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Fausto Brito∗
Cláudia Júlia Guimarães Horta∗∗
Ernesto Friedrich de Lima Amaral∗∗∗
∗
Professor e Pesquisador do CEDPLAR/FACE/UFMG
∗∗
Doutoranda e Assistente de Pesquisa no CEDEPLAR/FACE/UFMG
∗∗∗
Mestrando no CEDEPLAR/FACE/UFMG
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República Velha é que estes arquipélagos regionais, onde se constituíam os sistemas regionais de cidades,
começam a se articular, nacionalmente, dentro de um processo de integração mercantil.
Em 1920, o Brasil contabilizava uma população de 27.500.000 e contava com 74 cidades maiores
do que 20 mil habitantes, nas quais residiam 4.552.069, ou seja, 17,0% do total da população. Mas, a
população urbana se mantinha bastante concentrada, 58,3% destas cidades estavam na região Sudeste, em
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e no Distrito Federal. VILELA e SUZIGAN (1973)
Mas, foi a partir dos anos 30 e 40 que a urbanização se incorporou às profundas transformações
estruturais que passavam a sociedade e a economia brasileira. Assume, de fato, uma dimensão estrutural:
não é só o território que acelera o seu processo de urbanização, mas é a própria sociedade brasileira que se
torna cada vez mais urbana. Este “grande ciclo de expansão da urbanização”, que se iniciava, coincidia
com o “grande ciclo de expansão das migrações internas”. As migrações internas faziam o elo maior entre
as mudanças estruturais que passavam a sociedade e a economia brasileira e a aceleração do processo de
urbanização.
O objetivo principal desse artigo é analisar o grande ciclo de expansão da urbanização brasileira,
principalmente depois da década de quarenta, mostrando as mudanças que ocorreram após os anos setenta,
com especial destaque para a importância das aglomerações metropolitanas.
se que, o Brasil ainda tem, certamente, um razoável potencial de transferência de população do campo
para as cidades.
GRÁFICO 1
BRASIL - GRAU DE URBANIZAÇÃO
1940 - 2000
90
80
70
60
50
%
40
30 Grau de urbanização 1
20 Grau de urbanização 2
10
0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Anos
Fonte: Dados Básicos: FIBGE, Censos Demográficos de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
Nota: Grau de urbanização 1 utiliza a definição do IBGE de população urbana e rural, enquanto que o grau de urbanização 2 emprega
a definição de população rural, como sendo aqueles indivíduos que residem nas cidades com menos de 20 mil habitantes.
Entretanto, a definição de urbano, que aparece nos Censos Demográfico do IBGE, tem sido,
muitas vezes, criticada por se restringir aos limites estritamente geográficos. Alguns autores, como
MARTINE (1992), por exemplo, têm procurado aperfeiçoar o critério do IBGE, propondo que deveriam
ser considerados como habitantes da área rural, aqueles que residem nas cidades com menos de 20 mil
habitantes. Assim, segundo este critério, a população urbana só teria superado a rural em 1980.
O que aparece como um grande destaque no caso brasileiro, semelhante a alguns outros países em
desenvolvimento, foi a velocidade do processo de urbanização, muito superior a dos países capitalistas
mais avançados. Somente, na segunda metade do século XX, a população urbana passou de 18.782.891
para 137.697.439, multiplicando 7,33 vezes, com uma taxa média anual de crescimento de 4,1%. Ou seja,
a cada ano, em média, nessa última metade de século, 2.378.291 habitantes eram acrescidos à população
urbana.
A análise da velocidade da urbanização pode ser feita utilizando dois indicadores. O primeiro é a
taxa de crescimento corrente da população urbana e o segundo é a taxa de urbanização. O auge do
crescimento da população urbana se deu entre 1950 e 1980, fundamentalmente nas duas primeiras
décadas. A partir daí, começa a desalecerar seu ritmo, apesar dele se manter ainda bastante elevado,
também, na década de setenta. (Gráfico 2)
No auge da expansão urbana, as altas taxas de fecundidade tiveram grande importância para esse
excepcional crescimento demográfico. Vale lembrar que é somente a partir da década de sessenta, que o
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declínio dos níveis de fecundidade ocorrem mais acentuadamente. Contudo, a maior parte do crescimento
demográfico urbano pode ser explicado pelo intenso fluxo migratório rural-urbano. Somente entre 1960 e
1980, auge do ciclo de expansão das migrações, estima-se que eles foram responsáveis por 53,0% do
crescimento da população urbana. E, se consideramos ainda os filhos tidos pelos migrantes rurais nas
cidades, ou seja, o efeito indireto da migração, a sua participação no crescimento da população urbana
chega a 65,0% (Carvalho, Fernandes, 1994).
