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Os estudos de antropologia da saúde/doença


no Brasil na década de 1990

Health and illness’ antrophological studies


in the 90’s in Brazil

Ana Maria Canesqui 1

Abstract This article reviews and comments Resumo Este texto revê e comenta os estudos
the anthropological and qualitative studies antropológicos e qualitativos sobre as dimen-
about the sociocultural dimensions of health sões socioculturais da saúde/doença, engloban-
and illness. It focus the different intellectuals do os seus subtemas, conceitos e metodologias
positions, the concepts and methodologies and adotadas a partir de diferentes vocações intelec-
includes the theme sexuality, disease and gen- tuais. Inclui ainda a sexualidade, doença e re-
ders relations. The article discuss some factors lações de gênero.Traça alguns fatores que con-
and its contributions to the academic produc- tribuíram para a expansão daquela produção
tion expansion, and is concerned only to the acadêmica e circunscreve-se somente à publica-
publications which its examination showed the da, cujo exame permitiu a seleção dos temas
main themes for selection. abordados, devido aos seus predomínios.
Key words Anthropology of health/disease; Palavras-chave Antropologia da saúde/doen-
Qualitative research in health; Concepts, ça; Pesquisa qualitativa em saúde; Conceitos
methodologies and themes. e metodologias e assuntos

1 Departamento
de Medicina Preventiva
e Social, Faculdade de
Ciências Médicas, Unicamp.
Rua Copaíba 167,
Alphaville, 13098-347,
Campinas SP.
canesqui@mpc.com.br
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Introdução ra de Antropologia (ABA) e Associação Brasi-


leira de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Este texto revê o que fizeram no Brasil, na últi- (ANPOCS). Ela quer estudar a construção das
ma década do século 20, os antropólogos e pessoas, do corpo ou das emoções, associados
profissionais de saúde que incorporaram os re- aos fenômenos da “doença” ou perturbações
ferenciais teórico-metodológicos da antropo- (Duarte, 1998), sem ser compartilhada igual-
logia nas suas pesquisas e reflexões, enquadra- mente por todos os pesquisadores, tal como se
das numa especialização em constituição de- evidenciará na bibliografia disponível.
signada de antropologia da Saúde/Doença, que A busca de identidade de uma antropolo-
vem alcançando visibilidade e maior legitimida- gia especializada na saúde e doença gera ten-
de acadêmica. sões entre as distintas vocações intelectuais e
Na década de 1980 essa produção acadêmi- disputas entre os agentes, segundo as suas pre-
ca foi objeto de análise, quanto a um conjunto ferências intelectuais, fazendo ou não seus alia-
de temas, perspectivas conceituais e metodoló- dos, sendo que algumas posturas, sob diferen-
gicas adotadas pelos pesquisadores; origens e tes argumentos, são mais cautelosas quanto à
influências recebidas (Canesqui, 1994). Outras partilha ou especialização dos objetos discipli-
recentes revisões e reflexões sobre as ciências nares (Duarte, 1994; Carrara, 1994), enquanto
sociais no campo da saúde ou específicas de al- outros preferem a singularidade e identidade
guns temas foram feitas (Canesqui, 1998; Nu- da nova especialidade.
nes, 2000; Alves, 1998), sendo agora pertinente O fato é que esse embate intelectual não dis-
nova análise dos estudos, na década de 1990, pensa alianças e não foi casual a observação de
devido a sua forte expansão e amadurecimento. Russo (1998) sobre o meio parentesco de afini-
A preocupação com o que somos, nossos te- dade entre a saúde coletiva e a “antropologia
mas e origens, quantos somos, para onde va- da saúde”. É salutar a convivência de vários ti-
mos foi uma das marcas das ciências sociais no pos de pesquisa – a básica, estratégica e opera-
campo da saúde durante a década de 1990, cu- cional –, sugeridos por Minayo (1998), à medi-
jos registros estão na bibliografia e nos eventos, da que os dois primeiros podem atender às de-
patrocinados pela Associação de Pós-Gradua- mandas setoriais da saúde, sem ser desprezada
ção em Saúde Coletiva, que revelam a estreita a enorme relevância da pesquisa básica na an-
interlocução daquelas ciências (sociologia, an- tropologia social. Confirma-se a importância
tropologia e ciência política) com o campo da da interdisciplinaridade na saúde coletiva/saú-
saúde coletiva/saúde pública. Essa busca de de pública, bem ao contrário das posturas crí-
identidade deu-se ainda na trajetória da antro- ticas e mais reflexivas, que predominaram as
pologia, marcada pela “volta sobre si mesma” contribuições das ciências sociais, nos estudos
(Rubim, 1999). na década de 1970.
Apesar da insistente busca da interdisci- Um conjunto crescente de agentes respon-
plinaridade, entre as próprias ciências sociais sabilizou-se pelo volume significativo de pu-
e destas com a Saúde Coletiva, a antropologia blicações no assunto pesquisado (livros, cole-
médica ou antropologia da saúde buscam iden- tâneas e artigos de revistas de saúde públi-
tidades segundo as preferências e vocações de ca/saúde coletiva e de antropologia social), que
alguns proponentes, sejam dos mais preocu- motivaram este tipo de revisão, a qual padece
pados em estabelecer fronteiras e limites mais de parcialidade. Uma parte dos agentes está
nítidos e precisos para estes empreendimentos nos ambientes “híbridos” em interlocução com
disciplinares, ou que reorganizam uma rede de as ciências biomédicas, saúde pública, psiquia-
estudiosos no assunto, sejam dos que preser- tria, gineco-obstetrícia e pediatria.
vam os espaços disciplinares mais pragmáti- A outra se liga às áreas básicas das ciências
cos, mediante forte interlocução interdiscipli- sociais dos institutos de filosofia e ciências hu-
nar com a epidemiologia, o planejamento de manas e às linhas de pesquisas em antropolo-
serviços de saúde e psiquiatria (Uchoa et al., gia, sociologia ou nas ciências sociais e saúde,
1994; Minayo, 1998; Alves, 1998; Sevalho et al., através de alguns cursos de pós-graduação dos
1998). departamentos universitários, ou de centros e
A estratégia mais “antropológica” e “holis- núcleos de pesquisas (Núcleo de Antropologia
ta” associou-se à contínua convocação, na dé- do Corpo, Saúde e Doença da Universidade Fe-
cada de 1990, de grupos de trabalho sobre pes- deral do Rio Grande do Sul ou Núcleo de Ciên-
soa, corpo e doença, pela Associação Brasilei- cias Estudos de Sociais e Saúde da Universidade
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Federal da Bahia), ao lado de outros multidis- Essas críticas favoreceram os microestu-


