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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

GILMAR CABRAL DA SILVA

A TRAJETÓRIA DO CRÉDITO DESTINADOS A PESSOAS FÍSICAS APÓS A


DÉCADA DE 1990

TOLEDO – PR

2014
GILMAR CABRAL DA SILVA

A TRAJETÓRIA DO CRÉDITO DESTINADOS A PESSOAS FÍSICAS APÓS A


DÉCADA DE 1990

Monografia apresentada ao Curso de Ciências


Econômicas, do Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná, campus de Toledo, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Ciências Econômicas, sob orientação do
Professor Dr. Jefferson Andronio Ramundo
Staduto.

TOLEDO – PR

2014
GILMAR CABRAL DA SILVA

A TRAJETÓRIA DO CRÉDITO DESTINADOS A PESSOAS FÍSICAS APÓS A


DÉCADA DE 1990

Monografia apresentada ao Curso de Ciências


Econômicas, do Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná, campus de Toledo, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Ciências Econômicas, sob orientação do
Professor Dr. Jefferson Andronio Ramundo
Staduto.

Toledo – PR, 13 de novembro de 2014.


BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Prof. Dr Jefferson Andronio Ramundo Staduto
Universidade Estadual do Oeste do Paraná

_____________________________________
Prof. Dr. Flavio Braga Almeida Gabriel
Universidade Estadual do Oeste do Paraná

_____________________________________
Prof. Me. Paulo Henrique Cezaro Eberhardt
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
A Deus, a minha esposa, aos meus pais,

Em especial, meus sogros e aos meus amigos...

companheiros de todas as horas...


AGRADECIMENTOS

Embora seja impossível nomear todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram
para a realização deste trabalho, pois a lista seria infindável, manifesto a eles minha
gratidão.
Um agradecimento especial ao meu orientador Prof. Dr. Jefferson Andronio
Ramundo Staduto, que durante a construção desta monografia, contribuiu para o
redirecionamento de minha trajetória acadêmica. Foi e será sempre inspiração
intelectual, exemplo de professor e de pesquisador.
Meu agradecimento aos colegas da turma, pois raras vezes participei de um grupo
com semelhante companheirismo e ambiente intelectual em que a diversidade, de
fato, unia e fortalecia.
Aos professores e funcionários do Programa de Graduação, agradeço pelo empenho
e dedicação devotado aos alunos.
Aos amigos, em especial Rodrigo Antonio Paradella um agradecimento pelo
constante apoio e companheirismo nesses quatro anos de lutas e conquistas.
SILVA, GILMAR C. A trajetória do crédito destinados a pessoas físicas após a
década de 1990. 2014. Monografia (bacharelado em Ciências Econômicas) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Toledo.

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem por finalidade analisar a trajetória do crédito


destinado a pessoas físicas no Brasil após a década de 1990. Com a estabilidade
econômica, ocorreram modificações consideráveis para o sistema financeiro
nacional, uma vez que as instituições financeiras perderiam as receitas de floating,
oriundas dos ganhos com a inflação, por isso o crédito se tornaria primordial para o
crescimento desse setor. Começa então a configurar o setor bancário brasileiro, com
a abertura comercial e a perda das receitas de floating, ocorre a quebra de inúmeros
bancos brasileiros e a compra dos mesmos por grandes bancos nacionais e
estrangeiros, concentrando esse setor. Após uma breve revisão da literatura sobre
as mudanças no setor bancário após o Plano Real e a oferta de crédito, os principais
resultados demonstra um tendência de crescimento nas operações destinadas a
pessoas físicas. O trabalho demonstra que esse aumento foi relativamente maior
após a criação de modalidades importantes de crédito através das políticas do
governo brasileiro para incentivar o consumo das famílias. Dentre essas
modalidades uma das mais importantes foi a criação do crédito consignado em
2003. A partir de 2004 esse crescimento das operações de crédito para pessoas
físicas foi se tornando cada vez maior, em que a pesquisa aponta como principais
determinantes: a criação do crédito consignado e a inserção de uma população que
não possuíam acesso ao crédito, especialmente das classes C, D e E; utilização da
taxa Selic pelo BACEN para forçar a redução das taxas de juros; as políticas
econômicas do governo de incentivo ao consumo e redistribuição de renda;
elevação dos prazos médios; incentivos fiscais e tributários ao consumo; e a
diminuição da taxa de desemprego, diminuindo o risco de inadimplência.

Palavras-chave: crédito pessoa física; crédito consignado; estabilidade econômica.


SILVA, GILMAR C. The credit course intended for individuals after the 1990s in
2014. Monograph (bacharelado em Ciências Econômicas) – Universidade Estadual
do Oeste do Paraná – Campus de Toledo.

ABSTRACT

This monograph aims to analyze the trajectory of lending to individuals in Brazil after
the 1990s with economic stability, there have been considerable changes to the
national financial system, since financial institutions would lose revenue from floating,
gains arising from inflation, so the credit would become paramount to the growth of
this sector. Then starts to configure the Brazilian banking sector, trade liberalization
and the loss of revenue from floating, breaking numerous Brazilian banks and the
purchase thereof by large domestic and foreign banks occurs, focusing this sector.
After a brief review of the literature on the changes in the banking sector after the
Real Plan and the supply of credit, the main results demonstrates a growing trend in
operations to individuals. The work demonstrates that this increase was relatively
greater after the creation of important types of credit through the policies of the
Brazilian government to encourage consumer spending. Among these methods one
of the most important was the creation of payroll loans in 2003. From 2004 this
growth of personal credit operations was becoming greater, where research indicates
that the main determinants: the creation of payroll loans and the inclusion of a
population that had no access to credit, especially for classes C, D and E; use of the
Selic rate by the Central Bank to force down interest rates; the government's
economic policies to stimulate consumption and income redistribution; increase the
average maturity; consumption tax and tax incentives; and the decrease in the
unemployment rate, decreasing the risk of default.

Keywords: credit to individuals; payroll loans; economic stability.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9
1.1. O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA................................................................... 9
1.2. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS ............................................................................. 13
1.2.1. Objetivo Geral............................................................................................................ 13
1.2.2. Objetivos Específicos ............................................................................................. 13
2. ESTADO DA ARTE ......................................................................................................... 14
2.1. SISTEMA FINANCEIRO ........................................................................................... 14
2.1.1. Análise do Sistema Financeiro e sua composição..................................................... 14
2.1.2. Funções do Banco Central ............................................................................................ 16
2.2. ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE MOEDA E CRÉDITO ..................................... 19
2.2.1. Teorias Econômicas e Demanda de Moeda ............................................................... 20
2.2.2. Mecanismos de Controle Monetário e Oferta Monetária .......................................... 22
2.2.3. Mercado de Crédito ......................................................................................................... 23
2.2.4. Assimetria de Informações, Seleção Adversa e Risco Moral ................................... 24
2.2.5. Modalidades de crédito e arrendamento mercantil para pessoas físicas .............. 26
2.2.6. Crédito Consignado ........................................................................................................ 27
3. METODOLOGIA .............................................................................................................. 29
3.1. MÉTODO DE ABORDAGEM .................................................................................... 29
3.2. MÉTODO DE PROCEDIMENTO ............................................................................... 29
3.3. FONTE DE DADOS E INFORMAÇÕES DA PESQUISA .......................................... 29
3.4. TRATAMENTO DOS DADOS ................................................................................... 30
3.5. DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................... 30
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................. 31
4.1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ANTERIORES A ESTABILIZAÇÃO
ECONÔMICA ................................................................................................................... 31
4.1.1. Inflação ........................................................................................................................ 33
4.1.2. A estabilidade econômica e o Plano Real ......................................................... 39
4.1.3. Regime de metas de Inflação ................................................................................ 42
4.1.3 Taxa de impaciência ................................................................................................ 46
4.2. DISPONIBILIDADE DE CRÉDITO NO BRASIL DESTINADA ÀS PESSOAS
FÍSICAS ........................................................................................................................... 47
4.2.1. Reestruturação bancária e a oferta de crédito ................................................. 48
4.2.2. Ampliação da disponibilidade de crédito e sua relação com o consumo 50
4.2.2.1. Operações de crédito pessoas físicas de 1994 a 2013................................ 51
4.2.2.2. Características do ciclo de crédito Pessoa Física de 2003 a 2013 ............ 52
4.2.2.2.1. Crise de 2008 e a importância do crédito consignado ............................. 55
4.2.2.2.2. Desemprego no Brasil ................................................................................... 60
4.2.2.2.3. Taxa de Juros no Brasil e taxa Selic........................................................... 61
4.3. CRÉDITO PESSOA FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O PIB ................................ 63
4.4. COMPARATIVO ENTRE PAÍSES SELECIONADOS ............................................ 66
5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 68
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 70
9

1. INTRODUÇÃO

1.1. O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA

A economia brasileira tem passado por períodos de instabilidades históricas,


com algumas características específicas, fundamentadas, principalmente, em um
crônico e acentuado processo inflacionário. Após a crise de 1929, a inflação
brasileira apresentou tendência exponencial de crescimento, só revertida muitos
anos depois com o Plano Real, em 1994. A taxa média de inflação anual foi num
crescendo de 6% nos anos 1930 para 12% nos anos 1940; 19% nos anos 1950;
40% nas décadas de 1960 e 1970; 330% nos anos 1980 e 764% de 1990 a 1995,
caindo para 8,6% de 1995 a 2000 (IBGE, 2003).
Esse quadro foi extremamente favorável ao Sistema Financeiro Nacional
(SFN), que se adaptou ao ambiente de alta inflação, presente na economia
brasileira. As instituições financeiras brasileiras foram bem sucedidas na
implementação de inovações financeiras e no aproveitamento de oportunidades
regulatórias, que lhes permitiram não apenas sobreviver em um contexto visto no
resto do mundo como desfavorável à atividade econômica, como também acumular
capital, desenvolver-se tecnologicamente e crescer, absorvendo parte considerável
do imposto inflacionário gerado – que consiste na perda do valor do dinheiro devido
à inflação. Durante o longo e intenso período inflacionário, a atividade financeira
sustentava-se dos recursos em trânsito e do financiamento ao desequilíbrio das
contas públicas, concentrando-se em operações de curto prazo (BANCO CENTRAL,
1998).
Durante esse período conturbado que a economia brasileira enfrentou,
surgiram vários planos econômicos, mas nenhum teve sucesso efetivo no combate à
inflação e na retomada do crescimento econômico. A partir da segunda metade da
década de 1980 ficou evidente que todos os esforços para acabar com a inflação,
através dos Planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor eram abandonados pouco
tempo depois de anunciados, não chegando nem mesmo completar 1 ano.
O Plano Real, adotado no Brasil em 01 de julho de 1994, é considerado um
marco para a estabilização econômica no país. A implantação do Plano Real tinha
como objetivos o controle inflacionário, a redução da taxa de juros e o crescimento
10

econômico. A sua implantação foi dividida em três fases: o ajuste fiscal, o


estabelecimento da URV (Unidade de Referência de Valor) e a instituição de uma
nova moeda, o Real (PEREIRA, 1998).
Na primeira fase o ajuste fiscal tinha como objetivo diminuir o desequilíbrio
orçamentário do Estado, especialmente sua fragilidade com financiamento, um dos
principais problemas relacionados à inflação. Uma das principais iniciativas do
governo foi criar o Fundo Social de Emergência (FSE), que tinha por finalidade
diminuir os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de impostos.
As medidas tomadas na primeira fase permitiram o equilíbrio orçamentário
para implantação da segunda fase do plano, a Unidade Real de Valor (URV) um
índice de inflação formado por outros três índices: O IGP-M, da Fundação Getúlio
Vargas, o IPCA do IBGE e o IPC da FIPE/USP. Na terceira fase do plano, substituiu
a moeda vigente o Cruzeiro Real pela nova moeda o Real, que começou a funcionar
em 1º de julho de 1994 (PEREIRA, 1998).
O Plano Real se mostrou eficaz no controle inflacionário, diminuindo as
taxas de 50% para aproximadamente 3% nos meses seguintes a sua implantação,
estabilizando-se em torno disso. Eficácia vista também, no aumento da capacidade
de consumo da população e redução da população miserável brasileira.
Após a implantação do Plano Real, em julho de 1994, cria-se um novo
ambiente de estabilização de preços na economia brasileira. Com essa estabilidade
econômica, esperavam-se modificações consideráveis para o sistema financeiro
nacional, uma vez que as instituições financeiras perderiam as receitas de floating,
oriundas dos ganhos com a inflação. Esse ganho inflacionário do setor financeiro
provinha principalmente dos depósitos à vista, com isso, a estrutura operacional
estava montada no princípio de maximizar a captação de depósitos dessas
instituições. Os bancos, ao perderem esse ganho financeiro proporcionado pelos
depósitos, teriam de reduzir a estrutura de captação com o desafio de adaptação
dessa estratégia operacional para amenizar a perda de lucratividade (SOARES,
2001).
A mudança no cenário econômico colocou em “xeque” a situação dos
bancos pelo qual dependiam da lucratividade através da captação de depósitos. Por
isso, passariam a depender do crescimento das operações de crédito. Em outras
palavras, o processo de ajustamento dos bancos desencadearia a expansão das
operações de crédito. Reforçando o pensamento, essa expectativa de expressivo
11

aumento do crédito era necessária, porquanto o estoque de crédito bancário nesse


período equivalia a apenas 29% do PIB brasileiro (SOARES, 2001).
Essa reestruturação do sistema financeiro teve que se adaptar também a
abertura comercial, dado que nesse período estavam ocorrendo crises pelo mundo,
especificamente as da Argentina, Asiática e Mexicana. Portanto, resultou esse
processo no fortalecimento das instituições privadas, adaptando suas estruturas
frente à redução do número de instituições com capital estatal e aumento na
participação do capital estrangeiro no mercado nacional.
O sistema financeiro nesse período até então, não havia um arcabouço
institucional que prevenisse o sistema à vulnerabilidade de uma crise financeira. O
Banco Central para socorrer as instituições, utilizava recursos da reserva monetária,
que contava com parte da arrecadação do Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF).
A regulação no sistema financeiro se justifica pela possibilidade em incorrer
risco sistêmico. A quebra de um banco pode afetar outras instituições,
transformando um problema local em global. Nesse contexto, em agosto de 1994,
em consonância com o Acordo da Basiléia, o Banco Central editou a Resolução
2.099, estabelecendo limites mínimos de capital para a constituição de um banco
além de limites adicionais que variavam de acordo com o grau de risco dos ativos.
Conforme destaca Puga (1999, p. 10 e 11),

Foi definido um limite de R$ 7 milhões de capital realizado e patrimônio líquido,


para os bancos comerciais; de R$ 6 milhões, para os de investimento e de
desenvolvimento e sociedades de crédito imobiliário; e de R$ 3 milhões, para as
financeiras. No caso dos bancos múltiplos, o somatório dos valores
correspondentes das carteiras foi reduzido em 20%. Para as instituições
estrangeiras, o limite mínimo de capital seria 100% superior ao limite fixado para
as instituições nacionais (exigência abolida em novembro de 1995). Além disso, as
instituições financeiras deveriam manter um nível mínimo de patrimônio líquido
ajustado correspondente a 8% dos ativos ponderados pelo risco.

