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Parte I- Introdução ao Estudo do Direito

Titulo I- A ordem Jurídica

Capitulo I- A Ordem Social

1. O Direito como fenómeno humano e social

Humanos- Destinatários do Direito

O Direito é um fenómeno da ordem social e não do homem isolado. O homem vive em


sociedade para assegurar a sua resistência/ sobrevivência a para assegurar os seus fins

Há um vinculo estabelecido entre Direito e sociedade- pressupõe um grupo de pessoas


caracterizadas por uma determinada nota. Assim, forma-se um grupo social onde se criam
relações sociais

Pode-se, portanto, concluir que não há Direito sem Sociedade nem há sociedade sem Direito

Por conseguinte:

 Ibi jus, ibi societas- Onde há Direito, há sociedade


 Ubi societas, ibi jus- Onde há sociedade, há Direito

2.Grupos e Sociedade

A sociedade pressupõe a existência de um grupo de pessoas

A sociedade é um grupo social, isto é, formado por pessoas que estabelecem entre si relações
sociais

Nos grupos sociais mais vastos, salienta-se, a finalidade comum

Nem todos os grupos sociais são sociedades. A sociedade é um grupo estável e organizado

Grupos sociais

 Convivência direta- parentesco, natureza politica, religiosa, etc.


 Convivência indireta- o fim comum é o fator que interliga o grupo

Classificação de sociedade

 Sociedade perfeita- engloba toda a vida social, tem um elevado grau de exigência e
autossuficiência; um grupo de pessoas que prossiga determinados fins comuns; a
estabilização. Ex: Sociedade estatal com fins globais
 Sociedade imperfeita- está limitada a uma certa espera de vida- fins de natureza
cultural, económica, etc.
 Sociedade civil e sociedade politica
1. Sociedade civil- abrange a esfera da vida social não diretamente politica,
formada por grupos não diretamente políticos
2. Sociedade politica- abrange os titulares dos órgãos, grupos e organizações
politicas do Estado
 Comunidades e Associações
1. Comunidade- elemento espontâneo integrativo não racional; resulta de
fatores tradicionais
2. Associação- constituída por membros orientados/racionais
 Sociedades Maiores, Estaduais, Menores, Paralelas
1. Maiores- subordina as sociedades estaduais Ex: Comunidade internacional
submete os estados que a integram
2. Estaduais- formada por elementos racionais podendo estes não ter os mesmos
fins; insere-se apenas num Estado e organiza as necessidades dos seres
humanos
3. Menores
4. Paralelas- transcende a esfera social; não subordina as sociedades. Ex: igrejas

3.Ordem social

Há uma ordem quando os elementos de um conjunto são colocados uns em relação aos
outros, segundo um critério racionalmente apreensível

A ordem social respeita à ordenação de relações humanas

Nas sociedades humanas há uma certa ordem- embora também haja, conflito e instabilidade

A ordem social assenta na institucionalização a 2 níveis:

 Institucionalização de valores- tem de haver um consenso sobre um núcleo básico de


valores;
 Estabilização- a institucionalização das regras que transforma um grupo numa
sociedade; que exige normas de condutas; definição de papéis; etc.

O Direito é uma ordem, que faz parte da ordem social.

4.Componentes fácticos e normativos da ordem social

A norma tem a ver com a normalidade e a normatividade- adaptação ao ambiente

A norma ou regra serve para orientar condutas e descreve o comportamento devido, pois
vincula os seus destinatários a um determinado procedimento

Conduta conforme a regra/norma- valorada efetivamente

Conduta contra a norma- valorada negativamente contra a ordem jurídica

Ordem Normativa- é a realidade social porque um é um conteúdo da consciência comum a


uma pluralidade de pessoas que atua como motivação da sua conduta coordenada. A ordem
normativa cria padrões sociais de comportamento
Ou seja, a ordem normativa da sociedade tem de assentar num mínimo de efetividade das
regras e princípios de conduta que a integram, considerados no seu conjunto. Só assim a
ordem social pode realizar a sua missão institucionalizadora da sociedade

5.Ordem Social, natureza e cultural

A ordem natural é acentuada como matriz pois a natureza também se rege por determinadas
leis.