ciplinares mais antigos e não só circunscritos às dos, sempre caros às abordagens antropológi-
pesquisas no assunto. Agentes ainda estão nas cas. Trata-se da abordagem fenomenológica,
fundações e organizações não governamentais. da retomada de correntes etnometodológicas,
Outros fatores concorreram positivamente do interacionismo simbólico, das orientações
para a expansão da produção bibliográfica a ser “qualitativas”, que permeiam os estudos a ser
analisada, tais como: 1) a maior flexibilidade, comentados adiante. Certamente este não é um
na saúde coletiva e nas ciências sociais, para fato localizado entre nós e as “novas sociolo-
abrir-se a novos objetos que suscitam mudan- gias” (não tão novas muitas das correntes),
ças ou permanências nas visões de mundo e va- junto com a maior interlocução entre filosofia,
lores de nossa sociedade (a exemplo do gênero sociologia, antropologia, história, psicologia,
e sexualidade, a extensão dos direitos de cida- delinearam-se como tendência em alguns
dania); a emergência da Aids; os processos de meios acadêmicos na França (Concurff, 1995)
desinstitucionalização da loucura, junto com a e no Brasil.
atuação de alguns movimentos sociais; 2) a re- A pluralidade e heterogeneidade nas diver-
corrente ênfase nos processos não biológicos sas orientações teóricas e metodológicas são
das enfermidades; 3) os novos critérios de ava- visíveis e reportadas pelos organizadores e co-
liação dos cursos de pós-graduação que estimu- mentaristas das várias coletâneas produzidas
laram o mercado editorial com novas revistas, no assunto. Não se trata de uma única antro-
ampliação de edições de livros e artigos no as- pologia, mas de várias orientações teóricas, que
sunto, dando vazão à crescente produção aca- ora bebem nas fontes de autores franceses, ora
dêmica; 4) o apoio às pesquisas pelas agências nos norte-americanos, ora nos autores nacio-
nacionais e o estímulo ao financiamento de es- nais, sinalizando, por um lado, as múltiplas pos-
tudos antropológicos por algumas fundações sibilidades de apreensão dos objetos etnográ-
internacionais na promoção de temas como: ficos e, por outro, refletem bem as peculiari-
gênero, sexualidade; saúde e reprodução, en- dades da antropologia feita entre nós. Apesar
volvendo a academia e organizações não gover- de ela preocupar-se com a sociedade nacional,
namentais, sendo que os estudos sobre a Aids não deixa de ser universal, como antropologia,
estimularam-se por financiamentos interna- na interlocução com seus ancestrais e diferen-
cionais e vigência do Programa Nacional de tes vocações internacionais, sofrendo contudo
DST/Aids do Ministério da Saúde que incluiu transformações na “periferia” (Oliveira,
muitas pesquisas. Outros temas se estimularam 1994a).
acadêmica e politicamente, devido ao longo A seguir destacamos seletivamente os temas
processo de reorganização dos processos de de- pesquisados.
sinstitucionalização da loucura, como a saúde
mental, cujas pesquisas, de interesse a este tra-
balho, mobilizaram redes multicêntricas na- Diferentes perspectivas
cionais e internacionais. nas abordagens da saúde/doença
No plano do conhecimento, a maior des-
confiança das dicotomias conceituais (material/ Não é peculiar à década de 1990 a centralidade
imaterial; objetivo/subjetivo; coletivo/indivi- dos estudos etnográficos sobre as representa-
dual; estrutura/ação) abriu flancos, nas teorias ções de saúde e doença em geral, ou do corpo,
e metodologias das ciências sociais em geral saúde e doença ou de doenças específicas (tu-
e nas instadas no campo da saúde, para postu- berculose, Aids e hanseníase), em busca dos sig-
ras que buscam compreender os fenômenos na nificados detidos para os grupos pesquisados e
multiplicidade de seus domínios, ultrapassan- que refletem ainda sobre os limites das inter-
do aquelas oposições. Se por um lado a abor- venções médicas, sempre tidas em dissonância
dagem do sujeito ou da ação passaram a ser com o universo cultural das classes trabalhado-
privilegiados, seja na construção da realidade, ras urbanas, que se tornaram o fulcro das pes-
sempre em busca dos sentidos na intersubjeti- quisas realizadas. Dos estudos feitos, uma par-
vidade, seja para desprovê-lo de sua automáti- cela aprofundou conceitos e metodologias, en-
ca submissão às estruturas, por outro busca- quanto outros se valeram de procedimentos et-
ram-se mediações entre as estruturas e a ação, nográficos ou apenas do emprego de técnicas
mediante abordagens que procuram um cons- qualitativas para estudar o tema.
trutivismo menos radical.
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lição importante. Enfatizou o quanto a ativida-