Após esse período, de reestruturação do sistema financeiro, ocorreram


várias modificações e criação de resoluções pelo Banco Central de acordo com a
necessidade e estímulos para a economia brasileira. Estabeleceu-se uma nova
configuração na destinação de crédito no Brasil, aumentou a oferta de crédito,
beneficiou o acesso à população de baixa renda que somado com a queda de
inflação, aumentou o poder de compra da população. Com isso, estimulou o
consumo dado o acesso facilitado ao crédito ao consumidor.
12

Nos anos seguintes o acesso ao crédito não se manteve elevado, pois o


país sofreu efeitos das crises internacionais: em 1995 ocorreu a crise mexicana;
1997 a crise asiática; em 1998 a crise russa; e em 2001 a crise da Argentina. Com o
regime de câmbio fixo, foi preciso manter a taxa de juros alta para controlar a
inflação (CARVALHO, 2007).
Freitas e Prates (2009), em estudo sobre o mercado de crédito no Brasil,
apontaram que os bancos ampliaram suas carteiras de crédito destinado a pessoas
físicas, pois identificaram potenciais ganhos diante das expectativas otimistas
quanto à recuperação do emprego e da renda sob o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva. Para as instituições financeiras é mais cômodo analisar o crédito às famílias
do que o crédito empresarial, que exige maiores conhecimentos financeiros, do
negócio e monitoramento das atividades das empresas. Além disso, no segmento de
pessoas físicas as taxas de juros são maiores e as operações de crédito pessoal
são também muito rentáveis.
A partir de condições macroeconômicas e políticas de crédito, adotadas nos
dois mandatos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, houve um processo histórico
de expansão no crédito, especialmente nos direcionados às pessoas físicas. Entre
2004 e 2009, as operações de crédito às pessoas físicas saltaram de 6,7% para
14,7% do PIB, sendo responsável, pela maior parte do incremento total da demanda
por crédito na economia (BORÇA E COUTINHO, 2010).
Houve expansão das operações de crédito no Brasil, principalmente nos
destinados às pessoas físicas, tais como crédito consignado em folha de
pagamentos, financiamento a aquisição de veículos e leasing e crédito imobiliário.
Porém, considera-se que a oferta de crédito no país foi bastante modesta
considerando a relação crédito/PIB e a oferta de crédito em outros países com um
sistema bancário de estrutura semelhante (FUCIDJI E MENDONÇA, 2007).
Para exemplificar a escassez do crédito bancário brasileiro frente a outros
países desenvolvidos e em desenvolvimento, analisa-se a relação dos saldos dos
empréstimos e o PIB desses países. Enquanto no Brasil, em 2007 essa relação era
de 43,6% do PIB, em países desenvolvidos esse percentual é significativamente
maior, chegando a atingir mais de 200% do PIB, como no caso dos Estados Unidos.
Ainda que esteja acima de países latinos–americanos, com grau de
desenvolvimento semelhante, casos de México (20%), Argentina (12,5%) e
Colômbia (36%), esse indicador é bem inferior comparando com economias
13

desenvolvidas e em desenvolvimento do Leste da Ásia, casos de China (132,4%),


Coreia do Sul (101%), Malásia (100%) e Tailândia (82,7%) (SANT’ANNA et al.,
2009).
O crescimento e desenvolvimento de uma determinada Nação dependem de
vários fatores, com destaque a econômicos, culturais, heranças históricas e políticas
governamentais. Para o objeto de estudo e análise, considera-se o comportamento
do crédito destinados a pessoas físicas a partir de 1990, a importância e dimensão
do crédito consignado e seu impacto no crescimento da economia.
O crescimento econômico guarda forte relação com a ampliação do crédito.
Uma oferta maior de crédito permite que a demanda efetiva se expanda, com isso
acelera o crescimento da renda e do emprego. O acesso ao crédito permite às
famílias aumentar o consumo de bens e serviços, e também investir em residências
e educação (SANT’ANNA et al., 2009).

1.2. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS

1.2.1. Objetivo Geral

Analisar a trajetória do crédito destinado às pessoas físicas no Brasil a partir


dos anos de 1990.

1.2.2. Objetivos Específicos

a) Analisar a evolução e importância do Crédito Consignado para as pessoas e os


bancos.
b) Analisar a influência da estabilidade econômica a partir de 1990 para concessão
do crédito destinado às famílias brasileiras;

c) Comparar os períodos de 1990 e 2000.


14

2. ESTADO DA ARTE

2.1. SISTEMA FINANCEIRO

2.1.1. Análise do Sistema Financeiro e sua composição

Um referencial importante sobre o sistema financeiro é abordado através do


Banco Central, que cita as condições para o desenvolvimento de um sistema
financeiro. Para essa abordagem envolvem aspectos estruturais, funcionais e
instrumentais. No aspecto estrutural envolvem a natureza dos mercados e
relacionamentos entre as instituições, os demais agentes econômicos e o arcabouço
regulamentar. No quesito funcional aborda os métodos de captação de recursos e
de concessão de crédito, os serviços oferecidos e a segmentação da clientela. Por
último, o aspecto instrumental abrange os tipos de papéis utilizados nas transações
financeiras e as políticas monetárias utilizadas. No conjunto desses aspectos, geram
o formato sob o qual o sistema financeiro se apresenta em determinado ponto no
tempo (BANCO CENTRAL, 2013).
Na sua conjuntura atual, vale ressaltar os dados e informações obtidos pelo
Banco Central e o Portal do Investidor sobre a composição do Sistema Financeiro
Nacional (SFN), sendo representado por entidades normativas, supervisoras e
operacionais.
As entidades normativas são responsáveis pela definição das políticas e
diretrizes gerais do sistema financeiro, sem função executiva. São entidades
colegiadas, com atribuições específicas e utiliza-se de estruturas técnicas de apoio
para a tomada das decisões. Funcionam como entidades normativas o Conselho
Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o
Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) (COMISSÃO DE
VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
As entidades supervisoras assumem diversas funções executivas, como a
fiscalização das instituições sob sua responsabilidade, assim como funções
normativas, com o intuito de regulamentar as decisões tomadas pelas entidades
15

normativas ou atribuições outorgadas a elas diretamente pela Lei. As entidades


supervisoras são representadas pelo Banco Central do Brasil (BCB), a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) (COMISSÃO
DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
Também há as entidades operadoras, que são todas as demais instituições
financeiras, monetárias ou não, oficiais ou não, como também demais instituições
auxiliares, responsáveis, entre outras atribuições, pelas intermediações de recursos
entre poupadores e tomadores ou pela prestação de serviços (COMISSÃO DE
VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).

Quadro 1 - Instituições autorizadas a funcionar


Segmento Dez 2012
Banco Múltiplo BM 137
Banco Comercial1/ BC 22
Banco de Desenvolvimento BD 4
Caixa Econômica CE 1
Banco de Investimento BI 14
Banco de Câmbio B Camb 2
Sociedade de CFI CFI 58
Sociedade Corretora de TVM CTVM 94
Sociedade Corretora de Câmbio CC 57
Sociedade Distribuidora de TVM DTVM 118
Sociedade de Arrendamento Mercantil SAM 30
Sociedade de Crédito Imobiliário2/ e SCI e 12
Associação de Poupança e Empréstimo APE
Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Peq.
Porte 4/ SCM 40
Agência de Fomento3/ Ag Fom 16
Companhia Hipotecária CH 7
subtotal 612
Cooperativa de Crédito Coop 1254
subtotal 1.866
Consórcio Cons 222
Totais 2.088
Fonte: Unicad (2013)
1/ Inclui as Filiais de Bancos Estrangeiros.
2/ Inclui Sociedades de Crédito Imobiliário Repassadoras (SCIR) que não podem captar recursos junto ao
público.

3/ Em Jan/1999 foi constituída a 1ª Agência de Fomento, nos termos da Resolução 2.574/98.

4/ Em Out/1999 foi constituída a 1ª SCM, nos termos da Resolução 2.627/99.


16

2.1.2. Funções do Banco Central

O Banco Central do Brasil foi criado pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de


1964. É o principal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e
responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional. Os objetivos do
Banco Central configuram em zelar pela adequada liquidez da economia, manter as
reservas internacionais em nível adequado, estimular a formação de poupança e
zelar pela estabilidade promovendo o permanente aperfeiçoamento do sistema
financeiro.
As atribuições do Banco Central residem em: emitir papel-moeda e moeda
metálica; executar os serviços do meio circulante; receber recolhimentos
compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias; realizar
operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; regular a
execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis; efetuar
operações de compra e venda de títulos públicos federais; exercer o controle de
crédito; exercer a fiscalização das instituições financeiras; autorizar o funcionamento
das instituições financeiras; estabelecer as condições para o exercício de quaisquer
cargos de direção nas instituições financeiras; vigiar a interferência de outras
empresas nos mercados financeiros e de capitais e controlar o fluxo de capitais
estrangeiros no país (BANCO CENTRAL, 2013).
No Quadro 2, estão relacionadas as instituições financeiras autorizadas a
funcionar, no Brasil, pelo Banco Central nos anos de 2008 a 2012.
17

Quadro 2 - Instituições autorizadas a funcionar (2008-2012)

2008 2009 2010 2011 2012


Segmento
Dez Dez Dez Dez Dez
Banco Múltiplo BM 140 139 137 139 137
Banco Comercial1/ BC 18 18 19 20 22
Banco de Desenvolvimento BD 4 4 4 4 4
Caixa Econômica CE 1 1 1 1 1
Banco de Investimento BI 17 16 16 14 14
B
- -
Banco de Câmbio Camb 2 2 2
Sociedade de CFI CFI 55 59 61 59 58
Sociedade Corretora de TVM CTVM 107 105 103 99 94
Sociedade Corretora de Câmbio CC 45 45 44 47 57
Sociedade Distribuidora de TVM DTVM 135 125 125 126 118
Sociedade de Arrendamento Mercantil SAM 36 33 32 31 30
Sociedade de Crédito Imobiliário2/ e SCI e
16 16 14 14 12
Associação de Poupança e Empréstimo APE
Sociedade de Crédito ao
Microempreendedor e à Empresa de SCM 47 45 45 42 40
Pequeno Porte 4/
Ag
3/ 12 14 15
Agência de Fomento Fom 16 16
Companhia Hipotecária CH 6 6 7 8 7
subtotal 639 626 625 622 612
Cooperativa de Crédito Coop 1.453 1.405 1.370 1312 1254
subtotal 2.092 2.031 1.995 1.934 1.866
Consórcio Cons 317 308 300 284 222
Totais 2.409 2.339 2.295 2.218 2.088

Fonte: Unicad (2013)

1/ Inclui as Filiais de Bancos Estrangeiros.


2/ Inclui Sociedades de Crédito Imobiliário Repassadoras (SCIR) que não podem captar recursos junto ao público.
3/ Em Jan/1999 foi constituída a 1ª Agência de Fomento, nos termos da Resolução 2.574/98.
4/ Em Out/1999 foi constituída a 1ª SCM, nos termos da Resolução
2.627/99.
Verifica-se pelo Quadro 2 a redução das instituições financeiras no período
de 2008 a 2012, com expressiva redução no número de cooperativas de crédito, em
2008 com 1.453 passando para 1.254 em 2012. Dentre as atribuições do Banco
Central, vale ressaltar as políticas e inovações implantadas para uma melhor
eficiência sobre o controle de crédito sobre os bancos e às demais instituições
Financeiras.
Em julho de 2004, o Banco Central colocou em operação um sistema capaz
de mapear o mercado de crédito bancário, com dados detalhados. A iniciativa
resultou em maior segurança para o sistema financeiro, uma vez que permite um
18

melhor controle, por parte dos supervisores do Bacen, das operações de crédito
realizadas pelos bancos. Além de melhorar a supervisão bancária, o sistema fornece
aos bancos e às demais instituições financeiras informações mais rápidas e seguras
sobre a capacidade de endividamento dos seus clientes que autorizam a consulta
(BANCO CENTRAL, 2004).
O Sistema de Informações de Crédito (SCR) substituiu a Central de Risco de
Crédito. Com maior controle dos empréstimos, a área de supervisão bancária pode,
inclusive, antever com maior precisão possíveis quebras de instituições financeiras
e, assim, proteger os depositantes. O país reduz a possibilidade de ser surpreendido
por falências bancárias (BANCO CENTRAL, 2004).
O Sistema de Informações de Crédito é complexo porque realiza quase 15
milhões de combinações de dados sobre as operações de crédito, enquanto os
dados gerados pelo sistema anterior não permitiam nem cinquenta combinações. É
possível saber qual o percentual de empréstimos por Estado, por tipos de taxas e
por prazos de pagamentos. Estudos apurados sobre o mercado de crédito brasileiro,
gerados a partir do SCR podem ser utilizados pelo Banco Central e pelo próprio
governo federal para orientar a adoção e mesmo a revisão de políticas nessa área
(BANCO CENTRAL, 2004).
O sistema anterior recebia, em média, dois milhões de consultas externas
por mês e o SCR permite até 40 milhões de consultas mensais. O SCR incorpora os
débitos dos clientes com responsabilidade total acima de R$ 5 mil, e os bancos
conseguem saber o grau de endividamento de empresas e de pessoas físicas,
agilizando as decisões na hora da concessão do crédito. Conhecendo melhor os
tomadores de empréstimos, os bancos evitam os maus pagadores e,
consequentemente, minimizam a inadimplência e os custos administrativos,
reduzindo o impacto desses fatores nos juros dos empréstimos bancários (BANCO
CENTRAL, 2004).
O Sistema de Informações de Crédito representou um desafio para a
modernização tecnológica na Instituição. O resultado foi a construção de um sistema
moderno e eficiente, com suporte de alto nível de consultas e, ao mesmo tempo,
armazenar a maior base de dados existente no BC.
19

2.2. ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE MOEDA E CRÉDITO

A moeda, no sistema econômico capitalista, responde a uma necessidade


social derivada do processo de divisão do trabalho. O sistema de trocas diretas
somente seria eficaz em sociedades com economias primitivas, nas quais os
indivíduos fossem autossuficientes, ou seja, nas quais o processo de divisão do
trabalho praticamente não existisse, como em economias de escambo (VICECONTI
E NEVES, 2010).
Portanto, a moeda de uma economia desempenha três funções básicas:
1. Intermediária das trocas: na qual necessita de ter a confiança e a
aceitação geral por parte dos agentes econômicos;
2. Unidade de conta: caracterizada como medida de valor, ou seja, os
bens e serviços transacionados em uma economia são expressos em quantidade de
moeda (preços);
3. Reserva de valor: liberdade de um indivíduo escolher entre gastar sua
renda ou poupar na forma de moeda, porém sem incidência de juros.
O total de moeda disponível para o público transacionar é caracterizado
como oferta monetária, sendo constituída pelo total dos meios de pagamentos da
economia. O governo controla uma parcela da oferta monetária ao decidir, através
do Banco Central, o volume de moeda que será emitido. Outra parcela dos meios de
pagamentos está atrelada ao controle indireto do governo, que são os depósitos à
vista do público junto aos bancos comerciais (VICECONTI E NEVES, 2010).
Os bancos comerciais e as autoridades monetárias podem criar meios de
pagamento. O Banco Central cria a moeda manual através da emissão do papel
moeda. Os bancos comerciais ao concederem crédito estão criando moeda
escritural. Portanto, os bancos comerciais ao concederem crédito a um determinado
indivíduo realiza uma operação contábil de criação de depósitos à vista, ou seja,
criando moeda (VICECONTI E NEVES, 2010).
20

