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Sapientiam Autem Non Vincit Malitia

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Inteligência, verdade e certeza


Olavo de Carvalho

Sumário
1. Definição............................................................................................................................ 1
2. Não existe inteligência artificial ........................................................................................3
3. Evidência e certeza.............................................................................................................6
4. Inteligência e vontade.........................................................................................................7
. !e"#enas e grandes verdades.............................................................................................$
6. De%issão dos intelect#ais.................................................................................................. &
7. '()inião )r*)ria+ e ',#lga%ento a#t-no%o+...................................................................11
&.  a#toconsciência/ terra natal da verdade........................................................................13
10. (s gra#s de certeza.........................................................................................................13
11.  to)ografia da ignorncia.............................................................................................1

1. D EFINIÇÃO
Inteligência, no sentido em que aqui emprego a palavra, no sentido que tem etimologicamente
e no sentido em que se usava no tempo em que as palavras tinham sentido, no quer di!er a
ha"ilidade de resolver pro"lemas, a ha"ilidade matem#tica, a imagina$o visual, a aptido
musical ou qualquer outro tipo de ha"ilidade em especial. %uer di!er, da maneira mais geral e
a"rangente, a capacidade de apreender a verdade . & inteligência no consiste nem mesmo
em pensar. %uando pensamos, mas o nosso pensamento no capta propriamente o que '
verdade naquilo que pensa, ento o que est# em a$o nesse pensar no ' propriamente a
inteligência, no rigor do termo, mas apenas o dese(o )rustrado de inteligir ou mesmo o puro
automatismo de um pensar ininteligente. O pensar e o inteligir so atividades completamente
distintas. & prova disto ' que muitas ve!es você pensa, pensa, e no intelige nada, e outras
ve!es intelige sem ter pensado, numa s*"ita )ulgura$o intuitiva.
& inteligência ' um +rgo  digamos assim- um +rgo  que s+ serve para isto- captar a
verdade. s ve!es ela entra em opera$o atrav's do pensamento, /s ve!es atrav's da
imagina$o ou do sentimento, e /s ve!es entra diretamente, num ato intelectivo  ou
intuitivo  instant0neo, no qual você capta alguma coisa sem uma prepara$o e sem uma
)orma representativa em especial que sirva de canal / intelec$o. Outras ve!es h# uma longa
prepara$o atrav's do pensamento, da imagina$o e da mem+ria, e no )im você no capta
coisssima nenhuma- cumpri dos os atos representativos, a intelec$o a que se dirigiam )alha
por completo2 dados os meios, a )inalidade no se reali!a. & inteligência est# na reali!a$o da

)inalidade,
conhecimentoe no na nature!a
' conhecer, e sedos meios empregados.
o conhecimento E se a )inalidade
s+ ' conhecimento dos meios
em sentido de se
pleno
conhece a verdade, ento a de)ini$o de inteligência '- a potência de conhe cer a verdade por
qualquer meio que seja .

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O conceito da verdade, e as discuss3es todas que suscita, podem )icar para outra ocasio. 4or
enquanto, e tomando provisoriamente a palavra 5verdade6 em seu sentido vulgar de
coincidência entre )ato e id'ia, "astam estas distin$3es elementares para nos levarem a
perce"er o quanto ' err7nea a dire$o tomada pela atual teoria das 5inteligências m*ltiplas6,
que dissolve a no$o mesma de inteligência numa cole$o de ha"ilidades  que vo desde o
raciocnio matem#tico at' a destre!a )sica e o traque(o social , sem notar que todas estas
capacidades e outras quantas similares so meios e que a inteligência no ' um meio, mas o
ato mesmo, o resultado a que tendem esses meios e para o qual nenhum deles ' por si  nem
a soma deles todos ' por si  condi$o su)iciente. & teoria das inteligências m*ltiplas surgiu
como uma rea$o contra a teoria do %I, que por sua ve! identi)icava a inteligência,
e8clusivamente, com a ha"ilidade ver"al, matem#tica e imaginativo9espacial. :as ' um caso
tpico de su"stitui$o de uma )alsidade por outra. ;e(am poucas ou muitas as ha"ilidades com
que se identi)ica a inteligência, o erro ' o mesmo- con)undir a inteligência com os
instrumentos de que se serve.
Essa con)uso acontece porque a maior parte das pessoas se conhece muito mal, mesmo nas
coisas pr#ticas e nos aspectos mais +"vios da vida. %uanto maior no seria sua di)iculdade de
captar a di)eren$a sutil entre os atos representativos e a inteligência< =endo sempre a
inteligência atuar atrav's do pensamento, da mem+ria, da imagina$o, do sentimento,
con)undem portanto o canal com aquilo que por ele passa, o veculo com o passageiro, e
tomam por 5inteligência6 os meros atos mentais.
Esse equvoco aca"ou por ser o)iciali!ado e legitimado pela educa$o. De modo geral, todas
as )ormas de ensino visam a incrementar as ha"ilidades em que a inteligência se ap+ia, como
a mem+ria, a imagina$o, o raciocnio etc., e no do a menor import0ncia a inteligência
enquanto tal. O )ato ' que a entrada em cena dessas outras )aculdades no acarreta
necessariamente a da inteligência. 4odemos desenvolver "astante o raciocnio ver"al, ou a
imagina$o visual, ou a mem+ria, ou a aptido artstica, sem que ha(a e)etivamente uma
inteligência dirigindo os seus passos  a prova ' que v#rias dessas aptid3es so mais
desenvolvidas em certos retardados mentais do que no comum das pessoas. &li#s, se ' atrav's
do raciocnio que /s ve!es inteligimos, tam"'m ' atrav's dele que nos enganamos. Do mesmo
modo, /s ve!es a imagina$o nos leva / compreenso real de alguma coisa, mas /s ve!es nos
leva para longe da verdade. O desenvolvimento destas )aculdades, imagina$o, mem+ria,
raciocnio etc., no implica portanto necessariamente o da inteligência2 tam"'m ' verdade o
vice9versa- que a inteligência ' independente desses outros processos, que lhe servem de
canais, instrumentos e ocasi3es e nada mais. :as o vice9versa no deve ser tomado em
sentido rigoroso, pois uma inteligência resolutamente decidida a desco"rir a verdade so"re
alguma coisa aca"a em geral encontrando os canais mentais pelos quais chegar ao seu
o"(etivo, ou se(a, ela desenvolve as 5)aculdades6 de que necessita. ;em e8cluir portanto que
ha(a casos de inteligências mesmo superiores mas carentes de meios ou canais espec)icos de
atua$o, digo que so e8ce$3es e raridades que antes con)irmam a regra- o desenvolvimento
dos meios no implica o da inteligência, o da inteligência leva quase que necessariamente /
conquista dos meios.
;e de)inimos a inteligência como a capacidade humana de captar o que ' verdade, tam"'m
entendemos que o essencial do ser humano, aquilo que o di)erencia dos animais, no ' o
pensamento, no ' a ra!o, nem uma imagina$o ou mem+ria e8cepcionalmente
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desenvolvidas, em"ora tudo isto ha(a e)etivamente no ser humano. 4ois pensar, um macaco
tam"'m pensa- ele completa um silogismo e at' encadeia silogismos num raciocnio
relativamente per)eito. Imagina$o, at' um gato possui- os gatos sonham. 4or este caminho
no encontraremos a di)eren$a espec)ica humana, aquilo que nos torna homens em ve! de
"ichos. E, se ' importante arraigar o homem no reino animal, para no )a!er dele um ser
ang'lico sem p's no solo, tam"'m ' importante sa"er distingui9lo de uma tartaruga ou de um
molusco por alguma di)eren$a que no se(a meramente quantitativa e acidental.
O que nos torna humanos ' o )ato de que tudo aquilo que imaginamos, raciocinamos,
recordamos, somos capa!es de vê9lo como um con(unto e, com rela$o a este con(unto,
podemos di!er um sim ou um não, podemos di!er- 5> verdadeiro6, ou- 5> )also6. ;omos
capa!es de julgar a veracidade ou )alsidade de tudo aquilo que a nossa pr+pria mente vai
conhecendo ou produ!indo, e isto no h# animal que possa )a!er.
:as, dir# o velho 4ilatos em n+s, quid est Veritas ? @ada um de n+s ' um (ui! romano,
corrompido at' a medula, a )a!er de conta que no sa"e aquilo que sa"e per)eitamente "em. &
verdade da qual alegas nada sa"er, in)austo 47ncio, a verdade ' o quid  esse mesmo quid
que, se desconheces ses, no poderias usar como medida de a)eri$o para o termo 5verdade6.
;e pergunto quê ' alguma coisa, se ignoro mesmo o que ' alguma coisa, ' porque a coisa que
se me o)erece nesse instante no cumpre, no atende per)eitamente a condi$o e8igida na
palavra quê  aquela consistência, aquela coeso do estar, do agir e do padecer, aquela
patência e so"retudo aquela )atalidade, aquele no9ser9de9outro9modo, aquela impositiva
ausência de perguntas  e da capacidade de )a!er perguntas  que me so"rev'm quando sei
o quê. Ecce veritas. > o que "asta por enquanto, sem pre(u!o de posteriores discuss3es e
apro)undamentos.