GRÁFICO 2
BRASIL - TAXAS DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO
1940/2000
6,00
5,00
4,00
3,00
%
2,00
1,00
0,00
-1,00
-2,00
1940/50 1950/60 1960/70 1970/80 1980/91 1991/2000
RURAL URBANA TOTAL
Fonte: Dados Básicos: FIBGE, Censos Demográficos de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
Como foi dito, as migrações internas fizeram um dos elos mais importantes entre as profundas
mudanças estruturais e a expansão urbana. O intenso crescimento da economia urbano–industrial, depois
do Plano de Metas, até o final dos anos setenta, foi, do ponto de vista espacial e social, extremamente
desequilibrado. Muito concentrado no Rio de Janeiro e, fundamentalmente em São Paulo, o
desenvolvimento da economia ampliou os desequilíbrios regionais, inclusive entre a cidade e o campo,
que não conseguia gerar o número de empregos que atendesse ao crescimento da sua força de trabalho. As
migrações internas redistribuíam a população do campo para as cidades, principalmente, para as regiões
metropolitanas do Sudeste, São Paulo em particular. Apesar do grande crescimento da economia até o
final da década de setenta, as migrações internas, fruto dos desequilíbrios econômicos e sociais, nas suas
regiões de origem, acabavam por reproduzi-los nas regiões de destino.
Os Gráficos 2 e 3 mostram, também, que a partir da década de setenta, houve um acentuado
declínio do ritmo de crescimento da população urbana, que foi suavizado nos anos noventa, mas o ritmo
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ainda era declinante 1 . Os dados sugerem que o auge da expansão urbana encontra seu limite já no início
dos anos oitenta, quando já se acelera a redução das taxas de fecundidade urbana e assiste-se a uma
sensível diminuição da migração rural-urbana.
GRÁFICO 3
BRASIL - TAXAS DE URBANIZAÇÃO
1940/2000
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
Fonte: Dados Básicos: FIBGE, Censos Demográficos de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
1
A taxa de urbanização é definida pela seguinte expressão: (((1 + ru )/(1 + rt )) - 1) * 100. Essa fórmula foi elaborado
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população urbana brasileira. Os residentes nas cidades com mais de 500 mil habitantes aumentaram a sua
porcentagem até 1970, quando praticamente, se estabilizou até 2000, concentrando um terço de toda a
população urbana.
GRÁFICO 4
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA
BRASIL, 1940/2000
50
40
% 30
20
10
0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
menor 20 mil 20 a 50 mil 50 a 100 mil 100 a 500 mil mais de 500 mil
Fonte: Dados Básicos: FIBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
Os dados até agora analisados mostram que o ciclo de expansão da população urbana, até 1980,
caminhava na direção de uma grande concentração da população nas grandes cidades, principalmente
naquelas com mais de 500 mil habitantes. Nesta época, 57,0% da população urbana já residia em cidades
maiores do que 100 mil habitantes e 35,0% em cidades maiores do que 500 mil. Após 1980, o ciclo de
expansão começa a assumir um novo padrão, apresentando uma desaceleração mais acentuada do
crescimento da população urbana e da evolução do seu grau de urbanização, além de uma desconcentração
relativa favorável a uma maior participação das cidades com uma população entre 100 e 500 mil
habitantes, que continuam a crescer mais intensamente que as cidades com mais de 500 mil habitantes.
O ciclo de expansão da urbanização pode ser compreendido dentro do processo mais amplo de
constituição das grandes regiões metropolitanas a partir dos anos setenta. Essas regiões desde a sua
criação, até os dias atuais, sofreram inúmeras transformações com a incorporação de novos municípios.
Como esta decisão é da competência das Assembléias Legislativas, muitas vezes, a delimitação de uma
região metropolitana obedece muito mais a critérios políticos.
Com o propósito de analisar mais fidedignamente a realidade metropolitana será utilizado o estudo
desenvolvido pelo IPEA, NESUR-IE-UNICAMP e o IBGE (1999), no qual foram identificados grupos de
cidades que realmente constituíam o aglomerado metropolitano. Para tanto, foram empregados indicadores
por CARVALHO, J. A.