2.2.1. Teorias Econômicas e Demanda de Moeda

Na teoria clássica sobre a moeda, as pessoas demandam moeda para


efetuar pagamentos e transacionarem bens e serviços. Nesse pensamento ortodoxo,
a demanda de moeda depende do volume de transações e da velocidade da moeda,
para financiarem as transações (CARVALHO, 2007).
A versão clássica das teorias de demanda por moeda também é conhecida
como teoria quantitativa da moeda. Destacam-se a teoria quantitativa na versão de
transações do economista americano Irving Fisher e a versão dos saldos monetários
de Cambridge. Fisher parte do princípio em estabelecer a identidade entre o total de
pagamentos em moeda e o total de bens e serviços transacionados. Isso é
demonstrado na equação de troca:
MV=PT
Onde:
M= quantidade de moeda em circulação;
V= velocidade de circulação da moeda;
P= preços correspondentes dos bens e serviços;
T= quantidade de transações físicas de bens e serviços (CARVALHO, 2007).
A equação é composta do lado direito pelas quantidades de transações de
bens e serviços trocados multiplicado pelos seus preços, e no lado esquerdo é
composto pela quantidade de moeda multiplicada por sua velocidade de circulação.
Portanto, a versão de Fisher indica que as transações ocorrem através da troca, em
que um agente econômico transfere bens ou serviços para outro agente e recebe
uma transferência de moeda em troca (CARVALHO, 2007).
Na versão dos saldos monetários de Cambridge a moeda serve como uma
residência temporária para o poder de compra, no intervalo de tempo entre a venda
e compra de bens ou serviços. A equação demonstra isso:
M=kPy
Onde:
M = quantidade desejada de moeda
k = razão do estoque de moeda em relação à renda nominal
Py = fluxo de moeda por unidade de tempo
21

A versão de Cambridge evidencia a demanda por moeda como uma


proporção k do nível de renda. A relação proporcional entre moeda e preços
depende da estabilidade da velocidade de circulação ou k.
A teoria quantitativa da moeda parte da Lei de Say, princípio do qual toda
oferta cria a sua própria demanda. Ou seja, existe uma identidade entre um fluxo de
pagamentos em moeda e um fluxo de bens e serviços, no qual cada evento de
compra e venda de bens e serviços, a moeda e os bens trocados são equivalentes.
Portanto, a quantidade ofertada de moeda é igual à quantidade demandada,
mantendo sempre em equilíbrio no longo prazo (CARVALHO, 2007).
Keynes é o precursor das teorias heterodoxas na Economia, se contrapôs a
Lei de Say e adota o princípio da demanda efetiva. Não acreditava que a produção
de mercadorias geraria, sempre e obrigatoriamente, demanda suficiente para outras
mercadorias. Portanto, segundo Keynes, o nível de demanda efetiva (demanda
agregada) da economia é o que determina o nível de produto agregado e renda. Em
momentos distintos, podem ocorrer crises de superprodução, como a crise de 29, e
o Estado deve intervir na economia, criando déficits fiscais, para aumentar a
demanda efetiva e o pleno emprego (MÍSSIO, 2011).
Os motivos pelos quais o público demanda moeda na visão de Keynes são
os motivos transação, precaução e especulação. O motivo transação está
relacionado às compras projetadas e os hábitos de pagamento dos agentes. O
motivo precaução evidencia que os agentes podem reter moeda por precaução ou
incerteza, dado que a moeda é um ativo seguro. O motivo especulação está
relacionado à incerteza sobre o comportamento da taxa de juros, onde a expectativa
dos agentes é o fator determinante pela preferência pela liquidez (CARVALHO,
2007).
A propensão marginal a consumir (PMgC) relaciona-se ao que Keynes
denomina de “lei psicológica fundamental”, em que os indivíduos estão dispostos,
quase sempre em média, a aumentar seu consumo à medida que a sua renda
aumenta, mas não pela quantia do aumento na sua renda. Isso indica que uma
parcela da renda adicional é destinada ao consumo, enquanto outra parte é
destinada à poupança. Keynes demonstra em seus modelos de variáveis reais que a
PMgC expressa exatamente a porcentagem do aumento na renda direcionada ao
consumo e que o consumo total guarda estreita relação com a Renda (CARVALHO,
2007).
22

Ao desenvolver sua teoria da preferência pela liquidez, Keynes se contrapôs


as ideias clássicas fundamentadas no argumento que a taxa de juros é o preço que
equilibra a demanda por recursos para investir e a propensão de abster-se do
consumo imediato. Para Keynes, isso é um fenômeno monetário definido pela
preferência pela liquidez dos agentes e pela política das autoridades monetárias.
Consequentemente, dependendo do nível da taxa de juros os agentes retém moeda
ou abrem mão da liquidez. A preferência pela liquidez é refletida através do trade-off
entre retornos monetários e o prêmio pela liquidez, sendo a liquidez valorizada
quando a incerteza aumenta (CARVALHO, 2007).

2.2.2. Mecanismos de Controle Monetário e Oferta Monetária

O controle que o Banco Central exerce sobre a oferta monetária é conhecido


como política monetária. Utiliza de três instrumentos clássicos: Depósitos
Compulsórios; a Taxa e as condições de Redesconto; e as operações de Open
Market.
Os Depósitos Compulsórios representam uma parcela dos depósitos à vista
captados pelos bancos comerciais que devem ser mantidos compulsoriamente no
Banco Central. Constituem-se em um instrumento à disposição do Banco Central
para influenciar a quantidade de moeda na economia. Se o Governo quer restringir a
oferta monetária, um dos caminhos é aumentar a taxa dos recolhimentos
compulsórios. Por outro lado, diminuições na alíquota faz com que os bancos
possam emprestar maior parcela das suas reservas e, portanto, aumentará a
quantidade total de moeda para uma dada quantidade de base monetária (BANCO
CENTRAL, 2014).
A Taxa e as condições de Redesconto são conhecidas como empréstimos
de assistência à liquidez, que são utilizados pelos bancos comerciais somente
quando existe uma insuficiência de caixa, ou seja, quando a demanda de recursos
depositados não cobrem suas necessidades. Quando a intenção do Banco Central é
de elevar a taxa ou restringir as condições de redesconto, desestimulará o sistema
bancário a recorrer a esse tipo de socorro financeiro, e a oferta monetária diminui.
Quando ocorre a baixa da taxa de juros para estimular os bancos comerciais a pegar
23

estes empréstimos, terão mais disponibilidade de crédito para oferecer ao mercado,


consequentemente a oferta monetária aumenta (VICECONTI E NEVES, 2010).
Através das operações de Open Market (mercado aberto) o Governo regula
diretamente o volume dos meios de pagamento. São operações de compra e venda,
pelo Banco Central, de títulos da dívida pública. Instrumento na qual permite ao
Banco Central administrar a taxa de juros e controlar a oferta monetária. Por
exemplo, se o BACEN deseja diminuir a oferta monetária, deverá vender títulos ao
público, reduzindo assim a liquidez do sistema econômico e, caso deseja aumentar
a oferta monetária, ele deverá resgatar os títulos (VICECONTI E NEVES, 2010).
Além desses instrumentos monetários disponíveis para o Banco Central, há
os chamados instrumentos não convencionais, que podem ser utilizados sobre o
sistema financeiro. Refere-se aos controles diretos que o BACEN pode utilizar sobre
o crédito, através do controle do volume, dos prazos e da destinação do crédito
bancário, ou sobre a taxa de juros. Um exemplo disso é o BACEN estabelecer um
teto para os juros, pressionando os bancos a se readequarem dentro do limite
imposto. Os instrumentos não convencionais são objetos de várias críticas quanto às
distorções que eles podem gerar no funcionamento do mercado de crédito,
desestimulando a atividade de intermediação financeira (CARVALHO, 2007).

2.2.3. Mercado de Crédito

Segmento do mercado financeiro em que as instituições financeiras captam


recursos dos agentes superavitários, que recebem uma remuneração, e os
emprestam para os tomadores a uma determinada taxa de juros. Essas instituições
têm como função de intermediação financeira para o público em geral. A diferença
entre os custos de captação e o que cobram dos tomadores é chamada de spread
(COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
O mercado de crédito é importante para o bom funcionamento da economia,
na medida em que as instituições financeiras assumem papéis decisivos. Atuam
como centralizadora de riscos, diminuindo a exposição dos aplicadores a perdas, e
otimizando as análises de crédito. As instituições financeiras funcionam como um elo
entre milhões de agentes com expectativas diferentes em relação a volume de
recursos e prazos. Quando o sistema funciona de forma ineficiente, muitas das
24

necessidades de aplicações e empréstimos de recursos não são atendidas,


causando uma freada brusca na economia (COMISSÃO DE VALORES
MOBILIÁRIOS, 2014).
Segundo Tsuru e Centa (2007, pg. 7) o crédito é caracterizado como
“facilidade de obter dinheiro por empréstimo, recursos financeiros à disposição de
um cliente num banco, quantia que um negociante tem de haver, direito de receber o
que se emprestou e troca de bens por bens futuros”. As atividades de crédito
desempenham importantes funções no cenário socioeconômico do País, estando
presentes no dia-a-dia das empresas e das pessoas. Sobre a concessão de crédito,
são considerados os 5 C’s do crédito para determinar a capacidade creditícia:
capacidade, caráter, capital, colateral e condições. Análise da capacidade é o
potencial do cliente para ocorrer a quitação do crédito efetivado. Análise do caráter é
uma necessidade para acontecer o cumprimento de uma obrigação acordado em um
contrato. Capital é o patrimônio econômico-financeiro que dá suporte ao crédito
solicitado, considerando o grau de endividamento e a solidez desse patrimônio.
Análise Colateral determina o montante de garantias ou ativos colocados à
disposição pelo tomador de empréstimo para liberação de crédito. Análise das
condições verifica a situação econômica e circunstâncias que possam afetar o
cliente, ou seja, observa-se o micro e o macrocenário em que está inserido (TSURU
e CENTA, 2007).

2.2.4. Assimetria de Informações, Seleção Adversa e Risco Moral

Os bancos são instituições financeiras cujas operações correntes são


conceder empréstimos e receber depósitos do público. Um dos fatores de risco de
um banco é o risco de crédito, originário das transações de concessão de crédito. A
relação entre o banco (credor) e seus clientes (tomadores) é estabelecida através de
um contrato de crédito (REIS, 2012).
Transações envolvem certo grau de incerteza. O sistema financeiro está
sujeito a existência de assimetria de informações, na medida em que um agente
deste mercado não tem informações precisas com respeito à transação. Os bancos
têm investido no gerenciamento dos problemas ocasionados pela assimetria de
25

informação, através de tecnologias que permitem monitorar os clientes que solicitam


crédito e, posteriormente, as ações que garantem o pagamento devido.
Nesse sentido, Stiglitz e Weiss em seu artigo, de 1981, Credit rationing in
markets with imperfect information, aborda dois importantes problemas de assimetria
de informação: Seleção adversa e Risco moral, que aparecem na relação credor -
tomador. Um tomador procurando crédito geralmente possui uma informação
privilegiada sobre sua saúde financeira, que o banco não possui. Um tomador com
dificuldades financeiras, na urgência de atender suas necessidades, não se importa
com taxas de juros mais altas, nem avalia sua capacidade em honrar seu contrato
(STIGLITZ E WEISS, 1981).
A seleção adversa advém de uma elevação da taxa de juros, decorrente da
assimetria de informação, que pode causar um problema antes de ocorrer à
transação, no qual os bancos não consegue distinguir os bons dos maus pagadores.
Portanto, quanto maior a taxa de juros que um tomador está disposto a pagar, maior
será o risco, já que o tomador honesto frente a uma taxa de juros elevada, não
comprometerá sua saúde financeira e abdicará o empréstimo. Os tomadores, então
potenciais, com elevado grau de risco são os que demandam mais crédito e são os
normalmente selecionáveis (CARVALHO, 2007).
O risco moral é a consequência na qual a informação assimétrica pode
causar depois que ocorreu a transação, pois os tomadores com elevado grau de
risco demandando crédito a taxa de juros maiores, diminuem a probabilidade de
quitação do mesmo. Isso ocorre porque elevando a taxa de juros, os indivíduos que
tomarão os empréstimos possuem maior vulnerabilidade ao risco de crédito
(CARVALHO, 2007).
A insuficiência de informações pode levar a um mau funcionamento do
mercado de crédito antes ou depois de ocorrer às transações financeiras. Os
problemas causados pela seleção adversa e pelo risco moral podem acarretar em
um racionamento no crédito. Segundo Stiglitz e Weiss (1981) o racionamento de
crédito pode ocorrer em duas circunstâncias:

1. Quando um emprestador recusa-se fazer um empréstimo a qualquer


taxa de juros a um indivíduo, mesmo que o tomador aceite a pagar uma taxa de
juros maior. Isso é a seleção adversa, ou seja, tomadores que se encaixam nessa
situação representam um maior risco de crédito.
26

2. Situação em que o emprestador concede o crédito, mas restringe o


volume do empréstimo para o tomador. Ou seja, o racionamento de crédito é
necessário porque quanto maior o empréstimo concedido maior o risco moral, de um
indivíduo entrar em uma situação em que não pode pagar o empréstimo.

Evidentemente, isso ocorre ao fato da existência de informação imperfeita no


mercado financeiro. Na hipótese da existência da informação plena sem custos para
as instituições financeiras, seria possível selecionar com perfeição os tomadores,
cobrando taxas de juros adequadas para cada um deles, reduzindo o risco de
crédito ao nível mínimo.

2.2.5. Modalidades de crédito e arrendamento mercantil para pessoas físicas

Um importante ferramental teórico é o manual de estatísticas agregadas de


crédito e de arrendamento mercantil elaborado pelo Banco Central do Brasil.
Abrange todas as modalidades de crédito para pessoas físicas e jurídicas. Como a
abordagem deste trabalho é sobre crédito para pessoas físicas, desconsiderou os
destinados a pessoas jurídicas.
As modalidades de crédito e arrendamento mercantis destinados a pessoas
físicas são divididos em recursos livres e direcionados. Crédito com recursos livres
para pessoas físicas disponíveis atualmente são: cheque especial; crédito pessoal
não consignado; crédito pessoal não consignado vinculado à renegociação de
dívidas; crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público e do setor
privado; crédito pessoal consignado para aposentados e pensionistas do INSS;
financiamento imobiliário; crédito rural; aquisição de veículos; aquisição de outros
bens; cartão de crédito – rotativo; cartão de crédito – parcelado; cartão de crédito –
compras à vista; arrendamento mercantil de veículos; arrendamento mercantil de
outros bens; desconto de cheques; e outros créditos livres (BANCO CENTRAL,
2009).
A outra forma de crédito com recursos direcionados para pessoas físicas
abrange: crédito rural controlado; financiamento habitacional para aquisição ou
construção de residências; capital de giro com recursos do BNDES; financiamento
de investimentos com recursos do BNDES; financiamento agroindustrial com
27

recursos do BNDES; microcrédito – consumo; microcrédito – microempreendedor;


microcrédito – consignado; e outros créditos direcionados (BANCO CENTRAL,
2009).