Representações: conceitos de do pensamento coletivo é mais simbólica do
e metodologia que a do pensamento individual e as condutas
individuais não são simbólicas em si mesmas e
O emprego da noção de representação fez- ganham sentido em relação a uma dada socie-
se, às vezes, de maneira frouxa e apenas referida dade. Admite que as representações coletivas
a certas “imagens” da realidade. Em outro ex- podem adotar formas concretas ou abstratas.
tremo confundiu-se na pesquisa, com a trans- No estudo sobre a magia, uma das primeiras
parência dos discursos dos agentes sociais, cu- expressões das representações coletivas, cha-
jas condições de inserção social as determina- mava a atenção para a sua composição: os
va. Numa outra vertente, a busca de signos, dos agentes, atos e representações. O mago é o in-
seus múltiplos sentidos e das profundas estru- divíduo que conduz a magia, mesmo que não
turas fechou a análise dos discursos, sem escla- seja um profissional. As representações mági-
recer as condições e o contexto de sua produ- cas são as idéias e crenças que correspondem
ção. As reações contrárias resvalaram-se para a aos atos mágicos e os ritos mágicos são atos
“devolução das falas aos oprimidos” (Magna- que definem os demais elementos da magia e
ni, 1986). O conceito de representação foi ain- distintos das demais práticas sociais, e as técni-
da utilizado em substituição ao de simbolismo, cas disponíveis podem ou não ser acompanha-
detentor de grande tradição de análise no cam- das da magia (Mauss, 1971).
po da antropologia. Derivou-se ainda das in- Com o autor aprendemos que as repre-
terlocuções entre disciplinas como a psicologia sentações mágicas não se restringem ao pensa-
social, antropologia e sociologia, na busca do mento ou às idéias exclusivamente. Elas se ex-
sentido e como forma de conhecimento. pressam nos atos mágicos e se geram nos vários
O emprego dessa noção, entre nós, parece campos da vida social, incluindo os sistemas
movido por interesses bem similares aos pos- filosóficos esotéricos. Para desvendar as pri-
tos por Herzlich (1991): a crise profunda dos meiras categorias lógicas utilizadas pelo pen-
esquemas globais de explicações, fundados nas samento humano, tanto Mauss quanto Dur-
determinações socioeconômicas; o retorno do kheim voltaram-se para a análise da organiza-
sujeito, de sua experiência, “sentido” ou “vivi- ção social das sociedades primitivas. Em mo-
do”; a intensificação dos processos de partici- mentos de sua obra Mauss desvencilhou-se do
pação social e a interrogação do pesquisador positivismo durkeimiano e trouxe aportes im-
sobre a sua posição em relação ao objeto de portantes para a moderna antropologia.
pesquisa. O conceito de representações sociais Da observação dos vários estudos interna-
tornou-se uma metanoção e, em certos cam- cionais sobre as representações de saúde e do-
pos, foi objeto de empreendimentos inter ou ença, Adam & Herzlich (2000) apontam que,
transdisciplinares. na interpretação dos fenômenos orgânicos, as
A assimilação desse conceito foi um pou- pessoas se apóiam em conceitos, símbolos e es-
co tardia entre nós, uma vez que desde a déca- truturas interiorizadas, conforme os grupos so-
da de 1960 Mocovici (na psicologia social) e ciais a que pertencem. Certas doenças firmam-
depois Herzlich (na sociologia), ambos ligados se no imaginário coletivo, enquanto outras, os
à escola francesa, resgataram da teoria dur- indivíduos, em função de suas experiências e
kheimeana as representações coletivas, tidas contexto, podem elaborar ou reelaborar inter-
como categoria de pensamento social coerciti- pretações, apoiando-se em recursos coletivos.
va às consciências individuais. Moscovici mol- Entre nós, Minayo percorreu criticamen-
dou-o, sob a denominação de representações te as correntes do pensamento sociológico
sociais, articulando o coletivo ao individual, en- clássico, sem que o conceito de representações
quanto Herzlich se declara seguidora de Dur- fora assimilado por todas elas, e foi posta por
kheim e dos antropólogos ingleses que estuda- Durkheim e seus seguidores, sempre preocu-
ram o simbolismo (Mary Douglas), tendo pro- pados com as idéias que os “povos primitivos”
porcionado maior calibragem entre o indiví- detinham sobre si e sobre o mundo ao redor. A
duo e a sociedade, ambos impregnando as no- objetividade do tratamento dos fatos sociais e
ções de saúde e doença nos distintos grupos so- de sua coerção sobre os indivíduos (incluindo
ciais franceses, por ela estudados, na década de as representações coletivas) despertou críticas
1960. ao autor, por outras correntes de pensamento:
Na antropologia, Marcel Mauss deixou uma pelo marxismo, por não ceder às contradições
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e lutas; e pela fenomenologia e correntes com- gerar questões a serem aprofundadas qualitati-
preensivas, por descurar-se do sujeito ou da vamente e vice-versa. A discussão de técnicas
ação social (Minayo, 1992). qualitativas para as pesquisas em saúde foi feita
No marxismo as representações remetem à por Minayo e por outros que se interessaram
ideologia e a autora toma as vertentes que não no seu emprego nos estudos sobre representa-
a concebem como mero reflexo das estruturas. ções sociais de saúde e doença (Rigotto, 1998).
Junta a dimensão cultural e o historicismo, que Argumentos favoráveis à complementa-
oferece espaço à criatividade do sujeito, sem ridade dos métodos fundam-se na necessária
descurar-se dos elementos estruturais, engen- discussão de vários pontos de vista na pesquisa
dradores da sociedade capitalista. Destaca a im- (Ramos, 1993). Acautelam-se os que admitem
portância dos estudos e representações sociais a impossibilidade de aplicá-la generalizada-
para a análise do social e a ação pedagógico- mente, deixando intocadas as questões epistê-
política transformadora. Elas retratam a reali- micas da objetividade/subjetividade, nas tenta-
dade, sem reduzir-se às concepções dos atores tivas interdisciplinares da epidemiologia com
sociais. as ciências sociais (Reichenhein, 1993; Santos,
Toma as representações sociais como senso 1993).
comum, idéias, imagens, concepções e visões Para potencializar o registro, obtenção e
de mundo. A representação social de indiví- análise de dados etnográficos são adequados os
duos e grupos, nas palavras da autora, está pen- usos de tecnologias eletrônicas e softwares. Na
sada em relação às bases materiais que a engen- sistematização dos dados obtidos, os descrito-
dram: de um lado temos o homem que é produto res conceituais e discursivos dos softwares per-
de seu produto: as estruturas da sociedade criam mitem observar as recorrências de categorias e
o seu ponto de partida; de outro, temos que este conceitos nos depoimentos dos informantes
homem constrói a história dentro das condições (Fachel et al., 1995; Victora et al., 2000). O em-
recebidas ultrapassando-as e inscreve sua signifi- prego da análise fatorial por correspondência,
cação sobre toda a parte, em todo o tempo e a or- uma técnica estatística, permitiu às autoras
dem das coisas (Minayo, 1992). identificarem várias correlações tais como: en-
Queiroz (2000) também refletiu critica- tre “visão de mundo” e decisões sobre recursos
mente sobre o conceito, a partir de diferentes de saúde e estratégias reprodutivas; as relações
perspectivas sociológicas e antropológicas, no entre gênero e recursos de cura; as causas atri-
estudo das doenças endêmicas. Juntando Mos- buídas à doença, entre outras. Não se trata de
covici com Schultz toma-o como um tipo de substituir o trabalho etnográfico e nem de des-
saber socialmente organizado, contido no sen- cartar o esforço da análise antropológica, mas
so comum e na dimensão cotidiana, que per- de buscar novas formas de sistematizá-las.
mite ao indivíduo uma visão de mundo e o ori- Cardoso & Gomes (2000) advertem sobre o
enta nos projetos de ação e nas estratégias que risco da incorporação acrítica, pelos estudos
desenvolve em seu meio. Afirma que as repre- sociais em saúde, do conceito de representações
sentações sociais são, portanto, conceitos cultu- sociais. Afirmam que o seu emprego não pode
ralmente carregados, que adquirem sentido e sig- ignorar o já estabelecido por vários autores li-
nificado pleno no contexto sociocultural e situa- gados à psicologia social e à sociologia no cam-
cional onde manifestam (Queiroz, 2000). po da saúde. Ao reverem o conceito nas teo-
Minayo & Sanchez (1993) propuseram a rias, discutem os limites da perspectiva cons-
complementaridade dos métodos qualitati- trutivista e a necessária articulação da pesquisa
vos e quantitativos na pesquisa. Os primeiros com a abordagem histórica, dado o enraiza-
se interessam pelo “nível mais profundo” em mento simultâneo das representações nas rea-
constante interação com o ecológico. Este nível lidades social e histórica, conforme posto per-
comporta significados, motivos, aspirações, tinentemente por Herzlich (1991).
crenças e valores, expressos na linguagem da Recomendam o uso de múltiplas fontes (do-
vida cotidiana e, bem se aplicam aos estudos de cumentária e orais) para classificar as diferen-
pessoas afetadas por doenças e a grupos deter- tes maneiras pelas quais os autores captaram o
minados, historicamente situados. Se um dado sentido do ser doente ou saudável; para esta-
objeto de pesquisa reclamar, sugerem a combi- belecer os nexos entre os sentidos de maneira a
nação dos métodos, que impõem, no plano do chegar à historicidade dos modelos de saúde e
conhecimento, a relação entre objetividade e doença, e para reconstituir, nas fontes, “a lógi-
subjetividade. Os estudos quantitativos podem ca” pela qual as representações foram produ-
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zidas e socializadas na longa duração, que per- beres e práticas ligadas às estruturas sociais, às
mite a maior compreensão dos modelos atuais. instituições, às representações, às mentalidades.
Demonstrou Laplantine (1986), sob ângulo A história cultural das doenças abre um leque
da abordagem estruturalista, a existência de di- muito fértil às pesquisas, que não se restringem
ferentes lógicas que presidem os modelos etio- aos saberes eruditos.
lógicos e terapêuticos na sociedade contempo- Rodrigues (1999) fornece um outro bom
rânea, irredutíveis a uma única lógica. O resga- exemplo da história das sensibilidades que pas-
te da historicidade dos sentidos ou significados sa nas fronteiras disciplinares, incluindo a com-
das doenças, no longo alcance, é bastante plau- preensão da sensorialidade dos processos cor-
sível de ser tentada, retirando dos estudos o seu porais, dos modos de sentir, do uso dos senti-
caráter meramente sincrônico e o atrelamento dos que não se restringem ao orgânico e são
exclusivo às perspectivas dos adoecidos, desde históricos, sempre remetidos na trama das re-
que são múltiplas as fontes produtoras de repre- lações sociais que lhes atribuem sentidos. Res-
sentações sobre saúde e doença na sociedade. gata as continuidades e rupturas dessa história
São lembradas, nesse sentido, as aborda- na constituição da sociedade ocidental.
gens da história das doenças, aproximando-se Alves & Rabelo (1998) reconhecem a con-
ou não de correntes antropológicas. Não se tra- tribuição dos estudos de representações e prá-
ta de retomar a produção dos estudos históri- ticas de saúde e doença para o entendimento de
cos, que foge dos propósitos deste texto. Os es- matrizes culturais dos grupos sociais, que per-
tudos de Carrara (1994; 1996) exemplificam mitem ultrapassar a objetividade dos estudos
como a sífilis (mal coletivo e ameaça) mobili- epidemiológicos e apontam as limitações de
zou vários discursos e práticas, cujo desenrolar seu uso: 1) a determinação das representações
foi acompanhado desde os finais do século 19 sobre as práticas; 2) a ênfase nos modelos fe-
até os meados da década de 1940. Em torno de- chados de significação (corpo, saúde e doen-
la os médicos especialistas sifilógrafos, diz o au- ça); 3) a necessidade de deslocar a atenção da
tor, souberam com maestria fazer com que, pela doença como fato (como dado empírico ou
sífilis, passassem não apenas o destino dos doen- signo) para a doença como experiência. Resga-
tes, mas o de uma série de entidades que trans- tam as perspectivas fenomenológica e pragmá-
cendiam o indivíduo: a família.... mas também a tica, associadas à interpretação hermenêutica.
sociedade, a raça, a nação, a humanidade, a es- Colocam em relação o pensamento e a ação, a
pécie (Carrara, 1996). consciência e o corpo, a cultura e individuali-
Ele mostra a articulação dos discursos mé- dade, cuja retomada dos estudos, sob esta pers-
dicos com outras forças e campos sociais, que pectiva, será feita adiante.
engendram resoluções para o problema ve-
néreo e todos eles geram representações sobre Representações do corpo, saúde
a doença. A sugestão do autor de se fazer uma e doença
antropologia da ciência, pela via do desenvol-
vimento conceitual da sífilis ou de sua constru- Reportando-se a autores nacionais e inter-
ção social, requer o recurso a inúmeras fontes nacionais (Mauss; Durkheim; Bourdieu; Herz-
disponíveis, tais como: manuais clínicos, rela- lich; Boltanski; Auge; Montero; Loyola; Duar-
tórios de pesquisa laboratoriais, livros didáti- te), várias etnografias (Knauth, 1992; 1992; Vic-
cos, dentre outros que podem oferecer fontes tora, 1995; Oliveira, 1998) abordaram as repre-
mais teóricas para o estudo dos aspectos noso- sentações do corpo e doença ou do seu funcio-
lógicos da doença e sua terapêutica. namento e estrutura, a partir dos pressupostos:
Na abordagem histórica das representa- 1) cada sociedade ou grupo social dispõe de
ções sociais da doença, Sevalho (1993) percor- maneiras específicas de conceber e lidar com o
re um conjunto de autores como Foucault, Ta- corpo, sendo que o saber biomédico contri-
mayo, Le Goff, Capra, Rosen, Canguilhen e ou- buiu, ao longo da história, na difusão de sua
tros, mostrando as continuidades e desconti- naturalização, tida como universal; 2) da doen-
nuidades, das distintas concepções de doença, ça, como fenômeno social, que é capaz de esta-
desde a Antiguidade até o início do século 20. belecer uma relação entre as ordens biológica e
Concordando com as palavras de Le Goff, cita- social, atingindo concomitantemente o indiví-
das pelo autor, a doença pertence não só à histó- duo, no que deve à biologia – o seu corpo –, a
ria superficial dos progressos científicos e tecnoló- sociedade e as relações sociais; e 3) das muitas
gicos, como também à história profunda dos sa- indagações e significados, suscitados pela
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doença na sociedade, superando os estreitos li- de apontar o quanto as mensagens veiculadas


