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Rio de Janeiro/setembro, 1979/ r$ 20,00

• Leitura para
maiores de 18 anos
da esquina

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ALTOS • Minas _________


PAPOS elege a CHANTAGEM
SOBRE NOBANHEIRO
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Centro de Documentação
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
ESOUINA

porta. Por um momento pensei que estivesse as- deI explicou ser' 'o toque critico" do seu projeto.
sistindo a uma briga entre Elke Maravilha e Passado o susto, retomamos nossas tarefas,
Clóvis Bornay, tantas são as plumas colocadas apesar de atuados pela presença de tanto ba-
no recinto. O tapete, em pele de zebra cor de dulaque na sala de 3 por S. Adão se entretinha
Conselho Editorial - Adão rosa (já tinham visto? Nem eu.) chega até nos- empilhando umas cartas que todas as semanas
Acosta, Aguinaldo Silva, Antônio so tornozelo (de salto 7 e 1/2. pois com mocas-' recebemos de Minas falando mal do jornal.
Chrysôstomo, Clóvis Marques, sim dá até o joelho). No meio da salinha de )< Francisco retocava uma foto do João Paulb
Darcy Penteado, Francisco Bitten- 5, um lustre com dezesseis mil e trezentos pin- Adour dançando com o Pedro de Lara na boate
court, Gasparino Damata, Jean-
Claude Bernardet, João Silvério
visita gentes de cristal de fazer inveja a qualquer
alegoria de Joãozinho Trinta. De cada um dos
dez pingentes maiores saem guirlandas de flores
Casanova. Eis quando irrompem redação à
dentro três assaltantes armados. Chrys pre-
cipitou-se para o tal rádio faixa PM que, claro,
Trevisan e Peter Fry.
Coordenador de edição -
Aguinaldo Silva.
à nossa presas na parede por anjos tocando trombetas
(com cara de Alcione tocando piston).
Conseguimos descobrir duas máquinas de
enguiçou no ato. Minha Nossa Senhora dos En-
tendidos, pensamos, vão querer dinheiro' Mes-
mo assim ficamos mais tranqüilos quando
notamos que nenhum usava farda, sinal de que
Colaboradores - Agudo
Guimarães, Frederico Jorge Dan-
tas, Alceste Pinheiro, Paulo Sérgio
redação escrever. Essa em que batuco essa matéria, toda
em letras góticas e teclas douradas e uma outra
em braile, que mais tarde Lurde.l explicou servir
não atirariam a torto e a direito.
O que tinha mais cara de débil mental e,
lógico, era o chefe do grupo, perguntou pela
para o caso de contratarmos a feminista Rose
Pestana, ZsuZsu Vieira, José Fer- Marie Muraro aqui pro LAMPIÃO. Num canto Rafada Mambaba e disse - "Isso é um seqües-
nando Bastos, Henrique Neiva, perto da porta um jarrão chinês de Nova Iguaçu tro' Queremos a Mambaba para acertar ins
Lelia Miccolis, Luiz Carlos Lacer- cheio de penas de faisão e plumas de avestruz, apontamentos com a gente". Explicamos que a
Nós já temos redação. Claro que não po- Mamba&a é assim mesmo, não faz por mal
da, Nélson Abrantes, Sérgio San' demos comparar com o Blochão do Russel, mas Ficamos imaginando onde a bicha encontrou
tanto pavão, tanto avestruz e tanto faisão, sem etc.. Além do mais não estava na redação, re-
teiro, João Carlos Rodrigues, João a gente ainda chega lá. Basta uma puxadinha colhida ao leito por suspeita de gravidez pro-
de saco aqui (e nisso somos mestres temos lembrar no primeiro momento que é prima de
Carneiro (Rio); José Pires Barrozo prática!), outra puxadinha de saco acolá e a Bki Klabjn. Os cinzeiros todos de cristal e as vocada por Ney Latorraca. Depois de rirem
Filho, Carlos Alberto Miranda canelas, em prata, cada uma com o nome do muito (e não era pra menos) os bandidos dis-
gente consegue um prédio igual. Por enquanto, seram quç levariam qualquer um de nós como
(Niterói); Mansa, Edward MacRae como está sã bom. Ou quase, como veremos a dono gravado no bocal. Ela chegou ao cúmulo
de coniratar o cabeleireiro Silsinho para pentear refém. "se bobear, de pau-de-arara" em cima e
(Campinas); Glauco Mattoso, Cel- seguir. O Aguinaldo escolheu como local um
uma cia da Mona Lisa, o que foi leito com tudo. Foi quando todos se ofereceram para
so Curi, Edélcio Mostaço, Paulo edifício perto da rua Taylor, na Lapa e o Chry- substituir La MambabT Afinal de cxsstas, não é
sóstomo resolveu convidar Lordes Lurdel, uma muitas trancinhas, flores e frutos tropicais por
Augusto, Cynthia Sarti (São das mais famosas e finas decoradoras do Rio, entre véus diáfanos. Conseguiu um' rádio com todo o dia que se pode ver de perto, ao vivo, essa
Paulo); Eduardo Dantes (Campo três faixas - AM. FM e PM, esta última para ave tão rara de nossa fauna policial. (Longuis-
para que preparasse nosso local de trabalho. Oh sima pausa, que o leitor pode preencher como
Grande); Amylton Almeida Deus! Lurdes levou um mês para considerar sua emergência de algum assalto.
quiser, com a sua imaginação). O fato é que,
(Vitória); Zé Albuquerque (Recife); 'obra" acabada e nos permitir uma visitirtha. depois da passada pela maloca dos bandidos,
Gilmar de Carvalho (Fortaleza); Logo que chegamos percebemos que tinha Se o Nélson Ned estivesse na sala eu juraria fomos todos, inclusive os meliantes tão sau-
Alexandre Ribondi (BrasIlia); caprichado. A campainha da porta é uma garça que ali é que se tinha realizado a festa do Re- dáveis e simpáticos, comer um filé à francesa no
dourada que toca uma trecho das Bachianas de gine, pois as paredes são decoradas por lotos restaurante Novo Capela, Conhecem? Estava
Pobio Alves (João Pessoa); Fran- Valia Lobos quando se aperta o seu bico, das tais esculturas vi gas que animaram a inaugurada, em grande estilo, a nossa se- -
klin Jorge (Natal); Paulo Hecker gravação a cargo de Diva Pieranti. Abrimos a noitada da polaca, detalhe revoltante que Lur- de. (José Fernando Risto,)-
Filho (Porto Alegre); Wilson
Bueno (Curitiba); Edvaldo Ribeiro
de Oliveira (Jacarel); Biroca
(Teresina). Sob o título 'Cave Hominem" (corram todos Milhões de criança que não moram na zona
Correspondentes Fran Tor-
nabene (San Francisco); AlIen
Young (Nova lorque); Armando de
Quanto ao dicionário de latim), o Informe JB de 27 de
julho tentou denunciar, ou questionar. a presença
de cães na praia e no calçadão de Copacabana.
sul do Rio estão mais precisadas de coisas ele- -
mentares como alimentos, esgotos e um teto para
dormir do que de serem protegidas contra dejetos
Partindo disso, faia também da matança desses de cães. O Informe JB não é tolo, sabe disso, mas
Fulviá (Barcelona); Ricardo e Hec- animais por parte de pessoas anônimas, que a função dele é essa, botar panos quentes, criticar
tor (Madrid); Addy (Londres);
Celestino (Paris).
Fotos - Billy Aciolly, Dimitri
cocô de "saem à noite aos grupos, em expedições pu-
nitivas, e colocam bola com veneno nas ruas para
matar os cães". Como os leitores do LAMPIÃO
probleminhas, "ficar em cima do muro" para ver
de que lado vens a maré. Quanto ao 199 Batalhão
da PM, se deixou de se preocupar com os cães,
podem sacar muito bem, tal linguagem revela com a repressão em cima das pessoas, para cuidar
Ribeiro, Ana Vitória (Rio); Dimas claramente o espírito policialesco do autor do In- mais da segurança dos que vivem nesta "Cidade
Schitini (São Paulo) e arquivo.
Arte - Paulo Sérgio Brito
(diagraniação), Mem de Sã,
cachorro! forme, seja ele quem for (e eu sei quem é que es-
creve essas notas que cheiram sempre a presa
rdeae, à voz do dono).
Maravilhosa", parabéns; está mais do que certo
não pode ser passi vel de críticas.
Dizer que a violência foi provocada pela omis-
Dimitri Ribeiro, Patrício Bisso e são das autoridades, "que esquecem do dever de
zelar pela saúde pública", é uma justificativa
Hildebrando de Castro. para a própria violência. Pode-se então perguntar
Arte final - Edmilson Vieira da Mas voltando ao assunto do cão. A intenção ao Informe JB: e a omissão dos fatos, também
Costa. do infame, perdão, informe cm questão é alertar não é crime? A omissão na defesa da pessoa
LAMPIÃO da Esquina é uma os "donos, babás, ou mordomos" para o novo humana, independente de credo, raça, ideologia
perigo que ameaça seus animais em Copacabana. ou preferência sexual. A omissão de qualquer
publicação da Esquina - Editora Mas por que tanta retórica, meu Deus?. Donos, movimento, seja de negros, homossexuais ou
de Livros, Jornais e Revistas Ltda.; para o Informe, talvez sejam aqueles ou aquelas presos políticos (a greve de fome dos presos
CGC 29529856/0001-30; Inscrição que se distinguem dos demais mortais pela políticos do Rio só foi tocada nas páginas do Jor-
estadual 81.547.113. nal do Brasil quando já estava em seu décimo-
OU\ C BRASIL elegância no trajar, pelo ar distante com o que se
passa em volta e pelo inquieto amor que dedicam segundo dia). "Um jornal é tão bom quanto as
Endereço: Rua Joaquim Silva, verdades que ele diz". (Pera ai, pessoal, deixa eu
aos seus bichos - a única coisa que os faz desper-
11, s/707, Lapa, Rio, Correspon- tar do pesadelo, do porre da noite passada. E as ter um frouxo de riso. Quá! Quá! Quâ!). E a
dência: Caixa Postal 41.031, CEP babás? De classe baixa, naturalmente, com o poluição visual com o aumento desordenado dos
20.000 (Santa Teresa), Rio de gabaritos não leva uma sarrafada?. E os ônibus.

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uniforme branco impecável que as estigmatize,
carregando os animais em carrinhos ingleses, soltando fumaça negra? Ai, sim, coitados de
Janeiro - RJ. todos nós, crianças inclusive.
Composto e impresso na daqueles bem sinistros, de rodas enormes e co-
bertura negra. Os mordomos são os que eventual-
Gráfica e Editora Jornal do mente deixam suas funções nos duplez ou triplex
Comércio S.A. - Rua do para passear, conversando ou dando ordens aos
• Quanto aos que se dedicam a assassinar cães
Livramento, 189/203. cães em inglês, francês, aleniãoou latim, deacor-
na avenida Atlântica, a gente já sabe quem eles
Distribuição - Rio: Distri- do como pedigreede seus patrões.
são. Pertencem a essa classe média que, quanto
buidora de Jornais e Revistas mais esmagada. mais goza. São os patrulheiros
Presidente Ltda. (Rua da Cons- da moral vigente, que querem seguir à risca as
Como o 199 Batalhão da PM deixou de cuidar palavras do patrão e manter seu bairro com um
tituição, 65/67); São Paulo:

/
do assunto cães, o Informe JB cobra tal repressão. status "elevado". Sabe-se que eles têm também
Paulino Carcanhetti; Recife: Demagogicamente, em nome do Ano Interna- seus paus mandados, os infelizes porteiros de
Livraria JReler; Salvador: Livraria cional da Criança ele cobra a proteção ao menor prédios e funcionários de hotéis de luxo. Ah, a
Literarte; Florianópolis e e Joinvilie: exposto aos perigos d' dejetos dos perniciosos subserviência dos miseráveis sem consciência de
Amo, Representações .e Distri- animais. Em seu elitismo, e seguindo natural- classe! São eles que acabam sempre levando a
mente os comandos do dono, o autor do Informe pior. Outro dia, um garotão dono de um boiar
buição de Livros e Periódicos esquece que nas favelas, nos subúrbios, na flagrou um bor de hotel largando bolas enve-
Ltda.; Belo Horizonte: Distri- Baixada Fluminense, todos es t ão expostos a esses nenadas nas imediações do Meridien e deu-lhe o
buidora Riccio de Jornais e Revis- dejetos e convivem naturalmente com seus maior pau do mundo.
tas Ltda.; Porto Alegre: Coojornal; animais. Não são sóos bebês da Zona Sul que têm Como vocês já devem ter sacado, eu tenho
direito à higiene e à segurança, meu caro boboca. cachorro. Pois é. Mas o que mais me incomoda é
Teresina: Livraria Corisco; Curi- que esse comportamento, esse plano sinistro de
E a defesa da ecologia nunca foi feita pregando a
tiba, Ghignone; Manaus: Stanley extinção de uma raça animal. Desde que se tem matar animais indefesos vai certamente se refletir
Whide; Vitória: Posição. noticia, o homem sempre se fez acompanhar por e tornar ainda mais débeis e anormais os filhos
Assinatura anual (doze nú- bichos; só agora é que se comeÇa a tentar exter- desses assassinos. Para me prevenir, não levo
meros): Cr$ 230,00. Número miná-los, para substitui-los pela neutra e inodora mais meu poodle para o seu inocente passeio pela
eletrônica e outros babados que não prejudicam o avenida Atlántica. Agori ele faz éoèb em casa,
atrasado: Cr$ 25,00. Assinatura meio ambiente, só o caráter e o intelecto das pes- na varanda, em cima de um exemplar do
para o exterior: US$ 15. soas. JB. (DlmltrlR1b' ro) -
LAMPIÃO da Esquina
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Centro de Documentação
APPAD ii e
tia p.ir.ida da divrridade
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE

ESOLJINA 1
Dennia Aknian (australiano, 35
anos, autor de "Homossexual: Opres-

apresentwaURIO
são e Liberação' livro com edições nos
Estados Unidos, Austrália, Grã-
Bretanha, França e Itália) pauó al-
guns dias no Brasil, mas Infelizmente
não mereceu a mesma atenção dada,
por exemplo, a Wlnston Lqland 5 U
DENNIS LTE N quase dois anos atrás. Talvez porquê a
maioria dos jornalistas que se preo-
cuparam em badalar a presença de
L eyland só multo tardiamente des-
cobrissem que ele estava no BraiL Nós
mesmos, do LAMPIÃO aqui no Rio, só
fomos informados de sua presença pelo
próprio AItman, quando ele nos te-
lefonou. Assim, só pudemos fazeresta
entrevista e lotogralá-Lo na praia fazen-
do o gênero "férias nos trópicos'.
De qualquer modo, embora nossos
encontros fossem rápidos, eles ren-
deram, além da entrevista, uma boa
notícia para os nossos leitores: Dennis
Ahman cedeu à Esquina Editora os
direitos de publicação do seu livro em
português. A tradução, a cargo de

-.À
Francisco Bittencourt, já está cm an-
damento e a gente pretende lançar o
livro o mais rapidamente possível.
Aitman, que atualmente é professor
na Universidade de Sidney, publica
mais dois livros este ano: "Comlng Out

- Seu livro "Hoino.sexuallamot Opreuao e


Liberaçio' foi publicado em quantos palres?
Teve problemas com a censure, a polida ou as Fotos:
ia the Seventies" (ensaios) e" Rebertiais
for (]sange", sobre política e cultura

a Argentina, mas não naturalmente no nlvd


politico. A tortura não é um hobby australiano.
autoridades em geral? Dlinftrj Rlbdro - O quadro que temo. da Austrália é ode um
- O livro já foi publicado nos Estados
Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, França e
pata inschlata, coes grande população mas-
Itália. Há planos de uma edição espanhola. Não
culina. Se isso é verdade, ai bicha, aU,ty.lik~
tive qualquer tipo de problema com a censura, na vida real. Não gosto disso nem um pouco, por- devem sofrer um bocado...
embora tenha acontecido que certas livrarias não que me desliga das pessoas e corta a possibilidade - De fato, há um superavit de mulheres e a
queiram vendê-lo. Mas me é um prdlnna comum de qualquer contato verdadeiro. Devo dizer, maioria das pessoas vive nas grandes cidades. A
a todos os livros sobre o assunto. Outro Falo que porém, que nunca me senti heróico' ao escrever Austrália é igual aos outros países industriali-
meu livro, e que nem sofri de qualqüer modo es- zados do Ocidente e em quase lodos eles os ho.
deve ser ressaltado é a dificuldade de se conseguir
sas conseqüências. mossexuais têm problemas, mas o mundo guei
criticas na chamada grande imprensa, em prnais
importantes Como The New York Review 01 - Temo, batalhado multo pari redimir e está crescendo rapidamente e se tornando mais
B&xks etc. recolocar no vocabulário homossexual palavras aceito. O machismo australiano não é igual ao
- Além de seu trabalho como escritor, qual é hostis como viado e bicha. Isto é, tentamos dar brasileiro e está mudando vagarosamente com a
um novo sentido, Inclusive o de bom humor, às pressão de um poderoso movimento feminista.
• profissão que você exerce?
- Sou professor catedrático na Universidade palavras que a sociedade machista sempre usou - Do meu ponto de vista, todo o debate sobre
de S idney. Dou cursos sobre política. para nos humilhar. Em seu livro há algo seme- homossexualismo no Brasil está sempre pronto
- Você acha que os movimentos de llber.çao lhante. Foi proposital? Doam ponto de vista essa ignorar as lésbicas e a esquecer o problema de
em geral estio melhorando a situação do homem. atitude é pollticamenie Importante? definição. Nas discussões não fica toalmente claro
sexual do ponto de vista de dIscriminação? - Isso faz parte de uma tendência em todos quem são co homossexuais - e há muitas mu-
os movimentos guris. Eu, por exemplo, uso a lheres e muitos homens que certamente são
- Certamente. Foram conseguidos enormes
palavra -. bicha" para descrever amigos homos- heteros e homos. A meu ver, em certos momen-
progressos em alguns países nos últimos dez anos.
sexuais, e "bicha" é tradicionalmente um termo tos, o problema da liberação deve se basear
O maior exemplo é a Holanda. Muitos governos
pejorativo. exatamente nessa luta de esclarecimento,
estão aceitando que e preciso proteger os homos-
sexuais contra a discriminação. - E agora uma perguntlnha direta:- como
- Esses movimentos de liberação e suas con- bicha pública e notória, você se classifica como e - '
quistas aio irrreversívaJa? Uma 'tendência dl. feliz?
rehbta' sentida ultimamente nos movimentos de - Sim, na maior parte do tempo. E certa-
minorias norte-americanos será apenas pa- mente mais feliz de que quando eu era enrustido.
ranála" ou tem sua razão de ler? - Como é o movimento guol na Austrália?
- Apesar do suposto recuo ocorrido nos Es- - O movimento existe em quase todas as
tados Unidos acredito que as mudanças da última grandes cidades e é bastante ativo (sem troca-
década são irreversíveis. e que esse retrocesso é, dilhos). Em junho deste ano duas mil e 500 pes-
na verdade, um sinal de fraqueza nos elementos soas desfilaram em Sidney durante a Semana do
conservadores que assistem a erosão de seus Orgulho Guei. Em agosto acontecerá a quinta
valores. Em condições de verdadeira tensão conferência nacional guei em Melburne. Mas
Polít ica e econômica isso naturalmente poderia como em todas as partes há muitas divisões no
mudar. ao mesmo tempo experimental do homosst.zualli- movimento, entre homens e mulheres, entre con-
-Há uma tendência no Brasil entre os mo. Correto? servadores e radicais etc.,. E a maioria dos
- Desconfio de alguém que escreve sobre homossexuais permanece fora do movimento,
chamados movimentos progressistas de consi-
derar secundári.. • luta das minorias. Segundo sexo sem explicar muito claramente suas expe- embora seja cada vez mais simpática a ele.
riências pessoais e opiniões. A maior parte dos - Sabemos que você tem circulado inten-
eles, seria nece.iárlo minimizar o desafio das
minorias em nome da 'luta maior" contra o chamados debates científicos sobre sexo tende a samente pelas ruas e praias do Rio. Pode tios
colonialismo etc... O que você tem a dizer sobre ser desonesta, por fingir que o observador nada dizer se os seus contatos coas o povo têm sido
Uso? tem a ver com ofenômeno que está discutindo. satisfatórios?
- O que deveria au feito objetivamente para - O Rio é uma cidade em que a pegação
- Posso compreender essa atitude num pais
melhorar a condição do homossexual numa chega a ser fácil demais. Mas o fato de eu não
conto o Brasil. onde as desigualdades sócio-
sociedade machista? falar português é frustrante.
econômicas são tão grandes. Mas não vejo por - Você é provou a carne brasileira. É melhor
que não se deva lutar em muitas frentes ao mesmo
- Esta é uma pergunta mais para os bra-
sileiros responderem. Penso que são necessárias do que a australiana?
tempo. Dedicar todo o tempo e energia às ques-
mudanças reais no papel das mulheres (e con- - Sem resposta.
tões econômicas só pode resultar na mudança de
seqüentemente nas perspectivas de vida e . no - Você disse há pouco que o Brasil é um pala
um totalitarismo por outro.
comportamento tanto de homens como de mu- surpreendente, capaz de ter um jornal como o
- Em que o Brasil o lniere.sa partkularmen. lheres), além de um conhecimento muito maior lampião e, ao mesmo tempo, um uivei de miséria
te? da sexualidade, livre dos preconceitos da tradição assustador. Gostarlauso, de saber a razão de sua
- O que mais me fascina são os extraordi- e da religião. surpresa. Na Austrália as coisas aio diferentes?
nários contrastes de um país que é ao mesmo - Contra a nossa vontade, estamos sendo Quais são as diferenças entre os dois países?
tempo parte do primeiro e do terceiro mundo, isso olhados como "heróis" em certos dro.los humo.- - A Austrália é muito mais homogênea e
sem mencionar a vida guei, tão aberta e cheia de sexuali. Aconteceu algo semelhante com você nos igualitária do que o Brasil. Lá. por exemplo,
atrativos. países de fala Inglesa? quase ninguém tem empregada. Mas também sua
- Quando você escreveu seu livro a Ilnall- - Inevitavelmente, ficamos conhecidos como População é muito menor e, se tem alguma se-
dade era veicular um ponto de data dentifiço e algo muito mais importante do que somos de fato melhança com um país sul-americano, esse país é
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* NA
Centro de Documentação
APPAD
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da parada da diveridadc
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE

