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O ESTATUTO ESTÉTICO: KATHERINE

MANSFIELD E OS LIMITES DA COGNIÇÃO

Em Katherine a escritura quebra-se em miniaturas que se


superpõem. Não há um grande evento: a narrativa é
cortada em pedaços --- vidas individuais, passeios, os
pequenos sons, as pequenas epifanias etc. Algo minúsculo
segura o real, a realidade é cognoscível no limiar entre o
Eu e o Outro. As personagens, em Katherine, surgem
como fenômenos, o ser é fracionado pela relação de
coisas que ele pode apreender. O tempo torce os corpos e
os codifica, assim acontece com Bertha Young (Bliss); o
corpo é inteiro semiótico: interdito, visível e vivente ao
prazer. Lá onde os muros fecham-se à meia noite é o
cume estético de Katherine Mansfield: uma natureza que
se metamorfoseia, uma escuridão que esconde, uma hora
de fantasmas e desejos. Em Katherine há uma vocalidade,
as personagens ressoam umas nas outras sem limitar a
grandiosidade e a originalidade de cada uma; a vontade
de um romper com toda potência é o grito dessas
personagens: a cognição é lançada para o revolucionário
dentro de uma malha do individual. George Batailles, em
seu livro "A Teoria da Religião", falou em uma não-
imanência do ser, ninguém se percebe de fora, tudo passa
pela exterioridade sem que possamos tocá-la. Em
Katherine o exterior é a materialidade da ação, o real e o
eu só existem enquanto houver ação.

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