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1 Como é que o arquitecto vive a cidade? (achas que tem uma sensibilidade diferente?

)

Certamente terá. Sensibilidade, atenção, interpretação… O que lhe queiras chamar. Agora, haverá vários tipos de “olhar-de-arquitecto” e isso
é que é interessante. Perceber o que cada olhar privilegia, as várias formas de olhar, analisar e interpretar uma mesma coisa (ainda que
dentro de uma mesma área específica de conhcimento)


2.1 O que é uma cidade? (Onde começa e acaba)



. Historicamente, as cidades surgem de um objectivo mercantilista, de aglomerados especializados etc. Com as transformações gigantes
dos séculos recentes muitas dessas razões deixaram de fazer tanto sentido. Há a supremacia de outras motivações. É interessante é tentar
perceber o que é uma cidade hoje! Como é que a sua conformação física é contaminada pelos mais variados fenómenos contemporâneos
e quais os que parecem ter mais influência. O que é uma cidade no século XXI e nas várias partes do mundo…


. Esta definição usa conceitos muitas vezes dúbios ou de interpretação subjectiva. Por exemplo, a confusão ou generalização das
concepções que todos temos sobre cidade e campo e, consequentemente, dos limites entre essas duas realidades. É um dos maiores
focos do Álvaro Domingues (geógrafo): a diluição rural-urbano

. Além da perspectiva territorial de um geógrafo, há outras áreas que também olham a cidade de uma forma específica. Por exemplo, se
olhares a cidade do ponto de vista sociológico, há distinções sociais, vivências culturais, fenómenos quotidianos… que, apesar de um
carácter mais “imaterial” são, simultaneamente, influenciadas e influenciadoras do espaço e acabam por se traduzir em marcos físicos
claros. Daí que, obrigatoriamente, devam influenciar o olhar de um arquitecto sobre a cidade.


2.2 qual a diferença entre uma praça e uma rua?


(a praça tem uma funcionalidade?)
aqui talvez devesses deixar a pergunta mais aberta sugerindo que fale de elementos da cidade como a praça, rua (acredito que ele terá
bastante para falar) como subpergunta, se considera a praça da liberdade uma praça (tenho colegas que não)

Esta pergunta baseia-se também numa questão de escala. Sim, pode fazer sentido perceber uma progressão de escalas (e as várias
nuances: privado, público, colectivo, semi-privado…) e que características (físicas e de vivências) mais facilmente se associam a cada
momento.

3 Um Arquitecto tem direito a fazer um edifício que dura séculos?


É certo que será tecnicamente o mais habilitado, mas achas que os arquitectos têm noção que são eles que constroem o mundo?
Não acho que sejam os arqs a construir cidades. o edificado costuma vir nas fases finais
Quem são os decisores da cidade?

Ter noção disso deve fazer parte de uma espécie de “consciência disciplinar”! Sim, a Arq. tem uma influência enorme na vida das cidades
e, portanto, das sociedades. No entanto, não é uma responsabilidade unilateral. São equipas diversificadas a tentar compatibilizar a
complexidade de tudo o que é inerente a “construir um mundo”. Talvez Isso devesse incluir a própria população. Integrá-la na discussão.
Tanto para uma compreensão mais clara e directa das suas verdadeiras necessidades e anseios mas também para uma certa sensibilização
ou explicação do porquê de certas decisões. Da mesma forma que há edifícios que duram séculos, há imensos projectos que acabam
demolidos por razões várias (a não compreensão, logo, falta de recepção por parte da população, motivações de poder, interesses
imobiliários etc. etc. etc.)…

Um caso exemplar, o SAAL. Só um diálogo permanente permitiu que se chegasse a um compromisso entre as duas partes e, daí, uma
intervenção que serve um propósito fundamental da Arquitectura: o bem comum. As necessidades das pessoas foram satisfeitas; as
decisões projectuais foram compreendidas e, por isso, ainda hoje vai havendo um certo “respeito” pelos projectos. Uma espécie de afeição
porque as pessoas sabem que se trabalhou com e para elas. Nesse caso, parece positivo que os edifícios perdurem.

Agora, se te referes ao sistema starchitect, em que a importância da assinatura individual, ou do carácter objectual de um edifício se
sobrepõe às lógicas colectivas… Não, não deveria ser legítimo mas isso depende precisamente da visão que cada arquitecto tem do que é a
Arquitectura. Daí a importância de que as próprias entidades que conduzem as encomendas sejam sensíveis a várias questões e não
solicitem ou permitam, logo à partida, certo tipo de “imposições de gesto gratuitas”.

