíquicas. Espera-se que o corpo, fonte de prazer e dores, depositário de fantasias onipotentes , funcione bem.
Quando isso não é possível, diante da eclosão de uma doença, vê-se o equilíbrio físico ameaçado, bem como a
representação que a pessoa tem de si mesma.

Quanto à escolha propriamente dita do órgão, do coração como o local da patogenia, pode-se dizer que é resultante da
ação do psíquico sobre o corpo, exp ressando sempre algo de muito pessoal, que está ligado à história de vida do
indivíduo e certamente marcada por dinâmicas inconscientes (LAMOSA, 1990).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 30
A Psicoterapia Breve de Apoio no Hospital

No ambiente hospitalar, devemos oportunizar um atendimento psicológico que ofereça a possibilidade do confronto do
paciente com sua angústia e com o seu sofrimento. Para Ruschel (in Romano, 1994) o apoio psicoterápico é aplicado
quando, em crise, os recursos egóicos do paciente encontram-se fragilizados e este não consegue reagir em seu favor,
ficando entregue à negação, à depressão, à regressão e tomado por fortes angústias.

Pensando no caso de Liza, podemos fazer uma analogia da gravidez com sua doença cardíaca. Se revirmos o
simbolismo atribuído ao coração, como “fonte de vida e sede de emoções” e à gravidez como o “começo de uma nova
vida”, fica claro a “vontade de morrer”(sic) da paciente. Se ela “não sabe muito bem o que está acontecendo”(sic)
com sua fonte de vida, como ela geraria uma nova vida?

Para Knobel (1986), as contribuições de Freud e de toda escola psicanalítica foram essenciais para o desenvolvimento
de técnicas psicoterapêuticas, possibilitando chegar à psicoterapia breve de orientação psicanalítica. Neste modelo, o
terapeuta tem uma participação ativa num determinado tempo. Sendo assim, a psicoterapia breve ajuda a pessoa a
encarar os diversos conflitos que a pressionam de forma angustiante, procurando esclarecer os focos, ou melhor, os
conflitos predominantes e acessíveis.

Percebi que o foco central, o ponto de urgência a ser trabalhado era a gravidez da paciente, pois “no momento o estado
do seu bebê era o que mais importava”(sic), e por ser também o estressor que estava relacionado diretamente à sua
hospitalização. Não deveria, porém, esquecer de quem carregava este bebê, do ser humano que geraria outro ser
humano. Liza precisava sentir-se ouvida, respeitada e compreendida. O psicólogo, a partir dessa escuta, será capaz de
pensar e agir, discriminando qual o momento para apenas ouvir, ou pontuar algo, ou assumir uma atitude de orientação
ou mesmo de informação (ABDUCH, in LAMOSA, 1990).

De acordo com Leitão (1993) a situação ou o contexto é que constituem o foco de atenção terapêutica. Complementa
esta idéia ao afirmar ser praticamente impossível uma pessoa ter um conflito único, pela policausalidade como
princípio norteador da psicodinâmica. Seriam os conflitos evolutivos e os estruturantes, através da constelação
conflitiva, que caracterizam a individualidade tanto no estado de saúde ou no sofrimento.

Para este mesmo autor, hospitalizar-se significa recolher-se em um ambiente frio, impessoal e ameaçador. Implica
sempre em uma interrupção do ritmo comum de vida, seja por curto ou longo prazo. A paciente referiu que “gostaria
de estar em casa cuidando dos filhos, do marido e curtir a gravidez, mas infelizmente tinha que estar no hospital,
esperando pelo resultado de exames e pela cirurgia(...) tinha também dividir o quarto com outras pessoas que não
conhecia(...) não gostava de usar aquela roupa de hospital e nem de comer aquela comida(...) todo o dia era a mesma
coisa”(sic). Ao se internar, o paciente perde sua harmonia devendo recuperá-la a qualquer preço. Essa tentativa é
fundamental para suportar a situação ansiogênica da internação. O sujeito encontra-se despido de suas roupas, seus
pertences, seu ambiente, trabalho, família; despido dos sinais que o identificam enquanto sujeito de sua própria
história.

Neste sentido, procurava apoiar a paciente, aliviando suas tensões, seus medos e suas angústias, principalmente no que
se referia ao seu futuro procedimento cirúrgico. Muitas vezes, utilizava a informação, o esclarecimento ou uma
sugestão como intervenções psicoterápicas.

Notei que fazer psicoterapia no ambiente hospitalar exige um prévio conhecimento da realidade dessa instituição. Era
preciso entrar em contato direto com um novo contexto de trabalho, onde teria que atuar em equipe e em interação
com ela. Alé m disso, existia uma série de interferências, variáveis marcantes que faziam parte do âmbito hospitalar. A
primeira era o espaço físico. Muitas vezes, o atendimento de Liza era interrompido, ou por enfermeiros querendo
medicar a paciente ou pelas demais pacientes opinando sobre determinado assunto. Com relação a este aspecto, Leitão
(1993) refere que na internação, onde há outros pacientes e o doente raramente pode sair do leito, o atendimento será
de qualquer forma, participado pelo vizinho do leito ao lado, quebrando o sigilo do processo terapêutico. O psicólogo,
deve então, ter tato e criatividade para adaptar-se ao momento e controlar as interferências, criando um invólucro

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 31
relacional para proteger e preservar o conteúdo mobilizado no atendimento, seja ele de quinze minutos ou uma hora.

Com Relação à Internação

Estava chegando o momento da cirurgia de Liza. A cirurgia cardíaca, segundo Mello Filho (1992), é um grande evento
na vida das pessoas. Primeiro, porque, sendo de fato um procedimento complexo e não fisiológico, tanto pode
preservar a vida e melhorá-la quanto extingüí-la. Do ponto de vista individual, pouco importa que a grande maioria
dos pacientes se saia bem, para quem opera o coração é sempre tudo ou nada. Em segundo lugar, essa cirurgia
simbolicamente vai mexer com o “centro da vida”, o “templo dos sentimentos”.

Após dois encontros conversando sobre suas expectativas, angústias e dúvidas sobre este procedimento, a paciente
“não queria fazer isto, estava com medo, principalmente com a saúde do filho.”(sic).

Ruschel (in Romano, 1994) lembra a extrema dificuldade dos pacientes cardíacos em aceitar a indicação cirúrgica. A
aceitação de uma cirurgia cardíaca implica em entregar-se por algumas horas a uma equipe cirúrgica que trabalhará em
seu coração. O paciente vivencia este processo como uma urgência à qual ele responde reunindo todos os seus
esforços para controlar o sentimento de ataque iminente.

Segundo Oliveira e Luz (in Mello Filho, 1992), a maioria dos pacientes apresenta alto nível de ansiedade e expectativa
com relação à cirurgia, dando origem a fantasias e medos ligados a morte, violação interior, superstições e
inseguranças que são elementos geradores de alterações emocionais. No caso de Liza, as fantasias, os medos e a
violação interior estavam relacionados não só ao seu corpo, à sua vida, mas ao corpo e à vida de seu bebê.

É notório o desgaste emocional e o trauma do paciente, pois a doença além de envolver ameaça de morte, envolve
também ameaça de limitação física. Neste sentido, representa uma perda, passando pelo luto de não ter uma saúde
completa, significando também um abalo a sua onipotência, uma das características marcantes da personalidade do
paciente coronariano (CARVALHO, 2001).

O adulto interno, na medida em que ele próprio é o responsável pela sua permanência ou não no tratamento, favorece
uma condição mais real de estar interno. No entanto, esse é o paciente mais comprometido com sua vida profissional,
social e familiar. Esses estados de tensão, provocados pela interrupção de suas atividades, mobilizam a sua dinâmica
pessoal, que se torna massificada pelas circunstâncias. Então regride por defesa, passando a interagir com medo, dor e
solidão, além de manifestar outra série de comportamentos que comprometem a internação. Pode- se tornar sensível
demais, exigente, deprimido, angustiado (LEITÃO, 1993). Reparei que à medida que o procedimento cirúrgico se
aproximava, a paciente tornava-se mais sensível, não querendo receber a visita do marido e dos dois filhos, além de
estar “sem fome e sem vontade de tomar banho.”(sic). Neste sentido, estimulava Liza, salientando a importância da
boa alimentação e da higiene pessoal. Ao mesmo tempo, a acolhia, escutando e apoiando o seu sofrimento, tanto físico
(as dores em si) quanto psíquico (“será que a operação fará mal ao bebê?”).

Conforme Romano (1994) o estar doente pode dificultar a comunicação, podendo ser associado ao período de
adaptação da internação. O pedido de ajuda é manifesto pelas dores, pelas palavras, pela aparência, choro, sinais vitais,
sintomas diversos. Sendo assim, ao doente, deve ser dada a oportunidade de expressar-se livremente, individualmente.

No quarto dia de atendimento, ao visitar a paciente, recebo a notícia de que ela foi operada na tarde anterior. Localizo-
a no último leito de um dos quartos da internação. Diferentemente do primeiro encontro, Liza estava debaixo das
cobertas, com um curativo no peito e com oxigênio. Vou até sua cama, ela me olha e murmura: “estou toda
retalhada”(sic).

Romano (1994) refere que a partir da operação, o paciente conviverá com sinais físicos da cirurgia. A cicatriz no peito
é o mais evidente. Isto o distinguirá entre os demais seres humanos: enquanto para uns é um estigma de

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 32
vulnerabilidade, para outros é um ato de coragem. De qualquer modo, representa uma marca indelével de um momento
decisivo que se torna público.

Continuo o diálogo com a paciente. Liza diz:“Isto aqui está me incomodando (referindo-se ao oxigênio) e este corte
também(...) é estranho(...) tudo é estranho(...) mexeram no meu coração, mas agora ele está bom e o bebê também,
né?” Respondo: “E tu como está se sentindo?” “Ahh... bem melhor, a ansiedade passou”.

A tarefa do psicólogo nesse momento é, antes de tudo, ser continente, criando condições para o estabelecimento
saudável de um vínculo. Busca-se a reabilitação a uma vida normal, onde o seu próprio grau de autonomia será
elaborado (LAMOSA, 1990). Quis situar a paciente no momento presente, focalizando a sua saúde, o seu estado físico
pós-operatório, desviando um pouco do foco da gravidez, mas sem deixá -la de lado. No momento, o que importava
eram as necessidades de Liza.

Para Romano (1994) o que se torna emergente e urgente são suas necessidades que precis am ser atendidas -
necessidades biológicas e orgânicas. Essas necessidades , se atendidas quando possível e reconhecidas quando
impossíveis de serem atendidas, permitem a localização da angústia e o alívio, possibilitando, assim, que outras
necessidades e desejos possam aflorar. Porém, existe no doente o desejo consciente e inconsciente de obter-se ajuda do
psicólogo para ter compreendidas as suas dificuldades internas de estar doente. Como na clínica, é estabelecida a
aliança terapêutica, onde o paciente deixará emergir seus conflitos, anseios e temores.

Gostaria de encerrar este relato com uma fala de Liza, proferida no último encontro que tivemos.

“Te lembra do primeiro dia que tu veio aqui? Eu disse que pensava que psicólogo era para louco, né? Pensando
bem(...) agora eu vejo o quanto que tu me ajudo(...) me ajudou a sair bem desse sofrimento, me ajudou a pensar
positivo, a pensar que ia melhorar(...) aprendi contigo que poderia vencer esta batalha. Se eu tiver uma filha , vou
colocar o teu nome nela, vai ser uma homenagem ao que tu fez por mim.”

Sem dúvidas, o grande aprendizado foi meu...

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste relato, procurou-se ilustrar a importância de um atendimento psicoterápico junto ao leito de um hospital.

Considerou-se importante que o atendimento fosse centrado primeiramente em sua situação peculiar (a gravidez) para
diminuir a dor e aliviar o sofrimento psíquico decorrentes de sua doença cardíaca. Pensou-se na delimitação deste foco
para compreender os fatores estressantes ligados à situação vivenciada pela paciente durante sua internação.

A prática hospitalar, segundo Fiorini (1981), impõe um remanejo teórico e prático, uma vez que são urgentes os
problemas trazidos pelos pacientes. A terapêutica breve baseia-se na compreensão psicodinâmica dos determinantes
atuais da situação de enfermidade ou crise, em que o terapeuta fica voltado essencialmente para apreender a estrutura
da situação em que se atualizam os determinantes patogênicos.

Naquele momento, a gravidez associada ao diagnóstico de arteriosclerose coronariana significava para Liza muita
angústia. Logo, tornou-se imprescindível o auxílio à paciente, confrontando e compreendendo a representação daquele
momento, entendendo seu sofrimento e buscando fortificar o recursos egóicos para enfrentar tal crise.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 33
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____________________
Recebido em 25/05/2005.
Aprovado em 14/07/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 34
ASPECTOS COMPORTAMENTAIS DA FAMÍLIA E DO RECÉM-NASCIDO
DE ALTO RISCO
Fernanda Tosetti Geara 1
ftosetti@hotmail.com

“Um bebê não é um ser sozinho,


ele não existe sozinho.
Ele é parte de uma relação”.
(D. W. Winnicott)

1 - Introdução

Uma grande mudança da vida ocorre quando surge para o casal o desejo de se tornar pais. Tal desejo é acompanhado
pelo que a escritora Judith Viorst chama de “perdas necessárias”: perda do relacionamento exclusivo com o
companheiro, perda das muitas atividades das quais o casal participava junto, perda do contato diário com colegas,
alterações nos planos educacionais e perspectivas de trabalho, diminuição da renda. Tais alterações e as novas
responsabilidades para o pai e para a mãe, além das múltiplas alterações hormonais na mãe, podem fazer com que as
emoções sofram oscilações e afetem a vida do casal (Klaus e cols. 2000).

Ainda segundo Viorst, podem ocorrer outras perdas em função do nascimento, incluindo a perda da liberdade de escolha
ou independência, e surgir sentimentos relacionados a expectativas não-alcançadas. Podem surgir raiva e insatisfação
em relação à própria experiência do nascimento que nunca é expressa, mas que surge mais tarde, pelos cuidados com o
bebê ou pelo relacionamento com o cônjuge.

A forma como esta gravidez e o bebê serão vistos, dependerá de um suposto e real desejo desta mudança na vida da
mãe, do casal e da própria família. Mesmo no ventre, o bebê já é um ser humano, distinto de qualquer outro, e no
momento em que nasce já teve uma grande soma de experiências tanto agradáveis quanto desagradáveis.

O que se pode afirmar, desta forma, é que a criança que nasce já tem uma história. Essa história começa muito antes, em
seu desenvolvimento no útero, onde o bebê não se encontra totalmente salvo das influências externas, nem ao menos
insensível ao estado físico e, particularmente, ao estado hormonal e também emocional da mãe. De acordo com Jeammet
(1989), ela é a herdeira imaginária da história do filho imaginário de seus pais. Cada ser humano carrega, desde a primeira
infância, fantasias quanto ao filho que deseja ter. Esse filho imaginado é um “resumo” dos diferentes desejos da criança
e modifica-se ao longo de sua história. Podem ser encontrados os traços de suas relações com os próprios pais e
resquícios do modo como estes esperaram a criança e a criaram, assim como os sentimentos despertados pelos irmãos,
particularmente os que nasceram depois.

2 - Influência materna e o desenvolvimento social do bebê

Grande é a importância das idéias que as mães têm de seus filhos antes mesmo do nascimento, e quanto essas idéias
estão estreitamente ligadas à sua história, seja por querer repetí-la ou, o oposto, por querer transformá-la em um feixe de
significações totalmente diferentes. Assim, a forma como a mãe cuidará de seu filho é, numa certa medida, previsível
antes do nascimento deste (Jeammet, 1989).

Essa relação íntima, antes mesmo do nascimento, continua sem interrupção e desenvolve-se; torna-se essencial para os
alicerces da personalidade da criança, daquilo que chamamos o seu desenvolvimento emocional e a sua capacidade para

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Psicóloga Voluntária no Serviço de Follow-up de Recém-nascido de Alto Risco do Hospital Universitário/UFJF.