ESOUINA 1
f...
número de r-
tal que nos che-
gam pedindo
mais roteiros é
o tio grande que
neste número a gente decidiu sohar de
uma vez, sobre as cidades de Brasilia,
Salvador,Santos e Paraty. As duai
primeiras já tinham sido focalizadas,
Escolha ms de modo Incompleto. Agora, as
informações são mais exales. O rateiro
de Santos é mais um enviado por um

oseu leitor (já chegou outro, de São Luiz do


Maranhão, que a gente s'aI publicar flO
próximo número), E aguardem o
roteiro do Rio. Ele está demorando
roteiro porque será ampl&rlrno. Por enquanto,
• .- leiam ema ai, etratesn de Ir
preparando as malas (pois é...).
w. ....... :..:,.', . . :. ........

locados em Brasília, empinados em uma faliu das primeiras sílabas de Nilton e Dauri, nomes inicio da Avenida São Francisco; os porteiros
nobreza que os postos lhes dão, tomam de susto a dos propnetários), onde antes existia aquele que fazem o gênero "pagou e foi maior, entrou"; não
discoteca, formam seus grupinhos, ocupam es- Foi o melhor bar guei baiano o Maison Noire, de importa a combinação que forma o casal. ,iRober-
BRASILIA paço e olham com desdém pra todo o mundo.
Mas é sempre possível sair de lá acompanhado e
Eterval Custódio da Silva, oTéo.
Saunas? Neste abençoado mês de agosto o
lo Brando)
ir, entre outros locais, para a trilha que Na a proprietário de uma delas no Largo de Roma, na
Rodoviária à torre de televisão, onde os marinhos Cidade Baixa, teve a feliz idéia de fazê-la fun-
E provável que a minoria já tenha se es- e arbustos, além de decorativos, não se escan- cionar aos domingos exclusivamente para o pes-
qucado, mas alguns antigos leitores do LAM- dalizam com certas coisas. (Alexandre Rlbossd soal descontraido. Foi um chá. No capítulo dos
PIÃO ainda se lembram que Brasilia já teve seu cinemas, vale a pena ver que filme está passando
PARATY
roteiro guei publicado há um ano. Tanto se lem- no Capri. Bahia, Bristol, Guarani, Liceu, Tupi e
bram que dizem sempre que é preciso renová-la. Excelsior, pois, por melhor que ele seja, melhor
Nio só por uma questão de tempo, mas também ainda é o que acontece fora das telas. Isso sem
porque, sejamos francos, de estava um pouco in- SALVADOR falar no Astor, que, mal comparando, é assim Paraty fica a 185 quilômetros do Rio, indo
completo. como o bis no Rio, ou o Arte-Palácio eia São pela chamada Rio-Santos, e, tombada pelo
Assim, muita coisa deixou de ser dita. Faltou, Paulo. (José Fernando Basto.) Patrimõnio Histórico, é uma espécie de Ouro
inclusive, o capitulo das saunas. A mais antiga Preto banhada por um mar azul. cercada de ilhas
delas é a do Hotel Nacional, freqüentada prin- Como já inc dizia Rogéria, certa vez, o e povoada por pessoas alegríssimas. E, para os
cipalmente por políticos e executivos da capital.. brasileiro guei encubado só se mostra verda- que a conhecem, digna de uma fama igual à de
O local é, portanto, discreto; o forasteiro que se deiramente no exterior. Quantos e quantos Campinas. Pelotas e outros monumentos na-
aventurar ai terá a impressão que Brasília, de- balance vivem a saracotear no Sótão. passando SANTOS cionais.
D. João de Orleans e Bragança, o príncipe,
cididamente, é uma cidade repressiva. O que é noite nas Termas Leblon, mas preservam "o bom
verdade, mas nem por isso se deve perder a es- nome da tradicional família baiana" desfilando t em uma explicação histórica para o alto índice de
perança. com noivas, esposas ou arranjos no Regine' s de homossexualidade em Paraty. Cidade importante
Desta forma, pega-se um ônibus na rodoviária Salvador (o Lugar mais guei da Bahia) ou cio fes- O maior porto do Brasil, Santos é um lugar no século XVIII, através da qual se escoava o rico
e segue-se até Taguatinga. a maior das cidades tas chatíssimas, da falida sociedade baiana, pia muito apropriado para pescar ias . Os pescadores minério vindo das Gerais para Corte, ela geral-
satéiies que rodeiam Brasília. Lá, na Avenida que no outro dia sejam atados numa das quatro que chegam lá, naturalmente, dividem-se em mente ficava sem seus homens, que constante-
Comercial, existe a sauna Apoio, que, para quem colunas sociais diárias? motorizados oó 'não. Os motorizados praticam o mente viajavam a serviço de El Rcy. O relacio-
não gosta muito de brincadeiras do género escoe- esporte da pescaria noturna indo de carro da namento entre si foi a solução encontrada pri-
de-esconde, é o local ideal. Sem falsos pudores, a Entre estes, no entanto, existem os corajosos, Praia do Boqueirão até o golfinho (divisa San- meiro pelas mulheres: depois, os homens tam-
Apoio, como indica seu proprietário, é uma como ocaso de Bebeto Franco, que, enfrentan-- tos/São Vicente), trajeto no qual se encontra uma bém aderiram. Interpretação principesca, sem
sauna para quem entende'. Além dos ape- do muita oposição (inclusive e principalmente do variedade de peixes - na verdade, enormes car - dúvida, mas altamente original, como tudo
trechos de uma sauna convencional, da oferece pessoal do metier), teve a "ousadia" de, há dois dumes -, não dentro dágua, mas na areia e nos parece ser em Psraty.
quartos com m (tsica ambiente televisão. telefone, anos, abrir o Holmes, indiscutivelmente a melhor jardins que margeiam as praias do roteiro: Bo- Entre os hotéis da cidade, não hknenhum que
que podem ser alugados para o dia todo. Perto baste de Salvador e uma das mais bonitas do qucirio, Gonzaga, José Menino, até chegar à crieproblemas quanto ao comportamento dos
dela existe também a Paladium, também muito Brasil. O único senão seriao preço das bebidas — Divisa. seus hóspedes. E há muitos. O Motel dos Can-
conhecida, apesar de manter uma aparência do Cr$ 60,00 a dose -, já que o poder aquisitivo do Quanto ao pessoal que prefere pescar enquan- deeiros, de Douglas Timeck, é dos mais pro-
tipo Associação Cristi de Moços, ou seja, aqui poso guei baiano (como do povo baiano cio geral: to pratica o logini - ou o Cooper, pra quem não curados. O apartamento custa Cr$ 500. cosa o
não tem nada disso' o resto é máscara...) é muito baixo. café da manhã, para duas pessoas; e enquanto es-
curtiu Urna Mulher De.ca.sda—.o negócio é se
Os bares sio realmente poucos. Um. que já pera o bole, o hóspede pode folhear um dos ál-
ambientar tornando um gostoso cafezinho nocafé
teve seus grandes momentos, reúne o que se Para concorrer com oHolmes, o ex-figurinista Atlântico, na Avenida Ana Costa, bairro do Goa- buns holliavodianos da coleção do proprietário.
poderia chamar de universo noturno de Brasília: Júlio César abriu o safa ri, casa bastante ampla, zaga. E neste local/foco que se concentra a vida A Pousada do Ouro - para os gueis de alta das-
o Expresso. no conjunto Venáncio, nos altos da de decoração duvidosa e que tem como maior se média que chegam de São Paulo - cobra
guei santista, estabelecendo-se, dai, em todas as
Rodoviária; tem se tornado tio típico, que até já atração um shmw de travestis às sextas e sábados, direções. Em frente ao café, foi inaugurado o Cr$ 900 por apartamento, e é administrado por
serviu de ambientaçâo para uma peça de teatro comandado pelo pioneiro Di Paula, fundador do dois rapazes que sempre têm histórias para contar
Shopping Center Balneário, cujas lojas, com suas
que faia da cidade. No Expresso, expostos ao for- Jornal guei baiano "Elo". O Holmes fica na Rua vitrinas multicoloridas. sempre servem de pretex- sobre o tempo em que moravam em Nova Iorque.
te vento (que corre desde o Congresso, passando Gamboa de Cima, 24 (dizem que o número foi E o gerente, Zequinha, é uma espécie de "roteiro
tos para que duas pessoas que param diante de
pela Catedral), passeiam à noite os travestis, nas propositalmente escolhido), e o Safari fica na uma delas comecem a conversar. Curiosidade; vi vc? ' dos programas locais.
rápidas folgas que tiram da rampa do Hotel Travessa Santa Teresa, bem em frente ao Museu O Bar doCoupê, na Praça de Matriz, éolocal
de Arte Sacra, o que não significa que seus neste .hoppbig, a pescaria se desenrola em meio a
Nacional, os estudantes, as prostitutas, os ra- uma multidão de heteros, que, inocentemente, favorito do pessoal durante o dia. Nesta praça., o
pazinhos que não têm nada para fazer, os recos e freqüentadores sejam católicos. Ambas fun- looti entendido . começa às 19h. AI, pintam
cionam de terça a domingo. Segunda-feira, também olham vitrinas no local, e acabam fazen-
a policia. O Expresso fica justamente em ama do outros programas. O Bar da Xica, onde pontifica
do - sem saber - figuração naquele casárioe n--
Club Privé, que pretende se dar ares de um certo imaginem, é dia de descanso! o pintor Júlio Paraty - rainha do carnaval local,
tendido. cenógrafo de cinema. etc... O Cana Verde é outro
esnobismo, sem grande sucesso. Além disto, na
109 Sul (ah, estes endereços de BSB...) há o Em matéria de bar, Salvador está mais bem À direita do Café Atlântico está o restaurante' bar que Fecha mais tarde, e nele seu proprietário.
Beirute, bar acto grande espectalizaçio, mas de servido. Por qualquer Cr$ 15,00 você torna uma do mesmo nome (esquina de Avenida Ana Costa Vicente Cruz, dedilha ao violão o repertfxio'
,vide é sempre possível sair acompanhado. cerveja cio qualquer um dos situados no "triân- com praia); à esquerda, a Livraria Atiãntica, cm- preferido do pessoal (é na porta deste bar que se
'oConjursto Nacional, a qualquer hora do dia gulo das bermudas", na Rua Carlos Gomes, no de o pessoal costuma trein ar uma especialisalma reúne, como quem não quer nada, a bof arada,
jem tarde da noite, é possivel transitar com centro. Ficam abertos toda a madrugada e são forma de leitura dinâmica, ou seja: ler livro aber- pra quem ainda gosta do gênero). Uma discoteca
-amável chance de sucesso pelo que já se chama bastante movimentados (destacamos dois: o to sobre o balcão, com os olhos voltados para a Funciona no Bar do Sobrado, até às dUas da
de "corredores do desejo'. AI, o ponto éfreqüen- Braseiro e Oáiis). São geralmente freqüentados pessoa interessante mais próxima. Na mesma madrugada. Para - outra vez - o pessoal que
tado por rapazes que só no aspecto lembram por gueis. Avenida Ana Costa, os cinemas preferidos do chega de São Paulo, um lugar finíssimo- o Bar e
marinheiros de primeira viagem. De tarde, é bas- povo Suei: Atlântico 1 e II, Independência, Antiquário do Mário Jurado, onde o champanhe
tante agradável percorrer o caminho que liga o Um pouco mais sofisticado é o La Bobézue, Ipiranga (para& paulistanos nostálgicos) e Roxy. corresolta.
Conjunto Nacional ao Conjunto Veiréncio. De que o franco-baiano Jacques abriu numa vila da Mas o mais procurado fica mesmo é na Praça dos Mas para quem não quiser gastar dinheiro e
noite também, aliás. Este trajeto já foi batizado Andrada,. o Guarani. prefere curtir um satait, teia um cantão na Praia
Rua Leovigildo Figueiras, em frente ao Ttro do Pontal, de acesso não muito fácil (pergunte a
de Sunact Boulevard, pois dele o espetáculo do Castro Alves. Na mesma vila temos ainda um res- - Outros bares muito aconchegantes: Boémio e
pts' do sol é realmente inigualável. Do outro lado um guei da cidade. que ele fcrne& o mapa da
taurante de preços razoá veis e o Onze, outro bar- .Hot Stop, na Avenida Ana Costa, e Independên- mina). Ou então. na estrada para Cunha, a seis
da rua está a Lapa brasileiaise. Depois que cai a zinho do mesmo Jacques. Ài sextas e sábados o cia, na Praça Independência.
noite, é só passear pela, calçada até receber um quilómetros da cidade, a Cachoeira do Perdia;
local fica intransitável elásevêdetudo: políticos,
amável convite para entrar num enorme carrão. Para o pessoal que curte uma discoteca, lugar incrível, género "paraíso tropical", onde é
padres, comunistas, dentistas, batistas, aerzi-
Das duas casas noturnas que durante mito dearas, artistas, alpinistas, e até homossexuais. lugares essencialmente Sueis é o que não tal- proibido tomar banho de roupa, conde surpresas
tempo existiram, mas ao lado da outra, só resta ta:'boste Pinlc Panther (Avenida Presidente Wil agradabilíssimas se escondem por trás das abun-
uma, The Foz, situada também nos altos da Bastante freqüentados, também (e aio son - Canal 1). Stop • House no centro da ci- çl antes samambaias- Quero consegue achar o bar-
freqüência mista) são o Café das Estrelas, no Rio dade, bem nas bocas), e Fantástico, também queiro milo (e geralmente isso aormtece pode
rodoul ária, logo que acaba o Sunide Boulevard e alugar um barco e velejar pelas ilhas mais pró-
já chegando ao Conjunto Venánrio. Ela é pe- Vermelho; o Bar do Barão, no Grande Hotel da baste, na ilha Porchat. As três têm ,hoia, de
quena, sem grandes pretensões, mas tem uma Barra; o Berro D'Água, no Porto da Barra; o travestis. ximas. Custa Cr$ 120, serviços extras excluídos.
Quintal, praticamente ao lado da hoste Holmea, e E também há hotéis de alta rotatividade, pra Outras praias ótimas: Trindade e Paratymirim.
clientela agradável, que gosta multo de dançar e
se mostrar bonita. Só perde uni pouco a graça o Lá Tafia, no Largo da Vitória. Está para ser quem fez boa pescaria: na esquina de Mardllo Peça a um rapaz da cidade que o leve até lá. Eles
Dias com a Avenida Floriano Peixoto, ou bem no nunca dizem "não" (Lu Castos L.osrdo)
quando certos hartímbá .Uundoeuzios público.) Inaugurado por esses dias o Nildiu (conjunção
Página 4 LAMPIÃO da Esquina

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APPAD ic
da parada da di vvr idad
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
í ESOUINA ^

