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Adubação de Pastagens, saiba por quê?

pelos Professores Doutores Valdo Rodrigues Herling - vrherlin@usp.br - e Pedro


Henrique de Cerqueira Luz - phcerluz@usp.br - da FZEA/USP-Pirassununga/SP, Ivan
Borba Formigoni e Daniel Portioli Rolnik, zootecnistas e consultores da Assistec (19)
561 6182 assistec@lancernet.com.br

Introdução
Dando prosseguimento aos temas de importância na área de forragicultura e
considerando as publicações sobre “Calagem, aplicação e custos” e “Métodos para
Determinação da Necessidade de Calagem”, tem-se por objetivo nesse artigo, discutir a
questão dos nutrientes no solo e as necessidades das plantas forrageira, tão fundamental
ao seu crescimento e desenvolvimento e conseqüentemente, da produtividade animal.
O foco da discussão, em primeira instância, relaciona-se à adubação de formação,
quando da implantação da pastagem, sendo as adubações de manutenção, bem como os
aspectos de custos, serão tratadas, em separado, nos demais artigos desta série.

Produção nos Trópicos


Não é novidade dizer que a produção animal, nos trópicos, é dependente quase
exclusivamente das pastagens. No entanto e, principalmente no Brasil Central, o que se
observa é uma atividade pecuária extrativista, onde a produtividade conseguida é fruto
da exploração dos recursos naturais existentes, levando a degradação progressiva das
pastagens.
Contudo, esse cenário tende a ser revertido, como pode ser visto tomando por base o
exemplo do Estado de São Paulo que, demonstra claramente a evolução das pastagens
naturais para pastagens cultivadas, sendo atualmente cerca de 75% da área paulista
representada por pastagens cultivadas.

A contradição
Parece comum a contínua busca pela planta forrageira dita “milagrosa”. Aquela que irá
substituir a pastagem antiga e proporcionar elevados rendimentos, sem que haja
necessidade da reposição dos nutrientes do solo.
O que na verdade existe são plantas forrageiras e variedades menos exigentes em
fertilidade que outras, as quais fornecem, impreterivelmente, um alimento de qualidade
inferior para os animais. Os capins mais exigentes em fertilidade do solo apresentam,
normalmente, teores mais elevados de nutrientes em sua composição. Por outro lado,
quando a fertilidade do solo é ruim, o que ocorre é o crescente desaparecimento das
plantas ao invés de apenas reduzirem seu valor nutritivo.

O solo e a adubação
O solo não representa uma fonte inesgotável de nutrientes para as plantas, ou seja, dos
macro (cálcio, fósforo, potássio, enxofre, magnésio e nitrogênio) e micro nutrientes
(cobre, ferro, manganês, zinco, boro, molibdênio e cloro), como pode pensar
erroneamente alguns produtores. Há variação na quantidade de cada um dos elementos,
de solo para solo, bem como existem nutrientes que se esgotam mais rapidamente que
outros em virtude da lixiviação, erosão e absorção e remoção pelas plantas etc.

Importância da Adubação
O fundamento da adubação baseia-se na devolução ao solo dos nutrientes que as plantas
absorvem e são exportados pelos animais na forma de carne, leite, lã etc.., e também
aqueles que foram lixiviados ou perdido através de outros meios como volatilização e
denitrificação ou, na elevação, em determinados solos, dos teores de nutrientes que
estão, originalmente, em níveis muito baixos, ou seja, aquém das exigências da cultura
implantada.
Resumidamente, pode-se resumir a adubação, conforme a equação abaixo:

Adubação = (planta – solo) x 

A partir dela, interpreta-se que a adubação vem a ser o que a planta necessita menos o
que o solo oferece, acrescido de um fator de eficiência do nutriente no complexo solo-
planta.
Fósforo
Ao se considerar o estabelecimento de pastagens, independentemente da espécie
forrageira a ser cultivada, a baixa disponibilidade de fósforo nos solos tropicais
brasileiros tem sido a mais relevante limitação. A recomendação de adubação deve estar
embasada, para todos os principais nutrientes, na análise de solo e na necessidade da
espécie forrageira específica.
Para o fósforo, pode-se considerar as seguintes recomendações mencionadas na Tabela
1.

Tabela 1. Recomendação geral de adubação para o fósforo


Teor de P no solo Recomendação de adubação
< 10 mg/dm3 de fósforo 80 a 100 kg P2O5/ha
10 a 20 mg/dm3 de fósforo 40 a 50 kg P2O5/ha
20 a 30 mg/dm3 de fósforo 20 kg P2O5/ha
> 30 mg/dm3 de fósforo Adubação desnecessária
Análise de P – resina

Durante a formação, algumas medidas devem ser tomadas, de forma a obter-se melhor
aproveitamento do fósforo para a planta, tais como:
- a fonte de fósforo deve ser aplicado nas proximidades das sementes ou
mudas;
- adubação diferenciada entre gramíneas e leguminosas, uma vez que o fósforo
pode ser considerado o nutriente mais limitante para as leguminosas, uma vez
que são capazes de incorporar nitrogênio no solo. Experimentos sugerem,
quando em consórcio, que se aplique 2/3 do fósforo para a leguminosa e 1/3 para
a gramínea;
- pode-se substituir parte das tradicionais fontes solúveis, como superfosfato
simples, por fosfato de rocha, desde que se eleve as quantidades a serem
aplicadas em no mínimo 1/3 em relação a fontes prontamente solúveis;
- os fosfatos de rocha devem ser incorporados ao solo com antecedência,
preferencialmente antes da calagem, pois solubilizam mais rapidamente quando
em solos ácidos.
Além das fontes solúveis e dos fosfatos naturais, encontram-se no mercado fontes
parcialmente solúveis, cuja origem mineralógica lhes confere melhor reatividade no
solo. Outras alternativas seriam o termofosfato magnesiano e o multifosfato
magnesiano, ambas fontes que dispõem de macro e micronutrientes agregados.