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suportar as frustrações e choques que, mais cedo ou mais tarde, poderão surgir em sua trajetória.
Entre as peculiaridades desta relação está a de que umas situações de não-relacionamento sociais, um vínculo puramente
biológico, são transformadas, passo a passo, no que acaba se tornando a primeira relação social do indivíduo. Este
acontecimento pode ser entendido como a transição do fisiológico para o psicológico e social. Para Moss (in Jeammet,
1989), na etapa biológica (in útero) as relações do feto são puramente parasíticas. Porém, no decorrer do primeiro ano de
vida, a criança passará por um estágio, em que são desenvolvidas inter-relações sociais entre ela e sua mãe.

Desta forma, torna-se fácil compreender que todas as relações humanas e interpessoais têm sua origem na relação mãe-
filho. É nesta relação que se estabelecerá o modelo para suas relações posteriores. Neste sentido, os afetos e trocas
afetivas passam a ter um significado central no modo como esta criança relacionar-se-á com as pessoas ao seu redor e
como construirá sua rede de relações posteriores.

Novamente ocorre a necessidade de voltar às origens e discutir o abrangente papel da mãe no aparecimento e
desenvolvimento da consciência do bebê e a sua participação vital nesse processo de aprendizagem. Neste contexto, é
inestimável a importância dos sentimentos da mãe em relação a ter um filho, o “seu” filho.

Para o recém-nascido, o meio ambiente consiste, por assim dizer, em um único indivíduo, a mãe ou o substituto dela.
Mesmo este único indivíduo não é percebido pelo recém-nascido como uma entidade distinta dele mesmo. É
simplesmente parte da totalidade de suas necessidades e de suas gratificações. O lactente não faz a menor distinção
entre dor física e um incômodo afetivo. Por lhe faltar a capacidade de representar simbolicamente suas vivências, o bebê
não pode pensar o próprio corpo e as sensações que dele provêm, nem reconhecer os próprios sentimentos dolorosos
como próprios. Spitz (1987) denominou este estado como “estado de não-diferenciação” entre o bebê e seu meio. É
óbvio que esta situação muda no decorrer do primeiro ano de vida. Entretanto, durante todo este período a criança que
se desenvolve normalmente forma com seu meio ambiente o que se pode chamar de “sistema fechado”, que consiste em
apenas dois componentes conhecidos: a mãe e o filho. Assim, o fator mais importante para tornar a criança capaz de
construir gradualmente uma imagem coerente de seu mundo ocorre em função da reciprocidade entre mãe e filho. É esta
parte das relações objetais que Spitz (1967) denominou “diálogo”.

O feedback recíproco dentro da relação mãe-e-filho está em interação contínua. Entretanto, esta relação é basicamente
assimétrica. A contribuição da mãe para a relação é completamente diferente da contribuição do bebê. Cada um deles é o
complemento do outro e, enquanto a mãe fornece o que o bebê precisa, o bebê por sua vez (embora isto geralmente seja
menos reconhecido e observável) fornece o que a mãe precisa. A existência do bebê, sua simples presença, age como um
estímulo para as respostas de sua mãe; assim como a menor ação de sua mãe – por mais insignificante que possa parecer
– mesmo quando não está relacionada com o bebê, age do mesmo modo como um estímulo. Nesta relação mãe-e-filho, a
mãe é a representante do ambiente.

Seguindo este raciocínio, pode-se falar em uma “adaptação” de ambos os lados: a mãe “adapta” ao que o bebê
compreender, que se adapta ativamente às necessidades. Essa adaptação ativa é justamente o essencial para o
desenvolvimento emocional da criança. A mãe ajusta-se às necessidades do bebê, principalmente, no início do
desenvolvimento de seu filho, no momento em que apenas as circunstâncias mais simples podem ser apreciadas e as
necessidades mais básicas podem ser atendidas.

É por meio dessa íntima relação mãe-e-filho que surge aquilo denominado como clima emocional favorável, sob todos
os aspectos, ao desenvolvimento da criança. São os sentimentos maternos em relação ao filho que criam esse clima
emocional. O amor e a afeição pelo filho o tornam um objeto de contínuo interesse para a mãe. Assim, a atitude emocional
da mãe, seus afetos, servirá para orientar os afetos do bebê e conferir qualidade de vida à experiência deste pequeno ser.

Evidentemente, há infinitas variações de comportamento de mãe para mãe. Tais variações ocorrem até mesmo numa
mesma mãe, em diferentes dias, horas, situações. A personalidade do bebê influi sobre este padrão em processo cíclico,
influenciando a diversidade de afetos da mãe por seu comportamento e por suas atitudes. Dependendo da personalidade
da mãe, o fato do filho ser precoce ou ter algum comprometimento físico ou metal, ser “fácil” ou “difícil”, “submisso” ou

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“rebelde”, fará diferença no modo como esta mãe reagirá ao seu bebê.

Na relação mãe-e-filho, a mãe é o parceiro ativo e dominante. A criança, pelo menos no início, é a receptora passiva. Isso
nos leva à afirmação de que distúrbios da personalidade materna se refletirão nas perturbações da criança. Spitz (1987)
afirma que podem ocorrer influências psicológicas prejudiciais na primeira infância decorrentes de relações
insatisfatórias entre mãe e filho. Tais relações insatisfatórias são patogênicas e podem ser dotadas de um caráter
deficitário qualitativo, como no caso de relações inadequadas, além de um caráter quantitativo em que ocorrem relações
insuficientes entre mãe e filho. Ainda de acordo o autor, a maior parte do primeiro ano de vida é dedicado ao esforço de
sobrevivência e à formação e elaboração dos instrumentos de adaptação que servem a esse objetivo.

Não somente após o nascimento ou durante as primeiras semanas de vida que a presença da mãe é um fator que merece
atenção para o bem-estar do bebê. Também durante os primeiros meses de vida e mesmo nos primeiros anos, a relação
mãe-e-filho é o fator psicológico mais sensível a uma intervenção terapêutica e a uma intervenção profilática, e por isso
merece estudo constante e atenção especial. Assim, pode-se facilmente compreender por que a privação de relações
objetais no primeiro ano de vida é um fator muito prejudicial para a criança, o que pode acarretar sérios distúrbios
emocionais. Do lado psicológico, um bebê privado de certas coisas correntes e necessárias, como um contato afetivo,
está exposto, até certo ponto, a uma perturbação no seu desenvolvimento emocional, que se revelará através de
dificuldades pessoais à medida que crescer.

O que torna essas experiências tão importantes para a criança é o fato de que, com foi dito anteriormente, elas são
interligadas, enriquecidas e caracterizadas pelo afeto materno; e a criança responde afetivamente a esse afeto. Isto é
essencial na infância, pois nesta idade os afetos são de maior importância do que em qualquer outro período posterior da
vida. No decorrer de seus primeiros meses, a percepção afetiva e os afetos predominam na experiência do bebê,
praticamente com exclusão de todos os outros modos de percepção. Entretanto, na medida em que, no decorrer do
primeiro ano de vida, as potencialidades da criança desenvolvem-se, ela torna-se independente do seu ambiente. Este
processo, obviamente, ocorre tanto no setor somático, como no setor psicológico da personalidade da criança.

3 - Evolução emocional e desenvolvimento da personalidade

Dentro de uma perspectiva contínua de desenvolvimento do ser humano, no que se refere ao fator psicológico do bebê,
o desenvolvimento emocional de um ser humano, se não houver entraves ou desvios no processo evolutivo, ocorrerá de
forma saudável. Além disso, a saúde do bebê compreende sua progressiva e contínua adaptação ao seu meio. O que é
significativo em termos de saúde é a experiência individual de desenvolvimento desde bebê a uma criança, a um
adolescente. O bebê vê seu mundo em pequenas doses, mas não menor do que diz respeito à intensidade de sentimentos
e riqueza de experiência.

Fala-se freqüentemente de crianças difíceis e tenta-se descrever e classificar suas dificuldades; também se fala de
normalidade, ou saúde, mas é muito mais difícil descrever uma criança normal. Torna-se tarefa fácil entender o que é
normal quando nos referimos ao corpo. Temos a capacidade de estabelecer o que se entende por uma pessoa com
“intelecto normal”. Mas ainda assim, a criança de corpo sadio, e “intelecto normal”, pode mesmo estar muito longe do
normal como personalidade, no seu todo, ou mesmo dentro de “padrões aceitáveis” de normalidade. A importância desta
questão refere-se ao fato da personalidade de uma criança desenvolver-se normalmente e se eu caráter fortalecer-se de
modo saudável.

Como dito anteriormente, a evolução emocional da criança tem início no começo de sua vida. Se quisermos julgar a
maneira como um ser humano trata com seus semelhantes e ver como constrói a sua personalidade, não nos podemos
deixar de considerar o que ocorre nos primeiros anos, meses, semanas e mesmos dias de sua vida. As frustrações
repetitivas e insistentes de sede e fome seguem-na; elas forçam o bebê a tornar-se ativo, a procurar e incorporar comida
(ao invés de receber passivamente comida do cordão umbilical), e a ativar e desenvolver a sua percepção. O próximo
passo principal é o desmame, que obriga à separação da mãe e a um crescente grau de autonomia; e assim continua. Em
contato com essas recorrentes frustrações a criança alcança um grau crescente de independência e torna-se cada vez

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mais ativa em suas relações com o mundo exterior, com as pessoas e os objetos. Portanto, merece especial atenção que a
privação ao bebê do afeto de desprazer durante o decorrer do primeiro ano de vida é tão prejudicial quanto privá-lo do
afeto do prazer. Prazer e desprazer têm um papel igualmente importante na formação do sistema psíquico e da
personalidade. Coibir qualquer um dos afetos é alterar o equilíbrio do desenvolvimento.

4 - Formação do vínculo e do apego

A relação entre os conceitos de formação de vínculo e de apego tem uma longa história. Esta teve início há meio século,
com o trabalho de René Spitz. Ele observou que os bebês que eram bem-alimentados, vestidos e mantidos aquecidos em
um orfanato, mas que não recebiam atenção emocional, não eram segurados no colo nem recebiam afeto, apresentavam a
síndrome chamada “hospitalismo”. Depois de um curto período de tempo, eles perdiam qualquer interesse nas interações
e, com freqüência, morriam (Klauss, 1992).

John Bowlby foi o primeiro observador a reconhecer que as experiências da infância, e não apenas as forças psíquicas
internas, afetam a forma como um indivíduo responde e desenvolve-se. Ele descreveu esse processo em termos de seu
Modelo de Apego. “A criança constrói um modelo representacional interno de si mesma”, dependendo de como ela foi
cuidada (in Spitz, 1987). Mais tarde, em sua vida, as crianças tornam-se capazes de repetir, segundo o contexto em que
ela está, esse modelo internalizado. Nos primeiros anos de vida, o fato de acreditarem em si próprias e esse sentido de
segurança em relação aos que cuidam dela permitem que as crianças iniciem um processo de separação de seus pais, no
sentido de se tornarem cada vez mais ativas e independentes em suas ações (Spitz, 1987).

4.1 - Nascimento prematuro e formação de vínculo

Brazelton (1987) afirmou que a criança que nasce parece ser a realização de um desejo consciente, integrado dentro de
um plano de vida em relação com as idéias sociais e familiares de cada sujeito. No caso de um bebê prematuro deve-se
considerar esta questão segundo um enfoque mais complexo. Em comparação com os momentos eufóricos que eles
esperavam, os pais de prematuros pela primeira vez percebem-se em um mundo agitado de enfermeiras e médicos
preocupados, sobrecarregados de trabalho, de outros pais igualmente sobrecarregados e de bebês em situação
semelhante.

As vivências das vicissitudes de uma doença e de uma hospitalização evocam, além de medos, ansiedades e depressão,
certos conflitos emocionais reprimidos, ligados ao self e às relações objetais. A partir daí, são acionados mecanismos
psicológicos homeostáticos, que visam mobilizar recursos emocionais capazes de lidar com a situação estressora, de
modo a manter um equilíbrio, e promover uma capacidade mínima de adaptação à nova situação.

A primeira preocupação dos pais é quanto à sobrevivência do bebê. Os sentimentos de culpa aumentam a ansiedade. Os
pais temem que algo que tenham feito ou deixado de fazer durante a gravidez tenha afetado o bebê e isto tenha resultado
na sua prematuridade. Cramer (1987) definiu “retardo emocional” como a alienação dos sentimentos que uma nova mãe
pode vivenciar no início de seu relacionamento com um bebê prematuro. A “dificuldade em ter os sentimentos calorosos
e maternais que ela esperava” não está limitada às mães de bebês prematuros, mas podem ser igualmente intensos
sempre que for negado às mães um contato próximo com seus bebês nascidos a termo (Cramer, in Spitz 1987). Desta
forma, torna-se essencial a permissão aos pais para visitarem a enfermaria de prematuros, ainda mais no caso da mãe em
ver o seu bebê prematuro assim que possível para ajudar a minimizar as atemorizantes fantasias que ela possa ter e ajudá-
la a iniciar o processo de lidar com a circunstância.

Vemos, então, o nascimento de um prematuro como uma crise, como um período de desequilíbrio ou agitação de
conduta, às quais fica temporariamente incapaz de responder adequadamente. Durante esse período de tensão, a pessoa
assume o problema e desenvolve novos recursos, tanto fazendo uso de reservas internas quanto da ajuda dos outros.
Tais recursos são, então, utilizados no controle do fator precipitante e a pessoa atinge mais uma vez um estado de
estabilidade (Brazelton e cols., 1987). As reações a um evento estressante como o nascimento de um bebê prematuro

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podem ser também fortemente condicionadas por problemas previamente existentes de personalidade.

A mãe de recém-nascido normal e saudável deve ajustar a imagem idealizada de seu bebê ao bebê real que está na sua
frente. Naturalmente, isso é muito mais difícil para os pais de um bebê prematuro. Eles devem reconciliar sua imagem
mental idealizada com a de um bebê lívido, magro e com aparência enfraquecida. Pelo fato de os pais de um bebê
prematuro terem dificuldade em perceber que seu pequeno bebê irá finalmente crescer e ficar normal, forte e saudável,
não é tarefa fácil conseguir acostumar-se com sua presente aparência.

A maioria das mães que visitam seu bebê não está preparada física e emocionalmente para o nascimento precoce e ainda
está abalada com ele. A mãe fica extremamente ansiosa a respeito da saúde do bebê; preocupa-se a respeito de qualquer
anormalidade, preocupa-se se será criticada por ter gerado um bebê incompleto, frágil e imperfeito. À medida que os dias
avançam e que se nota algum crescimento do bebê prematuro, a mãe passa a acreditar que seu bebê irá, provavelmente,
sobreviver. É neste momento que ela reajusta sua imagem anterior do bebê à imagem real do bebê que está à sua frente.

A forma como as mães reagem frente a seu bebê prematuro sofre influências diversas que vão desde suas expectativas
em relação ao nascimento, o modo como foi noticiada a necessidade de um parto prematuro, as atitudes da equipe
médica, assim como o contexto em que estão inseridos. Diversas interpretações irracionais podem ser observadas nas
mães; aquelas que internalizam o acontecimento e culpam a si mesmas e também aquelas que temem a separação precoce
do seu bebê.

Klaus (1992) pesquisou quais seriam as reações mais freqüentes de mães de bebês prematuros e as enumerou da
seguinte forma:

A) Problemas de auto-estima: A reação mais freqüente, entre mães estudadas, era um sentimento de fracasso. Um
comentário típico dessas mães era: “eu não sou capaz nem mesmo de levar até o fim, como as outras mães”. As mães
explicavam o nascimento prematuro de seu bebê com base em uma falha pessoal, o qual elas freqüentemente acreditavam
ser físico. A separação do bebê e sua mãe apenas fortalecia este sentimento de fracasso, isto só fazia aumentar sua idéia
de incapacidade de cuidar de seu próprio filho.

B) Problemas de culpa: Quase todas as mães de bebês prematuros expressavam sentimentos de culpa. Acusavam a si
mesmas de terem sido más mães, de terem exposto seus filhos a grande tensão, forçando-os para fora do seu útero
protetor.

C) Problemas de separação: O bebê prematuro é rapidamente afastado de sua mãe nos momentos após o nascimento. As
reações a esta separação são universais. As mães experimentam um vazio, expressam um intenso desejo de tocar e
amamentar no peito seus bebês. Durante esta separação, imaginam as piores coisas possíveis e acham que estão lhe
escondendo algo de t errível sobre seu filho.