Canhotos:
uma
minoria liberada
A Globo mostrou no "Fantáticd de 29 de social etc. (citou). O homossexual continua
julho uma reportagem sobre canhotos. E esta sofrendo opressões contra a sua natureza na es-
começava, como é de bem que aconteça, com o cola, na lamuia, no trabalho, no amvivio social
presidente Figueiredo assinando documentos etc. (não citou); essa opressão causava aia
com a mio esquerda. Imagens imediatamente canhotos uma série de traumas muitas vezes
posteriores: Chaplin, "gemo e canhoto" (disse o irreversíveis, «ano o estrabismo, gagueira e
narrador); Leonardo da Vinci, idem 'gsio e outros descontroles nervosos (citou) - essa
canhoto"; e alguns mais, igualmente geniais (ou opressão continua causando nos homossexuais
populares) e canhotos. Embora a palavra Iam- traumas como complexo de culpa, agressivi-
bem não tenha sido dita, o elogio ficou suben- dade, auto-rejeiçio etc., e danos como impocén-
tendido e 'englobado". Idéia sagaz não há da e sucídio (não citou).
dúvida, de alguém visivelmente deslumbrado A ciencis finalmente provo u que o canhotia-
com o achado, mas que não cons eguiu separar, mo é uma predisposição congénita natural ao
da promoção que poderia ser simples e sim- ser humano, só que menos freqüente que o
pática, uni contexto demagógico e louvami- dircitismo (citou) - a ciencia ainda não provou
nheiro, embora ao público comum tais sutilezas que a homosseivalidade é uma predisposição
de observação passem desapercebidas. Não dis- congiita natural ao ser humano porque tra-
cordo do caráter da reportagem, mas acho o tando-se de sexo (um tabu que ainda hoje per-
exagero desnecessário porque, sem precisar maneor quase tio desconhecido e amedrontador
afirmar a genialidade do nosso Presidente au como na Idade Média) não pode ser tocado,
qualquer setor (acho que a ele mesmo isto principalmente para beneficiar as exceções por-
pareceria desagradável). basta-nos reconhecé-lo que os alicerces do sistema social se-iam pro-
naquilo que ele tem de melhor: é autentico, par- fundamente abalados; mas já concordou que o
ticipante (dentro do possível) e espontineo - homossexualismo aio pode mais ser consi-
uma espontaneidade que certamente nos con- derado uma doença psíquica, como se julgava
duzirá àquele diálogo que não foi possível no antes(éclaroqueo"Fasitástico" náocilou).
Governo anterior,
A preocupação da sociedade a tini de
O enfoque da reportagens não conseguiu sair defender a sua rígida estrutura, é então es-
da superficialidade, ficando incompleta, prin- li-aquecer e desintegrar as minorias assanilan-
cipalmente, num ponto: ser ezce91c à Legra do-as ou ehniisando-as dentro do possível Em
comum, já coloca o indivíduo xmio parte de relaçio ao negro, a tendincia é mesclá-lo até
uma minoria; e toda minoria, de uma Forma ou que este desapareça, transformando-se em
de outra, sofre discriminaçies pelo próprio fato branco. Igual comportamento quanto ao
de não se ajustar aos molda convaionais. essa pobre minoria já em via, de extiriçio e as-
Porém, ser uns elemento de qualquer minoria sim por diante. Mas mesmo que consiga isto,
discriminada, mas igualmente pessoa bem restaria outras tantas minorias cujis carac-
dotada, bem colocada na vida, talentosa, genial teres independem de cromatismos. As mu-
etc. • não é muito depreciativo em relação ao
genérico porque a própria dtcriminaçáo, nesses
lheres por exemplo, em qualquer tonalidade
que estejam ou resuhem, exigiria os seus No deixe de ler
casos, age de lorma branda, ou com condescén-
a, ou aparente compreensáo, ou paternalismo,
direitos de igualdade aos homens: os canhotos-
continuaria nascendo canhotos pelos séculos o desbundanto roteiro-romance
ou até dando a impressão de que o "efeito" é
um atributo que a pessoa pode se dar aoluxode
exibir, uma sex que tem outras tantas quali-
a fora e os homossexuais mesmo se ig norados,
oprimidos ou condicionados, continuario nas-
cendo homossexuais, quer os sistemas poli -
de Leopoldo Serrana
dades de que a coletividade necessita e usu- ticos e sociais queiram ou aio, quer digam que Eles estão nas es-
fruirá. eles não existem em seus países, quer os
eliminem em campos de concentraçio ou nos
quinas e nas boates.
Assim sendo, é bem mais fácil, por exemplo,
te' sido canhoto sendo Chaplin. ser negro seus hospitais psiquiátricos. Debaixo dos lam-
chamando-se Pelt e ser homossexual (e ca- Mas apesar disso, puxa, como é bom saber piões, dos Spots. Aves
nhoto) tendo sido Leonardo da "mci, E verdade que pelo menos uma minoria, a dos canhotos,
que todos, antes de se tornarem COIiheCidOS,
Noturnas. Na pia ba-
$ foi reconhecida em, seus direitos de asro q me
certamente sofreram dlscriminaç. Chaplin á sem precisar sofrer mais sob os crivos da or-- tismal receberam no-
por exemplo, riu criança, deve te' levado muita dem social opressora! Talvez à maioria das mes - , José, Ricardo,
reguada da professora por insistir em escrever pessoas nem ocorra imaginar que estes fossem
- a mio esquerda; Pelé em sua cidade, não út em bém uma minoria, aio é verdade? Não Rufino, Waltencir,
passava de um pobre "menino de cor", um ocorreu da mesma forma, ao "Fantástico". Waldir. Mas no bri-
"crioulinho"; e na puberdade, da 'Tina, deve tenho certeza, quando planejou a reportagem;
ter ouvido muitas vezes refertdas a sua passo. e talvez nem mesmo o nosso presidente, que
lho da noite seus no-
como "queilo sinistro che ansi é Froccio" (aquele durante toda a vida foi parte de unia minoria, mes mudaram - Mo-
canhoto que também é veado). discriminada' sem ter tido conscléncia desse
estigma. Peixes os canhotos que podem agora
fique, Luciana, Jac-
O que fio ocorreu à Globo, ou ao que talvez queime, Déborah,
fazer o que queiram com a mio esquerda, sem
ela tenha se omitido por falta de coragem para
precisar dar satisfações aos demais e sem Shirley.
mostrar nosesi "Fantástico" foi a maneira idn-
carregar o timbre da "anormaldade" com que
tica (falta de imsginaçlo?) como todas as Esta é a história de
a sociedade marca todo aquele que, de uma
minorias g o discriminada,, «au ia mesmos ar-
gumentos e semelhantes conseqüéncias. O
forma ou de outra escorrega dos Seus padrões. Waldir/Shirley. A
Aos homossexuais resta ainda hoje trazer
csnhotismo e a homossexualidade estio, neste
(mesmo que simbolicamente) o trlflngulo rosa história de um perso-
sentido, parecem Irmãos gémeos: na Idade nazis
Média, canhotos eram tidas como cúmplices do
com que os tas identificavam os m il hares nagem que aceita e
demónio e muitos acabaram na fogueira (o deus "espécie" que eles encerraram e ma- enfrenta todas as hu-
taram nos campos de concentraçio.
"Fantástico" citou isto) - homossexuais eram
condenados pela inquisiçi.o por práticas sexuais Desculpe-me o nosso simpático presidente
milhações para ser fiel
proibidas pela Igreja e igualmente queimados (o se depois desta comparação, toda vez qu ao seu desejo,
"Fantástico não citou isto); Joana D'Are, s jul- levante a esferográfica , (coma mio esquerda)
gar pelas gravuras antigas era canhota (o "Fan- para assinar um documento, venha a lembrar-- 96páginas,
tástico citou isto) - existem suposições funda se doa estigmatisados. Mas com todas limpeza
elo totalmente comprovadas) de que Joana de alma e ' epontaneidade, que mito sentimen- Apenas 100 cruzeiros.
D'Are fosse lésbica (o "Fantástico 010 citou is- tos que ele sabe entender muito bem, eu per- Prefácio de
to); os canhotos foram, até alguns anos atrás, guntarei: Sr. Presidente, por causa da sua
obrigados a es cr ever e a usar s mio direita au predisposçlo congénita em escrever com a
Cacá Diegues.
vez da esquerda, contrariando assim suas fun- -mio que aio é a convencional e por ter sido til
çôes congénitas (o "Fantástico atou) - os fato decorrente de uma circunstincia que as- Peça hoje mesmo pelo Reembolso Postal.
homossexuais sio ainda hoje pressionados a - dependente da sua vontade, o senhor per-
fazer vida heterqsaexual, contrariando suas fun- mitiria que o classificassem como anormal? Não precisa mandar , dinheiro agora. E só escrever para
ções congénitas (o "Fantásticd' não citou); o
canhoto so
fria
opreasio contra a sua natureza A ESQUINA - Editora de Livros Jornais e Revistas Ltda.
na escola,, na famulís, no trabalho. no convívio
Daxcy Pentéado Caixa Postal 41031 - CEP 20,000 - Rio de Janeiro - RJ

LAMPIÃO da Esquina Pagina b

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(lL 3.I1 LII il.i (IIv'rI(1,ldl'
Prof. Dr. Luiz Mott GRU PODICN IDADE
[LITERATURA]

11111Cil Lembrando Antônio Botto
Em 16 de março de 19 reconhecido, e Botto Pouco literárias e a critica da época
lIA; morria no Rio, esmagado
por um automóvel, o maior
poeta gay de língua
conhecido em seu próprio
idioma. fizeram dele alvo e ídolo.
Até o livro ciúme, de 1934,
Antônio Tomaz Botto sua produção é rica em
portuguesa. Estou nasceu em 1897, 1900 ou
restringindo? Não seja por erotismo; depois perdeu
1902 (as fontes divergem) muito da força íntima e da
isso: um dos maiores
AGUINGO Poetas contemporâneos.
Falo de Antônio Botto, que
fbi muito amigo de
em Abrantes, Portugal, e
chegou a desempenhar na
Africa o cargo de Chefe da
Repartição Política e Civil
espontaneidade. Os dois
poemas escolhidos são da
terceira edição de Canções,

SILVA Fernando Pessoa e por este


considerado o único esteta
de Portugal. A//ás, em
do Zaire. Emigrou pára o
Brasil em 47, e em 56,
entrevistado por um Jornal,
posteriormente incluídos no
primeiro volume das obras
completas.
matéria de elogios, Botto desmentiu que vivesse em Tirei como lema da vida
era colecionador: "mais estado de indigência. e da poesia de Antônio
que um grande poeta" Nunca, ' em português, Botto estes versos dum
segundo L oraa, "um caso um poeta abordou tanto, longo e belíssimo poema
novo e genial", segundo tão abertamente e com que não caberia todo nesta
Pirande/lo,' 'a voz latina de tanta naturalidade o "amor página:
um poeta úniversal" defeso' como disse João
segundo Kipling, "um Moral! Que vem a ser isso
grande artista", segundo Gaspar Simões, o seu amor Que se dá sem s p pedir?
Unamuno. Nada modesto. pelos jovens, de preferência Homens! Cantai a verdade
Mas é bom exagerar, pra loiros como ele. Seu livro Bem alto, para se ouvir
que o leitor reduza às Canções, de 1921, teve a
devidas prop orções, já que segunda edição apreendida,
um Kaváfis é pelo escândalo que Glauco Mauoeo
internacionalmente Suscitou. As revistas

O/inda, Pernambuco,
1604; dois soldados por-
tugueses vivem um
grande amor, e sio en-
forcados por causa dis- Adolescente n 0 JJ
so. E assim que começa
a História deste pais.
Do mesmo autor de
Não é ciúme o que eu
tenho,
A beleza -
sempre foi
- Esta carne que lembrava
laivos de luz outonal,
"Primeira Carta aos An- é pena; um motivo secundário .doirada, sem consistência,
dróginos", "Dez His- uma pena no corpo que nós amamos; a aproximar-se do fim...
tórias Imorais" e que me rasga o coração. a beleza não existe Eujá conheço o teu sexo,
"República dos Assas- Essa mulher e quando existe não dura. 8ujá gostaste de mim!
sinos": um livro que afir- nunca pode merecer-te; A beleza A frescqra do teu beijo
me o caráter subversivo não vive da tua vida, não é mais do que o desejo e o poder do teu braço
de luxúria, e que iden- nem cabe nailusã fremente que nos sacode... -+ Tudo isso eu devassei...
tifica paixio e conspi
raçio como elementos
- da tua sensualidade.
- Mas é belal tu afirmas;
- O resto é literatura.
Conheço bem os teus
Não éciúme o que eu
tenho;
inseparáveis e igualmen- nervos; mas quando te vi com ela
e eu respondo que te deixaram nódoas de lume
te corrosivos. - Sem que me vissem,
da
enganas. na minha carne trigueira; choreL
U, lane tO
'v1IizaÇ80 Brasjle
'

Curiosidades estéticas n16


Faça seu pedido pelo Fazes-me pena dizendo que eu doidamente mordia! com alguma coisa, crê-me:
reembolso postal à Es- que sou culpado é unicamente -
quina - Editora de da vida que tens levado.. Fazes-me pena porque a nós mesmos,
Livros, Jornais e Revis- Mas vá, responde mais continuando a afirmar; raras vezes
tas /.tda. - Caixa Postal claramente: porque vida afirmamos em verdade
41c31, CEP 20000; Rio Eu sou culpado porquê? é sempre o que nós o que em verdade
de Janeiro, RJ. Lá por ter sido o primeiro... queremos: queremos.
- Bem se vê que és infantil - Não rias, Bem se vê que és infantil
Meu doido amor de algum nem penses que vou Meu doido amor de algum
brincar. dia,
[LAÃO dia,
meu adolescente loiro,
- Corpinho alto
E se ela nos surpreende
às vezes
- Corpinho alto
que eu doidam ente mordia.
Página 6 LAMPIÃO da Esquina

II

**
APPAD Centro de Documentação
Prof. Dr. Luiz Mott
cti tti rIIvr%IdILI(
GRU PODICN IDADE
REPORTAGEM

Eles estão ousando


dizer seu nome
2. —RJ,N)
U
¥ ^ TAvi \ -VAI
De repente começaram a surgir em São verificar, eles esbarram sempre nos
Paulo v ários grupos de homossexuais
discutindo seus problemas,
problemas básicos de tudo o que
começa do nada; afinal, trata-se de
v v v f4
encontrando-se para estudar ou se Você nada tem a perder,
atividade libertária praticamente
divertir e conquistando seu espaço. Só além da vergonha.
Inédita no Brasil até os dias de hoje.
na aparência trata-se de algo Levante-se e sala
Inesperado; na verdade, essa eclosão Além disso, existem os entraves desses cantos
Indica que as condições estavam externos, que se apresentam escuros cheios de mentiras.
maduras para a manifestaçao de diretamente, ouse refletem Deixe a noite
desejos, sentimentos e Intenções Indiretamente no autodesprezo, nas para trás.
antigos. Com Isso, mais um grupo escamoea ções e no desânimo dos
social marginalizado e espezinhado próprios homossexuais.
Inicia uma partidpaçáo mais Integral Doug Youngblood,
na vida brasileira, busca sua Perguntas metaf&co-pollticas do tipo
Identificação enquanto grupo ( a partir "é válido que os homossexuais se
de Individualidades que o compõem) e reúnam?" Já começam a ficar no limbo permitidas e de outras vivadas grupais
vive um gratificante momento de do passado repressor - o mesmo que Atuação e Afirmação Gay de Duque de
não consagradas pelo poder instituído. Caxias, Estado do Rio. Os leitores
solidariedade entre os que se aio permitia que os negros se Respondendo às inúmeras cartas de
encontrassem, por estarem molestando lamentarão talvez, nisso tudo, o excesso
encontram. leitores curiosos a respeito, tentamos de discussão, a exposição prolonaada
Não é possível conhecer exatamente o vários dogmas politico-sodais. Válido dar uma Idéia do que já existe, mesmo
número de grupos em funcionamento. de tanta teoria, e a ausência do
ou não para os outros, a verdade é que que tentativamente, e em meio ás
Sabe-se de alguns como Eros, o Individual, do depoimento dos seres
os homossexuais estão se encontrando. Incertezas do como, onde, por que.
Somos, o Libertos, iodos em SP, e pelo A idéia desta reportagem é exatamente Começamos com um debate/entrevista
humanos envolvidos nesta nova
menos um no Grande Rio, o Grupo de esta: mostrar como não é apenas entre representantes do grupo Somos e maneira do fazer-política, mas que não
Atuação e Afirmação Gay. Tem -se possível mas belo, saudável, gostoso e LAMPLAO. Depois, um artigo se apressem; este é o primeiro passo do
noticias de outros em embrlao, de legitimo encontrar-se em função das assinado pelo pessoal do Libertos, e LAMPIAO na abordagem deste
tentativas e vontades. Como se poderá sexualidades socialmente não uma carta do recém -criado Grupo de assunto. Voltaremos a de.

O pessoal do Somos (um debate)