mites biológicos do corpo e as explicações bio- se transformam, através de outro referencial,
médicas. norteador das práticas cotidianas, envolvendo
Os estudos confirmam os achados de mui- uma visão de mundo e o sistema de representa-
tos outros: a percepção da doença dando-se ções sociais a respeito do corpo. Trata-se ainda
através de alguns sinais e sensações corporais, de admitir as matrizes de significações cultu-
indicativos de que “algo” impede o funciona- rais, suas diferenças e convivências, diante da
mento “normal” do corpo (dor, febre, não heterogeneidade e coexistência dos sistemas de
dormir, não comer, fraqueza) e pela incapaci- significação, presentes na sociedade.
dade de realizar as atividades cotidianas e de Ferreira (1995) aprofundou o significado
trabalhar, em qualquer modalidade assalariada do “estar doente”. A percepção se dá através de
ou não, assim vista por homens e mulheres. conjunto de sensações desagradáveis e sintomas
Essa forma de perceber a doença bem ex- (cansaço, fraqueza, dor, mal-estar, falta de ape-
pressa a importância do uso social do corpo co- tite, sono, febre), sendo o corpo (sígnico) vei-
mo meio de existência para aqueles que dele de- culador de mensagens que, ao serem apropria-
pendem para sobreviver. Assim, o significado das pelo médico ou pelo indivíduo, conduzem
da doença remete à ordem social, porque sua ao significado da doença.
presença tanto afeta a reprodução biológica do A seu ver, a doença é uma construção so-
indivíduo, quanto a sua reprodução social, em cial, e a cultura, plena de significações, somen-
termos de reprodução das condições de exis- te tem valor se compartilhada pelo grupo so-
tência (Knauth, 1992). cial. Os relatos sobre a dor sinalizam o sofri-
Além desse significado, Minayo acrescen- mento; a enfermidade e o estar doente. Diz a
ta o peso das contradições e conflitos sociais do autora que a percepção e os relatos a respeito
sistema de dominação que, uma vez transposto da dor são influenciados por muitos elemen-
e mediado pelas relações estabelecidas da me- tos. São eles a vivência cultural do doente, o seu
dicina do trabalho com as classes trabalhado- repertório lingüístico, o seu domínio ou não dos
ras, situa a doença na incapacidade para traba- termos médicos, suas crenças e representações so-
lhar produtivamente, reproduzindo, no plano bre o corpo e doença, as suas experiências indivi-
das idéias, o âmago das relações de apropria- duais e geral, e suas experiências e sua memória
ção e expropriação dos corpos dos trabalhado- específica quanto à sensação de dor (Ferreira,
res na sociedade capitalista. Para os seus infor- 1995).
mantes “saúde é “riqueza”, “fortuna”, “tesou- Os estudos de Victora (1995) e Leal (1994)
ro”, em oposição à doença, como castigo, des- ilustram as idéias que mulheres de grupos “po-
graça, infelicidade e miséria” (Minayo, 1992). pulares” têm do funcionamento de seu corpo,
Prossegue a autora, e a despeito do contato quanto à sobreposição do período fértil e
dos trabalhadores com as idéias dominantes, eles menstrual. Explicam essa concepção a partir de
criam códigos próprios, conforme o lugar ocupa- uma lógica do movimento de abrir e fechar o
do na sociedade, traduzidos no modo de vida. As corpo e das qualidades de calor e umidade as-
representações da saúde e doença fundam-se ain- sociadas ao sangue menstrual. Com isso o pe-
da nas raízes tradicionais (crenças e valores) re- ríodo fértil associa-se, na concepção das mu-
lativos ao corpo, vida morte e nas experiências lheres, ao período menstrual, com implicações
de vida (Minayo, 1992). Outros autores confe- nas práticas contraceptivas.
rem maior autonomia à “cultura popular” nos Homens e mulheres percebem diferente-
seus modos de significação, pela via do concei- mente os seus corpos. As mulheres lhes dedi-
to de matrizes culturais de significações, como cam maiores cuidados; preocupam-se com a
mediações capazes de re-semantizar e reorde- estética e com a apresentação pública do corpo.
nar os elementos culturais produzidos por ou- Os homens, observados por Jardim (1992) nas
tro grupo, de modo que as mensagens da mí- conversas com eles nos bares, julgam que o ex-
dia e o próprio discurso médico podem ser cessivo embelezamento corporal sinaliza com-
reinterpretados nos termos daquela cultura (- portamento efeminado e compartilham o gos-
Leal, 1994). to “descuidado” e as comidas gordurosas. Ne-
Não se trata apenas de uma leitura que po- gociam, no cotidiano, a busca da igualdade do
lariza dominados e dominantes, creditando aos gosto masculino, o que torna o corpo não ape-
primeiros resistência, conformismo ou trans- nas objeto de pensamento, mas um operador
formação criativa das idéias dominantes, mas prático.
116