O modo como a mãe reagirá pode ter sérias implicações para o bebê. Além disso, a evolução de tais reações pode
influenciar a maneira como a mãe se comportará futuramente em relação ao seu filho. Uma série de estudos mostra uma
associação entre depressão materna e problemas posteriores no desenvolvimento, incluindo transtornos de conduta,
comprometimento da saúde física, ligações inseguras e sintomas de depressão.

Particularmente, os sintomas de depressão pós-parto – irritabilidade, ansiedade, pouca concentração e humor depressivo
– interferem em todas as relações interpessoais, especialmente no relacionamento em formação entre uma mãe e seu
novo bebê.

Os bebês são altamente sensíveis à qualidade da atenção do adulto. Se a comu nicação normal mãe-e-bebê é interrompida
por breves períodos de tempo, os bebês respondem com irritabilidade e recusa. Em casos como este, a terapia para os

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sintomas da depressão materna pode também abordar o relacionamento mãe-e-bebê e quaisquer sintomas que o bebê
possa demonstrar. Faz-se tão necessária a precocidade do diagnóstico, pelo fato da prevenção ser de primeira
importância no tratamento, evitando quaisquer prejuízo para a mãe e o bebê.

4.2 - Fases da Adaptação

Ainda de acordo com Klauss (1992), apesar das amplas variações dentre as malformações das crianças e o embasamento
dos pais, estudos mostraram uma série de temas surpreendentes similares, originados em conversas a respeito das
reações dos pais. Geralmente, os pais lembram de fatos da época do nascimento e de suas reações em detalhes. Eles
passam por fases semelhantes de reações emocionais e identificáveis.

Primeira Fase: Choque

A resposta inicial dos pais às noticias a respeito da anormalidade da criança é de um choque que os sobrecarrega. Os
pais relatam reações e sensações indicando uma ruptura abrupta de seus sentimentos usuais. Muitos confessam que
esse período inicial é de comportamentos irracionais, caracterizados por choro, sentimentos de desamparo, desejo de
fugir.

Segunda Fase: Descrença (Negação)

Muitos pais tentam tanto evitar admitir que seu filho tem um problema quanto amortecer a enorme enxurrada de
sentimentos. Eles podem desejar tanto livrar-se da situação, quanto negar o seu impacto. Embora quase todos relatassem
uma dificuldade em acreditar, a intensidade da negação variava consideravelmente.

Terceira Fase: Tristeza, Raiva e Ansiedade

Sentimentos intensos de tristeza e raiva acompanham e ocorrem depois da fase de negação. A reação emocional mais
comum é a tristeza. Um número menor, mas significativo, de pais relata sentimentos de raiva. Na maioria dos casos, a
mães temem pela vida de seus filhos, apesar de serem muito tranqüilizadas.

Quarta Fase: Equilíbrio

Os pais relatam uma gradual diminuição, tanto em sua ansiedade quanto em suas intensas reações emocionais. Como
diminuem os sentimentos de confusão emocional, eles sentem-se cada vez mais confortáveis dentro da situação e
confiam na sua capacidade de cuidar do bebê. Alguns pais alcançam esse estado de equilíbrio em poucas semanas
depois do nascimento, enquanto outros levam muitos meses. Mesmo passado muito tempo, os pais relatam ainda
sentirem algum tipo de sentimento semelhante ao da época mais conturbada.

Quinta Fase: Reorganização

Durante este período, os pais são responsáveis pelos problemas dos filhos. Algumas mães relatam que elas tinham que
se tranqüilizar quanto ao fato de que “os problemas do bebê não haviam sido causados por elas”. A aceitação positiva a
longo prazo da criança envolve o apoio mútuo entre os pais depois do nascimento. Muitos casais relataram que
confiavam muito um no outro durante o período inicial. Entretanto, em alguns casos, a crise do nascimento separa os
pais.

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Este grandioso acontecimento da vida dos pais faz com que a família “atingida” se mobilize. A criança é uma completa
distorção do bebê sonhado ou planejado; há então a necessidade dos pais fazerem o luto da perda do bebê imaginado
durante a gestação – processo que pode levar muitos meses – para depois poderem ligar-se completamente ao bebê que
está vivo. As tentativas da mãe de retirar seus fortes sentimentos do bebê perfeito esperado são rompidas pelas
solicitações da nova criança “imperfeita” que chegou. A tarefa de tornarem-se ligados à criança malformada e fazer com
que seus cuidados físicos continuem podem vir a ser uma sobrecarga para os pais na época do nascimento, quando eles
estão fisiológica e psicologicamente esgotados.

Paralelamente a esse processo de luto, há um grande componente de culpa que toma muitas formas, como a dedicação da
“mãe de forma incessante e exclusiva” ao bem-estar da criança, enquanto exclui outros da família, já que os pais podem
repetir as mesmas perguntas e problemas muitas vezes.

A equipe que trata e que está em contato com essa mãe deve ter conhecimento que reações de ressentimento e raiva
podem ocorrer e devem saber lidar com eles, já que tais sentimentos, com freqüência, são dirigidos a eles. Portanto, os
pais devem ter a oportunidade de expressar seus próprios sentimentos e levar o tempo necessário para viverem
amplamente seu luto.

5 - O papel do grupo familiar

Pode-se afirmar que a mãe não é o único ser humano no ambiente da criança, nem o único que tem influência emocional.
Seu ambiente compreende outras pessoas - pai, irmãos, parentes e outros - podendo ter todos eles significado afetivo
para a criança. Até mesmo o ambiente cultural e seus costumes têm influência sobre a criança, tanto nos momentos
imediatos ao nascimento e, de forma mais presente, no decorrer do primeiro ano de vida.

Desta forma, não somente a mãe se sente atingida por sentimentos de sobrecarga e desapontamento quando ao
nascimento prematuro de seu filho. A família também se torna sujeito participante e ativo na tentativa de reestruturação e
busca de seu reequilíbrio. O nascimento de um bebê de risco é uma crise imprevista em qualquer família, que experimenta
sentimentos muito fortes de falha, incompetência e culpa. No caso de prematuro, podemos considerar que os pais
também são “pais prematuros” e encontram dificuldades ao lidarem com esta nova e inesperada situação.

Segundo Jeammet (1989), um instinto materno não nasce repentinamente em função de uma predisposição inata que se
manifesta por ocasião do nascimento de um filho, nem tão pouco a família se sente totalmente preparada para receber um
novo ser. É uma resultante complexa da história de cada mãe e de cada família; sua evolução é espontânea e, para que ela
possa surgir, é necessário um mínimo de condições satisfatórias. Tais condições estão ligadas ao passado, mas também
ao ambiente imediato da mãe e da família, que pode desempenhar um papel apaziguador ou, inversamente, favorecer o
despertar dos conflitos e o surgimento da angústia, como dito anteriormente.

Durante a gravidez, e algumas semanas subseqüentes ao parto, a mãe encontra -se numa situação de vulnerabilidade. A
equipe que cuida dela desempenha um papel preventivo de suma importância. Em primeiro lugar, não lhe dirigindo
quaisquer atitudes inadequadas que possam ser vivenciadas como uma demonstração de sua incapacidade de ser uma
“boa mãe”. Uma simples palavra, elogiando a criança e a mãe, pronunciada por ocasião dos momentos seguintes ao
parto, pode ter um valor psicoterapêutico mais importante do que uma extensa entrevista (e até mesmo posterior
necessidade de tratamento) e evitar que esta se faça necessária. Neste aspecto, é primordial a participação da família. Seu
equilíbrio, sua existência, sua organização e capacidade de adaptação dependem da busca incessante de manter seu
equilíbrio, que é dinâmico, interativo e que sempre terá um novo resultado. Frente a um evento qualquer, as alterações
que provocará e as necessidades adaptativas dependerão de como o evento se iniciou, dos recursos que essa família
dispõe para lidar com essa crise e qual a importância, a valorização que fazem desse acontecimento.
Como ilustrado, para que os bebês se convertam em adultos saudáveis, em indivíduos autônomos, dependem totalmente
de que lhes seja dado um bom princípio, o qual está assegurado, na natureza, pela existência de um vínculo. E é neste
momento que a família ocupa posição insubstituível. Nesta família, que recebe um bebê (que requer de cuidados diversos

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que outro bebê a termo não o requereria), deve haver o que Spitz chama de clima afetivo, para designar a totalidade das
forças que influenciam o desenvolvimento do bebê.

Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, interessou-se particularmente por essas primeiras relações entre a criança e sua
família. Ele enfatiza a importância da vulnerabilidade do bebê, que deve ser compensada pelos cuidados da mãe e pela
receptividade da família. É o que ele denominou de holding e que poderia ser traduzido por função de “sustentação” da
mãe, que ampara seu bebê, tanto físico quanto psiquicamente, assim como a família o faz com a mãe. Para ele, o
desenvolvimento afetivo do primeiro ano contém as bases da saúde metal, além de grande parte da saúde.

As crianças e especialmente os bebês precisam de um lar normal com que se identifiquem; necessitam profundamente de
um lar estável e de um ambiente emocional estável. Precisam acima de tudo que lhes seja oferecida uma “segurança
social” para que possam ter a oportunidade de realizar firmes e naturais progressos, no devido tempo, no decorrer das
fases inicias do desenvolvimento.

Torna-se cada vez mais claro o papel determinante que ocupa a família para a formação da personalidade e para futuro da
criança. É um momento privilegiado para as aquisições da criança; sua linguagem eficiente, uma motricidade eficaz e um
processo de individuação concretizado. Todos esses fatores - interação ativa e saudável entre mãe e criança e o
estabelecimento na família de um clima emocional - servirão como ação preventiva sobre distúrbios ulteriores do
desenvolvimento da criança.

6 – A Psicologia em um contexto de orientação

Ao se propor um trabalho de orientação e atendimento psicológicos à família de um bebê prematuro (com possíveis
complicações neonatais e perinatais) é necessário compreender a doença e a hospitalização na significação particular e
específica que tem para cada indivíduo e cada família, e de cuja configuração fazem parte fatores genéticos,
psicodinâmicos e experiências pregressas com o adoecer.

Num primeiro momento, o profissional designado para cumprir o papel de atendimento à mãe e/ou à família deve ter a
capacidade de estabelecer um rapport, uma relação com estas pessoas; além de reconhecer que sua ação profissional é
feita com outra pessoa (ou pessoas) e não sobre outra pessoa. A construção de uma boa relação com seus pacientes
contribuirá como um poderoso determinante de restabelecimento do equilíbrio pretendido. É importante o conhecimento
dos desejos e sentimentos que acompanharam esta gestação, a maneira como foi recebido um bebê que nasce antes do
previsto, como ocorreu a postura da equipe ao lidar com esta mãe, além das atitudes e comportamentos da família
dirigidos a este novo fato.

Durante o atendimento, o momento é propício para que o psicólogo observe e entenda uma série de coisas importantes.
Observando a relação mãe-e-bebê são colhidos dados úteis que, posteriormente, poderão ser utilizados no plano de
atendimento, além de auxiliar na orientação a ser dada à família.

É desta forma que durante os atendimentos de follow-up, busca-se um sinal de apego e de confiança; o comportamento
da mãe em relação a seu bebê, seus sentimentos a respeito de sua gravidez, sua expectativas (manifestas ou não) sobre o
processo de tratamento e acompanhamento. É nesse momento, que se tem a oportunidade que reconhecer a natureza da
ligação entre mãe e filho. Mas para tanto o psicólogo necessita estar atento, ser perspicaz, sutil e ter capacidade de
entender a dinâmica da família para dar-lhe orientação adequada.

Além disso, o trabalho psicológico deve ser realizado de modo a encorajar a família a trabalhar junto durante a crise
desencadeada pelo parto prematuro, ajudando o pai e a mãe a conversarem sobre suas dificuldades um com o outro, na
medida em que tentam chegar a soluções satisfatórias.

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Uma questão que merece atenção, e que foi abordada por Jeammet (2000) com demasiado cuidado, diz respeito à
transposição desastrosa de abordagens e técnicas clássicas e exaustivamente utilizadas em consultórios para dentro do
hospital geral e, mais especificamente, num ambulatório de Follow Up, ao invés da utilização da escuta psicodinâmica. O
que é possível e que pode ser feito é uma avaliação do distúrbio emocional em evidência, de suas raízes psicodinâmicas,
de como refletem nas relações interpessoais, e fazer intervenções apropriadas com propósitos bem definidos de
tentativas de obter mudanças dinâmicas. Ou seja, é possível realizar uma psicoterapia específica, que, a não ser em raras
exceções, enquadra-se dentro das psicoterapias breves. A psicoterapia breve funcionará como um instrumento
psicoterápico e não um mero “apoio” psicológico. Seu foco de atuação consiste em proporcionar à pessoa atendida
condições que lhe possibilitem tomar consciência de sua responsabilidade na obtenção da satisfação de sua
necessidades. Deve-se buscar ativamente que o paciente se expresse, externando fantasias, sentimentos e temores,
manifestando-se, emergindo uma atitude ativa, participante e não somente receptiva e passiva de cuidados.

Além do trabalho realizado com a família, o psicólogo também intermedia a relação equipe/paciente/família. Seu papel
funciona como o de um porta-voz, um interlocutor das necessidades, desejos de ambos os lados, afim de intervir de
forma que os desencontros da informação sejam minimizados.

Finalmente, deve-se ter em mente que todo o trabalho psicológico realizado deve sempre pautado em um modelo básico
preventivo, a respeito do desenvolvimento humano, no qual a representação mais importante que se almeje é uma
completa adaptação da família à situação e, primordialmente, é a de um bebê instalado com segurança no colo de uma
mãe sadia (Julio de Mello Filho e cols., 1992).

7 – Referências bibliográficas

BRAZELTON, CRAMER; KREISLER, SHAPPI. A dinâmica do bebê. Artes Médicas: Porto Alegre, 1987.

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____________________
Recebido em 04/05/2005.
Aprovado em 07/08/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 43
A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA COMPORTAMENTAL
EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
Roseli de Melo Braga dos Reis 1
roselimbr@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo objetiva trabalhar como o Terapeuta Comportamental atua em instituições de saúde,
partindo da história que levou a Psicologia para este campo interessante e carente de ações emergenciais.. A discussão
gira em torno da inserção da Psicologia da Saúde bem como a atuação do Terapeuta no contexto atual..

Unitermos: Psicologia da saúde, medicina comportamental, terapia comportamental, contingências.

Verificamos primeiramente a necessidade de conhecermos onde iniciou-se a Psicologia da Saúde, para depois
ampliarmos o tema sobre a atuação do Terapeuta Comportamental nessa área, onde os pacientes sofrem uma urgência
de atendimento psicoterapêutico, mas que ainda existem muitas dificuldades advindas do não reconhecimento desse
sofrimento promovido pelas contingências e, às vezes, reforçado pelos profissionais da saúde, por não aceitarem
intervenções diretas por parte dos Psicólogos. Esse estranhamento fez com que a Psicologia Hospitalar demorasse a
atuar nesse campo de modo conclusivo, ficando na dependência dos médicos ou responsáveis diretos pelas instituições
que ainda tem dificuldade em reconhecer a necessidade de um plantão psicológico, ficando o profissional vinculado
apenas a aplicação de tecnologias avançadas, que quebram o contato direto com a família e com o doente que necessita
de acolhimento e auxílio.

1. Psicologia da saúde – breve histórico

Segundo LALONI (1995) a Psicologia da Saúde é recente (década de 60) e tem sua história vinculada à aplicação de
testes para avaliação da inteligência, personalidade ou desenvolvimento motor, onde o comportamento dos psicólogos
estão contingenciados pelos médicos. Nessa época, o homem era visto pela medicina como dividido, mas a partir dos
anos 70, a Psiquiatria iniciou a utilização do referencial psicossomático e deu abertura para atuação do profissional de
saúde mental em hospitais gerais, onde estes realizavam interconsultas psiquiátricas de pacientes de outras
especialidades. SCHARTZ e WEISS 2 citado por LALONI (1995) definem o campo da medicina comportamental criado
por George Engel em 1977, como área de desenvolvimento, integração e aplicação de conhecimentos científicos e
técnicos comportamentais e biomédicos para a doença e saúde.

Em 1978, a Associação Americana de Psicologia cria a divisão de Psicologia na Saúde, legalizando a atuação do
Psicólogo, onde a problemática é determinar uma ação conjunta dos processos biológicos e psicológicos que interferem
na saúde. Essa abertura tira as dúvidas sobre o tratamento do homem como ser biopsicossocial.