L M}' L À( ) - O que vo acham
que lesa os homossexuais • par
iklparem da um grupo como o So-
gente está nas mãos dessas pessoas. Até o LAM-
i'!ÀO aparecer, não existia nada, mas nada mm-
ou, comparável nas bancas, nos jornais, no
mos? Qder dlz, porque das entram ou Iieu)a, na tevê. Não existia nada que pudesse
deixam de entrar? nos dar esperança, criar a possibilidade de um
Rogério - Acho que é uma questão de ao trahathc, coietiso. A sobrevivência do Somos
bresiência mesmo. A repressão é tamanha ai depende do LAMPIÃO como canal, e da pr(ria
fora, e as pressões contrárias são tão grandes, que atuação do grupo. Só o trabalho intenso do
chega um mJma110 em que você sente necessi- grupo, o trabalho de organização. é que está
dade de se organizar pra mudar uma situação fa,endo as pessoas pintarem no Somos.
existente. Se você não se organiza como homos- LAMPIÃO - Seria quase um auto.
sexual pra conquistar e ganhar um espaço, pra abastecimento de energia...
ser realmente uma pessoa Integra, inteira, se você Teka - Eu sinto assim. E só pôde acontecer
não faz isso você sucumbe. socê morre, não é? isso no momento em que tivemos que entrar au
contradição com outras facções, logo que o grupo
Hamíltosa - As pessoas só podem atingir esse apareceu. Quer dizer, começaram a surgir as
estágio de integridade ou harmonia plena como diferenças. Eu, pelo menos, enquanto pessoa. ai-
ser humano a partir do momento que elas têm quanto lésbica, percebi que finalmente podia ir
oportunidade de trocar experiências, aliás parti- para algum lugar: tinha alguém com quem dis-
cularíssimas, que normalmente nós homossexuais cutir. Para mim pessoalmente já tinham apa-
não podemos, porque o sistema de comunicação recido antes outros grupos de discussão da se-
de massa está a serviço exclusivo dos heteros- xualidade. Aquela de ficar discutindo autores e
sexuais, que já encontram um padrão a seguir. não sair nada, nenhuma ação política a partir
Então, a partir do momento em que obeanos- L.L /Durn de família. o Soro&, 5 O(7i (.J/R(U)5 riu uvrudo diss. Você não se sentia istegiseb cais pas
sexual se conscientiza ou sente realmente a neces- mais nova já conseguiu jogar pra escanteio aquela que existe multa rejeição ao grupo no maio tio. iguais a você, lutando contra a repressão na rua,
sidade, como disse o Rogério. de sobrevisncia, geração de antes da guerra, isto é. as pessoas mousexual. E verdade? contra o médico, o professor. Falo do média,
ele procura um grupo como o Somos, porque sebe mais jovens não estão mais fazendo o jogo do sis- Eduardo - Quando a gente distribui o jornal ginecologista, do venereologista, que são elemen-
que vai encontrar oportunidade de trocar ex- tema, dos sistemas não só capitalistas mas au- tos opressores. Eu. por exemplo, nunca fui a um
toritários de qualquer ideologia. Quer dizer. LAMPIÃO na rua, não é isso o que sente. Pele ginecologista au minha vida; nem vou, enquanto
periências, idéias, e ao mesmo tempo se fortificar,
sabem que a vida não é apenas uma acumulação contrário, existe urna total indentilicação. Adio não achar uma lésbica ginecologista. Então, sinto
desde os esquemas mais simples aos mais com-
de bens. As pessoas jovens já começaram a des- que muita bicha que conh ece o grupo não entra que a única forma de lutar contra isso tudo é em
plexos, para enfrentar essa batalha que, quei-
cobrir que o importante na vida é ser feliz. E por causa dessa educação individualista do ca- grupo, porque individualmente não tem solução,
ramos ou não, está ai: a batalha sexista.
muitos homossexuais sabem que a felicidade pitalismo, que faz desconfiar de todo agrupamen- não tem salda nenhuma. Acho que o único
Eduardo - Uma coisa: todas as reivindi- deles está no reconhecimento de sua homosse- toe faz acreditar mais na curtição... problema para as pessoas não entrarem no grupo
cações dos grupos marginalizados sempre foram xualidade e do seu espaço político dentro do Daniel - Existe o medo. Medo é fogo Esse é éoproblema da linguagem. oproblema do grupo
por uma luta organizada, até mesmo inconscien- mundo cio que vivem. Então, eles começam a se o principal problema que tenho sentido: o medo como um todo e do momento que a gente vive, da
te, desses grupos, quaisquer que sejam. Por que, dispor a lutar por sua felicidade. Acho que essa possibilidade de criar uma linguagem.
de uma organização. Que seja confundida com
ao tomarem conhecimento do grupo e sofrendo a deve ser uma das razões que tornou possível em outras organizações, sei lá - sindicais, conver- LAMPIÃO - Como é que as pessoas ficam
mesma opressão, alguns não entram? E ainda por nossa geração e no Brasil a criação de um grupo gência socialista, mil coisas assim. Medo de que a sabendo do grupo?
uma falta de consciência, pelo esvaziamento da como o Somos. POSCia possa entrar. Isso também influi muito,
consciência que o sistema provoca - como o sis- Teka - De todas as formas. Boca a boca,
tema opressor faz com os oprimidos. Por exem- Ricardo III - O que pinta em primeiro lugar, Teka - Eu vou mais longe. Acho que no cartas pelo LAMPIÃO, face a face, caça na rua,
plo. se certos operários não querem participar de pelo menos no meu caso e no de muitas bichas e Brasil e especificamente em São Paulo a gaste distribuição do jornal...
uma greve, é porque o sistema promove uma lésbicas que ainda não têm uma cabeça voltada tais multo gui-u, muito pai de mais. Eu ouço falar
para a organização e a luta, é que aqui no grupo Hamilton - Mas também uma ação de base
educação que faz desconfiar da organização: ela no Zé Cdxc (Martinez Corrêa). no guru da silva, nos lugares onde a gente trabalha e vive, vendo as
viu ter um espaço onde a pessoa poderá discutir
ensina que não vale a pena se unir para lutar; é no guru assado, no guru de souza. Eu sinto assim:
uma educação que leva a aceitar o que já vem sua sexualidade, coisa que não acontece au existe uma superestrutura tal que as informações pessoas que mais ou menos estio com a mente
fato, vertical. nenhum outro lugar, em nenhum outro momento são filtradas ou pela Igreja ou pela esquerda. Isso dispostas a aceitar. Tens trabalho de cama, tam-
de nossas vidas. afastou toda possibilidade de discussão do fe-
LAMPIÃO - Só que no caio do Somo, bém. E de mesa.
Zé Ltd. - Eu gostaria de soltar a falar da minismo e do homossexualismo, que acontecia
parem que miá havendo um grande crescimento, reação dos homossexuais que não participam do ais outros lugares. Trios - Por exemplo, apareceu uma lésbica
a presença de um número cada vez maior de pes- grupo. Por que eles não entram? Quer dizer, qual Agora, esses gurus... Vejam o Paulo Franas, na última reunião, um barato. Conheceu a gente
soas... a repercussão do grupo no meio homossexual? por exemplo: como feminista, eu fico pensando o quando vendíamos o LAMPIÃO lá no Dinos-
Eduardo - i-ii acho que São Paulo deve ser que ele fez por todas as mulheres do Brasil, saurus. Apareceu au minha casa louqulssizna,
Jorge - Talvez a resposta esteja no fato de
realmente, no Terceiro Mundo, uma das cidades durante esses anos todos que esteve em Nova ler. dizendo que quer trabalhar muito, que já dou
que existem muitos homossexuais que simples-
mais capitalistas. on1e as contradições são tão mente nunca viram o LAMPIÃO na vida. Não é que. Meteu o pau no feminismo, não informou a hora, e não sei o quê.
flagrantes que a consciência dos sexualmente pelo fato de ser homossexual que uma pessoa vai nada, deu a impressão de que tudo não passava
marginalizados pude ser mais aguda. se habilitar a participar do movimento, de uma balbúrdia, um tremendo arco. Quer
dizer, ele não conseguiu filtrar nada que fosse re-
Hamilton Admito também que a geração LAMPIÃO - Mas a pergunta parem indicar utilizável, não conseguiu recuperar nada. E a
LAMPIÃO da Esquina Página 7

*.* o
Centro de Documentação
APPAD l i
(Ia j)1tItI.( (IJ (tIs(t'.i(l.Id(
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
[REPORTAGEM 1
coisa pronta. Repito, sabemos apenas que o iden- nei o termo totalmente inócuo, pelo menos quan- tenho repensado a questão das mulheres e acho
tificado questiona. to à minha pessoa. E eles au geral mudaram, que a discussão do Feminismo entre os homos-
LAMPIÃO - Quantos subgnpo, existem porque não têm outra palavra pra usar como sexuais é importante por isso, pois a questão da
funcionando hok no Somos? Quantos existiam pejorativo. mulher é uma questão mais abrangente, fala da
antes, no comechsho do ano? Sabe-se que houve a lésbica também. A questão do feminismo é uma
discussão na Universidade de São Paulo, e dai Paulo - Mas e se te chamam de veado?
questão nova para nós enquanto grupo Somos,
1 apareceu urna pastada de pessoa, aio é? Quais Ilaodltos - Aí eu teria que começar a es- mas é uma questão primeira, que deve ser pen-
as especificidades desses subgrupos? sada em termos de prioridade.
vaziar esta palavra também. O veado é um bicho
Jorge - Antes daquela semana na USP, em tão inteligente que isegue sobreviver ao ataque Rogério - É. pois parece que o opressor;
fevereiro, havia um grupo de identificação que deu leões... como já foi levantado nos debates da USP, é
- aglutinava eu acho que todo o mundo, inclusive branco, hetercasexual, homem e proprietário,,.
aqueles que queriam fazer atuação ou já o fa- Tcka -'- Mas o Jorge falou de limitação, in- Então, é de fundamental importância, no caso de
ziam; destes, alguns não participavam da iden- clusive porque algumas mulheres não querem ser um grupo que luta pelas liberdades scxuais, a
tificação, mas não sei até que ponto os outros chamadas de lésbicas, outras não querem ser conquista do prazer vital; é fundamental que
grupos funcionavam. Havia o grupo de estudos, chamadas de a, b, e, d. Mas eu adio que o todas os grupos oprimidos discutam a questão
p1 que era muito oscilante, assim como a própria próprio trabalho de busca de identidade consiste feminista, racial, e assim se deflagre a intenção de
identificação, que oscilava muito. A partir da também em quebrar esses medas das palavras, ganhar espaço, que cada vez mais se discuta em
JA (ISP, houve um ingresso muito grande de pes- um medo que está dentro da gente. Me chamar de cima disso.
soas, umas trinta, que estavam se reunindo con- lésbica não vai me matar; vai me matar se me
tinuamente. Até que se chegou a um consenso de apedrejarem, não e? Estou entrando no grupo, LAMPIÃO - Essa diacuuio Ji é ampla den-
subdividI-las em pequenos grupos, a maior parte estou tentando ter urna ação coletiva e não mais tro dognapo?
Paulo - Outra coisa: por causa de uma série deles de identificação. individual, que me relegava à clandestinidade: e Rogério - Não, é restrita.
de acontecimentos dentro do Somos, um dia eu Hoje em dia deve haver uns oito ou nove isso é pra quebrar meus próprios limitcç, Quer Ricardo 111 - Eu sinto que ela está tomando
cheguei na Faculdade e pum. abri a boca. né? pequenos grupos de identificação, com oito ai 12 dizer, se o grupo não quebra eu limites das pes- corpo e que vai se tornar assim uma coisa muito
Falei: não quero saber de movimento estudantil. participantes em cada um. Todos tem uma gran- soas, então não se precisa do grupo. Se u pessoa quente logo mais. Porque é muito claro pra mim:
eu sou do movimento homossexual; e foi aquele de liberdade em termos de ternário, a partir dos entram no grupo e continuam tendo problemas eu pelo menos, antes de assumir a minha con-
Deus nos acuda. A USP com seus CAs, DCEs, es- problemas surgidos internamente. Eles se reúnem em serem chamados de bicha ou lésbica, então dição de homossexual, me assumi corno feminis-
sas cessas, tremeu. Mas ai quatro pessoas de lá com uma frequência de três vezes ao mês. Na saiam do grupo, ou que o grupo faça alguma ta. Sabe, eu acho que o feminismo é importante
vieram me procurar, porque souberam que eu es- quarta semana há uma reunião geral de todo o coisa pra elas. Porque realmente não tais sentido para o homossexual se assumir, entende? Eu. an-
tava num grupo homossexual e queriam entrar. grupo Somos, à qual vai todoo mundo: opessosl a gente discutir se fere ou não. A questão não é tes de saber que era homossexual, sabia que a
de identificação, de atuação, de serviços, de ex- fedr. A questão é a gente se armar, quer dizer, minha mãe estava sendo oprimida pelo meu pai.
LAMPIÃO - Bom, viam tentar ver ai pressão não-verbal e de estudos. armar uma ação coletiva tal que crie uma força Apesar de saber também que minha mãe era
udaiçai que oairrer.m ao Somo, desde o maior, que gere energia pra gente sobreviver a es- machista em muitas ocasiões, né?
c.ço do aio até aqui. Jorge - Uma castra subdivisão é o arquivo,
sei ataques.
que seria uma espécie de atuação, pretendendo LAMPIÃO - Va voltar a divisão de
Táa - Eu vejo a evolução do Somos, tam- ser assim um depósito histórico, a memória do LAMPIÃO - Mii se om hetero -- al, Somas. Falto falar do sub-grupo de estudos.
bém, como um fruto do LAMPIÃO Fundamental- grupo, através de tudo aquilo que é publicado, guém do grupo de "b1" o "lábiai", como é Ta -A partir do levantamento das neces-
mente, e da experiência anterior do Somos, não das propostas... que esse homosserual reagbb? sidades de cada um dos participantes do grupo, a
é? Até o começo do ano tudo era um trabalho LAMPIÃO - Vo tem contato cam gente levanta os temas que vai discutir. A discus-
grupos Internacionais? Ilamultos - Isso depende do nível de acei-
inicial de identificação, o grupo de identificação são é sempre a partir dessas experiências pes-
tação da homossexualidade dessa pessoa. A partir
era um grupo imenso, enquanto os outras grupos Jorge - Nós passamos a existir oficialmente a do momento em que ela se sente tranqüila corno soais. Isso é uma coisa nova pra gente, ninguém
funcionavam esporadicamente. Acredito que partir da abertura de nossa caixa postal (22196, homossexual, não precisará buscar a aceitação de tinha feito antes. Nós recorremos a textos e ao que
tudo mudou a partir do momento au que o São Paulo): através do LAMPIÃO pudemos nos sua condição no olhar ou mesmo no gesto dos aparece de material. E como uma função de
Somos se pronunciou pela primeira, segunda, vincular com o resto do Brasil, com a pretensão outras, quer dizer, dos hetero. Porque se um deles recuperação, de informação, de poder aumentar
terceira vez, e mudou graças à necessidade de de nos relacionarmos também a órgãos inter- me chama de biçha-louca, acho mesmo que, as linhas de debate.
uma atuação mais constante, não tão esporádica; nacionais. Então se redigiu uma carta de apre- dependendo do caso, esse " louca" Atualmente a gente está discutindo a família.
criou-se um grupo de atuação atuante mesmo, sentação do grupo, fazendo um histórico e louoa' ai se traduz na
minha cabeça por: ter coragem de me assumir A primeira coisa que discutimos sobre a família
cujo organização sem dos outros; criaram-se apresentado nossos objetivos; ela será enviada a plenamente o ser integral, coragem que ele foi a questão da maternidade; isso porque o grupo
grupos de identificação e de cada um desses organização homossexuais internacionais, não teve; quer dizer, é uma loucura suficiente: de estudos é composto por uma maioria de biets&s
grupos vai alguém para atuação. Repetindo: uma LAMPIÃO - E quanto aos termos "bicha" e sou louco o suficiente pra ser feliz. Então, esse e só uma lésbica atuante. Foi colocada a função
primeira coisa era a gente se juntar, conversar, "lésbica"? O grupo resolveu como em todo .' louca" passa a ser um elogio pra mim, pois sig- Política imensa, a importáncia fundamental que
ser os problemas comuns, quer dizer, acreditar adotar estes acuses? nificaria que eu, como bicha-louca, sou um ser tem a maternidade, porque ela reproduz a força
que existia um espaço suficiente para isso, e que humano que conseguiu contestar totalmente eu de trabalho e reproduz a opressão. Para a gente
as pessoas estavam dispostas; dai tudo era iden- Jorge - Há uma tentativa de criar um con-
senso geral sobre isso. Mas o problema da de- padrões. enquanto homossexual, a reprodução de opressão
tificação. Depois veio a necessidade de atuação. é o mais importante. Isso é, a opressão se reproduz
nominação está ainda um pouco em debate, por Dinlel - Concordo com o esvaziamento das
Além disso, eu vejo uma modificação es- causa de curtas suscetibilidades... Palavras. Mas acontece que houve um momento à medida que, nascendo meninas, a Força de
trutural de suma importância: o Fato de as Ricardo III - Você não disse ainda por que a no grupo em que várias delas foram proibid as. Eu reprodução está reproduzida, e nascendo me- -
mulheres Pel a primeira vez terem a necessidade, gente usa "bicha" e "lésbica": é justamente para me lembro que uma mulher Ficou espinhada com ninos, a força de reprodução esta reproduzida.
dentro do grupo, de realizarem um trabalho; isso tirar o peso que essas palavras têm, esvaziá-las, a palavra — rachada",
' , e ela for proibida. Quer dizer, há um beco sem saída.
seio por sua vez abrir uma outra perspectiva, que entende? Torná-las assim comuns, então elas Jorge - Eu talvez pudesse complementar a
LAMPIÃO - Por que uma lésbica-fomkd.t5 parte teórica com a questão prática da mater-
é a discussão da ligação entre lésbicas e bichas; perdem realmente a força pejorativa que têm. A aceita a palavra "lésbica" e pão a palavra "ra-
Foi ai que pintou urna nova questão pro Somos, o arma que eles jogam contra a gente, a gente chiada"?
nidade ou da paternidade, que surgiu no meu
feminismo. Porque depois que a atuação se trans- anula. grupo de identificação. Assim, em termas de
Tás - A rejeição dessa palavra ocorreu, necessidades biológicas, físicas ou afetivas, nesse
formou no feijão- com- arroz do grupo, o passo Teka - Entre as mulheres, nós chegamos à
conclusão que a palavra "lésbica" é a que mais dentro do grupo, antes que discutíssemos o grupo misto de identificação - misto porque
seguinte foi descobrir que existiam mulheres, ou machismo como uma coisa que nós compartilhás-
ser, lésbica, dentro do grupo. ofende a gente: então, ela precisa ser esvaziada. composto metade a metade de lésbicas e bichas -
Entendida, sapatão, relógio - é. essa também - semos. Agora é diferente, bichas e lésbicas têm chegou-se a um consenso geral: as bichas do
Mas uma coisa, por exemplo, que agente ain- são consideradas menos agressivas, mais cari- ações diferentes dentro do grupo. Como a gente grupo têm todas um certo sentimento de mater-
da não discutiu é o racismo. Já começamos a dis- nhosas... Quer dizer, quando a gente é insultada, percebeu que existe urna pressão impedindo as nidade frustrada, uma certa nostalgia da pater-
cutir feminismo, mas ainda não falamos de mas- é mais como "lésbica". mulheres de se aglutinarem, a gaste achou que nidade; já as mulheres, nenhuma revelou a
mo. A gente não viii uma série de outras cessas Cria - Mas heterossexuais não usam esta um dos. Fatores disso seria o comportamento mínima preocupação de querer ter um filho.
que seriam importantes para gaste, para nosso palavra. Usam "paraíba". machista das bichas. Isso sem que exista um
trabalho diário de grupo. Leso quer dizer que a Ricardo III - Não, a sociedade burguesa e comportamento feminista das lésbicas que per- LAMPIÃO - E por que aio entram heteros-
gente não tem uru conjunto de regras, uma bíblia, heterossexual usa é a palavra lésbica. Quando vão mita um equilíbrio mínimo pra que a gente con - sexuaia no grupo?
uns catálogo de 2.800 páginas que Fala do papel falar, por exemplo, de Maria Betánia, eles não tinue atuando juntos. Então, naquele momento 'Ha.úho. - Eu, particularmente, não concor-
do militante. Não existe isso, e nau estamos a fim dizem que ela é uma sapatona, isso é nossa juven- nos colocamos contra a palavra "rachada"; mas do: o fator básico do Somas é que ele é um grupo
disso. Então, todos os problemas que aparecem tude quem fala, entende? Eles usam é lésbica agora que a discussão sobre o machismo já Foi de homossexuais que se reúnem justamente pra
são problemas para o grupo inteiro. E cada nova mesmo. levantada, talvez já se possa tentar esvaziar tam - debater problemas que só dizem respeito a eles.
problemática que aparece muda toda a orga- Cria - Bom, eu não gosto muito que me bém essa palavra, usando-a. Rogério - A importância de só ter homos-
nização do grupo. Quer dizer, à medida que nos- chamem, por exemplo, de paralba. Toda vez que Ricardo III - Essa palavra é usada pelas sexuais no grupo está ligada a necessidade de
sa atuação vai aumentando, a gente vai tendo que me chamam de paraíba, eu corrijo: digo que me bichas, que não percebem seu comportamento criação de uma consciência homossexual, de
discutir coisas novas e isso vai aumentando nosso chamem de lésbica. Essa t a denominação mais machista quando chamam assim as mulheres... uma identidade nossa. Se houver heterossexuais
repertório, digamos assim, a caminho de nossa certa para mim. particularmente. Acho essa no grupo, a tendência seria reproduziras padrões
identificação. palavra lindíssima. não tenho grilo nenhum. LAMPIÃO - Isto é mais um trabalho Interno deles, e não procurar os nossas, até achar esta
de discussão a nível pesssosl, aio? Agora, como é identidade que a gente está procurando.
LAMPIÃO - Como é o processo de Ido- Jorge - Em relação a isso, os americanos
conseguiram uma boa salda com a palavra "gay", que o grupo fundou, om termos de atuação? Que Ricardo fH - Em termas de dinâmica de
tiflaição atualmente? tipas de relacionamento ele tem co ama
Ricardo III - O que se chama de processo de que serve para homens e mulheres. Mas esvaziar grupo, a partir do momento em que tentamos
proposta de luta h omossexual, asilas mais pra falar de nossos problemas íntimos, é bons e gos-
identificação do homossexual, dentro do Somos, os termos dentro do nosso grupo? Isso não fica
ora? toso a gente falar com semelhantes, com pessoas
se dá a partir do indivíduo desreprimido, com muito limitado ? Isso não vai fazer com que a
suas experiências pessoais. Nós vivemos numa sociedade burguesa repressora esvazie também o Ricardo III - Seria, por exemplo, o caso do que sentem o problema na própria carne. Eu acho
sociedade heterossexual e, portanto, na maior conteúdo do termo... debate, na faculdade de Atibaia (vide LAMPIÃO que isso facilita toda uma soltura, um desblo-
parte do tempo não manifestamos nosso ponto- Ricardo III - Mas então é todo o nosso n°14), as cartas para as jornais... queio.
de-vista homossexual. Nos sub-grupos de iden- trabalho que é limitado. Se você for verificar, Jorge - A atuação tens feito textos em várias HamlI*os - Depois, as heterossexuais variam
tificação temos a chance de pensar, ou melhor, de somos um grupo de meia dúzia de gatos pin- línguas, para se vincular aos órgãos interna- as cessas de fora, entende? E nós Ficaríamos com
repensar nossos pontos-de-vistas, novas e comuns gados. A gente parte de uma coisa, para depois cionais de homossexuais. aquela incómoda de sensação, que carregamos 24
e todos. surgindo dai elos bem fortes entre as ampliar. Hialhou -Tem também promovido encon- horas por dia, sermos observados; eu já tó de
~ o que leva a vencer precimctca que nós Handko. - Não é limitado, não. Eu, parti- tros e horas de lazer, para que se volte a resta- saco cheio disso!
mesmos temos contra o homossexualismo, Idas- cularmente, tenho experiência própria. No lugar belecer o equilíbrio emocional tantas vezes posto Vicente - E. uma tem que haver uma aber-
tifiçação é também questionamento, mudança de au que trabalho, também trabalham 90 aparen- em perigo pelo sistema que tenta massacrar nassa tura, já que a gente quer se impor na sociedade.
valores. A libertação do indivíduo parte do temente heterossexuais, e lá eu consegui esvaziar identidade. Isso tem sido feito através de excur- Acho que a gente se Fechou, e com isso eles vão se
momento em que ele conhece outro com os mes- o termo bicha. Antes, se eles me chamavam as- sões, acampamentos, festas, oportunidades nas afastar ainda mais de nós, nem vão querer saber
mos problemas, que sofreu a mesma barra pe- sim, eu me sentia bastante humilhado. Agora quais temas possibilidades de nos congraçar- de nós, entende? Acho que os hetero têm mais é
sada. Não podemos ainda definir o processo de não, eu mesmo digo bicha, porque sou realmente 8121m03 - Eu si" cria colocar uma coisa em
identificação na sua totalidade. Não existe uma bicha e sou maravilhoso como bicha. Assim, tor- relação à quest 5 o machismo. Particularmente,
Página 8 LAMPIÃO da Esquina

