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Transcrição do vídeo Huellas En La Nieve (Pegadas na Neve) por Roberta Carreri

(sem muita edição)

Esta é uma demonstração do trabalho que quer ser um espetáculo o qual eu vou
falar de meus segredos profissionais.
O treinamento do ator cambia com os anos, porque é a necessidade do ator
cambiar. E seu corpo cambia também com a idade, com os anos.
Eu trabalho em teatro 20 anos. E o treinamento é distinto pelo que você avistou
nesta dança.
Durante a primeira estação do ator quando ele chega no teatro, é importante acima
de tudo encontrar sua presença na cena. O que significa ser presente? Nós outros
somos todos presentes aqui agora, mas alguns entre vocês estão mais presentes
que outros. Você como espectador, pode estar com o corpo sentado na Butaka
(poltrona) e deixar que seu pensamento voe livre deste quarto. Eu, como atriz, como
performer, tenho que estar aqui, presente com meu corpo e meus pensamentos,
atados, todo o tempo.
Estar presente, concentrado por um curto período de tempo, não é muito difícil.
Cada um pode faze-lo. Portanto um período de tempo mais largo, uma, duas, três
horas, necessito uma forma de treinamento que lhe permite ser presente por todo
este tempo, constantemente.
Alguns exercícios que eu aprendi com alguns atores mais antigos, entre outros, é o
trabalho com acrobacia. O trabalho com acrobacia é muito importante, porque todo
ator que aprende exercícios de acrobacia deve ser presente com seu corpo e sua
mente todo tempo. Se perde a concentração, cai. E se acidenta. (uma piada sobre
não ser o primeiro mas o terceiro, pois lhe despertavam cada vez que perdia a
concentração)
Uma vez que o ator assimila, aprende bem os exercícios de acrobacia, ele pode
utilizar-los de uma maneira mui dinâmica no espaço (..), porém também se pode
utilizar alguns destes exercícios em slow motion, mui lentamente. Isto necessita
também que lho se apresente com todo meu corpo, porque cada parte do meu corpo
deve mover-se mui lentamente, agora minha cabeça vai cair porque não pode
controlar, cada gesto do meu corpo sim tenderia que não pode controlar, centímetro
após centímetro, empurrando, contendo, e trabalho com a força da gravidade. Tenho
que levantar-me sem fazer (..), sem ir mais veloz. Não há possibilidade de fazer cair
forçado. E aqui também, lento. Uma caída de um centímetro é uma caída. E eu
tenho que saber como terminar o exercício, de maneira que posso continuar com
outro. Distinta direção será mais fácil, olhar numa direção, elevar em outra, e me vou
numa terceira.
Na primeira estação do meu treinamento para mim há sido determinado que havia
um ator mais antigo do grupo que me há aprendido trabalhar com distintos
princípios. O que é um princípio? Esta é uma palavra que nós outros utilizamos em
nossa maneira de falar técnica de trabalho.
O princípio eu poderia chamar como um marco que delimita minha liberdade.
Por exemplo, eu trabalho com um arralentador (encorajador) isto é um princípio.
Tenho um limite, pode ser não o que quero, mas isto deve passar-se num ritmo mui
lento, mui despacio. Se vou mais rápido que isto, aí quebro e marco, então devo que
começar outra vez.
Outro princípio que aprendi com os colegas mais antigos, foi o princípio de trabalhar
com as mãos e os pés. Na vida cotidiana nós utilizamos as mãos e os pés de
maneira mais funcional. Segunda a lei de máximo efeito por mínimo de esforço. Em
cena há outra regra por onde se consegue a presença do ator. Então é mui
importante encontrar outra maneira para desplaçar-se (deslocar-se) no espaço
utilizando os pés de maneira não usual.
Por exemplo: (14:45 – caminhar de várias formas diferentes)
Com as mãos que utilizamos todo tempo, porém nunca cansamos. (16:00)
Trabalho com a mãos e os pés.
Outro trabalho que podemos chamar de introversão e extroversão, que podemos
chamar também cerrado e aberto. Movimento introvertido e extrovertido. Sem
implicação psicológica. E sim com a cabeça, os ombros, as mãos, os braços, a
cadeira, as pernas.
Com esses princípios há um diálogo com distintas partes do corpo. Não intento de
julgar algo, só me concentro nesse diálogo entre as distintas partes do corpo:
Cabeça introvertida, ombros introvertidos, braços extrovertidos, uma mão
introvertida e outra extrovertida. Cadeira extrovertida, uma perna extrovertida, outra
introvertida. Todo extrovertido. Caminhando... só a cabeça...