Será esta ordem igual à ordem social humana e de Direitos? NÃO

Enquanto a Natureza tem uma ordem geneticamente programada, a ordem normativa da


sociedade não é transmitida deste modo. A transmissão é cultural- as gerações transmitem
sabedoria

A ordem social é livre, não é determinística pois verificam-se acasos. Os seres humanos podem
não respeitar as regras e os princípios, mas também têm influencia dos mesmos

É caracterizada por violar ou guiar a ordem jurídica, dai ser livre. Esta ordem por ser de
liberdade é inspirada em valores e projeta-se em diferentes leis naturais e normas

Leis Naturais- conforme se corresponde à realidade/ a lei pode ser desmentida- relação causa-
efeito: proposição descritiva- verdadeiro ou falso

Normas- Podem ser violadas

6.Ordem social e comunicação

A comunicação constitui uma condição essencial para o estabelecimento da ordem social

A ordem social transmite valores e tradições. A comunicação é essencial para a formação da


ordem, existindo assim juízos de valor formados por cada um resultante das suas experiencias

Devem haver valores partilhados pela sociedade, dai as suas vivencias serem partilhadas
através da comunicação intersubjetiva para permitir a objetivação do juízo de valor. Enquanto
maior a comunicação, maior será o consenso para a criação da ordem na sociedade.

A mensagem deve ser clara e deve haver uma vontade de aprendizagem para não existir
constrangimento

Para que a regra jurídica entre na vida das pessoas é preciso que esta seja reconhecida

Quanto mais desenvolvida é a sociedade menos tradição há como vinculo de comunicação e


transmissão de conhecimento

A regra jurídica é possível ser formulada quando o conceito de utilização é conhecido

A forma como se comunica é essencial, mas a escrita é decisiva para a comunicação do Direito
e também para a sua aplicação. As regras ao serem fixadas por escrito um nível mais elevado
da cultura jurídica
7.As instituições sociais

Instituição social- efeito de edificar, constituir, ordenar tudo aquilo socialmente


institucionalizado- valores, normas, papéis….

Instituições sociais- forma de sociedade que pressupõe regras, valores, condutas, papéis e
outras estruturas sociais

Nesta ampla acessão, tanto é o valor jurídico como o instituto jurídico uma organização social

A instituição é utilizada como sinónimo da ordem social, significando que tudo o que é
normativo identifica-se com a ordem social e jurídica

Instituição- grupos dirigidos para determinados fins e ordenados à sua realização e execução

Organizações sociais- grupos dirigidos para determinados fins e ordenados à sua realização e
execução

8. Ordem social, conflito e evolução

Constituição- regras de conduta que vinculam os membros do grupo

A ordem normativa e o Direito, não desempenham exclusivamente uma missão estabilizadora


ou integradora.

O Direito também desempenha uma função de resolução de conflitos sociais e pode


desempenhar uma função de transformação social

O sistema evolui:

 Através da generalização ou desvalorização de valores


 Da formação de novas normas e a cessação de outras normas
 Do aperfeiçoamento dos papéis sociais através de uma adaptação às novas exigências
da cooperação humana
 Da diferenciação de organizações sociais, que passa pelo surgimento de novas
organizações, cada vez mais especializadas

O Direito ou pode acompanhar a evolução da sociedade, sem intuito de transformação social,


ou pode ser, um instrumento de transformação social

Uma outra razão pela qual o Direito também não desempenha so uma função estabilizadora
ou integradora reside na inevitabilidade dos conflitos sociais

O Direito regula as relações entre a sociedade e aqueles dos seus membros que violam a
ordem jurídica

9.Complexidade e pluralidade das ordens normativas


A ordem normativa é um fenómeno universal, mas não uniforme. A ordem normativa de uma
sociedade estadual coexiste com outras ordens normativas

Existe, no seio de cada ordem normativa, diversos sistemas ou complexos normativos

A ordem normativa é dividida em 2 níveis

 1ºnivel- na ordem normativa existem outras ordens normativas


 2ºnivel- existem Estados com ordem jurídicas complexas: base territorial e pessoal