Ferreira (1998) estudou as práticas de cui- cluem, segundo Claro, as relacionadas ao mun-
dados corporais a partir da experiência social e do natural (ambiente, clima, contato com ani-
descartou a existência de modelos que as presi- mais e substâncias tóxicas, sujeira e coisas po-
dem, uma vez que se embebem na ação, apro- luídas); as individuais, centradas nos compor-
ximando-se das posturas fenomenológicas. Es- tamentos morais, na hereditariedade e velhice;
sas práticas envolvem: o uso do médico, dos as sobrenaturais (karma, predisposição, fatali-
medicamentos e de outros recursos de cura dade) e as alimentares, em especial, a ingestão
(simpatias e remédios caseiros), uma vez per- da carne de porco, relacionada à idéia de sujei-
cebidos os sinais corporais, junto com os cui- ra. O contágio não é mencionado como causa
dados com a higiene principalmente, sem que da doença e os seus riscos se potencializam,
a idéia de prevenção esteja presente, tal como diante da “fraqueza” corporal (Queiroz & Pun-
definida pela medicina. A noção de tempo, en- tel, 1997).
tre as classes populares francesas, estudadas As representações sobre a tuberculose cen-
por Boltanski (1979) deve ser melhor explora- tram-se no “destino” e na percepção do corpo
da na compreensão da dissonância entre o ele- fragilizado, cujas causas incluem o desgaste
vado grau de previsibilidade que os comporta- físico, provocado pela exposição prolongada
mentos médicos preventivos suscitam e o bai- ao frio e ao trabalho, o enfraquecimento físico-
xo grau dessa previsibilidade, tão presentes nas moral, os efeitos da contaminação ambiental e
práticas daquelas classes. Os estudos sobre a da hereditariedade (Gonçalves, 1998). A sus-
Aids, como veremos, reiteram a ausência da- pensão dos tratamentos médicos ocorre quan-
quela idéia. do cessam os sinais corporais associados à do-
ença; restauram-se as “forças” do corpo, volta-
Representações sobre doenças se ao trabalho e são retomados os papéis e obri-
específicas gações familiares como sinalizadores da saúde,
embora possam não estar totalmente curados,
Pesquisas das representações sobre a han- segundo a concepção médica.
seníase e seu tratamento partem da experiência A questão do abandono do tratamento mé-
da clientela com os serviços de saúde; focalizam dico, pesquisado pela autora, mostra que o ofi-
as relações sociais dos adoecidos e os significa- cialmente utilizado não está adequado ao mo-
dos atribuídos à doença. Destacam alguns as- do de vida da clientela dos serviços de saúde. O
pectos: 1) as mudanças promovidas nas insti- abandono pode ser temporário ou definitivo,
tuições médico-sanitárias na institucionaliza- entre os alcoólatras, os portadores de Aids; de
ção dos adoecidos, antes excluídos e agora in- distúrbios psicológicos e indigentes. Além dis-
tegrados à sociedade; 2) as modificações tecno- so, os tratamentos instituídos pelo uso regular
lógicas e terapêuticas para o tratamento; 3) os e intenso de medicamentos não devem ser des-
seus efeitos na redução do processo de estig- cartados dos motivos do seu abandono, ainda
matização, uma vez alterada a forma de classi- que uma parcela da clientela a eles se submeta
ficação dos doentes pela medicina; 4) a insufi- e aceite as prescrições e condutas médicas, va-
ciência da presença de sinais na pele na indica- lorizando o seu poder de cura.
ção da doença, uma vez que não impedem o Diferenças de gênero, na percepção de do-
uso intenso corporal nas atividades cotidianas; enças ou de suas causas, fazem-se na hansenía-
5) o recurso a múltiplos tratamentos, os médi- se: as mulheres se preocupam mais com a apa-
cos, religiosos, os dietéticos e naturais (Claro, rência corporal e com as deformidades físicas
1995; Queiroz & Puntel, 1997). que a doença pode acarretar. Devido às razões
Apesar da incorporação, no discurso dos estéticas ocultam a doença e, ao se relaciona-
profissionais de saúde, da designação oficial da rem com os serviços de saúde movem-se pelos
doença, os entrevistados usam ainda o termo padrões físicos e morais, com forte preconceito
“lepra”, acompanhado do estigma social. A re- e insatisfação com a perda de seu status na fa-
dução do estigma pelos empenhos da medici- mília, embora tendam a aceitar mais facilmen-
na parece parcial e os estudos deixam entrever te os diagnósticos médicos e busquem na reli-
a persistência da autodepreciação dos adoeci- gião as soluções alternativas para se livrarem
dos e preocupações com a preservação de sua do “castigo”, que julgam merecer. Os homens
imagem social, cuja análise não se reduz aos relutam em aceitar os diagnósticos e as conse-
elementos de ordem subjetiva, conforme suge- qüências da doença sobre as suas atividades li-
re um dos estudos. As causas da doença in- gadas à sobrevivência. Quando reconhecida a
117

doença, reestruturam as suas vidas e as relações dade. Se o sofrimento pode fragilizar e desinte-
afetivas e sociais (Oliveira, 1998). grar a pessoa, é também ponto de partida para
Os homens se referem ao desconhecimento a construção ou reconstrução da identidade so-
das causas da “hipertensão” e, quando interro- cial. Neste caso, a análise dos rituais de cura,
gados, hesitam em respondê-las. As mulheres nas casas de culto afro-brasileiro mostra a in-
as associam ao “nervosismo”, ao excesso de ali- corporação de distintos modelos de realização
mentação (gordurosa) e ao alcoolismo. Ela é de pessoa que, para terem sucesso, afirmam os
mais percebida através das sensações corporais, autores, requerem a socialização prévia do
como “tonturas”, “zoeira na cabeça”, “cansa- adoecido ou de sua família. Assim, a adesão
ço”, “dor de cabeça” (Carvalho et al., 1998). dos envolvidos dá-se apenas quando a ação
Observa-se que popularmente o termo hiper- mágica ou força sobrenatural evocam-se como
tensão não é utilizado, e sim “pressão alta”. causas do sofrimento.
Ao cessarem essas sensações pelo uso da Vários estudos antropológicos, enquadra-
medicação e não se sentindo mais doentes, os dos no tema representações sobre a Aids, se
idosos adoecidos entrevistados neste estudo aproximaram dos adoecidos, dos soropositi-
tendem a abandonar o uso de medicamentos, vos, das clientelas de serviços de saúde; de seg-
embora incorporem mais facilmente a cami- mentos populacionais diversificados ou das
nhada e a dieta com menos sal e gordura. A pri- classes trabalhadoras urbanas.
meira prescrição implica o uso corporal mais A epidemiologia, desde a emergência da
intenso que encontra maior ressonância nas Aids, valeu-se do conceito de grupos de risco
classes trabalhadoras, enquanto o uso de dietas para classificar uma ampla variedade de pes-
contraria-lhes as práticas e representações ali- soas potenciais ou efetivos portadores da doen-
mentares, uma vez que sal e alimentos gordu- ça e seus comportamentos e, certamente, a di-
rosos são valorizados por outorgarem “força” fusão deste conceito muito contribuiu para
ao corpo que trabalha. É provável que os ho- que a percepção dessa doença se associasse à
mens ativos profissionalmente resistam mais crença da “doença gay”, “dos desviantes se-
àquelas prescrições alimentares do que os apo- xuais” (Loyola, 1994).
sentados, que foram objetos desta pesquisa. O estudo de Paulilo (1999), através das
Explorando as narrativas de pessoas ligadas narrativas dos adoecidos de homens que fazem
ao pentecostalismo e às casas de culto afro-bra- sexo com homens, conclui que o sentido dado
sileiro, Rodrigues et al. (1998) observam que o ao “risco” nunca coincide com as idéias de gru-
discurso das concepções e representações das pos ou comportamentos de risco, incluídos no
causas das doenças envolve a ligação entre a discurso epidemiológico. A partir das expe-
pessoa e a moléstia, esta última como experiên- riências subjetivas, intersubjetivas, dos contex-
cia física e subjetiva, enquanto as causas das do- tos socioculturais e individuais, apreendeu os
enças são referidas às explicações que permi- seguintes significados dados ao risco pelos in-
tem responder por que a doença ou o sofrimen- formantes: a sua negação; a hierarquização; a
to ocorreu num dado momento das trajetórias afirmação de outros valores (prazer, vínculos
de vida dos informantes, tratando-se de con- afetivos, trocas ligadas ao sexo e ao uso de dro-
cepção de causalidade não linear e distinta da gas); a desconfiança das afirmações da ciência
racionalidade médica. Assim sendo, a causali- médica versus a confiança no parceiro/parceira
dade para o sofrimento associa-se ao plano fí- e a idéia de invulnerabilidade pela paixão e
sico, a partir da descrição corporal; ao plano amor. Este estudo, como muitos outros feitos
de qualidades atribuídas à pessoa e a um plano entre segmentos populacionais “sadios” sobre
não material remetido às relações sociais, do várias dimensões que cercam as percepções da
trabalho e ao plano mágico-espiritual. Aids e dos comportamentos, chama a atenção
Cada um desses planos engloba as catego- para os limites das estratégias, conceitos e mo-
rias “êmicas” dos discursos dos informantes, delos que ancoram as intervenções médico-sa-
submetidas a um esforço do pesquisador de nitárias (Corrêa, 1994; Loyola, 1994).
construir um modelo de explicação da causali- Outras reflexões sobre as representações da
dade, a partir da experiência da pessoa em sua Aids centram-se nos elementos que a configu-
relação com a doença. Trata-se, nesta aborda- ram simbolicamente e não apenas como doen-
gem, de fazer prevalecer um sistema mais am- ça física, mas na sua articulação com a socieda-
plo de significações, perpassando as experiên- de e a cultura. A Aids evoca, simbolicamente, a
cias, as noções de pessoa, sofrimento e identi- morte, o sexo, o contágio, a punição, a acusa-
118