A. N ÃO EBI;CE INCEIN@I& &GCIFI@I&

Ho(e em dia, quando se )ala de 5inteligência arti)icial6, mais certo seria di!er pensamento
arti)icial, ou talve! imaginação arti)icial, porque uma determinada sequência de pensamentos,
um con(unto de opera$3es da mente, pode ser imitado de v#rias maneiras. m con(unto '
imitado, por e8emplo, na escrita. & escrita ' uma imita$o gr#)ica de sons, que por sua ve!
imitam id'ias, que por sua ve! imitam )ormas, )un$3es e rela$3es de coisas. & escrita )oi a
primeira )orma de pensamento arti)icial. Coda e qualquer )orma de registro que o homem use
(# ' um tipo de pensamento arti)icial, uma ve! que implica um c+digo de convers3es e
permuta$3es, e neste sentido um programa de computador no ' muito di)erente, por
e8emplo, de uma regra de (ogo- como no (ogo de 8adre!, onde se conce"e uma sequência de
opera$3es com muitas alternativas, cristali!adas num determinado esquema que pode ser
imitado, repetido ou variado segundo um algoritmo "#sico. E8istem muitas )ormas de

pensamento
no tem comoarti)icial, ou deOimagina$o
ser arti)icial. pensamentoarti)icial.
arti)icial4or'm a inteligência,
' essencialmente umapropriamente dita, de
imita$o de atos
pensamento segun do a )+rmula das suas sequências e com"ina$3es. Do mesmo modo
podemos imitar a imagina$o e a mem+ria, se em ve! de utili!ar uma correspondência
"iunvoca entre signo e signi)icado recorrermos a uma rede de correspondências anal+gicas.
D# na mesma- em am"os os casos, trata9se de imitar um algoritmo, a )+rmula de uma
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sequência ou rede de com"ina$3es, que por sua ve! imitam as opera$3es reais da mente.
&contece que a inteligência no ' uma 5opera$o da mente62 ela ' o nome que damos a uma
determinada qualidade do resultado dessas opera$3es, pouco importando qual a )aculdade
que as reali!ou ou qual o c+digo empregado. > legtimo di!er que um indivduo inteligiu
alguma coisa somente quando ele captou a verdade dessa coisa, se(a pelo raciocnio, se(a pela
imagina$o ou se(a l# pelo caminho que )or. &t' mesmo o sentimento intelige, quando ama o
que ' verdadeiramente am#vel e odeia o que ' verdadeiramente odioso- h# uma inteligência
do sentimento, como h# uma "urrice do sentimento. & inteligência no reside na mente, mas
num certo tipo de rela$o entre o ato mental e o seu o"(eto, rela$o que denominamos
5veracidade6 do conte*do desse ato mental J notem "em- veracidade do conte*do, e no do
ato mesmo K.
&qui algu'm poderia o"(etar que, quando um ato de pensamento arti)icial chega a um
resultado verdadeiro, por e8emplo quando um computador nos assegura que A L A M , este '
um ato de inteligência, uma ve! que nos d# uma verdade. & di)eren$a, aqui, ' a seguinte- o
computador no intelige que A L A M , mas apenas reali!a as opera$3es que do por resultado
, segundo um programa ou algoritmo pr'9esta"elecido. ;e ele )or programado segundo a
regra de que A L A M , ele no somente dar# sempre este result ado, mas ainda o generali!ar #
para todos os casos similares, segundo a regra Aa L Aa M a. & inteligência no consiste
somente em atinar com um resultado verdadeiro, mas em admitir esse resultado como
verdadeiro. %ue signi)ica 5admitir6? ;igni)ica, primeiro, estar livre para pre)erir um resultado
)also J um computador pode ser programado para pre)erir os resultados )alsos num certo
n*mero de ocasi3es, mas sempre segundo um padro pr'9esta"elecido K. ;igni)ica, em
segundo lugar, crer nesse resultado, isto ', assumir uma responsabilidade pessoal pela
a)irma$o dele e pelas consequências que dele derivem. & inteligência, neste sentido, s+ '
admissvel em seres livres e respons#veis, e o primeiro ser livre e respons#vel que
conhecemos na escala dos viventes ' o homem- nenhum ser a"ai8o dele possui inteligência, e
se h# seres superiores ao homem ' um pro"lema que no nos interessa no momento e cu(a
solu$o no inter)eriria no que estamos e8aminando aqui. A inteligência é a relação que se
estabelece entre o homem e a verdade, uma rel ação que s o homem tem com a verdade, e
que s tem no mome nto em que intelige e admite a verdade, j! que ele pode torn ar"se
ininteligente no instante seguinte, quando a esquece ou renega#
Neste sentido, o resultado da conta de A L A que aparece na tela do computador ' uma
verdade, mas uma verdade que est# no objeto e no ainda na inteligência2 essa verdade est# na
tela como a verdadeira estrutura mineral+gica de uma pedra est# na pedra ou como a
verdadeira )isiologia do animal est# no animal- so verdades latentes, que (a!em na
o"scuridade do mundo o"(etivo aguard ando o instante em que se atuali!aro na inteligência
humana. Do mesmo modo, podemos pensar uma id'ia verdadeira sem nos darmos conta de
que ' verdadeira2 neste caso, a verdade est# no pensamento como a verdade da pedra est# na
pedra- o ato de inteligência s+ se cumpre no instante em que perce"emos e admitimos essa
verdade como verdade. & inteligência ', neste sentido, mais 5interior6 a n+s do que o
pensamento. O pensamento, para n+s, pode ser o"(eto. & inteligência, no. O ato de re)le8o
pelo qual retornam os a um pensamento para e8amin#9lo ou (ulg#9lo ' um outro pensamento,
de conte*do di)erente do primeiro. :as a recorda$o de um ato de inteligência ' o
mesmssimo ato de inteligência, re)or$ado e revivi)icado, numa nova a)irma$o de si mesmo.

