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PSICÓPIO
psicópio

REVISTA VIRTUAL DE
PSICOLOGIA HOSPITALAR
E DA SAÚDE

Editor
Susana Alamy

Ano 2 - Número 3 - Janeiro a Julho-2006


Edição Semestral - Distribuição Gratuita
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano II, Número 3, Janeiro a Julho-2006

Editor: Susana Alamy


Idealização e Realização, Capa , Editoração Eletrônica, Diagramação e Arte Final: Susana Alamy
WebMaster: Carlos Alexandre de Melo Pantaleão

Conselho Editorial:
Susana Alamy – psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia hospitalar e supervisora de
estágios em Belo Horizonte/MG. CRPMG 6956
Elisângela Lins – psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia do CESUR – Centro de Ensino
Superior de Rondonópolis. CRPMT 1281-2
Luciane Jordão Pereira – psicoterapeuta, psicóloga clínica, gestora em saúde da Prefeitura Municipal de Itabira/MG.
CRPMG 18744
Glenda Rose Gonçalves-Chaves – advogada, bacharel em Letras, mestranda em Direito Internacional e Comunitário
(PUC-Minas), mestranda em Literatura Brasileira (UFMG), professora de direito constitucional no Centro Universitário
Newton Paiva (BH/MG).

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ALAMY, Susana (Ed.). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.2, n.3, jan.-jul.
2006. Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio>. Acesso em: (dia em números) (mês
abreviado em letras minúsculas) (ano).

Para citação de artigos da revista na bibliografia - modelo:


(Sobrenome do autor em letras maiúsculas), (nome do autor com a 1ª. letra maiúscula e as demais minúsculas). (Nome
do artigo em letras comuns). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.2, n.3,
jan.-jul. 2006. Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio>. Acesso em: (dia em números)
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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. i
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano II, Número 3, Janeiro a Julho-2006

SUMÁRIO

Editorial ............................................................................................................................................................................................... iii

Um histórico acerca da concepção de humanização hospitalar ................................................................................................. 04


Michele Moreira de Souza (Resende/RJ)

Psicologia no atendimento Home Care .......................................................................................................................................... 13


Rosângela Nery (Mongaguá/SP)

O trabalho da psicologia com pacientes portadoras de neoplasia trofoblástica gestacional ................................................. 18


Danielle Silva Veiga (Rio de Janeiro/RJ)

Isolamento existencial, um caminho sem volta? .......................................................................................................................... 23


Renata Magalhães Cardoso (Belo Horizonte/MG)

Manifestações psíquicas dos estudantes em conclusão do curso de medicina diante da perda do primeiro paciente ..... 27
Maria Luiza Araújo de Oliveira (Porto Alegre/RS)
Viviane Luzia Prestes Anchieta (Porto Alegre/RS)

A importância da prática do atendimento psicológico no hospital para o estagiário de psicologia ..................................... 38


Verônica Trombini Ferreira (Belo Horizonte/MG)

O silêncio barulhento ........................................................................................................................................................................ 40


Irit Grau Kaufmann (Santana de Parnaíba/SP)

Ansiedade pré-operatória no hospital geral .................................................................................................................................. 45


Vanessa Cristina Barbosa (Campinas/SP)
Maria Eugênia Scatena Radomile (Campinas/SP)

Depoimento pessoal – Está tudo sob controle .............................................................................................................................. 51


Ana Paula Dias Landgraf (Gravataí/RS)

Modelo de anamnese para pacientes com SIDA .......................................................................................................................... 52


Susana Alamy (Belo Horizonte/MG)

Links – Saúde e Direitos Humanos ................................................................................................................................................ 55

Eventos ................................................................................................................................................................................................ 56

Normas para envio de artigos .......................................................................................................................................................... 57

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. ii
EDITORIAL

É com satisfação que entregamos aos leitores, em seu 2º. ano, a Psicópio n.3 e que agradecemos aos autores o envio de
tantos artigos. Como não foi possível publicar todos, esperamos que compreendam e aguardem os próximos números.
Já os artigos eliminados fogem ao propósito desta publicação, ou não se fundamentam, ou desobedecem em muito à
formatação, o que poderá ser revisto por seus autores se o desejarem.

Temos como propósito aproximar informações, aprender e ensinar, e ficamos contentes em atingirmos este objetivo,
pois a Psicópio tem oportunizado este eterno aprendizado, seja com experiências pessoais de profissionais, técnicas ou
vivências, o que nos faz agradecer a todos que aqui contribuem e a todos os leitores que se manifestam através de e-
mails, mensagens e fóruns.

Trazemos neste número os artigos: Um histórico acerca da concepção de humanização hospitalar (Michele Moreira de
Souza, Psicologia no atendimento Home Care (Rosângela Nery), O trabalho da psicologia com pacientes portadoras de
neoplasia trofoblástica gestacional (Danielle Silva Veiga), Isolamento existencial, um caminho sem volta? (Renata
Magalhães Cardoso), Manifestações psíquicas dos estudantes em conclusão do curso de medicina diante da perda do
primeiro paciente (Maria Luiza Araújo de Oliveira; Viviane Luzia Prestes Anchieta), A importância da prática do
atendimento psicológico no hospital para o estagiário de psicologia (Verônica Trombini Ferreira), O silêncio
barulhento (Irit Grau Kaufmann), Ansiedade pré-operatória no hospital geral (Vanessa Cristina Barbosa; Maria
Eugênia Scatena Radomile), Depoimento pessoal de Ana Paula Dias Landgraf, Modelo de anamnese para pacientes
portadores de HIV (Susana Alamy), agenda de eventos e links interessantes. Temas que não se esgotam e que poderão
ser trazidos novamente nos próximos números.

Para finalizar, agradecemos especialmente a colaboração dos pacientes que sempre nos ensinam muito e dos professores
e supervisores que incentivam seus alunos a produzirem e publicarem seus escritos, prática que muito valorizamos.

A responsabilidade pelos artigos publicados é inteiramente de seus autores e as opiniões expressadas nos mesmos não
necessariamente condizem com a opinião do Editor.

Todas as correspondências deverão ser encaminhadas para o e-mail revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br.

Desejamo -lhes uma boa leitura e esperamos sua colaboração com o envio dos seus escritos e ajudando-nos a divulgar a
Psicópio.

Sejam bem-vindos!!!

Com o meu abraço,

Susana Alamy
Verão de 2006

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. iii
UM HISTÓRICO ACERCA DA CONCEPÇÃO DE
HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR

Michele Moreira de Souza 1


psi.michele@oi.com.br

Os corpos não sofrem, as pessoas sofrem.


Eric Cassel

O termo humanização vem sendo empregado constantemente no âmbito do hospital e da saúde como um todo.
Fundamental para a discussão acerca da humanização do hospital é a questão de sua finalidade: qual é a função do
hospital?

Foucault (1988) assinala que o hospital moderno teve como marca histórica de sua constituição impor aos pacientes o
isolamento.

O hospital, como instrumento terapêutico, é uma invenção relativamente nova, que data do
final do século XVIII. A consciência de que o hospital pode e deve ser um instrumento
destinado a curar aparece claramente em torno de 1780, e é assinalada por uma nova
prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais (p. 99).

Houve na Europa, entre 1775 e 1780, uma série de observações sistemáticas e comparativas, realizadas através de
“viagens-inquéritos”. A finalidade destas era definir um programa de reconstrução dos hospitais. Os relatórios dessas
viagens davam poucos detalhes sobre a parte externa dos hospitais. Eram descrições de funcionamento: número de
doentes por hospital, a relação entre o número de leitos e de doentes com a área útil do hospital, a taxa de mortalidade e
de cura, o movimento no interior do hospital.

O hospital que funcionava na Europa, desde a Idade Média, não era concebido para curar. Antes do século XVIII, a
instituição hospitalar tinha como funções essenciais a separação e a exclusão. Ali se misturavam doentes, loucos, pobres
e prostitutas. Como portadores de doença e de possível contágio, esses indivíduos eram considerados perigosos para a
saúde geral da população. Naquela época, dizia -se que o hospital era um morredouro, um lugar onde morrer. O usuário
ideal do hospital era o pobre que estava morrendo e não o doente que precisava curar-se. A função do hospital era,
então, dar os últimos cuidados e o último sacramento. As pessoas que trabalhavam no hospital não eram destinadas a
realizar a cura do doente, mas sim a conseguir sua própria salvação.

Nesse espaço de clausura e reclusão as funções propriamente terapêuticas não apareciam. Onde, então, estaria a função
médica? Nada havia na constituição da prática médica que a predestinasse a ser uma medicina hospitalar. A medicina
dos séculos XVII e XVIII era individualista. Compreendia conhecimentos de textos e prescrições de receitas. Isto era o
que qualificava o médico, e não as experiências que ele havia vivido e assimilado. A experiência hospitalar era excluída
de sua formação. “Vê -se, assim, que nada na prática médica desta época permitia a organização de um saber hospitalar,
como também nada na organização do hospital permitia intervenção da medicina” (FOUCAULT, 1988, p. 103).
Hospital e medicina permanecem separados até meados do século XVIII.

Como pôde o hospital ser medicalizado e a medicina tornar-se hospitalar?

No final do século XVIII, os hospitais começam a se transformar, através das instituições militares. Foucault (1988) cita
como um dos exemplos o exército. Antes desse período as pessoas que lutavam em batalhas eram escolhidas
aleatoriamente, e não necessitavam de nenhum treinamento especial, pois lutavam em troca de alimentação. Com a
emergência da arma de fogo, o exército torna-se mais especializado. Era preciso um indivíduo que estivesse apto a

1
Graduanda do 9º. período de Psicologia da Universidade Estácio de Sá, Campus Resende/RJ.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 4
manejá-la, sendo necessário, então, um treinamento. A partir desse momento, o Estado passa a investir dinheiro em
cada soldado. Torna-se preciso treinar este homem, e evitar que ele morra ou não se recupere dos ferimentos advindos
das batalhas. Assim, os hospitais militares passam a ter a preocupação de curar os seus homens, e para isso faz-se
necessária a presença dos médicos. Estes vão colaborar na organização física dos hospitais e também na utilização de
recursos terapêuticos.

A disciplinarização do espaço hospitalar e a transformação do saber e da prática médica levaram à formação de uma
medicina hospitalar e ao surgimento de uma disciplina hospitalar, que teria como função, segundo Foucault (1988):

(...) assegurar o esquadrinhamento, a vigilância, a disciplinarização do mundo confuso do


doente e da doença, como também transformar as condições do meio em que os doentes
são colocados (...) de modo que o quadro hospitalar (...) seja um instrumento de
modificação com função terapêutica (p. 108).

Portanto, pouco a pouco a medicina se profissionalizou. No final do século XVIII inicia-se uma nova configuração da
medicina. Ela passa a ter uma conotação prática. Com Bichat a prática médica passa a estabelecer relações entre o órgão
lesado e a doença. Para isso a anatomia patológica transforma-se numa prática fundamental para a medicina, que
Foucault denominou de Anátomo-clínica. O resultado dessa profissionalização da medicina repercutiu na
profissionalização, também crescente, dos hospitais. Este novo modo de configurar a medicina encontra no hospital o
lugar para o desenvolvimento da prática médica e da sua aprendizagem. Progressivamente, o hospital se torna um lugar
onde se pratica a medicina curativa.

Segundo Martin (2003), a profissionalização do hospital se desenrola dentro de três paradigmas. A consciência desses
paradigmas nos leva a compreender melhor a despersonalização que aconteceu em muitos hospitais e a necessidade da
humanização hospitalar.

O paradigma tecnocientífico do hospital tem como valores predominantes o conhecimento científico e a eficiência
técnica. O principal alvo de atenção do profissional de saúde passa a ser a doença e sua cura. O bom hospital é aquele
que possui recursos tecnológicos de ponta. Tomografia computadorizada e ressonância magnética, por exemplo,
tornam-se pré-requisitos para um hospital moderno.

A ênfase na ciência e tecnologia cria a necessidade de ter profissionais cada vez mais especializados. Essa
especialização traz benefícios: sabemos muito mais hoje em dia sobre qualquer patologia do que cinqüenta anos atrás.
Porém, há o lado negativo, pois a especialização leva à fragmentação do saber médico e do próprio paciente. Ao invés
de tratar a pessoa que está doente, o especialista tende a tratar a patologia, que é da sua especial competência. Para
Capobianco (2003), o que se verifica como um dos efeitos do processo de especialização é que

(...) as especialidades tornaram-se “especialismos técnico-científicos”, nos quais os


profissionais são treinados para adquirir o domínio de técnicas com a finalidade de
diagnosticar e tratar as doenças do “seu” órgão, perdendo ou excluindo, amiúde, a visão
do contexto biológico, emocional, socioeconômico e cultural no qual a doença e sua
evolução se constituem (p. 208).

O hospital também começa a se especializar. O “acidente vascular cerebral” está internado em uma unidade específica
do hospital, o “infarto do miocárdio” em outra, e assim por diante. Os pacientes são identificados por patologia e
número de leito. Seus nomes não contam. Adams (2002, p. 39) aponta que “(...) as pessoas passam a ser chamadas pelos
nomes de suas doenças, como se a doença fosse mais importante do que a pessoa que a tem”. De forma semelhante,
Gouveia (2003, p. 139) observa o seguinte: “O indivíduo deixa de ser um indivíduo e passa a ser uma hepatite, uma
cirrose, um tumor, etc, não é mais uma pessoa, mas uma doença a ser tratada”. Em sua avaliação dos aspectos negativos
do aspecto tecnocientífico, Martin (2003) vê que na busca por uma medicina mais eficiente e científica, o corpo e o
saber sobre o corpo são fragmentados e o paciente despersonalizado.

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Geralmente, o hospital-escola se enquadra nesse paradigma; o doente, além de ser reduzido a uma patologia, corre o
risco de ser manuseado sem o mínimo respeito pelos seus sentimentos, como um mero objeto de estudo. Esse aspecto
pode ser visualizado em obras cinematográficas como Patch Adams: o amor é contagioso e Uma lição de vida.

Em Patch Adams: o amor é contagioso (1998), protagonizado por Robin Willians, há uma cena em que o professor leva
estudantes de Medicina a um hospital. Ao se aproximarem de uma paciente deitada em uma maca, o professor diz:
“Este é um caso de diabetes juvenil com má circulação e neuropatia, tem úlceras diabéticas com edema linfático e
traços de gangrena. Alguma pergunta?” Um estudante pergunta: “Qual o tratamento?” O professor responde:
“Estabilizar o açúcar, usar antibióticos e talvez amputar”. Nesse momento a paciente o olha assustada. Patch Adams,
também estudante, pergunta qual o nome da paciente. Nesse instante, são os outros estudantes e o professor que ficam
surpresos. O professor diz: “Margaret”. Patch vira -se para a paciente e fala: “Prazer em conhecê-la Margaret”. Ela sorri,
agora com uma feição mais tranqüila.

Uma lição de vida (2001), interpretado por Emma Thompson, retrata a história de uma professora de Literatura, Vivian
Bearing, com diagnóstico de câncer de ovário em estágio avançado. Há uma cena em que chegam ao seu quarto um
professor e alguns médicos residentes. Sem pedir licença, um dos estudantes levanta sua camisola até a altura do
abdômen, e diz: “Detectado tardiamente no quarto estágio quando chegou. O primeiro lugar foi atrás do ovário
esquerdo. Suspeita de metástase na cavidade peritoneal. Na primeira cirurgia, grande parte do tumor foi retirada.
Ovário, trompas e útero, retirados”. Nesse instante, os demais estudantes tocam e apalpam sua barriga. O professor faz
algumas perguntas, os estudantes respondem. Por fim, quando todos saíam do quarto, sem falarem nada para a paciente,
o professor olhou para um dos estudantes, e este disse: “Obrigado, você cooperou bastante”. Ao ficar novamente
sozinha, Vivian reflete: “Não foi maravilhoso? Na grande ronda, eles me lêem como um livro. Já ensinei, agora sou
ensinada. Fico somente parada, com aparência cancerosa”.

Essas cenas levam à seguinte questão colocada por Lepargneur (2003, p. 223): “Nos hospitais, sabe-se cada vez melhor
o que é a doença, mas conhece-se o doente?”.

Os benefícios introduzidos pela tecnologia na área da saúde são indiscutíveis, pois facilitam a atuação dos profissionais
e beneficiam o paciente. No entanto, os avanços tecnológicos imp licam uma redução e até à exclusão do sujeito em sua
dimensão psicológica e social (Gutierrez, 2004). Como aponta Capobianco (2003), qualquer saber que o paciente
esboça a respeito da doença é desqualificado pelo médico, por não se enquadrar em suas teorias médico-científicas.
“(...) o paciente é posto no lugar daquele que não sabe, enquanto o médico ocupa o lugar do que sabe” (p. 31). A atitude
do discurso médico de excluir a subjetividade e a emocionalidade do paciente é devida ao fato de que esses fatores não
se ajustam aos parâmetros da ciência. Há uma tendência no meio médico a proteger a razão ou o raciocínio técnico-
científico, descartando as emoções.

A humanização é vista como a capacidade de oferecer atendimento de qualidade, articulando os avanços tecnológicos
com o bom relacionamento médico-paciente (Deslandes, 2004). É essencial agregar à eficiência técnica e científica uma
ética que considere e respeite a singularidade do usuário e do profissional. A humanização, ao abranger circunstâncias
sociais, éticas, educacionais e psíquicas, tem um caráter complementar aos aspectos tecnocientíficos que privilegiam a
objetividade, a causalidade e a especialização do saber (Ministério da Saúde, 2000). Porém, o fator humano pode ser
considerado mais estratégico, pois a tecnologia não funciona sozinha. Sua eficácia é fortemente influenciada pela
qualidade do fator humano e do relacionamento que se estabelece entre profissionais e usuários.

Outro paradigma apontado por Martin (2003) é o comercial-empresarial. Esse paradigma enfatiza a doença em nome da
geração do lucro.

É difícil vender saúde, mas é muito fácil cobrar pelos serviços prestados no combate à dor
e à doença. Cada exame, cada consulta, cada procedimento, cada remédio, cada
esparadrapo, cada dia na UTI tem seu preço, onde se pode embutir uma margem de lucro
considerável (p. 210).

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Certos aspectos do serviço público – tais como recursos tecnológicos limitados, acesso demorado aos recursos
disponíveis e filas para atendimento – contribuem para o florescimento de planos de saúde e de hospitais particulares,
onde apenas entra quem tiver plano de saúde conveniado ou recursos financeiros próprios. No hospital público, a
consideração que determina a admissão ou não do doente é a sua necessidade de ser tratado. Já no hospital particular, o
fator que determina a admissão do doente é a validade do seu plano de saúde ou a existência de recursos financeiros
suficientes. Essa seleção de pacientes com base em critérios econômicos é uma característica desse paradigma.

O paradigma que subjaz à preocupação com a humanização hospitalar, segundo Martin (2003), é o paradigma benigno-
humanitário, que tem como valor fundamental a dignidade do ser humano e o respeito pelos direitos humanos. A pessoa
doente deve ser o foco de atenção, deve ser considerada em primeiro lugar. Dignidade, liberdade e bem-estar são fatores
a serem ponderados na relação usuário-profissional de saúde. Os interesses científicos e econômicos devem ser
subordinados sempre aos interesses da pessoa.

Esse paradigma acolhe a visão positiva da saúde como bem-estar físico, mental, social e espiritual, enquanto os outros
dois favorecem a visão negativa da saúde como ausência de doença. Nessa visão negativa, a medicina é voltada para
cura. Então, quando o indivíduo estiver com doença crônica ou sem possibilidades terapêuticas, quando não há
perspectiva de cura, o perigo é que esse doente seja abandonado pelos profissionais de saúde e o hospital o mande
embora porque está ocupando um leito que poderia ser usado por outra pessoa.

Já o conceito de saúde como bem-estar abre muitas possibilidades para a pessoa cuja doença não tem cura. É possível
investir no seu bem-estar físico, debelando sua dor, cuidando do seu asseio pessoal; promover seu bem-estar mental,
dando apoio psicológico, escutando seus anseios, partilhando seus temores e alegrias, alimentando esperança sem
levantar expectativas irrealistas; fomentar seu bem-estar social cuidando de preocupações financeiras em relação ao
tratamento, ao sustento da família, alimentação, moradia e educação dos filhos; garantir seu bem-estar espiritual com
bom serviço de assistência religiosa, trazendo-lhe paz de consciência e fortalecimento de fé. “Cuidando assim dos
diversos aspectos do seu bem-estar, promove-se a saúde mesmo dos que não têm cura” (MARTIN, 2003, p. 211).
Apesar dos fatores tecnocientíficos e econômicos terem seu papel neste processo, se não estiverem inseridos numa
humanização do hospital, perdem seu sentido. Bettinelli (2003) salienta que

O grande desafio dos profissionais de saúde é cuidar do ser humano na sua totalidade,
exercendo uma ação preferencial em relação a sua dor e seu sofrimento, nas dimensões
física, psíquica, social e espiritual, com competência tecnocientífica e humana (p. 233).

Para Martin (2003), uma vez que se admite o conceito de saúde como bem-estar, a humanização do hospital se torna um
imperativo: é algo que se deve promover.