4 A arquitetura não se preocupa apenas em resolver os erros do passado?


Os programas dos espaços e edifícios públicos não são demasiado restritos a necessidades passadas e pouco flexíveis para os problemas do
futuro?
(A zona industrial da praia Norte e os pavilhões gimnodesportivos).
(Varandização de Chicago)
Aqui, acho o atual estado de emergência e o diferente uso que se tem dado a edifícios para serem usados como hospitais de campanha
está dentro da tua pergunta.
Os países desenvolvidos devem sair desta pandemia para fazer um planeamento sobre como responder à próxima pandemia, e nesse
planeamento devem existir reaproveitações/adaptações de edificios tal como agora

Não devia e não acho que seja. No entanto, essas questões são mais urgentes hoje porque as transformações da sociedade actual estão a
ser muito muito mais rápidas e variadas do que eram há umas décadas. É normal que antes a questão da flexibilidade programática não
parecesse tão urgente. Os espaços eram projectados num tempo que, à partida, perduraria consideravelmente.

Por exemplo, há imensas estruturas que já perderam a sua função original (grandes espaços industriais por exemplo) e que estão a ser
repensadas a esse nível. Para um futuro diferente mas partindo de meios já existentes.

Ao nível das construções novas é que há uma questão interessante que é a de considerar como se pode construir uma certa identidade
(geográfica, temporal, social, cultural, etc.) em tempos de grandes indefinições ou volatilidades. Será essa própria “indefinição” ou
flexibilidade o que deve caracterizar as construções actuais? Caso assim seja, como é que isso se pode distinguir de uma perspectiva
demasiado generalista e anónima, “standardizada”?


Os carros são resíduos do passado?


Serão sim senhora :) (hope so!) e isso já se nota em propostas de novos projectos urbanos. Por exemplo, em Lisboa está a ser conduzido um
plano que prevê uma grande rede de ciclovias entre outras medidas (alargamento de passeios…). No entanto, coloca-se mais uma vez a
questão do diálogo com a população para uma recepção favorável dessas propostas e respectiva adesão. Neste exemplo, uma reacção
frequente das pessoas está a ser uma certa indignação por estarem a desaparecer imensos lugares de estacionamento. Sentem-se
condicionadas… Mas talvez porque ninguém as tenha sensibilizado para as questões e mostrado as alternativas disponíveis.

5.1 Portugal limita a liberdade ou creatividade dos arquitectos? Os arquitetos podem ser revolucionários ou limitam-se a
responder a programas? Se sim, não soa estranho colocar as pessoas mais capazes de pensar as melhores organizações a
apenas responder a programas políticos?
Para aqueles que vêem a Arquitectura como uma Arte, a resposta a um projecto pode ter muitos momentos ou formas de intervenção.
Uma delas a própria interpretação programática. Ou seja, ainda que sigas um programa “estéril”, a forma como o propões pode já ser em si
mesma uma forma de actuação de defesa ideológica, um “projecto-manifesto”. O que em si pode ser, desde logo, uma resposta
(contra)política.

Agora, se há espaço até para isso? Mais do que a criatividade, talvez Portugal limite a própria actividade dos arquitectos por falta de
(grande) investimento em obras públicas e isso sim, pode limitar intervenções, revolucionárias ou não..

5.2 Há entre os arquitetos alguma organização meta, que pense a cidade como um todo? As ordens? fazem-no para cidades
especificas, ou linhas gerais nacionais?
As ordens vão debatendo, e fazem sempre olhando para um exemplo. Há uns anos a ordem secção norte tgeve a debater a revisão do
pdm do porto durante 2 meses
le o doc deste link
http://www.serralves.pt/documentos/RoteirosExposicoes/RoteiroSAAL_AF.pdf
(espécie de grupo de debate urbanístico para a cidade)
Com uma variedade territorial tão grande num país tão pequeno, haverá lógicas abrangentes a esse nível? Talvez sim (a questão da
preocupante desertificação do interior ou a sazonalidade de ocupação de certas áreas, por exemplo). Lógicas de organização e
funcionamento do território (a vários níveis) sim… mas a nível de desenho/planeamentos faz sentido tratar escalas mais locais.

Agora, quais as urgências actuais abrangentes a nível nacional?

6.1 A cidade é mais o que se constrói ou mais o que acontece fora das casas?
(num campo de basquete num jardim, jogar basquete pode ser a coisa mais aborrecida que lá acontece)

(vou-te deixar uma coisa para leres. Já sei que és relutante em relação ao Siza mas ele é quase tão génio a escrever quanto a projectar ❤ )

6.2 Não é imperativo impedir a construção no centro das cidades tanto quanto possível e ganhar espaço público? acho que é isto
que se tem feito e bem.
talvez aqui não te devas focar só no ganho de “espaço público” o Porto melhorou o centro da cidade com o metro que acabou por ajudar a
dar um pritzker ao Souto
Programas transitorios que mudam conforme as necessidades, como as zonas industriais
Mais uma vez a questão da escala e das nuances privado-público. É importante é perceber o que se pretende com “espaço-público”. Se
um espaço que propicia interações, momentos de estabilidade, de usufruto colectivo, etc. isso tanto pode ser conseguido ao nível do
espaço público como também privado (interiores de quarteirão ou traseiras de lotes, por exemplo). 