ção e o pânico e múltiplas relações sociais: a lósofos e lingüistas hermeneutas, interacionis-


negação, a culpabilização, o estigma, o precon- tas simbólicos e etnometodólogos. Focalizam a
ceito e a discriminação, encarnando a repre- experiência da enfermidade “mental”. Empre-
sentação do mal e das maledicências sobre o gam narrativas, estudos de caso ou as histórias
mal, no imaginário ocidental (Birman, 1994). de vida de adoecidos e de seus familiares, que
Ela condensa um conjunto de metáforas e permitem ao pesquisador reconstituir as inter-
associa-se a outras doenças desaparecidas, lon- pretações, ambigüidades e incertezas dos discur-
gínquas, como a peste, ou as mais modernas, sos e práticas diante da doença, as escolhas dos
como o câncer. No espaço público tornou-se tratamentos e sua avaliação (Alves, 1993; 1994).
objeto de múltiplas elaborações discursivas que Esses estudos partem da enfermidade, isto
lhes deram sentido (Herzlich, 1992). Lembra a é, de sua experiência submetida à interpretação
autora que a Aids é também um discurso so- do senso comum – uma forma de conhecimen-
bre o “outro”, o estranho, o longínquo e um to eminentemente prático, sendo sempre expe-
discurso imputado ao outro. À medida que rimentada, vivida, manipulada e negociada de
ampliaram a sua incidência e disseminação, diferentes maneiras, diferindo-se do saber mé-
nos grupos sociais empobrecidos, a Aids bana- dico, que concebe a doença como fenômeno
lizou-se; deixou de ser a doença do “outro” patológico e biológico.
longínquo, mas do “outro próximo” e “conhe- Ao rever a literatura socioantropológica
cido” (Knauth et al., 1998). Gerou ainda o es- norte-americana sobre a questão da enfermi-
tigma do “aidético”, deixou marcas nos seus dade, Alves (1993) sugere que a compreensão
corpos, desconfiou dos portadores e excluiu-os da enfermidade prende-se à experiência, con-
do convívio social (Seffener, 1995). trapondo-se aos estudos de representações e às
Comparando a Aids com a sífilis, afirma perspectivas sistêmica, estrutural ou histórico-
Carrara (1994): como a Aids hoje, a sífilis envol- estrutural de análise. Nas suas palavras: é a ex-
veu representações sociais muito amplas, que in- periência do sentir-se mal que, por um lado, ori-
cidem sobre os mesmos pontos: a sexualidade gina por si mesma as representações da doença e,
(em especial os comportamentos considerados ex- por outro, põe em movimento a nossa capacida-
cessivos, desviantes e promíscuos), o medo do de de transformar esta experiência em conheci-
contágio e da contaminação; a decadência ou a mento. É através das impressões sensíveis produ-
possibilidade de uma morte coletiva. Morte, se- zidas pelo mal-estar físico ou psíquico que os in-
xo e medo são temas associados à Aids, na di- divíduos se consideram doentes.
vulgação feita pela imprensa e literatura médi- Portanto, a enfermidade pressupõe, em
ca, na emergência da doença. Sua associação à parte, um processo subjetivo que é apreendido
homossexualidade, contribuiu para a estigma- a partir de um conjunto de sensações corpo-
tização das escolhas sexuais. rais, sendo o corpo a matéria do mundo sensí-
Algumas religiões produziram um discurso vel e do próprio conhecimento e, pela constru-
de condenação dos comportamentos trans- ção do(s) significado(s) para o(s) outro(s),
gressores, usando a doença como símbolo de orienta-se nas relações sociais no mundo da vi-
castigo divino (Ribeiro, 1990; Fernandes, da cotidiana, naquele sentido dado por Schutz
1990). O ativismo em torno da Aids muito ao senso comum. Este é capaz de fornecer có-
contribuiu para as mudanças de atitudes em digos de referência para os indivíduos, da mes-
relação aos adoecidos, através da solidariedade ma forma que as suas biografias de vida estão
e apoio e não da sua condenação e exclusão pe- eivadas de um conjunto de tipificações, que
lo preconceito (Galvão, 1994). lhes oferecem estoques de conhecimento à
mão.
Experiências e significados Sem que esta experiência prenda-se exclu-
da enfermidade ou do sofrimento sivamente aos aspectos subjetivos, o autor afir-
ma o seu caráter intersubjetivo, que fornece re-
Vários autores estudaram as doenças “men- ferências ou os padrões culturais, que são in-
tais” ou a categoria “nervoso” entre as classes ternalizados pelos indivíduos, ao mesmo tem-
trabalhadoras urbanas, localizadas em vários po em que se formam os padrões nos proces-
pontos do país. Um grupo de pesquisas reporta- sos e interpretações construídos na intersubje-
se a autores, oriundos da antropologia médica tividade. As análises produzidas, sob essa pers-
norte-americana, da corrente fenomenológica pectiva, prendem-se aos microprocessos so-
(Merleau-Ponty, Hurssel, Schutz), junto com fi- ciais, atendo-se à interpretação e remontagem
119