Base territorial- diferentes sistemas jurídicos em diferentes circunscrições territoriais

Base pessoal- vigora o sistema jurídico para cada categoria de pessoa (religião, etnia, casta)

Capitulo II- A ordem jurídica como ordem normativa- Noções introdutórias

11.Imperatividade e vinculatividade

Ordem normativa- transcende o domínio do ser e do dever ser; valora o comportamento e


vincula a conduta dos destinatários

Toda a norma jurídica pretende vincular a conduta dos seus destinatários. A estatuição de
norma é um dever de conduta ou comando. A normatividade é identificada com
imperatividade

Há quem contradiga que todo o Direito tem um dever, tem uma conduta, todas as normas têm
um sentido imperativo e que a todo o Direito corresponde um dever

Nem todas as regras de conduta são injuntivas/imperativas, pois têm caráter valorativo que
não confere um sentido obrigatório

As normas podem não constituir imperativos, desencadeiam uma modificação no mundo


jurídico de caráter vigente

A imperatividade não é a normatividade das regras, mas sim da ordem jurídica- argumento
refutado pelo Prof. Dr. Luís Lima Pinheiro

Toda a norma tem um critério de valoração e desencadeia uma consequência jurídica- vincula
juridicamente com os sujeitos intervenientes

A ordem jurídica vincula a valoração das pessoas que correspondem enquanto critério de
conduta- vinculatividade

12.Direito Objetivo e Direito Subjetivo

Direito objetivo- sentido quando se reporta um critério geral de decisão e conduta- aplicável a
uma pluralidade de pessoas que não são determináveis no momento da sua formação

Direito subjetivo- posição de vantagem que resulta da afetação de um bem para os fins de uma
pessoa
13.A ordem jurídica

Orientação normativista- a ordem jurídica resume-se ao sistema de regras jurídica

Segundo o Prof. Oliveira Ascensão, os elementos da ordem jurídica são: instituições jurídicas,
os órgãos jurídicos, fontes de Direito, vida jurídica e situações jurídicas. As regras jurídicas são
uma expressão da ordem jurídica e não fazem parte como seu elemento

Segundo o Prof. Dr. Lima Pinheiro, os elementos da ordem jurídica são:

 Elementos normativos- regras jurídicas, princípios jurídicos, nexos intra-sistemáticos


 Valores da ordem jurídica
 Meios de tutela jurídica
 Estruturas sociais juridicamente relevantes
 Situações jurídicas

Direito e a ordem jurídica

A palavra Direito é utilizada no sentido da ordem jurídica, incluindo, o elemento normativo,


que diz respeito ao Direito objetivo, e as situações jurídicas individuais, que dizem respeito ao
Direito subjetivo

15.A regra jurídica

A regra jurídica é uma preposição que enlaça 2 elementos: a previsão e a estatuição

Previsão- conjunto de elementos que têm de estar presentes para que a norma se aplique. São
pressupostos

Estatuição- Consiste numa consequência jurídica

EX: art. 66º/1 do CC. “A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com
vida”

16. As fontes do Direito

As fontes são a lei e o costume

As fontes não integram a ordem jurídica- dizem respeito à dinâmica de criação de normas e
princípios jurídicos

A vida jurídica é um elemento da ordem jurídica segundo o Prof. Oliveira de Ascensão e,


contrariamente, a vida jurídica não integra a ordem jurídica pois esta não diz respeito à
forma, segundo o Prof. Dr. Lima Pinheiro

Elementos institucionalizados- valores jurídicos, meios de tutela jurídica, estruturas sociais


juridicamente relevantes

Elementos não institucionalizados- situações juridicas


Conclusão- a ordem jurídica é muito mais englobante do que as regras que a traduz; o Direito é
mais do que um assento de regras jurídicas onde se confunde direito com ordem jurídica

Capitulo III- Direito e Estado

17. Direito e Poder

O poder é uma faculdade de determinar ou influenciar a conduta de outrem

Quanto ao conteúdo da relação de poder poderemos distinguir:

 Poder de injunção- faculdade de condicionar uma conduta com a ameaça de uma


sanção;
 Poder de influencia- faculdade de condicionar condutas sem as impor- persuasão