* -I;
APPADit'
da irada da diversidade
Centro de Documentação
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
9:
REPORTAGEM
que ver como a gente tá fazendo. Assim, eles deiras, mas depois somos levados aos paredóca Daniel - Além disso, lutar pela liberdade de
veriam como o homossexual é realmente, ou seja, Por "representarmos a decadência da classe bur- ser como somos já é uma subversão, simplesmen-
que ele não é nada disso que sã aí fora, que a guesa'. te porque isso é lutar pela liberdade, é uma puta
sociedade imagina. LAMPIÃO - Isso é uma posição de iodo o posição política.
LAMPIÃO - Pra que? grupo? Paulo - O Somos é como LAMPIÃO. Não
Vkit. - Sei 1*! Talvez pra que eles saíssem Luta - Não é uma posição do grupo, não. Eu tem uma posição política definida. Antes de es-
por ai, falando de uma outra imagem do homos- não acho. Nós ainda não chegamos a conclusão

PV1
querda, direita, para cima ou para baixo, somos
sexual. - nenhuma. E o Somos tem que estar aberto a todas homossexuais. Só que a discussão não se esgota
LAMPIÃO - E como é a partldpsçlo do as tendências políticas. Se houvei' uma quebra, ou ai; teria um segundo passo. Mas não sei se já
grupo no contesto político brasileiro? Já elite al- então se você não entra porque é disto oo dauiIo, existe uma articulação que possa levar a isso.
guma proputa? então, que raio de movimento é este? LAMPIÃO - Mas o grupo quer ler uma
Eduardo - Bom, fundamentalmente o grupo Daniel - Quanto a haver tendências polí- delhiiç4o Política?
propóe urna saída política para os homossexuais ticas, sim. Mas o Somos ter que estar vinculado a Mastro - Eu acho que a definição política em
neste momento político concreto do Brasil. E isso uma determinada tendência política, isso não. primeiro plano é a conquista do espaço, tá? Esta é
é efetivamente um trabalho político, porque sig- amulton - A única posição política definida a primeira coisa, antes de tudo. Depois vêm
nifica a conquista de um espaço político. no grupo é que nós realmente propomos uma outras coisas, e mais, e mais, e mais.
Hamílton - O Somos está fazendo um sociedade onde as pessoas sejam igualitárias, LAMPIÃO - Quer dizer que existe u
trabalho político muito importante, ao constatar principalmente quanto à sua sexualidade, isto é, Processo...
que os haca nosis não podem se filiar à luta onde todas as pessoas tenham o direito ao Jorge - Exato. Mas n* temos a nossa wwQ'
'maior que a esquerda em geral está promovendo prazer. Lógico que por uma temática e uma Prioridade.. X7 17 V
no Brasil; porque como em todas as lutas das es- tquestão de lógica o socialismo sena, assim, o Hamilton — Que éoprazer: o rimo direito ao
querdas no ámbito mundial, nos homossexuais futuro da humanidade. Mas não esse socialismo prazer.
participamos e normalmente carregamos as ban- qu'e está aí, agora...

O pessoal do Libertos (um balanço)


Há muito tempo que ouvimos falar em orga-
nização homossexual em outras nações. Em
uma convivência harmoniosa entre os divers Mas o preconceito Contra nós não é velado, comç
O pessoal
tipos. A batalha não tem sido fácil. Podemos até acontece com outros grupos estigmatizados. A
geral, estes países onde a homossexualidade já é
organizada possuem realidade bem diferente da
nossa. Apesar de termos muitas necessidades em
afirmar que os reveses têm sido bem maiores do
que os resultados positivos, mas não desani-
mamos.
agressão é aberta e na maioria das vezes Física.
Acabamos passando por seres sem vontade, nãc
pensantes...
do
comum, as nossas vão bem além, pelo fato de Não somos, como muitos querem fazer crer.
vivermos num país do terceiro mundo, onde o
grau de pobreza é grande e as diferenças sociais
entre a população são gritantes.
O que gostaríamos de deixar claro para a gran-
de maioria é que com o nosso trabalho não
queremos agredir e nem impor nada a ninguém.
O que queremos é nosso direito de sermos tra-
"doentes" cxi "anormais". Se entre nós há pes-
soas problemáticas, isso é principalmente pela
carga de repressão que sofremos desde crianças.
GAAG
Muitas coisas começaram a mudar no Brasil,

(uma carta)
tados como seres humanos. A homossexualidade Os que conseguem sobreviver a esta repressão
principalmente em termos de grupos margina-
não escolhe casa para se instalar, não escolhe sem maiores agravos, tornam-se, em paz com sua
lizados pelo processo sócio-político do pais. As opção sexual, pessoas como quaisquer outras
manifestações do Movimento Negro Unificado classe social, nem regime político; portanto,
nas escadarias do Municipal trouxeram um nova qualquer família pode ou poderá vir a ter um O núcleo Libertos de Guarulhos está prati-
alento à negritude, assim como várias promoções membro homossexual. Seria importante se as camente iniciando o seu trabalho, e tem certeza O Grupo de Atuação e Afirmação G.y
de debates e encontros feitos pelas mulheres com famílias que tivessem homossexuais dentro delas que os empecilhos serão muitos ainda. A única
nasceu aan um objetiva básico: participar
o apoio doe seus jornais e de grupos organizados não os vissem de modo preconceituoso, e não ten- coisa que até agora fomos obrigados a mudar foi a
da luta para a conscientizaçio Suei. Deste
em diversas localidades, e até mesmo nós homos- tassem interferir na sua opção sexual. possível. participação de heterossexuais, que modo, sabendo das pressócii que este impor'.
sexuais buscamos saídas para .a nossa margi- traziam alguns problemas para nós e criavam
taflte veiculo de comunicação das minorias
nalização, dentro da transição por que passa a Queremos que respeitem a nossa sexualidade outros para eles. Isso não quer dizei-, no entanto,
oprimidas dest'e pais vem sofrendo por parte
sociedade brasileira. como respeitamos a dos outros. Queremos o nosso que estamos fechados ao diálogo.
de árgàos doGoverno, sob a inadmissível
Quando surgiu a oportunidade de participar- direito à felicidade. Não queremos ser recusados, Estamos impregnados de preconceitos de toda alegação de atentatório à moral e soa bons
mos do debate que o pessoal do C.A. de Ciências quando batemos numa porta à procura cie em- ordem, e pretendemos que o núcleo Libertos de coatumes, vem de público manifestar o seu
Sociais da USP organizou sobre "minorias" mar- prego, por Força de nossa condição; não podemod Guarulhce seja um dado a mais para a difícil repúdio a todas estas formas de castração da
ginalizadas, ficamos bastante esperançosos em aceitar que num ambiente de trabalho sejamos tarefa de desalienação. Finalmente, acreditamos liberdade humana e apresentar sua com-
darmos o nosso primeiro passo. De fato, isto foi colocados sempre de lado quando se trata de uma que cada um é dono de sua individualidade, pleta solidariedade ao jornal LAMPIÃO.
possivel. Naquela noite, descobrimos que não es- promoção; não queremos mais servir de chacota, usufruindo-a e exercendo-a como bem desejar.
nem sermos tratados como bobos da corte: é Desejamos o aceso direito à liberdade de
távamos s&inhos, e que as (os) nossas (os)com-
panheiras (os) estavam somente preocupados com chegado o momento de pôr fim ao tempo das Todos os homossexuais da nossa cidade que açãoi
as coisas superficiais, mas queriam também ver bichas boezinhas. acreditam em nossa proposta estão convidados a Já estamos fartos desta opressão mi-
seus direitos de cidadãos brasileiros, maiores, O que estamos propondo é nossa colaboração trabalhar conosco. Incentivamos todos que ainda Muar!
trabalhadores de todas as categorias, que vo- na luta por uma sociedade mais justa. Quanto aos permaneçam isolados a engrossarem nossas fi-
leiras. Somos seres humanos Iguais aos demais
taram nas últimas eleições, que estudam, pa- supostos progressistas que, em relação a nós,
usam aquele velho e gasto chavão de que "o e a:xno tal exigimos respeito às nossas pai-
gadores de impostos e etc., respeitados. (Endereços para correspondência: Ezio Pinot-
homossexual é fruto da burguesia-ociosa", lem- aoasi
Quase dois meses depois, em nossa primeiro ti Besto: Parque Cecap. Condomínio Sta. Ca-
bramos que, com isso, eles contribuem para man- tarina. bloco 7, apto. 32 - 07000. Guarulhos, Grupo de Atuação e Afirmação Gay.
reunião, apesar do receio, do medo, de muitas ter a repressão sexual, que atinge principalmente SP. Ou Osvaldolzidoro: Rua Cabo Antônio P. da (Caixa Postal 135, Duque de Cansa, Ri).
ausências etc.. 23 pessoas discutiram por mais de o operariado e outras classes menos favorecidas
três horas a nossa questão. Sabíamos de início Silva, 481, Jardim Tranqüilidade5 - .07000,
por causa de sua baixa renda. Guarulhos, SP)
que o nosso trabalho seria dos mais árduos. De
um lado, a hetercasexualidade machista impondo
os seus valores seculares, do outro, nós, que
somos um dos depositários das frustrações de
uma sociedade também reprimida, que sofre em
conjunto e calada.
Organização e métodos
Em nosso núcleo, que pretendemos estendes Vivendo atualmente uma fase em que o iii- ração) e para debater questões vitais a serem podem ser mantidos por intermédio da Caixa
aos cinco mil homossexuais que acreditamos exis- gresio de novos elementos tem sido constante, o resolvidas em comum, realizam-se mensalmente
tir num município de 400 mil habitantes, temos Postal 22.196, São Paulo, SP, CEP 01000.
grupo SOMOS conta coas mais ou manca cem reuniões gerais onde participam todos os elemen-
todos os tipos: bem situados economicamente O SOMOS está ezposto exclusivamente por
pessoas, tomando por base a frequência aos tos do SOMOS. Isso ocorre geralmente no inlciõ
(acreditamos que pouquissimos), classe média al- diversos subgrupos, de trabalho. Ccxisidcs'a-se homossexuais. A maior parte umnomtr,-ae na
de cada mês. Nessa ocasião, todos colaboram com
guns, a grande maioria pobres, operários. Filhos que, desse total, 30% aproximadamente tem uma faixa etária dos vinte aos trinta anos (por motivo
uma quantia pequena cm dinheiro, para cobrir
de operários ou de trabalhadores que abando- participação flutuante. Na tentativa de abarcar os de força maior, o grupo não será aberto a me-
despesas básicas do tipo coirespondência, im-
naram o campo para vencer nas cidades. divern interesses e expectativas particulares pressão de material, fitas de gravação, etc. Além nores de idade). A despeito da variada gama de
Um doa nossos principais lemas é tentarmos geradas pelo aumento de participante,., o grupo disso, o grupo procura promover atividades Profissões exercidas por seus Participantes (mw
conciliar as diversidades não de ordem eccmb. está dividido cm subgrupc,s cian diferentes ob- mietiva, de lazer. 0011n 0 festas (em bares da sagistas, jornalistas, f uncionários públicos, artis-
mica, mas principalmente aqueles que são c jetivoa e atividades; no momento, apresenta sete cidade) e viagens de passeio (já recita-si., a San. ta,, psquiatras, professores, enfermeiros, mé
resultado de toda forma de repressão que temos tireis de trabalho: Identificação. Atuação Exter- tom e Campos do Jordão). dicos, secretárias, analistas de sistemas. ex.-
sofrido ao longo da história. Há o problema dc na, Atuação Lésbico-Feminista, Serviços, cotivos, etc.) trata-ia, ainda, de um grupo
Estudos, Expressão nlo'wrbal e Atividades O SOMOS tem-se manlfeatído em algumas predominantemente de da~ média. Embora
homossexual-homem que não aceita o despoli-
Artísticas. Só de Identificação, existem nove sub- oportunidades, através de entrevistas e cartas
lixado, dos não-travestis que não aceitam os crescente, a presença de lésbicas ainda não é
grupos cm funcionamento, com a proposta básica públicas (como ao Congresso pela Anistia, em
travestis, e vice-versa. Por outro lado, temos tam- alficiante para equilibrar as proporções entre
de promover a identidade com o grupo homos- Roma) ou dirigida, a jornais da imprensa so- homens e mulheres dentro do grupo.
bém problemas de antipatias pessoais, o que
sexual e propiciar, a partir das experiências ia- bretudo alternativa (Em Tempo, Versus,
acaba sendo desastroso, pois o pessoal não sabe
dlvxdusis, um trabalho de auto'ldentidae Cada Movimento e evidentemente Lampião). Isso fun- Para ingressar no SOMOS todos a elementom
separar o trabalho conjunto do núcleo dos
uma das demais áreas de interesse forma um sub- cicusa como meio para apresentação de sua ex- novos participam de uma reunião men.aJ de
problemas de amizade e afetividade. A própria
grupo de trabalho. Em face da rte repressão periênaa e posicionamento. Já são também man- recepção, onde os objetivos e a tividades do grupo
repressão cria dentro da comunidade homos-
maciça desencadeada contra este Jornal, o Somos tidas contados com pessoas de outros Eatador ou sãoaexpostos e discutidos. Dai, encaminham-se
sexual estas divisões, que, temos certeza, com c
criou um outro subgrupo. a Comissão de Defesa cidades (por ex., Bahia, Rio, Paraná. Sergipe, ia- Par novos .iubgrupoa de identificação. A cada
desenvolvido do nosso trabalho serão eliminadas
rapidamente. do Jornal Lampião (ver lampião IS). terior de São Paulo) que muitas vezes têm - mês ingressam no grupo mia média de, 20 a 30
parecido (e são bem recebidas) às reuniões gerais. pessoas.
Estamos na medida do possível tentando rom- Com o objetiva de trocar as experiências doa
per algumas barreiras, visando mais diretamente Aliás, o SOMOS está aberto aos interessados em
vários subgrupos (efetivando assim sua mie- trocar experiências. Os contata com o grupo .