Portanto, vimos que o hospital pode ter como finalidade a cura privilegiando o uso da medicina tecnocientífica; pode ter
como finalidade o lucro e pode ter como finalidade o cuidado do ser humano doente e a promoção da sua saúde
entendida como bem-estar completo – físico, mental, social e espiritual. De acordo com Martin (2003), é no intuito de
alcançar essa terceira finalidade que a humanização do hospital entra em campo.

Segundo Deslandes (2004), as iniciativas identificadas com a humanização tiveram origem há alguns anos, no
movimento feminista em saúde, em sua luta pelos direitos reprodutivos das mulheres. Modelos de assistência como
Maternidade Segura e Método Canguru, apoiados pelo Ministério da Saúde (MS) e Organização Mundial de Saúde
(OMS), são pautados no princípio da humanização da assistência a crianças. No entanto, a legitimidade dessa temática
ganha mais importância com a apresentação do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH), em maio de 2000, e com sua inclusão na pauta da 11ª Conferência Nacional de Saúde, em dezembro do
mesmo ano.

Em maio de 2000, foi apresentado, em Brasília, um Projeto Piloto do Programa de Humanização da Assistência
Hospitalar, para pessoas representativas da área de saúde, possibilitando a oportunidade de propor, discutir e

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empreender um processo de mudanças na cultura de atendimento em vigor nos hospitais. Após o Programa ter sido
aprovado pelo então Ministro da Saúde, José Serra, foi escolhido um grupo de profissionais para desenvolver o Projeto,
que foi regulamentado pelas Portarias nº 881 GM/MS, de 19.06.2001, e nº 202 SAS, de 19.06.2001, sob a denominação
de PNHAH - Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (Ministério da Saúde, 2000).

O PNHAH propõe um conjunto de ações integradas visando mudar o padrão de assistência ao usuário dos hospitais
públicos, melhorando a qualidade e eficácia dos serviços prestados, aprimorando as relações entre profissionais, entre
profissionais e usuários e entre hospital e comunidade. É um processo que inclui desde a adequação da estrutura física e
equipamentos dos hospitais até uma mu dança de postura e atitude dos profissionais de saúde e dos usuários. Faiman
(2003) aponta que a humanização designa ações que tornam o ambiente das práticas de saúde mais afáveis: atividades
lúdicas, lazer, entretenimento, arte, melhorias na aparência fís ica dos serviços, alterações de rotina como visita livre e
presença de acompanhante.

Valorizando a dimensão humana e subjetiva, presentes em toda ação de assistência à saúde, o PNHAH direciona-se para
uma requalificação dos hospitais públicos, tornando-os mais dinâmicos e solidários no atendimento às expectativas dos
que os gerem e dos que os usam. Para tanto, tem como principais objetivos:

- Difundir uma nova cultura de humanização na rede hospitalar pública;


- Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários dos hospitais
públicos no Brasil;
- Capacitar os profissionais dos hospitais para um novo conceito de assistência à saúde
que valorize a vida humana e a cidadania;
- Conceber e implantar novas iniciativas de humanização dos hospitais que venham a
beneficiar os usuários e os profissionais de saúde;
- Fortalecer e articular todas as iniciativas de humanização já existentes na rede
hospitalar pública;
- Estimular a realização de parcerias e intercâmbio de conhecimentos e experiências nesta
área;
- Desenvolver um conjunto de indicadores de resultados e sistema de incentivos ao
tratamento humanizado;
- Modernizar as relações de trabalho no âmbito dos hospitais públicos, tornando as
instituições mais harmônicas e solidárias, de modo a recuperar a imagem pública dessas
instituições junto à comunidade (Ministério da Saúde, 2000, p. 4).

Assim, como aponta Pinheiro (2005), todos seriam beneficiados. O usuário, que receberia um tratamento mais digno,
mais acolhedor e mais solidário, no sentido de respeito ao seu corpo, sua individualidade, seu espaço e suas crenças; e
os profissionais dos hospitais, que teriam a oportunidade de resgatar o verdadeiro sentido de sua prática e o valor de se
trabalhar numa organização de saúde.

Embora esteja na base de um amplo conjunto de iniciativas – democratização das relações que envolvem o atendimento,
maior diálogo e melhoria da comunicação entre profissional de saúde e usuário, reconhecimento das expectativas dos
profissionais e dos usuários, qualidade das instalações, equipamentos e condições ambientais do estabelecimento de
saúde – o conceito humanização não possui uma definição clara. O que é humanizar? Subtende-se que a prática em
saúde era (des)humanizada ou não era feita por e para os humanos? Essas questões ainda são colocadas, revelando, por
um lado, o estranhamento que o termo propicia, e, por outro, a não demarcação por completo de seu campo de
abrangência e aplicabilidade. Isto ocorre porque, no Brasil, ainda é pequena a produção científica relacionada à
discussão de políticas de intervenção considerando os aspectos da humanização; e a dimensão mais subjetiva da
qualidade da atenção, como acolhimento, conforto e satisfação dos usuários ainda não está no rol das prioridades da
maioria dos gestores públicos. Segundo o Manual do PNHAH (MS, 2000, p. 21), “A complexidade de sua definição
decorre da sua natureza subjetiva, visto que os aspectos que a compõem têm caráter singular e sempre se referem a
pessoas e, portanto, a um conjunto contraditório de necessidades”.

A noção de humanização é empregada para uma forma de assistência que valoriza a qualidade do cuidado com o
usuário do ponto de vista técnico, associada ao reconhecimento dos seus direitos, de sua subjetividade e referências

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 8
culturais (Deslandes, 2004). Ou seja, propicia a visão do ser humano como um ser biológico, psíquico e social,
oferecendo um acolhimento global, e não apenas limitado à patologia que ocasionou sua internação. Conforme assinala
Campos (2004), quem pretende explicar o hospital como uma organização destinada a tratar do corpo biológico se
equivoca, cometendo uma redução. Ainda que nos hospitais a ênfase seja no processo curativo que se opera no corpo,
eles mantêm sua condição de instituição social e de espaço de trocas intersubjetivas.

De acordo com o Manual do PNHAH (MS, 2000), é significativo o número de usuários insatisfeitos com os aspectos de
relacionamento com os profissionais de saúde; além de precários, os cuidados são desrespeitosos e até violentos.

Na avaliação do público, a forma de atendimento, a capacidade demonstrada pelos


profissionais de saúde para compreender suas demandas e suas expectativas são fatores
que chegam a ser mais valorizados que a falta de médicos, a falta de espaço nos hospitais,
a falta de medicamentos (MS, 2000, p. 1).

Segundo Deslandes (2004), o movimento pela humanização da assistência à saúde surge num primeiro momento como
reação à violência, seja ela física ou psicológica (expressa nos “maus-tratos”, no atendimento precário e desrespeitoso),
seja ela simbólica (revelada na dor do usuário que não tem suas expectativas compreendidas). O exercício dessa
violência simbólica ligada ao não reconhecimento das necessidades emocionais e culturais dos usuários é inerente à
historicidade da organização hospitalar, como foi pontuado no início deste capítulo.

Podemos dizer que a proposta de humanização, ao sugerir a substituição das formas de violência por um modelo cujo
foco é o resgate da importância dos aspectos emocionais e a possibilidade de comunicação e diálogo entre usuários e
profissionais, busca instituir uma nova cultura de atendimento. Diante de um cotidiano em que o sofrimento se faz
presente, a solidariedade e o atendimento digno com calor humano são imprescindíveis. “Ser sensível à situação do
outro é perceber o querer ser tratado com respeito, em um vínculo de diálogo e de interesses compartilhados”
(PESSINI, 2003, p. 205).

Pinheiro (2005, p. 31) transcreve uma carta que mostra o atendimento de um profissional de saúde a um usuário. Esta
carta foi publicada no jornal do Conselho Federal de Medicina, edição bimestral set./out. de 1991, sob o título “Apelo
do paciente à equipe médica”, de Evaldo D’ Assumpção.

- (...) então, faça estes exames e com esta cartinha interne-se no Hospital
........dia.........às........horas, que iremos operá-lo.
- Mas Dr... por favor... eu queria... (Mas ele não me olha... continua escrevendo e não me
vê... não vê a minha angústia. Não sou apenas um corpo doente... vou tentar novamente).
- Mas Dr...
- Fique tranqüilo, vai correr tudo bem.
- Dr., por favor... ouça-me!!!!!
... quando me levarem à sala de cirurgia, não me deixem sozinho e sem qualquer
informação sobre o que será feito em seguida. Para vocês o Centro Cirúrgico é bastante
familiar, mas, para mi m, mesmo não sendo minha primeira vez, tudo é novo e assustador.
Porém, se o senhor ou um dos membros da sua equipe, estiver ao meu lado, me sentirei
mais seguro e temerei menos enfrentar tudo o que vier em seguida.
Lembrem-se de cobrir-me (...) quando me passarem para a mesa de cirurgia, pois a sala é
muito fria e vocês nem percebem, pois ficam com aqueles aventais longos, com luvas e
máscaras que os impedem de imaginar quanto se treme de frio e medo!
Por favor, se possível, poupem-me de ver aqueles instrumentos que serão usados na
cirurgia ... sei que a utilidade e a intenção são boas, mas... só de pensar neles corre-me um
frio gelado pela espinha (...).
Quando forem me preparar, respeitem o meu pudor, afinal é muito desagradável ver-se
despido, mesmo sabendo que são profissionais (...). Respeitem também o meu medo (...),
afinal, tudo é estranho, diferente e (...) ameaçador. Se pedir para esperarem um pouco,
tenham paciência comigo (...).
Se me explicarem em linguagem compreensível, certamente entenderei (...) cada pessoa

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 9
tem o seu tempo para se acalmar (...) respeitem o meu (...)!
Se a anestesia for local ou regional, (...) por favor, evitem conversas que possam
demonstrar desinteresse pelo meu tratamento (...), piadas, futebol, política ou programa de
TV (...) isso fica traduzido para mim como um grande desinteresse pelo que estão operando
em meu corpo...
(...) se a anestesia for geral (...) por favor, façam silêncio. Naquele momento de passagem
da consciência para a inconsciência, tudo o que acontecer na sala será de extrema
importância para mim (...), poderei dormir com segurança e tranqüilidade ou totalmente
agitado e transtornado, com medo de não voltar a reencontrar minhas pessoas queridas
(...). Mesmo anestesiado e inconsciente continuo merecendo todo o respeito como quando
acordado (...). Fazer piadas com meu ronco, com meu corpo, será pouco ético e humano,
algo difícil de aceitar da equipe para qual entreguei minha vida (...).
Finalmente, quero pedir-lhes que respeitem minha condição de ser humano, independente
de ser um paciente particular, rico ou um anônimo qualquer (...). Afinal, sou filho do
mesmo Pai, criatura do mesmo Criador, e, mesmo que não acreditem nesse Deus de que
lhes falo, façam por mim o mesmo que gostariam que lhes fizessem (...) Muito obrigado!

Ao lermos este apelo fica claro que a doença para o ser humano pode representar uma ameaça de dor, de invalidez e de
morte. Percebe-se que o funcionamento do ambiente hospitalar é quase perfeito quanto à técnica, mas sem afeto,
atenção e solidariedade. A pessoa deixa de ser o centro das atenções, sendo transformada em “objeto” de cuidado e
fonte de lucro, ficando dependente e passiva à espera do “poder científico” que os profissionais de saúde julgam ter.
Quando uma pessoa se dispõe a cuidar de alguém, deve considerar a fragilidade do ser humano diante da doença. Para
Adams (2002), uma verdadeira relação equipe-paciente estabelece-se quando há o respeito, a amizade, o amor, a
reciprocidade, o cuidado e a brincadeira para além das técnicas. Humanizar é adotar uma prática em que profissionais e
usuários consideram o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à saúde.

O tratamento humanizado não se concretiza se estiver centralizado unicamente no paciente. A idéia de humanização,
para o PNHAH (MS, 2000), também abrange a melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde. “Como
resgatar a subjetividade do paciente se a do profissional se vê cada vez mais excluída?” (FAIMAN, 2003, p. 256).
Juntamente com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência ocorreu uma redução na credibilidade devotada aos
profissionais de saúde. Os pacientes confiam na medicina tecnológica, considerando indiscutíveis as informações
fornecidas pelos equipamentos, e desconfiam do médico, depreciando as suas avaliações pessoais. É preciso criar
espaços de discussão, reflexão e elaboração de possíveis intervenções nas necessidades diárias dos profissionais de
saúde. Considerar as dimensões da subjetividade do profissional – psíquicas, familiares, culturais e sociais – permite
oferecer a ele melhores condições de enfrentar o desgaste provocado pelo constante contato com a dor, com o
sofrimento, com pacientes sem possibilidades terapêuticas, com os limites e dificuldades do seu trabalho, com receio de
cometer erros. Assim, cuidar de quem cuida é condição essencial para o desenvolvimento de projetos e ações em prol da
humanização da assistência.

Humanizar implica dar lugar tanto à palavra do usuário quanto à palavra dos profissionais, de forma que possam fazer
parte de uma rede de diálogo que pense e promova as ações e políticas assistenciais. Assim, a deficiência do diálogo e a
debilidade do processo de comunicação entre profissionais e usuários, repercutem de forma negativa no cuidado
prestado, pois promovem a violência e comprometem a qualidade do atendimento. O processo de cuidado precisa
ocorrer numa efetiva troca de informações. A humanização, então, depende da nossa capacidade de falar e ouvir, do
diálogo com nossos semelhantes.

Faiman (2003) afirma que a

Humanização é o processo de transformação da cultura institucional que reconhece e


valoriza os aspectos subjetivos, históricos e socioculturais dos pacientes e profissionais,
melhorando as condições de trabalho e a qualidade do atendimento, por meio da
promoção de ações que, à competência técnica e tecnológica, agregam o valor da
dimensão subjetiva dos participantes (p. 255).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 10
Acreditamos que apesar da multiplicidade de concepções acerca do conceito de humanização, e da amplitude possível
das práticas que se definem como humanizadoras, esse processo pode propiciar uma contribuição para a melhoria da
qualidade de atendimento prestado no âmbito da saúde, inclusive no hospital. De acordo com Bettinelli (2003), para
fazer e ser o diferencial nas relações do cuidado humanizado, no ambiente hospitalar, requer-se do profissional de saúde
que atue com solidariedade. E ser solidário nessa situação é demonstrar flexibilidade e sensibilidade, no sentido de ter
capacidade de sentir empatia, é trabalhar com e nas diferenças, é ter disponibilidade para com o outro. No final das
contas, como resume Ayres (2004, p. 17), “(...) humanizar é abrir-se ao outro e acolher solidária e legitimamente a
diversidade”.

REFERÊNCIAS

ADAMS, Patch; MYLANDER, Maureen. A terapia do amor. Tradução: Antônio Olinto. Rio de Janeiro: Mondrian,
2002.

AYRES, José Ricardo. Humanização da assistência hospitalar e o cuidado como categoria reconstrutiva. Ciência e
Saúde Coletiva; ano 9, n. 1, p. 7 – 14, 2004.

BETTINELLI, Luiz Antônio. et.al. Humanização do cuidado no ambiente hospitalar. O mundo da saúde . São Paulo,
ano 27, v. 27, n. 2 abr. / jun. 2003.

CAMPOS, Rosana Onocko. Reflexões sobre o conceito de humanização. [2004]. Disponível em:
<www.portalhumaniza.org.br> Acesso em: 03 jan 2005.

CAPOBIANCO, Cristina Surani Mora. O corpo em off: a doença e as práticas psi na pediatria hospitalar. São Paulo:
Estação Liberdade, 2003.

DESLANDES, Suely. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência hospitalar. Ciência e saúde
coletiva; ano 9, n. 1, p. 7 – 14, 2004.

FAIMAN, Carla Segre. et. al. Os cuidadores: a prática clínica dos profissionais da saúde. O mundo da saúde. São
Paulo, ano 27, v. 27, n. 2 abr. / jun. 2003.

FOUCAULT, Michel. O nascimento do hospital. In: _______ Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

GOUVEIA, Maria Helena. Viva e deixe viver: histórias de quem conta histórias. São Paulo: Globo, 2003.

GUTIERREZ, Pilar Lecussan. O médico e a humanização. Revista Pediatria. São Paulo, ano 26, n. 1, 2004.

LEPARGNEUR, Hubert. Procurando fundamentação para a humanização hospitalar. O mundo da saúde. São Paulo,
ano 27, v. 27, n. 2 abr. / jun. 2003.

MARTIN, Leonard M. A ética e a humanização hospitalar. O mundo da saúde . São Paulo, ano 27, v. 27, n. 2 abr. /
jun. 2003.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 11
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar . Brasília,
2000.

PATCH Adams: o amor é contagioso. Direção: Tom Shadyac. Produção: Barry Kemp, Mike Parrel, Marvin Minoff,
Charles Newirth. Intérprete: Robin Willians. Manaus: VIDEOLAR, 1998. 1 fita de video (118 min), VHS, son., color.

PESSINI, Leo. et.al. Humanização em saúde: o resgate do ser como competência científica. O mundo da saúde . São
Paulo, ano 27, v. 27, n. 2 abr. / jun. 2003.

PINHEIRO, Leida Mirian Hercolano. A importância da psicologia para a humanização hospitalar. Psicópio: Revista
Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde . Belo Horizonte, ano 1, vol. 1, n. 1, Jan./Jul. 2005. Disponível em:
<http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio> Acesso em: 02 mar 200

UMA lição de vida. Direção: Mike Nichols. Produção: Simon Bosanquet. Intérprete: Emma Thompson. São Paulo:
NPI, 2001. 1 fita de vídeo (100 min), VHS, son., color.

____________________
Recebido em 25/01/2006
Aprovado em 02/02/2006

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 12
PSICOLOGIA NO ATENDIMENTO HOME CARE
Rosangela Nery 1
rosangelan@gmail.com

Atendimento domiciliar (home care) é a provisão de serviços de saúde às pessoas de qualquer idade em casa ou outro
local não institucional. Iniciou-se pelo modelo francês em 1951, tendo como motivação: envelhecimento da população,
aumento de pacientes crônicos, super lotação hospitalar, custo elevado de internações.

Home care (nome adotado internacionalmente para a assistência domiciliar) fundamenta-se no princípio do paciente
poder receber os cuidados dos quais necessita para recuperação, contando com ajuda de pessoa escolhida pela família,
denominada por cuidador, treinada e supervisionada por uma equipe interdisciplinar qualificada de profissionais na
área de saúde.

Paciente é a pessoa que, por doença ou agravos à saúde, necessita de assistência médica e está impossibilitada de
receber atendimento ambulatorial, podendo necessitar de internação, porém, apto a recebê-lo em sua própria residência,
após criteriosa avaliação técnica e social. O cuidador deve, sempre que possível, ser membro da família e ou conviver
com o paciente. Sua função principal é sempre receber a equipe multiprofissional, facilitando o acesso a residência e
estar presente nos atendimentos, a fim de que possa estar ciente da evolução do paciente.

Procedimentos para entrada no serviço Home Care: a solicitação pode ser feita pelo médico assistente do paciente no
hospital, alem do próprio médico captador do serviço de Home Care. A captação pode ser passiva (baseados no
histórico clínico de cada paciente, os médicos dos hospitais ou ambulatórios solicitam o serviço, enviando os dados e
relatórios para a central Home Care) e ativa (os médicos captadores realizam visitas hospitalares avaliando os pacientes
em condições de assistência domiciliar).

Feita a solicitação, o caso será avaliado pelo Assistente Social e pelos Médicos do Home Care, que aceitarão ou não o
pedido, de acordo com as condições que viabilizam este tipo de assistência, sendo: residência fixa, com condições pré-
estabelecidas para receber o paciente; pelo menos uma pessoa responsável em ser o cuidador, com disponibilidade para
freqüentar o grupo de encontro de cuidadores; paciente usando de medicações adaptáveis ao serviço domiciliar.

Após a aprovação do paciente no Home Care, o médico fará uma avaliação do caso e programará o atendimento que
será oferecido a cada paciente, bem como determinará a necessidade ou não do uso de equipamentos hospitalares. A
freqüência das visitas serão determinadas pela equipe de saúde, conforme necessidade de cada paciente, podendo ser
alteradas (aumentadas ou diminuídas), dependendo da evolução do tratamento.

Normas para paciente e cuidadores permanecerem no programa: manter requisitos iniciais que o aprovaram para entrada
no programa (residência fixa, cuidador eleito, médico assistente e hospital de apoio); não são permitidas consultas com
outros profissionais da área de saúde, a menos que tenham sido solicitadas pelo médico responsável do paciente
(médicos da equipe e ou médico assistente); solicitar autorização da equipe Home Care se, em algum instante, a família
optar pela procura de outro profissional.

O atendimento visa internação domiciliar para pacientes crônicos (que necessitam de tratamento médico neurológico,
oncológico, pulmonares, cardiovasculares, etc); para pacientes não crônicos (em pós-operatório, em antibiotecoterapia,
etc); e em monitoramento (pacientes crônicos e não crônicos, em fase de melhora progressiva, que não necessitam mais
de apoio técnico diário, visando a alta do atendimento domiciliar).