18. Direito e poder politico

Direito- conjunto de regras impostas pelo poder politico

Poder politico- poder de injunção dotado de coercibilidade material que é a suscetibilidade da


utilização da força física, sendo esta aplicada através da coação

Coação

 Pode consistir numa privação de recursos naturais


 Pode consistir na utilização da força física- coercibilidade

O poder politico para perdurar tem de ser legitimo, ou seja, tem de ser admitido pela
sociedade e ter uma base consensual

Nem todo o poder politico é estadual

Planos do poder politico

 Estadual- governo de república


 Supra-Estadual- organizações supra-estaduais e internacionais
 Infra-estadual- descentralização do poder politico e administrativo

Ex: Idade média- poder territorial descentralizado- feudalismo

Estado moderno- poder politico estadual atual

A interação entre Direito e poder politico não se limita à coercibilidade. O poder politico é
enquadrado pelo Direito

 O Poder politico é objeto do Direito


 O poder politico é criador de comportamentos dotados de coercibilidade que em
principio são Direito

19. Direito e função legislativa do Estado

Estado- Sociedade fixa num determinado território que institui um poder politico
relativamente autónomo. A cada Estado corresponde uma ordem jurídica

Perspetivas

 Positivismo voluntarista (opinião do Prof. Dr. Lima Pinheiro) - todo o Direito é um


produto do Estado; so as normas emanadas dos órgãos do Estado são Direito; O
COSTUME NÃO É DIREITO
 O poder politico tem um papel pouco relevante na formação do Direito. O direito é a
essência da ordem natural da sociedade

O Estado exerce a função politica, a função administrativa e a função jurisdicional. A função


politica subdivide-se em função legislativa e função governativa ou politica stricto sensu
consoante seja ou não atos normativos

Aos órgãos que têm em seu cargo a função legislativa pertence produzir normas jurídicas. Mas
também no exercício do exercício da função administrativa se criam regras jurídicas. E o
mesmo se pode verificar com o exercício da função jurisdicional

Apear de tudo, não se pode identificar o Direito com o produto da ação normativa dos órgãos
do Estado. O Direito jurídico não é necessariamente emanado pelo Estado

20.Direito supraestadual, paraestadual e infraestadual´

Supraestadual- relação entre estados, organizações internacionais, estados e organizações


internacionais

Paraestadual- complexos normativos de sociedades paraestaduais como por exemplo a Igreja

Infraestadual- independente do Estado como, por exemplo as regiões autónomas

Existem 3 casos de poder infra-estadual:

1. Costume- convicção de vinculatividade


2. Produção de normas no seio de organizações nacionais
3. Exercício de autonomia negocial concedido pela ordem jurídica

Em suma, mesmo no seio da sociedade estadual nem todo o Direito é produzido por órgãos
estaduais

21. Norma jurídica e sanção

As norma estabelecem uma obrigação de conduta são normas injuntivas


À violação de uma norma injuntiva corresponde uma sanção

A sanção é uma consequência desfavorável normativamente prevista para o caso de violação


de uma norma injuntiva

É por meio do sistema organizado de sanções que o poder politico exerce o poder de injunção

22.Sanções jurídicas

Sanções jurídicas- existem de um efeito jurídico; prevê a violação de uma norma. Existe um
elemento principal- o poder de conduta- e um elemento complementar que institui a sanção

Tipos de sanção

 Compulsórias
 Constitutivas
 Compensatórias
 Preventivas
 Punitivas

Sanções positivas- determinada situação sem obrigação de conduta nem sanção prevista;
atribuição de uma vantagem e promoção da observância da regra jurídica

Sanções negativas- atribuição de uma vantagem ao violar da regra jurídica

23.Sanções compulsórias

Perante a existência de uma conduta contraria à regra a sanção compulsória atua sobre o
infrator para o levar a adotar a conduta devida

24. Sanções reconstitutivas

A violação de uma norma injuntiva desencadeia uma sanção reconstitutiva. Consiste esta
sanção na imposição reconstitutiva em espécie da situação a que se teria chegado com a
observância da norma