MATARAZZO 3 citado por CERQUEIRA (1997) define a Psicologia da Saúde como o conjunto de contribuições
educacionais, científicas e profissionais específicas da Psicologia para promoção e manutenção da saúde, prevenção e
tratamento da doença, identificando fatores etiológicos e diagnósticos da saúde, doença e disfunções correlacionadas,
além de analisar e melhorar o sistema de cuidados à saúde.

CERQUEIRA (1997) explica que os conhecimentos nessa área devem estar ligados aos fatores de riscos psicológicos;
fatores psicológicos na manutenção da saúde; crenças e representações sociais de saúde e doença; comunicação, tomada
de decisão e adesão; enfrentamento da doença e desabilidades.

O conhecimento desses conteúdos facilita a atuação do psicólogo nessa área, que é o assunto que trataremos no próximo
tópico.

1
Psicóloga, Pós-graduanda em Psicologia Médica pela Faculdade de Medicina da UFMG.
2
SCHWARTZ E WEISS - não possuem referencial bibliográfico citado pela autora.
3
MATARAZZO (1982) - idem.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 44
2. A atuação do Terapeuta Comportamental na instituição de saúde.

Para LALONI (1995) o Psicólogo da Saúde deve ser capaz de identificar as variáveis do modelo biopsicossocial,
analisá-las e propor soluções para modificação e controle, sendo essas variáveis relativas a questões pessoais,
funcionais, institucionais e do trabalho.

Nesse contexto, a autora fala que o Psicólogo é um membro da organização hospitalar e comporta-se na organização
como variável dependente, pois sua ações repercutem no sistema, da mesma forma que a instituição modela seus
comportamentos, deve identificar a situação.

O hospital só existe em função do doente e da doença e a fonte de recursos é que definem seus modelos podendo ser
públicos, privados, particulares/conveniados ou conveniados.

O Terapeuta Comportamental observará e fará análises de contingências e rearranjos de estímulos para alteração de
respostas, pois é exigido conhecimento técnico-científico na sua área de especialização, esses são repertórios
comportamentais efetivos paralelos aos repertórios técnicos científicos para participação do sistema de saúde.

Segundo AMARAL (1997) o Psicólogo Hospitalar difere do Clínico de consultórios em alguns aspectos, interesses e
necessidades, para o melhor desempenho é bom gastar tempo conhecendo a Instituição (contexto) e seu papel como
Psicólogo, verificando o que deve fazer, o que é esperado que se faça na instituição. As pressões, necessidades,
interesses e objetivos são diversos. As ações devem ser rápidas, decisivas e trabalha-se com diferenças entre viver e
morrer, por isso é sensível.

A competência é sua maior chave, pois estará sobre pressão e avaliação constante por parte dos outros membros da
equipe de saúde. O Terapeuta Comportamental tem muito a contribuir, pois suas ações são rápidas e eficazes e não está
preocupado em incluir problemas em teorias, partindo sem explicação teórica para a verificação dos problemas,
atendendo as emergências das pessoas. O Terapeuta tenta modificar o comportamento do cliente (paciente) dando
estímulos discriminativos para que desenvolva outros repertórios e sejam reforçados socialmente. A dor, depressão,
ansiedade, medo, raiva, às vezes, são decorrentes da própria doença ou das contingências do tratamento, intervenção,
isolamento, restrição advindas da perda de autonomia pelos pacientes.

Podemos pensar que os pacientes que ficam internados ou que fazem tratamentos de doenças crônicas, podem
desencadear uma ansiedade tão grande pela cura, que traz depressão constante, e este comportamento depressivo deve
ser tratado com delicadeza por Terapeutas Comp ortamentais na Instituição hospitalar ou Centro de Saúde, que poderão
produzir novos repertórios de felicidade em que o cliente (paciente) não fique o dia todo pensando no seu problema,
mas aja de forma diferenciada, alegre, diminuindo gradativamente os riscos de piorar a situação inicial que seria a
doença crônica.

Pensamos ainda que Terapeutas Comportamentais podem auxiliar na alteração de contingências de pacientes que
freqüentam Centros de Saúde, mas que não possuem doença mental, estes podem estar reforçando problemas que, às
vezes, não eram tão graves e que se não forem punidos, tratados em relação a seus reforços negativos, poderão causar
maiores danos a si mesmos.

Podemos verificar que o campo de atuação é vasto, mas ainda é necessário à formação de um currículo que abranja
todos os conteúdos e tipos de atendimentos possíveis, desde o atendimento individual, familiar e pacientes terminais. A
Terapia Comportamental pode muito auxiliar nessas emergências, pois atua nas contingências atuais verificando a
história do indivíduo possibilitando alterações nos repertórios que causam desgaste físico, pois acredita no homem
biopsicossocial.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 45
3. Dificuldades enfrentadas pelos Terapeutas nas Instituições de Saúde.

De acordo com LALONI (1995), as dificuldades enfrentadas pelos Terapeutas nas Instituições de Saúde são a de não
reconhecimento como tal, pois, à equipe de saúde normalmente atribuem a ele apenas o trabalho da saúde mental.
O vínculo dependerá do tipo de instituição que o recebe, mas a relação direta com a saúde mental tem direcionado sua
atuação para os estabelecimentos que possuem leito psiquiátrico, com algumas atuações em Centros de Terapia
Intensiva (CTI) de hospitais em geral.

Existem, segundo LALONI (1995), muitas contradições que contigenciam os comportamentos, tais como: regras de
serviços com procedimentos ambulatoriais voltados para o paciente de saúde mental; os vínculos dos Psicólogos em
instituições universitárias estão vinculados às disciplinas médicas e afastam-se da Psicologia da Saúde; os Psicólogos
aplicadores de testes emitem os comportamentos esperados pela instituição; os pagamentos são apenas ambulatoriais,
para ações diagnósticas; as ações dos Psicólogos são confundidas com outros profissionais; as pesquisas estão distantes
da aplicação prática na realidade institucional.

Ainda enfrentamos esses tipos de dificuldade para o trabalho de intervenção individual e familiar, pois , muitas vezes, as
atribuições do Psicólogo Hospitalar não foram esclarecidas .

4. Considerações Finais.

Os estudos não esgotam-se aqui, segundo a teoria comportamental é necessário modificar o ambiente em que as pessoas
vivem, para valer aquilo que é benéfico, mas, para tantas mudanças é necessário pensar e agir lembrando do mundo
atual como SKINNER4 citado por ASSUNÇÃO (1998), declarou-nos:

“O apelo aos estudos e processos cognitivos é um disfarce que muito bem poderia ser responsável por nosso fracasso em resolver
nossos problemas. Precisamos mudar nosso comportamento e podemos fazer isto mudando nosso ambiente físico e social.
Escolhemos o caminho errado desde o princípio, quando supomos que nosso objetivo é mudar as mentes e os corações de homens e
mulheres. Em vez do mundo em que eles vivem.”(SKINNER,1983) 5

Verificamos que o Terapeuta Comportamental em Instituições de Saúde pode contribuir em muitos aspectos, desde o
reforçamento de atitudes que levam o indivíduo à prática de comportamentos adequados para a saúde física, tais como
alimentação saudável, higienização, prevenção e controle de enfermidades através de palestras, ensino de novos
repertórios, sendo que estes devem ser reforçados socialmente e os comportamentos inadequados punidos para que
sejam extintos, pois a prevenção, tratamento e reabilitação exigem a participação direta do comportamento dos
indivíduos. Pensamos que seja necessário clarear as idéias relativas aos Psicólogos que atuam na área da saúde, para
que não haja preconceitos em relação aos mesmos, e que os resultados das intervenções sejam vistos positivamente pela
equipe de saúde e não como uma afronta ao diagnóstico médico; mas, ao mesmo tempo, os Terapeutas não devem
deixar-se levar pelos conceitos existentes adequando-se simplesmente a instituição sem um parecer crítico e
transformador, pois , assim, não contribuirão para o progresso dessa nova atuação.

Todas as áreas de estudos são passíveis de mudanças que oferecem o crescimento, esperamos que a tecnologia e a
experiência que vem sendo adquirida através dos anos, tragam novos posicionamentos e atitudes que mudem a visão
limitada dos profissionais para uma visão sistêmica e integrada do homem com o meio social a que pertencem.

6. Referências Bibliográficas

AMARAL, Vera Lúcia A. R.. In: ZAMIGNANI, Denis Roberto. Sobre Comportamento e Cognição. São Paulo: ARBytes, 1997.
Cap.2: Análise funcional no contexto terapêutico da instituição. P. 8-14.

5
SKINNER, B.F. Sobre o Behaviorismo.São Paulo: Cultrix, 1993.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 46
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.NBR 6023.Fórum Nacional de Normalização. Agosto.1989. 20p

ASSUNÇÃO, Maria Regina Barbosa. Psicologia: uma Ciência Cognitiva?. Psique. Belo Horizonte: Artcromo, n.12, p. 90-97,
mai.1998.

CERQUEIRA, Ana Tereza de A. R.. Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo: Editorial Psy,1995.Cap.50: Formação
saúde – o psicólogo na área da saúde: a formação necessária. p. 532-539, mai.1998.

LALONI, Diana Tosello. In: ZAMIGNANI, Denis Roberto. Sobre Comportamento e Cognição. São Paulo: ARBytes, 1997. Cap.1:
O papel do psicólogo na instituição hospital diante das políticas institucionais. p.1-7.

MIYAZAKI, Maria Cristina de O. S; AMARAL, Vera Lúcia A. R.. In: RANGÉ, Bernard. Psicoterapia Comportamental e
Cognitiva. São Paulo: Editoral psy, 1995. Cap.19: Instituições de saúde. p. 235-244.

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Recebido em 21/04/2005.
Aprovado em 27/08/2005.

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EQUOTERAPIA – UM MÉTODO TERAPÊUTICO
York da Silva Adário 1
yorkadario@uol.com.br

RESUMO

Equoterapia, segundo a Associação Nacional de Equoterapia - Brasil (ANDE-BRASIL), é um método terapêutico que
utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação.

O método foi reconhecido no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), através do parecer número 6/97-
ANDE-BRASIL, aprovado em sessão plenária de 9 de abril de 1997 e vem se expandindo significativamente,
principalmente em sua modalidade voltada para a saúde.

O cavalo proporciona ao praticante, através de seus movimentos tridimensionais determinados pelo seu deambular, cuja
diferença com o do homem situa-se em torno de 5% apenas, uma eficácia terapêutica significativa, não só nas áreas do
deficiente psicofísico, mas também em outras.

Para a obtenção de bons resultados terapêuticos, verificou-se a necessidade de que uma equipe mínima para os
procedimentos da equoterapia deve contar com um profissional de saúde, um de educação e um de equitação. Todos
dessa equipe interdisciplinar devem trabalhar de forma integrada, ter conhecimento da deficiência do portador bem
como da prática no trato com este.

A prática da equoterapia deve ser, sempre, precedida por diagnóstico, indicação médica e avaliação por profissionais da
equipe interdisciplinar. Normalmente, para a maioria dos casos em que ela é indicada, sua freqüência é a de uma vez
por semana, durante 30 (trinta) minutos.

Palavras-chave: Equoterapia. Hipoterapia. Praticante. Cavalo. Método terapêutico.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em relação a Equoterapia não existe, ainda, uma farta bibliografia, devido a que os estudos científicos inerentes por
agora começam a surgir. Alencar (2001) confirma a falta de publicações científicas, entretanto afirma que, na prática, os
benefícios aos que a praticam se fazem notar.

Há cerca de 15 anos era difundida uma constatação, tendo como foco a Pessoa Portadora de Necessidades Especiais
(PPNE), de que a “normalização” desta era baseada na sua própria modificação, como condição para o ingresso ou
mesmo reingresso na sociedade. Após, foi-se refletindo e se chegando à conclusão que, não a pessoa, mas o ambiente
psicossocial e físico é que deveriam ser mudados, para permitir o desenvolvimento ao máximo daquela.

Seria, sem dúvida, uma passagem de um enfoque “médico”, particular, da deficiência, para um enfoque “humanístico
social”, onde não mais seria dada atenção tão somente à deficiência, mas à pessoa, com “apoios e suportes” necessários
para a inclusão social desta.

Face essas necessidades e, sem dúvida, generalizando um dos princípios fundamentais da ética dos psicólogos, que

1
Capitão QAO da Reserva de 1ª Categoria do Exército, Bacharel em Letras; Psicólogo Clínico; Equitador; Psicoequoterapeuta.
Atuante em equoterapia desde 1999 como auxiliar e equitador na SHINE (Associação de Apoio aos Portadores de Necessidades
Especiais de Minas Gerais) – Pouso Alegre-MG. CRP/04-21.925.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 48
ressalta a promoção do bem-estar do indivíduo e da comunidade e também a procura de novos métodos e práticas que
possibilitem chegar a esse objetivo, é que um pequeno grupo de pessoas, mesmo sem um referencial no país, mas com
vontade férrea, houve por bem criar uma associação que utilizaria o cavalo como um “instrumento vivo”, facilitador de
uma recuperação física, mental e social, dando à Pessoa Portadora de Necessidades Especiais (PPNE), e não somente a
esta, oportunidades amplas de melhora da qualidade de vida. Este grupo de pessoas criou a Associação Nacional de
Equoterapia - Brasil (ANDE-BRASIL) e o método “reinventado”, pesquisado afora fronteira nacional, já utilizado por
povos antigos, diga-se de passagem, sem base científica, e hoje também adotado por diversos países, porém com base
científica, mas com denominações várias, sempre se valendo do “grande amigo” – o cavalo, no Brasil tomou o nome de
EQUOTERAPIA.

Este método terapêutico foi reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina, após dura luta, em 1997.

Com a Equoterapia abre-se um campo de atuação para profissionais de diversas áreas e mais diretamente para os das
áreas de saúde, educação e equitação, principalmente quanto a hipoterapia, programa voltado para a causa das pessoas
portadoras de deficiências e / ou com necessidades especiais de maneira geral.

A psicologia, como ciência, ocupa-se primordialmente com o comportamento humano e algumas correntes desta fazem
comparações entre o homem e o animal para desvendar ou mesmo elaborar projetos relativos à mente humana, mas
mesmo assim, os adeptos dessas correntes pouco ou nada podem dizer sobre o comportamento animal. Entretanto, a
influência, direta ou indireta do animal sobre a vida do homem e o comportamento deste tem sido material de pesquisas.

Seres humanos são seres que dão e se dão e também têm necessidades. Estes, motivados, procuram satisfazer estas
necessidades e a satisfação destas, devidamente ordenada, é condição para o autodesenvolvimento.

Praticantes de equoterapia também têm, via de regra, motivação, que pode depender das reações de outros ou de si
próprios, tendo em vista sua melhoria pessoal. Também os profissionais envolvidos no ato equoterapêutico se motivam,
mas esta transcende, pois estes, envolvidos que estão, atuam pensando no praticante e na sua melhoria pessoal.

Há uma concentração maior para o que existe de positivo na pessoa praticante, isto é, para o seu potencial residual, que
é o primeiro a ser resgatado, pois, certamente, facilitará o trabalho com os aspectos de maior dificuldade.

Hoje, já com 16 (dezesseis ) anos de existência no Brasil, sendo 8 (oito) como método cientificamente comprovado e
devidamente reconhecido, a Equoterapia vem angariando adeptos que, batalhando diuturnamente, agregam
conhecimentos aos já existentes, proporcionando condições para que esta forma de terapia tenha cada vez mais
qualidade.

O MÉTODO TERAPÊUTICO

Equoterapia

1. Definição

Segundo a Associação Nacional de Equoterapia - Brasil (ANDE-BRASIL), é um método terapêutico que utiliza o
cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação.

De acordo com a ANDE-BRASIL (1999, p. 13), o cavalo atua como agente cinesioterapêutico, facilitador do processo
ensino-aprendizagem e como agente de inserção ou reinserção social.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 49
Na área de saúde, o praticante, ao interagir com o agente cinesioterapêutico (o cavalo), participa ativamente da sua
reabilitação.

A prática da equoterapia no Brasil foi reconhecida como método terapêutico pelo Conselho Federal de Medicina
(CFM), através do parecer número 6/97-ANDE-BRASIL, aprovado em sessão plenária de 9 de abril de 1997.

