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Ferreira Gullar

VIDA E OBRA

Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, é um dos nomes mais


representativos da moderna literatura brasileira. Sua extensa e diversificada produção literária e
teórica fez do escritor um dos mais importantes poetas e críticos de arte brasileiros da atualidade.
O primeiro livro de poesias, Um pouco acima do chão, foi publicado em 1949 quando o
poeta tinha apenas dezenove anos. Nessa fase, Gullar, em período de formação, mostrou-se
influenciado pelas estéticas simbolistas e parnasianas. Posteriormente, no início da década de
1950, escreveu os poemas de A luta corporal, livro no qual é possível notar certa semelhança com
a poesia dos poetas paulistas que, em 1956, lançaram o Concretismo. Explorando propriedades
gráficas e vocais das palavras, rompendo com a ortografia e com as convenções da lírica
tradicional, Ferreira Gullar integrou de maneira circunstancial o movimento concretista, do qual
se afastou por causa de discordâncias em relação às suas propostas teóricas. Abandonou as
experiências de vanguarda e engajou-se na política por meio do Centro Popular de Cultura (CPC),
grupo de intelectuais de esquerda criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o
caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista.
Nessa mesma década, 1960, a poesia de Ferreira Gullar já mostrou um estado de alta
tensão psíquica e ideológica: seus textos, independentemente dos temas abordados, são
participantes, isto é, engajados, evidenciando a preocupação do poeta com as mazelas sociais e,
sobretudo, a preocupação em contribuir para a transformação da sociedade brasileira. Por sua
intensa participação política, foi perseguido pela Ditadura Militar e, no exílio em Buenos Aires,
escreveu Poema sujo, considerado uma obra-prima da literatura brasileira. Gravado em uma fita
cassete, o poema foi trazido para o Brasil pelo amigo, o também poeta Vinícius de Moraes, e no
ano de 1976 foi, finalmente, publicado.
Curiosamente, o reconhecimento da importância de sua obra aconteceu apenas na década
de 1990, período em que foi agraciado com diversos prêmios e homenagens, entre os quais o
Prêmio Jabuti (o mais importante prêmio literário do Brasil), o Prêmio Machado de Assis (oferecido
pela Academia Brasileira de Letras) e o Prêmio Camões (concedido pelos governos do Brasil e de
Portugal a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e
cultural da língua portuguesa), além de uma indicação ao Prêmio Nobel de Literatura no ano de
2002. Paralelamente à produção poética, Ferreira Gullar construiu uma sólida obra teórica e crítica
no campo das artes visuais, na qual reviu antigas posições (principalmente em relação ao uso da
poesia como instrumento de conscientização social) e tratou de questões referentes à arte
contemporânea produzida no Brasil e em outros países.
Poesia

TRADUZIR-SE (do livro "Na Vertigem do Dia", 1980, ed. José Olympio)
NASCE O POETA (do livro "Muitas Vozes", 1999, ed. José Olympio)
APRENDIZADO (Do livro "Barulhos", 1987, ed. José Olympio)
MEU POVO, MEU POEMA (do livro "Dentro da Noite Veloz", 1975, ed. José Olympio)
CANTADA (idem)

Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria


abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão

que a vida só consome


o que a alimenta.

A vida é um aprendizado. Aprendemos na alegria e na dor. Tudo nos faz aprender que mentiras,
desculpas e ilusões não têm lugar, não deveriam ter lugar, são um tipo de corrupção.
O “avesso ardente” da alegria, das experiências positivas e entusiasmantes, é a consciência do
muito a se fazer.

Desculpas não resolvem culpas. Em lugar das desculpas, a responsabilidade.

Ilusões devem transformar-se em desilusões. A poesia pede que mergulhemos na realidade. É


dentro dela que nos perdemos e nos achamos.

A verdade da vida: a vida só consome o que a alimenta. Isto é, aprendendo com todas as
experiências, damos sentido à vida.
BIOGRAFIA DE FERREIRA GULLAR

Infância e Adolescência
Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 10 de setembro de 1930. Iniciou seus estudos
em sua cidade natal. Com 13 anos passou a se dedicar à poesia. Ingressou na Escola Técnica São
Luís, onde queria aprender uma profissão.
Com 18 anos, Ferreira Gullar desistiu da Escola Técnica e começou a assinar “Ferreira Gullar” e
publicou seu primeiro livro de poesias, intitulado "Um Pouco Acima do Chão". Em 1951 mudou-se
para o Rio de Janeiro, onde atuou como revisor de textos da revista O Cruzeiro.

Poesia Concreta
Ferreira Gullar iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta. Em 1954 escreveu a "A Luta
Corporal", livro que prenunciava a Poesia Concreta.
Em 1956, depois de participar da primeira exposição de Poesia Concreta, realizada em São Paulo,
organizou e liderou o grupo "Neoconcreto", no qual participaram Lígia Clark e Hélio Oiticica.
No começo dos anos 60, Ferreira Gullar já havia rompido com as vanguardas, numa luta para
construir uma expressão própria, entrando em contato com os problemas sociais que assolavam
o país. Passou a fazer uma poesia de denúncia social. É de 1968, “Por Você, Por Mim”, longo poema
sobre o Vietnã.

Exílio
Ferreira Gullar presidia o Centro Popular de Cultura, quando em 1964, veio o golpe militar. Filiado
ao PC e um dos fundadores do grupo Opinião, após a edição do Ato Institucional n.º 5, em 1969,
foi preso junto com intelectuais e músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Em 1971, mudou-se para Paris. Morou em seguida no Chile, Peru e Argentina.
Exilado por cinco anos, publicou duas obras muito importantes: “Dentro da Noite Veloz” (1975) e
"Poema Sujo" (1976) obras que representam a solução dos problemas vividos por todos os
intelectuais do período, que viram seus ideais populistas serem sufocados pela revolução de 1964.
Em 1977 é absolvido pelo STF e retorna ao Brasil.

Últimos Anos
No dia 9 de outubro de 2014, Ferreira Gullar foi eleito para a cadeira n.º 37 da Academia Brasileira
de Letras. Em dezembro desse mesmo ano realizou a exposição "A Revelação do Avesso" onde
apresentou 30 quadros feitos a partir de colagens com papel colorido, que foram produzidas como
passatempo. A mostra foi acompanhada por um livro com fotos da coleção completa e também
com poemas do autor.
Ferreira Gullar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de dezembro de 2016.

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