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Centro de Documentação
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da t.*raila da div'rid,id
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
ENTREVISTA


[c dois meses ele foi "E

Anselmo Li
Vasconcelos
ator,
e o seu rosto Ap^
EW
mais secreto
entrevista fora prometida aos lei-
A cif 'r dd cSUJbfJf'c/a.
Joâo carlos, A guina/do, Pr'ew e Anselmo. Sobre a mesa, fingindo que é
tores do jornal do número anterior; a
um chapéu velho, o gato.
Á gente queria rastrear o caminho perent- ções remotas era representar um homossexual. como Las Mamas e Lobos, e iniciam altos papas ralista, ais fazer urna espécie de " reportagem"
rido pelo ator Anselmo Vasconcelos - que Eu tive meus primeiros contatos com homo,- sobre Julian Beck, o Living Thether, Zé Celso sobre de. Por isso, evitei fazer pesquisas, esse
vinha de uma strie de personagens viris no sexuais ali na Praça Sams Pena. Era aquela Martinez Corrêa, etc., até terminar com a in- tipo de ccisa. Cheguei a ir ver um "shoW' de
cinema, no teatro e na teve - para se transfor- turma do Café Palheta, sólita estréia de Anselmo no teatro, num texto travestis com Paula, mas nem fui aos camarins,
mar em EIeU,a, um travesti, personagem que, João Carlos - Eram tinvaslis? caretlssimo de - toc, toe - Guilherme Fi- João Carlos - Mesmo antes do ifima, você
contracenando com Sandra Brta, Tarcísio Anselmo - Não, era uma coisa meio velada, g ueiredo, intitulado" Maria da Ponte" não tinha ebto multas 'shoua" de travessia?
Meira, José Lewgoy, Milton Moraes , Paulo meio escondida. Eu ia pra lá, com um chapinha Anselmo - Você vê, eu nunca estava tran-
Vilaça, halo Ruasi e outros de um time de meu, paquerar as meninas ali na porta do Cine Anselmo - Não. Porque eu sou um tipo de
Metro. Mas aí eu percebi que era muito obser-
sando na minha própria faixa, entende? Tinha ator - minha ideologia da representação tais
"cobras", acaba abocanhando a melhor parte problema.ç de relacionamento muito sérios por
10 filme "República doa Assassinos" de Miguel vado por eles, era muito assediado pelos homos- muito a ver com a caracterização. Durante
isso, porque estas pessoas com que eu traba- meus anos de solidão eu via muitos filmes de
Faria ir., que tem estreia prevista para outubro. sexuais. Cheguei mesmo a transar com alguns: lhava, na verdade, estavam em outra. Então, a
No cineminha que a gente fez com as fotos do mas era uma coisa muito obscura, não chegava a tevê, e ficava pensando naqueles atores que
ator, na página ao lado, dá pra sentir a £rma ser uma relação amorosa, havia semprç algs manei ra como eu conseguia me relacionar com caiavam uma cara para cada personagem que
tipo de interesse em jogo, entende. Assim, esse das era através da imaginação. Eu fui acu- viviam - tinha até um filme sobre Lon C'haney,
formação física. A transfaçko interior está muiando dentro de mim, numa espécie de
bens cotada pelo próprio Anselmo. nesta eis- tipo de relacionamento foi um problema que eu "O Homem das Mil Caras", que era
sótão, uma série de informações, e as usava um barato.
tresjsta, Ele informa como aprendeu a não resolvi até ir para Copacabana, A,ItIU disso, minha visão do personagem era a
quando precisava me aproximar de alguém. seguinte: Eloina é um homossexual que sente
transar com a própria ambigüidade, nau a Aguinaldo - Pera aí, ezplles h.o malhem Com o tempo, fui percebendo que estas pessoas
c&.a feminina que existe dentro dele --e existe você morava na Tijuca? um amor muito forte por um homem: e quando
acreditavam 'em mim. Tinha aquela trans~ este morre, ela parte para se transformar,
dentro do machão mais empedernido - e como Anselmo - Deixa eu dizer qual fo o meu de olho no olho, tudo o que eu dizia era ver-
esta transação o enriqueceu. intinerário; eu nasci em Bonsucesso, tinha unia primeiro, num grande travesti, e finalmente,
dade. num ser humano maior ainda. Assim, quando
formação bem suburbana (e isso também tem a
A entrevista foi na casa do ator, em Santa ser com esta minha predileção pelos perso. Aguinaldo - Você descobris que era aios'. eu comecei a compor o personagem, minha
Teresa (foi a mulher dele, Paula, quais fez as Tudo bem, mas é gente alude não chegou leis a primeira expectativa diante dele foi uma lem-
nagens estigmatizados. Por exemplo: eu sempre Eloina.
fotos do grupo). Lá estavam Aguinaldo Silva,
me preocupei com a alta incidiva de casos de brança anterior: uma vez, num bloco de sujo
João Cai los Rodrigura e CarlinhosPrieto, este Anselmo - Miguel Faria Jr_ o diretor do que a gaste faria em Ipanema, eu me vesti de
alcoolismo no subúrbio: é outro personagem
cenógrafo que transou todo o visual do filme e, filme, me chamou realmente pra fazer Carli- mulher, e alguns amigos ficaram espantados.
que eu quero fazer: um daqueles caras que se nhos.
principalmente, de Eloina. Como em todas as embriaguem diariamente nc botequim da es- dizendo que eu estava muito parecido com
entrevistas feitas por LAMPIÃO nas quais quina. que sai se destruindo aos poucos sem ter Prieto - E eu quais fazer Ekáua. Antônio minha irmã. Daí, eu resolvi que o ponto de par-
ficaram evidentes os bonseflúvios, também pin- Calmon esteve lã em casa e, quando eu lhe cosi- t ida sei-ia transar com
consciência - nem ele nem os seus - de que esta ambigüidade, com
tou um gato, enorme e angorá, que, a certa al- eis história do filme, ele foi logo me ourlçandot este lado feminino que havia dentro de mim'
tura, entrou pela janela, tirou-se sobre o pe,-
aquilo é um problema, e que é preciso enfrentá-
lo...) "Este papel só quem pode fazer é você". AI, João Carlos - Mas o processo de criaçio* do
coço de Aguinaldo Silva e começou a lambi-lo. quando eu chego na produtora no dia seguiste penonagens não foi apenas Interior, não é?
enquanto todo o mundo fingia que ele não exis- João Carlos - Shn, mas volta correndo pra eu Já tinha sido chamado pra fazer a amblen- Afinal, o travesti é, também, a representação
tia; era o chamado toque mágico, que percorre, Boesucasso, senão a gente se perde. tição, os fIgurinos, Miguel me diz: "Anselmo fisles date indo feminino, desta ambIgüIdade...
com 'hsaior ou menor intensidade, a entrevista Anselmo - Tá legal. De Bonsucesso eu me quer fazer a Elolna. Você adia que ele pode
inteira. Com vocês , Anselmo Vascoticelos. mudei pra Vila Isabel. Foi cata a fase da Praça fazer?" Vejam 46 o meu dilema; eu disse Anselmo - Durante os dois meses de fil
"pode'. Porque eu sabia que Anselmo era u magetus eu me depilei totalmente, com cera
Aguinaido - Quando oumcreviorusaj,ode Sacas Peõa, do Café Palheta, Sal da Vila Isabel quente. Tive os cabelos pintados de vermelho,
senhor ator.
'República dosAmasaluos", tinha acabado de aí por 1969. Era líder secundarista, e começava fiz as sobrancelhas. A depilação era feita num
ver "tudo Bem," de Arnaldo labor; neste filme a transar com o pessoal da Faculdade de Aguinaldo - Ele fez até um testei ai vi, es- salão de beleza onde os travestis também se
me lapresalossou muito, faxasdo o opa- Medicina, ali na 28 de Setembro, quando houve tava lá, depilavam. Então, eu sofria o processo e, ao
rárluquemataocalaga, e por buo eurasoéile,- um tremendo quebra-pau e morreu até um es-
tudante. Então, minha família achou que eu Pi'ie.to - Pois és com uma perDes prata, mesmo tempo, via como eles sofriam este
rvet O permOflag "C..rftjskos" pra voei; horrorosa,,. processo.
oramo é que você acabou fazasdo o travesti
podia ficar muito visado, e decidiu me tirar dali,
Aguinaldo— Edes?
mandar para "outro mundd': Copacabana, cai- João Carlos - Que você pôs nele de pro.
'Eloina", que é Justamente o amante de Cur-
linho.?
de havia outro ramo da família. Eles também pInho...
Anselmo - Eu dizia que ia fazer um filme,
sacaram outras coisas au relação a mim - eu Prieto - E de bigode - que horrori que tipo de personagem ia fazer, e eles ime-
Prieto -. Slmplem é porque .1e sasdu que era muito rebelde, tinha problemas no colégio, diatamente assumiam uma posição defensiva.
sofria do que os psicólogos chamavam de "li- Porque estava fazendo outro filme. O te foi
me o Melhor papel do filme e tratou de abo- péssimo, mas ele ganhou o papel, Era como se dissessem: "Você? Como é que
osnhá-lo,,. derança negativa" pode, malandro, qual é?"
Aguinaldo - E em Copacabsan? João - Ptlns, plim! E então?
(Anselmo ouve com um ar neutro o comen-
de Prido; depois, resolve dar a
tário brincalhão Anselmo - Eu já tinha sentido que Eloina João Carlos - Depilado, de cabelo, ser-
tua resposta) Anselmo - Começou essa história de teatro. melbos, sobrancelha, feitas... E como é que
não era apenas um travesti que pintava num fil-
Eu nunca tinha pensado em ser ator, até que me teus conhecidos reagiram?
me, era mais que isso. Era a primeira vez que
Anselmo - Isso tens a ver com aquela bis- apaixonei por uma pessoa que gostava de um personagem desse tipo aparecia em nosso
toda da minha prefa'iaa por personagens es- teatro, e, de repente, eu escrevi e interpretei um cinema sem aquela característica de cdnde- Anselmo - E ainda deixei crescer as unhas.
tigmatizados, que vocês ressaltaram no n0 an-
monólogo, chamado "O Auto da Expiação", no nação: ele vai buscar no que lhe aconteceu no AI começou a pintar um clima estranho, uma
Colégio Acadêmico, no Largo dos Leões, ais espécie de expectativa das pessoas, quando eu
terior do LAMPIÃO, quando anunciaram esta passado os motivos para assumir uma posição
entrevista. Eu tinha feito aquele operário em
1971. Daí, começel a me aproximar do teatro, no presente e traçar seu próprio futuro. Quer sala na rua. O jeito como olhavam pra mim...
"Tudo Bem", tinha feito um vendedor am- mas era aquela época em que se dizia muito que dizer, não tais aquela coisa shakespeareana do Porque, vochs sabem, homem de unha grande
o teatro morreu. personagem que comete um erro trágico no pas- ou é cafajeste ou é bicha. Inclusive teve um in-
bulante alienado em "O Último Carro", e um
favelado, que tinha uma certa consdida que sado e que, por isso, tem que sei castigado, cidente cóm um policial, uma vez. Eu vinha das
(Aqui, a entrevista toma um rumo ines-
lhe fora dada pela própria vida, em "Se Segura punido, violentado. filmanges dirigindo o meu carro, quando me
perado: João Carlos e Anselmo descobrem que pararam numa bilti. O policia] me pediu do-
Malandro". Nesta escalada de personagens trilharam o mesmo caminho - trabalharam
solapados, oprimidos, uma das minhas inten-
Assim, eu não estava muito interessado au cumentos, me examinou longamente; eu mos-
com grupos estrangeiros que pintaram por aqui. representar este personagem de forma natu- trei os documentos do carro, que estavam no

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_ína". Mas é apenas um filme
Paula Chapman

Um
roteiro
perfe tOL
do 'I•
boffio
ao
travesti
nome de Paula, mas resolvi curtir um pouco a mttmatlzado, sim, .aa é também .qnee que
coisa: nada de dizer' Eu sou ator, estou assim tem mala semiblildada pari p'rcebar que tudo fiz isso mordendo a mão de Tarcísio. Foi uma -belo, colocação de voz, etc... Então, eles
porque estou fazendo um filme", nada disso. está pobre ao seu redor, e que ele é apenas inala orna muito difícil, para nó, dois, houve um deviam pensar; "Como é que este cara, que
Pois bem: ocara foi gentillssjmoi E como sedis- momento ao que a coisa funcionou; naquela nunca transou estas coisas, pode vir aqui e
um dado a. paisagem. Tento que, no final do
sesse; "Euteman, mas tudobun,.," filmagem, que durou cinco minutos, há pelo tomar o lugar da gente?" Veja bem, eu acho o
lime, de é o grande vg.dor. Foi pemando m enos um instante au que aquelas duas pessoas
Agora, agressão, mesmo, velo da parte de al- neste arogremu de Ekdu& que ce o meq.dld e travesti uma coisa incrível, eu acho que eles são
guns conhecidos, olhavam pra mim como se estão realmente transando. au que das con- um passo adiante em direção à ambigüidade do
vesti; cada roupa, cada maquilagem, ajuda.
Pensassem: ":Você, hm? Nunca me enga- seguem transmitir toda a sinceridade que o ser humano, que é uma coisa natural, mas que a
contaí a hhtõ,ia do progresso deste travinti
nou..." Eu notava uma certa excitação nas pes- momento exigia. Ficou muito bonito. gente reprime. Então, estes contatos com o,
dentro do filme. Eu me estreguel totalmente a
soas. Daniel Filho, quando me %iu na praia todo este trabalho, porque tkha oniesa que de era Já com o Tonico Pereira foi mais fácil, por- travestis, durante as filmagens, também me
depilado, de sobrancelha feita e de cabelo r- que a gente se conhecia há muito tempo. Então fizeram ir acrescentando coisa ao personagem
imponaite. E. equipe Mtdra *kha coueelimda a gente até brincava sobre a nossa transação no
mdho, deu um grito' dIsso. Daí, o filme passou a girar um pouco eia Elcíria; até mesmo esta hotiidade, esta descon-
filme (ele é "carinhos", o amante de Dolua). fiança, me ajudou a entendê-lo melhor. Agora o
De repente, eu comecei a curtir muito esta torno do personagem Eloini.
Anselmo - Inclusive, na filmagem da úl- Teso uma seqüência em que ele vai viajar pra que eu acho também é que, da parte do diretor
expectativa das pessoas. Eu sentia que essa Cc*rumb*, levando um carro roubado, e então
tima seqüência, em Parati, teve uma alteração. do filme, botar um ator pra fazer, pra represas-
coisa feminina sala de mim, que, na verdade, o eu., percebo que de vai dançar, vai morrer. AI
As coisas não rendiam, porque Tarcísio tinha o ar um travesti, foi uma atitude de grande res-
meu lado feminino estava se manifestando eu lhe peço; "Antes de ir embora, me dá um eito em relação a este personagem.
através de Elcina, e de uma maneira descom- seu ponto-de-vista sobre rosno devia ser feita a beijo". Pois o Tcssico veio e me deu um tremen-
orna, mas aos poucos foi surgindo outro ponto João Carlos - Uma perguntinha pio
promissada. Quer dizer, aquilo era um papel do chupão! Era como se a gente dissesse "Já
de vista, e eu começu a sustentá-lo. Porque a Primos você acta que este lime é pior. Igual os
que eu estava vivendo, com todas as conseqüên- que estamos aqui..." É aquela coisa lúdica de melhor que outros filme. brasleirus *obre o
cias que uma escolha desse ,tipo poderia me gente estava em Parati, uma cidade de vida guei que eu falei há pouco, de o ator usar um pouco o
intensissima, toda a equipe estava compro- tensa?
trazer. Mas no fundo eu sabia que a cortina um personagem para curtir um lado todo seu que
dia ia fechar, e que eu ia voltar a ser corno era metida com esta visão de Eloina de que a gente está adormecido, ou que de conhece pouco. Prieto - Eu trabalhei no" Retinha Dliii.",
antes. falou agora, e de repente l eu me senti, na pele que foi um filme multo Importante na época.
do personagem. assim cimo uma espie de João Carlos - Houve algum problema com Mas ide, o homossexual alada era uma ca-
Mas, veja bem, eu não acho que nunca teria bandeira,.. os travestis que trabalhara m ao filme? Alguma rlc.tur., Eu não fiz, outra odsa, dei um jeito de
sido um homossexual. Apenas, o que me acon-
Prieto - Sim, p orque quando Eloina vai mi vontade de parte dele@ ao ver você, um ficar parecido com a Maria Sc.ndd, quer
teceu é que eu me encaminhei numa outra heterossexual, fazendo um papel que podeia dizer, eu tentava dar um toque de atualidade,
malar Mateus Romeiro (u. da r. : No íilme, este
direção, acho que é uma questão de cultura. Eu cabe a um deles? de modernidade ao filme. Mas, no final, foram
personagem, vivido por Tardslo Meia, ri.
tenho amigos, pessoas muito bonitas, e é até os caricatos que ficaram no primeiro plano. não
presesita o Esquadrão da Morte), não é porque Anselmo - Primeiro eu gostaria de colocar
possível que, em determinadas cirdunstãn<as, deu pra entender a minha dias. Já neste filme,
de. refeita... que me preocupa muito, por exemplo, ver pes-
pudesse acontecer alguma coisa entre nós. Não não, a história é outra ele é da maior imporia-
falo de Irepar, porque o homossexualismo não Anselmo - ...Mas porque quer vingar a soas que não são atores sendo convidadas para
da, além do seu aspecto de denáid. social,
está restrito ao ato sexual entre duas pessoas do amante, que foi morto por ele. Há muita coisa representar papéis que deveriam caber a atores.
Neste caso específico houve problemas, sim. Porque já não é mais uma história de bichas s
mesmo sexo; falo de uma situação, um clima, por trás deste ato, até mesmo um certo fascínio bandidos; de está falando á de ema cisisa
uma coisa energética, um sentimento. que o travesti poderia ter sentido, a certa altura Quando eu fui me depilar pela primeira vez,
atualksslma, está falando de minorias.
da vida, pelo assassino. M as o importante é este senti uma certa hostilidade dos travestis que es-
Aguinaldo - Bom, '.'o ji se deg ilou, pia. tavam lá fazendo a mesma coisa; não pro- Aguinaldo - Anselmo, você não tem medo
(ou o cabelo, fez as sobrancelha,, deixou crescer sentimento de vingança, através do qual ele as- - que este papel, pela Importância que detem no
sume seu lugar no mundo e dignifica a sua priamente hostilidade, mas desconfiança.
as unhas, enfrentou uma hlit7 policial e com- Numa das vexes, um deles se aproximou de mim lime, e também por seu desempenho - que es-
preendeu que o personagem Elobta merecia paixão. Há até uma rubrica que Aguinaldo tá sendo eloglndisslmo por quem já o viu -
botou no roteiro: quando ela mata o assassino, —era um mulherão — epes'guntou: "Naiésn, é
multo mais do que uma simples caricatura. Eu você quem vai fazer o filme" Eu respondi que acabe marcando a sua carreira?
a arte-final? sai dirigindo a lancha com "um rosto de ho- Ansdmo— Não. Alguns amigos chegaram a
mem." Deu pra sentir que este rosto de homem sim, e ele se apresentou: "Meu nome é Eloina".
João Carlos - Pois b até que ponto o Eu lhe perguntei: "E como é que é?" E ele: me alertar sobre isso: "Cuidado, a partir de
não significa um rosto másculo, viril, mas sim, o
trabalho de Carimbo, Práso como maquiador e "Ali, éveryomnpilcated," agora só vão te chamar pra fazer papel de bi-
rosto de um ser humano.despojado das más-
figurinista foi Importante neste processo? caras que lhe impuseram. cha". Mas você vê: eu ainda nem tinha ter-
Depois, na cena do"ôba" do teatro de revis- - minado "República dos Assassinos", e me
Aguinaldo— E leso sl,. ta, a "estrela" era eu, mas quando começavam chamaram pra fazer Bigodinho, um assaltante,
Anselmo - Não foi apenas importante, foi
a filmar, os travestis que faziam figuração rio episódio "Sete Dias p ara Morrer", de
fundamental. A roupa tem um significado es- João Carlos - Você mata o Tardalo Melra, tratavam de ficar na minha frente, era coto.
poial para travesti. Quer dizer, ele não vai ma, você também o ama Como é que você se Plantão de Policia; e no filme "Eu Matei Lú
velada pra todo o lado. Pior foi na seqüência ao cio Flávio". rlc Antônio Cal moi, eu representei
numa loja comprar uma roupinha qualquer, de sentiu, fazendo uma cena de amor com em dos que eu canto a música de Chico Buarque de
faz a própria roupa. Tanto que você ouver- um torturador,
homens inala bonito, do Brasil? Holanda, filmada no cabaré Casanova. Lá, a Aguinaldo - E eu ,d de pelo menos três
sa com um deles, e de lhe diz, por exemplo: Prieto - Primeiro eu queria dizer que Tar- hostilidade era tão patente, que me deu um diretores que estão pensando em limar, e que
"Lembra daquela roupa que Gina Lolobrigioa rido é um belíssimo ator e que este filme slg. branco, eu não conseguia fazer, estava duro .6 falam em você5 e é tudo papel de machão...
usou na cena tal do filme tal?" ('arlinhos Prieto ntflm uma virada na carreira dele; uma demais. Então o diretor, Miguel Faria Jr_ (Risadas. Paula bate mais uma foto do
levava duas horas me maquilando. Durante virada proposital. chamou um das travestis que fazia figuração e
todo esse tempo conversava comigo sobre a grupo e, com isso, atrai a atenção dos entrevis-
disse: "Faz aqui pra gente, mostra como V. Ele tadores. João Carlos, então, lhe dirige a pergun-
roupa, sobre a maquilageru. Ele fazia minha Anselmo - Bom, o Tarcísio é um homem
cabeça. E no personagem tem muito desse fez e, a partir daí, tudo melhorou; eu percebi ta que pretendia fazer desde o começo).
enorme, maior do que eu. Quando chegou a que eles queriam apenas provar que também João Carlos - E você, Paula, como i que pe
Papo. Às vexes, ele estava angustiado, ouriçado. hora de fazer a tal cena, Miguei Faria Jr. man-
e ai dizia pra mim: ­ Hoje vamos escrachar bem, podiam fazer aquilo, mostrar que aquele sentiu vivendo civa um homem todo depilado
dou que eu deitasse, e depois, que ele deitasse universo do qual a gente estava falando era durante dois useses?
porque lá tudo muito ruim, a vida tá dificil, a sobre mim. Ele deitou de tal maneira que só deles.
barra tã pesada." E na hora de filmar era isso (Ela se aproxima de Anselmo, passa uma
ficou o meu rosto aparecendo; pousou uma mão
que pintava. mão nos seus cabelos e sorri, antes de respon-
no meu ombro, e então eu vi que era por ai que Porque um travesti é uma coisa muito séria, der)
Prieto - A primeia alta que eu pse'odsi deveria surpreendê-lo, porque o trabalho de
neste lime é que o travesti deite um progresso a sensibilidade dele é uma coisa muito sia. Paula - Bom, como os pelos cresciam
ator tem muito isto: a gente surpreende o par- Um travesti, quando está no auge, tem pelo muito depresa, me incomodavam muito, porque
-. em 'Rqiiàic dos Assassinos ,, ele é um ser ceira para, com isso, provocar uma situação. Eu menos seis anos de trabalho - depilação, hor- de noite ficavam me espinhando...