dos discursos de seus entrevistados, na sua re- ainda a partir da interpretação e significação
lação com o contexto em que foram produzi- dadas por mulheres “nervosas” às múltiplas ex-
dos, incluindo o sujeito, a fala, a resposta aos periências socioafetivas e relacionais que afe-
eventos, pessoas e outras falas (Rabelo, 1999). tam a construção de sua identidade (Hita,
Por esta via os autores identificam, inter- 1998).
pretam e demonstram como indivíduos, As reflexões de Duarte, que pesquisou os
oriundos das classes populares, lidam com a significados do “nervoso” entre as classes tra-
“doença mental”, um problema que requer so- balhadoras urbanas na década de 1980, con-
luções e a mobilização de um conjunto de de- tinuam reiterando a centralidade da noção de
cisões e de recursos terapêuticos. As inúmeras pessoa que engloba aquele fenômeno na cultu-
publicações, feitas individualmente ou em co- ra ocidental moderna, comportando múltiplos
laboração por Alves e Rabelo e seus colabora- sistemas simbólicos para explicá-la. São eles: a
dores, reuniram-se, em parte, nas coletâneas biomedicina; as teorias psicologizante e socio-
(Alves & Rabelo 1998; Rabelo et al., 1999). logizante, junto com as configurações culturais
Apesar de algumas diferenças nas suas aborda- das classes populares brasileiras, latino-ameri-
gens reiterarem sempre que a experiência não cana e presentes noutros grupos contemporâ-
decorre apenas de modelos internalizados, sen- neos e oitocentistas (Duarte, 1994), que não
do o doente um personagem capaz de comuni- individualizam ou psicologizam os “nervos”,
car e refletir sobre ela. integrando-os na noção de pessoa (físico-mo-
Ao libertarem os sujeitos das amarras das ral).
determinações, estes ganham maior liberdade Através de um culturalismo radical, o autor
(às vezes excessiva), diante de quaisquer cons- pretende criar uma teoria abrangente capaz de
trangimentos que possam pesar sobre eles. Há dar conta das continuidades e permanências
portanto, uma permanente e até excessiva flui- das diferenças culturais, na cultura ocidental
dez dos processos socioculturais e a ausência moderna, pela via comparativa. As categorias
de relações de força e poder, na “realidade” biomédicas, por esta e por outras abordagens
permanentemente construída e reconstruída. etnográficas, ancoraram nos sistemas de signi-
As narrativas fornecem visibilidade às co- ficação.
municações, hesitações, mudanças dos signifi- As suas contribuições recuperam a designa-
cados atribuídos nas interações sociais, antes ção físico-moral para qualificar as concepções
muito esquecidas sob as macrodeterminações. do “nervoso”, entre as classes trabalhadoras,
Essas pesquisas contribuíram para evidenciar reconhecendo o caráter de vínculo ou mediação
crenças e valores, construções de conhecimen- de que esses fenômenos se cercam nas relações en-
to e a construção dos significados dados pelos tre a corporalidade em todas as demais dimen-
indivíduos à enfermidade. Deixam de abordar, sões da vida social, inclusive e eventualmente a
quando analisam os itinerários terapêuticos, espiritual ou transcendental (Duarte, 1998).
qualquer tipo de influência que possa ter a or- Neste caso, o trabalho etnográfico oferece ma-
ganização da produção/oferta de bens de servi- terial substantivo aos esforços comparativos,
ços de cura (oficiais e não oficiais) nas escolhas sendo-lhes secundários os múltiplos arranjos
terapêuticas e serviços, embora mostrem tam- ou variações que possam comportar as práticas
bém em dadas experiências de cura os modelos sob outras configurações simbólicas no inte-
religiosos de doenças (Rabelo, 1993). rior de situações ideológicas mais homogêneas
Pela via das narrativas, Silveira (2000) des- e que podem, em dadas esferas (no consumo,
vendou o significado do “nervoso”, analisan- por exemplo) e entre as novas gerações, vir a
do-o como experiência e linguagem sobre um configurar mudanças ou a conquistar novos
conjunto de aflições e problemas sociais e indi- contornos, estranhos aos valores holistas pre-
viduais, e compreendeu as explicações sobre valentes nas classes trabalhadoras, expostas
suas causas e os limites da biomedicina para li- ainda a futuras pesquisas.
dar com este fenômeno. Outra pesquisa mos- Os estudos deste autor reafirmam o quanto
trou o seu caráter polissêmico, associado a vá- a ideologia individualista não está presente na
rios signos: a violência e agressividade; a agita- cultura da classe trabalhadora, e não é casual
ção e impaciência; a tristeza e isolamento, que recusem o psicologismo, embora não o fa-
abarcando conjuntamente o “descontrole” e a çam em relação a todos os serviços e recursos
“fraqueza dos nervos” (Rabelo, 1997). O “ner- diagnósticos e terapêuticos ofertados pela me-
voso”, como experiência fragilizadora, foi visto dicina, que são sistematicamente demandados
120

e valorizados no universo das representações ferenças.


e no quadro das expectativas consolidadas de O enfoque da(s) sexualidade(s) masculina
consumo por bens coletivos, dentre eles os de prevaleceu na exígua literatura antropológica
saúde, na sociedade urbano-industrial (Canes- nacional da década de 1980, que se expandiu
qui, 1992). É possível que a valorização da pro- na década de 1990, seja pelo advento da Aids
teção social coletiva ancorada nos valores so- ou pela interlocução multidisciplinar a respei-
lidários coexista em segmentos da classe tra- to. Entre as disciplinas das ciências humanas,
balhadora, com a ideologia da autoproteção admite Loyola (1998), a antropologia está bas-
social, que pela via liberalizante mais intensa- tante apta para abordar a sexualidade, uma vez
mente disseminada quer preencher aquelas ex- que, a partir das relações sociais, a diversidade
pectativas. social e cultural, os sistemas cognitivos e sim-
Apesar do persistente antagonismo feito bólicos são questões que se apresentam a partir
entre as racionalidades “popular” e “médica”, deste objeto. Ao rever os estudos antropológi-
Duarte (1999) pertinentemente sugere que é cos clássicos e contemporâneos, conclui que a
preciso explorar com cuidado a crença nas re- sexualidade foi abordada na sociedade e na
presentações populares na medicina e suas téc- cultura, dentro das normas que a regem e não
nicas, especialmente nas que produzem a evi- foi segmentada como objeto em si.
dência empírica concreta do seu poder, tais Duas posições estão presentes em torno da
como: as intervenções cirúrgicas, os aparelhos sexualidade: o essencialismo e o construtivismo
corretivos e as próprias cicatrizes, paralela- (Vance, 1995; Heilborn, 1999; Loyola, 1998). A
mente ao fetichismo das radiografias, dos exa- primeira centra-se na natureza humana (o ins-
mes de sangue, das receitas e dos remédios. tinto, a energia sexual), restringindo a sexua-
Argumenta que não se pode negar a capaci- lidade à fisiologia, reprodução da espécie e à
dade dos discursos dos profissionais de saúde e pulsão psíquica. A segunda desconstrói, desna-
do médico de produzir sentido para as classes turaliza e desuniversaliza as categorias e rela-
populares, apesar de sua reinterpretação. O ções entre as categorias que marcam os estu-
discurso do médico, na sua prática profissio- dos. Na versão radical do construtivismo, afir-
nal, vale-se da lógica do pensamento “concre- ma Vance, prevalece a construção do desejo se-
to” e “selvagem”, permitindo um mínimo de xual pela cultura e pela história a partir das
mediação entre os dois mundos simbólicos energias e capacidades do corpo. Noutras ver-
distintos. A necessária distinção entre as dis- tentes os significados subjetivos, os comporta-
cussões paradigmáticas e a polarização dos sa- mentos, a ideologia e o próprio corpo, suas
beres erudito e popular sugere o deslocamento funções e sensações, são incorporados e media-
para a produção de sentido no âmbito da prá- dos pela cultura.
tica médica, em que também ocorrem formas Na introdução da coletânea Sexualidades
de comunicação, ressocializações, aprendiza- Brasileiras, Parker & Barbosa (1996) defendem
gem, relações sociais, sem que tudo possa ser os necessários laços entre a ciência, ética e po-
fruto exclusivo de relações de dominação e po- lítica para entender a sexualidade. Para vários
der ou, sob outro ângulo, puras inadequações autores, partícipes dessa coletânea, a sexua-
ou reações de resistência às intervenções. lidade, as crenças e convicções a respeito são
modeladas pelos significados culturais e valo-
res, pelo sistema de poder político e social e
Gênero, sexualidade e doença pelos processos históricos e rede de significa-
dos inseridos no mundo social. A sexualidade,
Com o advento da Aids, nas pesquisas biomé- como construção social, norteia os vários es-
dicas foi ampliado o interesse em torno da dis- tudos e reflexões, opondo-se ao essencialismo,
tribuição e incidência da enfermidade; dos ti- que, em função de uma razão universal, paira
pos de comportamentos transmissores do HIV/ sobre as condutas e os significados do que seja
Aids, da mesma forma que nas ciências huma- sexual, restringindo-a às dimensões psíquicas
nas, nos movimentos sociais (feminista, gays e e reprodutiva. Ao contrário, ela se impregna
lésbicas) combinou-se a produção de conheci- das convenções culturais que modelam a exci-
mento de natureza mais reflexiva com aquela tação, a satisfação erótica e as sensações físi-
capaz de informar, reduzir a discriminação so- cas, implicando processos de socialização
cial e de promover valores de dignidade, igual- (Parker, 1994).
dade e equidade, ou o direito do cidadão às di- Parker (1994) designa de “ideologia do ero-
121