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No posso recordar o conte*do de um ato de intelec$o sem inteligir novamente os mesmos
conte*dos, quase sempre com redo"rada )or$a de evidência.
;e de)inirmos o pensamento arti)icia l como a imita$o, por sinais eletr7nicos, de certos atos
de pensamento, entenderemos que o pensamento arti)icial ' pensamento, que a imita$o de
pensamento ' pensamento, pois pensar, a)inal, ' apenas usar sinais ou signos para representar
certos dados internos ou e8ternos. :as a imita$o de inteligência no ' inteligência, de ve!
que s+ h# inteligência no ato real pelo qual um ente humano real apreende realmente uma
verdade no instante em que a apreende2 na imita$o teramos somente um su(eito hipot'tico
apreendendo hipoteticamente uma hipot'tica verdade, cu(a veracidade ele no pode a)irmar
seno hipoteticamente. Cudo isto seria apenas pensamento, no inteligência.
& inteligência somente se e8erce perante uma situa$o real, concreta- o inteligir ' concentrar
o )oco da aten$o numa evidência presente. No se con)unde com o meramente pensar uma
verdade, pois consiste em captar a verdade desse pensamento2 nem se con)unde com o
perce"er uma cor, uma )orma, pois consiste em apreender a veracidade dessa cor ou dessa
)orma2 nem com o recordar ou imaginar uma )igura, pois consiste em assumir a veracidade
dessa recorda$o ou imagina$o. 4or isto no ' possvel imitar um ato de inteligência, pois
sua imita$o no poderia ser outra coisa seno a c+pia do pensamento, ou da recorda$o, ou
da imagem que lhe serviu de canal2 mas, se esta c+pia )osse acompanhada da capta$o de sua
veracidade, no seria uma c+pia, e sim o ato mesmo, revivido em modo pleno2 e, se
desacompanhado dessa capta$o, seria c+pia do pensamento ou da imagina$o apenas, e no
do ato de inteligência. E esse pensamento ou essa imagina$o, se verdadeiros em seu
conte*do, teriam apenas a verdade de um o"(eto, a verdade latente de uma pedra ou de um
c#lculo e8i"ido na tela do computador, aguardando ser iluminada pelo ato de inteligência que
a trans)ormaria em verdade atual, e)etiva, conhecida.
m computador s+ pode (ulgar veracidade ou )alsidade dentro de certos par0metros que (#
este(am no programa dele, ou se(a, )alsidade ou veracidade relativas a um c+digo dado de
antemo, c+digo esse que pode ser inteiramente convencional. Isto ', ele no (ulga a

veracidade,oumas
premissas apenas aOra,
princpios. logicidade das conclus3es,
a logicidade, sem
a rigor, nada tempoder
a verpor
comsi amesmo esta"elecer
veracidade, pois '
apenas uma rela$o entre proposi$3es, e no a rela$o entre uma proposi$o e a e8periência
real. %uando digo e8periência real, no me re)iro apenas / e8periência cotidiana dos cinco
sentidos, mas ao campo total da e8periência humana, onde a e8periência cient)ica )eita
atrav's de aparelhos e su"metida a medi$3es rigorosas se encai8a apenas como uma
modalidade entre uma in)inidade de outras. & inteligência, quando (ulga veracidade ou
)alsidade, pode )a!ê9lo em termos a"solutos e incondicionais, independentemente dos
par0metros usados e da re)erência a um ou outro campo determinado da e8periência2 e '
(ustamente este conhecimento incondicional da verdade incondicional que pode )undar em
seguida os par0metros da condicionalidade ou relatividade, assim como legitimar
)iloso)icamente as divis3es de campos de e8periência, como por e8emplo na delimita$o das
es)eras das v#rias ciências.

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P. E =IDN@I& E @EGCEQ&
O termo 5intui$o6 designa em )iloso)ia um conhecimento direto, uma intelec$o
ma8imamente evidente J o que no signi)ica que deva ser con)undida com o sentimento
su"(etivo de certe!a K. E8emplo de um ato de inteligência intui tiva- o )ato de você estar aqui
neste momento ' uma certe!a a"soluta e incondicional, o que no quer di!er que você no
possa duvidar dela, que você no possa at' mesmo, por um (ogo engenhoso de imagina$o, ter
o sentimento da certe!a de estar em outro lugar2 signi)ica apenas que você s+ duvidar# dela e
s+ acreditar# estar em outro lugar se você sentir o seu campo de e8periência como dividido
em "locos estanques, se você perder o senso da unidade do campo da e8periência, o que s+
acontece na )antasia, no estado hipn+tico ou na esqui!o)renia. %uando sua inteligência admite
que você est# aqui, você est# admitindo como verdadeira uma determinada interpreta$o que
você )a! do con(unto das in)orma$3es que você tem neste momento, mas no s+ a respeito
deste momento e sim a respeito do encai8e entre ele e os momentos que o antecederam e os
que se seguiro. =ocê sa"e que est# aqui no s+ por causa das in)orma$3es sensveis que
rece"e a respeito do am"iente, in)orma$3es auditi vas, t#cteis, etc., mas tam"'m porque você
sa"e que estas in)orma$3es so coerentes com um passado J você se lem"ra de ter vindo at'
aqui K, so coerentes com um pro(eto de )uturo, ou se(a, com uma id'ia que você tem a
respeito do prop+sito com que veio aqui2 e tudo isto )orma um sistema to coeso, to
insepar#vel, que a respeito deste con(unto você pronuncia o (ulgamento de que isto é verdade -
Você sabe que você est! aqui . No entanto, no seria impens#vel que, estando aqui, você
imaginasse estar em outro lugar, e que at' mesmo se persuadisse e, um tanto auto9
hipnoticamente, 5sentisse6 que est# num outro lugar. Cudo isto pode ser produ$ido 2 por'm, se
o senso da unidade do campo da sua e8periência ainda )unciona, algo lhe dir#- isto é %also .
4or que? 4orque as in)orma$3es que di!em que você est# aqui vêm todas juntas2 ao passo que
as que você est# produ!indo para di!er que est# em outro lugar vêm por partes. E8amine. O
quê imaginou você a respeito do outro lugar onde sup3e estar? o som? o visual? m ou outro?
@ertamente no )oram os dois e8atamente no mesmo tempo e em propor$o coerente. O
motivo, o antecedente temporal da sua presen$a ali, eram9lhe to claros quanto as sensa$3es
visuais ou auditivas? No- mas as in)orma$3es que você rece"e aqui so"re sua presen$a vêm
todas coladas umas /s outras. =ocê no pega primeiro o visual, depois o auditivo, depois o
t#ctil, ou se(a, você no comp&e este am"iente, ele lhe vem todo (unto2 e, em"ora você, por
a"stra$o, possa momentaneamente prestar aten$o mais a um aspecto que a outro, você sa"e
e se recorda de que os aspectos preteridos esto a presentes e podem ser atuali!ados na
percep$o a qualquer momento, sem um tra"alho interior de constru$o volunt#ria J que você
lhe seria o"rigat+rio de modo a completar a imagem do outro lugar suposto, onde
supostamente estaria ou se sentisse estar enquanto est# de )ato aqui K.
Esta certe!a que você tem de estar aqui ' o que se chama evidência . ma evidência ' um
conhecimento ineg#vel, e at' de certo modo indestrutvel, porque, se você dissesse que no
est# aqui, a quem você o diria? & quem est# l#, ou a quem est# aqui? O ato mesmo de você
di!er que no est# aqui su"entende que est#.
E8iste, em certos pensamentos que temos, esse car#ter de veracidade, mas no sa"emos
de)inir "em em quê ele consiste2 sa"emos apenas que con)erimos esta veracidade a alguns
pensamentos e que a negamos a outros. 4or e8emplo, aqui negamos veracidade ao
pensamento de que no estamos aqui. > a esta )aculdade  a que di! 5sim6 ou 5no6 aos
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pensamentos, imagina$3es e sentimentos, que os (ulga como totalidade e di! 5' verdadeiro6
ou ' 5' )also6  que chamamos de inteligência#