Na Tabela 2 é apresentada a composição média de diversas fontes de fósforo


disponíveis no mercado.

Tabela 2. Composição percentual de algumas fontes de fósforo


Fontes P2O5 S CaO N R$/kg
P2O5
%
Superfosfato simples Granulado 18 12 28 - 1,41
Superfosfato simples Pó 18 12 28 1,23
Superfosfato triplo 46 - 14 - 1,08
Superfosfato 30 30 8 28 - -
Fosfato diamônico (DAP) 46 - 18 18 1,09
Fosfato reativo Daoui 32 - - - 0,79
Fosfato reativo Arad 33 - - - 0,76
Hiperfosfato (fosfato natural) 32 - 42 - -
Fosfato de Araxá (fosfato natural) 28 - 28 - 0,12
Fosfato Alvorada (fosfato natural) 28 - 45 - -

Nitrogênio
De modo geral, o nitrogênio é o principal nutriente das gramíneas, proporcionando
aumento imediato da produção de forragem. Solos deficientes em nitrogênio
acarretam em crescimento lento, plantas de porte pequeno, com poucos perfilhos e o
teor de proteína bruta torna-se insuficiente à alimentação animal.
A fonte de nitrogênio no solo é a matéria orgânica, porém não diretamente absorvida
pelas plantas. É necessária sua decomposição pela ação de microrganismos, de
forma a liberar N prontamente assimilável.
Nas regiões de clima tropical, no período de primavera e verão, o crescimento
vegetal é bastante intenso, e mesmo em solos ricos em matéria orgânica, a liberação
de N é insuficiente para atender a demanda das gramíneas. Por outro lado, nos
períodos de estiagem, a decomposição da orgânica diminui ou, praticamente cessa,
fazendo com que ocorra, da mesma maneira, deficiência de nitrogênio.

Na Tabela 3 é apresentada a composição percentual média de diversas fontes de


nitrogênio disponíveis no mercado.

Tabela 3. Composição percentual de algumas fontes de nitrogênio


Fonte %N %S % CaO % MgO % P2O5
Sulfato de amônio 20 23 - - -
Nitrocálcio concentrado 27 - 4-5 2-3 -
Uréia 45 - - - -
Fosfato diamônico (DAP) 18 - - - 46

De maneira geral, a resposta dos capins à adubação nitrogenada é crescente até


doses elevadas, cerca de 1600 kg N/ha/ano. Entretanto, a eficiência de utilização do
N aplicado cai à medida que se ultrapassa determinado limite (±300–400 kg
N/ha/ano). Existem plantas forrageiras que respondem até doses mais elevadas,
como os capins elefante, colonião e pangola e aqueles que, devido ao crescimento
mais lento, como o gordura, só respondem com aumento na produção de forragem
até doses moderadas, como 200-250 kg N/ha/ano).

Potássio
Os capins deficientes em potássio apresentam colmos finos e menos resistentes ao
tombamento, suas folhas apresentam-se amareladas, com necroses. Em
leguminosas, há comprometimento do sistema de nódulos, diminuindo a capacidade
de fixação de nitrogênio pelas plantas.
Sob condições normais, o potássio é reciclado pelas fezes e urina dos animais,
devendo ser recomendado quando da realização da análise de solo.
O potássio, assim como o nitrogênio, está sujeito à lixiviação, tendo alta mobilidade
no solo.
A principal fonte de potássio é o cloreto de potássio (60% K2O), que apresenta
elevado índice de salinidade, não devendo ter contato direto com a semente.
As doses do adubo potássico para as pastagens são recomendadas mediante análise
de solo, mediante a determinação da faixa de variação na sua concentração.

Tabela 4. Recomendação geral de adubação para o potássio


Teor de K no solo Recomendação de adubação
< 0,7 mmolc/dm3 40 – 60 kg K2O/ha
0,8 a 1,5 mmolc/dm3 20 – 40 kg K2O/ha
1,6 a 3,0 mmolc/dm3 0 – 20 kg K2O/ha
> 3,0 mmolc/dm3 Desnecessária
Obs: Os grupos de plantas forrageiras, tais como alfafa em exploração intensiva,
capineiras e prados deverão ter recomendação específica.

Considerações finais
A adubação fosfatada é de vital importância para o estabelecimento das pastagens,
enquanto o nitrogênio é o principal nutriente para a manutenção de sua
produtividade e valor protéico, associado ao potássio.
No processo de preparo do solo, há formação de melhores condições para infiltração
de água, aeração etc..., o que propicia ambiente adequado para decomposição e
mineralização da matéria orgânica e conseqüente liberação de N. Por isso, a
recomendação de adubação nitrogenada, quando da implantação da pastagem, pode
ser questionada, a não ser nos casos de extrema carência de matéria orgânica ou
algum problema quanto aos minerais presentes no solo.

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