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FEUP/DEMec - Orgãos de Máquinas

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE O DESGASTE DOS


MATERIAIS

Desgaste – Progressiva perda de matéria pela superfície

activa de um corpo resultante de movimento

relativo nessa superfície.

Pode ser controlado mas não completamente eliminado

Massa
B
Perdida

0
Tempo

OA - Rodagem;
AB - Funcionamento normal;
BC - Funcionamento deficiente, avaria.

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O desgaste vai depender dos seguintes factores:

SUPERFÍCIES:

Contaminação

Adsorpção física
Adsorpção química
Adsorpção química com rearranjo molecular
(ex: oxidação)

Geometria

Área real << Área teórica

INTERFACES:

Tipo de partículas que circulam no contacto

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MECANISMOS DE DESGASTE

O critério geralmente adoptado para a

classificação do desgaste é o do tipo de mecanismo

básico envolvido. Assim, são normalmente apontados

os seguintes tipos de desgaste:

a) Desgaste por abrasão;

b) Desgaste por adesão;

c) Desgaste por erosão;

d) Desgaste por fadiga;

e) Desgaste por corrosão.

Aparecem normalmente combinados

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DESGASTE POR ABRASÃO

Podem ser de dois tipos:

1) Devido à penetração de asperidades do material duro


no material macio quando duas superfícies estão com
movimento relativo. A acção duma lima sobre uma
superfície metálica é um exemplo deste tipo de
desgaste.

2) Provocado por partículas soltas provenientes de


desgaste por adesão e /ou corrosão, ou ainda poeiras
provenientes do ambiente circundante que penetram
na interface de duas superfícies em contacto com
movimento relativo. O polimento com partículas
abrasivas constitui um exemplo deste tipo de desgaste.

Taxa de desgaste abrasivo (metais)

dV = 2 cotag θ P 2 cotag θ
c/ Kabr =
dL π Hv π

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1) Kabr = 2 × 10−1 a 2 × 10−2

2) Kabr = 10−2 a 10−3

Esta equação permite verificar que para:

θ ≈ 80º a 120º → corte das superfícies

Na maior parte dos casos:

Abrasão a dois corpos mais perigosa que abrasão a três

corpos

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Aspectos práticos para reduzir o desgaste por abrasão

Em qualquer das situações deve-se

Aumentar a dureza das superfícies

Abrasão a dois corpos:

Melhorar o estado superficial;


Reduzir as cargas aplicadas localmente
Aplicação de camadas superficiais em elastómeros (por
exemplo), facilmente substituíveis;
Rodagem cuidada;
Se existirem cargas de impacto, a tenacidade é o
factor mais importante a ter em conta.

Abrasão a três corpos:

✳ Evitar a entrada das partículas;


✳ Existência de zonas próprias para capturar as
partículas;
✳ Em sistemas lubrificados: filtragem apropriada.

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DESGASTE POR ADESÃO

Quando duas superfícies são postas em contacto estabelecem-

se forças interatómicas e intermoleculares nas zonas de contacto

real. Dá-se a adesão entre as duas superfícies. A intensidade

dessas forças de ligação depende da intimidade do contacto: serão

mais fortes nos pontos em que a interface está isenta de

partículas contaminantes e em que as pressões de contacto são

mais elevadas.

Se uma das superfícies desliza sobre a outra, as junções

estabelecidas por adesão rompem-se. Dependendo da resistência

da interface relativamente à dos materiais das superfícies em

contacto, a ruptura poderá dar-se na interface, não produzindo

desgaste, ou num plano próximo da interface, quando a

resistência da interface for superior à de qualquer das superfícies

(não existência de contaminantes).

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Factores que influenciam o desgaste por adesão

1) Natureza dos Materiais

Devem escolher-se pares de materiais com a menor afinidade

metálica entre si, ou seja, com menor tendência a formar

soluções sólidas.