tismo” o sistema de representações culturais e lo de comportamentos irregulares ou desvian-


constructos simbólicos que moldam uma lei- tes do modelo monogâmico, gerador de des-
tura da compreensão erótica no contexto bra- confiança do marido/companheiro ou da mu-
sileiro, que se marca pela transgressão, como lher/companheira (Guimarães, 1994). A noção
particularidade da cultura sexual no Brasil, on- de familiaridade do conhecimento do outro re-
de “tudo pode acontecer” e a dicotomia ativo e ge a percepção das mulheres de proteção con-
passivo é estruturante das noções de feminili- tra o HIV, embora não desconheçam as causas
dade e masculinidade, servindo de princípio da doença (Guimarães, 1996).
organizador de um mundo muito mais amplo As várias pesquisas de Knauth concluem
de classificações sexuais da vida cotidiana bra- sobre o silêncio generalizado das mulheres so-
sileira. Sob o argumento de aquela ideologia bre a soropositividade e Aids; a sua recusa de
não ser generalizante e nem compartilhada por se reconhecerem doentes ou contaminadas por
todos, Guimarães (1996) e outros autores des- seus parceiros e, nesta condição, não rompem
locam o seu olhar para as relações sociais con- a aliança com eles e nem os culpam e julgam
cretas e vividas; as especificidades da sexuali- ser da “natureza” do homem o experimento
dade e sua ordenação por homens e mulheres das drogas e da homossexualidade (na adoles-
das classes populares, movidas por outros có- cência) e das relações sexuais com outras mu-
digos, em especial o do valor família, postos por lheres no espaço “da rua”. Se doentes ou con-
Duarte (1986) e Sarti (1996) e a forte morali- taminadas, preservam ou resgatam o status de
dade nas relações de gênero e sexualidade. mãe ou esposa, ou de filha perante a família,
Gênero, sexualidade e Aids foi tema de vá- desenvolvendo estratégias de enfretamento da
rias pesquisas. Dois enfoques estão presentes doença, que reforçam a identidade de espo-
nas análises sobre o gênero: o da construção so- sa/mãe (Knauth, 1997; 1999). Sugere a autora
cial da identidade e a relacional (Leal & Boff, o reordenamento das relações de gênero diante
1996). A partir do segundo enfoque mostra a da Aids e da doença em geral. Entre as mulhe-
autora que: 1) a construção da identidade mas- res e os homens a Aids sempre se apresenta co-
culina requer a aprendizagem de códigos que a mo doença do “outro”, conforme constaram
constroem como adulto e homem e que nor- os vários estudos.
teiam os papéis sexuais como ativos e passivos;
2) qualidades marcam a virilidade e feminili-
dade; 3) admite, em certos contextos, a dinâmi- Conclusão
ca de gênero na concepção de sexualidade en-
tre as classes populares através da justaposi- Em síntese, pode-se dizer que os estudos exa-
ção de valores individualistas sobre os holistas, minados nos falam menos da doença em si e
de maior individualização nas masculinidades mais de sua articulação simbólica na constru-
e de menor, no universo feminino nas questões ção das identidades sociais, relações de gênero
da intimidade e do desempenho sexual. e inserção nos parâmetros simbólicos estrutu-
Evidências similares foram postas por Heil- rantes da cultura. Quando resgatam as práti-
born & Gouveia (1999) na adoção de um dis- cas sociais são capazes de vislumbrar estraté-
curso “moderno” (mais individualista) em tor- gias e maiores dissonâncias entre pensamen-
no da sexualidade e sexo, em setores daquelas to, normas e a ação social ou ainda, percorren-
classes, embora reiterem as formulações de do as experiências e o senso prático exclusiva-
Duarte (1986) e Sarti (1996), mostrando que mente, colocam em evidência os adoecidos,
as mulheres não expõem suas vidas privadas ao suas ações e a construção dos significados dian-
escrutínio público, quando se trata das relações te da doença e na busca da resolução de seus
sexuais e das possíveis doenças. Preservam e problemas de saúde, ocultando as regularida-
reproduzem a imagem ideal feminina de “mu- des sociais ou os padrões estruturantes, sejam
lher de verdade” que lhe confere dignidade os sociais e políticos, sejam os culturais e sim-
moral (Guimarães, 1994). bólicos.
As demais pesquisas sobre a maior vulnera- Quando percorrem a história lançam luzes
bilidade das mulheres diante da contaminação sobre a mutabilidade e historicidade dos signi-
pelo HIV/Aids, pelos próprios parceiros, evi- ficados ou representações da doença ou do
denciam suas dificuldades de negociar a gestão corpo, mostrando, em certos casos, as fontes
dos riscos, pelo uso de preservativos (Barbosa, produtoras de sentido, dentre as quais está o
1996), prevalecendo nesta negociação o mode- saber médico entrelaçado com outros campos
122

sociais e políticos, ultrapassando o restrito sanitárias e psiquiatras. São emergentes temas


campo científico. Posta no âmbito da experiên- como: envelhecimento e a juventude, vistas nas
cia aflitiva do indivíduo, na cultura e ideologia relações com a saúde, intervenções médicas e
e no campo de lutas e contradições sociais, a com o universo sociocultural que as constitui e
doença e suas representações condensam múl- modela; as tecnologias, relações sociais e signi-
tiplas determinações. É na calibragem ou no ficados, que tanto invadem o cotidiano, as aspi-
percurso das mediações entre o coletivo/indi- rações, as que projetam imagens, modelam e
vidual e estrutura/ação que se podem encon- recriam os corpos, imprimindo novas formas
trar caminhos menos polarizados e construti- ao embelezamento, maiores precisões dos diag-
vismos menos radicais. nósticos e alterações na reprodução humana.
Não se põe dúvida, após esta exposição, na Faz sentido voltar os olhos para outros seg-
densidade e importância dos estudos nos temas mentos sociais que não exclusivamente as clas-
examinados. Devido a sua abrangência faltou ses trabalhadoras, predominantes nos estudos,
espaço para abordar outros que foram pesqui- como também estar atento para as transforma-
sados, destacando-se: a sexualidade e reprodu- ções valorativas que possam estar operando no
ção humana ou corpo e reprodução humana, seu interior, em especial, na sua relação com a
que dispõem de uma revisão bastante atualiza- medicina, os médicos, instituições e profissio-
da, feita por Giffin & Cavalcanti (2000), enfati- nais de saúde e nas esferas do consumo e de ou-
zando a maneira como os homens se incluíram tras relações sociais.
nestes estudos. Não é mais invisível a antropologia da saú-
Não foram abordados os sistemas de cura, de/doença no Brasil, e os esforços nesta dire-
imersos nos campos religioso, nas demais me- ção parecem bem-sucedidos, se forem perma-
dicinas, sob outras racionalidades, que se tor- nentes, apesar das diferentes vocações intelec-
nam cada vez mais incrementados na socieda- tuais, cujo convívio mais indica a vitalidade da
de contemporânea, combinando-se com a me- nova especialidade do que a sua inviabilidade,
dicina oficial e que são objetos de estudos so- embora se espere, no âmbito da saúde coletiva,
ciológicos e antropológicos. Agregam-se a estes que as ciências sociais dialoguem entre si per-
o uso de métodos qualitativos na avaliação dos manentemente e com as demais disciplinas,
serviços de saúde, juntamente com as análises sem que se apartem nos limites estreitos das rí-
das instituições, intervenções médicas, médico- gidas fronteiras especializadas.

Nota

A revisão da literatura da produção acadêmica dos anos


iniciais da década de 1990 foi feita graças ao apoio do
CNPq, através de bolsa de produtividade à pesquisa.

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