2.2.6. Crédito Consignado

Os empréstimos consignados são uma modalidade de crédito disponível


para trabalhadores do setor público, do setor privado e para aposentados e
pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público são
destinados a servidores públicos federais, estaduais ou municipais, ativos ou
inativos, com retenção, por parte do órgão público ao qual o servidor está vinculado,
de parte do salário ou rendimento de aposentadoria para o pagamento das parcelas
do empréstimo, com desconto em folha de pagamento, nos termos da legislação em
vigor, limitado a 30% de seu salário (BANCO CENTRAL, 2009).
Para o setor privado, o crédito pessoal consignado para trabalhadores, são
operações de crédito com retenção de parte do salário do tomador pelo empregador
para o pagamento das parcelas, descontados em folha de pagamento, nos termos
da Lei 10.820, de 17 de dezembro de 2003. Restringe a 30% do salário líquido e,
não devem estar vinculadas a aquisição de bem ou serviço (BANCO CENTRAL,
2009).
As operações de crédito para aposentados e pensionistas do INSS, com
retenção de parte do benefício do contratante – limitado a 30% - por parte do INSS
para a liquidação das parcelas, descontadas em folha de pagamento, nos termos da
Lei 10.820, de 17 de dezembro de 2003 (BANCO CENTRAL, 2009).
Essa modalidade de empréstimo descontadas em folha reduz o risco de
inadimplência, com taxas de juros mais acessíveis para os contratantes. Nos últimos
anos observaram-se inúmeras estratégias por parte das instituições financeiras para
aumentar a concessão nessa modalidade de crédito, pois o risco é mínimo. Uma
modalidade que, curiosamente não consulta órgãos de proteção ao crédito, podendo
pessoas com nome em registro de inadimplência contratar, com taxas de juros
acessíveis.
28

É a principal responsável do crescimento recente do crédito para Pessoas


Físicas o qual apresenta um custo menor para o tomador que as demais opções de
crédito pessoal. Menor custo do empréstimo consignado é resultado de sua melhor
qualidade e maior segurança de recebimento. O crédito consignado aumentou
também acesso da população ao crédito, especialmente via INSS (BANCO
CENTRAL, 2009).
29

3. METODOLOGIA

3.1. MÉTODO DE ABORDAGEM

A pesquisa tem por finalidade a solução de um problema, com suporte de


métodos científicos que visa ajudar a solucionar este problema. O método científico
possui um embasamento em passos estruturados e orientados na busca de validade
e precisão em relação à pesquisa, conjuntamente da obtenção de conhecimentos.
O trabalho tem como objetivo estudar os fatores determinantes do aumento
de crédito destinados a pessoas físicas, uma análise pós-década de 1990,
enfatizando a importância do crédito consignado em folha de pagamento para as
instituições financeiras e o público demandante. De acordo com Gil (1999) o estudo
faz o uso do método indutivo, caracterizado como um procedimento do raciocínio
que parte de uma análise de dados particulares, para a generalização. Em outras
palavras, utiliza-se de dados singulares para a construção de uma verdade geral.

3.2. MÉTODO DE PROCEDIMENTO

Para atingir os objetivos da pesquisa, o método de procedimento utilizou-se


um referencial teórico, com dados secundários, com o uso do método observacional
e uma análise de investigação sobre os fatos e acontecimentos relacionados ao
contexto abordado. Parte de uma análise histórica descritiva e será baseado em
estatística descritiva.

3.3. FONTE DE DADOS E INFORMAÇÕES DA PESQUISA

O levantamento dos dados e informações do estudo utilizou dados


secundários, através de pesquisas junto a livros, artigos acadêmicos, consulta à
internet em sites de órgãos do Banco Central do Brasil (BACEN), Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
entre outros órgãos públicos e instituições pertinentes ao contexto.
30

Na determinação das variáveis que influenciam o crédito destinados à


pessoas físicas no Brasil, utilizou-se os artigos de Fucidji e Mendonça (2007), Reis
(2012), Soares (2001) e Cruz (2004), além de outras informações levantadas na
elaboração da pesquisa e inseridas no tratamento dos dados.

3.4. TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados obtidos tiveram um tratamento estatístico e interpretativo. O


tratamento estatístico é feito por meio de gráficos, tabelas, quadros e figuras.

3.5. DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O trabalho abrange a área geográfica de todo o território brasileiro,


delimitando o espaço temporal da pesquisa, a partir década de 1990. A área do
conhecimento utilizada incorpora a Macroeconomia, Microeconomia e Economia
Monetária.

.
31

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ANTERIORES A ESTABILIZAÇÃO


ECONÔMICA

A inserção do crédito no Brasil foi por volta dos anos 1950 através da venda
direta a crédito pelo lojista ao consumidor. Em 1965, com a reforma do sistema
financeiro, cria-se o Crédito Direto ao Consumidor – CDC, estabelecendo por meio
da Resolução n° 45 de 31/12/1966 que 40% dos recursos das instituições
financeiras seriam destinados para o crédito direto ao consumidor. Isso é
considerado como um avanço para a economia nacional, que ao contrário da
maioria das economias desenvolvidas, teve um processo tardio no desenvolvimento
dos bancos com a sua principal função de captar os recursos dos agentes
superavitários e emprestá-los aos agentes deficitários (MARTINEZ, 2010).

A partir desse período, década de 1960, a economia brasileira passou por


acontecimentos marcantes, tanto econômicos como políticos e sociais. Para objeto
de estudo e análise, evidencia-se os principais fatos que de alguma forma, direta ou
indiretamente, influenciaram a trajetória do setor creditício no Brasil.

No início da década de 1960, a economia mantinha sua trajetória de


crescimento conforme anos anteriores, mas, em 1962, os dados sobre o nível de
investimentos e sobre o ritmo de crescimento industrial apontavam para a recessão
de 1963. A sociedade brasileira atravessou, a partir da posse e precoce renúncia do
presidente Jânio Quadros, um período de grande instabilidade, que resultou na
interrupção do processo político democrático e na instauração da ditadura militar, em
1964. Conforme destaca Lacerda et al. (2010 p. 162)

Durante o curto governo Jânio Quadros, a política econômica foi bastante


conservadora no enfrentamento dos problemas herdados do governo JK:
aceleração inflacionária, déficit fiscal e pressão sobre o balanço de pagamentos.
[...] A abrupta renúncia do presidente, em agosto de 1961, interrompeu a
continuidade de sua política econômica. A posse do vice-presidente João Goulart
só foi possível com as limitações que lhe seriam impostas pelo regime
parlamentarista, resultado dos vetos militares. Assim, de setembro de 1961 até
32

janeiro de 1963, houve três gabinetes parlamentares que, diante do quadro de


indefinição política, não conseguiam implementar nenhuma política econômica
consistente. Em razão disso, a taxa de inflação alcançou 45,5% em 1962, contra
33,2% em 1961.

No mesmo ano do golpe militar, duas leis abrem caminho para a reformulação
do sistema bancário e financeiro brasileiro e para o desenvolvimento do mercado de
capitais no Brasil. A Lei 4.357/64 instituiu a correção monetária, através da criação
da ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional), e a reforma bancária ficou
a cargo da Lei 4.595/64, que criou o Conselho Monetário Nacional, o Banco Central
e o Banco Nacional de Habitação. Com isso, impulsionou a reformulação e
surgimento de novas sociedades corretoras, a reorganização das bolsas de valores
e o surgimento dos bancos de investimento, como se pode observar na Tabela 1.

Tabela 1 - Número de instituições financeiras em funcionamento


33

A Tabela 1 demonstra a redução drástica do número de bancos comerciais no


período 1964/1970. Acentuando uma tendência anterior, pelo menos desde 1958,
quando somavam 399 bancos, este setor passava de 336 instituições em 1964 a
195 em 1970. Esse processo não é de extinção pura e simples dos bancos, mas
resultado de um processo de concentração bancária, baseado nas fusões de bancos
comerciais (Lacerda et al., 2010).

Observa-se também o surgimento e o rápido crescimento dos bancos de


investimento, que são responsáveis por parte considerável do financiamento e
empréstimo ao capital privado. Por fim, têm-se a organização e o surgimento de
grande número de sociedades corretoras.

Com a ditadura militar, o governo conseguia trabalhar para o crescimento


nacional, o que ficou conhecido como milagre brasileiro. Através da exacerbação do
nacionalismo e na repressão aos movimentos sociais e com isso ampliando a
exploração aos trabalhadores conseguiram fazer a economia nacional crescer. O
crescimento real do PIB alcançou médias anuais de 11,3% nos anos de 1968-1974.
Esta realidade não se sustentou em longo prazo, tendo causado, posteriormente, o
aumento da inflação e a crise que o Brasil atravessaria durante as décadas de 1980
e 1990. Já em 1979 há um grande salto inflacionário, ocorrido em função da crise
mundial do petróleo e da política interna de fixação de preços (BAER, 2009).

A década de 1980 configura o processo de redemocratização do país, que,


após ver o declínio da ditadura militar atinge em 1985 um novo marco democrático.
Vem acompanhado de uma instabilidade econômica muito grande. No começo desta
década, em 1983 há um processo de maxidesvalorização do Cruzeiro, moeda
corrente, causando uma grave crise econômica. Nesta década houveram diversos
novos planos econômicos que se sucederam tentando resolver a crise econômica,
no entanto, nenhum deles surtiu o efeito esperado.

4.1.1. Inflação

A inflação no Brasil tem uma longa história, que se confunde com o processo
de desenvolvimento de sua economia. A economia brasileira passou por
experiências marcantes com relação à inflação em períodos distintos, desde a
34

década de 1930. Para o estudo, é necessário subentender esse processo em que se


submeteu a economia brasileira e seus efeitos para o setor financeiro, sendo filtrado
esse período a partir da década de 1960.

A economia brasileira atravessou um amplo e conhecido processo de


crescimento, com destaque a construção de Brasília e a implantação da indústria
automobilística durante o governo Juscelino Kubitschek. A forte intervenção do
Estado, com mecanismos precários de financiamento dos gastos governamentais,
reforçados pelas características de economia fechada que o Brasil possuía,
acarretou em desequilíbrio fiscal das contas do governo, forte crescimento da
demanda e em elevação da inflação. Observa-se no gráfico a experiência brasileira
com relação à inflação em períodos distintos (BAER, 2009).

O Gráfico 1 retrata a inflação no período de 1960 a 1988, medido através do


Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI). O índice é calculado pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV), que é composto pelo IPA-DI (Índice de Preços por
Atacado - Disponibilidade Interna), IPC-DI (Índice de Preços ao Consumidor -
Disponibilidade Interna) e INCC-DI (Índice Nacional do Custo da Construção -
Disponibilidade Interna). Esses indicadores registra a inflação de preços desde
matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais, abrangendo toda a
população, sem restrição de nível de renda (FGV, 2014).

Gráfico 1 - Taxa de inflação anual (IGP-DI)

275,00 242,68
250,00
225,00
200,00
IGP-DI (%)

175,00
150,00
110,56
125,00
100,00 86,47
75,00
50,00 15,72
25,00 30,70
36,06 41,51
- 29,89
1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988
ANO

Fonte: Fundação Getulio Vargas/Conjuntura Econômica – Elaboração própria (2014)


35

No período entre 1960 e 1970, o quadro econômico se agravou no governo,


tanto pelas características da economia já existentes como pela instabilidade política
que o marcou. A inflação atingia, então, 90% ao ano e constituía um dos principais
problemas da economia nacional. Com o golpe militar em 1964, o governo tomou
medidas para combater a inflação, tendo feito a taxa anual recuar a 19% em 1969,
chegando a níveis de 15% em 1972. Esse resultado, contudo, pode ser considerado
apenas parcialmente como bem-sucedido, para os padrões internacionais, tratava-
se de uma inflação gigantesca.

Em 1973, a economia mundial foi afetada pelo primeiro choque do petróleo,


em que os preços desse produto aumentaram significativamente. Impactou em
mudança extensa de preços relativos na economia, ou seja, produtos dependentes
do petróleo e energia se tornaram mais caros do que produtos menos dependentes.
Efetivamente, a inflação aumentou em 1973 e 1974 no mundo todo. Porém, no
Brasil, havia um mecanismo que perpetuava institucionalmente o choque
inflacionário. Os preços aumentaram em 1973 e 1974 devido ao aumento do preço
do petróleo e continuaram a aumentar depois, pois a maioria dos preços importantes
tinha seus reajustes condicionados aos aumentos anteriores de preços. A inflação
foi para um patamar de cerca de 40% ao ano em 1974 (BAER, 2009).

A crise agravou a partir de 1979, com o segundo e mais forte choque do


petróleo, seguido de aumento das taxas de juros internacionais, o qual abalou o
frágil equilíbrio das contas externas. Houve a necessidade de uma grande
desvalorização do cruzeiro, a moeda da época e o encarecimento em moeda local
não apenas do petróleo, mas de todos os insumos importados e/ou dependentes de
importações.

A ascensão inflacionária caracterizaria toda a década de 1980, conhecida


como a “década perdida” e marcada por graves desequilíbrios internos e externos.
Naqueles anos, a economia do País passou por uma grave recessão, com queda
dos investimentos, baixas taxas de crescimento do PIB, estagnação da renda per
capita, elevado déficit público e aumento das dívidas interna e externa. Enquanto no
período de 1950 a 1980 o Brasil havia crescido à taxa média de 7,5% ao ano, entre
1981 e 1990, este número não passou dos 1,6% (BAER, 2009).
36

O Gráfico 2 retrata a inflação em um dos períodos mais instável da história


brasileira, do ponto de vista econômico, político e social, com instauração da
democracia no Brasil, e o desafio dos governantes em mudar esse quadro que tanto
perdura na memória dos brasileiros até os dias atuais.

Gráfico 2 - Taxa de inflação anual (IGP-DI)

3.000,00
2.750,00 2.851,34
2.500,00
2.250,00
2.000,00 2.012,55
IGP-DI (%)

1.750,00
1.500,00
1.250,00 1.216,97 1.167,17
1.117,86
1.000,00
750,00
500,00 908,01
431,94 496,71
250,00 242,68
0,00 60,95
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
ANO

Fonte: Elaboração do autor com base em dados do IPEA DATA (2014)

Em 1985, o País assistiu à transição do regime militar para um governo


democrático, com um presidente civil, Tancredo Neves, eleito indiretamente pelo
Congresso Nacional. Com o falecimento de Tancredo, antes mesmo de sua posse, o
poder foi assumido pelo seu vice, José Sarney. Era o início da Nova República. O
País vivia então uma profunda crise econômica. Para os economistas, estava bem
claro que o principal entrave ao desenvolvimento do Brasil era a inflação, a qual já
se tornara endêmica e descontrolada (BAER, 2009).