25. Sanções compensatórias

A sanção reconstitutiva pode não ser possível, não ser suficiente, ou ser excessivamente
onerosa

Utiliza-se, então, no seu lugar uma sanção compensatória

Procura-se atingir uma situação que resultaria da observância da norma e que seja
valorativamente equivalente
26. Sanções punitivas

A sanção punitiva pretende castigar o infrator

27.Sanções preventivas

A finalidade de uma sanção preventiva é a de evitar futuras violações

28. Coercibilidade e sanção

Coercibilidade- suscetibilidade do uso da força física e da aplicação coativa da regra

Sanção- a sua aplicação depende do efeito jurídico

A sanção nem sempre é suscetível de coercibilidade, só se o sancionado não cumprir a ordem


de conduta sancionatória

29. Ordens jurídicas sem coercibilidade

Supra-estaduais- a sociedade internacional não é dotada de coercibilidade, mas a sua


institucionalização ainda tem um progresso reduzido e o poder sobrepõe-se ao direito

Infra-estaduais- na usam diretamente a coercibilidade pois os indivíduos dependem dos órgãos


públicos. Os órgãos de coercibilidade limitam-se a comunidades primitivas que vivem à
margem

30. A coercibilidade nas ordens jurídicas estaduais

Nem todas as regras são dotadas de coercibilidade

Nem todas as regras são injuntivas/imperativas e, por isso, não têm qualquer sanção

Para o Prof. Dr. Oliveira Ascensão a coercibilidade faz parte do sistema de ordem jurídica
estadual

31. Meios de tutela jurídica

Auto-tutela- fica dependente da força, presta-se a exageros e pode gerar a reação dos autores
da ofensa

O Estado moderno é caracterizado pelo monopólio da coercibilidade mas também pela tutela
publica da ordem jurídica estadual- função judicial, função administrativa

Os tribunais têm uma função jurisprudencial. Os tribunais também têm a função de coação,
são órgãos independente e os que exercem cargos jurídicos não podem ser sancionados

Principio da tutela pública- é incorreto dizer que o Estado tem o monopólio dos tribunais pois
não tem responsabilidade pela atividade jurisdicional
Tutela preventiva- administração policiadora- mantém a paz pública

32. A coercibilidade como uma das notas formais e materiais da ordem jurídica estadual

A coercibilidade é um dos aspetos característicos do Direito nas sociedades estaduais

A coercibilidade contribui para delimitar materialmente a ordem jurídica

Em suma, surge-nos como um dos aspetos característicos da ordem judicial estadual o ter ao
seu dispor os meios de coerção material do pode politico e da inclusão de importantes
complexos normativos garantidos pela suscetibilidade de realização coativa de sanções

34. Manifestações atuais de auto-tutela privada

Em principio, diz-se que o poder politico tem o monopólio da coerção material, sendo assim
ninguém é ilícito do recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito salvo
nos casos dentro dos limites previstos na lei

Prevê-se que a lei autorize formas de auto-tutela mas há casos excecionais em que os
particulares podem atuar coercivamente para defenderem os seus direitos ou de outrem

Casos de manifestação de auto-tutela privada:

1. Legitima defesa- segundo o art. 33º do CC. Considera-se justificado o ato


destinado a qualquer agressão atual, contrária à lei, contra a pessoa ou
património do agente ou de terceiro desde que não seja possível fazê-lo por
meios normais e o prejuízo causado pelo ato não seja superior ao que pode
resultar da agressão

Pressupostos da legitima defesa civil

 Ofensa de um direito pessoal ou patrimonial próprio ou alheio


 Atualidade
 Intenção de defesa
 Necessidade
 Adequação ou proporcionalidade

A legitima defesa é uma causa de justificação civil e criminal, passando a conduta a ser
justificada e, portanto, lícita, não gerando responsabilidade

Ato erróneo de verificação dos pressupostos da legitima defesa

Putativa- obrigada a indemnizar o prejuízo causado salvo se o erro for desculpável (art. 338º)

2. Direito de resistência- todos tem o direito de resistira a qualquer ordem que


ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer
agressão que não seja possível recorrer à autoridade pública. Se a ordem
pública violar o direito das pessoas estas podem não acatar tal autoridade (art.
21º da Constituição)