Além do aspecto social que resgata a dignidade do paciente, por tratá-lo no ambiente familiar, estudos demonstram que
a recuperação é muito mais rápida e eficaz do que quando é feita em hospitais. Verifica-se, principalmente uma melhora

1
Psicóloga clínica. CRP 50501-06, SP.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 13
emocional significativa dos pacientes obrigados a um longo período de tratamento. Destacam-se outras vantagens como
a redução de riscos de infecções hospitalares e a diminuição na utilização de leitos hospitalares.

A internação domiciliar ao mesmo tempo que mantém o paciente integrado à família, fator importante para sua
recuperação, transfere para o domicílio os recursos necessários para o seu tratamento. Os programas terapêuticos são
individualizados envolvendo equipe interdisciplinar, buscando a melhora clínica do paciente.

Durante o tratamento o paciente conta com assistência de: médico, enfermagem, fisioterapeuta, assistente social,
nutricionista e psicólogo, e atendimento médico 24 horas de urgência e emergência para as intercorrências, bem como
todo o equipamento hospitalar é instalado em sua residência.

O modelo de atendimento tem sido adotado por empresas de saúde e por profissionais autônomos especializados.

O atendimento psicológico junto ao paciente visa a escuta ao paciente em crise, identificando e compreendendo este
momento de mobilização emocional; a psicoterapia breve focal, cujo objetivo visa analisar a situação emocional que
angustia o paciente e instrumentalizá-lo melhor para lidar com esta influência negativa de sua estrutura de
personalidade.

O atendimento psicológico junto ao cuidador e à família pode ser individual ou em grupo de apoio emocional;
orientação sobre as formas mais adequadas de lidar com o paciente no que diz respeito a compreensão, afeto, limites,
adequação, mudanças, etc; atendimento em grupo nos encontros de cuidadores, periodicamente a fim de que haja
relacionamento interpessoal cuidador-cuidador, cuidador-equipe; treinamento específico; troca de experiências;
assuntos diversos de interesse da equipe.

O atendimento psicológico junto à equipe de saúde que lida diretamente com o paciente e seu familiar, interconsultas e
discussões de casos, que visam avaliar a percepção da equipe sobre o comportamento do paciente-família e as atitudes
da própria equipe em relação a eles; atendimentos psicoterápicos individual e em grupo visando a melhor qualidade no
atendimento ao paciente e à família.

Passarei a citar alguns casos clínicos para melhor ilustrar.

Paciente MBS

Queixa: atendimento de pós-operatório

O paciente e a família (esposa e dois filhos – menino com 6 anos e menina com 2 anos de idade) precisaram mudar
durante o tratamento domiciliar para a casa da sogra, para poder contar com mais pessoas para atender as necessidades
do paciente e da família. Paciente com aparente disposição, apesar de na época da avaliação acreditarmos que não havia
se conscientizado do problema sério que havia em decorrência do acidente na praia (brincadeira de pular ondas, caiu de
cabeça na areia quando a maré baixou e precisou se submeter a nove cirurgias no período aproximado de trinta dias).

Estava com colar cervical, com sonda interal para se alimentar (que ficou por oito meses) e bolsa de caraias pelo
vazamento de secreção de fístula (para drenagem). Por não poder se alimentar via oral, o paciente nos atendimentos
falava muito de comida, inclusive dando a receita.

Na semana seguinte da avaliação, iniciamos também o atendimento familiar.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 14
Após alguns dias, através de micro-cirurgia foi colocado um equipamento para sustentar a coluna vertebral (tentativa
para calcificação) sentindo muita inibição pela aparência física.

O paciente no decorrer dos atendimentos apresentou momentos de ansiedade pela falta de alimentação via oral
(necessidade de mastigar alimentos) e de previsões de resultados do processo de cura, que foram adiados, seguidos de
crise de depressão.

Orientação: após dois meses conseguimos fazer o nosso atendimento caminhando pela calçada próxima a sua casa, onde
aos poucos começou a perceber de que quanto mais “normal” ele próprio se sentisse, mais “normal” as pessoas o
veriam. O processo deu seqüência em visitas a casa de amigos e até mesmo em shopping com a família. Nos encontros
de cuidadores, contamos com sua presença (durante o café ligou a sua alimentação interal; mostrando aos presentes, a
importância de acreditar na recuperação e seguir a orientação dos profissionais). Com isso elevou sua auto-estima e
como conseqüência, após ser retirado o equipamento cervical, não precisou mais de cirurgias, bem como, voltou a
dirigir o seu carro, a trabalhar, tendo a rotina diária que tanto lhe fez falta, pois esteve nesse processo por um ano.

Paciente NPS

Queixa: atendimento pós-operatório

Em serviços domésticos, caiu da escadinha de três andares usada para limpeza do lar, fraturando o fêmur direito.
Durante a recuperação pós-operatório no hospital, caiu da cama, precisando refazer a cirurgia de implante de prótese de
fêmur. Após a cirurgia não conseguia ter a mesma flexibilidade corporal, o que restringia a paciente ao leito. Porém
durante a avaliação verificamos que não se sentia bem na dependência principalmente no que se refere a higiene
pessoal.

Orientação: sugerimos que como não tinha condições para alcançar os objetos, que fossem adaptados para que os
objetos fossem alcançados pela paciente. No vaso sanitário fez em marcenaria um assento com aproximadamente sete
centímetros a mais de altura, para ser encaixado. No box de banho, instalou cerca de vinte centímetros de corrimão para
ter apoio. Na sala se utilizou de espuma espessa tipo almofada para alcançar no sofá e poder levantar sem sentir tanta
dor.

Para que a paciente pudesse fazer essas adaptações de objetos (adaptação externa), precisou ter consciência dessa
necessidade e com isso adaptação interna. Conseguiu uma recuperação fantástica em três meses, podendo caminhar
normalmente, sem a necessidade de se apoiar nem mesmo na bengala.

Paciente AAL

Queixa: atendimento à cuidadora MSS por apresentar problemas de ansiedade quanto a doença do paciente e ao
paciente que apresentava crises de depressão.

Atendimento ao casal onde o paciente apresentou sérios problemas de saúde, totalmente consciente e lúcido sobre a
doença. A cuidadora e esposa, como fuga, atendia as necessidades dos filhos (o menor com 19 anos de idade) em
afazeres domésticos. E com a doença do paciente, se sentia ansiosa e sem tempo para cuidar dele.

O paciente foi cunhado de sua atual esposa. Foi casado com a irmã do marido da atual esposa. Ambos ficaram viúvos e
resolveram se casar. O paciente portador de doença degenerativa progressiva. A princípio teve seqüelas como paralisia
de membro inferior e superior direito.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 15
Não se locomove a não ser com a ajuda de alguma pessoa, para a cadeira de rodas e cadeira higiênica. Apresenta
confusão mental, distorção de pensamento e raras vezes se entende o que fala, demonstra agressividade principalmente
com pessoas que gosta, muitas vezes as magoando.

Orientação: que a cuidadora desse atenção a si e ao paciente. Após 20 dias de iniciarmos o atendimento a cuidadora já
conseguiu dirigir novamente seu carro para as compras e o paciente estava bem na recuperação dos movimentos. O
casal parecia mais integrado.

Paciente MGS

Queixa: paciente com crises de depressão.

Paciente com sérios problemas de saúde física. Em virtude de diabetes mal tratada, precisou se submeter a amputação
de membro inferior esquerdo. Com isso ficou em estado depressivo. Após certo período precisou se submeter a
amputação de membro inferior direito. Sua culpa por não ter se tratado era muito grande e a própria negação de sua
doença. A paciente apenas se lamentava, não tentando fazer as adaptações necessárias para viver. A família contratou os
serviços particulares de uma auxiliar de enfermagem.

Orientação: paciente foi estimulada a fazer os exercícios de fisioterapia; a família, sobre os comportamentos adequados
para lidar com a paciente, bom como adaptar a cadeira de rodas, e que a paciente voltasse a dormir na sua cama, sem
que fosse a hospitalar; terapia ocupacional.

Paciente MAS

Queixa: falta de participação e não cumprimento dos procedimentos terapêuticos.

A paciente tem problemas de saúde física e mental, é dependente dos irmãos, inclusive financeiramente. Entre irmãos
um mal relacionamento, inclusive com cobranças de tarefas. Paciente conta com o atendimento de cuidadora contratada
– auxiliar de enfermagem, o que ameniza toda a situação de conflito.

Orientação: como a paciente fica na casa de uma das irmãs, muitas vezes, criando problemas de relacionamento
familiar, fosse dada a chance aos outros dois irmãos para que fizessem revezamento das casas para acolhê-la.

Paciente SCP

Queixa: estresse da cuidadora-filha e problemas de relacionamento familiar.

Filha com dificuldades para delegar tarefas aos irmãos no cuidado com a mãe. Se sentia poderosa porém notou que
estava se estressando, esquecendo de sua própria família – marido e filhos.

Orientação: após dois atendimentos pudemos notar que a cuidadora e filha estava interessada em mudar os seus
comportamentos, e esse é o ponto principal para a realização da tarefa. Em seguida, passamos exercícios de
relaxamento, de respiração, algumas indicações sobre auto-estima. Foi orientada para que pedisse a colaboração dos
irmãos para cuidar da paciente.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 16
Paciente GGN

Queixa: dificuldades da equipe no atendimento pela falta de colaboração do paciente.

Paciente com 17 anos de idade. Todos da família procuraram todas as alternativas para auxiliarem na recuperação do
paciente, inclusive fazendo alterações ambientais, como retirar porta e batente para que pudessem transportar o paciente
com menos dificuldade; instalação de um aparelho de televisão em suporte próximo à cama; quadro de pincel atômico
para anotação dos procedimentos terapêuticos; treinamento da família para fisioterapia; construção de uma copa
próxima ao quarto para facilitar quanto a dieta interal do paciente.

Orientação: o paciente já apresentava confusão mental, em decorrência da própria doença. A família precisava apenas
de suporte psicoterapêutico, tendo em vista que estavam bem integrados, colaborativos com a equipe de saúde, não se
mostravam estressados, servindo em nosso trabalho, como modelo a ser seguido onde o amor, o carinho, a dedicação,
contribuem.

Paciente JJO

Queixa: a família não estava consciente da gravidade da doença do paciente, em estágio avançado, fase terminal.

O paciente era atendido pela esposa e filha. Esposa procurando atividade, filha reclamando de estresse por cobranças da
mãe, e o relacionamento familiar estava ficando complicado.

Orientação: para que a cuidadora-esposa procurasse atividade que lhe agradasse, escolhendo fazer pequenos serviços de
costura a máquina; procurasse fazer diariamente caminhada e que mantivesse distância de pessoas que não lhe
agradassem. Após dois atendimentos, foi possível se pensar em alta do nosso suporte, pois a família estava consciente e
integrada.

Paciente RZJ

Queixa: estresse apresentado pela cuidadora-filha.

A paciente com 103 anos de idade era cuidada pela filha com 72 anos de idade, que tentava fazer todo serviço
doméstico e ainda atender as necessidades da mãe, que estava com quadro clínico definido – terminal. Mostrava-se
irritada quando questionada sobre a necessidade de contar com a ajuda de outra pessoa nas tarefas.

Orientação: notamos que havia necessidade de fazer com que a cuidadora-filha se conscientizasse de que a mãe estava
em fase terminal, pois acreditamos que tinha esperança de sendo ela quem cuidasse, a mãe poderia se recuperar. Após
alguns atendimentos, contratou funcionária para ajudar.

____________________
Recebido em 12/12/2005
Aprovado em 31/12/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 17
O TRABALHO DA PSICOLOGIA COM PACIENTES PORTADORAS
DE NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL

Danielle Silva Veiga1


Danielle992@uol.com.br

A Neoplasia Trofoblástica Gestacional ainda é uma doença pouco conhecida em nosso meio. Seu tratamento é feito
especialmente em Centros de Referência. No caso do Rio de Janeiro, o centro de referência é a Santa Casa de
Misericórdia, onde recebemos anualmente centenas de pacientes encaminhadas de outros hospitais. E esse percurso nem
sempre é fácil. Algumas chegam a percorrer quatro ou cinco hospitais em busca de resposta. Sentem-se enganadas pelos
médicos e traídas por seu próprio corpo, que ao invés de presentear-lhe com o tão sonhado filho, castiga-lhe com uma
doença. A maioria das pacientes, de classe baixa, não entende o que está acontecendo até chegar à Santa Casa. Essa
confusão é piorada pelo desconhecimento de alguns médicos sobre a patologia. O quadro é desanimador: pacientes
confusas, crentes que estão no fim da vida, sem saber onde foi parar a gravidez e sem forças para enfrentar o
tratamento. É aí que entra a Psicologia. Mas antes de falar sobre isso, vamos falar um pouco sobre a patologia. Afinal, o
que é a mola?

Neoplasia Trofoblástica Gestacional


O que é vulgarmente chamado de “mola”, tem o nome científico de Neoplasia Trofoblástica Gestacional. Neoplasia é
todo acúmulo de células anormais no organismo, o que não significa necessariamente câncer como muita gente pensa.
O trofoblasto é uma parte da placenta onde a mola atua preferencialmente. E Gestacional porque é uma doença
decorrente da gravidez. Só quem engravida pode ter mola. A mola pode decorrer de uma gravidez normal, um aborto
espontâneo ou gravidez tubária, mas mais freqüentemente advém de uma alteração genética. Assim com a Síndrome de
Down, a mola ocorre devido a um problema na hora da fecundação.

Existem vários tipos de mola, que se formam diferentemente. A mola mais comum é a Hidatiforme que pode ser parcial
ou completa. A mola completa é formada pelo encontro de um óvulo vazio (sem cromossomos) com dois
espermatozóides normais ou com um espermatozóide normal que se duplica, resultando sempre num “embrião” com 46
cromossomos apenas paternos. Nesse tipo de mola não se desenvolve um feto, apenas o saco gestacional e a placenta. A
placenta fica cheia de células com líquido dentro chamadas vesículas. A tendência é proliferar-se causando sintomas
semelhantes aos da gravidez mas muito mais intensos como vômitos, hemorragias, aumento do abdômen, maior que o
da idade gestacional... Tudo isso causa fraqueza na mulher, que se sentindo mal, busca um pronto socorro. Na maioria
das vezes é diagnosticado um aborto espontâneo e se procede a uma curetagem. Outras vezes, a mulher procura o posto
de saúde para a rotina de pré-natal sem estar sentindo nada e ao chegar lá, surpreende-se com a falta de batimentos
cardíacos do bebê. Algumas pacientes chegaram a ser informadas de que não estavam grávidas e era melhor voltar para
casa.

A mola parcial é formada por um óvulo normal que encontra dois espermatozóides também normais, formando um
embrião de 69 cromossomos. Como resultado ocorre a formação do embrião e da placenta (que neste caso também
possui vesículas). A placenta, por estar malformada, não funciona bem e deixa de suprir o embrião. O embrião também
apresenta deformidades, mas pode sobreviver até o quinto mês. A mulher pode abortar espontaneamente ou o feto
morto ficar em seu ventre até uma curetagem ou esvaziamento. Este tipo de mola é de mais difícil diagnóstico pela
presença do embrião e de os médicos crerem que houve um aborto espontâneo.

O diagnóstico é em geral feito com ultra-sonografia (imagens em cacho de uva) e confirmado por um exame de
citopatologia. São feitos também raio X do tórax (verificação de metástases) e exame de sangue.

Em alguns casos, células de mola podem invadir a parede do útero formado o que chamamos de Mola Invasora. A Mola
Invasora ainda tem grande percentual de cura. Esta Mola Invasora pode ainda deteriorar-se, indo para a corrente
sanguínea formando diversos tipos de câncer com ou sem metástases.

1
Estagiária do Centro de Neoplasia Trofoblástica Gestacional desde dezembro de 2004. Especializanda em Psicologia Hospitalar
pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 18
Assim que a mola é diagnosticada, a mulher deve sofrer um esvaziamento, em geral através de vácuo-aspiração,
procedimento semelhante à curetagem, mas feito com um vácuo-aspirador, uma cânula fina que suga os restos de mola
do útero. Somente os Centros de Referência possuem este aparelho. A mulher interna-se num dia e, no seguinte, tem
alta, tomando anestesia geral através da veia.

Então ela deve vir semanalmente ao ambulatório para colher sangue. Toda mulher grávida possui um hormônio
chamado Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG), que é produzido pela placenta. Este hormônio na mola fica em
níveis bastante elevados. Colhe-se o sangue, pois a tendência do hormônio após o esvaziamento é diminuir até chegar a
níveis negativos. Oitenta por cento das mulheres conseguem esse resultado sem nenhum tipo de intervenção. Assim, o
prognóstico é bom. Vinte por cento delas, continuam com níveis elevados de HCG ou com a taxa estagnada,
necessitando melhor avaliação do diagnóstico. Os médicos devem avaliar a necessidade de uma nova Vácuo-Aspiração,
a exis tência de mola invasora, câncer etc. Mas mesmo antes do diagnóstico final, é dada a quimioterapia que pode ser
através de comp rimidos (oral), injeções (intra-muscular) ou soro (intra-venosa). Caso haja resistência da taxa de
hormônio, muda-se o esquema dos medicamentos.

Assim que a paciente obtiver três resultados zero de BHCG começa a vir quinzenalmente. Ao persistir a melhora, a
paciente vem de mês em mês e assim vai espaçando suas consultas até ter alta. Uma nova gravidez é contra-indicada
durante o tratamento, por isso as pacientes recebem a pílula gratuitamente. Elas não devem engravidar pois os médicos
ficarão sem saber se o BHGC aumentou pela gravidez ou pelo avanço da doença, além da mulher ficar impossibilitada
de fazer quimioterapia e Vácuo-Aspiração durante a gravidez.

O Trabalho da Psicologia na Santa Casa


Toda paciente nova que chega ao nosso ambulatório, é recebida numa entrevista, onde pedimos seus dados pessoais,
refazemos seu percurso até chegar a nós (de que hospital veio, o que sentia, como suspeitou da gravidez...), explicamos
sobre a mola e o tratamento e tiramos algumas dúvidas principais, além de encaminhá-la ao grupo de sala de espera. A
paciente continua sendo atendida semanalmente por, no mínimo , 4 semanas.

Existe também um grupo de sala de espera, todos os dias, no qual funciona o ambulatório de mola. Os temas englobam
não só a mola como temas de saúde da mulher. Abordamos depressão, auto-estima, prevenção do câncer, Doenças
Sexualmente Transmissíveis, apoio social, aparelho reprodutor, estresse e temas que elas mesmas sugiram. O grupo
dura em média vinte minutos e conta com a participação das pacientes, questionando, sugerindo temas, tirando suas
dúvidas etc.

Para aquelas que estão mais abaladas, é sugerida a psicoterapia breve, oferecida gratuitamente pelo próprio serviço.

É fornecido também apoio psicológico durante a internação, no pré e pós-operatório.

São feitos trabalhos esporádicos como na época do Natal, em que há uma festinha com "comes e bebes" no ambulatório
e murais para que as pacientes deixem mensagens, a comemoração da Páscoa com distribuição de bombons e o Dia
Internacional da Mulher, quando geralmente é colocado um cartaz comemorativo no Ambulatório.

Está ainda em termos de Projeto, um grupo apenas com as pacientes da quimioterapia.

Aspectos Psicológicos da Paciente com NTG


Algumas questões são características da paciente com mola como , por exemplo, o medo da morte por câncer, fantasias
sobre o bebê que “desapareceu”, desconfiança dos médicos, como se estivessem escondendo seu verdadeiro
diagnóstico, problemas sexuais e familiares, depressão nas pacientes mais antigas, entre outros.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 19
Percebemos as pacientes mais recentes muito ansiosas a ponto de não poderem ouvir a explicação que estamos dando.
Estão, em geral, tímidas, de cabeça baixa, falam e perguntam pouco e parecem ter medo de um contato maior. Não
conseguem explicar o que é a mola e algumas crêem que a mola é um monstro que comeu seu bebê e a está exaurindo
física e emocionalmente. Quando surgem as perguntas são sempre as mesmas: a mola pode voltar? Meu bebê tinha
chance de sobreviver se eu tivesse descoberto antes? Mola é câncer? Eu vou ter filhos normais? Isso é contagioso? A
culpa é minha ou do meu marido? Como isso foi parar dentro de mim?

Essas perguntas ficam apenas parcialmente respondidas , pois vemos, mesmo em pacientes já antigas no serviço, quando
se toca no tema, surgirem os mesmos questionamentos como se houvesse restado um pouquinho de dúvida, como se
elas não estivesse bem certas daquilo. Além do que as informações corretas só são prestadas no Centro de Referência. É
comum o exterior bombardeá-las de fatos equivocados e associações distorcidas. Sempre há um familiar ou amigo que
diz que alguém que ele conhece morreu de mola ou alguém que a trata como se tivesse o pior dos cânceres. Essas
mulheres ficam marcadas pelo preconceito e pelo signo da morte, pelo menos até o verdadeiro esclarecimento ou cura.

Uma das pacientes, já com metástases, revelou-me: “Dói muito quando alguém olha pra mim e prá consolar a mulher
diz: ‘ Você tá bem, aquela ali tá pior que você. Ela tá com câncer’. Isso é bom prá pessoa, mas eu fico me sentindo um
lixo.”.