Até a década de 1980, as teorias que se propunham a investigar as causas


da inflação concentravam-se nos fatores que aceleravam ou desaceleravam o
aumento de preços. Dado o fracasso dos programas ortodoxos adotados até o
momento, a partir de 1986, a equipe econômica do Governo Sarney introduziria uma
grande mudança na condução da política de combate à inflação: os choques
heterodoxos. Baseados no conceito e diagnóstico da inflação inercial os programas
heterodoxos visavam a controlar a inflação através da desindexação da economia, o
37

que seria alcançado por meio de políticas de renda apoiadas no congelamento dos
preços (BAER, 2009).

O primeiro programa deste tipo foi denominado “Plano Cruzado” Esse Plano
determinou a substituição do Cruzeiro por uma nova moeda (o Cruzado) e congelou
os preços. De imediato, a inflação cessou, proporcionando à população um ganho
real do poder de compra e, consequentemente, provocando uma explosão no
consumo interno. O congelamento de preços tornou-se cada vez mais insustentável
e o plano acabou se esgotando no início de 1987 (BAER, 2009).

Após o Plano Cruzado, a economia brasileira passou por um


desaquecimento, com queda do salário médio real. As contas externas continuavam
a apresentar comportamento preocupante, impedindo a definição de regras estáveis
para o serviço da dívida com os bancos e instituições internacionais. O setor privado
era atingido por uma aguda crise financeira, que levou as empresas a um número
recorde de concordatas e falências. O setor público encontrava-se desorganizado
por conta da crise fiscal, gerando graves problemas políticos e sociais em diversas
partes do País (SOARES, 2001).

A inflação voltou, mas, como os mecanismos institucionais de indexação que


permitiam à economia de certa forma conviver com ela haviam sido desativados pelo
Cruzado, a situação se tornou muito mais crítica do que antes. Não que não
houvesse indexação, mas havia de forma caótica e não institucionalizada (SOARES,
2001).

Novos planos de estabilização, com características similares às do Cruzado,


foram adotados. A fundamentação para esses planos também se encontrava nas
teorias de inflação inercial. Os planos de estabilização lançados a partir de 1986 no
Brasil tinham como objetivo a desindexação da economia, com a consequente
redução da inflação e preservação do equilíbrio das relações contratuais existentes.
A economia brasileira atravessou, durante os anos 1980, uma profunda crise
caracterizada por estagnação econômica e altas taxas de inflação (estagflação). A
renda per capita, em 1994, encontrava-se no mesmo nível de 1980. A inflação
alcançou níveis elevadíssimos nesses quinze anos, chegando a exorbitantes
números de 2.851% em 1993 (Gráfico 2). Caracterizada como uma das mais difíceis
38

crises por que passou a economia brasileira desde que o país se tornou
independente, sendo muito mais grave que a crise dos anos 1930 (SOARES, 2001).

No período anterior a implantação do Plano Real a economia brasileira


passou por períodos de grande instabilidade econômica, praticamente 15 anos, com
sérias dificuldades enfrentadas pela população brasileira originadas do elevado
índice de inflação. Além disso, houve um período de recessão econômica que,
somadas com a elevada inflação, levou a economia brasileira a estagflação. Com
esse longo período de instabilidades econômicas, a inflação influenciou de forma
negativa as condições de consumo dos brasileiros, bem como o próprio
planejamento dos investimentos privados (SOARES, 2001).

A corrosão monetária causada pela inflação, aliada à instabilidade econômica


do período dos anos de 1980 e início de 1990 acabaram gerando desconfiança, por
parte da população, nos rumos da economia. Não era por menos, pois nesse
período o país passou por seis programas fracassados de estabilização (Cruzado I,
Cruzado II, Bresser, Verão, Collor I, Collor II), assistiu a um processo crescente de
indexação e esteve à beira da hiperinflação, no final do governo Sarney
(março/1990). Essa situação dificultava a retomada do crescimento, pois gerou um
fenômeno chamado de “memória inflacionária” que permanecia na população
(SOARES, 2001).

Do fracasso do Plano Cruzado no final de 1986 até o impeachment do


presidente Collor em 1992, a economia brasileira atravessou um período de
estagnação – PIB real cresceu a taxas anuais de 0,6% - e a inflação alcançou a
casa dos três dígitos durante dois anos e quatro dígitos durante quatro anos (BAER,
2009).

Baer (2009, p. 217) ressalta que a inflação brasileira tem sua origem no
conflito distributivo entre vários setores socioeconômicos, que os governos não
foram capazes de resolver ou não estavam dispostos a isso. Esses problemas
podem ser identificados como resultado do mau funcionamento do setor público
brasileiro, representados por políticos que estavam interessados em usar o governo
para atender às suas ambições eleitorais em vez de adotarem políticas econômicas
consistentes.
39

Mário Henrique Simonsen, ex-ministro da fazenda, acrescenta a essa ideia de


que a inflação não pode ser atribuída ao conflito distributivo, mas à maneira pela
qual o governo regula. Os vários governos das décadas de 1980 e 1990 foram
incapazes de manter um equilíbrio orçamentário e a estabilidade dos meios de
pagamento, além de tudo abalou a credibilidade na moeda, preparando o terreno
para as pressões distributivas se manifestarem através dos aumentos de preços
(BAER, 2009).

4.1.2. A estabilidade econômica e o Plano Real

Na abordagem sobre o ambiente inflacionário que se instalou no Brasil na


década de 80 e início dos anos 90, como já abordado no tópico anterior, observa-se
muitos planos econômicos que foram implantados, sem nenhum êxito no que
norteava o objetivo principal. Com isso, acarretou em um ambiente político, social e
econômico instável, gerando incertezas, pressões e um conflito distributivo.

Após várias substituições, o presidente Itamar Franco nomeou o senador


Fernando Henrique Cardoso (FHC) como ministro da Fazenda em maio de 1993.
FHC reuniu uma equipe de economistas renomados como Persio Arida, André Lara
Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Winston
Fritsch, para iniciar um novo tipo de programa de estabilização. Inicialmente
apresentou um plano de austeridade chamado de Plano de Ação Imediata, cujo
objetivo era um corte de US$ 6 bilhões nos gastos do governo em todos os níveis -
Federal, Estadual e Municipal. Além disso, o plano impôs uma rigidez maior no
recolhimento dos impostos e a solução dos relacionamentos financeiros com as
esferas estaduais. Criou-se uma campanha para o combate a sonegação fiscal
(BAER, 2009).

Outra medida tomada por FHC foi a negativa de garantias federais a


empréstimos estrangeiros aos estados que possuíssem dívidas em atraso com o
governo federal. Nesse período (1993), os estados tinham uma dívida com o
Governo Federal de US$ 36 bilhões, com aproximadamente US$ 2 bilhões em
40

atraso. Para isso, os estados deveriam alocar 9% das suas receitas para acertar
suas dívidas (BAER, 2009).

Fernando Henrique criou medidas para impedir a criação de moeda por


bancos estaduais. Era comum na década de 80 e início de 90, os estados tomarem
emprestado recursos de seus bancos, que se tornaram desenfreados. Muitas
dessas instituições ficaram sem liquidez e tiveram que recorrer ao Banco Central
para socorrê-las, gerando uma pressão por emissão de moeda.

Com essas mudanças iniciais, com objetivos do ajuste fiscal e o equilíbrio nas
contas do governo, foram adotadas medidas para o combate efetivo da inflação.
Para isso, FHC propôs um novo sistema de indexação que levaria progressivamente
a uma nova moeda. O novo sistema de indexação foi introduzido em fevereiro de
1994, denominado de Unidade Real de Valor (URV), que foi atrelado ao dólar
americano numa base de um por um.

Com a URV, o governo estimulava seu uso involuntário por agentes privados,
preços oficiais, contratos e impostos eram fixados em URV. Gradativamente os
preços foram sendo fixados em URVs. Em meados de 1994, o governo decidiu
introduzir uma nova moeda cuja unidade era igual a esse indexador. Em 1° de julho
introduz a nova moeda o real, equivalente a uma URV, ou US$ 1,00, e a CR$
2.750,00 antigos (BAER, 2009).

Paralelamente a introdução da nova moeda, o governo adotou uma política


monetária restritiva que consistia em empréstimos de curto prazo para financiar
exportações, depósitos compulsórios equivalentes a 100% sobre depósitos à vista e
um limite da expansão da base monetária de R$ 9,5 bilhões até o final de março de
1995. As autoridades monetárias mantiveram elevadas as taxas de juros para
controlar um aumento excessivo no consumo e desestimular a formação de
estoques especulativos. Como medida complementar para desestimular a entrada
de capitais, devido às altas taxas de juros, decidiram fixar a venda do real em US$
1,00 e permitiam que seu preço de compra fosse avaliado pelo mercado (BAER,
2009).

Os resultados iniciais do Plano Real foram efetivos. A inflação caiu de uma


taxa mensal de 50,7% em junho de 1994 para 0,96% em setembro. Outubro,
41

novembro e dezembro, com taxas de 3,54%, 3,01% e 2,37%, continuaram a cair.


Em 1995, a taxa maior foi de 5,15% em junho e a menor 1,5% em outubro. O
aumento cumulativo de preços que em 1994 era de 1340%, passou para 67% em
1995. Além de outros efeitos no índice de crescimento da economia, atingindo média
anual de 4,3% na primeira metade de 1994, chegou a média de 5,1% na segunda
metade desse ano, de 7,3% em março de 1995, de 7,8% em junho e de 6,5% em
setembro de 1995.

Outro ponto importante observado nesse período foi o aumento do consumo


em 16,3% do segundo trimestre de 1994 ao segundo trimestre de 1995. Esse
aumento do consumo observado, segundo Baer (2009, p. 227) está relacionado ao
aumento do poder de compra dos grupos de renda mais baixa, cuja renda real
aumentou, pois as perdas mensais ocorridas em um ambiente de hiperinflação
haviam desaparecido. Além disso, os salários nominais também foram aumentando
na segunda metade de 1994, com isso os salários reais ficaram 18,9% mais altos
nos primeiros meses de 1995 do que o ano anterior.

O Gráfico 3 apresenta a taxa de inflação anual, medida pelo IGP-DI. Ele


ilustra bem esse período em que trouxe estabilidade monetária a partir de políticas
econômicas elaboradas em torno do Plano Real.

Gráfico 3 - Taxa de inflação anual (IGP-DI)

3000,00%
2851,34%
2500,00%

2000,00%
IGP-DI

1500,00% 1167,17%

1216,97%
1000,00%
908,01%

500,00% 496,71% 15,02% 9,22%


0,00%
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).
42

Observa-se que as taxas de inflação anual, em seu pico máximo, atingiram


2.851,34% em 1993, baixou para 908% em 1994 e incríveis números de 15% em
1995 e 9% em 1996. O Plano Real foi eficiente em seu objetivo que era a
estabilidade monetária. Gerou credibilidade nacional e internacional, o que permitiu
à economia funcionar de maneira estável durante um longo período.

4.1.3. Regime de metas de Inflação

O regime de metas para a inflação é um regime monetário no qual o banco


central se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva esteja em
linha com uma meta pré-estabelecida, anunciada publicamente. Segundo o
Departamento de Relacionamento com Investidores do BACEN (2014) o Regime de
Metas para a inflação caracteriza-se geralmente por quatro elementos básicos:

i) conhecimento público de metas numéricas de médio - prazo para a inflação;

ii) comprometimento institucional com a estabilidade de preços como objetivo


primordial da política monetária;

iii) estratégia de atuação pautada pela transparência para comunicar claramente o


público sobre os planos, objetivos e razões que justificam as decisões de política
monetária;

iv) mecanismos para tornar as autoridades monetárias responsáveis pelo


cumprimento das metas para a inflação.

Portanto, o regime de metas para a inflação envolve mais do que o anúncio


público de metas numéricas para a inflação. A transparência e a prestação de
contas regulares à sociedade e a seus representantes são elementos essenciais
desse regime.

Para atingir o objetivo, são estabelecidas bandas para a meta de inflação, por
motivos evidentes. Em primeiro lugar, nenhum banco central tem controle total sobre
o comportamento dos preços. O que ele faz é mover a taxa de juros básica de forma
a afetar, por vários mecanismos indiretos, a evolução dos preços. A inflação está
43

sujeita a vários fatores externos ao banco. Além disso, existem defasagens nos
mecanismos de transmissão da política monetária. Na ocorrência de choque
inflacionário hoje, mesmo o Banco Central respondendo prontamente, ainda se
observará aumento da inflação no curto-prazo. Em segundo lugar, a presença de
bandas permite ao Banco Central acomodar parcialmente alguns choques. A
existência de banda permite que a autoridade monetária cumpra a meta sem que a
política monetária se torne excessivamente restritiva. Contudo, tal banda não pode
ser muito ampla, pois criaria a expectativa de falta de compromisso em alcançar seu
centro. Sua utilização, portanto, deve ser feita com bastante critério e parcimônia.
Assim, se por um lado é importante que existam bandas para acomodar os choques
econômicos, por outro lado sua amplitude deve ser limitada de forma a não
prejudicar a credibilidade do regime de metas (BACEN 2014).

Segundo o BACEN (2014), a estabilidade de preços foi escolhida como


objetivo primordial da política monetária, devido a experiências desastrosas e
prejudiciais que o Brasil enfrentou no século XIX. Após vários anos de elevado
crescimento econômico, a década de 80 foi marcada pela conjunção de dois fatores:
forte queda da taxa de crescimento da economia brasileira e grande aumento da
taxa de inflação, situação que se estendeu durante a primeira metade dos anos 90,
e que levou à adoção de sete planos de estabilização em menos de dez anos.

A maioria dos bancos centrais no mundo utiliza a taxa de juros de curto-prazo


como instrumento principal de política monetária. No Brasil, o regime de metas para
a inflação utiliza a taxa Selic como instrumento primário de política monetária. A taxa
Selic é a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos diários com prazo
de um dia útil (overnight) lastreados por títulos públicos registrados no Sistema
Especial de Liquidação e Custódia (Selic), ou seja, é a taxa de juros que equilibra o
mercado de reservas bancárias. O Comitê de Política Monetária (Copom) define a
meta para a taxa Selic, e cabe à mesa de operações de mercado aberto do Banco
Central manter a taxa Selic diária próxima à meta (CARVALHO, 2007).

No início de março de 1999, em ambiente ainda marcado pela incerteza


quanto ao impacto da desvalorização do real sobre a inflação, o governo brasileiro
anunciou a intenção de passar a conduzir a política monetária com base num
arcabouço de metas para a inflação. O Brasil adotou formalmente o regime de metas
44

para a inflação como diretriz de política monetária, com a edição do Decreto nº 3.088
pelo Presidente da República, em 21 de junho de 1999. Em 30 de junho de 1999, o
Conselho Monetário Nacional (CMN) editou a Resolução nº 2.615, tratando da
definição do índice de preços de referência e das metas para a inflação.