O que constitui uma manifestação de auto-tutela é a parte que se refere ao direito de repelir
pela força qualquer agressão- resistência defensiva. Em relação aos particulares ou aos
agentes de autoridade publica- manifestação de legitima defesa

Direito de resistência passiva- caso em que não há utilização da força física

3. Estado de necessidade- (art. 339º/ 1) é ilícita a ação daquele que destruir ou


danificar coisa alheia com fim de remover um dano manifestamente superior
quer do agente, quer de terceiros

Pressupostos do Estado de necessidade

 Um perigo atual de um dano para o agente ou para terceiros


 Um dano manifestamente superior que o dano causado pelo agente
 Um comportamento danoso destinado a remover o perigo

Diferença relativamente a legitima defesa

Aqui o perigo não resulta de uma agressão ilícita por parte do titular dos interesses
sacrificados. O dano pode já estar em curso ou ser eminente e a atuação do agente mover o
perigo do dano, deve ser necessária, nomeadamente por impossibilidade de recorrer em
tempo útil à autoridade pública

Será que o estado de necessidade é uma causa de justificação?

O estado de necessidade pode ser justificante ou desculpante

4. Ação direta- (art. 386º/1 do CC.) é ilícito o recurso à força com fim a realizar ou
assegurar o próprio direito quando a ação direta for indispensável pela
impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais,
contando que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo

Pressupostos da ação direta

 A existência de um direito
 Risco de inutilização pratica do direito
 A necessidade
 Adequação
 Superioridade do agente que visa realizar ou assegurar relativamente aos interesses
justificados (art. 386º/1 do CC.)

5. Direito de retenção- também se pode dizer que é uma manifestação de auto-


tutela prevista no art. 574º e seguintes do CC.
34. Coercibilidade, validade e efetividade

Coercibilidade- é uma das notas caraterizadoras da ordem jurídica estadual

Validade- a ordem jurídica estadual não deve ser baseada na coercibilidade, mas na sua
institucionalização, que está ligada aos valores

 Validade das regras jurídicas- não pode assentar na coercibilidade, pois nem todas as
regras dotadas de coercibilidade, mas por outro lado, é a coercibilidade que pressupõe
o contrário da regra e não o contrário

Efetividade do Direito- correspondente entre a realidade social e o critério de decisão e de


conduta, onde reside na regra jurídica

 Abrange 2 aspetos: 1º- o facto de a regra ser aplicada pelos órgãos competentes e, 2º-
é ela ser respeitada pelos destinatários como critério de conduta
 Efetividade da norma- é errado dizer-se que a coercibilidade é o único meio da sua
aplicação, pois numa sociedade não se aplicam normas coativas a todas as infrações

Legitimidade do poder

Numa ordem aceite pela sociedade, os órgãos do Estado são aqueles que se encontram em
posição para determinar os fins que devem ser prosseguidos e para escolher os meios mais
adequados à sua persecução

A base principal da observância do direito é o reconhecimento social

Validade e efetividade

A vigência de uma regra não depende da sua normal observância porque a normatividade não
se confunde com a normalidade. A inefetividade de uma regra não atinge a sua vigência, por
conseguinte, o mero desuso de uma lei não importa à sua vigência

A vigência da ordem jurídica como parte da ordem normativa tem de assentar no mínimo de
efetividade

Capitulo IV- Direto e Valores

35. O Direito como uma ordem dotada de sentido

A ordem pressupõe critérios racionalmente apreensíveis e tem que se fundar na razão e


assenta em juízos de valor

Valor- é a representação cultural do que é valioso, estimado. Os valores formam os critérios


para resolver os conflitos de interesses para determinar quais são os mais valiosos

A estabilidade e a institucionalização das relações sociais que caraterizam uma sociedade exige
que as normas e instituições exprimam valores e reúnam o consenso dos membros da
sociedade. Assim o Direito surge como uma ordem ao serviço de certos valores
36.Justiça