É comum também a pessoa que está em quimioterapia afastar-se de seus contatos sociais, do marido e das tarefas que
antes gostava de fazer. Uma paciente desse tipo me disse: “Semana passada a minha irmã estava arrumando a casa e eu
quis ajudar. Peguei a vassoura e comecei a varrer, mas me senti tão cansada que não agüentei. Ela ficou brigando
comigo, dizendo que eu não podia, que eu tava fraca. Eu quis provar que eu conseguia, mas vi que não dava. Concordei
com ela, não vou fazer mais isso não.”

Encontrei até hoje apenas uma paciente que dizia não estar preocupada com a quimioterapia. Dizia que tinha problemas
maiores que este. Parecia ter uma relação muito hostil com sua filha (que era uma criança). Dizia não agüentar mais a
menina e procurou ajuda psicológica num Posto de Saúde, onde a menina ficou por um mês e obteve alta, deixando a
mãe bastante decepcionada.

Um grande problema das pacientes de mola é a vida sexual. É muito difícil retomar as relações sexuais , seja por medo
de contágio do parceiro, seja pela sensação de falta de feminilidade destas mulheres, seja pela depressão que as deixa
com a libido em baixa. Uma das pacientes, ainda jovem, com problemas depressivos desde antes da mola, relata não
querer que seu marido a toque, porque não sente mais vontade de nada.

Outra paciente relata seu medo de fazer sexo depois de ter uma grande hemorragia que já havia cessado nessa época.
Tinha receio de que o pênis de seu marido batesse com força no útero e ocasionasse um novo sangramento. Queria usar
camisinha pois assim “deslizava mais fácil”.

Mesmo que a mola não sofra complicações, a relação fantasiada com o câncer é persistente. Uma das pacientes estava
hesitante em perguntar ao médico seu diagnóstico, pois , mesmo sem evidências, achava que estava com um câncer
seríssimo e cheia de metástases. Depois que perguntou e obteve a confirmação de que o tratamento estava indo bem,
disse: “ É, era coisa da minha cabeça mesmo.”

Um obstáculo sério ao tratamento são as condições sociais. Muitas pacientes deixam de ser atendidas por falta de
dinheiro da passagem ou para pagar o exame de sangue. Algumas conseguem transporte através das prefeituras, mas
mesmo assim precisam pagar os exames. As pacientes que precisam de quimioterapia estão em situação pior, pois
precisam ir à Santa Casa várias vezes por semana, sendo que algumas optam pela internação.

Conclusão
Podemos concluir que o serviço de psicologia está ajudando estas mulheres a aderirem ao tratamento médico,
aprenderem a maneja r sua ansiedade, estresse e depressão e ter uma melhor qualidade de vida através dos cuidados com

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 20
a saúde. As pacientes freqüentemente nos agradecem pelas informações e apoio prestados neste período. No entanto,
seria necessário o desenvolvimento de mais projetos, ligados às pacientes em quimioterapia e também pesquisas sobre a
ques tão da alta, pois foi observado, em outro trabalho, a dependência enorme das pacientes em relação à equipe. É
indispensável que a Psicologia trabalhe nos Centros de Referência, em equipe multidisciplinar, para promover a estas
pacientes um maior entendimento da patologia e apoio psicológico neste momento tão difícil.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Belfort, P. e Bueno, L. G. O ABC da Mola. Publicação Leiga da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e
Instituto Roy Hertz.

Belfort, P. e Braga, A. Doença Trofoblástica Gestacional Recorrente. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.
No. 25(1) 2003.

Diestel, M.C.F. Aspectos Psicossociais da Doença Trofoblástica Gestacional: “Importância dos Grupos de Ajuda”.
Trabalho Apresentado no II Congresso de Oncologia do Hospital Santa Rita – Porto Alegre, 2000.

Manual Merck. Cânceres da Mulher- Neoplasia Trofoblástica Gestacional. Disponível em http://www.merck.com.


Acessado em 17 de maio de 2005.

Lacerda, M. E. Abordagem Psicológica das Pacientes com Doença Trofoblástica Gestacional. Trabalho de Conclusão
de Curso. Universidade do Vale dos Sinos. São Leopoldo, Rio Grande do Sul, 1995.

Reis, A.B. Uma Visão dos Aspectos Psicológicos na Neoplasia Trofoblástica Gestacional. Pesquisa realizada pelo
Centro de Medicina Psicossomática da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Não Publicado.

Anexos

Ilustração sobre a formação da mola completa

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 21
Ilustração sobre a mola parcial.

____________________
Recebido em 18/02/2005
Aprovado em 28/08/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 22
ISOLAMENTO EXISTENCIAL, UM CAMINHO SEM VOLTA ?
Renata Magalhães Cardoso1
renata_psique@yahoo.com.br

Resumo: O artigo trata da prática de estágio em uma Instituição pública de Idosos em que se pode perceber como a
“velhice” é excluída da sociedade e como esta situação de asilamento confina o interno a uma condição de solidão e
de isolamento.

Unitermos: Asilo, solidão, existencialismo, morte, isolamento, idosas, sociedade moderna e exclusão social.

A partir da prática de estágio no Asilo (...), em Psicologia Social, este artigo tem como objetivo abordar a solidão
existencial e o isolamento que a condição da velhice traz a algumas residentes do asilo.

O acompanhamento terapêutico com idosas foi uma experiência muito rica em se tratando da existência humana, das
angústias, do isolamento e do medo da morte. Atendendo a três idosas, de personalidades totalmente diferentes,
observei que em um meio ambiente que deveria ser de conforto e integração, isto não acontecia. Esquecidas da
sociedade e, às vezes, da própria família, as pacientes permanecem no asilo esquecidas de si mesmo. A própria
condição do asilamento, já é a exclusão e a ausência de liberdade.

O homem é um ser livre que decide a própria vida. O homem arca com a
responsabilidade de sua escolha. E escolher sua própria vertente significa lutar
pela própria dignidade. (Sartre, citado por CAMON – p.13)

E se a liberdade de ir e vir faz parte da cidadania, aqui, neste contexto, já não há o que escolher, e sim adaptar-se às
escolhas feitas pela Instituição.

De acordo com Burguess (1999), citado por NERI e DEBERT, a velhice nas sociedades industriais, através da idéia de
que a sociedade moderna não prevê um papel específico ou uma atividade para os velhos, abandonando-os a uma
existência sem significado.

Devido à cultura ocidental, capitalista e de produção, onde o jovem é destacado como o auge da vida; o idoso é visto
como um peso, um fardo na sociedade. Com o avanço da medicina e da farmacologia, a população aumentou a sua
longevidade e também o número de pessoas idosas, isto é, acima de 65 anos. Mas será que os países de Terceiro
Mundo, que estão envelhecendo estão preparados para acolher seus idosos? O crescimento da população idosa torna-se
cada vez mais relevante, pois aumenta consideravelmente a dependência por parte destes.

Debert 2 (1999) aponta esta situação de pauperização e abandono a que o velho é relegado, em que ainda é, sobretudo a
família que arca com o peso dessa situação. Esse modelo é criticado porque estaria, alimentando os estereótipos da
velhice como um período de retraimento em face a doença e da pobreza, uma situação de dependência e passividade
que legitima as políticas públicas, baseadas na visão do idoso como um ser doente, isolado, abandonado pela família e
alimentado pelo Estado.

Marcado pela idade de 65 anos, no Brasil, o indivíduo passa de cidadão ativo e participante na sociedade para o lugar do
excluído.

1
Aluna do Curso de Psicologia, 10 º período, Unicentro Newton Paiva.
2
Professora do Departamento de Antropologia da UNICAMP.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 23
O processo de envelhecimento pode reforçar desigualdade em face da qualidade de
vida e do bem-estar dos diferentes estratos sociais, de homens e mulheres, de
brancos e não brancos, de jovens, adultos e os mais velhos, contribuindo assim para
aumentar a chance de exclusão. (Berquó, citado por NERI e DEBERT, 1999, p.12).

A princípio, quando chegam no asilo, as idosas são introduzidas em um outro mundo; o mundo dos esquecidos, das
pessoas que não produzem e que não tem mais nada a oferecer à sociedade moderna. O asilo torna-se um depósito
humano, pela desconsideração com o idoso e pelo descaso com a sua experiência de vida.

As internas ficam acuadas em seus quartos, ou na sala de televisão, muitas vezes esperando uma explicação por estarem
longe de suas casas, de seus entes queridos, ou simplesmente por não saberem porque motivo estão naquela Instituição.
Nesta a maioria passa o dia sem ter alguma atividade prazerosa para fazer, fica a esperar, tendo a televisão com meio de
distração e entretenimento. A angústia torna-se visível, os olhos amedrontados e carentes denunciam o estado de
abandono e solidão. Cada uma com sua história, tristezas e alegrias; vão se calando. O isolamento é inevitável,
tornando-se rotina no asilo.

De acordo com May (1973) a sensação de vazio e de solidão, andam juntas, sendo ambas vindas da mesma experiência
de ansiedade. Quando uma pessoa não sabe, com convicção, o que deseja, o que sente; quando, numa época de
mudanças traumáticas, quando sente o vácuo intimo em meio à confusão externa e às alterações da sociedade em que
vive, então, sente-se em perigo e sua reação natural é procurar outras pessoas, delas esperando orientação, ou pelo
menos algum consolo para não encontrar-se sozinha neste pavor.

Mas infelizmente, isto não acontece nas Instituições públicas para idosos. Geralmente, não há está estrutura de apoio
diferenciado a todos os asilados. Devido a falta de conscientização da população com seus “velhos”, os idosos,
principalmente os vindos de famílias pobres e que precisam de ajuda do Estado, não recebem o atendimento psicológico
que necessitam para amenizar o sofrimento diante da solidão e da morte.

May (1973) fala que a sensação de isolamento ocorre quando a pessoa se sente vazia e amedrontada; há uma ânsia pela
proximidade dos outros, não pelo simples desejo de preencher o vazio interior, embora esta seja também uma
necessidade de companheirismo de quem se sente ansioso, mas o motivo primordial é que o ser humano adquire sua
primeira experiência do Self no relacionamento com seus semelhantes e quando está sozinho, desligado de outras
pessoas, teme perder esta experiência. O Self tem uma função organizadora no íntimo do indivíduo, onde o ser humano
constrói o seu caminho para se relacionar com o outro. O processo de desenvolvimento do indivíduo em interação com
seus semelhantes é de fundamental importância para que se tenha consciência das diferentes “facetas” de sua
personalidade e para que ocorra a autoconsciência.

O ser humano não deve viver muito tempo no vazio, porque senão acaba por estagnar-se; suas potencialidades
transformam-se em morbidez e desespero e, eventualmente, em atividades destrutivas. E qual a origem psicológica
dessa experiência de vazio?

Segundo May (1973) a sensação de vazio provém, em geral, da idéia de incapacidade para fazer algo de eficaz a
respeito da própria vida e do mundo em que se vive. O vácuo interior é o resultado acumulado, a longo prazo, da
convicção pessoal de ser incapaz de agir como uma entidade, dirigir a própria vida, modificar a atitude das pessoas em
relação a si mesmo, ou exercer influência sobre o mundo que o rodeia. E, uma vez que o que a pessoa sente e deseja não
tem verdadeira importância, ela em breve renuncia a sentir e a querer, utilizando da apatia e a falta de emoções, como
defesas contra a ansiedade. Resultando em um bloqueio das preciosas qualidades humanas, da redução e
empobrecimento psicológico, ou, então, a sujeição a uma autoridade destrutiva.

No Asilo (...), atendi uma senhora que a chamarei de Clarisse3 . Sendo esta uma das internas mais antigas do asilo, todas
às vezes quando chegava para atendê-la, lembrava-me que todas as outras idosas , que entraram na mesma época que
3
Nome fictício para preservação de sua identidade.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 24
ela, já não estavam mais na Instituição, haviam falecido. E falava-me, “o que há de fazer né, filha, a morte é o destino
da gente”. Angustiada, pelo medo da morte, passava o atendimento todo segurando em meu braço.

Antes de iniciar o acompanhamento terapêutico com está senhora, uma coisa curiosa me chamou a atenção: estava
conversando com outras internas, quando Clarisse, que estava sentada no sofá da sala de televisão, ao me ver, me
chamou, acenando as mãos e falando alto. Vendo o interesse de Clarisse em conversar comigo, fui lhe dar uma atenção.
Ela falava muito alto e tive dificuldade, a princípio, de entender o que falava, quando uma outra senhora me disse, “não
liga pra ela não, ela é surda”. Achei incoerente o fato de ela ser surda, sendo que respondia as perguntas que lhe fazia,
sem demonstrar dificuldade de entendimento.

Em outro dia, uma auxiliar de enfermagem disse-me que Clarisse falava “um dialeto cigano” e que ninguém entendia o
que ela falava, por isso que não tinha com quem conversar. Mais uma vez constatei que o modo de falar de Clarisse, em
um tom mais alto que o normal, era ensurdecedor, no sentido que nem a altura em que falava, não era suficiente; o
pedido de atenção não lhe era possível, devido a “rotulação” de ser surda e possuir uma “dialeto” diferente. Esta
situação aumentou a sua angústia e seu isolamento no asilo. Assim também acontece com outras internas, que apesar de
estarem num mesmo espaço físico, ou num mesmo quarto, não conversam entre si. O isolamento parece que é uma
característica do asilo Recanto Feliz, onde as asiladas, ficam “em canto”.

A vida enquanto existência única e isolada não tem sentido(...). O homem existe a
partir de suas realizações, não existindo pela sua própria vida isolado do contexto
de suas realizações. (Angerami, citado por CAMON, p.17).

Enclausuradas em si mesmas, as idosas ficam a espera da morte. O próprio isolamento já é uma preparação para a
morte, distante do mundo e das relações afetivas, finda o projeto de vir-a-ser e a conscientização da impermanência do
Ser fica mais próxima.

Os pensadores existencialistas4 tem acentuado a morte como uma parte constitutiva, antes do fim da vida, e salientam a
idéia que somente pela integração do conceito de morte dentro do eu torna-se possível uma autêntica e genuína
existência. O preço de negar a morte é a ansiedade indefinida e a auto-alienação. Para compreender-se completamente,
o homem tem de enfrentar a morte, tornar-se cônscio da morte pes soal. Assumindo a morte, interiorizando-a como uma
possibilidade última, como totalidade que não se pode ser em vida, assumindo a morte, cria -se um ponto de vista sobre
si mesmo como totalidade.

Contudo, o ato de morrer é a única coisa que ninguém pode fazer para o outro, é uma experiência intransferível, que
determina o fim de todos os projetos elaborados. E a solidão seguida pelo isolamento existencial propicia a preparação
para a morte, devido ao distanciamento da vida em comunidade, o apaziguamento das emoções e a entrada em um outro
nível de percepção de mundo. O isolamento passa a ter um sentido de caminho sem volta para este mundo moderno e o
início de um outro caminho da finitude do homem e da totalidade e transcendência do Ser.

REFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS

CAMON, Waldemar A. Angerami – Psicoterapia Existencial - Noções Básicas, São Paulo: Traço, 1985

MAY, Rollo – O Homem a Procura de Si Mesmo, 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1973.

_________ – Psicologia Existencial, 3ª ed. Porto Alegre: Globo, 1980.


4
Simmel, Sheler, Jaspers e Heidegger, citados por MAY, 1971, p.71.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 25
NERI, Anita L. Envelhecer num País de Jovens – Significados de Velho e Velhice Segundo Brasileiros Não Idosos,
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1991

NERI, Anita L. e DEBERT, Guita G.(Org.) – Velhice e Sociedade, Campinas, SP: Papirus, 1999.

____________________
Recebido em 13/05/2005
Aprovado em 27/08/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 26
MANIFESTAÇÕES PSÍQUICAS DOS ESTUDANTES EM CONCLUSÃO DO CURSO
DE MEDICINA DIANTE DA PERDA DO PRIMEIRO PACIENTE

Maria Luiza Araújo de Oliveira 1


maluarol@terra.com.br
Viviane Luzia Prestes Anchieta2
vivianeanchieta@yahoo.com.br

RESUMO

A presente pesquis a constitui-se em um estudo com abordagem qualitativa que busca analisar as percepções, os
sentimentos e os comportamentos dos estudantes do último ano do curso de medicina frente à perda de seu primeiro
paciente.

O estudo foi realizado através de entrevistas semi -estruturadas. Os entrevistados foram cinco graduandos do último ano
do curso de medicina de diferentes universidades do Rio Grande do Sul. As entrevistas realizadas permitiram analisar as
verbalizações pelo método de análise de conteúdo proposto por Minayo (1994).

Este trabalho aborda ainda questões relativas às estratégias de enfrentamento decorrentes da morte do primeiro paciente,
as expectativas que surgem nessa fase de graduação e como essas experiências podem influenciar no futuro profissional
destes estudantes. A pesquisa mostra como estes sujeitos percebem tais pacientes e como se sentem frente a eles.
Conceitua, através de fundamentação teórica adequada, a atitude desses futuros profissionais da saúde em relação à
questão da morte.

Palavras-chave: estudantes de medicina; primeiro paciente; morte.

INTRODUÇÃO

Os estudos sobre a morte e as investigações a respeito dos envolvimentos sociais e culturais que circundam este
fenômeno da vida são explorados desde a antigüidade até nossos dias, e continuarão a ser trabalhados pois fazem parte
da vida, da curiosidade do homem, de suas angústias, medos e verdades.

Uma vez que se trata de pauta inesgotável, estas investigação tem o propósito de trazer alguma contribuição à
comunidade acadêmica da área da saúde, no sentido de entender melhor os sentimentos dos alunos em processo de
conclusão de curso por ocasião de seu enfrentamento.

De acordo com Lizot e Scheffel (2000) a morte é um drama existencial bastante complexo e determina uma diversidade
enorme de sentimentos que se encontram intimamente ligados à cultura, ao estilo de vida, aos valores, à educação desde
tenra idade.

Estas mesmas autoras colocam que a morte é a única situação a qual temos a certeza de que iremos vivenciar. No caso
dos futuros médicos e enfermeiros, nota-se sua inserção num contexto onde estar face-a-face com a morte faz parte do
seu trabalho, e esta situação desperta sentimentos muito fortes. Deparar-se com este fenômeno desperta inúmeras
reações, principalmente no médico e no enfermeiro que lutam para que isto não aconteça.

A escolha do tema decorre da necessidade de um olhar sobre estes sujeitos que carecem de um acolhimento, percebido

1
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
2
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 27
durante a realização dos nossos estágios em instituições hospitalares. Desta forma nos propomos a investigar e conhecer
como estes futuros profissionais lidam com a perda de seu primeiro paciente, um cuidado sobre os cuidadores.

Tendo em vista as repercussões dessa experiência para esses estudantes, refletir sobre o tema, nos parece fundamental
ao futuro profissional, que terá seu trabalho centrado na relação com o ser humano.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Estudante de Medicina Adulto Jovem

Ao desenvolver este trabalho, acreditamos ser pertinente abordar, de maneira geral, o ser característico do adulto jovem
para, posteriormente, examiná-lo, detalhadamente, através da literatura específica e conteúdo dos depoimentos
individuais das vivências sociais, culturais e acadêmicos dos entrevistados.

Para Van Hoose e Worth (1985), o adulto jovem, após vencer os problemas, os questionamentos e as dúvidas da
adolescência, muda sua forma de pensar com isso, elabora um conceito distinto de si mesmo. Na adolescência, explorou
suas forças e fraquezas, seus atributos e valores específicos. Agora, na nova fase, o adulto jovem tem a oportunidade de
implementar suas escolhas pessoais baseado nas suas novas percepções.

Lidz (1983) aponta que a escolha da profissão tem início ainda na infância, mudando à medida que o tempo passa, e tem
forte influência nos seus ídolos. No começo da vida adulta nem sempre a escolha é definitiva, devido à mudanças de
interesses e satisfações. O adulto jovem sabe, também, que qualquer profissão exigirá trabalho e esforços; muitos
procurarão uma profissão que lhe dê satisfação; outros, uma que lhes proporcione uma vida financeiramente segura; ou
ainda outros, que buscam o poder.

Segundo Carpena (1997), ser um estudante de medicina é, de certa forma, um privilégio importante, porque se trata de
uma profissão, culturalmente, situada em posição de destaque pela conotação que traz: amenizar o sofrimento humano,
cuidando da saúde. Estes compromissos são incorporados, a cada dia na vida do graduando de medicina e, de uma certa
forma, são desencadeados de sentimentos ligados ao “devo”, ao “não posso falhar” e aos medos, pela insegurança e
onipotência, diante do não solucionável.

Vivenciando a perda do primeiro paciente, esse estudante, adulto jovem, experimenta em cada parte do processo de
enfrentamento com a morte, os sentimentos, não repetidos, mas modificados ao longo do amadurecimento. Todos esses
aspectos serão somados à competência técnica, a um posicionamento ético e coerente com uma sociedade que muda e
se transforma, a cada dia.

Formação do Médico

Muitas vezes, o estudante de medicina inicia o curso sem noção exata da escolha que fez. A escolha pode estar
relacionada a uma idealização feita por ele ou pela família, envolvendo, assim: a tentativa de alastrar a tradição médica
familiar; vocação para ajudar os outros; e sensibilidade perante o sofrimento alheio.