Depois de dois anos de trabalho sobre distintos princípios de treinamento de ser
uma personagem para um espetáculo de kaiala. isso posto, durante esses dois anos
trabalhamos também sobre espetáculos de teatro para salas. Porém neste
momento, depois de dois anos criei este personagem para a kaiala que está vestido
com pantalones de smoking, camisa branca, sempre mui limpa, impecável, gravata e
um sombrero como este e (..).
AQUI 21:30
Depois da primeira estação segue a segunda.
Um momento de grande liberdade decidindo o que trabalhar, como trabalhar. E
agora tu deves encontrar seus princípios. Aí necessito inspiração. Inspiração em
trabalhos de outros espetáculos. Como o ator compor seu corpo em cena. A
impressão quando vou ao teatro é que o ator tem demasiados braços. Não sabe o
que fazer com todos os braços que tem. Proposições. Então como compor este
corpo?
Se não mira Michelangelo, se não vejo Caravagio, quem queiras. Também algumas
fotografias são importantes. Porque olhando para fotografias encontrei, entre outros,
inspiração para mim primeiro. Primeiro princípio.
Eu me lembro que encontrei no sul da França, um livro que se chama Bocha, em
italiano, bola. Duas bolas grandes que tem que ser arremessadas e aproximar o
máximo possível das bolitas. O que me fascinara neste livro são algumas imagens
instantâneas. De pessoas anciãs.
Nestas fotos pude ver uma concentração total de corpo desses anciãos. Estavam ali,
pronto a atirar a bocha. E se pudera ver pelos óculos dessa gente toda concentração
que se derramava no resto do corpo. Porque não é possível calcular a bocha tem
700 gramas, a bolita está a uns 7 metros, bem tanto faz... e arremessa.
Quando vi estas fotos me dei conta de quanta concentração necessitava para esses
lances. E tentei encontrar o equivalente no treinamento. Lançar e ser instantâneas.
O momento quando a bocha se parte da minha mão. Claro, sou uma atriz necessito
usar o espaço como presença então não vou jogar só adiante de mim. Isso seria
monótono.
Para fazer isto tenho que tomar o equilíbrio. Decidido em fazer o instantâneo quando
a bocha deia minha mão. Como não posso parar no ar, fico só na ponta dos dedos.
Assim é mais difícil de ter o equilíbrio. E necessito fazer uma contraposição como
outra parte de meu corpo. Necessito pensar com meu corpo. Lanço para lá e meu
corpo vai para lá. Tenho que pensar como todo meu corpo na exata quantidade de
energia numa direção e na outra.
Quando trabalhamos os princípios encontramos um companheiro de trabalho: o
cansaço. Se você pode dizer: estou cansado, significa que meu corpo há logrado
nos limites.
O que se passa se eu continuar um pouquinho mais. O que há do outro lado do
cansaço? Há algo depois destes primeiros limites. E eu encontro. O que é esse
cansaço?
Quando você corre pela manhã, em um parque, todo mundo que corre sabe que
depois de sete minutos o corpo fica pesadíssimo. Se você corre junto de uma
pessoa acostumada a correr e você gosta dessa pessoa, você continua correndo. E
depois de cinco minutos você vai dar-se conta que seu corpo se volta a aliviar outra
vez. O que passa? Não é um milagre do amor. Seu cérebro produz endorfina.
Endorfina é uma substância química muito parecida com adrenalina, que os atores
conhecem como ninguém, é uma substancia que o cérebro produz quando o corpo
se confronta com um desafio mais grave que do cotidiano. Nosso corpo está
programado para enfrentar situações mais extremas que cotidianamente encontra.
Nosso corpo e nosso cérebro contem uma quantidade de energia inutilizada, que é
tarefa do ator buscar, de explorar para utilizar quando está em cena.
Talvez você já teve oportunidade de assistir uma conferencia e depois de dez
minutos sentir-se enormemente cansado. Então, quem se cansa primeiro? É o
cérebro ou o corpo? Ao que me concerne eu sei que é o meu cérebro. Também
alguns de vocês tiveram a experiência de dançar hoje. Porém ao terminar não está
cansado, exausto talvez. Se há outro numero de merengue, aí vamos. Se o cérebro
se cansa primeiro, há quatro elementos essenciais. Distintas direções no espaço.