A ideia de justiça surge como ideia unificadora destes valores socialmente reconhecidos que o
direito serve. A ideia de Justiça exprime a intencionalidade própria da ordem jurídica

A justiça pode ser encarada como veia licitadora de valores que são realizados pelo direito. O
direito está ao serviço da realização desse conjunto de valores que identificamos como ideia
de justiça

37. Jusnaturalismo, historicismo e juspositivismo

Jusnaturalismo

Para a escola de Direito natural ou jus naturalismo, o direito é a essência de uma ordem
natural da sociedade. Há uma ligação essencial entre Direito e moral

O direito é necessariamente moral. A ideia de direito inclui a realização de certos valores


morais

É importante afirmar que uma lei injusta não é de algum modo uma lei

O conhecimento dos institutos impostos pela lei natural também se sujeitou à questão da
intemporalidade e da validade das leis naturais

No entanto, há objeções as leis naturais, pois não há garantias de que uma norma tenha
vigorado em todas as sociedades em todos os tempos, mesmo que se verifique a presença de
uma norma em todos os tempos e em todos os lugares não se poderia deduzir a sua validade

A validade moral é necessária a validade jurídica

Par o jus racionalismo, o direito é um produto natural da razão humana que reconhece certos
direitos naturais do individuo que se sobrepõem ao Estado, ou seja, constituem limites à
atividade do Estado

Historicismo

Para esta escola, o direito resulta como produto orgânico e unitário do espirito do povo e das
suas faculdades inferiores. O espirito do povo será a sua consciência unitária

É um direito que revela nas situações jurídicas e que varia nos tempos e nos lugares

Juspositivismo

Austin

Distingue, claramente, a definição entre direito e moral

Kelsen
Conceção da regra jurídica como comando; como método de controlo coercivo social. É a
conceção normativa imperatisvista- apenas é uma norma jurídica, aquela que for suscetível da
aplicação coativa

Positivismo normativo- para existir um comando basta haver uma regra que estatua uma
sanção.

A norma só será valida se for adotada consoante as normas constitucionais que regulam o
exercício da função legislativa

Principal critica

Problemas de interpretação e de integração de lacunas

Para o positivismo voluntarista, o direito teria o seu fundamento no poder politico

38. Tendências atuais

São menos antagónicas e, por isso, a utilização de expressões como jus naturalismo ou jus
positivismo é duvidosa face à distancia que separa esses modelos de pensamento

Neo-positivismo (Hart)

Escola analítica centra as suas atenções na estrutura do sistema normativo e na lógica formal
do raciocínio jurídico- distancia-se do positivismo tradicional, na medida em que o direito não
se pode fundar na ideia de coercibilidade

Este sistema tem de ser complementado por regras jurídicas secundárias de 3 tipos:

 De reconhecimento
 De modificação
 De adjudicação

Neo jus-naturalismo

Reação à neutralidade valorativa do funcionalismo positivista e perante a ascensão do Estado


social e do Estado de providência

O direito natural é concebido como circulo muito restrito de princípios

As normas singulares não podem vincular como jurídicas quando não satisfazem as exigências
éticas mínimas

Importância do Direito como sistema- Fundamenta em valores e princípios éticos-jurídicos -


limitam o próprio legislador e condicionam a validade das leis individualmente consideradas

Estes direitos naturais são pressupostos por valores materiais, por valores morais subjacentes
à ordem jurídica, mesmo que não sejam reconhecidos por uma norma
39. Supremacia do Direito

A supremacia do Direito projeta-se tradicionalmente em dois planos: a primazia do Direito


sobre o poder e a igualdade perante a lei

Primeiro, a submissão do poder, da força, ao Direito relações entre Direito e Estado

O segundo, trata-se da aplicação da regra a todas as situações jurídicas que sejam


reconduzidas à sua previsão, por estarem implicadas nessas situações

O que interessa é a previsão da norma e não o destinatário desta

As regras devem ser o mais claras e precisas possível para que situações iguais sejam tratadas
da mesma forma

O sistema não se pode traduzir numa conduta de tratamento diferente injustificado

Os tribunais devem ter em conta a conveniência da jurisprudência uniforme- situações iguais


devem ser tratadas de igual forma

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