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demográficos e econômicos, assim como dos fluxos de bens e serviços para definição do espaço urbano
que realmente pudesse ser considerado um aglomerado metropolitano. Desta forma, é possível construir
tipologias que estabeleçam grandes áreas urbanas contínuas formadas pelo crescimento de algumas
cidades, ou conjuntos de cidades. No presente estudo, optou-se por selecionar, dentre os grupos
estabelecidos, aqueles que foram considerados aglomerações metropolitanas globais, São Paulo e Rio de
Janeiro, e as nacionais, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Porto
Alegre, Goiânia e Brasília. A Tabela 1 trás uma síntese da distribuição das cidades e dos aglomerados
metropolitanos por agrupamento segundo tamanho de população.
TABELA 1
BRASIL - POPULAÇÃO URBANA E AGLOMERAÇÕES
METROPOLITANAS (%) - 1970/2000
POPULAÇÃO URBANA TOTAL
CIDADES
1970 1980 1991 2000
Cidades Não Metropolitanas
< 20.000 25,82 20,92 19,07 18,57
20.000 a < 50.000 9,48 9,91 11,29 10,60
50.000 a < 100.000 5,77 7,40 8,07 8,28
100.000 a < 500.000 10,29 14,84 16,41 17,31
500.000 e mais 0,00 0,00 2,23 4,25
Total não Metropolitanas 51,36 53,07 57,07 59,02
Cidades Metropolitanas
< 20.000 1,09 0,43 0,27 0,28
20.000 a < 50.000 2,56 1,49 1,15 0,87
50.000 a < 100.000 2,03 3,10 2,16 2,30
100.000 a < 500.000 7,47 6,62 8,02 8,78
500.000 e mais 1,40 4,19 4,76 4,91
Total Metropolitanas(sem Núcleos) 14,55 15,83 16,36 17,15
Núcleos Metropolitanos 34,09 31,11 26,56 23,83
Total Metropolitanas 48,64 46,93 42,93 40,98
Total Absoluto da Pop. Urbana 52.097.271 80.436.409 110.990.990 137.697.439
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
A partir de 1980, o processo de desconcentração relativa da população urbana, tem levado, nas
aglomerações metropolitanas, a uma redução da importância relativa das suas cidades núcleos e,
consequentemente, um aumento das demais. Apesar disto, deve ser sublinhado que ainda residiam nas
aglomerações metropolitanas, em 2000, 41,0% da população urbana brasileira, e nos núcleos, parcela
também significativa de 24,0%, determinado por um contingente populacional de 33 milhões de
habitantes. Ainda dentro do processo de desconcentração relativa, chama a atenção, a crescente
importância das cidades entre 100 e 500 mil habitantes, não metropolitanas, onde já residam, em 2000,
17,3% dos residentes nas cidades brasileiras.
AS AGLOMERAÇÕES METROPOLITANAS
TABELA 2
BRASIL - POPULAÇÃO TOTAL SEGUNDO AGLOMERAÇÕES METROPOLITANAS
1970/2000
AGLOMERAÇÕES POPULAÇÃO TOTAL
METROPOLITANAS 1970 1980 1991 2000
Belém 669.768 1.021.486 1.401.305 1.794.981
Fortaleza 1.070.114 1.627.042 2.339.538 2.901.040
Recife 1.755.083 2.347.005 2.874.555 3.272.322
Salvador 1.135.818 1.752.839 2.474.385 2.988.610
Belo Horizonte 1.619.792 2.570.281 3.385.386 4.161.028
Rio de Janeiro 6.879.183 8.758.420 9.796.649 10.847.106
São Paulo 8.113.873 12.552.203 15.395.780 17.768.135
Campinas 644.490 1.221.104 1.778.821 2.215.027
Curitiba 809.305 1.427.782 1.984.349 2.634.410
Porto Alegre 1.590.798 2.307.586 3.029.073 3.495.119
Goiânia 424.588 807.626 1.204.565 1.606.955
Brasília 625.916 1.357.171 1.980.432 2.746.747