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Filme
premiado mostra
um dia Daniel/e,
no alto, à
esquerda,

na vida com o seu caso,


Sérgio. Acima,
com Iwersen.
Eao lado,
COM a

de uma boneca Gustavo Pereira, cápelao da Casa do Estudante


fantasia.

Com o documentário "Daniele, Carnaval e - Curitiba, uma da, cidades mala comer- todo território nacional, no certificado está bem
Cinzas" de 25 minutos, e que localiza, pela Universitário do Paraná e, da Forma mais des- vador., do Dm11, não está reagIndo bem 1 en- explícito. E não acredito em contranarchas. Este
primeira vez no cinema brasileiro, dentro de contralda, o publicitário paranaense Sala Wo- trada em osna de homossexual, assumidos. A VII Festival do GRIFE mostrou que está havendo,
visão adulta e sem preconceitos, um dia na vida bkita. boate "kalnbow? ', de Cairo Filho, está amençada mesmo uma maior aJcrtura para o artista no
de um travesti, Daniele (José Gomes de Lima Iwersen fez, ainda, várias filmagens na boite de fechar. Como eiasltLaao o que á que você Brasil: todos os filme, liberados, nenhum sofreu o
Júnior, paranaense de 1 aguapitã, 28 anos, único Rainbow", de Celso Filho, 65 anos, que lsé dois acha disso tudo? menor corte e isto eu considero um troço muito
do sexo masculino de uma família de II irmãos), anos e meio foi o primeiro a instala uma casa — Eu acho, antes de mais nada, que a so- legal e saudável.
o curitibano José Augusto lwersen,um dos mais guei, em Curitiba, o "Celso's Bai a ', fechado há ciedade curitibana é tremendamente hipócrita
atuantes realizadores de Super 8 no Brasil foi o alguns meses pela Delegacia de Costumes. - E ou problemas com a comuta amem doM-
nestes aspectos, entende? Então seja uma coisa:
grande vencedor do VII Festival do Filme Super Agora, na " Raio bow", Celso Filho está resistin- eu não digo que seja o povo basicamente, em me ser liberado? Cortarem alguma coba?
8. do GRIPE, em S ão Paulo. do aos sucessivos abaixo-assinados dos vizinhos geral, que é contra a atividade homossexual, suas
— Não, nenhuma. E coisa curiosa, que chegou
Cento e dez trabalhos concorreram aos diver- e às tentativas do DEXPS para, novamente, ter a a me surpreender, o censor que assistiu e liberou
manifestaçôes noturnas. etc... Quem é contra, é
sos prémios do Festival. sua boite fechada sob a alegação de "atentar me disse, inclusive, que achava muito importante
uma minoria que se interpøe, uns sete ou oito til-
Daniele, Carnaval e Cinzas" venceu fácil a contra o pudor público". o filme e até mesmo necessário. Para quem teve
tracaretas que,,, dando uma dimensão muito
seleção preliminar e se impôs, logo no principio, O importante é que José iwersen, 34 anos, tantos filmes censurados, como eu, era quase
maior e exagerada do que a coisa propriamente é,
entre os quarenta concorrentes à finalissima, casado e pai de trás filhas, 'heterossexual coo- inacreditável. E faço questão de citar o nome des-
lideram, e fazem com que o problema chegue às
com sua mensagem desabusada e sem afetação vicio", não teve receio em lançar mão de um te censor: é José Augusto Costa e me parecé que.
autoridades, cobrando delas 1 inclusive, uma
sobre a vida absolutamente completa, serena e matéria[ tido por muitos como maldito. E com es- agora, ele foi deslocado para chefiar o Depar-
posição, uma atitude. E a pressão se amplia a tal
normal de um homossexual da pequena classe te material realizou uma pequena e incisiva obra- tamento de Censura de São Paulo.
ponto que lugares como a "Rainbow" ou ourra
média brasileira e seu caso Sérgio, um rapaz de prima, Fazendo emergir do documentário não a - conto é que Danide reagiu à sua propus-
casas do gênero acabam sendo fechadas.. Eu, pos-
22 anos que também assumiu, por completo, o figura caricata, super-explorada do travesti, mas
calmente em. todos os dias que estive lá, fil-
te de I1á48, de devassar. sus vida?
seu relacionamento com o parceiro, e que, no fil- cara a cara e sem meias palavras, o ser humano - Ela ficou contentissima, esta é que é a ver-
mando, não vi nada de anormal, não si unta
me, dá um comovente depoimento sobre a vida inteiro em que se constitui Daniele. dade. Inclusive o "osso" dela, a pessoa que vive
briga, uma discussão e te confesso que cheguei a
em comum dos dois. Sobre "Danietle. Carnaval e Cinzas" José ficar espantado com aquilo tudo, eu que nunca com da, se prontificou, na hora, a aparecer em
Acompanhando Daniele desde o Seu trabalho Augusto twOrsen dá, aqui,'seu depoimento, serfi tinha entrado numa casa de gênero. Vi, na qualquer cena que fosse necessária- Eu passei a ir
como costureiro (das mais concorridas do bairro farisalsmoou papas na língua. muito à casa dela, a conviver, mesmo, com as
"RainboW', um ambientéccano outro qualquer,
onde mora) até o seu grande triunfo como a amigas que freqüentam a casa dda, outros
ruas digamos até mais tranqüilo de bom astral ou travestis no caso, e até com a clientela de Danide,
"Rainha dos Enxutos", da Sociedade Operaria - Como é que você, betero convicto, siu a sua coisa que o valha.
de Curitiba, Iwersei» intercalou, ainda, vários gente nquissima ali das redondezas que aceita ela
despertada para investigar a ezb.
depoimentos. Nestes, em defesa do homos-. - Você, mesmo vendo de fora, não acha que como da é. Foi realmente uma experiência fan-
tcl, o dIa--dia de Daulelie? ansvítnosi uma cultura guel eminurtemente
sexuabsmo como natural via da pratica - Eu acho que qualquer pessoa lúcida é tástica, um negõdo forte, fecundo. Fiquei assoin-
sexual humana, aparecem pessoas tão diversas naturalmente despertada para este caso. E eu
sadosal, pouco explorada, com toda a sua laun brado com a maneira como todos se querem, sem
como o psiquiatra José Romildo (abowski e e divino folclore? Não há nada mais brasileiro do distinção. E a Daniele, cru si, esta então é uma
acha, também, que, pelo men no Brasil, isto
sua filha, a psicóloga Marikia &abowski, a que o 'baile dos enxutos", por exemplo. E ao en- pessoa enorme.
colunista social Mar g arita Sansone, o padre nunca havia sido abordado de uma maneira tanto, a tendência de multou é Importar, importar - E sucêt. Iwersen como é que r.cubeu mais
séria. O que eu queria mostrar, quando concebi San Francisco de Csilf&ula. esta prenlaçio?
o filme, era como é que Danieile existia como • - Bem, antes de mais nada, como um sinal
pessoa humana. Isto me importava e me preo- - Bem, eu acho isto muito importante. Veja dos tempo.. Você e jornalista Aramis Mlllarch:
•44•4• cupava mais do que o fato dele ser travesti. foram as únicas pessoas que viram o filme antes
bem uma coisa: quando eu estava Filmando o
- Você não adia que o homou.Czualmo de ele ser enviado ao Festival. E vocês puderam
"Baile dos Enxutos", no Operário, do meu lado
acabou virando lauta de "dIvisa,"? Ele renda estava um cinegrafista suíço que me disse cla- perceber a proposta de "Daniele": trata-sede um
enmo apelo, ele vende. Como é que voce se coloca ramente, e abismado, que nunca tinha visto, em filme franca e claramente a favor do homosse-
dnte do problema? nenhum lugar do mundo, tal féerie", tal lou- xualismo como escolha, como opção existencial
124icL - Há anos que a coisa vinha me despertando cura. E eu acho, conforme você disse, que há um de vida. Então, ganhar o primeiro prémio do
a atenção O concurso do Operário é acompa- Grifc significa que muita gente está sendo ou
tão grande Folclore em torno de tudo isto que o
nhado por praticamente o Brasil inteiro, no car- procurando ver o homossexualismo dentro desta
cara que está participando da coisa acaba até se
naval. Eu achei que o assunto era muito sério e ótica. E depois tem o lado objetivo da questãz o
esquecendo que há uma importância muito gran-
necessitava de um tratamento, Era e é uma coisa GRIFE é, sem dúvida, a mais importante mostra
de nisto tudo. Mas, como você sabe, o brasileiro
muito importante, com seu valor cultural, in- gosta de importar tudo, tem a triste mania de im- do Super 8, no Brasil, e sair vencedor dele abre
clusive. E se eu quisesse me utilizar disso como portar tudo. para o cineasta um mundo de perspectivas, e a
fonte de renda" eu não teria escolhido o Super 8 pcauli&lade de o filme vir a representar oficial-
como linguagem pra mostrar e discutir o assunto, mente ó GRIFE no mais importante festival de
porque de todas as bitolas é esta a mais inviável - Você acredita que .da possa haver
picblemu mo a cíamura para a eventual co- Super 8, au todo mundo. E quem pode garantir
comercialmente. E depois eu acho que o homos- que "Daniele" não venha a conquistar outros
sexualismo é uma escolha humana, existencial, locução de "Daideêe"i em dnes-clubes, salas
especiais os mesmo outros festivais? prémios, de festivais ainda mais importantes?
como qualquer outra que portanto merece a
reflexão artística, merece que nós ' o questiono- — Não. Adio que não haverá problemas
moa, Pelo menos o filme está liberado par, exibição em Wllãon Bueno

.Página 12 - • -LAMPIÃO Esquina

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da pariitla tia cIivt-ridade
Prof. Dr. Luiz Mott, GRUPODIGNIDADE
L. REPORIAGEN4

JUIZ DE
FORA
ELEGE
SUA
'MISS GAY'(TFM aplaude)
inas (ierais, 1979. Um Estado que vidadas especiais faziam dublagem: -Mônica Paulo Gil (comerciário): - Voei crmhee4o
fervilha com vários movimentos. Blaser" imitou Donna Summer, "Ludmilc Lampião? Não. O que acha? Li pouco, mas
M
Passeatas, greves: os mineiros Bravo" fez Shirley Bassey, "Pepita Soares" toda a classe (em que ter um veículo para gritar.
estão ai mesmo reivindicando melhores con- bancou Elza Soares, entre outras. O povo está sufocado. O que o USmaxe ao em.
dições de vida, corno acontece em todooBrasil. Novamente as missas. Agora é a vez dos trajes certo? Falta de programa, Verdade? Não; eu na
Quer dizer: sopraram os primeiros venta da típicos. Um outro aIie'w de visual. Mais um ias- realidade vim ver as bichas.
chamada abertura democrática, muita gente
tratou logo de sair do sufoco,
tervalo com dublagens e finalmente o traje a
rigor. A emoção é total, um luxo, corno dizia
Cannes, Araujo Maranhão (dona-de-casa) -
A ss,ihora Já conhecia o LAMPIÃO? Não, mas
Oscar Wilde
Mas numa cidade mineira, Juiz de Fora, a São Denner, E finalmente o resultado: o 19
meus amigos comentam muito. Já tinha visto
mcislmer.caçao no dia 18 de agosto foi diferente. lugar ficou com Santa Catarina, representada
Nada de passeata ou greve, mas sim uma gos- por "Baby Mancini"; 29 lugar, Mias Rio Gran-
algum desfile deite tipo antes? Não, é a pri-
meira vez. Vim aplaudir alguns amigos e estou
O fantasma
tosa brincadeira dos homossexuais que lá vi- de do Sul, "Milena"; 39 lugar Miss Minas
Impressionada com a organização, sobretudo no
vem. Afinal, eles sempre acham uma maneira
criativa de lutar pelos seus direitos, de se co-
Gerais, "Malu", 40 lugar, Mias Amazonas
"Samantha", e 50 lugar Miss Paraná, "Elia- desfile de trajes tipícza. E um verdadeiro de Cantervffle
locar ao lado de todos na - digamos assim - na". "síscasa" de bom gosto. Poderia ser considerado
melhor que o deiflie de Mlii BlI? Não tem
luta maior. E om Juiz de Fora, veio atravs Mas não faltaram momentos grandiosos.
de um concurso: Mis, Gay 79. dúvida. Elas tinham que ver este para aprender
Nesta noite o grande destaque Ficou com Ângela oque é concurso.
Desde 1976, que um grupo de Gueis se Maria, concorrente huir, cocaiiii. Ela é a
- Mdsa Valverde (atriz): - Voei Já
reúne por lá para fazer um concurso do tipo bicha tombada pelo patrimônio de Juiz de Fora.
conhecia Lampião? Leio sempre, Onde você
MLss Brasil. Começou na casa do cabeleireiro e Ao entrar na passarela o estádio vejo abaixo.
compra? Recebo através de amigos. Juiz de
maquilador Francisco Machado Motia, o Todos gritavam seu nome num verdadeiro Fora é louquíssima? E, mas com toda a aber-
Chiquinho, como é conhecido. No ano seguinte delírio. Um momento inesquecível. E até lances tura esta festa ainda é um choque. Luiz Fernan-
a festa foi maior eeles partiram então para uma inesperados aconteceram, com aquele de um
do Coheu (estudante de Três Rica): - Você
escola de samba. Já em 1978 o clube Sport abriu machão que subiu na passarela para abraçar conheos LAMPIÃO? Darcy Penteado já diz
suas portas para o evento. Mas não foi muito Angela Maria, sem ligar para os gritos da tudo. Alguma queixa ou pergunta? Gostaria de
fácil ocupar este espaço. Foi também em 1978 mulher que deixou na mesa. Também no ves-
tuário vári os familiares das candidatas foram assinar o jornal, mas tenho problemas em casa e
que a repressão começou a funcionar. Era o ia meus amigos também. Mas voei não sabe
pessoal de TFM procurando cortar o barato do ajudá-las na preparação para o desfile.
que ele vai pelo correio em envelope fechado?
pessoal. Mas as resisténcjas foram sendo ven- Domingo dia 19. A festa acabou. Todo mun-
Não. Espero que isto seta .' divulgado, tem
cidas aos poucos, e quando o pessoal viu que do feliz. A cidade comenta muito a boa orga-
multa gente que pensa coou: . Aur1 da e.
aquela brincadeira nada tinha da atentatória, nização do concurso. As concorrentes se reu-
Silva Rodrigues (do Jornal "Painel de Três
era saudável e divertida, a cidade encampou a niram numa feijoada para comemorar o sucesso Rios): - Voei oanheee LAMPIÃO? Já mas
folia. da festa, e avaliar seus resultados.
O interessante desta Festa do Mlii Gay é que precisa de maior penetração em Três Rios e se
E bom lembrar ainda que ninguém saiu do possível em todo o Brasil. Como você ia o
os rapazes são todos de Juiz de Fora, ese traves- clube Sport querendo ser travesti. Tudo não
tem numa boa; não usam silicone e, pelo que passou de uma brincadeira. jornal? Sério, limpo e de unia libertação nosen-
tido mais amplo da palavra.
parece, não sonha, em virar mulher. Querem As famílias presentes no local (e ponha Fa-
sim, partir pra gozação, corno é comum noCar- - Paulo Roberto de Sá (engenheiro da
mília nisso), não se sentiram ameaçadas. Os
naval, mas com bom gosto e muita criação. Light, de Santos Dumont) :, - Voei conhecia o
bons costumes da família mineira não sofreram
LAMPIÃO? Não, mas deixa isto para lá, cara,
Neste ano o tititi se espalhou por várias nenhum abalo. E ficou uma sensação mara-
cidades do Brasil: o concurso seria realizado vilhosa dentro da gente. Esta festa serve como que eu estou em outra. Eu também. Minha
com uma grande festa. Um bando de gente mulher está no Rio, minha mie não velo porque
uma espécie de lição para muitos, que ainda está doente, ma& mm aman te ti aí. nã? Olha
ficou entusiasmado e partiu para Juiz de Fora. ensam preconceituosa mente em relação aos
Eram entendidos, gucis, sapatinhos e sapatões, iomcasexuais. A eles nós respondemos com a cara você é um gozador (rindo da esirtição), mas
enrustidcn, travestis, enfim, toda uma gama de nossa alegria. o importante neste tempo de abertura é que nós
homossexuais. Vinham do Rio. Brasilia, São machões estamos aqui aplaudindo os meninos,
Paulo e Espírito Santo. Parecia até um congres- não é? Concordo. Você Já viu quantas senhoras
Muita gente colaborou nesta reportagem. de meia-Idade e.lão presentes? Pois é isso ai,
so de bichas. Muita alegria e cordialidade entre João Damasceno fez as entrevistas abaixo, com
todos. Ao mesmo tempo, para Juiz de Fora, era tem que prestigiar mesmo, senão morrem e não
o pessoal que estava nas mesas de pista. Ele sabem que isto existe.
uma verdadeira guinada na sua balança (uns- também conta como foi sua passagem pela
tios (e se esta (esta continuar no ano que vem, - Jaime Gonçalvi. (comerciante, de Santos
cidade. Eis o seu relato: "Fizemos uma viagem Dumont): - O que voei acha do LAMPIÃO?
será como um das urnas turísticas na cidade). calma, até percebemos que o ônibus estava Tudo bem. E o Mim G.y? Está ótimo, mas Uma seleção de con-
São 22h30m, o ginásio do Clube Sport está
totalmente lotado. Os ingressos custavam Cri
cheio de bichas. Ai começou um tititi incrível.
Éramos quatro (eu, Jaime, Ricardo e Victor),
faremos melhor ainda no ano que vem. Fure- tos, e mais as cartas de
moi? Eu scsi da organização,
50,00 para as arquibancadas, e as mesas a Cri que estávamos curtindo a viagem para ver o Lauro Brenajio (bancário); - Você on
amor que o grande es-
600.00 e Cr$ 800,00. O júri, formado por
inúmeras pessoas do Rio, entra na passarela:
concurso. O pessoal do ônibus ria muito com al-
gumas piadas que as bichas, eufóricas, con-
hed, 0LAMPI4O? Sim, com todas asdificul- critor enviou, do cárcere,
um grupo era de travestis. Entre os outros. Elite tava" até o momento em que uma delas, disse
dades. E o Mlii Gay? Tudo bem, mas você sabe
onde está o melhor do concurso? Não. Veja
para Lord A/fred Dou-
Maravilha, Fernando Reski, Fernando Moreno que a estrada parecia o caminho para Mara-
aquela faixa: "O povo' está com Mias. Ama- glas. Peça pelo Reembol-
e A.ziza Perlingeiro.
Logo após desfilam todas as concorrentes,
kesh. Outra perguntou: "mas o que é isto?"
Silencio total. Ninguém sabia, nem a própria
zonas". Veja bem, é o povo e não nós. so Postal à Es q uina -
- Victor (estudante no Rio) Voai conheda
ansiosas como verdadeiros "misses" virgens. No bicha autora da piada.
o LAMPIÃO? Não. E que lhe partem? O jor- Editora de Livros, Jprnais
comando Chiquinho, com um vestido verde e
um bastão, fazenda a linha "Maria Augusta da
"Quando chegamos à Rodoviária uma outra
recepção. Alguns rapazes perguntavam se tí-
nal da vida. Você concorreria ao Mim Gay? e Revistas L tda. (Caixa
Socila". Duas a duas vestidas de branco, elas nhamos ido para o concurso e logo tentaram
Sim, como no carnaval. Mas jamais seria um
travesti. Odeio ser mulher.
Postal 41031, CEP,
faziam a primeira parte do ahoa'. A platéia
caivacionava, Era a glória!
uma pegação. Não faltaram momentos de
gesação. Jaime disse que ia participar do con-
20c00, Rio de Janeiro
No intervalo, para que as candidatas trocas- curso, e ali mesmo organizaram uma torcida M&o Axist.
RJ). Cada exemplar cus-
sem de roupa, um ihow a parte. Várias cosi- para ele," ta Cr$ 110,00.
LAMPIÃO da Esquina
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da pararia da disvracladr'
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[ENTREVISTA 1