. I NCEIN@I& E =ONC&DE
& inteligência, em suma, ' o senso da verdade , e uma inteligência apta, h#"il ou )orte ' uma
inteligência que est# acostumada a discernir a verdade e a )alsidade em todas as circunst0ncias
da vida, a aceitar a verdade e permanecer nela.
@om isto quero di!er que a inteligência no se esgota no mero aspecto cognitivo- se a
potência de conhecer a verdade constitui a semente da inteligência, esta semente s+ )loresce
por iniciativa da vontade, e tam"'m pela vontade ela en)raquece e morre. =ontade signi)ica o
e8erccio da li"erdade. %uando você capta que algo ' verdadeiro, signi)ica que você aceitou
que aquilo ' verdadeiro , e quando você capta que ' )also, signi)ica que você o rejeitou. Ora,
quem aceita ou re(eita no ' uma )aculdade em particular, mas ' você inteiro, num ato de
vontade livre. Isto signi)ica que a inteligência é indissoluvelmen te a s'ntese de uma aptidão
cognitiva e de uma vontade de conhecer . ;e houvesse um ensinamento voltado ao
desenvolvimento da inteligência, ele teria de, antes de mais nada, acostumar o aluno a dese(ar
a verdade em todas as circunst0ncias e no )ugir dela. 4ortanto o e8erccio da inteligência
possui necessariamente um lado 'tico, moral. 4lato di!ia- 5=erdade conhecida ' verdade
o"edecida.6
;e a inteligência )osse uma )aculdade puramente cognitiva, nada impediria que ela )osse
e8ercida igualmente "em pelos "ons e pelos maus, pelos sinceros e pelos )ingidos, pelos
honestos e pelos sa)ados. Na realidade as coisas no se passam assim, e a desonestidade
interior produ! necessariamente o en)raquecimento da inteligência, que aca"a sendo
su"stituda por uma esp'cie de ast*cia, de maldade engenhosa. & ast*cia no consiste em
captar a verdade, mas em captar  sem d*vida com veracidade  qual a mentira mais
e)iciente em cada ocasio. O astucioso ' e)ica!, mas est# condenado a )alhar ante situa$3es
das quais no possa se sa)ar mediante algum su"ter)*gio, que e8i(am um con)ronto com a
verdade. & cone8o entre a inteligência e a "ondade ' reconhecida por todos os grandes
)il+so)os do passado, do mesmo modo que a correspondente liga$o, do lado do o"(eto, entre
a verdade e o "em. m mundo que nega essa cone8o, que )a! da inteligência uma )aculdade
5neutra6, capa! de )uncionar to "em nos "ons quanto nos maus como a respira$o ou a
digesto, ' um mundo )rancamente mau, que se orgulha da sua maldade como de uma
conquista da ciência, pela qual ele se eleva acima das civili!a$3es do passado. :auriac
notava, 5nos seres decados, essa destre!a para em"ele!ar sua decadência. > a derradeira
en)ermidade a que o homem pode chegar- quando sua su(eira o deslum"ra como um
diamante6.
& cone8o a que me re)iro surge com peculiar clare!a quando e8aminamos os seguintes )atos.

@om )requência
mesmo nossasoua$3es
interiormente2 se(a,no so capa!es
somos acompanhadas
de agirde
depalavras que asmaneiras,
determinadas e8pliquem, nem
e8plicando
esses atos de maneiras e8atamente inversas, precisament e porque as motiva$3es verdadeiras,
permanecendo ine8pressas e mudas, se )urtam ao (ulgamento consciente. Isso )a! com que,
pelo menos su"conscientemente, alimentemos um discurso duplo. & partir do momento em
que você admite que uma coisa ' verdadeira, mas procede, mesmo em segredo, mesmo
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interiormente, como se ela no o )osse, est# mantend o um discurso duplo- num plano a)irma
uma coisa, e noutro a)irma outra coisa. & verdade tem poucas oportunidades de surgir para
n+s com toda a clare!a, e a mente humana )unciona de uma )orma que, quando você nega uma
determinada in)orma$o, o su"consciente suprime todas as in)orma$3es an#logas, de modo
que, quando você di! para si mesmo uma determinada mentira que lhe ' conveniente, por
motivos pr#ticos ou psicol+gicos, ou para se preservar de sentimentos desagrad#veis, no
mesmo instante em que você suprime esta in)orma$o você suprime uma s'rie de outras que
lhe seriam *teis e que você no tencionava suprimir. 4or isto a mentira interior ' sempre
danosa / inteligência- ' um escotoma que se alastra at' escurecer todo o campo da viso e
su"stitu9lo por um sistema completo de erros e mentiras.%uando nos ha"ituamos a suprimir a
verdade com rela$o /s nossas mem+rias, / nossa imagina$o, aos nossos sentimentos e atos,
esta supresso nunca )ica s+ naquele setor onde me8emos, mas se alastra para outros
territ+rios em volta e, tornando9nos incapa!es de inteligir uma determinada coisa, nos
tornamos incapa!es para inteligir muitas outras tam"'m. & de)esa contra verdades inc7modas
se trans)orma tam"'m numa de)esa contra a verdade em geral, contra todas as verdades. :ais
tarde, quando dese(armos estudar um determinado assunto que nos interessa, ou entender o
que est# se passando na nossa vida, e no conseguirmos, di)icilmente perce"eremos que
)omos n+srepugn0ncia,
ho(e uma mesmos queumacausamos
de)esaesta leso da
instintiva inteligência.
contra Noto
a verdade, a talem muitos
ponto que,intelectuais de
mesmo quando
dese(am aceit#9la, tem de metê9la num inv+lucro de mentiras. O pior, nisso, ' que com
)requência essa leso ' compensada por um desenvolvimento hipertr+)ico das )aculdades
au8iliares, numa in*til e8crescência ornamen tal, tal como os seios que crescem em algumas
mulheres ap+s a menopausa. :uitas dessas inteligências lesadas alcan$am sucesso nas
pro)iss3es intelectuais.

. 4 E%EN&; E G&NDE; =EGD&DE;


%uando se )ala em p*"lico a palavra 5verdade6, no am"iente cnico de ho(e em dia, logo

aparece
se algum
)ossem esperti
a maior nho repetindo
novidade, a pergunta
os velhos de 47ncio
argumentos c'ticos,4ilatos e des)iando
cu(a re)uta$o ante n+s, como
' classicamente o
primeiro grau do aprendi!ado )ilos+)ico. :uitas dessas pessoas têm da palavra 5verdade6 uma
no$o um tanto posada , teatral, empostada e romanti!ad a. ;+ esto dispostas a admitir que o
homem pode conhecer a verdade caso algu'm lhes mostre a verdade total, universal e
completa a respeito das quest3es mais di)ceis, e, como ningu'm satis)a! a esta e8igência, elas
concluem, com o ceticismo cl#ssico, que toda verdade ' incognoscvel. :as esse tipo de
e8igência no e8pressa uma "usca sincera da verdade. & "usca sincera vai das verdades
humildes e corriqueiras /s verdades supremas, aceitando aquelas como caminho para estas,
sem e8igir desde logo, despoticamente, as respostas )inais a todas as perguntas.
m e8emplo de verdade humilde, por'm segura, )irme, da qual você pode partir como um
modelo
somentepara
vocêavaliar
sa"e outras possveis
a respeito verdades,
da sua pr+pria'hist+ria,
dado porso"retudo
aquilo que
da você sa"einterior
hist+ria  e quede seus
sentimentos, motiva$3es, dese(os, etc.
;e houvesse um ensinamento voltado ao desenvolvimento da inteligência, ele teria de
come$ar por propor ao aluno, ao estudante, principiante ou postulante, uma esp'cie de reviso

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das suas mem+rias, ou se(a, contar sua hist+ria direito Janalogamente ao que se )a! em
psican#liseK. Cudo o que ' verdadeiro tem um car#ter de coeso, pois uma in)orma$o
verdadeira no pode ser arti)icialmente isolada de uma outra in)orma$o que tam"'m se(a
verdadeira e que tenha com ela uma rela$o de causa e e)eito, de contiguidade, de semelhan$a
e di)eren$a, de complementaridade, etc.2 ento isto quer di!er que se você admite um & e um
R, você vai ter de admitir um @, D, E, F, etc. & verdade tem sempre um car#ter sistêmico,
org0nico, ra!o pela qual sua capta$o pela inteligência pessoal requer uma a"ertura da
personalidade, uma predisposi$o a aceitar todas as verdades que como tal se revelem, sem
nenhuma sele$o pr'via de verdades convenientes.