Além disso, Rocco (apud Cataldo Neto, 1998), diz que existe todo um prestígio em ser médico, a partir da magia e do
poder de cura e domínio sobre as pessoas.

Segundo Cataldo Neto (1998), a escolha feita, mu itas vezes, antes da maturidade, traz consigo um limitado
conhecimento do mundo e de experiência de vida. A decisão é tomada com base em experiências infantis e conselhos
de amigos e familiares.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 28
Menninger (apud Cataldo Neto, 1998), diz que estes fatores externos são somados à forte motivação inconsciente.
Necessidade de ser amado, insegurança quanto aos valores, necessidade de controlar doenças e a morte, e o forte desejo
de cuidar de outras pessoas são motivações inconscientes muito presentes entre os médicos.

Simmel (apud Cataldo neto, 1998), descreveu algumas fantasias inconscientes determinantes na escolha da profissão
médica. A principal delas é que o exercício da medicina propicia a adaptação ao princípio da prazer ao da realidade.
Desta forma, o médico poderia satisfazer os seus impulsos primários, que seriam: o ver e apalpar pessoas; acesso ao
interior do corpo e os mistérios do nascimento, sexualidade e morte, entre outros.

Para Cataldo Neto (1998), o encontro com a morte é um momento perturbador. Segundo ele, na educação médica existe
uma lacuna no conhecimento programado sobre a morte e o morrer. Uma das formas do aluno responder a essa
“conspiração do silêncio” em relação à morte é tentar de alguma forma afastar-se dos pacientes que não têm cura. A
popular afirmação de que os médicos necessitam ser “frios” reforça os estudantes sobre esse falso conceito.

Profissionais da Saúde Diante da Morte

Segundo Kovács (1992), a diferença principal entre as pessoas em geral e os profissionais de saúde, médicos,
enfermeiros e psicólogos, é que na vida destes, a morte faz parte do cotidiano, muitas vezes, é uma companheira diária.
Toda doença é uma ameaça à vida e pode se tornar um aceno à morte.

Sabemos que, na realidade hospitalar, os profissionais que trabalham diretamente com os paciente, muitas vezes,
deparam-se com fatos que envolvem a morte destes. A luta contra a morte, ou o enfrentamento dela quando inevitável,
tornam-se situações cotidianas, embora nunca banais. Seguem carregadas da dor física e psíquica e da angústia ou das
defesas contra elas.

De acordo com Feifel (apud Kovács, 1992), os médico tem um medo maior da morte e poderiam estar buscando, na sua
futura profissão, uma forma de controlar esse sentimento. Uma das formas mais usadas por esses profissionais é a
formação reativa, a conquista da doença, o desafio da morte e a tentativa de ser herói para salvar o paciente a todo
custo.

Brim (apud Kovács, 1992), relata o fato de que alguns médicos não se permitem conhecer os seus sentimentos em
relação à morte, tais como a impotência, a culpa e a raiva. A impotência é associada a perda do paciente, a culpa com a
idéia de enganá-lo e a raiva como conseqüência das duas anteriores. Esses profissionais podem re-experimentar
situações de medo vividas na infância, medo de separação, abandono e o medo da sua própria mortalidade.

Muitas vezes, os profissionais que trabalham em hospitais lançam mão de posturas defensivas para lidarem com a morte
de seus pacientes. O que faz com que os médicos permaneçam reservados é a consciência dos perigos de um
envolvimento muito forte.

Conforme Kovács (1992), o afastamento do paciente e a delegação de funções a outros profissionais, podem estar
relacionados a problemas contratransferenciais diante da pessoa que esta falecendo. Além disso, outros sentimentos
aparecem, como a ambivalência entre a tentativa de uma medida heróica e a raiva do fracasso.

Para Clark (apud Kovács, 1992), as defesas contratransferenciais podem aparecer através de alguns mecanismo, tais
como: negação, falso otimismo, superproteção e intelectualização. Estes mecanismos vão interferir muito na relação
médico-paciente.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 29
Kovács (1992), salienta o fato de que a onipotência médica pode ser relacionada à fase patriarcal, onde se forma uma
imagem de “pai salvador”. Esta imagem é colocada no papel do médico que se vê como herói poderoso diante do
arquétipo da morte. O médico torna-se o senhor da vida e da morte.

A morte de um paciente causa um impacto muito grande na identidade pessoal e profissional de toda a equipe que cuida
do enfermo. A forma como o profissional da saúde compreende o conceito de morte e a maneira como relaciona este
conceito com a sua própria existência e vivência pessoal, são aspectos que terão muita influência na sua atuação diante
do óbito.

Sentimentos em Relação à Morte

A emotividade é necessária para aqueles que trabalham no trato com o paciente. Não trata-se de um envolvimento, mas
sim de um compartilhar num momento difícil, entre seres humanos, tanto em episódios de perda e dor quanto
sentimento alegre.

O aluno de medicina defronta-se com a dor do paciente, podendo ser uma parada respiratória, um tratamento sem cura,
o enfraquecimento físico, um lento processo de morte; medo, raiva e outros sentimentos que vão acompanhar a pessoa
enferma. Todos são problemas que permeiam o acadêmico que talvez não possa encontrar resposta desejada e que
tratam-se de momentos difíceis para o aluno.

Para Stearns (1991), todos nós temos tanto o direito como a responsabilidade de levar nossas perdas a sério. O pesar e o
luto quando ignorados ou negados, podem prejudicar-nos de maneiras diferentes. Encarar nossas perdas faz parte da
recuperação da liberdade. Falar dos sentimentos no momento de enfrentamento com a morte é tarefa delicada. Faz-se
necessário perceber os momentos mágicos que ocorrem diante de um relacionamento em que acontecem ganho e
perdas, de um processo de vida e, no caso de nossa investigação, o momento em que caem as últimas amarras da
existência do ser humano. Sejam quais forem os tipos de sentimentos, todos são manifestações afetivas.

O mundo dos médicos é repleto de emoções, dúvidas e culpas, temor, angústias, incertezas; é uma profissão que
envolve-se com o sentimento humano. Toda essa turbulenta alteração com relação à perda transforma significantemente
a vida da pessoa. Os sentimentos de culpa são praticamente inevitáveis em presença da perda. Qualquer que seja a
situação conseguimos nos culpar de um jeito ou de outro. Stearns (1991), refere que os sentimentos de culpa precisam
ser contestados por outra pessoa. A ajuda profissional de um psicólogo, ás vezes, é aconselhável.

Perdas que ocorrem às pessoas fazem-nas, muitas vezes, mergulhar num período de ajustamento, tentando
simplesmente sobreviver com a melhor maneira encontrada. Os sentimentos mal resolvidos impedem que qualquer um
possa ser uma pessoa completa, feliz. Evitar o assunto parece que as pessoas estão fazendo de conta que nada aconteceu
ou então fica parecendo que o assunto é algo vergonhoso.

Cada pessoa tem sua própria maneira de lidar com a dor. Insônia, ansiedade, medo, raiva intensa, perda de interesse
pelas atividades diárias, preocupação consigo mesmo e sentimentos de tristeza fazem parte do processo de aceitar a dor.
O significado da perda para a pessoa, sua personalidade e o modo de lidar com as coisas são outros fatores que
influenciam na duração do pesar. Para lidarmos com a questão do sentimento de perda, muitas vezes utilizamos defesas
e Kovács (1992), comenta que as defesas ao mesmo tempo que nos protege do medo da morte, podem nos restringir.

MÉTODO

Sabe-se que o trabalho visa identificar como os estudantes do último ano do curso de medicina lidam com a morte de
seu primeiro paciente, optou-se por uma metodologia qualitativa de coleta e análise de dados, com o intuito de obter
uma compreensão detalhada do tema e poder entender mais subjetivamente o fenômeno pesquisado. optou-se por uma
metodologia qualitativa de coleta e análise de dados, a fim de compreender mais subjetivamente o fenômeno

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 30
pesquisado.

No presente trabalho ouviu-se cinco sujeitos, homens e mulheres com idade entre 20 e 30 anos, graduandos do último
ano do curso de medicina, residentes na cidade de Porto Alegre, e pertencentes a classe sócio-cultural média-alta que no
momento vivenciavam o período de final de curso de medicina.

As entrevistas foram realizadas no período de outubro de 2003 com duração de aproximadamente 60 minutos. Foram
realizadas no local e horário que foi mais viável para os participantes, a única exigência era que o local fosse apropriado
para este tipo de situação (entrevistado confortavelmente instalado, ausência de interrupção, condições propícias à
manutenção do sigilo).

Usou-se como instrumento a entrevista semi -estruturada, que desenrolou-se a partir de um esquema básico, porém não
aplicado rigidamente, permitindo que as entrevistadoras fizessem as adaptações necessárias, a partir dos dados obtidos
pelo entrevistado.

Para a análise das entrevistas, foi aplicada a técnica da análise temática, que, conforme Minayo (1994), consiste em
descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência significam alguma coisa
para o objetivo analítico visado.

RESULTADOS

Em vista dos objetivos do trabalho, que contempla os sentimentos e vivências de estudantes de medicina no último ano
do curso, tornou-se fundamental estabelecer algumas dimensões a serem exploradas dentre as questões norteadoras, que
objetivassem a melhor compreensão:

Reações frente á perda do primeiro paciente


- tempo de relação com o paciente
- idade do paciente
- vínculo afetivo
- tempo de experiência do estudante
- nível de responsabilidade do estudante
- tipo de doença do paciente
- sentimentos como choque emocional, tristeza, angústia, conformismo, culpa, frustração,
perda, desânimo, alívio, empatia.

Repercussões
- expectativas para o futuro
- fazer residência
- enfrentar medos e ansiedades
- ter que assumir o atendimento do paciente (sem o respaldo da equipe)
- atingir felicidade e realização na profissão
- utilizam como estratégia de enfrentamento com relação á perda do paciente: racionalização,
necessidade de contar para alguém, onipotência, desmistificação da religião, identificação com o paciente.

Significado da perda/morte
- ambigüidade
- frustração
- tristeza
- alívio
- conformismo

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Ao experienciarem a morte de seu primeiro paciente, os estudantes de medicina mostram-se reflexivos o que, para
alguns autores, repercute o confronto com alguns aspectos básicos da sua própria vida. A morte de seus pacientes leva
os estudantes inevitavelmente a refletirem sobre a vida humana, no que ela tem de único, concreto e absoluto.

Os estudantes entrevistados mostraram o seu lado tanto profissional quanto emocional. O investimento afetivo surgiu
como um dos pontos relevantes na relação que estes têm com seus pacientes. Isto pode ser percebido conforme relata
um dos entrevistados: “... a primeira coisa que tem que fazer é criar um bom vínculo com a pessoa, para ela poder se
abrir de verdade, contar o que está passando e tudo que ela sente ...”

Nos parece importante ressaltar que a forma como se estabelecem os primeiros contatos entre pacientes e estudantes,
nos dirá muito sobre as características dessa relação. Como pode inferir-se, o estudante, ao estabelecer uma relação
empática com seu paciente desencadeará nele respostas de cunho diferenciado que poderão ser de caráter mais
dependente. A fala de E. exemplifica bem o que queremos demonstrar: “ tu vai te apresentar, entender o paciente, não
só no sentido patológico, no sentido da doença física que está envolvendo ele. O paciente tá com uma dor, tenta criar
empatia com ele. No sentido de entender, mostrar para ele que tu está entendendo o que está acontecendo com ele... “

Os autores referem que exatamente como o paciente traz para o relacionamento médico-paciente suas atitudes
transferenciais, por exemplo, percebê-lo como um protetor benevolente, salvador, inimigo em potencial e outros, os
estudantes freqüentemente desenvolvem reações contratransferenciais a seus pacientes. A contratransferência pode
tomar a forma de sentimentos negativos, perturbadores, mas pode também envolver reações desproporcionalmente
positivas, conforme observadas nessa fala “ tu te coloca no lugar da família, tu te sente mal. Porque tu vê que é uma
pessoa querida pelas outras, que morreu, sabe?! “

Á medida que avançamos no entendimento, podemos compreender que os aspectos contratransferenciais interferem
direto na postura do estudante ao tratar o paciente. Em várias questões nas quais foram levantados os sentimentos frente
ao insucesso de alguns procedimentos ou diagnósticos, os graduandos revelaram que sentem-se impotentes, sentimento
esse que pode trazer em seu conteúdo uma idéia de fracasso. Esse sentimento tem correlação com a própria formação do
graduando, que está voltada para a manutenção da saúde, fazendo com que os estudantes se sintam despreparados para
lidar com o insucesso, sentindo-se fracassados por tentar vencer a morte, questionando a validade e a qualidade de seu
trabalho. Salientamos o depoimento de uma das entrevistadas: “ Ás vezes, tu te sente impotente, tu te sente burra,
porque eu não fiz tal coisa, porque não é fácil na verdade ... a gente gosta de prever, mas não tem como saber. “

Segundo Stedeford (1986), os sentimentos que são despertados no estudante podem não só interferir no trabalho como
também na vida pessoal e, com a finalidade de se proteger, os indivíduos usam de forma construtiva, ou não, seus
mecanismos de defesa. Este aspecto de uso de defesas pode ser exemplificado pela fala a seguir “ Com o tempo, a gente
vai vendo a nossa ação, no nosso trabalho, porque a gente está ali. A gente vai racionalizando mais, com certeza ... tu
vê que a pessoa tava sofrendo um monte e acabou. “ Os mecanismos de defesa usados por estes estudantes no
enfrentamento de situações dolorosas, como a perda do seu primeiro paciente, funcionam como uma força resistente
para elaborar essa difícil realidade. A maturidade do graduando irá auxiliar na forma como estes mecanismos serão
utilizados.

A fim de aliviar a angústia, citada pelos entrevistados, podemos notar que uma das estratégias utilizadas para enfrentar a
perda do primeiro paciente é o ato de dividir esse sentimento com alguém. É preciso de um espaço para que os
estudantes possam conversar abertamente sobre as ansiedades vivenciadas nessas situações. É importante que o
graduando saiba lidar com seu mundo interno para que possa ajudar o paciente e seus familiares.

Quando o assunto é morte faz-se necessário falar sobre o assunto. Não somente falar, mas poder expor, demonstrar
sentimento de dor e raiva, e ter a capacidade de chorar. Como exemplo prático da colocação acima citamos: “... eu vim
pra casa umas duas horas da madrugada, que foi a hora que eu consegui me liberar, até foi o meu namorado que me

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buscou, eu fiquei na sala conversando com ele, mas quando ele saiu eu desabei, chorei um monte, tava com a cabeça
assim latejando, a mil. “

Para Kovács (1992), a perda e a sua elaboração são elementos contínuos do processo de desenvolvimento humano. É
neste sentido que a perda pode ser chamada de morte “consciente”, ou de morte vivida. A morte como perda nos fala
em primeiro lugar de um vínculo que se rompe de forma irreversível, sobretudo quando ocorre perda real e concreta. A
expressão de sentimentos nessa ocasião de morte é fundamental para o desenvolvimento do processo de luto.

De acordo com as entrevistas realizadas, o estudante sente-se culpado porque acha que poderia ter feito mais. Assim, a
oportunidade de falar sobre o ocorrido, procura valorizar o estudante, mostrar como ele foi importante para aquele
paciente e incentivá-lo com as coisas boas que faz. Kovács (1992), salienta que a morte como limite nos ajuda a crescer,
mas vivenciada como limite também é dor, perda de função, do afeto. É também tristeza, solidão e pobreza. Para
melhor exemplificar o que foi referido, citamos: “ eu lembro de um paciente que eu tive na cirurgia, que eu pensava:
como é que esse homem morreu, como? O que a gente errou, o que fizemos de errado?”.

Para melhor entendimento do que estamos expondo, acreditamos ser pertinente ressaltar a colocação de Grinberg
(1978), que diz existir duas classes de culpabilidade. A culpa persecutória frente ao objeto, frente ao ego, que irá
determinar a aparição do luto patológico e, por outro lado, a culpa depressiva que cria possibilidade de autêntica
reparação do ego, estimulando seu enriquecimento e sua capacidade de sublimação e permitindo, dessa forma, efetuar a
reparação do objeto.

Os pacientes e familiares projetam no médico aspectos emocionais decorrentes da gravidade da doença ou da situação
de hospitalização, fazendo, assim, com que esses profissionais utilizem mecanismos de defesa para protegerem-se da
ansiedade gerada pela cobrança pessoal. Entre alguns fatores que influenciam na experiência em relação á morte do
primeiro paciente, podemos ressaltar o tipo de doença que foi salientado pela maioria dos estudantes entrevistados.

Trabalhar com a morte é um processo difícil, porque exige do profissional de saúde não só uma maior tolerância á
frustração mas também o entendimento dos próprios sentimentos frente a essa situação. Para melhor exemplificar,
utilizamos a fala de um entrevistado: “ O paciente acaba vindo a óbito por determinados motivos. Claro, a morte é
sempre frustrante, tu fica chateado. Pô, o paciente morreu ... “; “ Tu te sente frustrado, um pouco, por um lado. Não é
bem frustrado a palavra, mas tu te sente, tu começa a te questionar sobre o que tu fez, tu começa a pensar
retrospectivamente. “

São muitos os motivos que levam o estudante de medicina a escolher esta profissão, tais como: interesse em biologia,
influência dos pais, tentativa de ajudar, tratar, curar e salvar. Freqüentemente, esses objetivos são revestidos de muita
idealização, podendo se desfazer quando o aluno entra em contato com a realidade e com os limites da profissão. Para
melhor demonstrar essa realidade de ambigüidade que surge na relação médico-paciente, citamos: “ eu acho que eu
tenho uma boa relação médico-paciente, assim, mas essa relação é mais ambígua. Ás vezes tu atende uma paciente que
quer ser ajudada, e que facilita, independente da condição social dela. E, que ela quer se ajudar, ela tenta
compreender e, ela colabora contigo. E, as vezes, tu tem pacientes que não colaboram, não querem ajudar, então,
apesar de eu tentar fazer uma melhor relação possível com ambos os tipos de pacientes, ás vezes, a gente fica um
pouco ... os sentimentos em relação ao paciente são diferentes ... “

Tähkä (apud Cataldo Neto, 1998), aponta que a parte mais importante da existência humana está relacionada ás
diferentes relações estabelecidas entre as pessoas. Estes aspectos apareceram nas seguintes entrevistas: “ eu acho que
uma boa relação médico-paciente é tu tentar humanizar o teu atendimento, tu vai te apresentar, entender o paciente,
não só no sentido patológico, no sentido da doença física ...”; “ Não tem que tratar a pneumonia, tem que tratar o seu
João que pode ou não ter pneumonia.”

Rodhe et al (apud Cataldo Neto, 1998),relata que o tipo de atendimento prestado aos paciente em uma estrutura
assistencial, simultaneamente universitária e previdenciária, envolve aspectos positivos e negativos. Por um lado,
permite a ampliação médica ás pessoas mais desfavorecidas da população e á comunidade acadêmica, tomando o ensino

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 33
mais dinâmico e real. Observamos este aspecto na fala de G.: “ Acho que eles (pacientes) estão lá para nos ajudar
também. Como a gente é aluno, não está formado ainda, eles entendem bem isso ai. Eles sabem que estão em um
hospital escola, sabem que estão em uma faculdade. Que também estão ali para nos ajudar e, isso ai que tem que
valorizar bastante. Porque tu tá dando uma ajuda pra eles ... e eles também estão te dando uma coisa de volta, que é a
oportunidade de tu crescer com eles.”

Segundo Werner e Jorsch (apud Cataldo Neto, 1998), o estudante de medicina, durante sua graduação encontra diversos
tabus e situações traumáticas, desenvolvendo dessa forma, várias defesas, na tentativa de lidar sozinho com seus
sentimentos. No momento em que se deparam com a morte, o falecido é transformado em órgãos, ossos, sangue, uma
relação contrafóbica, representando uma atitude de vitória e domínio. É dado ênfase aos alunos sobre a objetividade
científica e, o controle sobre a doença, tornando o paciente mais um número. O medo da morte torna-se uma questão
intelectual.

Correlacionando a teoria citada acima com as entrevistas percebemos “Eu tive que dar a notícia para ... paciente de
quinze anos que ela tinha câncer, ... então fui eu e uma outra residente e fomos lá nesse dia dar a notícia para ela e
para a mãe, as duas começaram a chorar e eu quase comecei a chorar junto, tive de me segurar.”

Para Meltzer (1989), embora o melancólico e a pessoa que vive o luto sejam aparentemente semelhantes, é possível
notar a partir de um exame cuidadoso, que não vivem a dor da mesma forma. A dor do melancólico está relacionada
com o esvaziamento de si mesmo, enquanto que o sofrimento da pessoa em luto surge a partir da perda do objeto
amado. Neste caso, o mundo torna-se vazio.

Os indivíduos apresentam com relação á morte um sentimento de choque emocional. No seguinte exemplo de uma das
entrevistas, podemos mostrar o que queremos dizer perante este sentimento: “ com certeza, no início é bastante
chocante, a gente vê coisas que não via antes ... a morte. “ Surge ao redor de todos estes emaranhados de sentimentos
confusos e exaustivos, uma tristeza, desânimo, melancolia perante o luto a cerca da perda do primeiro paciente. Neste
caso, o mundo torna-se vazio. Podemos notar, no relato de um dos entrevistados, o sentimento de tristeza e desânimo
que preenche a perda: “ Tu te sente triste .... tu te envolve.”