Com a introdução do regime de câmbio flutuante em 1999 e, num primeiro


momento, a desvalorização acentuada do real, a adoção do regime de metas para a
inflação em julho do mesmo ano contribuiu para estabilizar a inflação. Desde a
adoção do regime de metas, a inflação efetiva ultrapassou o intervalo de tolerância
em 2001, 2002 e 2003. Em 2004, 2005, 2008, 2010, 2011, 2012 e 2013, o IPCA
ficou acima do centro da meta, mas dentro do limite superior do intervalo de
tolerância, tendo ficado abaixo do centro da meta em 2006, 2007 e 2009, como pode
ser visto no Quadro 3.

Quadro 3 - Histórico de Metas para a Inflação no Brasil


ANO Meta (%) Banda (p.p.) Limites Inferior Inflação Efetiva
e Superior (%) (IPCA % a.a.)
1999 8 2 6 - 10 % 8,94
2000 6 2 4-8% 5,97
2001 4 2 2-6% 7,67
2002 3,5 2 1,5 - 5,5% 12,53
3,25 2 1,25 - 5,25 %
2003* 4 2,5 1,5 - 6,5 % 9,3
3,75 2,5 1,25 - 6,25 %
2004* 5,5 2,5 3-8% 7,6
2005 4,5 2,5 2-7% 5,69
2006 4,5 2 2,5 - 6,5 % 3,14
2007 4,5 2 2,5 - 6,5 % 4,46
2008 4,5 2 2,5 - 6,5 % 5,9
2009 4,5 2 2,5 - 6,5 % 4,31
2010 4,5 2 2,5 - 6,5 % 5,91
2011 4,5 2 2,5 - 6,5 % 6,5
2012 4,5 2 2,5 - 6,5 % 5,84
2013 4,5 2 2,5 - 6,5 % 5,91
Fonte: Banco Central – Elaboração Própria (2014)
*A Carta Aberta, de 21/1/2003, estabeleceu metas ajustadas de 8,5% para 2003 e de 5,5% para 2004.

Quando a meta para a inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional não
é cumprida, isto é, quando a inflação rompe, acima ou abaixo, os limites do intervalo
45

de tolerância em torno da meta central, as razões para o descumprimento, bem


como as providências tomadas para retornar à trajetória de metas, são explicitadas
pelo Presidente do Banco Central do Brasil em Carta Aberta ao Ministro da Fazenda.
Tal procedimento confere maior transparência e credibilidade ao processo de
convergência às metas inflacionárias.

Foram enviadas Cartas Abertas referentes às inflações de 2001, 2002 e 2003


que, como mostra o Quadro 3, ultrapassou os limites das bandas estabelecidas
nesses anos. Em 2001, a meta estabelecida da inflação era de 4%, com uma banda
de 2 p.p. para cima ou para baixo, sendo a inflação efetiva de 7,67%, ultrapassou o
limite de 6%. Em 2002 a meta era de 3,5%, com uma banda de 2 p.p., e a inflação
real foi de 12,53%, ultrapassou consideravelmente nesse período, pois o limite
superior era de 5,5%, isso se deve em grande parte a transição do governo FHC
para o governo Lula, que gerou incerteza ao rumo em que a economia poderia
tomar. Em 2003, a meta inicial era de 3,25%, depois foi alterada para 4%, mas
mesmo assim ultrapassou o limite superior que era de 5,25% e 6,5% posteriormente,
com uma banda de 2 p.p. e 2,5 p.p. respectivamente, dado uma inflação real de
9,3%.

Hoje há muitos economistas que defendem as vantagens da estabilidade de


preços, condição necessária para que possa haver crescimento autossustentado.
Além disso, no médio e longo prazo, maior inflação não gera maior crescimento;
pelo contrário, cria ambiente desfavorável aos investimentos e penaliza as camadas
mais pobres da sociedade, promovendo concentração de renda. Vale adicionar que
os principais bancos centrais do mundo adotam, de forma implícita ou explícita, a
estabilidade de preços como principal objetivo da política monetária.

4.1.2.1 O controle da inflação pela taxa de juros

Para manter o nível de inflação esperado, o governo faz uso da política


monetária, por meio da taxa básica de juros, a Selic. Assim, caso o BC observe que
a inflação corre o risco de superar a meta, a tendência é elevar os juros. A taxa de
juros foi o instrumento escolhido pelo governo, pois ela determina o nível de
46

consumo do país, já que a taxa Selic é utilizada nas transações bancárias e,


portanto, influencia os juros de todas as operações na economia.

A Selic é utilizada pelos bancos como um parâmetro. A partir dela, as


instituições financeiras definem quanto vão cobrar por empréstimos às pessoas e às
empresas. Segundo a lei da oferta e da procura, quanto maior a demanda por um
determinado produto, mais elevado é o seu preço. Do contrário, se uma mercadoria
ou serviço não forem tão procurados, o preço tende a cair para atrair mais
compradores.

Assim a Selic é usada pelo governo como instrumento monetário de combate


a inflação. Desde 1999 o governo adotou um regime de metas inflacionárias para a
economia brasileira, como referencial de política monetária.

4.1.3 Taxa de impaciência

Para explicarmos a demanda por empréstimos por parte dos consumidores, é


necessário entender a teoria desenvolvida originalmente por Irving Fisher (1930),
que explica entre outras coisas porque um consumidor escolhe e decide poupar, isto
é, consumir menos do que sua renda no presente e de consumir mais no futuro.
Assim, a teoria de escolha intertemporal explica porque o consumidor decide quanto
gastar e poupar ao longo do tempo e criar uma ligação entre os gastos correntes e
futuros.

O modelo assume que o consumidor escolhe o consumo para o presente e o


futuro a fim de maximizar o nível de satisfação ao longo de toda a vida. As escolhas
do consumidor estão sujeitas a uma restrição orçamentária intertemporal; que é uma
medida do total de recursos disponíveis para o consumo presente e futuro. Um
consumidor quando decide gastar hoje em vez de guardá-lo para o futuro, está
tomando uma decisão intertemporal. As decisões intertemporais envolvem
inevitavelmente comparações de somas de dinheiro em diferentes momentos.

Os consumidores se diferem em relação a preferências entre o consumo


futuro e presente, sendo que alguns indivíduos estão mais dispostos a sacrificar
47

mais o consumo futuro por um maior consumo presente. Já outros estão dispostos a
sacrificar o consumo presente para obter um maior consumo futuro.

A ideia básica de Fisher (1930) é construir um modelo de escolha


intertemporal que possibilite o indivíduo escolher o consumo entre vários períodos
dado uma taxa de juros vigente, ou seja, o indivíduo tem como base a taxa de juros
e decide se irá substituir consumo entre um período e outro.

Na teoria da preferência pela liquidez de Keynes, observa-se que dada às


políticas das autoridades monetárias e do sistema bancário, que determinam a
oferta de moeda, a preferência pela liquidez é o principal determinante da taxa de
juros.

A teoria do consumidor diz que as decisões de consumo para um


determinado indivíduo em uma sociedade capitalista, sempre é preferível o consumo
presente a o futuro. Porém, dado uma restrição orçamentária a que todos os
consumidores possuem, isso determinará a possibilidade de consumir no presente
ou no futuro.

A partir dessas condições, o sistema financeiro, em especial o bancário, entra


como intermediador para viabilizar a possibilidade de um indivíduo consumir no
presente, através da concessão de crédito. O que vai determinar que essa transação
financeira ocorra é a cobrança da taxa de juros. Ou seja, é o preço que um
consumidor terá que pagar ao longo do tempo, para consumir no presente, que
também é chamado de taxa de impaciência.

4.2. DISPONIBILIDADE DE CRÉDITO NO BRASIL DESTINADA ÀS PESSOAS


FÍSICAS

No Brasil, observam-se particularidades específicas no setor financeiro, em


especial o bancário, que não ocorrem na maioria dos países no mundo, sejam eles
desenvolvidos, subdesenvolvidos ou os chamados países emergentes. Verifica-se
um setor que começou a se desenvolver de forma tardia, com ineficiência,
concentrado, que em um histórico recente servia mais para financiar o governo, do
48

que financiar os setores reais da economia e o consumo das famílias, dado um


ambiente, como demonstrado anteriormente, de incerteza e insegurança que tomou
os brasileiros em torno da inflação.

Na sequência, apresenta-se de forma sucinta a trajetória do crédito destinado


a pessoas físicas, na década de 1990 até 2013, com algumas comparações, após a
estabilidade econômica alcançada com o Plano Real no Brasil.

4.2.1. Reestruturação bancária e a oferta de crédito

Períodos anteriores a implantação do Plano Real era quase impossível haver


operações de crédito direcionados ao consumo das famílias. O Gráfico 4 retrata
esse período com o saldo das operações de crédito para pessoas físicas no Brasil.

Gráfico 4 – Operações de Crédito Pessoas Físicas no Brasil

700,00
Operações de Crédito PF

640
600,00

500,00
(milhões R$)

400,00

300,00

200,00

100,00 1 17
0,12
0,00
1990 1991 1992 1993 1994
Ano

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).

Observa-se no Gráfico 4 que o crédito para pessoas físicas não era


representativo no início da década de 1990. Isso se deve ao ambiente inflacionário
em que gerou insegurança e incerteza nas expectativas dos brasileiros, para
planejarem o consumo e os investimentos, e uma grande desconfiança no rumo em
que a economia poderia tomar. Nesse período, o que se via era uma população
preocupada em proteger sua renda, frente às altas taxas de inflação.

Em 1993, iniciou-se um processo por intermédio do ministro da Fazenda


Fernando Henrique Cardoso, para implantar medidas assertivas no combate à
49

inflação e a busca pela estabilidade econômica. Observa-se que o crédito aumentou


consideravelmente de 1992 para 1993, passando de 17 milhões de reais para R$
640 milhões, reflexos iniciais do que se viu nos anos seguintes com o Plano Real.

Diferente dos planos econômicos implantados nos anos anteriores, com o


Plano Real foi possível estabilizar a economia e, assim, alcançar índices de inflação
muito baixos. Com a estabilização econômica, as famílias tiveram a oportunidade de
rever as decisões relacionadas ao consumo e ampliar suas escolhas. A renda não
sendo mais corroída pela inflação abriu um leque de oportunidades para os
brasileiros planejar e consumir de forma mais eficiente, quer seja gastando ou
investindo melhor seus recursos.

A partir da estabilidade econômica o crédito para pessoas físicas começa a


reaparecer, principalmente os relacionados ao consumo, e permitiu atender uma
demanda reprimida por quase duas décadas de inflação elevada. Fato análogo a
isso também, é a necessidade dos bancos de encontrarem um substituto dos
ganhos em que obtiveram com as transferências inflacionárias.

Nesse novo contexto de estabilidade econômica e com o fim da inflação, o


sistema bancário passou por reestruturação. Os bancos obtinham ganhos
expressivos com as receitas de floating - derivados dos elevados ganhos auferidos
pelas instituições bancárias, face aos altos níveis inflacionários – na década de 1980
e início de 1990. Por isso, os bancos tiveram que se adaptar e buscar novas formas
de obtenção de receitas e a alternativa para isso seria o mercado de crédito.

Em um relatório do Banco Central (1998) sobre essas mudanças que se


fizeram necessária na estrutura do Sistema Financeiro Nacional, tanto do aspecto
operacional e organizacional foram: alterações de controle acionário, fusões,
aquisições, incorporações, liquidações, em que o número de instituições financeiras
diminuísse em cerca de 24% entre 1993 e 1998. Além do mais, o capital estrangeiro
se fez mais presente, proporcionado pela abertura comercial e financeira, oriundos
da vinda de bancos internacionais, em especial da Europa, provocando uma
mudança na estrutura financeira brasileira.

O governo implementou nesse período o PROES e o PROER. O PROES


(Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária)
50

tinha o propósito de promover a redução da presença de instituições financeiras


controladas pelos governos estaduais no SFN. O PROER (Programa de Estímulo à
Reestruturação e ao Fortalecimento do SFN) instituído como um mecanismo de
financiamento para que instituições com solidez tivessem a capacidade de
incorporar bancos em dificuldades, fornecendo acesso a linhas de crédito para as
instituições participantes. Com essas duas medidas, começa a reconfiguração do
sistema bancário nacional: o crescimento da concentração do setor (BACEN, 1998).

As autoridades econômicas lançaram medidas para garantir a solidez do


sistema financeiro, dado a imaturidade que os bancos tinham com relação ao
aumento do volume de crédito e a qualidade em suas concessões. Entre as medidas
estão o PROER e o PROES - mencionados no parágrafo anterior -; a capitalização
do Banco do Brasil; exigências de Patrimônio Líquido das instituições financeiras e o
seu ajustamento com base nos riscos dos ativos; a criação do Seguro Garantidor de
Crédito; e a criação de uma Central de Risco de Crédito. Além de garantir uma maior
solidez do mercado de crédito e do sistema bancário nacional, o objetivo era
resguardar a população e o próprio sistema financeiro de eventuais perdas, tornando
mais confiáveis as operações financeiras (CERQUEIRA, 1998).

4.2.2. Ampliação da disponibilidade de crédito e sua relação com o consumo

A redução da inflação e a abertura comercial na década de 1990


proporcionaram o surgimento de um novo cenário econômico para a população.
Bens e serviços que estavam fora do alcance da população, começaram a ser
inseridos em suas necessidades cotidianas, resgatando a credibilidade e a confiança
das pessoas quanto aos rumos da economia, proporcionou a elas traçarem objetivos
com relação a forma de planejar e consumir. Para isso, o crédito entra como uma
forma de antecipar seus anseios perante o consumo.

Para atender essa demanda de crédito, surgem modalidades de empréstimos


ou financiamentos, facilitando o acesso a esses recursos e tornando cada vez mais
acessível a maior parte da população.
51

Aliados à estabilização econômica, muitos foram os fatores que


proporcionaram o aumento das operações de crédito do SFN, destacam-se: as
políticas econômicas do governo de incentivo ao consumo e redistribuição de renda;
a redução das taxas de juros; elevação dos prazos médios; implantação do crédito
consignado; incentivos fiscais e tributários ao consumo; e a taxa de desemprego.

4.2.2.1. Operações de crédito pessoas físicas de 1994 a 2013

A estabilização econômica mostrou-se insuficiente para garantir a expansão


do crédito ao nível observado nos países desenvolvidos. Isto porque esperavam-se
que os bancos ampliassem os empréstimos, com taxas de juros baixas, aumentando
a relação crédito/PIB. O Gráfico 5 demonstra esse aparente aumento no crédito para
pessoas físicas.

Gráfico 5 – Operações de crédito PF no Brasil no período de 1994 a 2003

120.000
Crédito PF R$ (milhões)

98.994
100.000

80.000

60.000

40.000
16.026
20.000

0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).

No entanto, observando o Gráfico 5, o crédito para pessoas físicas segue


uma tendência de crescimento em suas operações. Em 1994 o valor dos
52

empréstimos destinados á pessoas físicas era de aproximadamente 16 bilhões de


reais, passando para aproximadamente R$ 99 bilhões em 2003.