Em equoterapia, conforme a ANDE-BRASIL, existem 4 modalidades fundamentais, que são:

- Hipoterapia, onde o cavalo se torna um instrumento dotado de ritmo, oscilação e corpo. Aí se podem enfocar dois
níveis de atuação, isto é, o deficiente apodal, quadrípede e bípede ou psicótico grave, com insuficiência mental e
distúrbios relacionais;

- Reeducação eqüestre, com fins pedagógicos, tendo o praticante um mínimo de autonomia para conduzir o cavalo;

- Pré-esporte, quando o trabalho é realizado em grupo (é uma realidade social); e

- Esporte (inserção), que resulta em socialização, organização espacial mais elaborada, regulando a agressividade e
melhorando a estrutura da personalidade. Aí, podem os praticantes concorrer em eventos eqüestres e mesmo em outros.

2. Efeitos Gerais da Atividade Eqüestre

Para a maioria das pessoas, é quase impossível não experimentar uma sensação de encanto e ternura diante de um bicho
de estimação. De acordo com Fucks (2000, p. 50), o apelo de um animal é o mesmo de um bebê.

Ainda diz a autora acima que o convívio com um animal de estimação traz benefícios, não somente para o bem estar
emocional dos seres humanos, mas também para sua saúde.

Segundo Freire (1999), no âmbito da psicologia e da reabilitação, na relação pessoa-animal, sempre se percebe troca
que gera ganhos psíquicos e físicos e, nesse caso, a maior beneficiada é a pessoa que pratica equitação, sendo esta,
então, considerada mais do que um simples esporte ou lazer, pois vai além.

Acredita a autora acima que, ao se trabalhar com múltiplos recursos, a interação com o animal permite, tanto em
equoterapia como na equitação, ampliar muito o campo de trabalho do psicólogo, além da interdisciplinaridade que a
técnica proporciona.

Garrigue (1999), diz que os efeitos da atividade eqüestre são de quatro ordens, ou seja, abrangem o melhoramento da
relação, da psicomotricidade, da natureza técnica e da socialização. Além de outras condições, em termos de
melhoramentos, que o praticante obtém em sentido geral, está a comunicação, podendo ser desenvolvida também nos
casos de autismo.

Este autor ainda afirma que, para avaliar os resultados advindos da prática deste método terapêutico, dentro das diversas
modalidades, há que se compor diários para anotações dos elementos marcantes que ocorrem durante a sessão,
confeccionar grades de controle para apontar os diversos progressos (psicomotricidade, socialização, relacionamentos,
etc.) e até gravações ou filmagens, com o devido consentimento informado.

Martins (1999) e equipe, aludem à prática de equoterapia como uma terapêutica desestressora, baseados numa visão

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 50
educativa e integradora, na qual o sujeito é o responsável pelo processo de educação, reeducação ou mesmo reabilitação
dele próprio.

Essa equipe realizou um trabalho com o objetivo de comprovar a eficácia da equoterapia no combate ao estresse e
auxiliar o trabalhador a criar condições para superar e mesmo não permitir a ação dos agentes estressores. Essa prática
leva a uma melhor qualidade de vida e bem-estar, entre outros benefícios.

Tecendo comentários sobre volteios a cavalo, no plano psicológico, como exercício físico comum, seja para esportista,
seja para portador de deficiência, segundo Salvagni (1999), é associado à reeducação da ansiedade e da depressão; é
antídoto contra o estresse e permite a construção da própria imagem. No campo social, além de benefícios em outras
áreas, o praticante de volteio a cavalo se integra ao grupo, colabora, confia e ajuda, reciprocamente. O volteio
desenvolve também, a exemplo de outros esportes, diversas aquisições e, entre elas estão o espírito de equipe, o sentido
de colaboração e de respeito, além da busca de um desempenho satisfatório e de autocontrole perante situações de
agressividade e competitivas.

Esta mesma autora ainda afirma, quanto às finalidades e objetivos a serem alcançados com a prática do volteio, que no
campo afetivo, são a vivência de apego, interesse e predileção a um ser animado e o sentimento de potência, vivência de
autoridade e de poder, relacionados à experiência de domínio do ser forte e possante que é o cavalo, o que reforça,
sobremaneira, a auto-estima e autoconfiança. O volteio terapêutico é uma opção que enriquece a equoterapia, dando-lhe
mais recursos e alternativas em prol da reabilitação dos praticantes.

Com a prática da equitação, em qualquer nível, há uma contribuição para o desenvolvimento de atitudes que permitem o
aprimoramento de qualidades e o cultivo de virtudes indispensáveis a qualquer cidadão. Perseverança, calma,
tenacidade, paciência e domínio de si mesmo são exemplos dessas virtudes e a aquisição de confiança, no aspecto
psicológico, atua como um fator de peso para o aumento da auto-estima e da auto-imagem (MOREIRA, 1999).

Em conclusões de pesquisas baseadas em observações científicas, Cittério (1999), relata que o uso do cavalo tem
eficácia terapêutica significativa, não só nas áreas do deficiente psicofísico, mas também em outras muito importantes,
como nas de cardiopatias post-isquêmicas, de escleroses múltiplas, na dos distúrbios psiquiátricos e neuropsiquiátricos,
na dos retardos psicomentais, na de dificuldade de aprendizagem, na da terceira idade e na de toxicodependências.

Atendo-se aos conceitos, a equoterapia poderá ser colocada à disposição de importante processo de aquisição ou mesmo
reaquisição de esquemas motores e / ou mentais. Cittério (1999), diz que o indivíduo é protagonista do momento de sua
própria reabilitação. Ele é ativo porque está na relação com um outro ser vivente, o cavalo.

Alves (1999) afirma que, contrariamente ao pensamento de alguns, as atividades físicas não se limitam a manter os
músculos em condições de uso e a saúde física, mas também estimulam o convívio entre pessoas e predispõem à
realização de tarefas intelectuais e científicas.

Quanto ao praticante enquanto criança, este tem, naturalmente, uma forma de se desenvolver por meio de relações
corporais, de jogos, da imitação e criatividade e com esse desenvolvimento supera os desafios das relações sociais
adversas, sem prejuízo comprometedor da sua personalidade (ALVES, 1999).

De acordo com Cudo (2000), a partir do resgate da auto-estima e da satisfação em viver, bem como da auto-imagem, é
que se trabalhará, de forma lúdica, no caso de crianças portadoras de alguma dificuldade, outros aspectos, pois a
satisfação é indispensável para a motivação que melhora a execução dos exercícios lúdicos propostos. Cudo, que
também é praticante de equoterapia, ressalta que, além de outros benefícios, como o físico, o social, há também o
psicológico, pois a confiança é elevada e faz-se presente a motivação para a satisfação das necessidades mais profundas,
que estavam adormecidas, tais como participar de concursos vestibulares, ampliar círculos de amizades, sair e abordar
pessoas em busca de informações, etc.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 51
Carecho (2002), atendo-se a Avelar (2001), que alude à modificação do comportamento humano pela influência do
cavalo e, por meio da equoterapia, à promoção da reabilitação de potencialidades da PPNE, afirma que esta promoção já
não está somente nas mãos do psicólogo, mas também no cavalo, pois este interage com a pessoa-praticante, dando a
ela uma condição de conquistas do desafio de vencer e experienciar potencialidades nunca antes vividas, de energia e
adaptações que levam o sujeito a arriscar-se.

3. Breve Retrospecto da Equoterapia

3.1 - No Mundo

As seguintes informações foram coletadas dos Anais do Congresso em Milão (1985), depois de traduzidas por Ary R.
Carracho Horne e Lelio de Castro Cirillo, da palestra realizada pela Dra Cittério “História da Equoterapia no Mundo”,
no 1o Evento Nacional de Equoterapia, em 1991.

A valorização da equitação é antiga, podendo se destacar algumas alusões como as abaixo:

Hipócrates de Loo (458-370 aC), em seu “Livro das Dietas”, apontava que a atividade eqüestre regenerava o sangue e
preservava o corpo.

Galeno (130 – 199 d.C.), médico particular do Imperador Marco Aurélio, recomendou para este, que era um pouco lento
em suas decisões, a prática de equitação, como forma de fazer com que ele imprimisse mais agilidade em suas ações.

Thomas Sydenham (1624-1689), já em 1681, em seu livro sobre a gota (Tratado sobre a gota), aconselhava a prática
assídua de esporte eqüestre. Em 1676, na sua obra “Observationes Medical”, afirmava que: “a melhor coisa que eu
conheço para fortificar e reanimar o sangue e a mente é montar diariamente e fazer longos passeios ao ar livre”.

Em 1719, Friedrich Hoffmann escreve sua obra, intitulada “Instruções aprofundadas de como uma pessoa pode manter
a saúde e livrar-se de graves doenças através da prática racional de exercícios físicos”, e nela dedica um capítulo
especial a equitação e seus imensos benefícios, definindo o passo do cavalo como a mais salutar andadura.

O médico alemão Samuel Theodor Quelmalz, em 1740, constatou os benefícios físicos proporcionados pela prática
eqüestre, em seu livro “A saúde através da equitação”. Foi ele quem primeiro fez referência ao movimento
tridimensional do dorso do cavalo e constatou essa existência em uma máquina eqüestre, uma espécie de guindaste que
imitava da melhor forma os movimentos do cavalo ao andar.

John Pringle (1707 – 1782), nas “Observações acerca das doenças dos militares – 1752”, afirmou que o exercício
eqüestre é valioso e preserva a saúde e fez a observação de que os cavalarianos estavam menos sujeitos a epidemias do
que os infantes.

Goethe (1740 – 1832) citou que, quando equitando, há uma fusão entre homem e animal de tal forma que não se saberia
dizer qual dos dois está, efetivamente, adestrando o outro.

Gustavo Zander (sueco), fisiatra em mecanoterapia, afirmou, em primeiro lugar, que as vibrações transmitidas ao
cérebro à base de 180 vibrações por minuto, estimulam o sistema nervoso simpático e isso sem associar ao cavalo. Após
a afirmação de Zander, Rieder (médico suíço), mediu essas vibrações sobre o dorso do cavalo ao passo e viu que,
coincidentemente, correspondia exatamente aos valores a que Zander havia afirmado.

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Em 1917, o Hospital Universitário de Oxford fundou o primeiro grupo de equoterapia, com vistas ao atendimento,
como forma de lazer e quebra de monotonia, aos feridos da 1a GM.

Foi, a partir do feito de Liz Hartel que a classe médica passou a se interessar pela atividade eqüestre como meio
terapêutico. Liz, apesar de ter sido acometida por poliomielite aos 16 anos, praticou, por conta própria, equitação, como
forma de autoterapia e classificou-se em segundo lugar em adestramento nas Olimpíadas de 1952, repetindo a façanha
em 1956, em Melbourne.

Em 1954, já aparecia na Noruega a primeira equipe interdisciplinar, formada por uma fisioterapeuta e seu noivo, que era
psicólogo.

Na França, a reeducação eqüestre nasceu em 1965 e a equoterapia, neste mesmo ano, tornou-se matéria didática, sendo
realizado um primeiro trabalho científico em 1969, na Universidade de Salpentiére – Paris. Em 1972, foi defendida a
primeira tese de doutorado em medicina, em reeducação eqüestre, na Universidade de Paris, em Val-de-Marne, pela Dra
Collette Picart Trintelin. No ano de 1974, em Paris, aconteceu o 1o Congresso Internacional, que a cada três anos se
repete.

Na Itália (Milão), no Congresso de 1985, foi criada a Federação Internacional de Equoterapia (Federation Riding
Disabled Internacional – FRDI), hoje com sede na Bélgica.

Em 1988, no Canadá (Toronto), o 7o Congresso de Equoterapia teve como tema “O emprego do cavalo com fins
terapêuticos”. Daí resultaram diversas expressões para nomear as abordagens, bem como formas de executá-las, a
cavalo, pelos diversos países.

3.2 - No Brasil

Conforme as publicações da Associação Nacional de Equoterapia – Brasil (ANDE-BRASIL), a equoterapia é uma


prática recente no país e vem se expandindo significativamente, principalmente a hipoterapia, sua modalidade
essencialmente terapêutica.

Em 1988 foi realizada a primeira viagem à Europa, por uma equipe de interessados em equoterapia, com finalidade de
aprofundar conhecimentos e visando à criação de uma Associação.

Em 1989, no dia 10 de maio, foi fundada a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), situada em Brasília-
DF. A primeira sessão foi realizada em 1990 no centro da ANDE-BRASIL (Granja do Torto - Pavilhão de Exposições),
com pacientes e apoio dos profissionais de saúde do Hospital do Aparelho Locomotor – SARAH.

Em 1991 aconteceu em Brasília -DF, o 1o Encontro Nacional de Equoterapia, com apoio da Coordenadoria Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), do Ministério da Justiça e da Universidade Paulista
(UNIP – Objetivo), bem como o 1o Curso de Extensão de Equoterapia, ministrado pela Dra Danièle Nicolas Cittério,
diretora da Escola Nacional de Associazione Nazionale Italiana di Riabilitazione Equestre – ANIRE (Itália – Milão).

Em 1999, realizou-se o I Congresso Brasileiro de Equoterapia, na cidade de Brasília-DF, no ano de 2002, o II


Congresso realizou-se na cidade de Jaguariúna-SP e no ano de 2004, o III Congresso, na cidade de Salvador-BA.

4. Associação Nacional de Equoterapia-Brasil (Ande-Brasil)


A ANDE-BRASIL é uma entidade civil, sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado, duração
indeterminada e com atuação em todo o território nacional. Tem sede e foro em Brasília -DF.

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Reconhecida como de utilidade pública federal (DOU de 20 Nov 92) e distrital (DO / DF de 13 Out 94).

Registrada no Conselho Regional de Medicina / DF (nº. 763), no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) do
Ministério da Justiça (nº. 28010.00097819146), na Secretaria de Desenvolvimento Social e Ação Comunitária / DF (nº.
206/92) e no Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente / DF (nº. 78/96).

É filiada a The Federation Riding Disabled International (FRDI) e mantém convênio com diversas entidades.

É consultora técnica em equoterapia da Sociedade Brasileira de Medicina Física e de Reabilitação.

Conta com o apoio sistemático da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
(CORDE), do Ministério da Justiça.

Sua missão principal, além de dispensar gratuitamente a prática de equoterapia é, devidamente autorizada, normatizar,
supervisionar e controlar, em âmbito nacional, a prática de equoterapia, com o intuito de evitar práticas e utilização do
cavalo para fins terapêuticos de forma errada, prejudicando sobremaneira o praticante e ferindo os princípios éticos.

Seus princípios são o embasamento técnico-científico, filantropia, segurança do praticante, normas de seguridade e
respeito à ética.

Por ser uma associação filantrópica e dispensar o atendimento de forma gratuita, a ANDE-BRASIL necessita de
voluntários e se mantém com contribuições de sócios, doações voluntárias, mensalidades de sua escola da equitação e
outros.

5. Centros de Equoterapia

Na Europa, a Associazione Nazionale Italiana di Riabilitazione Equestre (ANIRE), é reconhecida, pela Federação
Internacional, como a melhor associação em termos de fiel observância dos princípios preconizados a países que
praticam a reabilitação eqüestre, quais sejam:

- promover forma de contato com o cavalo para melhorar a vida do portador de deficiências (melhor qualidade de vida);

- definir as diferentes possibilidades de emprego do cavalo; e

- estabelecer as normas para a idoneidade e a qualificação pessoal.

Na Itália existe um grande controle sobre as atividades equoterápicas. Os Centros podem ser reconhecidos e
assegurados ou filiados a ANIRE e com esta condição ela pode ter acesso às informações totais sobre os mesmos.

Existem duas categorias de Centros, ou seja, os agregados e os filiados. Os Centros agregados têm liberdade de ação e,
após dois anos de funcionamento, satisfazendo as exigências, podem solicitar serem reconhecidos pela ANIRE, como
Centros filiados.

No Centro de Foli (Itália), as sessões de equoterapia acontecem duas vezes por semana e duram o tempo de uma hora,
incluindo limpeza e preparativos com o cavalo, além de passeios externos. A sessão propriamente dita tem o tempo de

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30 minutos.

Em alguns países, como a Suíça, os centros são pequenas chácaras, onde o trabalho é complexo e muitas vezes
alternativo, em meio à natureza (SALVAGNI, 1999).

A autora acima destaca que a técnica, o conhecimento no campo da reabilitação e o conhecimento hípico são
fundamentais e podem ser aperfeiçoados com criatividade, estímulo adequado e boa integração da equipe de trabalho.