Cada pessoa tem sua maneira de lidar com a dor. Insônia, ansiedade, raiva intensa, perda de interesse pelas atividades
diárias, preocupação consigo mesmo e sentimentos de tristeza fazem parte do processo de aceitar a dor, de se conformar
com ela. Nenhuma pessoa é imune ao sofrimento. As emoções humanas não podem ser retiradas, é necessário que a
pessoa tenha a liberdade de viver plenamente os sentimentos. De posse dos dados referentes ás entrevistas, podemos
destacar, para melhor mostrar o conformismo que nos referimos acima: “ Morreu porque tinha que morrer ... como as
vezes não tem o que fazer a gente se conforma.”

Com relação á perda, verificamos nas entrevistas realizadas que esse sentimento não apareceu de forma direta,
verbalizada, porém, queremos ressaltar o fato de ser este relevante pois subentendemos que ele se faz presente neste
trabalho.

Com referência a todos estes sentimentos que estão relacionados acima, Rocco (apud Cataldo Neto, 1998), diz que
existe todo um prestígio em ser médico, a partir da magia e do poder de cura e domínio sobre as pessoas. A dificuldade
de lidar com a morte parece-nos um movimento bastante consistente e maduro no estudante de medicina, mas ás vezes
este mostra-se onipotente quando algumas das dificuldades perante a morte ressaltam. Vejamos a seguinte colocação: “
... esse cara da cirurgia era um alcoolista, podia morrer porque bebia ou porque bateu a cabeça, porque tinha um
câncer de próstata ... a gente gosta de prever, mas não tem como saber. A gente fica muito onipotente.”

Kovács (1992), salienta o fato de a onipotência médica ser relacionada á fase patriarcal, na qual se forma uma imagem
do “pai salvador”. Esta imagem é colocada no papel do médico que se vê como o herói poderoso diante do arquétipo da
morte. O médico torna-se o senhor da vida e da morte. Esta onipotência, pode surgir também como uma estratégia de
enfrentamento para o momento enfrentado pelo estudante na busca de uma explicação para este desafio que a morte se
mostra. A onipotência refere-se á qualidade de ser poderoso, de poder tudo. Realmente, por vezes, é assim que os

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 34
médicos sentem-se, pois lidando com vida e morte freqüentemente pensam ter o controle sobre as coisas.

Bowlby (1985), coloca que o luto é um conjunto de reações diante da morte e para tal, organizar e elaborar o luto
mostra-se o alívio para lidar com esta situação. Como constatamos em uma das entrevistas: “ ... tu vê que era uma
pessoa querida pelas outras, que morreu, sabe?! ... a gente ofereceu tudo pra ele ... então por um lado eu me senti um
pouco aliviado.”

Para enfrentar essa realidade de morte que circunda o estudante de medicina, alguns dos entrevistados apontaram a
religiosidade como estratégia para que a dor possa ser melhor admitida. Para melhor exemplificarmos: “depois tu acaba
te conformando, e ai acho que vem a parte religiosa do negócio. Eu vejo que por mais que a gente tente, tem uma
doença nesse corpo, todo mundo morre, todo mundo vai morrer.” E, em contrapartida, podemos perceber no relato
seguinte um pensamento também de religiosidade, mas que difere quanto a desmistificação dessa religião: “ em geral eu
acho que tento ver a morte de uma maneira mais técnica e acho que isso desmistifica muita coisa, no sentido de morte.
Eu pessoalmente, acho que muitos dos colegas discordam um pouco de sua religiosidade .... eu acho que a morte
envolve muita religiosidade, morreu por algum motivo e vai para o céu, o que vai acontecer ... eu acho que esta
questão que tu acaba vendo de uma maneira diferente. Tu acaba não vendo tanto como um castigo, agora tá indo para
o céu ... tu vê como está acontecendo na tua frente ... tu acaba desmistificando a questão da morte.”

Através do que foi trazido pelos entrevistados, é possível inferir que durante a vida acadêmica, os estudantes necessitam
de um acompanhamento psicológico para lidarem com questões tão intensas. Como futuras psicólogas, percebemos este
fato como um desafio, pois é no resgate dos valores humanos que o psicólogo atua, na construção de novas identidades
e produções subjetivas, que levem em consideração o ilógico, o medo, o imponderável e a morte nos processos de fazer
saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou identificar junto aos estudantes do último ano da faculdade de Medicina como estes vivenciam e
se posicionam diante da morte, e como se relacionam com a perda do seu primeiro paciente.

Através da discussão dos resultados, concluímos que muitos aspectos levantados, na fundamentação teórica, puderam
ser confirmados posteriormente.

Como foi constatado, os estudantes com os quais desenvolvemo s nosso trabalho mostraram grande preocupação para
com os pacientes e familiares destes. Colocaram, ainda, que não conseguiram expressar o que sentiram em relação á
perda de seu primeiro paciente, pois este não era de sua responsabilidade direta e sim de u ma equipe médica.

Acreditamos que nossa população trouxe á tona conteúdos significativos que dão idéia da relação médico-paciente.
Outra questão relevante para estudos posteriores, seria a de realizar uma pesquisa com profissionais da área da saúde,
recém-formados, pois seus sentimentos surgiriam com melhor conhecimento de causa.

Por vezes, podemos comprovar em nossa pesquisa que a utilização dos mecanismos de defesa é sinal de preservação da
saúde mental. Concordamos com Stedeford (1986), pois este relata ser saudável este modo de lidar com a morte do
paciente, e que quando utilizados corretamente, contribuem para a melhor proteção e adaptação destes futuros
profissionais.

Constatamos que a emoção faz parte da vida do ser humano e é indispensável para o mesmo. Os relatos dos futuros
médicos, nos confirmaram a existência de dúvidas, tristeza e dor perante a perda do primeiro paciente.

Compartilhar de situações da vida e da morte no dia-a-dia da profissão escolhida pelos nossos sujeitos é inevitável e, a

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 35
partir desse enfrentamento, surge uma gama de sentimentos.

As expectativas que surgiram em relação ao futuro resumem-se a fazer residência, enfrentar medos e ansiedades, ter que
assumir o atendimento de seu paciente e atingir felicidade e realização com a profissão escolhida.

Para finalizar, gostaríamos de colocar nossa satisfação em realizar esta pesquisa. A partir dela conseguimos ampliar
nosso conhecimento sobre a relação existente entre os futuros médicos e sentimentos por eles vivenciados na graduação,
especialmente a perda do seu primeiro paciente. Esta nos proporcionou a possibilidade de vivenciar, através do contato
da pessoa em seu ambiente, os conteúdos teóricos trabalhados nas disciplinas do curso de psicologia, favorecendo o
aperfeiçoamento do processo da aprendizagem teórica, técnico-científica e de relacionamento humano.

REFERÊNCIAS

BOWLBY, John. Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

CARPENA, Lygia. Os sentimentos dos acadêmicos de medicina no seu enfrentamento com o fenômeno da morte.
Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUCRS, 1997.

CATALDO NETO, Alfredo. Estudantes de medicina: perfil, atitudes e tendências empáticas. Dissertação de Mestrado.
Porto Alegre: PUCRS, 1998.

GRINBERG, Leon. Culpa y depresion: estudio psicoanalítico. 3ª edição. Buenos Aires: Paidós, 1978.

KOVÁCS, Maria Júlia. Morte e desenvolvimento humano. 2ª edição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

LIDZ, Theodore. A pessoa: seu desenvolvimento durante o ciclo vital. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.

LIZOT, Daniela; SCHEFFEL, Flávia. Experenciando a morte: um desafio para a psicologia hospitalar. Trabalho de
conclusão de curso. Faculdade de Psicologia. Porto Alegre: PUCRS, 2000.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3ª edição. São Paulo:
HUCITEC, 1994.

MELTZER, Donald. Desenvolvimento clínico de Freud. São Paulo: Escuta, 1989.

STEARNS, Ann Kaiser. Faça as pazes com a vida: aprendendo a conviver com as perdas. São Paulo: Saraiva, 1991.

STEDEFORD, Averil. Encarando a morte: uma abordagem ao relacionamento com o paciente terminal. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1986.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 36
VAN HOOSE, William. WORTH, Maureen. Aconselhamento de adultos: uma abordagem evolutiva. Rio de Janeiro:
ZAHAR, 1985.

____________________
Recebido em 15/12/2005
Aprovado em 31/12/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 37
A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA DO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO NO HOSPITAL
PARA O ESTAGIÁRIO DE PSICOLOGIA1

Verônica Trombini Ferreira 2


verentb@yahoo.com.br

Resumo: a importância da prática do atendimento psicológico para o estagiário de psicologia que pretende se
especializar em psicologia hospitalar. O primeiro contato. O primeiro atendimento. A ansiedade. A experiência.

Quando o aluno de psicologia inicia o atendimento pela primeira vez , torna-se uma experiência inesquecível para o
resto da vida. Ainda que ele atenda milhares de pessoas que necessitam do seu auxílio, o primeiro atendimento, não se
esquece e torna-se referência para todos os outros. A partir dele você começa a trabalhar o que fez e o que poderia ter
feito, visando a melhoria dos próximos atendimentos, e com isso, adquirindo experiência, conhecimentos técnicos e
científicos.

A importância da prática do atendimento psicológico para o estagiário de psicologia que pretende se especializar em
psicologia hospitalar é indispensável, necessária, importante. O processo pelo qual ele passará, que inclui o medo –
medo de não conseguir atender o paciente, medo de errar -, a ansiedade – a ansiedade de acertar -, a angústia, por mais
assustador que seja, este processo é essencial e inegável que se passe por ele. E é através deste processo que o estagiário
poderá lidar melhor com as situações e elaborar suas dúvidas, questões e seus próprios medos, partindo assim, para um
atendimento, cada vez mais, melhor.

Ao chegar ao hospital, pela primeira vez, o estagiário ou psicólogo não


sabe por onde começar. Sente-se perdido, não compreende a terminologia
técnica do vocabulário utilizado. Os pacientes são muito diferentes
daqueles vistos em psicologia clínica e são em número muito maior,
reunidos em um mesmo espaço físico. A supervisão é uma demanda
urgente, bem como conhecimentos técnico-científicos (ALAMY, 2003).

A prática que os estágios oferecem na psicologia são de suma importância para qualquer aluno. Mas, há de se
considerar uma importância especial ao estágio dentro do hospital para o aluno que deseja prosseguir a carreira
atendendo em hospitais, baseado no fato de que os pacientes hospitalares e seus familiares exigem demandas, mas
demandas urgentes, naquele momento, não sabendo se no dia seguinte eles estarão lá, e se caso não estiverem, suas
demandas foram atendidas? Fez-se o possível para que pudesse se trabalhar esta família, este paciente? Trata-se de um
atendimento diferente do clínico, onde você terá mais de uma sessão, nas quais terá também mais chances de trabalhar,
possivelmente, todas as questões que forem possíveis de serem trabalhadas dentro do consultório.

Principalmente para o estagiário que está se iniciando no atendimento hospitalar é que a prática se torna indispensável.
É desgastante ver as demandas urgentes surgindo dentro do hospital e sentir a necessidade de dar conta de todas,
querendo trabalhá-las a todo o momento e ajudar as pessoas, mas com a consciência de que, amanhã, talvez elas não
estejam mais ali, e nem a sua família. Para isso, deve-se tentar fechar o atendimento o mais rápido que puder e trabalhar
a demanda da melhor maneira possível, pois certamente este trabalho que é realizado dentro do hospital poderá
repercutir na vida daquele sujeito a longo prazo ou para o resto da sua vida, sujeito este que tinha uma demanda, e não
sabia como lidar com ela.

É devido a todos estes fatores descritos que a prática do atendimento hospitalar, através de estágios para o aluno, se faz
necessária. O aluno precisa de uma direção e a prática pode ajudá-lo e lhe proporcionar isto. Apesar de se tratar de um
processo normal, a ansiedade do estagiário tende a diminuir, até desaparecer totalmente a partir do momento em que o

1
Este artigo foi baseado em minha experiência como estagiária de Susana Alamy, exercendo o estágio e a prática no Hospital da
Criança, em Belo Horizonte. Considerei uma das experiências mais enriquecedoras pelas quais já pude vivenciar na psicologia e de
uma importância indescritível para a minha caminhada rumo à psicologia hospitalar.
2
Estudante de Psicologia da PUC-Minas, Campus São Gabriel, Belo Horizonte/MG.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 38
mesmo investe na prática, corre atrás do seu objetivo e procura trabalhá-lo da melhor maneira possível, tornando os
seus atendimentos cada vez mais ricos tanto para ele quanto para o paciente, tendo em mente que é necessário e preciso
errar, para poder trabalhar através deste erro a melhoria dos próximos atendimentos.

O estagiário que se encontra em contato com a prática, desde o início, está a frente de todos os outros. É praticamente
impossível trabalhar sem a teoria, pois “sem teoria, o atendimento ao doente poderia ser realizado por qualquer pessoa
disposta a ajudar. A diferença faz-se em conhecimentos, responsabilidade nas intervenções e na resolução dos conflitos
inconscientes (ALAMY, 2003)”. E a partir da prática se vai adquirindo ainda mais conhecimentos, para que, através
deles, se consiga o equilíbrio e a responsabilidade suficientes e necessários para se intervir sabiamente.

É gratificante e recompensador saber que através da sua intervenção conseguiu-se um feedback dos atendimentos. Este
é um fator significativo para qualquer profissional. E no que diz respeito aos estagiários, a prática dos estágios
possibilita e ajuda a obter os feedback’s, tão importantes para o caminhar rumo aos seus objetivos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar – a ausculta da alma. Belo Horizonte, 2003.

____________________
Recebido em 21/03/2005
Aprovado em 18/08/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 39
“Viver é a arte de realizar sonhos.
Todo sonho pode ser uma loucura,
Mas ao se realizar transforma-se em sabedoria”
(César Romão)

“O SILÊNCIO BARULHENTO”

Irit Grau Kaufmann1


igkaufmann@uol.com.br

O início do acompanhamento deu-se quando em uma de minhas primeiras visitas ao Vera Cruz, eu me deparei com uma
mulher sentada num murinho da Vila, com as pernas dobradas e a cabeça baixa entre elas, o que me chamou atenção.
Sentei ao seu lado para conversar. Senti que ela era uma pessoa muito sofrida e muito triste. Ela precisava de alguém
para conversar e poder desabafar um pouco. Pensei: “este alguém poderia ser eu!”. Então perguntei se ela já tinha tido
algum A.T. (Acompanhamento Terapêutico), disse-me que não . Expliquei quem era o A.T. e se ela queria ter um;
perguntei também se ela queria que eu fosse a sua A.T, respondeu que sim. Logo, firmei um contrato com ela e com o
Luiz de um ano.

Conversando com o Luiz, explicou-me que um dos projetos com a Roseli; poderia ser o de procurar a casa dela, pois ela
trazia algumas referências e alguns endereços (porém, ao iniciar o acompanhamento haviam outras demandas mais
intensas que esta). Ouvi aquela dica mas esperei para ver o que ela traria no acompanhamento.

No inicio do acompanhamento a Roseli “vomitava” delírios (para mim), eu ficava assustada, perdida, sem saber muito o
que fazer com aquilo, afinal era tudo novo demais e eu não tinha conhecimento acerca de sua doença e o que poderia ser
feito. Eram muitos delírios de uma só vez; eu chegava, nós sentávamos no mesmo murinho que nos conhecemos e ela
começava a depositar tanto conteúdo em cima de mim, eu entrava junto com ela nos seus delírios, a minha atenção
estava totalmente voltada para ela, eu nem sabia o que se passava a nossa volta.

Os delírios, em sua maioria, caracterizavam-se por delírios autodestrutivos e de invasão, onde ela falava de algo ou
alguém que entrava e estava dentro dela comendo a sua comida e deixando-a com fome; ou alguém que queria matá-la
pelo fato de ela ter matado sua filha e querer pegar o seu corpo. Eram conteúdos que me deixavam perdida e eu sempre
querendo achar uma solução para tudo, tentava na supervisão dar sentido a cada pedacinho, sem saber se aquelas
histórias faziam parte da nossa realidade ou apenas da realidade da Roseli. Na supervisão, descobri que tudo aquilo era
uma variedade de retalhos e resolvi deixá-los guardados para mais tarde tirá-los e formar uma colcha.

Sentia que o barulho interno dela era intenso demais e causava-me muito peso e, na maioria das vezes, saía do hospital
muito cansada, com dor de cabeça, querendo a minha cama para o resto do dia.

Com o decorrer do tempo, fomos ganhando confiança (uma na outra) e a Roseli entendeu quem eu era. Sua cabeça foi-
se levantando para mim e para o mundo... Seus delírios começaram a diminuir e o acompanhamento era baseado em
conversas mais tranqüilas, acerca de como era o seu dia-a-dia. Muitas vezes perguntava-me sobre o meu cotidiano e eu
respondia tranqüilamente. Havia longos episódios de silêncio também.....

Em um determinado momento do acompanhamento, Roseli começou a expressar um enorme desejo de ir embora para
casa, de sair daquela prisão que é o hospital, com uma comida ruim, sem ninguém, esquecida lá, sempre a mesma coisa,
como ela mesma diz: “Não tem novidade, é sempre a mesma coisa”. Essa sua vontade de sair de lá era tão forte e dóida
que me invadiu de uma certa maneira a ponto de contrariar a minha vontade de aceitar o que ela estava me pedindo
literalmente, quando ela dizia: “Ai Irit, me leva pra casa, me tira daqui!”. (Digo que a minha vontade não era essa, não
por não querer que ela saísse do Vera Cruz, Não. Quero dizer que eu não estava segura pelo fato de nunca termos saído
dos muros do hospital).

1
Estudante de Psicologia, 5º ano na PUC-SP.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 40
Enfim, Roseli trazia em todos os acompanhamentos esta demanda de voltar para casa e sair desta prisão. Ela fa lava de
alguns endereços, referências e de algumas pessoas da família, como sua mãe, Maria, seu irmão Rubens e sua irmã
Claudete. Procurei junto com a equipe pensar quais as possibilidades que tínhamos para procurarmos a casa da Roseli e
fui me convencendo, aos poucos, que era o que devíamos fazer. Dessa forma, combinei com a equipe. Posteriormente
combinei com a Roseli de um dia procurarmos a sua casa, deixando bem claro que ela só iria conosco com a condição
que voltasse ao hospital (a sua vontade era a de ir para casa e por lá ficar). Roseli relutou em aceitar a proposta, mas
acabou aceitando. Combinamos então em procurar sua casa. O reconhecimento de campo seria feito no da 22 de
fevereiro, iria a Érika, a Roseli e eu. Após isto combinado, eu havia dito para a Roseli que ligaria para a Claudete, sua
irmã. O tempo ia passando, ela me cobrava e eu não conseguia ligar.

Comecei a perguntar-me e a tentar elaborar na supervisão o que estava acontecendo? Eu não conseguia ligar para a
Claudete e também não falava com confiança do que aconteceria no dia 22. Eu estava com muito medo, insegura e
ansiosa com o que poderia acontecer. Tudo que se passava era incerto; perguntas como: “Será que vamos achar a
família?”, “Se acharmos, como será?!, Vão aceitá-la ou não?”, “E ela como ficará nesta história toda?”. A data já havia
sido adiada umas 3 vezes, mas o dia 22 estava marcado.

Um dia a Érika me liga, dizendo que dia 22 iria ter o churrasco da Vila, perguntando se marcávamos outro dia ou não,
digo que poderíamos marcar outro dia então com a Roseli. Neste momento, eu parei e vi que eu estava super
incomodada com a situação e quis resolvê-la.

Na supervisão percebi que o fato de eu não conseguir ligar para a Claudete e estar sempre “precisando” adiar o dia de
procurar a casa significava um medo, uma dúvida e uma incerteza que eu tinha, porque quando eu resolvi que esta seria
a melhor maneira, pensei na Roseli em 1o lugar, segui a opinião da equipe e no fundo vi que não era o momento ainda,
eu não estava preparada, talvez a Roseli estivesse, talvez não.

Decidi então enfrentar-me e enfrentar a Roseli; falar que não iríamos mais dia 22 procurar a sua casa porque eu não
estava pronta e não me sentia segura para acompanhá-la nesta jornada, pergunto se ela estava disposta a esperar-me. No
acompanhamento seguinte, lembro-me que era um sábado à tarde e era dia de visita, o pátio do Caramanchão estava
cheio e a Roseli estava super chorosa e triste, falando que queria ir embora e falava para mim: “Vambora?”.

Eu a via naquele estado e pensava como dizer a ela o que eu precisava, iria ser muito difícil mas eu tinha que fazê-lo; eu
teria que dizer NÃO!.

Falei! Ao falar, sentia-me falando com as paredes porque ela estava muito agitada, não sabia se havia me escutado, não
tive a certeza se ela entendeu que não iríamos mais dia 22 e o porquê. O estado de Roseli angustiava-me muito, o choro
dela doía em mim e eu também estava angustiada pela situação e pela noticia que havia lhe dado. Meus olhos encheram
de lágrimas. Porém mantive-me em pé! Fui embora porque precisava, mas a minha vontade era ficar lá com ela.