S. D E:I;;ÃO DO; INCEE@C&I;


O que aconteceria se, numa determinada sociedade, e8istisse um grande n*mero de pessoas
capa!es de (ulgar por si mesmas e de perce"er a verdade, no so"re todos os pontos, mas
so"re os pontos de maior interesse para a sociedade, ou so"re os que so mais urgentes?
Haveria mais sensate!, os de"ates levariam a conclus3es mais (ustas, as decis3es teriam um
sentido mais realista. &gora, numa sociedade onde todos esto se persuadindo uns aos outros
de coisas de que eles mesmos no esto persuadidos, onde todos esto procurando se enganar,
ou onde todos esto procurando a(uda dos outros para se enganar mais )acilmente a si
mesmos, todas as discuss3es versam so"re )antasmas, as decis3es se esvanecem em meros
sonhos, as )rustra$3es levam o povo a um estado de e8aspera$o do qual ele procura )ugir
mediante novas )antasias, e assim por diante. Isto acontece no campo religioso, poltico,
moral, econ7mico e at' no campo cient)ico. 4odemos partir para uma outra de)inico, e di!er
que um pas tem uma cultura pr+pria quando ele tem um n*mero su)iciente de pessoas
capa!es de perce"er a verdade por si mesmas, e que no precisam ser persuadidas por
ningu'm. Estas pessoas )uncionam como uma esp'cie de )iscais da inteligência coletiva. Em
nosso pas o n*mero de pessoas assim ' escandalosamente redu!ido. &s pessoas encarregadas
de perce"er a verdade por si mesmas devem ter uma inteligência treinada para isto, devem ter

uma inteligência
Isto d+cil / verdade
' que constitui e ser as primeiras
uma inteligência a perce"er
nacional, e compreen der o nacional.
uma intelectualidade que se passa.
&
intelectualidade autêntica no ' constituda necessariamente pelas pessoas que e8ercem
pro)iss3es ligadas / cultura ou / inteligência, mas sim pelas pessoas que, e8ercendo ou no
essas pro)iss3es, reali!am as a$3es correspondentes a elas. No ' preciso ir muito longe para
di!er que a sorte glo"al de um pas depende de que ha(a uma camada de pessoas assim, para
poder, nos momentos de di)iculdade, dar esta contri"ui$o modesta que ' simplesmente di!er
a verdade. No Rrasil temos um n*mero assom"ro so de pessoas que tra"alham em atividades
culturais, escritores, pro)essores, artistas, em geral su"vencionados pelo governo, mas que
nem de longe pensam em cumprir as o"riga$3es elementares da vida intelectual2 tudo o que
)a!em ' apoiar9se uns aos outros num discurso coletivo, rea)irmar as mesmas cren$as de
srcem puramente egoista e su"(etivista, e8pressar dese(os e preconceitos coletivos e pessoais,
promover a moda. Essas pessoas vivem reclamando de que neste pas h# poucas ver"as para a
cultura. :as, para )a!er isso que elas chamam de cultura, (# rece"em muito mais dinheiro do
que merecem. Os cineastas, diretores de teatro, etc., constituem uma casta privilegiada, que '
estipendiada pelo governo para e8i"ir em p*"lico emo$3es "aratas, a)etar indigna$o e posar
como 5pessoas maravilhosas6 em apartamentos da av. =ieira ;outo.
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> claro que os povos sempre têm a li"erdade de escolher entre a verdade e a mentira, e mesmo
sa"endo da verdade eles podem novamente se enganar a si mesmos2 por'm a possi"ilidade de
que se enganem ' muito maior quando ningu'm lhes di! a verdade (amais. O que acontece
quando pessoas que e8ercem pro)iss3es intelectuais ou culturais somente as e8ercem no
sentido de )a!er delas um instrumento de apoio para sua pr+pria mentira interior, ou se(a,
e8ercem esses tra"alhos no sentido puramente orat+rio ou ret+rico de indu!ir o povo a erros e
ilus3es? &)irmo, peremptoriamente, que este ' o caso da intelectualidade "rasileira, que na
sua quase totalidade se utili!a de pro)iss3es culturais para )a!er com que povo e a opinio
"rasileira a sirvam, con)irmando suas cren$as, das quais ela no tem certe!a pessoal alguma, e
para as quais (ustamente por isso procura angariar um apoio coletivo. E8istem setores onde '
possvel uma inseguran$a muito vasta e a livre troca de opini3es de valor simliar, mas em
outros setores no. 4or'm o )ato ' que quando a intelectualidade como um todo se coloca
perante o p*"lico numa atitude de persuaso lison(eira, ento a vida intelectual est# sendo
prostituda, e quando ela ' prostituda, pergunto- como podemos dese(ar mais 'tica, mais
honestidade, na poltica ou nos neg+cios, se amplas )ai8as de popula$o atuante no têm a
menor no$o do que ' verdadeiro ou )also? @omo ' que a intelectualidade pode ao mesmo
tempo pregar um relativismo dissolvente, onde os crit'rios do verdadeiro e do )also se diluem
ahonestos
ponto de se tornarem
e digam indistinguveis,
a verdade ao povo? &se ao mesmonessa
pessoas, tempo e8igir no
situa$o, que poderia
os polticos
m serse(am
honestas
nem mesmo que quisessem, porque no sa"em o que ' certo, no têm consciência moral, so
grosseiras e insensveis do ponto de vista moral. Ento no resta d*vida de que a corrup$o da
sociedade come$a com a corrup$o da camada intelectual, não com a corrup$o dos neg+cios
ou da poltica- ao contr#rio, e8istem pases onde os homens ricos e poderosos so muito
corruptos e ainda assim o pas )unciona direito2 e8istem pases onde os polticos so corruptos
e no entanto o pas no se engana grosseiramente na solu$o de seus pr+prios pro"lemas. :as
num pas onde a camada intelectual, que ' a camada encarregada pro)issionalmente de
e8aminar a verdade e de di!ê9la, come$a a se enganar a si mesma, ento no vai adiantar
a"solutamente nada que todos os polticos se(am honestos.

;e do ponto de vista de utilidade para o indivduo o o"(etivo deste curso ' o desenvolvimento
da sua inteligência, do ponto de vista social, cultural, o o"(etivo do curso ' )ornecer gente para
uma )utura elite intelectual verdadeira.O que ' uma elite intelectual? > gente to treinada para
perce"er a verdade quanto um "o8eador est# treinado para lutar e um soldado para )a!er a
guerra. Neste sentido, todas as na$3es que o"tiveram um lugar de grande!a na hist+ria tiveram
uma elite assim, )ormada muito antes de que o pas alcan$asse qualquer pro(e$o econ7mica,
poltica, militar, etc. 4ois no ' possvel resolver os pro"lemas primeiro e se tornar inteligente
depois.Em todo de"ate so"re pro"lemas nacionais que atualmente est# em curso s+ h# uma
coisa que todos esto esquecendo- (uem vai resolver estes pro"lemas? (uem vai e8amin#9
los? (uem tem a capacidade de e8amin#9los com e)etiva inteligência?;e estas pessoas no
e8istem, ento o pro"lema inicial ' )orm#9las. O o"(etivo priorit#rio deste curso ' e8atamente

isto,
vintese
ouno )ormar,
trinta anos, pelo
uma menos contri"uir
verdadeira para )ormar, amanh ou depois, ao longo de talve!
elite intelectual.