No período posterior a 2003, o crédito para pessoas físicas tomou rumos com
tendência de crescimento, como é ilustrado no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Operações de crédito PF no Brasil no período de 2003 a 2013

900.000
767.539
800.000
Crédito PF R$ (milhões)

700.000
600.000
500.000 404.641
400.000
235.816
300.000
200.000 98.994
100.000
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).

A partir desses dados das operações de crédito para pessoas físicas no


Brasil, observam-se relativos aumentos no período de 2003 – 2013. Passou de R$
99 bilhões, em 2003, para R$ 767,539 bilhões em 2013. Esse aumento está
relacionado a várias políticas implementadas pelo governo, para incentivar o
consumo, surgimento de modalidades de crédito, redução da taxa de juros, aumento
do prazo médio, entre outras medidas que impulsionou o setor creditício no Brasil.
Esses assuntos serão abordados de formas específicas nos tópicos seguintes.

4.2.2.2. Características do ciclo de crédito Pessoa Física de 2003 a 2013

A fase expansiva do ciclo de crédito recente teve início em 2003, quando


houve a combinação de dois elementos: de um lado, a confirmação da garantia de
que não haveria alteração na política econômica do novo governo; de outro lado, a
menor volatilidade macroeconômica, resultante da melhoria das contas externas no
53

contexto internacional vigente a partir de então, em termos tanto do comércio


exterior como das condições de liquidez para os países emergentes. Esse cenário
de menor volatilidade macroeconômica e de expectativas de redução nas taxas
básicas de juros — e, consequente, diminuição dos ganhos com as operações de
tesouraria — induziu os bancos a redefinir suas estratégias operacionais, priorizando
a expansão do crédito.

Os bancos identificaram na ampliação do crédito à pessoas físicas um


enorme potencial de ganho, diante das expectativas otimistas quanto à recuperação
do emprego e da renda sob o governo Lula. Para as instituições financeiras, o
crédito às famílias é muito mais fácil de ser avaliado do que o crédito empresarial,
que exige maior conhecimento dos negócios, análise financeira e monitoramento
das atividades das empresas. Ao mesmo tempo, como as taxas de juros praticadas
no segmento de pessoas físicas são mais altas, as operações de crédito pessoal
são também muito rentáveis.

Desse modo, como mostra o Gráfico 7, a expansão do crédito no período


2003-2007 deveu-se, fundamentalmente, ao financiamento do consumo das
famílias. Com variação anual média de 43%, os empréstimos concedidos a pessoas
físicas responderam por 38% do crescimento das operações de crédito ao setor
privado em 2004 e 2005.

Gráfico 7 – Crédito Pessoa Física no Brasil no período 2003-2007

350.000 326.484
Crédito PF R$ (milhões)

300.000
235.816
250.000
188.786
200.000
136.456
150.000 98.994
100.000

50.000

0
2003 2004 2005 2006 2007
ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).
54

Em 2003, primeiro ano do governo Lula, a nova equipe econômica optou por
manter uma política econômica austera, de juros altos e medidas conservadoras. O
nível de crescimento manteve-se baixo, enquanto, por outro lado, a inflação foi
controlada. Os primeiros sinais de retomada do crescimento apareceram no final de
2003, com o PIB do penúltimo trimestre apontando para um crescimento de 0,4%.

O período de 2003 a 2007 foi de expressivo crescimento da economia


brasileira e mundial. A economia mundial atingiu um crescimento de cerca de 5% ao
ano, em termos reais, com o volume do comércio global aumentando mais de 7% ao
ano e a liquidez internacional expandindo-se em ritmo recorde. No Brasil, o
crescimento real do PIB atingiu 5,7%, em 2004.

O ambiente de crescimento da renda e do emprego permitiu a expansão do


crédito, principalmente aquele direcionado a Pessoas Físicas. Esse crescimento foi
favorecido pela queda gradual na taxa de juros, ampliação dos prazos de
amortização, recuperação do mercado de trabalho e avanço no ambiente
regulatório, com regras mais claras e processos mais ágeis para execução de
garantias.

Tais condições favoreceram o aumento do consumo das famílias e dos


investimentos das empresas. Dentre as medidas tomadas pelo governo, com o
objetivo de expandir a concessão de crédito e diminuir o spread bancário, podem ser
destacadas a regulamentação do crédito consignado, em 2003, e a implementação
do novo Sistema de Informações de Crédito (SCR).

Foram adotadas, ainda, medidas de incentivo ao crédito habitacional, à


criação de cooperativas de crédito, à bancarização da população de menor renda e
à ampliação da transparência na cobrança de tarifas e de taxas de juros. Outro
instrumento importante é a utilização da taxa Selic pelo governo para impulsionar a
oferta de crédito no Brasil. Nas discussões a seguir serão abordadas os principais
fatores que impulsionou o aumento do crédito destinados às pessoas físicas.
55

4.2.2.2.1. Crise de 2008 e a importância do crédito consignado

A regulamentação do crédito consignado em folha de pagamento de


trabalhadores ativos e inativos, em dezembro de 2003, forneceu impulso adicional
para a ampliação do crédito a pessoas físicas. Introduzida no Brasil pela Medida
Provisória 130, de 17/9/2003, posteriormente convertida na Lei n. 10.820, de
17/12/2003, a modalidade de empréstimos consignados em folha de pagamento
cresceu vertiginosamente, atingindo o volume de R$ 9,7 bilhões em dezembro de
2003. Desde então, o crédito consignado ampliou continuamente sua participação
no total do crédito pessoal, saltando de 35,5% em 2003 para 57,5% em dezembro
de 2007. Essa modalidade contribuiu com 66,8% da expansão do crédito pessoal
em 2004. Em 2006, essa contribuição atingiu 81,6%. Em 2007, os empréstimos
consignados responderam por 69,6% do incremento do crédito pessoal (CAMARGO,
2009).

O Crédito Consignado foi criado com o intuito de estimular o mercado de


crédito no país, principalmente para o segmento de pessoas físicas. A iniciativa
visou ampliar o acesso dos trabalhadores e aposentados ao crédito em condições
mais favoráveis, principalmente no tocante à redução das taxas de juros cobradas
pelas instituições financeiras e ao aumento de prazo de financiamento.

Desde 2004, passou-se a praticar no País, intensivamente, a modalidade de


crédito conhecida como “empréstimo consignado em folha de pagamento.”
Regulamentada e incentivada pelo Governo Federal em setembro de 2003, com o
apoio das centrais sindicais, a princípio, a novidade não interessou aos grandes
bancos, porque seus juros eram mais baixos do que os do cheque especial ou os do
empréstimo pessoal. Mas, com o decorrer do tempo, houve a adesão, de forma
generalizada, das instituições bancárias, fato que acirrou a competição.

Como resultado dessa concorrência e devido às taxas de juros praticados


nessa modalidade serem quase a metade das cobradas nas operações de crédito
pessoais realizadas no mercado (em abril de 2005, enquanto, no primeiro caso, a
taxa de juros se situava em torno de 36,5% a.a., no segundo, era de 75,0% a.a.), os
empréstimos consignados em folha de pagamento, conforme pesquisa do BACEN
56

em 13 das maiores instituições que operam com crédito pessoal, cresceram 110,9%
em 12 meses (no período de abril de 2004 a abril de 2005). Esse tipo de operação
tem ocorrido mais com os trabalhadores do setor privado do que com os do setor
público, pois, enquanto, no primeiro segmento, houve um crescimento de 179,9% no
período, no segundo, a expansão foi de 102,7%. Em relação à participação do
crédito consignado no crédito pessoal, esta passou de 28,3% em abril de 2004 para
39,9% no mesmo mês de 2005, sinalizando, assim, uma expansão de 11,6 pontos
percentuais.

Do ponto de vista das instituições bancárias, a modalidade do crédito


consignado em folha apresenta a vantagem do pagamento pontual e com garantia
do serviço da dívida. Devido ao fato de as parcelas serem descontadas diretamente
em folha de pagamento, o risco é quase nulo nesta modalidade de crédito, uma vez
que a parcela só deixa de ser descontada em caso de desligamento do funcionário
por parte da empresa, e ainda assim, uma parte da rescisão do mesmo
normalmente é direcionada ao banco para a amortização ou quitação do contrato.

Em contrapartida, o tomador obtém crédito a taxas de juros muito mais baixas


do que as regularmente praticadas no segmento de crédito ao consumo. No Brasil,
embora altas, as taxas de juros do consignado são muito mais baixas do que as
vigentes em outras modalidades de crédito a pessoas físicas. A Tabela 2 representa
essa relação no Brasil, após a implantação do crédito consignado em 2003, com
relação a taxas médias de crédito pessoal.

Tabela 2 – Comparativa entre as taxas de crédito pessoal e consignado

Taxa média de juros - Crédito Taxa média de juros - Crédito


Data Pessoal - % a.a. Consignado - % a.a.
jan/04 79 41
dez/04 68 39
dez/05 67 36
dez/06 57 33
dez/07 46 28
dez/08 60 31
dez/09 44 27
dez/10 44 28
dez/11 48 27
dez/12 39 23
Fonte: Elaboração do autor com base no SGS do BACEN (2014).
57

O custo menor dessa modalidade de crédito permitiu às famílias ampliarem o


consumo, bem como trocarem dívidas, utilizando os recursos para quitar
financiamentos de custo mais elevado. Observando os dados da Tabela 2, em
janeiro de 2004, o crédito consignado representou um custo menor em torno de 50%
com relação à modalidade de crédito pessoal. Esse quadro foi reduzindo ano a ano,
mas em 2012 ainda representa um custo menor de 40%.

O que se observa na Tabela 2, é uma redução da taxa média de juros do


crédito consignado. Em janeiro de 2004, logo após a sua implantação, a taxa média
de juros do crédito consignado era 41% a.a., reduzindo ano a ano, chegando a 23%
a.a. em dezembro de 2012.

O crédito consignado foi importante para inclusão de uma ampla parcela da


população que até então, não tinha acesso ao crédito bancário. Essa parcela
representa uma população de baixa renda que ganha entorno de 1 a dois salários
mínimos, representando a classe C, D e E no Brasil. Isso foi possível pois, essa
modalidade de crédito não necessita de análise de crédito (necessita confirmação da
margem consignável dos 30% permitidos por lei), possui baixas taxas de juros, não
consulta banco de dados de inadimplentes (SCPC, SERASA), não necessita de
avalista, menor valor por prestação sem o comprometimento da renda (permitido
30%) e maior prazo de pagamento do que outras modalidades.

O prazo médio das operações com pessoas físicas subiu de 308 dias, em
janeiro de 2004, para 439 dias, em dezembro de 2007, conforme dados do BACEN.
Esse relativo alongamento dos prazos viabilizou a expansão do crédito mesmo em
um cenário de taxas médias de juros nominais (e reais) extremamente elevadas,
mas que foi puxada através das operações de crédito consignado.

A crise financeira internacional em 2008 condicionou a desaceleração do


crescimento dos estoques de crédito, sobretudo dos bancos privados (nacionais e
estrangeiros), amortecida pelo comportamento anticíclico dos bancos públicos, como
medida estratégica do governo federal para atravessar a crise e incentivar o
consumo. Ainda assim, a oferta de crédito continuou a crescer ao longo de todo o
período, colaborando para a sustentação do consumo.
58

Gráfico 8 – Crédito Pessoa Física no Brasil no período 2007-2013

900.000

800.000 767.539
708.855
Crédito PF R$ (milhões)

700.000 641.626
568.039
600.000
470.096
500.000 404.641
326.484
400.000

300.000

200.000

100.000

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).

Diferentes fatores explicam o forte dinamismo que o crédito à pessoa física


vem apresentando nos últimos anos e que a crise internacional de 2008 não
conseguiu reverter, como é demonstrado no Gráfico 8. Essa modalidade costuma
apresentar spreads maiores do que aqueles das operações com pessoa jurídica, o
que torna possíveis margens mais elevadas de retorno aos bancos. Ademais, a
avaliação dos riscos dos tomadores pessoas físicas tende a ser mais simples do que
a de tomadores pessoas jurídicas, que exigem o conhecimento e o monitoramento
dos negócios desenvolvidos pelas empresas. Dessa maneira, os bancos podem se
sentir estimulados a expandir mais fortemente o crédito à pessoa física do que à
pessoa jurídica.

É importante ressaltar a importância do governo federal em adotar políticas


econômicas anticíclicas. No primeiro grupo, a principal providência foi a flexibilização
das regras do compulsório para depósitos à vista e a prazo. Segundo Freitas (2009),
entre os dias 23/09/08 e 13/11/08 o Banco Central promoveu dez alterações nas
regras do depósito compulsório, em geral, inócuas, “dada a preferência pela liquidez
dos bancos e a possibilidade de aplicação, líquida, rentável e de baixíssimo risco,
em títulos públicos” (FREITAS, 2009, p. 139).
59

Os principais bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e


Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram chamados a suprir
o mercado de crédito brasileiro, de modo a se tentar contra-arrestar a contração de
crédito oriunda dos bancos privados. Algumas das modificações quanto à
regulamentação do compulsório sobre depósitos a prazo tinham por objetivo garantir
a solidez do sistema bancário e, para isto, a autoridade monetária autorizou o uso de
até 40% dos recursos do compulsório sobre os depósitos a prazo para as
instituições financeiras sólidas adquirirem instituições financeiras que
apresentassem problemas de liquidez. O objetivo era estimular as instituições
maiores a adquirirem instituições de pequeno e médio porte mais afetadas pela
crise. Também entra neste grupo de medidas a autorização dada para que o Banco
do Brasil e a Caixa Econômica Federal adquirissem instituições financeiras em
dificuldades (IPEA, 2010).

Logo, a política econômica que mais se descolou daquela existente no


período pré-crise foi a política fiscal. Entre os instrumentos adotados pelo Ministério
da Fazenda para estimular o produto industrial, o emprego e a geração de renda
destacaram-se as desonerações fiscais. A primeira delas foi anunciada ainda no ano
de 2008, beneficiando o setor automotivo, seguido dos setores produtores de
eletrodomésticos de linha branca, de material de construção e, no final de 2009, do
setor moveleiro. Políticas essas que tinham como principal objetivo o incentivo ao
consumo e fomentar a demanda interna (IPEA, 2010).

O consumo das famílias, item da demanda doméstica de maior peso no PIB


(60%), mostrou forte crescimento em 2010 e no primeiro trimestre de 2011. Assim,
apesar de a maioria dos estímulos tributários concedidos no enfrentamento da crise
de 2008 terem sido retirados no primeiro trimestre de 2010, outros fatores
continuaram a fomentar o consumo, como a renda real disponível, em função da
manutenção de taxas de inflação dentro da meta, do crescimento da massa salarial
real (6,3% em 2010 e 7,2% no 1º trimestre de 2011), do volume de crédito real
(11,6% para o crédito às pessoas físicas em 2010 e 11,5% no 1º trimestre de 2011)
e das transferências de renda às famílias (Bolsa Família, Lei Orgânica da
Assistência Social/Loas e outros). Por sua vez, o consumo do Governo, que
costuma ter comportamento estável, sendo menos suscetível a choques, também
contribuiu positivamente para o crescimento da demanda doméstica (IPEA, 2010).
60

Novais e Cagnin (2011) abrange que o sucesso do crédito consignado foi


fundamental nesse período, que se expressa na forte expansão de seu saldo, que
entre dezembro de 2004 e dezembro de 2010 saltou de R$ 17,1 bilhões para R$
138,3 bilhões (707%), atingindo participação de 60,4% do crédito pessoal. Nesse
período, as taxas de juros do crédito consignado foram em média 55% menores do
que as taxas de juros das demais modalidades de crédito à pessoa física. O crédito
consignado explica, assim, boa parte do crescimento da modalidade crédito pessoal
no período recente.

