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Peça Teatral - Artaud - O Jato de Sangue PDF
Peça Teatral - Artaud - O Jato de Sangue PDF
de Antonin Artaud
Pausa. Se ouve o ruído de uma imensa roda que gira, expelindo vento. Um furacão
separa-os. Nesse momento, dois astros se chocam e começam a cair, em carne viva,
pernas, pés, mãos, cabeleiras, máscaras, colunas, pórticos, templos, alambiques; caem,
mas cada vez mais devagar, como se caíssem no vácuo; em seguida, três escorpiões, um
atrás do outro, e por último uma rã e um escaravelho, que passa com uma lentidão
desesperadora, uma lentidão de dar ânsia de vomito.
RAPAZ (gritando com toda sua força) - O céu ficou louco. (Olha para o céu) Vamos sair
correndo.
Empurra a Moça. E entra um Cavalheiro medieval com uma armadura enorme, seguido de
uma Ama-de-leite, que segura os peitos com as mãos, resfolegante por causa de seus seios
muito inchados.
Atira-lhe os papéis.
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Foge a Ama-de-leite. Então o Cavalheiro apruma-se e de cada folha tira uma enorme
fatia de queijo suíço. De repente, começa a tossir e engasga.
CAVALHEIRO - Ei! Ei! Deixa eu ver os seus peitos. Deixa eu ver os seus peitos. Onde ela
se meteu?
RAPAZ - Vi, ouvi, entendi. Aqui a praça, o padre, o sapateiro, a verdureira, a entrada da
igreja, o lampião do prostíbulo, a balança da justiça. Não posso mais!
Sai correndo. Por sua vez, o Padre se afasta do grupo e passa o braço em torno do
pescoço do Rapaz.
PADRE (como em um confessionário) - A que parte de seu corpo você se refere com mais
frequência?
RAPAZ - A Deus.
PADRE (com sotaque suíço) – Isso já não se faz. Não nos interessa. Temos de deixá-lo
para os vulcões, os terremotos. Nós nos sustentamos com as imundícies dos homens no
confessionário. E isso é tudo. É a vida.
RAPAZ (muito impressionado) - Ah! Com que então é a vida! Pois que se danem!
PADRE (com sotaque suíço) - Assim seja.
Morde o punho de deus. Um imenso jorro de sangue dilacera o cenário e, enquanto soa um
relâmpago mais longo que os outros, vê-se o padre que se persigna. Quando volta a luz,
todos os personagens estão mortos e seus cadáveres jazem no solo por toda parte. Apenas
ficam o Rapaz e a Alcoviteira, que se devoram com os olhos. A Alcoviteira cai nos braços
do Rapaz.
O Rapaz esconde a cara entre as mãos. Volta a Ama-de-leite levando a Moça, como um
fardo, em baixo do braço. A Moça está morta. Solta-a e ela se estatela no chão, onde fica
como uma panqueca. A Ama-de-leite já não tem peitos, é completamente plana. Nesse
momento entra o Cavalheiro, que se atira sobre ela e a sacode com veemência.
Levanta a saia. O Rapaz quer fugir, mas fica rígido como um marionete petrificado.
RAPAZ (como que suspenso no ar, com voz de ventríloquo) - No faça mal à mamãe.
CAVALHEIRO – Maldita.
FIM