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T. 5O 4INIÃO 4GU4GI& 6 E 5 V&:ENCO &CWNO:O 6


=istos os o"(etivos do curso, ' preciso, com rela$o ao indivduo, no somente desenvolver a
inteligência, mas )a!er com que ela se torne a espinha dorsal do comportamento desse
indivduo, ou se(a, que ele leve uma vida dirigida pela inteligência. @om isto ele se tornar#
)inalmente aut7nomo e con)i#vel em seus (ulgamentos, dentro da medida possvel ao ser
humano.ma distin$o importante ' a que e8iste entre (ulgamento pr+prio, ou se(a, você ser
capa! de pensar por si mesmo, e o que ' apenas uma opinio pr+pria. Ho(e em dia todo
mundo )a! questo de ter uma opinio pr+pria, mas isso no ' o mesmo que pensar por si
mesmo. 4ensar por si mesmo no ' apenas você ter uma e8presso, uma opinio que e8presse
a sua pre)erência, o seu gosto J ali#s geralmente muito menos pessoal do que se proclama K ou
a sua individualidade, mas ' você ser capa! de, so!inho e sem a(uda, e8aminar uma questo e
chegar a uma concluso verdadeira ou su)iciente so"re ela, e que, longe de "uscar ser
di)erente da opinio alheia, coincida mais ou menos com as opini3es de outras pessoas que
por si mesmas e8aminaram o assunto, de modo que cada um, e8aminando por si e sem
nenhuma coer$o e8terna, chegue mais ou menos /s mesmas conclus3es. 4ensar por si mesmo
' ser capa! de alcan$ar a verdade so!inho, e no de inventar apenas uma mentira
personali!ada. &li#s uma das condi$3es para o desenvolvimento da inteligência ' você não
%a$er questão de ter uma opinio pr+pr ia, ou se(a, você no )a!er questo de que sua opinio
se(a di)erente da das outras pessoas, ao contr#rio, apenas )a!er questo de e8aminar as coisas
por si mesmo, sem precisar de muletas, sem precisar da aprova$o da maioria ou de quem
quer que se(a, para no )inal chegar a uma concluso, de maneira que você e8presse menos
uma concord0ncia ou discord0ncia natural, mas que a concord0ncia ou discord0ncia se(a
produ!ida por um e8ame re)letido do assunto. ;er capa! de e8aminar por si pr+prio ' mais
importante do que ter uma opinio di)erente da dos outros.

X. O E;C&DO DE DY=ID&
O desenvolvimento da inteligência e8ige ainda uma outra coisa, que ' a toler0ncia para com o
estado de d*vida, que ' um estado psicol+gico que se de)ine por duas a)irma$3es
contradit+rias e simult0neas de credi"ilidade aparentemente igual. Ou se(a, ao e8aminar uma
questo, di!er um sim e um no com igual convic$o, isto ', acreditar tanto numa hip+tese
como na hip+tese contr#ria, ter iguais ra!3es a )avor e contra. Na quase totalidade dos
assuntos com os quais lidamos, no h# tempo e no h# condi$o pr#tica de sair do estado de
d*vida. O indivduo que ou no tem voca$o para a vida da inteligência ou se desviou dela
por um motivo qualquer, sente como muito urgente sair do estado de d*vida2 ele precisa ter
uma opinio de qualquer (eito, precisa se pronunciar, precisa chegar a um sim ou um no, e
esta necessidade ' vivida como mais urgente do que a de conhecer a verdade. Neste caso a
inteligência no se desenvolve, pois ela ' su"stituda pela simples "usca de seguran$a, (# que
a d*vida ' um estado de inseguran$a. ;e queremos desenvolver a inteligência, temos de )a!er
uma
+"vioescolha- a de pre)erir
que a certe!a antes /permanecer
' pre)ervel emela
d*vida, mas d*vida do que terrealmente
s+ ' pre)ervel uma pseudocerte!a. >
quando ' uma
certe!a autêntica, e no uma simples pre)erência individual. Ento uma outra e8igência para o
desenvolvimento da vida intelectual ' uma esp'cie de voto de po"re!a em mat'ria de
opini3es, um voto de ter opinio so"re muito pouca coisa e se reservar para opinar so"re
coisas em que você teve e)etivamente tempo de pensar, e no resto você consentir em
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permanecer em d*vida, at' mesmo, se )or preciso pelo resto de sua vida. ma certe!a )irme '
pre)ervel a um milho de d*vidas mas, lamentavelmente, se quisermos desenvolver a
inteligência teremos de tolerar o estado de d*vida, o estado de incerte!a, por mais tempo do
que as pessoas geralmente toleram. &l'm de )a!er este voto de po"re!a em mat'ria de
opinio, ' necess#rio ainda um outro tipo de voto de po"re!a que ' a ren*ncia / "usca de
apoio, ou se(a, você no acreditar que o n*mero das pessoas que o apoiam representa um
argumento e)etivo em )avor da veracidade do que você est# di!endo. Em todas as quest3es
mais di)ceis a maioria geralmente est# errada, ou se(a, em geral o consenso mais imediato '
)eito em torno de algum erro. 4or que? V# di!ia ;to. Com#s de &quino- & verdade ' )ilha do
tempo. & verdade geralmente demora para aparecer. ;e )or preciso, se )or a"solutamente
preciso "uscar apoio numa opinio ma(orit#ria, ento ' pre)ervel escorar9se nas opini3es que
a humanidade conservou intactas ao longo dos tempos, que resistiram inc+lumes /s mudan$as
e aos desgastes do tempo, do que naquelas que simplesmente )ormam a vo! ma(orit#ria do
nosso tempo, e que correm o grave risco de tornar9se minorit#rias amanh ou depois. Dito de
outro modo- se algum valor tem a opinio da maioria, no ' a da maioria moment0nea, da
maioria mercadol+gica, )uga! e inconstante, mas sim a da maioria humana, da maioria da
esp'cie humana em todas as 'pocas e lugares- quod semper, quod ubiqu e, quod ab omnibus
credita est, 5aquilo em que todos, em toda parte, sempre acreditaram6.
&inda com rela$o / )orma$o de uma elite intelectual, no ' preciso di!er que no '
a"solutamente necess#rio que os mem"ros de uma elite deste tipo tenham opin3es
concordantes, ali#s se tiverem opini3es discordantes talve! at' se(a melhor em determinadas
circunst0ncias. :as e8istem alguns pontos com os quais ' preciso estar de acordo, no que se
re)ere, em primeiro lugar, ao valor da inteligência, ao valor da verdade, e / possi"ilidade do
ser humano desco"rir a verdade. & )' no poder de alcan$ar a verdade ' a condi$o inicial de
qualquer investiga$o )ilos+)ica, di!ia Hegel. ;e no acreditarmos na possi"ilidade de
alcan$ar a verdade no )aremos es)or$os para "usc#9la. > preciso se persuadir de que '
possvel desco"rir a verdade, mas nem sempre a verdade )inal, nem sempre a verdade
a"soluta, e so"retudo nem sempre a verdade so"re todas as coisas. Em muitas coisas '
possvel alcan$ar uma verdade )inal a"soluta, em muito mais coisas do que se costuma
imaginar, por'm em muito menos do que n+s dese(aramos. Na maior parte dos casos teremos
de nos contentar com uma certe!a pro"a"ilstica, e /s ve!es apenas com uma verossimilhan$a,
e /s ve!es com muito menos do que isto, e talve! nos contentarmos com uma d*vida que nos
acompanhar# ao t*mulo.4or'm, na mesma medida em que o indivduo con)ia na inteligência
humana em geral, ele deve descon)iar da sua pr+pria opinio, o que ' um pouco o contr#rio da
atitude que se dissemina ho(e em dia, onde as pessoas di!em no acreditar em verdades
a"solutas mas acreditam com )' a"soluta naquelas verdades relativas que lhes agradam- h# a
uma mistura repugnante de relativismo intelectual com um dogmatismo emocional )an#tico.
&inda que reconhe$amos a di)iculdad e de alcan$ar a verdade com rela$o / quase totalidade
dos assuntos, temos de admitir que, pelo menos com rela$o a algumas coisas modestas,

podemos
cultivamosveri)icar
a no$oa possi"ilidade
da evidênciahumana de alcan$ar
e, so"retudo, a verdade,
cultivamos desdedeo (amais
a norma momento em que
negar que
sa"emos aquilo que e)etivamente sa"emos.