Despedi-me sem a certeza de ela ter entendido o recado, quando no meio da semana a Márcia me liga querendo marcar
uma conversa, porque a Roseli após a minha ida no sábado ficou mal, regrediu e foi parar no Q.O. porque agrediu uma
paciente. Marquei com a equipe, conversamos, expliquei os meus motivos e combinamos recomeçar este processo a
partir de saídas, para desenvolvermos uma segurança minha e da Roseli e daí podermos chegar a casa dela.

Após a frustração de não ir mais procurar a sua casa, Roseli regride, voltando a ter os seus delírios de invasão de novo,
só que agora um delírio de uma mulher chamada Roseli Camargo, às vezes era Shirley Mc Laine, que entra na sua
barriga, come seu pão, dorme e vai embora com o pai para a casa. Neste momento, começa um conflito para a Roseli de
qual é o seu verdadeiro nome. Ela não sabia dizer se era Roseli Camargo, registrado no prontuário; ou se o seu
sobrenome era igual o de sua irmã Claudete, que é Silva. Este conflito permanece presente nos acompanhamentos até o
dia, em que eu chego e está escrito pelo Luiz que foi achada a sua Certidão de Nascimento (o pedido havia sido feito em
setembro de 2002). Roseli fica muito feliz e emocionada de ter na mão a sua certidão, dizendo que agora poderá tirar

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 41
identidade. Diz-me também, que seu verdadeiro nome é Roseli Silva e que ela dizia Camargo porque não sabia.

Fiquei muito feliz com o aparecimento de sua Certidão, pois agora poderíamos construir uma história baseada em fatos
reais e concretos. Engano meu, expectativa frustrada novamente. Roseli guardou sua certidão e voltou aos seus delírios
e à mesmice daquela vida prisioneira. Recomeça a falar em voltar para casa, desta vez mais tranqüila. Falo que quando
eu voltar de férias, em agosto, combinaremos um dia para irmos procurar a sua casa.

Volto de férias e encontro-a desapontada achando que eu a havia abandonado. Roseli pareceu-me bem regredida quando
eu voltei, estava bem delirante e bem confusa. Eu associo esta confusão mental ao fato de termos recomeçado a falar em
procurar a família. Em agosto, os acompanhamentos foram acompanhados de muita melancolia, em sua expressão
verbal e facial, e seus comportamentos preocupavam-me.

Houve um em que eu cheguei e ela estava deitada na cama queixando-se de muita dor de cabeça e dizendo que queria
“morrer envenenada de desgosto”, com um discurso preocupante se não achasse a família ou se achasse, será que a mãe
a reconheceria? Fui embora com uma angustia enorme no peito, não querendo deixá-la novamente. No meio da semana
seguinte, encontro uma A.T. que me conta sobre um horrível episodio que acontecera com a Roseli, da qual o
enfermeiro estava queixando-se. Assim que soube, fiquei angustiada e liguei em seguida para o hospital; o Jair contou-
me que ela estava super agressiva como nunca havia estado, batia em outras pacientes alegando que estas “roubaram o
bolo de chocolate com calda de abacaxi que o pai havia lhe trazido”, tentaram acalmá-la de todas as formas mas não foi
possível, novamente ela foi parar no Q.O. (Quarto de Observação). o que ela mais pedia era para ir embora do hospital.

Quando cheguei para acompanhá-la na semana seguinte estava escrito no prontuário que o caso dela havia sido
discutido na reunião de mini-equipe e foi marcado dia 23 de agosto para procurar sua casa. Ligo para Érika
confirmando a minha presença neste dia e combinando que eu conversaria todo acompanhamento com a Roseli a este
respeito.

No último acompanhamento antes do dia D, em certo momento Roseli me diz:


- “Como eu queria que eu tivesse um A.T. da minha família para me visitar e me trazer comida....”; eu não havia
entendido esta fala e depois vi que ela quis dizer A.T. da família, digo-lhe que um A.T. é alguém que não é da família,
em seguida ela me pergunta se sou da sua família e jogo de volta para que ela responda e me diz: “você é quem sabe”.
Conversamos a respeito do dia 23, que ela terá que se comportar para podermos realizar esta viagem e combinamos que
ela voltará conosco para o hospital, que iremos somente procurar a sua casa. Quando estava indo embora ela me suplica:
“não me deixe aqui só”!

Na supervisão contei de todo este meu envolvimento com ela, é como se ela fosse alguém da minha família e para ela
também é o que me parece; decidimos que no dia 23 seria melhor que eu ficasse em uma posição mais de observadora
pra que o afetivo não influenciasse mais o processo de procura da casa.

Enfim, chegamos ao dia 23 de agosto de 2003, o tão esperado dia......

Após um longa discussão com a Érika de qual endereço procuraríamos, resolvemos procurar por um dos primeiros
endereços que a Roseli me falava, o qual me dizia alguma coisa, eu via que neste encontraríamos algo. Era ele : Rua X,
n. 10, no bairro Y, perto do Z. Havia uma outra referência que ela sempre me dizia que era um lugar chamado São
Jorge, não conhecíamos e também não achamos no guia. Todos os endereços que ela dava eram na Zona Leste, então
resolvemos ir conhecer a zona Leste e contávamos com a ajuda da Roseli como nossa guia.

Estávamos navegando em direção ao bairro Y após muitas paradas em postos para pedir informações, demos uma
estacionada para comprar algo para comer e beber água. Na hora em que manobrávamos para sair do posto na Av. U, de
repente a Érika gritou, havia uma lotação à nossa vista e nela estava escrito: “São Jorge”. Desci correndo para me
informar onde era este lugar. Logo, mudamos a nossa rota afim de investigarmos este tal de “São Jorge”.

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Roseli sempre me dizia que perto de sua casa havia uma Igreja, uma padaria e uma fábrica de refrigerantes.
Descobrimos a única Igreja deste bairro e estacionamos na sua rua. Na Igreja ninguém reconhecera Roseli, porém
deixamos nossos dados lá e fomos dar uma visitada nas casas daquela rua, para ver se encontraríamos alguém.

Tocamos na casa de número 10, mas não morava ninguém da família de Roseli, porem a moradora ficou sensibilizada
com a história e queria nos ajudar de alguma forma, e conseguiu, pois quando estávamos de saída falei que seguiríamos
para o Bairro Y e perguntei se por acaso havia uma indústria de refrigerantes por lá e ela me disse que esta indústria
situava-se algumas ruas mais para cima dali.

A Av. chamada W abrigava a nossa tão esperada indústria. Agora dependíamos da ajuda de Roseli, e ela disse: “Beco
do refrigerante, beco do refrigerante”, descemos de carro em direção ao beco: nos deparamos com apartamentos do
Cingapura, e logo pensamos “se for aqui não acharemos”.

Meia-volta, quando Roseli, sentada atrás do meu banco, bate na porta e diz: “Me deixe aqui que eu sei ir, me deixe aqui
que eu sei ir”(...); acrescentando também “a igreja, a igreja...”, após passarmos em frente a uma Igreja Santa Fé.
Paramos o carro e indagamos à ela o que ela gostaria de fazer, continuar em direção à casa de Claudete ou ir à Igreja;
quando ela responde: “Bora para minha irmã”! porém, eu e a Érika muito atentas às reações e comentários dela,
sentimos que ela falou da Igreja com uma certa convicção, e resolvemos escutar o que ela estava dizendo.

Motor desligado, descemos do carro já cansadas de tanto caminharmos....Entramos na igreja e fomos recebidas por uma
mulher chamada Lúcia. Ela olhava a Roseli de uma maneira diferente, o que me fez pensar que ali teríamos alguma
informação. Eu estava certa. Lúcia nos disse:
-“Eu conheço, é a Roseli, né?! Ajudei muito ela e sua mãe Maria, era muito fiel a Deus”.

Estávamos contando a história de Roseli, que estava internada e procurávamos a família, quando a Lúcia nos conta:
-“Tem a Natália, loirinha, que estava com a sua mãe, mas sua mãe morreu e agora é o tio dela que esta cuidando”.
Pergunto se Natália é a filha de Roseli e ela diz que sim. Nos conta também que a família da Roseli morava ali no
Bairro São Jorge perto da igreja, mas que já havia se mudado para o Bairro Z há algum tempo.

Agradecemos, deixamos nossas referências e embarcamos para o Bairro Y. Percorremos um longo caminho até a
Avenida L, que desembocava na Rua X.

Ufa!!! Após longas horas achamos a rua. Nós deparamo -nos com “as fofoqueiras do bairro”, elas reconheceram a Roseli
e nos mostraram a antiga casa da Roseli e nos explicaram onde a Janete morava: na Rua X, nº 100-B.

Claudete e Pa nos receberam bem, porém sem muitos afagos e carinhos com a Roseli; me pareceu uma certa frieza,
reflexo das dificuldades que enfrentaram com ela. Logo que Claudete avistou a Roseli, disse:
-“Ô looco hein Roseli, achei que tivesse morrido! Quem é vivo sempre aparece!”

Conversamos a respeito da Roseli e, através da história que Claudete nos contava, as informações que Roseli me dava,
seja lucidamente ou através de seus delírios, naquele momento se confirmavam e começavam a ter um sentido. (não irei
contar todo porque são muitas histórias).

Finalmente, agora sem maiores delongas, posso começar a costurar a minha colcha de retalhos, com muita história para
contar a cada nó realizado.

Após tudo isto que aconteceu, fico surpresa de ver como o mundo psíquico de um doente mental é tortuoso,
fragmentado e perdido; porém, em cada pedacinho dele há um segredo a ser desvendado. E isto só poderá ser feito com

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muita paciência e muito investimento!!! Não podemos ir com muita sede ao pote para que ele não se quebre!!!! Não
vale a pena perder tudo o que foi constituído neste tempo. Já conversei com a Roseli a esse respeito e ela diz que terá
paciência.

Como já havia lido no início deste relato, sonhos de uma pessoa considerada louca tornam-se realidade, agora nos resta
aguardar a solução dos familiares.

____________________
Recebido em 06/05/2005
Aprovado em 15/10/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 44
ANSIEDADE PRÉ-OPERATÓRIA NO HOSPITAL GERAL
Vanessa Cristina Barbosa1
vanessabarbosa@dglnet.com.br
Dra. Maria Eugênia Scatena Radomile 2
radomile@terra.com.br

Resumo:

A ansiedade é um estado emocional que atinge grande parte da população. Existem diversos tipos de transtornos por
ansiedade, tais como transtornos de pânico, fobias, desordens por ansiedade generalizada, transtorno misto ansioso
depressivo. A hospitalização é responsável pelo afastamento do paciente do seu cotidiano para um ambiente com rotinas
e normas diferentes. A preparação psicológica que oferece a visita pré-anestésica tem grande influência positiva no
estado emocional do paciente. Estudos revelam que esta pode diminuir a ansiedade pré-operatória. O estado emocional
do indivíduo em pré-operatório atua diretamente sob suas reações, tanto no trans como no pós-operatório. Nesse
sentido, este artigo tem por objetivo apresentar a ansiedade de acordo com diversas teorias, o ambiente hospitalar sendo
um local gerador de ansiedade e mostrar a importância do psicólogo hospitalar dentro desta instituição.

Palavras-chave: Ansiedade, Hospital, Pré -Operatório.

Abstract:

The anxiety is an emotional state that reaches great part of the population. Diverse types of upheavals for anxiety exist,
such as panic upheavals, phobias, clutters for generalized anxiety, depressive anxious mixing upheaval. Hospitalization
is responsible for the removal of the patient of its daily for an environment with routines and different norms. The
psychological preparation that offers the daily pay-anesthetical visit has great positive influence in the emotional state
of the patient. Studies disclose that this can diminish the anxiety daily pay-operation. The emotional state of the
individual in daily pay-operation acts directly under its reactions, as much in trans as in the postoperative one. In this
direction, this article has for objective to present the anxiety in accordance with diverse theories, the hospital
environment being a generating place of anxiety and to inside show the importance of the hospital psychologist of this
institution.

Word-key: Anxiety, Hospital, Pay-Operation.

Várias são as expectativas, sentimentos e emoções envolvidas no ato de um processo operatório. Na hospitalização
diante a um procedimento cirúrgico, o período de espera pode tornar-se angustiante, podendo levar ao stress e à
ansiedade. Durante a hospitalização, em procedimentos terapêuticos, cirúrgicos ou diagnósticos, o paciente sente-se
ameaçado por vários fatores como a mudança de papéis familiares, a incerteza do prognóstico e quebra de rotina, o que
leva à precipitação de crises, mesmo em famílias bem estruturadas, em que ambos, família e cliente, são afetados pelo
stress e pela ansiedade nessa condição.

De acordo com o DSM-IV (1995), o presente estudo sobre a ansiedade é classificado como um Transtorno de
Ansiedade Devido a uma Condição Médica Geral, caracterizado por sintomas proeminentes de ansiedade considerados
como sendo uma conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral, neste caso a cirurgia. O CID-10 (1993)
define ansiedade como sendo o estado no qual há uma série de combinações de manifestações fisiológicas e mentais
que não podem ser atribuídas a um perigo real e que ocorrem em forma de ataques ou em estado persistente.

1
Graduanda do curso de Psicologia, 5º. ano, da Universidade São Francisco – Itatiba/SP.
2
Docente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco – Itatiba/SP.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 45
Segundo Ruiz-López, Muñoz-Cuevas, Olivero-Vásquez, Isias-Saucillo (2000), a ansiedade é uma alteração psíquica
caracterizada por um sentimento de temor e de apreensão que pode ser o componente de uma enfermidade psíquica ou
uma desordem de ansiedades independentes, pode estar acompanhada de componentes somáticos, alterações psíquicas e
hiperatividade simpática. Existem diversos tipos de transtornos por ansiedade: transtornos de pânico, fobias, desordens
por ansiedade generalizada, transtorno misto ansioso depressivo. Diferencia-se do medo em que este último é um
sentimento de inquietude e mal-estar suscitado pela presença de um perigo.

Spielberger (1979) define o estado de ansiedade como uma reação emocional transitória, percebida pela consciência e
caracterizada por sentimentos subjetivos de tensão, apreensão, nervosismo e preocupação, intensificando a atividade do
sistema nervoso autônomo. Tais respostas incluem alteração da freqüência cardíaca, do padrão respiratório, da pressão
arterial, inquietação, estremecimentos, tremores e aumento de sudorese. É o resultado de um esforço de adaptação
inadequado para resolver os conflitos internos e podem gerar as fobias, as reações de conversão, os estados
dissociativos, obsessivos e compulsivos. Pode apresentar-se em qualquer pessoa; sendo transitória ou crônica ou de
ambas as formas.

De acordo com Cunha (2001), a ansiedade é uma das emoções mais básicas que os humanos podem sentir. Ela é
extremamente importante, pois seus sintomas são considerados como constituídos de uma das dificuldades principais
enfrentadas pelos seres humanos.

Kaplan e Sadock (1995) afirmam que a ansiedade é um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de
sensações físicas como frio no estômago (ou na espinha), palpitações, transpiração, dor de cabeça, ou falta de ar, dentre
várias outras. É um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para
enfrentar as ameaças preparando-o para lidar com situações potencialmente danosas, fazendo com que o organismo
tome medidas necessárias para impedir a concretização dos possíveis prejuízos, ou pelo menos diminuir suas
conseqüências. Diferente do medo que é a resposta a uma ameaça conhecida, definida; a ansiedade é uma resposta a
uma ameaça desconhecida, vaga. Portanto a ansiedade é uma reação natural e necessária para a auto-preservação, não é
um estado normal, mas sim uma reação normal. A tensão oriunda do estado de ansiedade pode gerar comportamento
agressivo sem com isso se tratar de uma ansiedade patológica.

A ansiedade é um acompanhamento normal do crescimento, da mudança, de experiência de algo novo e nunca tentado,
e do encontro da nossa própria identidade e do significado da vida. Os estados de ansiedade anormais, que constituem
as síndromes de ansiedade são patológicas e requerem tratamento específico. Caracterizam-se pela excessiva
intensidade e prolongada duração diante da situação precipitante. Ao invés de contribuir com o enfrentamento do objeto
de origem da ansiedade, atrapalha, dificulta ou impossibilita a adaptação (Kaplan e Sadock, 1995).

Na psicanálise, a ansiedade é diferenciada do medo. Sendo a resposta que o indivíduo dá ao perigo que o ameaça de
dentro, sob forma de um impulso institucional proibido que está preste a escapar ao controle. Em outras palavras, “a
ansiedade é vista como um sinal ou indicador, para o ego, tanto da necessidade de erigir defesas psicológicas, como do
sucesso do funcionamento das mesmas, a ansiedade não é necessariamente patológica, ela constitui, para o ego, sinal
de que um impulso inaceitável está exercendo pressão para representação e descarga conscientes. Se as defesas forem
exitosas, a ansiedade é dissipada ou refreada com segurança, mas, dependendo da natureza das defesas empregadas, o
indivíduo pode desenvolver uma variedade de sintomas neuróticos” (Kaplan e Sadock, 1984 pág. 379).

Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos psiquiátricos mais freqüentes na população geral (Andrade e col.
1998). Além de serem muito freqüentes, os sintomas ansiosos estão dentre os mais comuns, podendo ser encontrados
em qualquer pessoa em determinados períodos de sua existência.

Lewis (1979) após uma longa revisão sobre a origem e o significado da palavra ansiedade, lista as seguintes
características: é um estado emocional, com a experiência subjetiva de medo ou outra emoção relacionada, como terror,
horror, alarme, pânico; a emoção é desagradável, podendo ser uma sensação de morte ou colapso iminente; é
direcionada em relação ao futuro. Está subentendida a sensação de um perigo iminente. Não há um risco real, ou se
houver, a emoção é desproporcionalmente mais intensa; há desconforto corporal subjetivo durante o estado de

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 46
ansiedade. Sensação de aperto no peito, na garganta, dificuldade para respirar, fraqueza nas pernas e outras sensações
subjetivas. Além disso, salienta que existem manifestações corporais involuntárias, como secura da boca, sudorese,
arrepios, tremor, vômitos, palpitação, dores abdominais e outras alterações biológicas e bioquímicas detectáveis por
métodos apropriados de investigação. A ansiedade pode: ser normal (p.ex. um estudante frente a uma situação de
exame) ou patológica (p.ex. nos transtornos de ansiedade); ser leve ou grave; ser prejudicial ou benéfica; ser episódica
ou persistente; ter uma causa física ou psicológica; ocorrer sozinha ou junto com outro transtorno (p.ex. depressão);
afetar ou não a percepção e a memória.

Como pode-se notar, o conceito de ansiedade não envolve um construto unitário, principalmente no contexto
psicopatológico. A ansiedade pode ser generalizada ou focada em situações específicas tal como em situações
cirúrgicas. Vimos que a ansiedade trata-se de um estado emocional que atinge milhares de seres humanos, ela está
associada a vários fatores subjetivos ou vivenciados que podem ser geradores de ansiedade (Takei e Schivoletto, 2000).

Neste contexto, mesmo com o avanço tecnológico das cirurgias e anestesias, o paciente cirúrgico nunca se sente
totalmente seguro, pois este procedimento gera intenso desconforto emocional, no qual o indivíduo sente incertezas em
relação ao seu futuro manifestando sentimentos de impotência, isolamento, medo da morte, da dor, da mutilação, de
ficar incapacitado, das mudanças na sua imagem corporal. Assim, diante da necessidade de realizar uma cirurgia, o
paciente sente ameaçada a sua integridade física e psicológica (Ruiz-López, Muñoz-Cuevas, Olivero-Vásquez, Isias-
Saucillo, 2000).

1. O HOSPITAL GERAL COMO AMBIENTE GERADOR DE ANSIEDADE

O hospital é um dos ambientes geradores de ansiedade nas pessoas, em especial nos sujeitos que se submeterão a
processos cirúrgicos. Pesquisas com estes sujeitos revelaram que a ansiedade varia de paciente para paciente e depende
de vários fatores: idade, sexo, estado sócio-econômico, ocupação, estado físico, tipo de cirurgia, temor ao ambiente do
hospital, qualidade da atenção médica, entre outros. A desinformação é outro fator gerador de sentimentos
desagradáveis que podem causar alterações no organismo como pico hipertensivo e alteração na taxa de glicose que
impossibilitam a intervenção cirúrgica (Antonio, Munari & Costa, 2002).

A hospitalização é responsável pelo afastamento do paciente do seu cotidiano para um ambiente com rotinas e normas
diferentes. Isso pode refletir de forma negativa, levando-o a experimentar sentimentos como o medo e a carência. Essa
pode ser uma experiência desagradável por envolver inúmeros aspectos negativos como o distanciamento do ambiente
familiar, de pessoas significativas, além de significar um certo grau de dependência.

A vivência da hospitalização pode ser agravada quando envolve a espera por uma intervenção cirúrgica, que pode levar
o paciente a uma série de conflitos internos, como o medo e a ansiedade, o medo de invalidez ou até da morte, que são
considerados riscos iminentes em uma cirurgia (Antonio, Munari & Costa, 2002).