No Brasil existem atualmente, cerca de 200 (duzentos) Centros de Equoterapia espalhados por todo o território, sendo
uns filiados e outros agregados, mas com toda certeza, todos com o objetivo maior de dar à Pessoa Portadora de
Necessidades Especiais oportunidades para que tenham, cada vez mais, uma melhor qualidade de vida.

6. O Cavalo (Agente Cinesioterapêutico)

Não seria ético, crê-se, falar em equoterapia e suas diversas formas de abordagens em prol da reabilitação do praticante,
sem enfocar a figura arquetípica do cavalo (Equus cabalus), “objeto” principal do processo.

De acordo com Naviaux (1988), o cavalo é um dos animais mais importantes da história da humanidade, tendo chegado
à sua forma atual em um processo de cerca de 58 milhões de anos.

Não se precisa a origem, mas consideram-se três grupos principais, que são: o Libanês, ao norte da África, o Árabe, na
Arábia e o Flamengo, na Europa Central.

Há registros em cavernas que indicam que o homem já montava o cavalo, com diferentes objetivos, há cerca de 5.000
(cinco mil) anos.

Um cavalo bem tratado vive cerca de 30 anos e para que seja utilizado para qualquer fim, deve estar sempre bem
alimentado, limpo e adestrado, propiciando assim uma diminuição, ou mesmo extinção, de possibilidades de doenças,
vícios e aumento da segurança, tão importante no processo equoterapêutico.

De acordo com a ANDE-BRASIL (1991?), o cavalo é imprescindível na prática de equoterapia em suas várias
modalidades, pois só ele proporciona ao praticante, através de seus movimentos tridimensionais, as condições ideais
para uma boa reabilitação. A andadura ideal para a prática de hipoterapia é o passo.

A respeito da andadura ideal para a prática de hipoterapia, o passo, Cittério (1999), com base no paralelismo entre o
deambular humano e o do cavalo, diferença em torno de apenas 5%, citado por Baumann, informa que o praticante
colocado em postura correta, recebe do cavalo a ação do movimento tridimensional, ou seja, lhe são transmitidas
aferências corretas a nível espinhal, cerebelar e cortical, sendo esses sob os efeitos das patas anteriores do cavalo
montado. Há, portanto, um grande favorecimento de vitalidade terapêutica.

A respeito das características do cavalo para equoterapia, de acordo com a ANDE-BRASIL, pode-se dizer que:

- com relação à idade, entre o jovem, o adulto e o cavalo já em declínio, prefere-se o adulto, dócil;

- com relação ao sexo, é indiferente mas, há uma grande preferência por machos, castrados, pois permite maior
segurança em termos gerais;

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 55
- quanto à raça, há diferenças específicas entre as utilizadas em equoterapia (hipoterapia – recreativa – reeducação);

- atendo-se à índole, prefere -se os de comportamento linfáticos;

- em termos de altura, para facilitar a ação dos profissionais sobre o praticante, em torno de 1,50 m;

- quanto à constituição física, nos flancos deve ser discreto, as espáduas largas e musculosas e a coluna não “selada”; e

- atendo-se à alimentação, normalmente 3 (três) rações ao dia (manhã, tarde e noite), alfafa, milho, ração, aveia, verdejo
e mistura. Sal mineral e água, sendo que esta não deve ser oferecida junto com a forragem. Há toda uma variação da
alimentação em relação ao trabalho realizado.

De acordo com a Etologia, ciência que estuda o comportamento dos animais, o cavalo tem cerca de 90 a 95% de
comportamento instintivo e 5 a 10% se referem ao ambiente. Quanto à Lei da Coerência, o animal a respeita, mas o ser
humano tem a condição voluntária e consciente do desrespeito. Forçado a desrespeitar, pelo homem, o cavalo pode
adquirir algum tipo de patologia.

Quanto ao treinamento, deve ser sempre de acordo com a necessidade. O animal, por ter comportamento instintivo
quase que totalmente, não deve ser empregado sem antes for verificado se ele está respondendo a contento,
principalmente quando fica “parado” por mais de três dias.

Não se deve sobrecarregar o animal, principalmente o que é destinado à equoterapia. O trato deve ser impregnado de
cuidado e carinho, pois o cavalo tem comportamento associativo.

À rotina deve dada uma atenção especial, pois, tanto pode promover facilidades em um determinado trabalho como
pode ser causa de algum acidente. Tratador e os membros da equipe devem estar atentos para estes detalhes.

A baia, seu local de abrigo, deve ser aberta, coberta e com cocho para forragem, pois assim ele entra e sai à vontade,
prevenindo o possível estresse que baias trancadas provocam. O animal deve ter companhia de outro da mesma espécie
ou, na impossibilidade, de outra, como carneiro, gado, etc., pois isso, além de prevenir o estresse, também promove
segurança, pelo fato de ser o cavalo um animal de manada.

Quanto às andaduras tem-se a dizer que:

- passo é rolado, isto é, anterior direito, posterior esquerdo, anterior esquerdo e posterior direito, levantando só um pé de
cada vez do terreno. Nessa andadura, se o animal transpista, a mobilidade do seu corpo é maior e ele pode andar mais
tempo, havendo, entretanto, que se intercalar o trote ou mesmo o galope;

- trote é uma andadura saltada. Bípede diagonal (2 tempos), simétrica (o movimento da coluna é em relação ao eixo
longitudinal), fixada ( o pescoço quase não se mexe). Normalmente é usada para o adestramento; e

- galope, que é saltada, assimétrica e basculada (o pescoço se mexe muito).

Tendo em vis ta as considerações acima, é importante que a equipe esteja atenta às características, cuidados e preparação
do animal, visando uma prática segura e de qualidade.

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Hipoterapia

1. Definição

Hipoterapia, dentro da equoterapia, é o programa essencialmente direcionado para a área de saúde e voltado para
pessoas portadoras de deficiências físicas e / ou mentais, ou seja, pessoas que apresentam distúrbios físicos e / ou
psicológicos que as impeçam de exercerem plenamente atividades de caráter normal.

A técnica busca melhorar a qualidade de vida destas pessoas, oferecendo condições de mínimas para boas, de sono,
alimentação, relacionamento, cooperação, entre outras, no cotidiano do praticante. Proporciona ainda a estes e aos que
os cercam, como familiares, amigos, parentes e cuidadores, mais prazer e satisfação em geral.

2. Equipe Interdisciplinar

Conforme preconiza a ANDE-BRASIL, seguindo princípios da Federação Internacional, a equipe interdisciplinar


mínima necessária para os procedimentos da hipoterapia deve ser composta por um profissional de saúde, como o caso
a ser atendido requer, por um professor ou instrutor de equitação e um profissional da área de educação.

O profissional de equitação, deverá ter, no mínimo, um curso básico de equitação e ele é a chave do ensino eqüestre,
não podendo, assim, o atendimento ao praticante de hipoterapia prescindir deste profissional.

O curso básico de equitação dará condições ao profissional de conhecimentos sobre o cavalo e sobre o ensino de
equitação. Este deve possuir qualidades morais específicas e procedimentos claros e definidos na condução de seu
trabalho. O que ele fala deve ser sempre levado em consideração e deve ser ele, comedido, atencioso e severo no que
deve ser realizado. Sem estar em condições, o profissional de equitação não pode ensinar outros, mormente pessoas
portadoras de deficiências.

O profissional também deve conhecer métodos e exercícios que desenvolvam as aptidões dos praticantes nos aspectos
psicológico (moral), físico (motor) e da aquisição de confiança. Deve ter também conhecimento da deficiência, da
prática e do trato com o portador e deve possuir qualidades que são necessárias à equipe interdisciplinar, como
paciência, pertinácia, benevolência, energia, prudência, cortesia, entre outras.

Alves (1999), de acordo com suas observações e estudos, afirma que trabalhando de forma integrada, ou seja,
interdisciplinarmente, se consegue melhorar a qualidade de vida do praticante de Equoterapia.

Na hipoterapia, via de regra, o praticante não tem condições físicas e / ou mentais de se manter montado sozinho,
necessitando assim de um profissional de saúde, ou mais de um, conforme cada caso requer, para que, segundo a
programação relativa a cada praticante de forma individual, seja cumprida. Pode também ser necessário que se mobilize
um auxiliar-guia para conduzir o cavalo e, mesmo eventualmente, auxiliares laterais para manter o praticante
devidamente montado e proporcionar segurança. O mediador (profissional de saúde) poderá estar montado ou a pé.

Fazendo parte de uma Equipe Técnica Interdisciplinar, segundo Candiota (1999), o psicólogo tem como atribuições:
receber o praticante e realizar a entrevista de anamnese com os pais ou responsáveis; realizar a avaliação psicológica;
participar da elaboração do plano terapêutico; proceder à integração do praticante ao método terapêutico; acompanhar a
terapia sempre que necessário; orientar a equipe técnica nas questões de ordem psicológica; realizar estudos de casos
com a equipe; reavaliar sistematicamente o praticante, reajustando a conduta terapêutica, se for o caso; e atuar como
mediador entre pais e equipe.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 57
3. Efeitos Promovidos pela Prática da Hipoterapia

A hipoterapia vem se destacando cada vez mais como terapêutica indicada para portadores de necessidades especiais.
Torna-se necessário, portanto, uma maior divulgação dos casos e dos resultados obtidos com esta prática.

De acordo com a ANDE-BRASIL (1994), o praticante de equoterapia constitui o grande objetivo da atividade, na qual
se busca, basicamente, o desenvolvimento biopsicossocial e a melhoria da qualidade de vida.

Mendes (1998), destaca que o cavalo, na atividade equoterápica, é um facilitador do aprendizado de todos os
praticantes, porque aquele desenvolve nestes a auto-estima e a auto-imagem, tão logo haja uma aproximação entre
ambos, fazendo com que a barreira do medo em montá-lo e até comandá-lo, seja transposta, uma vez que é essa
barreira, muitas vezes, a que dificulta o convívio social.

Assim, diz a autora, o praticante já se considera um vitorioso e essas conquistas são fundamentais para todo ser
humano. Desta maneira, o praticante entrega-se ao aprendizado com mais vontade.

A mesma autora ainda destaca que a pessoa portadora de deficiência física ou mental, desta forma, sente-se aceita pelo
cavalo, gerando assim um vínculo afetivo que conduz a uma melhor possibilidade de aprender e conviver. Qualquer
pessoa, sendo “normal” ou portadora de deficiência, graças à plasticidade cerebral, tem possibilidades de criar novos
engramas, ou seja, que uma outra área do cérebro exerça a função da área lesada. Isto a prática de equoterapia facilita,
pois é um trabalho realizado com fatos concretos, palpáveis.

A hipoterapia proporciona mudanças, tanto no campo neuromotor como no psicológico, facilita a socialização, favorece
a motricidade fina, busca a autonomia e, para alguns, marca o início da expressão verbal (ISONI, 1998).

Candiota (1999), pedagoga do Centro de Equoterapia Osório, em Porto Alegre (RS) e equipe, colocam que este método
terapêutico, a equoterapia e sua modalidade hipoterapia, tem proporcionado desenvolvimento e crescimento global no
praticante, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.

De acordo com Pacchiele (1999), a hipoterapia é um recurso para recuperação de habilidades funcionais em afetados
por AVC, preferentemente nos dois primeiros anos após ocorrência. O cavalo, neste caso, é um agente promotor de
ganhos físicos e psicológicos por parte do acidentado.

Rogers (1978) apud Sassaki (1999), afirma que a sociedade – família, instituição, profissionais, etc. – não tem
consciência de que o portador de deficiência possui poder pessoal e pode fazer escolhas, bem como tomar decisões por
si só.

Ao ter uma visão mais realista do mundo, uma auto-estima elevada e estar mais consciente de si mesmo, como se
aceitar com suas limitações e potencialidades para realizações, sentir-se aceito e organizar-se no mundo com atitudes
positivas, o ser humano sente-se parte de todas as coisas vivas, pois este impulso é inerente da sua natureza e assim ele
pode expandir-se, estender-se, tornar-se autônomo, desenvolver-se, amadurecer e ativar todas as suas capacidades
organísmicas (ROGERS, 1961 citado por CARECHO, 2002).

O Dr. Hermam Kabat desenvolveu, em 1950, uma filosofia de tratamento – O Método de Facilitação Neuromuscular
Proprioceptivo, cuja terapêutica era capaz de atingir função motora eficiente, baseando-se em que todo ser humano,
inclusive portadores de deficiências, tem potencial ainda inexplorado. Essa terapêutica veio ao encontro da equoterapia
(e hipoterapia), cuja proposta de trabalho tem como fundamento principal o enfoque global e positivo da pessoa,
reforçando e utilizando o que existe de positivo em nível físico e psicológico no praticante, facilitando o resgate de seu
potencial residual (SHERRINGTON, 1947, citado por SILVEIRA , 1999).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 58
Segundo Duran (1999), a equoterapia apresenta características únicas. O instrumento terapêutico é um ser animado,
dotado de reações de comportamento, cinético e que estabelece relação ativa com o indivíduo praticante e com os
membros da equipe interdisciplinar. O ambiente no qual é realizada a terapia difere totalmente dos outros conhecidos,
oferecendo assim um ambiente “real”, isto é, os estímulos são únicos e não podem ser reproduzidos em nenhum outro
lugar onde são feitas outras terapias e nem mesmo, fielmente, neste local. É a única terapia que oferece ao indivíduo
praticante, mesmo os que não possuem marcha independente, a possibilidade da percepção do ambiente em movimento.

No trabalho com pessoas portadoras de necessidades especiais, qualquer intervenção precisa ter, como
primeiro objetivo, o desenvolvimento da auto imagem positiva e auto confiança. A partir deste momento, a
pessoa com necessidades educativas especiais, consegue investir seus melhores esforços na conquista das
metas ou atividades propostas (PIAGET , citado por MENDES, 1997, p. 3).

De acordo com a ANDE-BRASIL, a prática da hipoterapia deve ser, sempre, precedida por diagnóstico, indicação
médica e avaliação por profissionais da equipe interdisciplinar.

Ratto (1999) e equipe, afirmam com base em trabalho de pesquisa, tendo cinco sujeitos com diferentes tipos de
deficiência como praticantes de hipoterapia que, após dois anos de prática, tendo objetivos específicos para cada um,
estes se desenvolveram tanto no aspecto pessoal como no social. Demonstraram essa condição de desenvolvimento em
evento realizado para familiares, parentes, amigos e profissionais da equipe, ao final do processo.

Marins (1999), discorre sobre equoterapia em hansenianos e aponta que ela é atividade dirigida e necessária como
recurso terapêutico para facilitar e desenvolver o tratamento dos portadores desse mal. Esta terapêutica facilita-lhes a
conscientização das suas limitações e favorece a auto-estima, que está prejudicada devido a alterações físicas internas e
dolorosas e à segregação social. Por vezes, o corpo normalmente esquecido, na prática da equoterapia, é lembrado.

Nesse caso, o valor terapêutico e sua resposta dependem do tipo de abordagem que o profissional de saúde,
normalmente o TO (Terapeuta Ocupacional), mantiver com o paciente-praticante.

Cittério (1999), diz que o praticante de hipoterapia se dispõe melhor a outros tipos de tratamento a que esteja sendo
submetido e se inter-relaciona mais adequadamente com a família e o ambiente, afirmação esta baseada em estudo
catamnéstico, realizado pelo Comitê Científico do Centro Executivo Nacional da Associazione Nazionale Italiana de
Riabilitazione Equestre (ANIRE), em colaboração com a Universidade de Estudos de Pavia.

A mesma autora afirma que tal verificação permite à família adotar uma relação mais adequada frente ao portador,
redefinindo um novo modelo de relações entre pais e filho.

Padovani (1999), em conclusão de trabalho realizado durante dois anos e oito meses com praticantes portadores de
autismo infantil e síndromes associadas com traços de autistas, afirma que, por meio da equoterapia conseguiu despertar
nestes o interesse por um outro sentido de vida. Es ses praticantes deram abertura para que fosse possível o trabalho com
eles, conhecê-los, entendê-los e entrar em seu mundo, com objetivos de realizar contribuições que lhes proporcionassem
melhores condições de vida e prazer por meio do cavalo, ser vivo irracional, mas que transmite calor, amizade,
segurança e afetividade, sem nada cobrar.