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Z. & &CO@ON;@IN@I& , CEGG& N&C& D& =EGD&DE


> importante aprender a admitir aquilo que você sa"e que ' verdadeiro. &inda que se(am
verdades insigni)icantes, você meditar so"re o +"vio ' talve! a melhor maneira de se ha"ituar
/ verdade e perder o medo dela e a descon)ian$a in(usta quanto ao poder da inteligência. 4or
e8emplo, ainda que quase todos os conhecimentos que e8istam se(am relativos ou duvidosos,
você sa"e que no pode duvidar seriamente de que est# aqui neste momento2 você pode )a!er
de conta que no est#, mas no pode duvidar e)etivamente. ;e e8istem tantos conhecimentos
+"vios so"re coisas insigni)icantes, imaginem aonde poderamos chegar se alcan$#ssemos
evidências deste tipo com rela$o a coisas verdadeiramente importantes< O senso da verdade
se desenvolve a partir do pr+prio senso da evidência, e o senso da evidência tem a sua rai!
naquilo que você j! sabe e sabe que sabe . %uando você sa"e realmente uma coisa,
automaticamente sa"e que sa"e, e se você sa"e que sa"e, você sa"e que sa"e que sa"e. Isto
quer di!er que qualquer conhecimento e)etivo implica tam"'m a consciência deste
conhecimento e a plena admisso da sua veracidade.& inteligência tem, portanto, tam"'m um
aspecto volitivo, inseparavemente ligado ao aspecto cognitivo.
4or onde come$a o treinamento da consciência para admitir a verdade? O primeiro grau no
aprendi!ado da verdade consiste em você aprender a reconhecer aquelas verdades que s+ você
sa"e e que ningu'm, )ora você, pode con)irmar ou negar. 4or e8emplo, s+ você conhece suas
inten$3es, s+ você conhece os atos que praticou em segredo, s+ você conhece os sentimentos
que no con)essou. =ocê, nesses casos, ' a *nica testemunha, e ' a que você vai conhecer a
di)eren$a radical e intransponvel entre verdade e )alsidade. &s pessoas que vivem negando a
e8istência de verdades no conhecem essa e8periência, nunca deram seno )also testemunho
de si mesmas ante o tri"unal da consciência, mentem para si mesmas e por isto sentem que
tudo no mundo ' mentira. Hegel di!ia- a autoconsciência ' a terra natal da verdade. E
iam"attista =ico o"servava que s+ conhecemos per)eitam ente "em aquilo que n+s mesmos
)i!emos- conhecer per)eitamente "em a nature!a s+ Deus conhece, pois Ele a )e!. 4or'm
nossos pr+prios atos somente n+s mesmos podemos conhecer, assim como nossos
pensamentos e nossos estados interiores. No h# ali ningu'm que possa nos )iscali!ar, no h#
ningu'm que possa nos de)ender de n+s mesmos.

1[. O ; G&; DE @EGCEQ&


;e quisermos desenvolver o senso da certe!a temos portanto de nos perguntar e8atamente
so"re aquelas coisas que s+ n+s sa"emos e que ningu'm pode sa"er melhor do que n+s
mesmos. Estas vo dar o modelo para todas as outras certe!as. O aprendi!ado de qualquer
sa"er ' per)eitamente in*til se no houver a consciência re)le8iva, que consiste na )rase- Eu
sei que sei, ou ento na sua oposta complementar, que ' Eu sei que não sei#
:esmo em assuntos duvidosos, com um pouquinho de re)le8o você pode demarcar o limite
entre o conhecimento possvel e o impossvel. Rastaria que consegussemos captar o grau de
certe!a ou de d*vida que e8iste em cada conhecimento (# possudo.E8istem quatro graus de
certe!a possveis-

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1. certe!a2
A. pro"a"ilidade2
P verossimilhan$a2
. con(etura$o do possvel.
@erte!a ' por e8emplo esta que di! 5Eu estou aqui agora6 ou 5Eu sou eu mesmo e no outro6.
%ue ' uma opinio prov#vel? > uma opinio onde você pode s+ ter uma certe!a evidente
J apodtica K com rela$o a um grau de pro"a"ilidade determinado ou determin#vel.
Em outros casos você no pode nem ter isso, você s+ pode ter uma pro"a"ilidade
indeterminada, isto ', veross'mil, no uma pro"a"ilidade rigorosa.
E, )inalmente, em alguns casos s+ podemos ter con(eturas, como por e8emplo perguntar se h#
vida inteligente em outros planetas. &lguns diro que sim, outros que no, e aqueles que
di!em sim têm tanta ra!o quanto aqueles que di!em no. & conhecemos somente uma
possibilidade gen'rica, impossvel de graduar pro"a"ilisticamente.
Eis aqui uma "oa maneira de você )a!er uma )a8ina no seu universo intelectual, para
recome$ar em você
de coisas que "oa ordem. Crata9se
(# estudou, de so
quais )a!eraquelas
a si mesmo as seguintes
que você conheceperguntas- Do con(unto
com certe$a a"soluta?
%uais as que conhece como probabilidade ra$o!vel? %uais as que conhece como conjetura
veross'mil? %uais as que conhece como mera possibilidade? Em suma- quanto vale cada um
dos conhecimentos que você tem?
Eis uma verdade amarga- se, a respeito de um assunto, você crê possuir certo conhecimento
mas não sabe se esse conhecimento é certo, veross'mil, prov!v el ou conjectural, você não
sabe absolutamente nada sobre o assunto . & avalia$o dos conhecimentos )a! parte do
pr+prio conhecimento. ;e no e8iste uma avalia$o clara dos conhecimentos (# adquiridos,
você no sa"e a distin$o entre o que sa"e e o que no sa"e, e isto ' o mesmo que no sa"er
nada. ;eria o caso de perguntar- O que adianta uma educa$o que lhe ensina um monte de
coisas, mas que no o ensina a avaliar e (ulgar o que aprende? No e8iste nenhuma di)eren$a
entre você sa"er alguma coisa e você conseguir separar nela o verdadeiro do )also, pois sa"er
' sa"er distinguir o verdadeiro do )also , ' isto e nada mais al'm disto. ;e você aplicasse esta
grade de distin$3es a tudo o que (# leu ou estudou, se classi)icasse por ela todas as suas
opini3es, imagine a montanha de conhecimentos verdicos que você teria no )im.
Formar convic$o ' )ormar graus de convic$o . E8emplo- =ocê sa"e que Deus e8iste com a
mesma certe!a com que você sa"e que você e8iste? )e Deus e8iste, Ele ' "om- isto ' +"vio.
)eria bom que Deus e8istisse- isto tam"'m ' +"vio. &gora, entre pensar seria "om que Deus
e8istisse e pensar que Deus e8iste e)etivamente h# uma dist0ncia muito grande. Ento, por
e8emplo, se tenho uma discusso com uma pessoa e penso que eu estou certo e ela errada, o
que estou querendo di!er? Estou querendo di!er- )eria bom que eu estivesse certo e ela
estivesse errada, ou melhor, seria bom para mim . &gora, entre pensar que seria "om que eu
estivesse certo e estar a"solutamente certo de )ato, a dist0ncia tam"'m ' enorme. Ento,
lamentavelmente, no podemos estar to certos em tantas coisas como geralmente )ingimos
que estamos. ;+ que se você e8tirpar de seu universo de cren$as um monte de )alsas certe!as,
vai ver que no )im so"ram algumas certe!as ina"al#veis, e estas valem muito. :as se você