Aqui. Aqui. A lá. Se há uma coisa que o cérebro não aguenta é a monotonia. Se e
sempre a mesma coisa, o cérebro se vai a atenção. Então distintas direções,
distintas medidas. Pode ser grande ou pequena. Distintas velocidades: rápido ou
despácio. Distintas quantidade de energia: forte ou ou suave. E pode a mesma ação:
despacio e suave; despacio e forte; rápido e suave; rápido e forte. A mesma ação
com distintas dinâmicas.
Me dei conta de que o treinamento não funcionava mais. Enquanto treinava,
pensava em outras coisas: “Ah! Maria vai jantar em casa esta noite. Tenho que ir
cedo pesca-lo, mas não gosto de pescar. Se quiser pronto tenho que comprar”.
Com os anos os atores desenvolvem o que se chama de clichê, automatismo. E o
treinamento é onde o ator pode dar-se conta de seu automatismo, seu clichê e em
tentar de quebra-los. Por muito tempo, por muitos anos queria mudança, ganhar o
espaço e energia. E eu sempre respondia com grandes movimentos. Então eu
pensei em pequenos movimentos e me sentei.
Então passei a mover um segmento de cada vez. Olhos e depois a cabeça. Cabeça
e olhos. Ou cabeça e olhos juntos pelo tempo que decidir. Depois ombros, somente
ombro. Os dedos...escondo... a cabeça...
O mais difícil neste trabalho não é decidir o que vai mover, nosso corpo não é
acostumado a ficar imóvel quando só uma parte se move.
Princípio de segmentação. Trabalhar com um segmento de cada vez é muito difícil.
E trabalhei com este princípio por cinco 5 anos.
No cinema tem o recurso de primeiro e segundo plano, o diretor foca o que quer que
o público veja. No teatro o espectador decide se quer mirar meus olhos, meus pés, a
minha mão, o que quiser. Se eu quero dirigir sua atenção sobre um detalhe em meu
corpo, esta possibilidade: ficar imóvel o resto do meu corpo, baixar meus olhos, e
deixar que só minha mão se mova.
Sempre quando trabalho pelo teatro em meu treinamento, tenho comigo em minha
sala um caderno e escrevo tudo o que quero recordar-me, tudo o que não quero
olvidar (esquecer).
Em 1974 o grupo de teatro tinha há dez anos. Tinha um ator mui hábil, maestro
mesmo. Eu tentava incorporá-lo em meu treinamento elementos estranhos, para
atender um desafio a mais em seu trabalho.
Eu penso e piso, era um grande desafio. Meus companheiros trabalhavam com
bastões de madeira de 1,80 metros de altura e com uns três, quatro centímetros de
diâmetro. Era pesado. E a tarefa era encontrar exercícios com estes bastões.
Encontrar a vida destes bastões. Qual é a vida deste bastão senão a energia que o
ator inerva neste acessório?
Para outros era fácil manejar este bastão pesado. Pois não há treinamento para
homens e treinamento para mulheres. Todos fazem o mesmo treinamento. Depois
há um trabalho individual com o bastão. Depois de três anos com este bastão eu
prefiro trabalhar com o bastão menor. Depois de uns meses trabalhando com bastão
pequeno, o bastão pode ser um para água, um aspirador, eu encontrei imagens e se
pode anotar. Um guerreiro no bosque, no rio, aonde eu vou em seu barco, está
pescando, ...
O que se põe anotar não é uma lógica linear.
Uma coisa é aprender fazer improvisações, outra coisa é poder também aprender a
memorizar, para poder repeti-lo.
Aprender a memorizar com a cabeça e com o corpo. Uma improvisação de 5
minutos pode tomar uma semana para aprender a memorizar.
Eu nunca havia trabalhado com um tema de improvisação, um tema que tenha algo
a ver com a cena que se estava trabalhando. Se estava trabalhando uma cena de
amor me davam um tema como “um guepardo sobre a neve de Quilimanjaro”.
Suponhamos que haja uma cena, onde há um rei mui malvado que decide condenar
a morte um guerreiro mui nobre.
Meu amigo me disse uma vez: a técnica é como uma escaleira (série de degraus).
Negra, fria, feia, mas necessária. A coisa mais linda é quando neva, porque a neve
cobre a escaleira, branca, pura e cintilante. A neve é a situação performativa.
Agora vou mostrar o primeiro monologo do espetáculo Judith, de onde vou tomar
todos os exemplos que mostrei.
http://www.odinteatretarchives.com/odinstory/video-1987-judith

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