TOTAL AGLOMERADO 25.338.728 37.750.545 47.644.838 56.431.480
POP. BRASIL 93.139.037 119.002.706 146.825.475 169.544.443
AGLOMERADOS/BRASIL 27,21 31,72 32,45 33,28
POP. URBANA 52.084.984 80.436.409 110.990.990 137.697.439
AGLOMERADO/URBANA 48,65 46,93 42,93 40,98
Fonte: Censos Demográficos de 1970,1980,1991 e 2000(resultados preliminares)
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TABELA 3
BRASIL - AGLOMERAÇÕES METROPOLITANAS
TAXA DE CRESCIMENTO (%) - 1970/2000
AGLOMERAÇÕES TAXA DE CRESCIMENTO (%)
METROPOLITANAS 1970/80 1980/91 1991/2000
Belém 4,31 2,92 2,82
Fortaleza 4,28 3,36 2,44
Recife 2,95 1,86 1,46
Salvador 4,43 3,18 2,14
Belo Horizonte 4,73 2,54 2,34
Rio de Janeiro 2,44 1,02 1,15
São Paulo 4,46 1,87 1,62
Campinas 6,60 3,48 2,49
Curitiba 5,84 3,04 3,23
Porto Alegre 3,79 2,50 1,62
Goiânia 6,64 3,70 3,29
Brasília 8,05 3,50 3,74
TOTAL AGLOMERADO 4,07 2,14 1,92
Fonte: FIBGE, C e n s o s Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 ( dados preliminares)
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GRÁFICO 5
PARTICIPAÇÃO DE CADA AGLOMERAÇÃO METROPOLITANA
NO INCREMENTO DA POPULAÇÃO URBANA
1970/80 1991/2000
1980/91
1,96 1,24 2,87 1,47
2,58 1,24 2,04 2,10
1,35 1,30 2,33
2,09 1,51
1,49
2,53 2,36 1,73
2,18 1,75
2,18 1,93
3,35 1,82 2,36
2,03 2,43
2,90
1,83
2,67 1,63
6,63
3,93
3,40
15,65
9,31 8,88
TABELA 4
BRASIL - TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DO NÚCLEO E PERIFERIA
DAS AGLOMERAÇÕES METROPOLITANAS, 1970/2000
AGLOMERAÇÕES 1970/1980 1980/1991 1991/2000
METROPOLITANAS NÚCLEO PERIFERIA NÚCLEO PERIFERIA NÚCLEO PERIFERIA
Belém 3,95 9,26 2,65 5,36 0,31 14,29
Fortaleza 4,30 4,18 2,78 5,42 2,15 3,30
Recife 1,27 5,11 0,69 2,96 1,03 1,81
Salvador 4,08 6,91 2,98 4,31 1,84 3,61
Belo Horizonte 3,73 7,45 1,15 5,11 1,11 3,97
Rio de Janeiro 1,82 3,39 0,67 1,49 0,73 1,66
São Paulo 3,67 6,37 1,16 3,22 0,85 2,81
Campinas 5,86 7,56 2,24 4,79 1,50 3,33
Curitiba 5,34 7,24 2,29 4,72 2,13 5,15
Porto Alegre 2,43 5,30 1,06 3,71 0,83 2,15
Goiânia 6,54 7,48 2,31 10,94 1,90 7,01
Brasília 8,15 7,38 2,84 7,00 2,77 7,17
TOTAL 3,49 5,32 1,50 3,28 1,21 2,99
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
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TABELA 5
BRASIL - CONTRIBUIÇÃO DO NÚCLEO PARA O INCREMENTO
MÉDIO ANUAL DO AGLOMERADO (%) - 1970/2000
AGLOMERAÇÕES CONTRIBUIÇÃO DO NÚCLEO
METROPOLITANAS 1970/80 1980/91 1991/2000
Belém 85,27 81,99 8,93
Fortaleza 80,73 64,71 65,82
Recife 24,19 17,88 31,10
Salvador 80,19 79,45 71,10
Belo Horizonte 57,43 29,36 27,01
Rio de Janeiro 44,63 37,57 35,20
São Paulo 57,87 40,55 32,03
Campinas 50,07 32,82 27,58
Curitiba 67,25 52,12 41,82
Porto Alegre 33,47 19,12 20,71
Goiânia 87,92 51,57 41,84
Brasília 87,44 68,06 57,69
TOTAL AGLOMERADO 58,50 45,10 37,93
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados preliminares)
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Concluindo, o grande ciclo de expansão da urbanização apresenta um ponto de inflexão a partir de 1980,
quando:
BIBLIOGRAFIA
VILELA, Anibal e SUZIGAN, Wilson. Política do Governo e crescimento da economia brasileira 1889 -
1945, IPEA, Série Monografias , no . 10, 1973.