Brandão (1999), coloca que Bronfenbrenner, em sua teoria ecológica, inclui o tratamento como abordagem global e
sistêmica na terapia infantil, considerando ele que esta modalidade é capaz de influenciar o sujeito bem como dar a ele
condições de agir sobre o ambiente, relacionando-se assim com a equoterapia, que é uma atividade externa, ou seja,
praticada, não raras vezes, ao ar livre.

Garrigue (1999), com respeito ao projeto terapêutico, observa que este deve ser individualizado, tanto na preparação
quanto na avaliação, sendo necessária a definição das indicações exatas para cada um e que, no caso de se ter como
meta a melhora do relacionamento, alguns pontos têm que ser observados, como:

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 59
- observação do relacionamento e sua duração;

- a autoconfiança e a superação da ansiedade;

- autocontrole e a firmeza, em decorrência da disciplina adquirida no manuseio da montaria, tanto em cavalos como em
pôneis;

- a memorização de conhecimento adquirido; e

- relaxamento ou a descontração.

Quanto aos progressos, serão observados ou em um destes pontos ou em mais de um, ou mesmo em todos.

Ainda diz este autor que, para facilitar a integração do praticante portador de deficiência na sociedade, as capacidades
de contato com o meio ambiente deverão ser ampliadas continuamente.

De todo tratamento se espera um resultado e por isso é necessário que exista um método de avaliação, que englobe
procedimentos antes, durante e depois do processo, tanto em partes como no todo. Deve haver concordância quanto ao
processo a ser aplicado, tanto do praticante, quando for capaz de se expressar, como de seu responsável legal
(GARRIGUE, 1999).

Teixeira (1999) e equipe realizaram pesquisa, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com um grupo de seis
crianças portadoras de deficiência visual congênita (cegos), praticantes de equoterapia, chegando à conclusão de que a
hipoterapia em deficientes visuais é um valioso auxílio que pode suprir o déficit cada vez mais evidente.

As crianças de nossa sociedade estão cada vez mais sem condições de se conhecerem a si próprias, relatam autora e
equipe acima, em seu TCC (Curso de Fisioterapia), porque a competitividade exigida de seus pais não deixa tempo a
estes para que possam acompanhar seus filhos e permitir a eles um brincar livre, que os faça desenvolver. Por esta
razão, afirmam que a prática de hipoterapia (equitação especializada), no caso de crianças deficientes visuais, que foi
seu foco, pode suprir este déficit, além de motivar a criança a se contatar mais intimamente com a natureza.

Afirmam ainda que o cavalo é um excelente mediador no suprimento do déficit da estimulação tátil-proprioceptiva e
vestibular e também, muitas vezes, afetiva. Ajuda no controle da agressividade e da timidez e auxilia na regulação da
hiperatividade.

O bebê que possui visão estabelece relação de troca afetiva imediata com a mãe, o que é importante para ambos. Se o
bebê não tem visão, isto é, não enxerga, isto não acontece e, neste caso, a mãe deve receber informações adequadas
sobre esta situação, para que o filho seja referenciado por meio de outros estímulos porque, caso isto não aconteça, o
afetivo pode ser rompido e trazer conseqüências graves. Por ser a criança cega, ela está, normalmente, menos exposta às
diferenças de sensações e situações, pois, o que é normal para uma criança vidente, como jogos e brincadeiras, que
estimulam o movimentar-se livremente, naquela está prejudicado, tendo em vista que passa a maior parte do tempo
fechada em casa, ouvindo música, deixando outras atividades que poderiam predispor ao seu desenvolvimento mais a
contento.

O trabalho foi realizado de maneira subjetiva, com a observação da evolução do grupo, dos comportamentos dos
praticantes e de questionários respondidos pelas crianças e / ou seus pais, sendo possível verificar que a técnica foi
válida na reabilitação de distúrbios psicomotores que o grupo apresentava.

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Dizem ainda, ela e equipe, que a hipoterapia proporciona às crianças experiências neuromusculares e integração
sensorial, que são alicerces para sua estruturação, facilitando seu futuro aprendizado intelectual.

O ser humano, conforme Menzind (1998) citado por Teixeira (1999, p. 64), quando se ocupa com o cavalo, ou monta-o,
é solicitado integralmente:

- fisicamente: suas ações têm sentido;

- mentalmente: aprende com alegria;

- emocionalmente: estabelece uma relação; e

- socialmente: convive com um grupo.

Atendo-se à posição da pelve, diz a autora acima que a maioria das pessoas, por tê-la mal posicionada, tem sua postura
alterada e, a cavalo, ocorre a reeducação dessa postura, de forma dinâmica.

O deficiente visual também apresenta problemas de postura, assim como desenvolve maneirismos que decorrem de falta
de estímulos visuais, porque se vale do processo de aprendizagem de modelos, podendo apresentar rigidez corporal,
falta de coordenação no andar, movimentos em excesso ou mesmo mal dirigidos e expressões facial inadequadas ou
mesmo ausência de expressão. Estas características são mais observadas em deficientes visuais congênitos, como as
crianças do grupo de pesquisa.

Ela percebeu que a demanda do grupo de crianças deficientes visuais, com o qual trabalhava, aumentava quanto à
autonomia, independência e socialização e, por isso, repensou, reavaliou e modificou os objetivos do processo
terapêutico para atender a esta demanda. Os integrantes, praticantes de hipoterapia, buscando papéis dentro do grupo,
passaram a se relacionar e a se socializar, tanto em relação ao cavalo e equipe como intragrupo. Esse comportamento
resultou em aumento da autonomia, auto-estima e confiança. Esses ganhos estenderam-se aos relacionamentos fora da
hípica, com os pais e outros.

A autora e equipe chegaram à conclusão de que, com a prática de hipoterapia, houve melhora na qualidade de vida
dessas crianças e que aspectos físicos, psíquicos, cognitivos e sociais estão interligados, sem dúvida, sendo difícil sua
mensuração separadamente.

Em sua pesquisa com crianças deficientes visuais, Silva (1999), após quatro meses, já registrava mudanças
significativas no comportamento das mesmas, tais como maior mobilidade e orientação, interação dentro e fora do
ambiente com o cavalo, diminuição da timidez e mesmo cura de fobia a animais.

A equitação estimula o desenvolvimento emocional e o crescimento pessoal. Assim a presença do cavalo no contexto
terapêutico é importante e imprescindível, e este contexto, por lembrar o meio familiar, dá ao praticante a sensação de
hospitalidade, facilitando o desenvolvimento da atividade. A equoterapia proporciona uma relação mais próxima entre
praticante, pais e terapeutas (SANTOS, 2000).

A autora acima afirma também que a prática de equoterapia promove no praticante modificações psicológicas, pois o
Sistema Nervoso Central (SNC) tem sua atividade autônoma ligada, em sua maior parte, à vida de relação. Essa vida
nasce, não só de solicitações de caráter mecânico, mas também de impulsos superiores que envolvem o caráter emotivo
e intelectual do complexo psicomotor, que se manifesta de modo parcial por estímulos quantitativos e qualitativos. A
causa da carência de estímulos pode ser a diminuição dos impulsos referidos.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 61
Amaral (2000), diz que a equoterapia desenvolve, por meio de brincadeiras, aspectos motores e emocionais da criança,
bem como lhe facilita a aprendizagem. Como resultado observa-se uma auto-estima aumentada, além de mais confiança
em si própria e maior afetividade nas relações pessoais.

Pacchiele (2002), realizou um trabalho, tendo como sujeito um praticante de equoterapia de 47 anos de idade,
acometido de tetraplegia aos 20, devido a acidente automobilístico. Após um ano do processo equoterapêutico
devidamente estruturado e tendo o sujeito sido avaliado antes e depois, tanto pela equipe como por profissionais
externos, inclusive um que já o havia atendido, concluiu-se que a proposta foi alcançada. Ela se somou aos objetivos e
às necessidades do praticante, proporcionando a ele, primeiramente, melhor qualidade de vida, no sentido de ampliar
suas atividades, experimentar novas vivências motoras, vencendo suas próprias limitações. Paralelamente, a atividade
eqüestre melhorou sua postura, seu equilíbrio e sua locomoção, tudo também atestado por profissional externo. A autora
afirma assim, tendo como respaldo este trabalho, que as necessidades do praticante devem ser sempre respeitadas e se
deve levar em conta seu ritmo, suas potencialidades residuais, para que se consiga um plano de atendimento que vá ao
encontro do que se espera com a prática da equoterapia.

Afirma Malta (2002), que a equoterapia realiza um encontro com a necessidade de amenizar uma trajetória,, por vezes
longa, de pacientes que, não raras vezes, são acompanhados por diversos profissionais, muitas vezes em dife rentes
locais, pois o praticante é atendido por uma equipe multiprofissional ao mesmo tempo e no mesmo local.

4. Contra-indicações

Como em todo processo terapêutico existem contra-indicações. Neste caso, elas serão determinadas em função do
praticante ou mesmo pelo tipo de afetividade que o envolve. Estas contra-indicações podem se referir à escolha do
cavalo, do material, da velocidade a ser utilizada quando do processo e escolha do local da sessão (GARRIGUE, 1999).

De acordo com este mesmo autor, como contra-indicações pode-se citar ainda:

- que pôneis e cavalos pequenos são contra-indicados para pessoas grandes e pesadas;

- que cavalos grandes são contra-indicados para crianças menores de seis anos;

- que cavalos ou pôneis sensíveis aos estímulos das pernas do cavaleiro são contra-indicados para indivíduos que sofrem
de contraturas de membros inferiores;

- que o trote é contra-indicado para portadores de escoliose evolutiva e desaconselhável para indivíduos sujeitos a
ataques de espasticidade (contratura muscular);

- que as selas grandes ou os detentores fixos serão contra-indicados para os indivíduos sujeitos a contrações de
músculos adutores das coxas; e

- que as apresentações no exterior ou passeios em terrenos acidentados ou obstruídos são contra-indicados para
indivíduos principiantes, temerosos ou ansiosos.

Outras medidas clássicas de precaução para segurança devem ser tomadas quando da prática de hipoterapia, como o
esvaziamento da bexiga de paraplégicos ou de fazer com que os enuréticos emocionais urinem antes da sessão.

Quanto às modalidades de aplicação de um projeto terapêutico, o mesmo autor diz que, quando a sessão é de uma hora

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 62
ou de uma hora e meia, deverá ser dividida em alguns momentos, tudo de acordo com a deficiência, patologia ou
inadequação do praticante. Diz ele que o momento de aproximação é o mais rico em termos de relação com o animal e
deve ser priorizado para alguns.

Quanto à freqüência, uma vez por semana é considerado o ideal, podendo ser a cada quinze dias para alguns. É
importante que não haja perda do que foi aprendido e que não promova fadiga no praticante.

Há que se levar em conta as contra indicações quanto às deficiências e, em todos os casos, a prática de equoterapia
deverá ser precedida de exames e avaliações preliminares por equipe multiprofissional com a finalidade de liberação
(com ou sem restrições) ou não.

5. A Família do Praticante

A necessidade de orientação e mesmo acompanhamento psicológico aos familiares de praticantes de equoterapia é


muito importante, tanto quanto os cuidados técnicos, pois a família tem expectativas, como em outras formas de terapia,
muitas até fantasiosas, além de sentimentos vários, como de culpa, de medo, de insegurança e incertezas (Madureira &
d’Almeida e Souza, 2001). A valorização da família em muito auxiliará no trabalho com o praticante.

Tanto o ambiente familiar exerce influência sobre seus membros como estes modificam o ambiente, ou podem
modificá-lo. O praticante, quando percebe que faz parte deste contexto, no qual vive, onde ele é reconhecido e onde
suas dimensões podem ser ou são trabalhadas, ele pode, como ser biopsicossocial que é, desenvolver-se, tendo suas
aptidões e dons específicos em atividade e, a partir deste ponto, recebendo o apoio necessário, advirá uma melhor
qualidade de vida (d’Almeida e Souza, 2002). É por essa razão que a autora aponta a necessidade do atendimento
familiar quando um membro da família pratica equoterapia. Estes familiares serão, sem dúvida, aliados da equipe no
processo levado a efeito com o praticante. O atendimento, individual ou em grupo, oferece apoio emocional, suporte
adequado e atendimento terapêutico, se este se fizer necessário, como também informa à família sobre a evolução física
e emocional do praticante e estabelece o vínculo desta com a equipe.

Diz ainda a autora citada, que o embasamento teórico para o interesse em atender a família do praticante vem das
diversas crises que, perpassadas no tempo, chegam aos nossos dias e que, conseqüentemente, esse interesse motiva
providências para que a família e seus valores sejam conservados ou mesmo resgatados. Como forma de abordagem,
alude ao modelo terapêutico psicodramático de Moreno (1993).

Zamo (2002), afirma que na equoterapia o cavalo forma uma triangulação entre o praticante e a família. Por conta disso,
a família visualiza seu integrante como separado dela, descobrindo nele capacidades nunca anteriormente percebidas, o
que permite, após redefinição familiar, o auxílio na adequação dos comportamentos do praticante, predispondo a que se
interrompa o círculo vicioso patológico.

Referindo-se à Psicologia Social Comunitária, esta autora diz que ela amplia a consciência de que o praticante, portador
de deficiência, se sinta útil e mais responsável, reconhecendo-se como indivíduo, o que contribui para sua inserção na
sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo a equoterapia um método terapêutico, reconhecido como tal pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), através
da aprovação do parecer 6 / 97 em sessão plenária do dia 9 de abril de 1997, é de se esperar que a hipoterapia, programa
da equoterapia destinado à recuperação de pessoas portadoras de deficiências físicas e / ou mentais, que utiliza o cavalo
como agente cinesioterapêutico, produza melhoras nas condições de vida dos praticantes, tanto físicas como
psicológicas.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 63
A prática da equoterapia levará a mente e o corpo do praticante a um estado de equilíbrio, propiciando assim que ele se
alimente melhor, que tenha um período de sono mais reparador e se relacione de maneira mais saudável com o
ambiente, tornando-se mais participativo.

Sendo o homem um ser biopsicossocial e tendente a uma situação de auto-atualização, mesmo portador, terá
oportunidade maior de inclusão, por suas próprias condições, no convívio sócio-cultural do qual deve fazer parte
efetivamente, de fato e de direito.

A hipoterapia, devidamente prescrita por profissional de saúde e levada a efeito por uma equipe interdisciplinar, tendo
seu programa elaborado, aplicado, avaliado e revisado se assim for necessário, conforme requer cada caso, atingirá o
praticante também no seu psicológico, levando-o a uma melhor qualidade de vida.

De acordo com as colocações dos diversos autores, conclui-se que, tendo o praticante um estado psicológico estável,
autoconfiança aumentada e exercendo autocontrole sobre si, o que é proporcionado pela prática de hipoterapia (um dos
programas da equoterapia), certamente seu organismo se equilibrará no que diz respeito às funções fisiológicas, físicas e
mentais, propiciando-lhe uma melhor qualidade de vida.

Ademais, em se verificando que a prática da hipoterapia promove no praticante, portador de necessidades físicas e / ou
mentais, melhora na qualidade de vida, através da recuperação e / ou fortalecimento do seu estado psicofísico, poder-se-
á divulgar tal conclusão à população em geral, propiciando à mesma fazer uso de tal terapia, bem como à comunidade
de saúde, que poderá prescrevê-la a seus pacientes, se assim for indicado.

Nestes quase 16 (dezesseis ) anos a equoterapia, que está sendo praticada e propagada no Brasil, já com cerca de 8 (oito)
anos reconhecida cientificamente como método terapêutico de reabilitação / habilitação, reeducativo e pré-esportivo,
cresceu de forma ativa e abrangente, contando hoje com cerca de 200 (duzentos) Centros de Equoterapia em todo o
território nacional, ligados, uns mais outros menos, à ANDE-BRASIL, o que, de certa forma é uma vitória, mas também
uma preocupação, pois não se pode distanciar dos fundamentos que norteiam, tanto a Associação como o método
terapêutico.

Há atualmente, por parte da ANDE-BRASIL, gestões no sentido de que a Equoterapia seja incluída no Sistema Único
de Saúde (SUS) e para que a profissão de Instrutor de Equitação em Equoterapia seja reconhecida. Já exis te o seu
código no Catálogo Brasileiro de Ocupações (CBO).