Duas fases líquidas


Uma fase líquida, Solubilidade sólida abaixo de 0.1%
Solubilidade de sólida entre 1 e 0.1%
Solubilidade acima de 1%
Metais idênticos

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2) Carga e Velocidade

Lei de Archard

V = K. P. S.

em que:

K - Coeficiente de desgaste

P - Carga aplicada

S - Distância de escorregamento

a) Volume de desgaste é proporcional à distância de

escorregamento;

b) Volume de desgaste é proporcional à carga;

c) Volume de desgaste é inversamente proporcional à tensão

de cedência à compressão do material mais macio

(integrado no K).

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3) Materiais de estrutura cristalina hexagonal

Geralmente apresentam boas características em contactos

com escorregamento.

4) Formação de filme óxidos

Servem de camadas protectoras das superfícies.

Só actuam em faixas restritas de temperatura.

A formação de partículas por adesão pode dar origem a:

ABRASÃO

Os mecanismos de adesão são difíceis de simular em

laboratório:

As partículas formadas tendem a sair da zona de contacto

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Tabela de coeficientes de desgaste por adesão

MATERIAIS K ad

Ouro/ouro 0.1 - 1
Cobre/cobre 0.01 - 0.1
Aço macio/aço macio 10-2
Latão/aço duro 10-3
Chumbo/aço 2 x 10-5
PTFE/aço 2 x 10-5
Polietileno/aço 10-8 - 10-7

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DESGASTE POR EROSÃO

O desgaste por erosão pode ser definido como a perda de

material duma superfície causada pelo contacto com um fluido

(líquido ou gás) em movimento, contendo partículas sólidas.

O valor máximo do coeficiente de erosão é mais elevado no

caso dos materiais frágeis do que no caso dos materiais dúcteis.

É o tipo de desgaste que ocorre, por exemplo, nos "pipe lines".

Filtragem e uma adequada selecção de materiais são factores

importantes para o controlo deste tipo de desgaste.

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DESGASTE POR FADIGA

O desgaste por fadiga pode ocorrer mesmo que as superfícies

sejam completamente separadas por uma película lubrificante,

como acontece em rolamentos e engrenagens. Neste tipo de

componentes, embora não ocorra contacto directo, as superfícies

estão sujeitas a tensões normais cíclicas extremamente elevadas,

transmitidas através da película lubrificante.

O desgaste por fadiga manifesta-se ao fim de um número

crítico de ciclos de funcionamento e é caracterizado pela

formação de micro-escamas e seguidamente de escamas dando

origem a fragmentos de desgaste.

Para diminuir os seus efeitos, as melhores soluções são:

• Melhoria do estado superficial;

• Diminuição das cargas;

• Aumento da dureza das superfícies.

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DESGASTE CORROSIVO

Pode definir-se o desgaste corrosivo como sendo a perda de

material duma superfície metálica devido a acção química ou

electro-química.

Factores preponderantes:

☺ Ambiente (humidade, poeiras corrosivas, etc.);

☺ Temperatura;

☺ Natureza dos materiais.

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CONCLUSÕES

Desgaste inevitável na prática


Para o diminuir: película de lubrificante

Geralmente projecta-se um dos elementos do contacto para


desgaste baixo e o outro para um desgaste maior. Este último é
normalmente o elemento mais barato do par e é o que irá ser
substituído quando desgastado.

No projecto para prevenção contra desgaste excessivo, deve


ter-se em atenção as regras seguintes:

♦ os materiais duros têm maior resistência ao desgaste


que os materiais macios;

♦ deve evitar-se a utilização do mesmo material para as


duas superfícies, sobretudo se não existir filme
lubrificante a separar as superfícies;

♦ as superfícies devem ter um acabamento conveniente;

♦ devem prever-se formas de manter as superfícies de


contacto isentas de partículas sólidas soltas (filtragem
do óleo, protecção contra poeiras, etc.).