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dese(ar preservar todas as suas convic$3es igualmente, no mesmo plano, sem escalaridade
crtica, no )im vo estar todas misturadas, você no vai ter certe!a legtima de nenhuma, e vai
aca"ar duvidando at' de que dois mais dois so quatro, de que você est# aqui neste momento
e at' de que você e8iste. & )alsa certe!a ' a me da d*vida patol+gica.
:uitas ve!es o que acontece ' que o indivduo aca"a tendo certe!a a"soluta de coisas
inteiramente con(eturais, e tendo d*vidas so"re coisa +"vias e ineg#veis, porque no sa"e
equacionar as suas certe!as e suas d*vidas con)orme a seguran$a maior ou menor do
conhecimento em si. > claro que e8istem coisas so"re as quais gostaramos de ter certe!a.
=ocê no gostaria de ter certe!a, por e8emplo, da imortalidade da alma? :uitas ve!es
precisamos de um conhecimento, e este conhecimento se )urta, se nega. :as outras ve!es h#
conhecimentos de que você crê no precisar e eles vêm acompanhados de certe!a a"soluta-
ento por que você no os aceita? m conhecimento aparentemente in*til, mas certo, ' menos
pre(udicial do que um conhecimento aparentemente *til, mas )also. ;e aprendermos a avaliar
os graus de certe!a no con)orme simplesmente o nosso dese(o, mas con)orme / coisa mesma,
con)orme o assunto mesmo admita maior ou menor certe!a, teremos )eito da nossa mente um
instrumento d+cil aos graus de certe!a o)erecidos pela pr+pria realidade. Isso inclusive
pouparia um tra"alho enorme. 4ouparia o tra"alho de você ter de argumentar em )avor de
coisas que so +"vias e que no precisam de argumento nenhum para sustent#9las, "em como
pouparia o tra"alho de argumentar em )avor do inde)ens#vel, do ar"itr#rio, do nonsense .
Este senso de docilidade / verdade apreendida pela pr+pria consciência ' transmitido aos
alunos deste curso como uma pr#tica, no apenas como uma li$o de casa para se )a!er de
ho(e para amanh, mas como uma pr#tica para o resto da vida. Dado qualquer conhecimento,
o aluno ' convidado incessantemente a )a!er as quatro perguntas decisivas- Isto ' ver'dico? >
prov!vel ? > veross'mil? > poss'vel ?O crit'rio dos graus de certe!a ' usado o tempo todo neste
curso2 ' a primeira li$o e tam"'m a *ltima. E a primeira coisa que deve ser revista com este
crit'rio ' qualquer assunto que você (# tenha estudado )ormalmente. ;omente com esta
reviso você (# vai ver que a massa de conhecimen tos, de in)orma$3es adqui ridas, come$a a
adquirir )orma org0nica, inteligvel, e você pela primeira ve! tem uma id'ia clara da cultura
que possui e da que lhe )alta- quando o universo dos seus conhecimentos adquire uma )orma,
você adquire consciência re)le8iva do que sa"e e do que no sa"e.

11. & CO4OG&FI& D& INOG\N@I&

O desenvolvimento da consciência re)le8iva pode ser e8empli)icado na seguinte pr#tica que


dou aos alunos deste curso-
O tempo todo estamos adquirindo in)orma$3es que nos vêm atrav's dos cinco sentidos, da
leitura, do ouvir9di!er, etc., por'm a algumas delas prestamos aten$o e damos um valor, e a
outras no. Ento pergu nto eu- para onde você olha sempre , para onde olha com %requência,
para onde olha de ve$ em quando e para onde não olha jamais ? > (ustamente a consciência
desta sele$o que lhe dar# a topogra)ia do mundo, do seu mundo. Nenhum mundo pessoal
coincide e8tensivamente, quantitativamente, com o mundo o"(etivo. :as um mundo pessoal
ntegro, dotado de unidade como um organismo vivente, (# se parece com o mundo o"(etivo

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precisamente por essa unidade org0nica e, essencialmente ao menos, ' um adequado mapa do
mundo, ao passo que o mundo interior que"radi$o, )ragment#rio e mec0nico no se parece
com nada seno com ele mesmo, com as )antasias de cria$o humana. & di)eren$a no est# na
quantidade de in)orma$3es, mas (ustamente em sua topogra%ia .
& topogra)ia autoconsciente produ! um sentido de per)il, de clare!a das coisas. > e8atamente
isto que a consciência re)le8iva )ar# com seus conhecimentos. & partir da hora em que você
sa"e que sa"e, você e)etivam ente sa"e. E sa"er que sa"e ' tam"'m sa"er quando no sa"e. &
proclama$o gen'rica e vaga de ignor0ncia ' apenas uma vaidade intertid a, mas o repert+rio
organi!ado e crtico da nossa ignor 0ncia é um conhecimento, um conhecimento e)etivo e
importantssimo. O desenho da ignor0ncia, o per)il da ignor0ncia, ' um primeiro sa"er. E este
per)il da ignor0ncia se )a! e8atamente aplicando a grade dos graus de certe!a. ;e você
consegue mapear, de um lado, a sua ignor0ncia, e de outro, o valor possvel de seus
conhecimentos adquiridos, você ter# inaugurado as "ases de uma vida intelectual "rilhante.
4erce"e agora qual a di)eren$a entre um ensino voltado /s )aculdades cognitivas J mem+ria,
imagina$o, raciocnio etc. K e um ensino voltado / inteligência? O que interessa aqui no '
tanto o conhecimento, mas a consciência do conhecimento. @onsciência, cum * scientia , '
isto- sa"er que sa"e o que sa"e.
ma consciência desperta no torna somente mais claros os conhecimentos que você (# tem,
mas o dei8a preparado e como que potenciali!ado para a aquisi$o de novos conhecimentos
com muito mais aproveitamento do que antes2 e ento, para você poder dominar todo um
novo setor da ciência, da hist+ria, da arte, /s ve!es no precisar# nada mais do que ter a(uda
para chegar aos primeiros princpios daquela #rea, o resto você desco"rir# so!inho, porque
ter# conquistado o senso, o 5)aro6 da unidade do conhecimento, e aprender# muitas coisas de
uma maneira mais ou menos sint'tica e simult0nea, onde antes precisava de e8plica$3es
detalhadas, repeti$3es, e8erccios, etc. > claro que essa maior integra$o da consciência, com
o consequente aumento da capacidade de aprendi!ado, no se d# s+ na #rea dos estudos
)ormais, mas em todas as #reas da vida, que aos poucos iro revelando suas intercone83es. O
"ene)cio que isto tra! no ' s+ de ordem intelectual, mas se estende a toda a psique, a toda a
personalidade.
4artindo do princpio de que todo mundo (# sa"e alguma coisa  sa"e por viver, sa"e porque
tem mem+ria, porque assistiu a acontecimentos, porque leu algum livro, porque ouviu )alar,
porque viu televiso, porque leu (ornal, e en)im alguma coisa sempre se sa"e , ento resta
trans)ormar esse sa"er em autoconsciência. ;e o sa"er e)etivo, se a inteligência se identi)ica
)undamentalmente com a autoconsciência, o sa"er que você possui s+ se tornar# um sa"er
inteligente se )or um sa"er autoconsci ente, ou se(a, se você passar todo este sa"er na peneira
das seguintes perguntas-
+# Até que ponto sei isto realmente
A. (uanto vale este conhecimento
P. O que %altaria para que ele %osse completo
Ou se(a, come$ar )a!endo uma reviso das coisas que você acredita que sa"e. =ale ressaltar
que estes conhecimentos no se re)erem apenas /s coisas estudadas )ormalmente atrav's de
canais o)iciais de educa$o, mas so"retudo /queles estudos, e8periên cias e pensamentos que

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sedimentaram em você determinadas convic$3es. Outro ponto importante a ressaltar ' o )ato
de que quando você dedica, por o"riga$o pro)issional ou escolar no assumida interiormente
mas somente imposta de )ora, uma aten$o maior a t+picos que no lhe interessam
pro)undamente, e no chega a desenvolver um interesse autêntico , mas trata do assunto com
uma aten$o peri)'rica e como que ligada no piloto autom#tico, você pre(udica sua
inteligência e se a)asta quase que necessariamente da verdade. 4orque, se a inteligência '
capacidade de captar a verdade e de capt#9la numa situa$o verdadeira, o simples )ato de você
dedicar ao assunto uma aten$o )alsa (# ' um impedimento ao conhecimento da verdade, ' um
vcio que no o a(uda em nada a desenvolver a inteligência.;+ podemos usar a inteligência
com cem por cento da sua )or$a onde houver cem por cento de interesse, e in)eli!mente o
interesse no depende inteiramente de n+s, porque o interesse que temos por este ou aquele
pro"lema pode provir de uma situa$o e8terna, de uma casualidade, de uma contingência, de
um temor, de um dese(o )ortuito, e assim por diante. Isto quer di!er tam"'m que o processo
do desenvolvimento da inteligência no pode seguir um programa predeterminado como no
estudo de uma discip lina em particular. Ele tem de ir e vir, mais ou menos ao sa"or do )lu8o
dos interesses reais do momento e da possi"ilidade de desenvolver novos interesses.

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