A Universidade de Brasília (UnB) já tem reconhecidos, tanto o Curso de Instrutor de Equitação para Equoterapia como
o Curso Avançado de Equoterapia e ANDE-BRASIL procura colocá-los em prática.

Universidades há, como a Gama Filho, por exemplo, que já incluem em seu currículo eletivo a Hipoterapia.

Ainda existe pouca produção científica sobre Equoterapia, havendo necessidades de que estudos longitudinais ou de
seguimento sejam realizados, pois estes parecem proporcionar maior facilidade para que sejam replicados e / ou
comparados. A utilização de protocolos de avaliação com padronização em nosso meio, como o de qualidade de vida,
por exemplo, em muito vem facilitar a metodologia aplicada a Equoterapia.

Vale fazer uma colocação que, com cerca de 5 (cinco) anos atuando como auxiliar e equitador em um Centro de
Equoterapia mantido pela Associação de Apoio ao Portador de Necessidades Especiais de Minas Gerais (ASPAMG),
(SHINE), o autor afirma que, devidamente estruturado, aplicado e avaliado por uma equipe interdisciplinar, o processo
de reabilitação hipoterápico, levado a efeito conforme a necessidade de cada praticante, por certo proporcionará a este
uma melhor qualidade de vida, como vem acontecendo com os que lá se valem dessa terapia.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 64
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____________________
Recebido em 28/05/2005.
Aprovado em 27/08/2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 67
DO IMPACTO DO DIAGNÓSTICO
Susana Alamy 1
susanaalamy@yahoo.com.br

Do impacto do diagnóstico
Na dor do estranhamento
Fantasias de prognóstico
Da vida um ressentimento.

Sonhos com ponto final


Imaginando sem fim a dor
Com tratamento letal
Sem algum pudor

Sofrimento antecipado
Choro na garganta incontido
Nas mãos de Deus entregado
O dia arredio sofrido.

____________________
Recebido em 01/08/2005.
Aprovado em 10/08/2005.

1
Psicóloga Clínica e Hospitalar

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 68
O VALETE TEM BIGODE
Terezinha Pereira 1
terezapereira@nwm.com.br

- Tem bigode sim. Tem não.

- Flávia, depressa menina. Vem se aprontar para ir à escola.

Flávia joga as cartas para cima. Gosta de ver aquele punhado de cartas espalhadas pelo chão. Pega tudo e faz grupos de
acordo com as figuras, como diz. Coração, trevinho, coração de cabinho, selinho. Cartas com números acha feias.
Gosta é das cartas da corte. Rei, dama , valete. Cabeça para baixo. Cabeça para cima. Cara feia. Cara feliz. Juntas as
cartas, bate no chão para arrumar o monte e depois as joga para o alto de novo. Enfia a cabeça por baixo da chuva de
cartas. Pega a que caiu no seu ombro. "Chii! Não é valete." O valete. É a que acha mais bonita.

- Flávia, será que preciso buscá-la aí, menina? Está na hora da escola.

E não é que a mãe tem que ir buscá-la no quarto?

- Sabe mãe. Gosto da escola. Só não gosto quando a tia fala “está na hora do lanche”. Tem dia que estou brincando com
aquele dominó dos bichos, faltando só três pra encaixar, vai sobrar o leão, e tenho de juntar tudo e deixar pra depois.
Iiii, não puxa meu cabelo tanto, mãe. Coloca aquele elástico com bolas amarelas. Meu biquíni é amarelo, tá vendo, né
mãe. Não gosto de nadar com o cabelo sem prender. Mãe, á bom brincar na piscina! A bóia do Rafa é de cobra. Quero
uma bóia de peixe, mãe. Bóia de borboleta está errado. Nunca vi borboleta nadar. Outro dia o Rafa me emprestou a bóia
de cobra dele. Coloquei a cobra e fui puxar a perna da tia. Ela levou um susto! Eu ri. Ela disse que tem medo de cobra.
Você também tem medo de cobra, não tem, mãe? Tem dia, depois do lanche, a tia diz para a gente descansar. Deitar no
colchão. Esticar o corpo. Fazer que nem um gato em cima do tapete. Ela coloca um musiquinha bonita. Acho que é a
mesma daquele desenho do Tom e Jerry que gosto de ver. Depois ela fala pra gente fechar os olhinhos. Ontem eu
dormi de verdade. Quando abri os olhos, a tia e mais os colegas estavam todos de pé, fazendo psiu com o dedo
levantado assim. Só eu estava deitada. Eu ri, mãe. Todo mundo riu também. Amarelo é mais bonito que vermelho. Azul
é mais bonito que verde. Por quê você só usa roupa branca, mãe?

A menina fala, emenda conversa, não dá tempo para a mãe responder.

- Quero vestir é saia, mãe. Aquela azul. Por que o papai viaja todo dia? Gosto de ir para a escola com ele. Hoje vou é de
ônibus. Você já vai voltar para o hospital, né? Tem uma menina que vai no ônibus da escola comigo. O nome dela é
Magali. As crianças ficam perguntando a ela cadê a Mônica, cadê o Cascão. Ela não gostava não. Agora eu acho que ela
já gosta. Ela fica brincando que a Mônica ficou na casa dela. Que o Cascão é vizinho dela. Eu queria chamar um nome
de personagem de historinha de revista. Coloca bolacha de sal na mochila não, mãe. Coloca só duas bolachas de
recheio. Fruta também não precisa. Demora pra comer. Gosto é de brincar. Escuta, mãe. A buzina do ônibus. Amanhã
você me leva, viu? Tchau, mãe.

Flávia pega a mochila, dá um beijo estalado na mãe e sai saltitando. Pés alegres. Dançantes.

- Até logo, tesouro.

A mãe leva a menina até a porta da casa e fica olhando-a entrar no ônibus.

1
Aposentada. Escritora. Graduanda em Letras na UFMG (término do curso: junho/2005).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 69
Como gosto de ouvir essa vozinha. Hoje a deixei falando, falando, puro prazer. Nem sempre prazer. Meu pensamento
está é naquele bebê que foi internado no hospital com pneumonia. A família não tem recursos nem para lhe comprar um
carrinho, ainda mais para pagar tratamento e adquirir objetos próprios para oferecer mais conforto a uma criança que
sofreu paralisia cerebral.

- Doutora, quais são as chances de meu filho? Desta vez vai se curar pneumonia?

- Estamos fazendo o possível, D. Helena.

- Doutora, se mal lhe pergunto, a senhora tem filhos?

A doutora sorriu. Sempre sorri quando pensa em sua menina.

- Perguntei-lhe se tem filhos, doutora.

- Sim, tenho uma menina de quatro anos, quase cinco.

- Que foi esperada com carinho, com um belo enxoval, um berço macio, quarto enfeitado e cheio de brinquedos? O meu
filho, doutora, também foi esperado com muito amor. Berço simples, ganhado de amigos. Paninhos simples, ganhados
também. Lavados e perfumados com carinho. Um chocalho. Um só. E, sabe, doutora, até hoje meu filho nunca segurou
esse chocalho. Um ano de vida. Nunca brincou com as mãozinhas. Nunca chupou os dedinhos do pé. Nunca comeu
cocô. Nem bolacha. Nunca sorriu. Esta já é a quinta vez que tem pneumonia. Será por que uma criança nasce pra não
viver?

A doutora continua no quarto da filha, olha cada um de seus brinquedos. As bonecas. Os baralhos. Um punhado de
gavetas, umas cheias de roupas, outras cheias de brinquedos, alguns quebrados ou amassados pelo uso. Já havia
cuidado de crianças deficientes. D. Helena fora a primeira mãe a lhe questionar a doença com tamanha amargura. Isso
a inquieta. Senta-se no chão. Pega as cartas ainda espalhadas. Junta todas e joga-as para cima. Pega uma qualquer. Ás
de ouros não quero. Prefiro valete. Cartas de baralho, a gente escolhe. Eu fico com esta. É mais bonita. E filho?
Parece ouvir a voz da filha. Mãe, o valete tem bigode! Mãe, o valete tem bigode?Tem, mãe?

_____________________
Recebido em 02/06/2005.
Aprovado em 27/08/2005.

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Universidade Federal do Acre - UFAC Universidade Federal de Itajubá -UNIFEI
http://www.ufac.br http://www.efei.br

ALAGOAS JUIZ DE FORA


Universidade Federal de Alagoas - UFAL Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
http://www.ufal.br http://www.ufjf.edu.br

AMAPÁ LAVRAS
Universidade Federal do Amapá - UNIFAP Universidade Federal de Lavras - UFLA
http://www.unifap.br http://www.ufla.br

AMAZONAS MARANHÃO
Universidade Federal do Amazonas UFAM Universidade Federal do Maranhão - UFMA
http://www.fua.br http://www.ufma.br

AMAZÔNIA MATO GROSSO


Universidade Federal Rural da Amazonia - UFRA Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
http://www.ufra.edu.br http://www.ufmt.br

BAHIA MATO GROSSO DO SUL


Universidade Federal da Bahia - UFBA Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
http://www.ufba.br http://www.ufms.br

BRASÍLIA MINAS GERAIS


Universidade de Brasília - UNB Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
http://www.unb.br http://www.ufmg.br

CAMPINA GRANDE OURO PRETO


Universidade Federal de Campina Grande - UFCG Fundação Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
http://www.ufcg.edu.br http://www.ufop.br

CEARÁ PARÁ
Universidade Federal do Ceará - UFC Universidade Federal do Pará - UFPA
http://www.ufc.br http://www.ufpa.br

ESPÍRITO SANTO PARAÍBA


Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Universidade Federal da Paraíba - UFPB
http://www.ufes.br http://www.ufpb.br

GOIÁS PARANÁ
Universidade Federal de Goiás - UFG Universidade Federal do Paraná - UFPR
http://www.ufg.br http://www.ufpr.br

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez 2005, Ano 1, Vol. 1, n.2. 71
PELOTAS SANTA CATARINA
Fundação Universidade Federal de Pelotas - UFPel Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
http://www.ufpel.tche.br http://www.ufsc.br

PERNAMBUCO SANTA MARIA


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
http://www.ufpe.br http://www.ufsm.br

PERNAMBUCO SÃO CARLOS


Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
http://www.ufrpe.br http://www.ufscar.br

PIAUÍ SÃO JOÃO DEL REI


Universidade Federal do Piauí - UFPI Universidade Federal de São João Del Rei - UFSJ
http://www.ufpi.br http://www.ufsj.edu.br

RIO DE JANEIRO SÃO PAULO


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Universidade Federal de São Paulo - Unifesp
http://www.ufrj.br http://www.unifesp.br

RIO DE JANEIRO SÃO PAULO


Universidade Federal Fluminense - UFF Universidade de São Paulo - USP
http://www.uff.br http://www.usp.br

RIO DE JANEIRO SERGIPE


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ Universidade Federal de Sergipe - UFS
http://www.ufrrj.br http://www.ufs.br

RIO GRANDE TOCANTIS


Universidade Federal do Rio Grande - FURG Universidade Federal do Tocantis - UFT
http://www.furg.br http://www.uft.edu.br

RIO GRANDE DO NORTE UBERLÂNDIA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Universidade Federal de Uberlândia - UFU
http://www.ufrn.br http://www.ufu.br

RIO GRANDE DO SUL VIÇOSA


Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Universidade Federal de Viçosa - UFV
http://www.ufrgs.br http://www.ufv.br

RONDÔNIA
Universidade Federal de Rondônia - UNIR
http://www.unir.br

RORAIMA
Universidade Federal de Roraima - UFRR
http://www.ufrr.br

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EVENTOS

CURSO: PSICOLOGIA HOSPITALAR EM HOSPITAL GERAL - I CONGRESO INTERNACIONAL Y VIRTUAL EN


PHHG 2005 PROSTITUCIÓN: COMERCIO DE PERSONAS SIN FRONTERAS
Virtual
14 de setembro a 14 de dezembro de 2005 20 de septiembre a 10 de octubre de 2005
Belo Horizonte/MG
Site: http://www.campusextens.es/congreso
Tel.: (31) 9141-9106 e (31) 9737-3489
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br
Site: http://geocities.yahoo.com.br/psicologiahospitalar/
II SIMPÓSIO DE SAÚDE MENTAL: AGINDO PARA ALÉM DO
PRESCRITO
Fafich - UFMG - Belo Horizonte/MG
CURSO DE ESPECIALIZACIÓN EN ESTRÉS POSTRAUMÁTICO 06 e 07 de outubro de 2005
17 y 18 de Septiembre de 2005 Site: http://www.fafich.ufmg.br/~prisma/infosimposio.htm
Universidad San Pablo CEU - Madrid
Site: http://www.traumainstitutc.net/es/index.html
I CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIA
II ENCONTRO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIA
CURSO EL CÁNCER ES COSA DE DOS: DINÁMICA FAMILIAR. Associação Médica de Minas Gerais
LA PAREJA COMO CENTRO DE SISTEMA DE CONFLICTO, Belo Horizonte/MG
AYUDA E INTERACCIÓN 10 e 11 de outubro de 2005
Barcelona - España Site: http://www.psicoterapia.abrap.org
05 de octubre de 2005
E-mail: fefoc@fefoc.org
XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE PSIQUIATRIA
Minas Centro - Belo Horizonte/MG
CURSO ENTRANDO EM CONTATO COM AS PERDAS 12 a 15 de outubro de 2005
ATRAVÉS DA LITERATURA INFANTIL E-mail: gerencia@abpbrasil.org.br
20 de outubro a 26 de novembro de 2005 Site: http://www.abpbrasil.org.br/congresso
São Paulo/SP
E-mail: lucelia_paiva@uol.com.br
IX CONGRESO NACIONAL DE PSIQUIATRÍA
Pamplona - España
24 a 28 de octubre de 2005
CURSO DE VERÃO DE PSICOLOGIA HOSPITALAR 2006 - CVPH
Site: http://www.psiquiatriapamplona05.com
2006
Período das aulas: 16 a 27 de janeiro de 2006
Matrícula: 03/11/2005 a 06/01/2005
Belo Horizonte/MG I FÓRUM INTERNACIONAL DA FENASP (Federação Nacional das
Associações Pestalozzi)
Tel.: (31) 9141-9106 e (31) 9737-3489
Associação Pestalozzi de Niterói - RJ
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br
28 de outubro a 01 de novembro de 2005
Site: http://geocities.yahoo.com.br/psicologiahospitalar/
E-mail: fenasp@ism.org.br
Site: http://www.pestalozzi.org.br

V JORNADA DE PSICOLOGIA ONCOLÓGICA DO INCA


01 e 02 de setembro de 2005 I CONGRESO IBEROLATINOAMERICANO DE TRAST ORNOS
Instituto Nacional do Câncer – Rio de Janeiro/RJ DEL DESARROLLO
Tel.: (21) 2506-6152 10 al 12 de Noviembre de 2005
E-mail: ce_hc1@inca.gov.br Mar del Plata
Site: http://www.inca.gov.br/eventos/ E-mail: info@cubaquen.com.ar
Site: http://www.cubaquen.com.ar

V ENCONTRO NACIONAL DA ABEP (Associação Brasileira de


Ensino de Psicologia) VIII JORNADAS CATALANAS DE ACTUALIZACIÓN EN
Tema: Formação em transformação em formação... MEDICINA FORENSE
07 a 10 de setembro de 2005 Instituto de Medicina Legal de Cataluña
PUC São Paulo Barcelona - España
Tel.: 0800 7706605 16 a 18 de noviembre de 2005
Site: http://www.abepsi.org.br/encontro/ E-mail: mercedes.moyano@xij.gencat.net

III SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE HEMOGLOBINOPATIAS III CONGRESO LATINOAMERICANO DE PSICOLOGÍA DE LA


08 a 10 de setembro de 2005 SALUD
Recife/PE La Habana - Cuba
Site: http://www.hemoglobinopatias2005.com.br 05 a 09 de diciembre de 2005
E-mail: congreso@alapsa.org
Site: http://www.alapsa.org/3congreso
IX CONGRESO NACIONAL DE PSICOLOGIA SOCIAL
La Coruña - España
__________________________
20 a 23 de septiembre de 2005
E-mail: 9cps2005@udc.es Para divulgar seu evento contacte-nos pelo e-mail:
Site: http://www.udc.es/dep/ps revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br

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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano I, Volume 1, Número 2, Julho a Dezembro-2005

Formato A4, e-book, miolo com 75 páginas


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Disponível em: http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio

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