6.2 Como se pensa o espaço vazio? Qual a importância do baldio?


https://www.archdaily.com.br/br/01-35561/terrain-vague-ignasi-de-sola-morales
O espaço vazio de Viana não é demasiado vazio? Vazio as descaracterizado?
(Exp. espaço em frente ao horto de Viana vs Parque da cidade)
Espaço do neopop é um bom exemplo de terrain vague que deu algo muito bom, logicamente muito bom em grande parte pelo
neopop. ou o exemplo de lisboa e do quarteirão EDP enquanto que em viana o quarteirão da quimigal vai para apartamentos
(Podemos dizer que Viana tem muito espaço verde mas não tem nenhum parque dentro a malha urbana?)

7 As casas disponíveis e a maneira como se constrói definem os modelos familiares?


(As comunas da Dinamarca nas quais várias famílias vivem no mesmo bloco como uma família única)
aqui não sei se a “propriedade horizontal” define a obrigatoriedade de ter espaços pra cumprir certas funções (acho que não, mas surgiu
agora a dúvida)

Recuperando a lógica do: mais do que pensar a cidade, pensar a cidade hoje, com a habitação dá-se o mesmo. Com núcleo familiares
cada vez mais diversos, já pouco “categorizáveis”, também os moldes tradicionais da “casa” podem estar desactualizados e já não
responderem às necessidades da sociedade actual.
Aqui também como é que os habitantes podem ser incluídos no processo tanto ainda durante a fase de projecto (arquitectura
participativa) ou dando espaço para futuras intervenções (flexibilidade).
Mais uma vez, como é que ao nível da habitação (uni e plurifamiliar) faz sentido a questão da flexibilidade. Como a integrar como “tema de
projecto” não abdicando de um sentido de individualidade e identidade.

E em que medida a questão de modelos de núcleos familiares ou habitacionais está associada a uma tradição cultural específica. Por
exemplo, essa questão do Co-housing não é intrínseca, da mesma forma, a várias culturas ou hábitos de partilha de espaço. E como é que
esse argumento pode, na verdade, estar a ser usado para “disfarçar” outros problemas como uma falta de investimento em habitação que
corresponda de facto às verdadeiras vontades da população.

8 A propriedade é legitima se ela impede de planear a cidade? Sabemos que não para casos como aeroportos ou autoestradas,
mas e para outras necessidades sociais ou culturais?
(prédio coutinho, mercado da cidade)
(Limite a alojamento local por freguesias de Lisboa a 25%)
até em viana existem os espaços canal. espaços em que os proprietarios contruindo terão que ceder para futuramente se construir uma
estrada

9 Tens exemplos de como a arquitectura pode mudar a dinâmica cultural de uma cidade, ou torná-la socialmente mais capaz?
A periferia é um espaço não político? é aceitável viver fora do Centro?
é um espaço politico na medida de acomulação de votos mas é um espaço não cultural, ou pelo menos com muita menor qualidade.
claro que dentro disto o boom de construção dos anos 70 80 90 denota especial falta de qualidade (os pdm começaram a surgir depois)
Às vezes parece haver uma certa sobranceria da Arquitectura. Para o bem e para o mal. Auto e hetero imposta… Ou seja, sim,
pontualmente, a Arquitectura pode ir contribuindo para alguns aspectos mas muitos deles partem, mais que tudo, de uma questão de
sensibilização cultural e educacional que, não existindo, é difícil que a Arquitectura consiga dar resposta por si só. 

A Arquitectura dá espaço para que as coisas aconteçam e (idealmente) da melhor forma possível mas, para isso, é imprescindível que haja
primeiro sensibilidade, vontade e meios para que as coisas aconteçam.

O dilema se a Arquitetura transforma efectivamente o mundo ou se é “somente” capaz de melhorar experiências.
Nesse sentido, perceber é se existe uma predisposição das várias disciplinas para trabalhar em conjunto por objectivos comuns.

10 Como cidadãos, temos obrigações para além das legais? Deveres culturais, sociais e artísticos?

Shiiiiim! Cada um com o que pode

11 Que poder tem as pessoas para desenhar as cidades?


(ferramentas associativas, orçamento comunitário, invasão de casas desabitadas)

Neste momento particular é fundamental perceber que lugar e poder continuam a ter (se continuam) as Associações de moradores ou
como certas objecções a problemas como a pressão turística em centros urbanos e históricos conseguem efectivamente lutar pelos
interesses, pelo direito à habitação. Consequentemente, como é que isso influi nas dinâmicas da cidade.

12 Para terminar, Viana está pensada para o futuro?

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