Segundo Camio e col. (1995, p. 40) “o ato cirúrgico consiste, para o paciente, um dos momentos mais críticos no
processo terapêutico, tendo em vista o medo do desconhecido e da anestesia, a sua complexidade e o próprio risco
inerente a qualquer procedimento desta natureza”. A preparação psicológica que oferece a visita pré-anestésica tem
grande influência positiva no estado emocional do paciente, podendo-se observar no mesmo a diminuição da ansiedade
pré-operatória quantitativamente (Ruiz-López, Muñoz-Cuevas, Olivero-Vásquez, Isias-Saucillo, 2000).

Cabrera e Sponholz Jr. (2001) afirmam que, no ambiente hospitalar, o paciente encontra um universo de ameaças
internas e externas, tais como, o ultimato à sua integridade corporal pelos procedimentos a que é submetido; a
exposição de sua intimidade a estranhos; a convivência com o ambiente de doença, dor e morte; a separação de seus
familiares, seus pertences e seus hábitos, enfim, a perda de seus referenciais conhecidos. O paciente também sofre pela
incerteza quanto à evolução da sua doença e possíveis conseqüências na sua capacidade para o trabalho e no
relacionamento com os familiares e amigos. A presença da ansiedade em um paciente internado em hospital pode
representar uma reação psicológica deste à doença, ao adoecer e ao ambiente, pode ser uma manifestação da doença
propriamente dita ou um transtorno psiquiátrico preexistente em que predomina ansiedade como sintoma.

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A entrada do paciente no hospital já gera ansiedade. Estudos apontam que, em sujeitos que serão submetidos à cirurgia,
os sintomas da ansiedade começam a surgir uma semana antes de sua internação, estes estão muitas vezes relacionados
aos impactos da esfera familiar, afetiva, social, laboral e econômica. Estes sintomas podem desaparecer no período pós-
operatório, quando o paciente se recupera do estado de alerta e volta à sua rotina, porém com algumas limitações físicas
em decorrência da cirurgia. Para diminuir o grau de ansiedade do paciente pré-operatório, a medicina conta com
inúmeros fármacos, que são ministrados aos pacientes antes da anestesia, tranqüilizando-o para o processo operatório
(Ruiz-López, Muñoz-Cuevas, Olivero-Vásquez, Isias-Saucillo, 2000).

Segundo Dall´Oglio (2002), o estado emocional do indivíduo em pré-operatório atua diretamente sob suas reações,
tanto no trans como no pós-operatório. É inevitável que uma certa dose de medo e ansiedade acompanhe a maior parte
das pessoas que entram num centro cirúrgico para submeter-se a uma cirurgia. Mas, condições elevadas de medo,
ansiedade, tensão, stress, ou condições adversas do estado emocional como depressão e apatia, podem interferir nas
condições da pessoa para a cirurgia. O estado psicológico alterado em pré-operatório pode determinar a um paciente
cirúrgico, reações ao pré-anestésico, episódios de somatização (diarréia, picos febris, reações alérgicas, picos
hipertensivos); fuga do hospital ou aumento do número de intercorrências no trans operatório; retorno tardio à
consciência após o coma anestésico, comprometendo a reabilitação no pós-imediato (Yamamoto, Trindade, Oliveira,
2002).

A presença do psicólogo no hospital geral é de grande importância, pois o mesmo prepara psicologicamente o paciente
para o ato cirúrgico, podendo assim diminuir o grau de ansiedade, além de intervir com os familiares, numa forma de
dar apoio psicológico, trabalhando com a ansiedade e angústias dos mesmos e trabalhar em conjunto com a equipe
médica (Yamamoto, Trindade, Fernandes De Oliveira, 2002). O psicólogo deve atuar com o objetivo de minimizar a
angústia e ansiedade do paciente, favorecendo a expressão dos sentimentos e auxiliando na compreensão da situação
vivenciada, proporcionando também, um clima de confiança entre o paciente e a equipe de saúde, e facilitando a
verbalização das fantasias advindas do processo cirúrgico (Dall´Oglio, 2002).

A avaliação das condições psicológicas dos pacientes hospitalizado conta com inúmeros instrumentos que são utilizados
para medir o grau/intensidade da ansiedade nesses pacientes, os instrumentos que estão disponíveis para a mesma são:
Escala de ansiedade de Hamilton (HAM-A), escala clínica de ansiedade (Clinical Anxiety Scale-CAS), Escala Breve de
Ansiedade (BAS,), Escala breve de Avaliação Psiquiátrica (BRPS), Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE),
Escala de Ansiedade de Zung, Escala de Ansiedade Manifesta de Taylor, Subescala de ansiedade do Sympton Checklist
(SCL-90), Profile of Mood States-POMS (POMS) e a Escala hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) e o
Inventário de Beck (BAI – Beck Anxiety Inventory). Conforme Beck e Steer (1993 a) “o BAI foi construído para medir
os sintomas de ansiedade, que são compartilhados de forma mínima com os de depressão” (Cunha, 2001, pág. 5).

2. PESQUISAS SOBRE ANSIEDADE PRÉ-OPERATÓRIA

Existem atualmente poucas pesquisas que estudam o grau de ansiedade pré-operatória no hospital geral. Uma pesquisa
feita por Ruiz-López, Muñoz-Cuevas, Olivero-Vásquez, Isias-Saucillo (2000) no Hospital Geral do México apontam
que o ato anestésico cirúrgico é considerado como um fator que gera ansiedade em pacientes que serão submetidos a
uma cirurgia, na qual eles estudam uma maneira de reduzir o grau de ansiedade destes pacientes, através de uma
preparação psicológica e farmacológica. O objetivo da pesquisa foi conhecer e determinar as causas, a incidência e o
nível de ansiedade pré-operatória em pacientes submetidos à cirurgia eletiva. Trata-se de um estudo descritivo,
transvers al, prospectivo e de observação no qual foram avaliados 500 pacientes com idades entre 18 e 65 anos. A
ansiedade foi avaliada mediante a aplicação de uma escala visual análoga durante o período pré-operatório, 24 horas
antes da cirurgia. Os resultados apontaram que a ansiedade foi predominante nos pacientes do sexo feminino, em torno
dos 40 anos e enfermos com nível sócio-econômico médio. Em 35% dos pacientes manifestaram medo diante ao
ambiente hospitalar, 33% da cirurgia, 45% da anestesia, 47% conheciam o cirurgião e 45% não sabiam no que consistia
a cirurgia que iria realizar. Os pesquisadores chegaram a conclusão de que a equipe multidisciplinar deve oferecer
orientação e informação suficiente ao paciente, sendo a consulta pré-anestésica um elemento chave para diminuir a
incidência da ansiedade pré-operatória, para oferecer um serviço de qualidade na prática médica.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 48
Um outro estudo feito no Brasil por Peniche e Moraes (2001) realizado numa unidade ambulatorial de uma Clínica
Cirurgia de um hospital-escola, teve como objetivo identificar o traço e o estado de ansiedade do paciente cirúrgico
ambulatorial no período pré-operatório e o estado de ansiedade no pós-operatório, além de investigar a relação entre o
estado de ansiedade depois da cirurgia e sua manifestação nos parâmetros clínicos. Os dados foram coletados com a
utilização do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e de dois formulários desenvolvidos para a obtenção das
manifestações clínicas de 40 pacientes cirúrgicos, sendo 50 % do sexo masculino e 50% do sexo feminino com idade
entre 20 e 70 anos. Os resultados obtidos identificaram uma amostra pouco ansiosa, na qual 75% tinham experiência
cirúrgica e 25% nunca haviam sido submetidos a procedimentos do gênero até então. Em 87% dos pacientes não
apresentaram alterações dos parâmetros vitais no pré-operatório. Os pacientes responderam ao período pós-operatório
com baixa ansiedade e com alterações clínicas decorrentes desse estado estatisticamente não significantes.

Como podemos observar, a ansiedade trata-se de uma reação emocional que é percebida pela nossa consciência e
caracterizada pelos sentimentos de tensão, apreensão, nervosismo, entre outros aspectos, que são acompanhados por
sensações físicas diversas. Tais sentimentos e sensações são apresentados nas pesquisas que foram feitas e descritas
acima. O objetivo deste projeto é identificar o nível de ansiedade nos pacientes que estão passando por um processo
pré-operatório em hospital geral.

REFERÊNCIAS

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publicado.

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http://www.fen.ufg.br/revista/revista4_1/Pdf/Fatores.pdf.

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cirurgia ambulatorial – relato de experiência. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, 48:39-45. [on line]
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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 49
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Ruiz-Lopez, E.; Muñoz-Cuevas, J.H., Olivero-Vásquez,Y.I. E Isias-Saucillo, M. (2000) – Ansiedad preoperatoria em el


Hospital General de México. Revista medica Del Hospital General de México, 63, 231-236. [on line] Disponível em:
http://www.medigraphic.com/espanol/e-htms/e-h-gral/e-hg2000/e-hg00-4/em-hg004b.htm.

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Spielberger, C. (1979, apud Peniche, A.C.G. & Moraes, L.O.,2001) – Tensão e ansiedade. Nova Deli, Harper & Row
do Brasil.

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Yamamoto, O.H.; Trindade, L.C.D.O. e Oliveira, I.F. (2002) – O psicólogo em hospitais no Rio Grande do Norte. In:
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65642002000100011&script=sci_arttext&tlng=pt.

____________________
Recebido em 11/12/2005
Aprovado em 31/12/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 50
DEPOIMENTO PESSOAL

ESTÁ TUDO SOB CONTROLE


Ana Paula Dias Landgraf1
paulalandgraf@gmail.com

Meu nome é Ana Paula Landgraf, amanhã faço 35 anos e sou transplantada renal desde o dia 03 de outubro de 2005.
Sou paciente do Hospital (...) de Porto Alegre/RS e tenho acompanhamento regular da equipe médica do Dr. (...). Hoje,
depois de 2 anos, 2 meses e 7 dias do transplante posso dizer que tenho uma vida normal, fazem 9 meses que não
preciso ser internada e que meus exames estão estabilizados. Tive várias complicações no início do transplante, a
primeira delas uma estenose do ureter dois meses após o transplante, me levou de volta ao hospital e me deixou por lá
32 dias, a solução foi colocar um Duplo J (tipo de cateter de silicone com a finalidade de alargar o ureter e permitir a
passagem da urina) o que resolveu o problema pelo menos daquele momento.

Alguns meses depois meu rim apresentou rejeição crônica, a solução então foi substituir a ciclosporina por rapamicina,
a perda de função estacionou e hoje tenho creatinina basal de 2,8. No início deste ano de 2005, meu rim transplantado
apresentou uma re-estenose de ureter e trouxe complicações mais agravantes do que da primeira vez, mas depois de 48
dias de interenação e com uma nefrostomia que me matava, tudo ficou bem, desta fez a solução foi trocar o Duplo J e
ficou acertado que deverei trocá-lo a cada 6 meses para evitar nova obstrução, já que uma cirurgia de reimplante de
ureter seria muito arriscada para um rim que já tem uma importante perda de função.

Depois de tantas queixas e complicações talvez vocês pensem que posso estar arrependida de ter feito o transplante, ou
que não sou feliz com a vida que levo. Nada disso, me considero uma das pessoas mais abençoadas deste mundo. Desde
o dia em que me disseram que era paciente IRC, só tive coisas boas acontecendo, já que elas sempre vinham depois das
notícias ruins e faziam elas parecerem tão pequenas que às vezes nem lembro. Notem só, a primeira vez que vi uma sala
de hemodiálise a médica me disse que em pouquíssimo tempo estaria ali, consegui retardar isso por 1 e meio. Quando
comecei a diálise, já que optei por fazer a diálise Peritonial, minha vida não mudou em nada, continuei trabalhando
normalmente e não sentia absolutamente nada.

Quanto tempo você ficou na fila esperando um rim, ou outro órgão? Sabe quanto tempo eu fiquei? Menos de 3 meses,
no dia do meu transplante brincaram comigo que isso era “marmelada” e o Dr. (...) disse, não isso é compatibilidade e
eu digo, isso é FELICIDADE. Todas essas complicações que tive, nenhuma delas me derrubou, tive medo sim, muito
medo, mas tenho fé e tenho amor por minha filha e minha família e esse amor me fez passar por tudo com o menor
sofrimento possível. Não vou dizer que é fácil ou que é impossível, digo que é uma fase de nossas vidas que temos que
passar e se acreditarmos que vai dar certo e confiarmos na equipe médica tudo tende a ficar mais fácil. Precisamos ter
consciência que o transplante não é a cura de nossa doença, é um maravilhoso tratamento e como tal precisa ser seguido
à risca, nosso corpo não é uma calculadora, onde todo resultado será igual para operações iguais, somos humanos e
únicos, diferentes no corpo e na alma, precisamos achar nosso equilíbrio mental e ajudar ao médico acharem o
equilíbrio de nosso organismo. Acreditar e nunca desistir é essencial, todo sacrifício é válido para nos afastar da
hemodiálise.

A partir do dia transplante, depende de nós a incumbência de ser feliz, não devemos questionar quanto tempo vai durar
esse transplante, devemos nos preocupar em viver bem junto aos nossos familiares. Fazer de cada dia uma vitória
eterna.

____________________
Recebido em 10/12/2005
Aprovado em 31/12/2005

1
Bacharelanda em Língua Inglesa e Literatura Inglesa. Gravataí/RS.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 51
ANAMNESE - MODELO

ANAMNESE PARA PACIENTE COM SIDA1

Prontuário n.: Local do atendimento: Data:


Psicólogo responsável pela anamnese: RG:

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome:
Endereço completo:
Telefone:
Idade: Data de nascimento: Estado civil:
Filhos: Idade dos mesmos:
Naturalidade:
Religião (crença religiosa):
Escolaridade:
Profissão:
Escolaridade do cônjuge:
Profissão do cônjuge:
Renda familiar (em salários mínimos):
Classe social (baixa, média, alta):

1. ASPECTOS ORGÂNICOS
1.1. Como descobriu que estava com SIDA?

1.2. O que sabe sobre SIDA?

1.3. Quais tratamentos que já realizou?

Por quanto tempo?


Em que local?
1.4. Sabe como contraiu a doença?

1.5. Tem algum familiar com SIDA?

Grau de parentesco:
1.6. Quais os sintomas que sentia no início do tratamento?

1.7. Quais os sintomas que sente agora?

1.8. Que medicamentos usa?

1.9. Quais os efeitos colaterais dos medicamentos para SIDA?

1.10. História de internações anteriores? Quando? Onde? Por quê?

1.11. Está se tratando atualmente?

1
Elaborada por Susana Alamy em setembro de 1999.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. 52
2) ASPECTOS SOCIAIS
2.1. A partir da SIDA sua vida modificou?

Em que? (Família, crenças, trabalho, financeiro, lazer, atividade física, relacionamento sexual, relacionamento
com os familiares, relacionamento social)

2.2. Houve alteração na motivação para o trabalho?

2.3. Como reagiu o cônjuge quando soube que você estava com SIDA?

2.4. Como reagiu a família quando soube que você estava com SIDA?

2.5. Como reagiram as pessoas do seu contato?

3) ASPECTOS COMPORTAMENTAIS
3.1. Deixou de fazer algo a partir da SIDA?

3.2. O que mudou no seu dia-a-dia?

3.3. Você consegue seguir o tratamento proposto?

Existem facilidades?
Existem dificuldades?
3.4. Faz o que lhe é recomendado pelo médico?

3.5. Usa a medicação corretamente?

3.6. Procura informações sobre a doença?

3.7. Procura informações sobre o tratamento?

3.8. O que mudou diante das informações?

4) ASPECTOS EMOCIONAIS
4.1. Qual foi sua reação quando soube que estava com SIDA?

4.2. Como tem sido desde que isso aconteceu?

4.3. Como era sua vida sexual? Antes: Frequência das relações:

Desejo: Prazer:
Depois: Frequência das relações:
Desejo: Prazer:
4.4. Qualidade da relação: Como era?

Como é atualmente?

4.5. Como era seu humor antes?

Como é seu humor hoje?

4.6. Quais os medos que tinha antes?

Quais os medos que tem hoje?

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. 53
5. EXPECTATIVAS
5.1. O que espera do tratamento médico?

5.2. Já consultou psicólogo antes?

O que entende como psicoterapia?

O que espera da terapia? O que acha que eu posso fazer por você?

6. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES
6.1. Alguma coisa que o paciente queira informar, que não foi dito anteriormente.

7. DESORDENS SENSOPERCEPTICAS (DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES)


7.1. Há presença de desordens sensoperceptivas? (Investigar quando ocorrem e etiologia.)

8. PARA PREENCHIMENTO DO PSICÓLOGO


8.1. Propedêutica:

8.2. Terapêutica:

8.3. Profilaxia:

8.4. Observações:

8.5. Síntese do atendimento:

8.6. Primeira impressões:

8.7. Conduta a ser adotada:

8.8. Local, data e rubrica:

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. 54
LINKS

SAÚDE E DIREITOS HUMANOS

OMS – Organizção Mundial de Saúde (em espanhol)


http://www.who.int/es/index.html
Fundação Osvaldo Cruz
http://www.fiocruz.br/
OMS – Organizção Mundial de Saúde (em inglês)
http://www.who.int/hac/en/
Centro de Vigilância Epidemiológica
http://www.cve.saude.sp.gov.br/
Organização Pan-Americana de Saúde (em espanhol)
http://www.paho.org/default_spa.htm Sistema Nacional de Transplantes
http://dtr2001.saude.gov.br/transplantes/

UNESCO (em português)


http://www.unesco.org.br/master Movimento de Justiça e Direitos Humanos
http://www.direitoshumanos.org.br/

Médicos Sem Fronteira (em inglês)


http://www.doctorswithoutborders.org/ Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
http://www.social.org.br/

UNICEF
http://www.unicef.org.br/ Declaração Universal dos Direitos Humanos
http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm

Cruz Vermelha Brasileira


http://www.cvb.org.br/

Ministério da Saúde
http://portal.saude.gov.br/saude/

INCA – Instituto Nacional do Câncer Site de Psicologia Hospitalar


http://www.inca.gov.br http://geocities.yahoo.com.br/psicologiahospitalar/

Conselho Nacional de Saúde Jornal Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde


http://conselho.saude.gov.br/ http://geocities.yahoo.com.br/jornalpsihospitalar/

DATASUS Livro: Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da


http://w3.datasus.gov.br/datasus/datasus.php alma - Susana Alamy
http://livro-net.sites.uol.com.br

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde


http://www.funasa.gov.br/

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. 55
EVENTOS

Curso: Psicologia Hospitalar em Hospital Geral


- PHHG 2005/1 -
Local: Belo Horizonte/MG
Período: 24 de março a 23 de junho de 2006 Curso de Inverno de Psicologia Hospitalar 2006
Matrículas: 07 de fevereiro a 17 de março de 2006 - CIPH 2006 -
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br Local: Belo Horizonte/MG
Mais informações: Período: 17-28 de julho de 2006
http://geocities.yahoo.com.br/psicologiahospitalar Matrículas: 09 de maio a 07 de julho de 2006
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br
Mais informações:
http://geocities.yahoo.com.br/psicologiahospitalar

V Congresso Brasileiro de Oncologia Ortopédica


Local: Costão do Santinho Resort & Spa -
Florianópolis - SC
Período: 23 a 25 de março de 2006 16º. Congresso Internacional de Psicoterapia de Grupo
Mais informações: Local: São Paulo
http://www.oceanoeventos.com.br/oncoortopedia/index Período: 17 a 22 de julho de 2006
.htm Mais informações:
http://www.eventus.com.br/iagp/default.asp?lang=pt

II Encontro Regional da ABEP/SC


Psicologia e Saúde Pública II CBPOT – Congresso Brasileiro de Psicologia
Local: Joinville – SC Organizacional e do Trabalho
Período: 20-22 de abril de 2006 Local: Brasília / DF
Mais informações: http://www.abepsi.org.br Período: 26 a 29 de julho de 2006
Mais informações: http://www.sbpot.org.br/iicbpot

Prêmio Monográfico Pedro Bessa


Data: até 12 de abril de 2006 XII Congresso Internacional de Equoterapia
Mais informações: http://www.pol.org.br Tema: Encontro Entre Dois Amigos
Local: Brasília / DF
Data: 09 a 12 de agosto de 2006
Site: http://www.equoterapia.org.br/2006/index.html

IX Congresso Brasileiro de Psico-Oncologia


II Encontro Internacional de Psico-Oncologia e
Cuidados Paliativos
Local: São Paulo / SP XXII Congresso Brasileiro de Neurologia
Data: de 28 de abril a 01 de maio de 2006 Local: Recife / PE
E-mail: secretaria@sbpo.org.br Período: 19 a 23 de agosto de 2006
Mais informações: http://www.sbpo.org.br/ Mais informações:
http://www.neuro2006.com.br/neuro2006/index.html

IV Congreso Mundial de Estrés Traumático


"Trauma y Comunidad"
Local: Buenos Aires / Argentina __________________________
Data: 21 a 24 de junho de 2006 Para divulgar seu evento contacte-nos pelo e-mail:
E-mail: info@4tswc.org revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br
Mais informações: http://www.4tswc.org/principal.htm

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun 2006, Ano 2, n.3. 56
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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jul 2006, Ano 2, n.3. 58

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