No ano de 2011, os indicadores antecedentes do consumo das famílias


mostram que o ritmo pode ter diminuído um pouco, mas permanece forte, tendo em
vista a elevação da renda real disponível no período (5,7% na massa salarial e de
10,7% no crédito às pessoas físicas, ambos em termos reais)e das vendas no varejo
ampliado (12,4% em abril e maio frente ao mesmo período de 2010).

4.2.2.2.2. Desemprego no Brasil

Dados do IBGE revelam que a taxa de desemprego no Brasil vem


decrescendo desde o início dos anos 2000. Essa pesquisa formulou indicadores
mensais sobre a força de trabalho das pessoas de 10 anos ou mais de idade
(economicamente ativas e não economicamente ativas, em cada uma das regiões
metropolitanas) que permitam avaliar as flutuações e a tendência, a médio e a longo
prazo, do mercado de trabalho metropolitano. É um levantamento utilizado para dar
indicativo ágil dos efeitos da conjuntura econômica sobre o mercado de trabalho,
além de atender outras necessidades importantes para o planejamento
socioeconômico do País.

Essa pesquisa do IBGE é realizada mensalmente nas regiões metropolitanas


de Recife, de Salvador, de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de
Porto Alegre. O Gráfico 9 demonstra essa taxa de desemprego no mês de janeiro
nos anos de 2001 a 2013.
61

Gráfico 9 - Taxa de desemprego no Brasil nas Regiões Metropolitanas (2001-


2013)

12
10,6 10,9
10,5
Taxa de Desemprego (%)

10 9,6
8,3 8,4
8 7,5
6,8 6,8

6 5,3
4,7 4,6 4,3
4

Fonte: Elaboração do autor com base em dados do IBGE (2014).

Observou-se um decréscimo da taxa de desemprego no Brasil nesse período.


Em janeiro de 2001 era de 10,6% o desemprego que passou para níveis históricos
de 4,3% em janeiro de 2013. Além do mais, considerando a crise de 2008, em que
ficou na faixa dos 6,8%, o Brasil esta entre os países com menores taxa de
desemprego no mundo, como a China com 4,1%, a segunda maior economia do
mundo (IBGE, 2014).

O desemprego tem sido um dos maiores problemas sociais atualmente


enfrentados pelas economias desenvolvidas afetadas pela crise de 2008. No Brasil,
esse cenário está favorável, estando a níveis de quase pleno emprego. O que se
quer analisar aqui é a importância desse índice para a economia brasileira, pois
reflete em maior previsibilidade e garantias dos indivíduos em cumprir suas
obrigações frente às instituições financeiras, reduzindo o risco de inadimplência.

4.2.2.2.3. Taxa de Juros no Brasil e taxa Selic

As taxas de juros estão em um nível historicamente baixo no Brasil, se


considerarmos sua tendência histórica. Porém, são muito altas se comparadas com
as de outros países emergentes.
62

As taxas de juros cobradas pelos bancos nas operações de crédito vêm


decrescendo desde 2003. Esse movimento foi mais acentuado no segmento de
pessoas físicas, o que pode ser explicado pela expansão de operações de menor
risco, como financiamento de veículos, crédito consignado e crédito imobiliário. A
redução da taxa Selic também impulsionou a queda das taxas de juros. A Tabela 3
evidencia essa redução da taxa Selic brasileira.

Tabela 3 – Taxa Selic Brasil

Data Taxa de juros - Selic acumulada no mês anualizada - % a.a.


dez/00 16,19
dez/01 19,05
dez/02 23,03
dez/03 16,91
dez/04 17,5
dez/05 18,24
dez/06 13,19
dez/07 11,18
dez/08 13,66
dez/09 8,65
dez/10 10,66
dez/11 10,9
dez/12 7,16
dez/13 9,9
Fonte: Elaboração do autor com base no SGS do BACEN (2014).

Observou-se na Tabela 3 que a taxa Selic no Brasil segue uma trajetória de


queda desde a implantação do regime de metas de inflação, com picos de aumentos
em alguns anos. O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil
(COPOM) fixa periodicamente a meta para a Taxa SELIC para fins de Política
Monetária. A Selic é a taxa usada em operações entre bancos e tem influência direta
sobre os juros pagos em toda a economia. Se a taxa aumenta, os juros cobrados
nos empréstimos bancários também aumentam, tornando o dinheiro mais caro e
diminuindo, em última instância, a oferta de produtos no mercado. Taxa baixa
estimula a economia, mas aumenta o risco de a inflação subir, por meio da pressão
de demanda.

O governo brasileiro utilizou muito dessa ferramenta para estimular o


consumo e os investimentos no Brasil. Nesse período houve quedas históricas na
63

taxa Selic como é demonstrado na Tabela 3. Chegou a níveis de 8,65% a.a. em


dezembro de 2009 e 7,16% a.a. em dezembro de 2012.

4.3. CRÉDITO PESSOA FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O PIB

O PIB (Produto Interno Bruto) é um dos principais indicadores de uma


economia. Ele demonstra o valor de toda a riqueza gerada no país, sendo o conjunto
de todos os bens e serviços finais produzidos em um país durante certo período de
tempo. O PIB só leva em conta para cálculo, os bens e serviços finais, para não
calcular o mesmo item mais de uma vez (IBGE, 2007).

Um dos fatores que influencia diretamente a variação do PIB é o consumo


privado, ou seja, os gastos das famílias para a aquisição de bens ou serviços. Sendo
assim, quanto mais as pessoas consomem, mais o PIB tende a crescer. Da mesma
forma, uma queda no consumo pode limitar o crescimento, ou até mesmo levar o
PIB a uma queda, dependendo também do comportamento de outros fatores.

O consumo depende da renda, pois quanto mais uma pessoa ganha, mais ela
pode gastar e, assim, uma elevação na renda leva a um aumento do consumo e,
consequentemente, do PIB. Outro fator que influencia o comportamento do consumo
é a taxa de juros, pois quanto maior o juro, mais pessoas estarão dispostas a deixar
de consumir para guardar seu dinheiro e utilizá-lo no futuro.

Porém, comparando o PIB brasileiro nesse período obtêm-se os seguintes


resultados do Gráfico 10:
64

Gráfico 10 – Relação crédito PF/PIB no Brasil (1994-2003)

1800000
1600000
1400000
Milhôes (R$)

1200000
1000000
800000 PIB Brasil
600000 Crédito PF
400000
200000
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).

Observa-se que esse aumento nas operações de crédito para pessoas


físicas, sendo relacionado ao PIB nesse período, não representou ser significativo
tanto quanto o que se observou. Para melhor visualização dessa relação crédito
PF/PIB no Brasil, o Gráfico 11 demonstra em % quanto representa o crédito para
pessoas físicas do PIB.

Gráfico 11 – Relação Crédito PF/PIB no Brasil (1994-2003)

7,00% 6,17%
RELAÇÃO CRÉDITO

6,00%

5,00% 5,82%
PF/PIB (%)

4,59% 3,73%
4,00%
3,93%
3,00%

2,00% 2,31%
1,00%

0,00%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
ANO

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do IPEA DATA (2014).
65

Entre o final de 1994 e início de 1995 a relação crédito PF/PIB na economia


brasileira dá início a uma trajetória de queda, com repiques de alta apenas pontuais,
como observado no Gráfico 11. Em 1994 essa relação era de 4,59%, caiu para
2,31% em 1995, isso se deve em grande parte a reestruturação pela qual o setor
bancário passou logo após o Plano Real, com a privatização de muitos bancos
públicos, e algumas crises internacionais, como a do México em 1994, que afetou o
Brasil.

O Gráfico 11 demonstra o quanto o crédito de 1994 até 2003, ficou entravado


devido a vários fatores conjunturais, tanto nacionais e externos. No final de 1997 até
o início de 1999, o Brasil sofreu os impactos das crises asiática e russa, refletindo
tanto no PIB quanto no crédito destinado às pessoas físicas. Em janeiro de 1999,
ocorreu a crise cambial doméstica, que levou ao fim do controle da taxa de câmbio
pelo Banco Central. Em 2001, o Brasil passou por vários choques externos, como a
crise da Argentina, da Turquia e a desaceleração da economia americana. Em 2002,
a estabilidade de preços do Plano Real sofreu um abalo, com a inflação atingindo
índices recordes, no mês de outubro, devido à crise eleitoral, retraindo o crédito,
frente ao ambiente de incerteza quanto ao novo presidente e os rumos que a
economia poderia tomar (CAMARGO, 2009).

A partir de 2003 esse cenário mudou um pouco a relação crédito pessoa


física/PIB. Como mencionado anteriormente, houve inúmeros fatores que
influenciaram essa trajetória de crescimento no crédito, dentre as quais se destacam
o incentivo direto de políticas públicas de incentivo ao consumo através da
regulamentação do crédito consignado em folha de pagamento para servidores
públicos, aposentados e funcionários de empresas privadas.
66

Gráfico 12 – Relação Crédito PF/PIB no Brasil (2004-2013)

18,00%
15,49% 16,14%
RELAÇÃO CRÉDITO PF/PIB (%)
14,51% 15,07%
16,00%
15,84%
14,00%
13,34%
12,00%
12,27%
10,00%
9,95%
8,00% 8,79%
7,03%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
ANO

Fonte: Elaboração própria (2014).

O Gráfico 12 demonstra o quanto percentualmente do PIB aumentou essa


relação do crédito para pessoa físicas no Brasil. Em 2004 esse percentual era de
apenas 7%, passando para aproximadamente 16% em 2012.

Desde 2004, passou-se a praticar no País, intensivamente, a modalidade de


crédito conhecida como empréstimo consignado em folha de pagamento.
Regulamentada e incentivada pelo Governo Federal em setembro de 2003, a
princípio, a novidade não interessou aos grandes bancos, porque seus juros eram
mais baixos do que os do cheque especial ou os do empréstimo pessoal. Mas, com
o decorrer do tempo, houve a adesão, de forma generalizada, das instituições
bancárias, fato que acirrou a competição e o crescimento do crédito no Brasil.

4.4. COMPARATIVO ENTRE PAÍSES SELECIONADOS

A partir dos anos 2000, observou-se uma significativa expansão no mercado


de crédito no Brasil. Porém, esses números não são tão relevantes quando há um
comparativo com outros países ao redor do mundo, sejam eles desenvolvidos ou em
desenvolvimento.
67

Figura 1 – Relação Crédito e Taxa de Juros com países selecionados no ano de


2005

Fonte: Banco Central do Brasil - Elaboração: Grupo de Conjuntura Fundap (2011).

A figura 1 retrata essa relação crédito total/PIB e a taxa de juros reais para o
ano de 2005 comparadas com alguns países. Observa-se que no Brasil o crédito
representava apenas 31% do PIB a uma taxa média anual de 48,15%, enquanto que
nos EUA essa relação era de 191% a uma taxa média de apenas 3,16%. Para
exemplificarmos melhor essa discrepância, a África do Sul a relação é de
aproximadamente 144% a uma taxa de 7,26%. Essa relação é o inverso do que
ocorrem nos demais países selecionados. Ou seja, além do saldo total do crédito ser
um dos menores com relação ao PIB, o Brasil possui a maior taxa de juros real no
mundo.

As diversas análises e interpretações sobre as causas que determinam o alto


custo do crédito no Brasil apontam um amplo conjunto de fatores, associados a
falhas no arcabouço jurídico, instabilidade macroeconômica, riscos elevados de
inadimplência nos empréstimos, altas taxas de recolhimentos compulsórios sobre os
depósitos nos bancos e a incidência de vários tributos sobre a intermediação
financeira, entre as causas principais.
68

5. CONCLUSÃO

As evidências demonstradas neste trabalho corroboram a hipótese de que a


partir do Plano Real houve uma mudança no padrão de consumo dos brasileiros,
devido à redução das taxas de inflação, que permitiu aos agentes o controle das
suas decisões e favoreceu as classes de renda mais baixa, que não tinham acesso
aos instrumentos de proteção contra a constante perda do poder de compra. Além
disso, o Plano Real permitiu o restabelecimento dos mecanismos de crédito.

O mercado de crédito brasileiro viveu um forte ciclo expansivo após 2003.


Algumas mudanças estruturais importantes na economia permitiram a aceleração
das operações de financiamento, dentre as quais estão: a manutenção do controle
da inflação; a expansão da massa real de rendimentos dos trabalhadores; a
melhoria das condições de acesso ao crédito em termos de taxas de juros e prazos;
e mudanças institucionais que reduziram o risco de inadimplência das operações de
crédito. A junção desses fatores permitiu uma ampliação da capacidade das famílias
de absorver as prestações dos empréstimos em seus orçamentos.

O crédito pessoal foi alavancado, em boa medida, pela mudança institucional


proporcionada pela introdução do crédito consignado em folha de pagamento em
2003. A possibilidade de desconto das parcelas dos empréstimos diretamente da
remuneração dos trabalhadores de empresas privadas, servidores públicos e
aposentados provocou uma queda substancial do risco de inadimplência na
percepção das instituições financeiras. Esse fato foi traduzido na redução das taxas
de juros dessa modalidade.

O crédito consignado foi importante para inclusão de uma ampla parcela da


população que até então, não tinha acesso ao crédito bancário. Essa modalidade de
crédito contribuiu com 66,8% da expansão do crédito pessoal em 2004, em 2006,
atingiu 81,6% e em 2007, os empréstimos consignados responderam por 69,6% do
incremento do crédito pessoal.

O prazo médio das operações com pessoas físicas subiu de 308 dias, em
janeiro de 2004, para 439 dias, em dezembro de 2007. Essa média aumentou em
grande parte com as operações de crédito consignado.
69

O conjunto da política macroeconômica implementada no Brasil no período


imediatamente posterior à eclosão da crise financeira internacional foram
importantes para garantir a recuperação econômica. No Brasil, o que se observa é o
uso do governo federal de suas instituições financeiras, para fomentar os setores da
economia, na qual foi fundamental em suprir o mercado de crédito brasileiro na
eclosão da crise de 2008, dado a contração de crédito oriunda dos bancos privados.

O setor bancário brasileiro não deve ser considerado como ineficiente quando
comparados internacionalmente. No Brasil, o que se observa é um setor
concentrado e bem conservador na oferta de crédito, sempre que possível as
instituições concentram suas políticas em ofertarem produtos de crédito com
garantias no seu recebimento. Esses créditos com garantias se referem ao
consignado, financiamentos e leasing de veículos e o crédito imobiliário, ou seja,
modalidades que diminuem o risco de inadimplência ou perda no caso do não
cumprimento do tomador.
70

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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