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TRATAMENTOS E REVESTIMENTOS
SUPERFICIAIS

Tratamentos e revestimentos mais utilizados:

Metalização
Cr, Ag, Au, etc.

Deposição electrolitica
Ni, Co, partículas de compósito dispersas numa matriz de
NI

Deposição em fase de vapor


CVD, PVD

Deposição por spray (oxi-acetileno, plasma, detonação)

Depósitos orgânicos
filmes de lubrificantes sólidos ou revestimentos de
polímeros ou elastómeros

Revestimentos por conversão química


fosfatação, anodização

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Tratamentos térmicos
tradicionais, laser

Tratamento por difusão


nitruração, carbonitruração, etc.

Outros revestimentos
sinterizados superficiais
bases

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REVESTIMENTOS APLICADOS NA SUPERFÍCIES

Metalização

Estanhagem
Química Cromagem
Niquelagem

Galvanização
Imersão
Estanhagem

Projecção - Zn
- Al
- Pb

Melhoram:

dureza superficial
resistência à corrosão
forma superfícies conformáveis
pares de materiais insolúveis

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Depósitos electrolíticos

Técnicas que consistem em obter sobre uma superfície

condutora revestimentos compostos por um ou mais metais por via

electrónica.

Ni; Cr; Cu; Zn; Cd; Pb; ...

Ligas

Cu – Zn; Sn – Ni; etc. ...

Melhoram: Resistência à corrosão

Resistência ao desgaste por abrasão

Diminuição do coeficiente de atrito

Aumento da dureza

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REVESTIMENTOS EM FASE DE VAPOR

CVD – Deposição química em fase de vapor

Revestimento formado a partir da reacção química de gases na


superfície do substrato ou por decomposição térmica de
componentes voláteis.

PVD – Deposição física em fase de vapor no vácuo

Revestimento evaporado ou projectado de uma fonte para o


substrato.

Revestimentos utilizados

CVD – Tetracloreto de titânio


Carboneto de Tungsténio

Problemas de CVD – Temperaturas muito elevadas (≈ 1000oC)

Obtém-se bons resultados em ferramentas

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PVD – Nitreto de titânio


Carboneto de Tungsténio

Temperaturas mais baixas que o CVD (≈ 500oC)

Tratamento muito promissor

Preço elevado (para já, mas com tendência a baixar)

REVESTIMENTOS POR PROJECÇÃO

Spray (método mais utilizado)


Plasma
Detonação

Qualquer material que pode ser fundido sem se decompor


pode servir de revestimento por spray.

Método muito utilizado em manutenção (reparações)

Utilizam-se materiais:
Cerêmicos
Carbonetos
Refractários (Mo e W)

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SPUTTERING

Processos em que os átomos de um alvo carregado

negativamente são evaporados por bombardeamento de iões

positivos de um gás inerte; estes átomos em fase de vapor são

transportados através do plasma do gás ionizado e depositados na

superfície a ser revestida.

Bom processo para filmes muito delgados

Não provoca deformações

Baixa temperatura

Exige vácuo (custo relativamente elevado)

SOLDARURA (hard – facing)

Muito utilizado em reparações de material pesado

Dificuldades de aplicação: altas temperaturas (possibilidade

de fissuração no arrefecimento); deformações e alterações físico-

química do substracto.

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REVESTIMENTOS ORGÂNICOS

Plásticos

Elastómeros

Polímeros

REVESTIMENTOS POR CONVERSÃO QUÍMICA

Utilizados sobretudo para revestimentos úteis na fase de rodagem

Ex: Fosfatação

Anodização

TRATAMENTOS TÉRMICOS CLÁSSICOS

Transformação estrutural

Tempera superficial

Tempera total

Revenido

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TRATAMENTOS POR DIFUSÃO

Difusão de um não-metal

Nitruração N

Cementação C

Carbonitruração C.N.

“Tenifer” N

Sulfinusação S.C.N.

Difusão de um metal

Cromagem Cr

Aluminização Al

Estanhagem Sn

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