leleria Brandão é, realmente, uma épocas em que eu fazia rádio, cinema e televisão, Helena - Não, eu me sublimava à arte. Todo Helena - Olha, o artista é diferente, sabe?
mulher muito bonita. Quando nós tudo a g mesmo tempo. Durante algum tempo só aquele vulcão que eu tinha eu punha na re- São pessoas muito sensiveis, são místicos, a
quatro (Maria do Rosário Cae- rádio, aboas em circo, boates, clubes, viajando, prtsentação. Era muito zelosa na minha profis- maioria dos artistas tanto se vira para um lado
H tano, Sérgio Ilabib, Carlos televisão no Nordeste. Mas depois eu fiquei dose são, muito consciente do que queria. Mas ai quanto para ooutro. Eles têm medo.
Araújo e eu) fomos até seu apartamento anos na TV-Rio. E ai aconteceu Person com "São começou a entrar um pouco a loucura, porque
na Asa Norte, aqui ais Brasilia, não esperávamos Paulo S.A.", que foi meu primeiro filme. Antes eu comecei a beber, você sabe como é, social- Carlos - Você tomou consclàstia de seu
encontrar mais a Darlene Glória que tanto lia- eu tinha tido uma pequena experiência com os mente, mas eu tinha o meu bar em casa. A soilimento durante sua carreira ou dqso.is que se
siamos admirado ais "Toda Nudez Será Casti- italianos, um filme feito no Brasil. Até ganhei o bebida se tomou uma necessidade. Depois, veio converteu? Porque, ralando dentro da colas, da
gada. Mas encontramos, apesar de seus cinco Saci, por este filme. o LSD, aquelas drogas, atropicába. Ecu provei vida de artista, talvez 'você nem soubesse que es-
anos de fé, seu casamento e os quatro filhos. droga e me tornei viciada. tasu iolreudo.,.
Alexandre - Qual o nome do filma? Alexandre - Fm que?
Salvo engano, seu corpo continua o mesmo, e Helena - Se você começar a perguntar Hei... - Eu era unia menina pura, alegre,
a vos teso a mesma beleza grave. Sua cabeça, no nomes vai ficai' dificil. Por exemplo, foramdois, Helena - Eu fumava. cocaíná. Fim morei na cheguei no Rio amando as pessoas, todo o mun-
entanto, está feita por outros pombos. O que mais filmes que me deram o Saci: um com Jece Solar da Fossa na época áurea. Meu estado nor- do, entrava nas maiores armadilhas por acreditar
me interessava saber, com esta entrevista, era Valadão. "Paralba. Morte e 'vida de um Ban- mal era drogada, Mas estava tudo bem: só que no ser humano, e fui me decepcionando. Real-
qual a responsabilidade que teve a carreira sobre dido", e este filme italiano, não lembro o nome. quando passava o efeito eu começava a amon- mente, eu conheci o sofrimento mesmo quando eu
sua vida. Afinal, o cinema brasileiro é tão falido Era coro Eliezer Gomes, o ator negro que mor- toar brasas em minha cabeça. Eram muitos os fiquei debaixo do tacão do espir itismo. Qt'ando
como empresa que obriga suas atrizes a tomarem reu. que aliás era muito meu irmão, irmão na fé prnbleas, minha vida era muito enrolada. Eu me converti estava no auge da minha carreira,
atitudes extremas como abandonar tudo para também. Eliezer ultimamente também estava na tinha errado muito, tudo o que eu tentava na recebi o prémio por "Toda Nudez" em 73 e em 74
amar Cristo, acomodar sua vocação no vidro da Assembléia de Deus. Era cristão mesmo, de vida afetiva dava errado. Meu mundo começou a
televisão ou enfrentar a prostituição propriamen- fogo. Eagora está com iesus, Al comecei afazer ser destruido. Os meus amigos eram pessoas eu me converti. Ninguém entendeu nada, ficou
te dita? Ou. no caso de Darlene Glória/Helena vários filmes, de participação. Eram diretores fracas e não podiam me ajudar. Eu via cada um todo mundo pirado, eu fundi a cuca do Brasil.
Brandão faltou-lhe maturidade e coosdéncia que vinham da chanchada, como 'vitor Lima, e mais louco que o Outro. Tinha medo que eles Quando recebi a Coruja de Ouro demelhor atriz,
para suportar um jogo bens pesado de toma-lá- outros que estavam começando. Não me lem- pensassem que eu era mais louca que eles, por- meus colegas me aplaudiram cinco minutos de pé
dá-cá que acaba tirando mais do que dando? A im- bro, fiz muitos filmes, Uns 20 ou 30. que assim podiam me deixar de lado. Eu estava no teatro, me abraçaram e me disseram (nesse
pressão que tive, no final, foi de que Darlene, se sempre fingindo. Comecei, e parei, a fazer trecho da entrevista, Helena .tá imitante exal.
em vez deter nascido no Espírito Santo eido para Rosário - Agora, o grande papel foi o de lada), "mais que justo, Darknc, pelo que você fez
análise, porque achei uma coisa muito fraca.
os estúdios da Atiántida, tivesse nascido em Ohio "Toda Nudez..." pelo cinema brasileiro, pela arte'.
Mas era tudo um problema espiritual-
e ido para Hollywood, ganho muito dinheiro e Helena - Mas eu fiz cinco filmes como
Ávido feliz para o resto da vida, a Igreja teria atriz principal. Depois de "Toda Nudez" fiz um Então, eu comecei a tomar paliativo. espi- Mas eu xingava todo mundo, eu tinha uma
menos um pastor de almas. filme da Teresa Trautman que foi proibido, "Os rituais. Um centro aqui, uma macumbinha ali... revolta, porque achava que o sucesso tinha cus-
Homens que eu tive", que nem cheguei a ver. Pra mim, kardecismo. macumba, umbanda, can- tado muito a chegar, que eu tinha sofrido muito
Mas agora Helena está feliz, também. Disse e Fiz também "O Homem Célebre", de Miguel zlomblé, é tudo a mesma coisa. Eu passei por para conseg ui-lo. E aquilo não representava nada
repetiu que não é fanática nem beata. Pode ser, Faria ir., que foi lançado depois que eu me con- tudo isso. E nada adiantou. Tudo isso se resume, para mim. O sucesso tinha chegado. mas a paz,
mas eu não acredito. Seu marido, Marcos, verti. Ai fiz ' O Marginar em macumbaria. São coisas que Deus abomina. não. Exteriormente eu era muito alegre, mas in-
ajudou-a em algumas das respostas e falou muita Hoje eu creio na Biblia. Tive cinco anos de can- teriormente era a mulher mais triste do mundo.
coisa. Além de funcionário público em Brasília, Alexandre - Você fez novela?' domblé, três de macumba, passei pela ioga, pelo Nas reuniões era a primeira a pegar o copo, a
de é pastor e professor de teologia no Seminário Helena— Fiz. orientalismo., Eu queria achar uma resposta. primeira a rir, a fazer os outros rirem, mas era
de sua Igreja. 12 espantoso ver como eles justi- Alexandre - Aquelas novelas antigas da Não acreditava que eu vim a este mundo para profundamente infeliz, porque era desilusão em
ficam a submissão, o racismo e o preconceito em Tupt sofrer, morrer e acabar, Tinha uma continui- cima de desilusão. Foram acumulando derrotas
nome de Cristo e doa espíritos de luz. dade, tinha alguma coisa depois da morte. na minha vida mas eu nunca as confessei, ao
Helena - (indignada) Não, eu não sou do
As fotografias de Darlene Glória foram ti- contrário, dava entrevistas dizendo o que eu não
tempo da Yoná, gente. Estou um pouco gor- Alexandre - Mia por que tanto sofrimento?
radas no templo da Assembléia de Deus pelo pensava, como — achoacho que o homossexualismo
dinha, agora, porque tive dois bebés em seguida. Helena— Voce não sofre, não?
fotógrafo Tadashi Nakagazni, que acabou de,. tem que ser liberado",, ou "acho muito bom ser
Não fia plástica, não. Ainda sou mais nova que a Alexandre - Eu? Sim, .5*1 .Lo tanto.
cobrindo umas luzinhas estranhas, explodindo mãe solteira–.. As Pessoas esperavam isso de
Ezabeth Gasper, que a Norma BengelL Estou, Helena - Você já provou ai drogas?
em volta da pradora. (Mezaadre RIboudi) mim. O Eli Halfoun começou até mesmo a
com 36, 37 anos, Estou um broto, um broto de Alexandre— Já.
MAria do Rosário - Diii..., au gestaila publicar coisas a meu respeito que não eram ver-
cinco anos de vida. Helena - Você já foi alcoólatra?
de... dadeiras, e eu botei na minha cabeça que ia
Alexandre - Sus fama lá no Fapibo Santo Alexandre - Não, eu Mo beijo Alenel, matá-lo, la na Florentina, nos lugares que ek
11.1...—Me chame deHelena. Paço questão era muito religiosa? freqüentava, e pensava que se o encontrasse ia
que me chamem assim, porque este é o meu Helena - Minha mãe é a mulher mais crente Helena - As pessoas são diferentes. Talvez eu quebrar uma garrafa em sija cabeça. -
nome, eu usava o pseudônimo dc Dartene quando que existe. Quem me ganhou para Jesus foi tivesse uma fome espiritual que você não tem. Eu Alexandre'— que tipo de colos de dizia de
era atriz. Eu amo poder ser chamada de Helena. minha mãe. tinha uni vazio dentro de mim. Enamizdiabusca você?
Quando comecei a minha carreira queria ser eu bebi de muitas fontes poluídas, e fiquei eis- Helena - Que eu tinha feito um Iulp.teaae
Helena Glória, que é meu sobrçiome de família. Ros ãrio - Agente goatarla de saber como é demoniada. Eu servia ao Diabo. Quando euiana
dentro de um avião... (Todos miem, Inclusive
Masjá existia a Helen de Lima, . Helena de que Marcos entrou na sua vida, como foi que macumbaria bater minha cabeça pelos Orixás eu
você se converteu. Quero Inclusive que Marcos Marcos, o marido de Helena). Mas depois fi-
Lima, a Maria Helena Toledo: então eu fiquei na sabia que não era Deus, mas eu sabia que era um
dúvida se mais uma Helena ia aparecer. E eu es- fale também porque ele á ama Inia que llea do espirito. camos amigos, e ele continuou a publicar men-
seu lado, e a gente está cuiloin em saber que tiras. E eu lhe dizia, "pode publicar, é isso mes-
tara lendo uma fotonovela que tinha Darlaie. e ai
Rosário - Mas Hei..., eu aio sIgo'n4mJium mo". Vi que as pessoas gostavam, resolvi as-
resolvi, porque Darlene era uma moça do interior papel ele teii eia sua vida..
culto, uma a gente vê umbanda e oiradomblê sumir. A primeira nudez n'O Cruzeiro foi minha,
que ia para a cidade grande tentar uma carreira, Helena - O Marcos só fala mesmo quando o primeiro busto nu foi meu. Hoje a minha nudez
exatamente como eu i* fazer. Minha família me como reãglljei .trlcinai...
vai pregar. Helena - Pois é este o mal,,. me faz rir, perto da nudez das mulheres na rua e
chamava de Helena e eu mesma não gostava de - Alexandre - Mas antes eu gost^ de saber nas praias. Era um negócio ingênuo, até, mas
Darlene. adiava isso muito teatro de revista, se quando você liabaou no chiema aum fé e.- Rosrio—A alia veio pira cá com os eg. para a década de sessenta era muito avançado.
teatro de rebolado, coisa de vede, tara adormecida, ou não exbih. cravas, e nós reeauamo o termo macumba, por. Mas eu vivia uma realidade e uma irrealidade.
Alexandre - Você cc no ci ou no que colocam o encI nmbk e a umbanda como Nas revistas estava rindo, maravilhosa, mas por
teatro? Helena - Não, eu não tinha nenhuma
baixo raplrhlsmo. duas vezes bati louca em hospital psiquiátrico,
lelsa - No rádio. Eu queria ser cantora, ia - preocupação com a vida espiritual Estava muito
desesperada, procurando alguém que me ajo-
em programas de calouro. Isto ais 58. Fiz ais preocupada com minha carreira. Eu acreditava Helena - Pois é, macumbana. A palavra cer-
que quando conseguisse o sucesso seria uma dasse, e lá me davam um "sossega-leão",
Cadsoeiro que eu comecei. ta é macumbana. Eu acreditava mesmo, ficava aquela injeçâozona.
Alexandre - Você já lcd "MI.. Caodro", mulher realizada. Queria ter dinheiro, carro, con- lá, rezando. O que eles lá na macumba me pedis- Rosário - Você coleca o artbta como uma
aio lcd? ta no banco, oportunidade de fazer o que bem sem eu fazia. Pedia que ajudasse a mim e aos pessoa de vida desregrada, e eu acho fato uma
entendesse. Acreditava assim, mas não acon- meus filhos, e a mãe-de-santo dizia que Saido, o
teceu dessa maneira. Eu tinha uma sede aqui generalização meio perigosa. Mia parece que
Helena - Fui, ais 58. Eu tinha 16 anos, Mas meu filho, ia ser homossexual, que meu pai ia
dentro, uma fome, uma pergunta que ninguém você, pessoalmente, não teve o controle de sua
queria mesmo era ir para o Rio, morrer se eu não fizesse um trabalho. carreira...
Rosário - Vo$ Na quantas .s? Sua respondia. Alexandre - Mas ratava acontecendo algum.
carreira checam ao apogeu ao dama, aio á? Alexandre - O que você procurava como coisa «pedIles em você, para estar pedindo
Hei... - E. Mas foi tudo misturado. Havia ateiz eram essas facilidades materiais? proteção proa Bens Ilibo.?
Página 14
LAMPIÃO da Esquina

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A PPAD
iação pranaelItc
da parada da dii crvidadi'
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
[ENTREVISTA]

-Eu. osso até voltar ao cinema


Alexandre- E há atores e atrizes que estio

r
muko seguens do seu trabalho, sua função
soc..
social... 1
Ros ário - Parece que Helena está negando e
lhe...
Hel e na - Não, até que
hoje os artistas são
Pessoas que têm uma profissão regulamentada,
mas no meu tempo éramos marginais e pios-
titulas. No meu tempo era uma aventura. Mudou
muito o panorama, mas eu não conheço nenhum
ator, nenhuma atriz que possa dizer de sã cone-
cncia que é feliz, equilibrado.
Sérgio - EiLa Dieta, qu e M*na grnd.

Hele.s - Leia estava sempre buscando, era


mutante, ela unha aquela busca que eu tive, só
que não teve tempo de encontrar. Morreu.
Alexandre - Você dou os hoos,ez.ab e
os drogados. Mas ou boasos.exuah aepre
leram peste do seu universo...
Helena - Ah, sempre. Eu amava muito ele,,
e amo mais ainda, mas hoje eu amo com o amor
de Cristo. E les sempre me aidaram, em primero

^1 1
-
lugar, e eu os amava porque eram rejeitados pela
sociedade. Eu gostava de pegar cachorro na rua,
os gatinhos: o que a sociedade rejeitava eu am -
parava. Onde eu ia estava sempre cercada. Hoje, Darlene pregando na Igreja, cem "Toda Nudez", com Paulo Porto (à direita)
no meu trabalho, jÉ consegui reabilitar alg uns,
Alexandre - Vocês reab ilit aram ]to nt os. Alexandre - O sexo tom sido Mo r'e, chorava e me pedia ir pra Jesus, saião ia acabar
explorado •o cla m a, em tabá t dde Marcos- Pois é: não foi a esquerda que nos
anuais? morrendo. Sempre pedia um pai, mas quando eu uniu... Pra que a gente casasse houve muitos
a..lto discutido co .asa magadra de aos ex- casei ele ficou com ciúmes, não foi pai' De repen-
Helena - San, hoje são pessoas normais. E pNcer a nó.=autos, os de lIvrarmos de ma problemas. Primeiro, porque da é um pouco mais
te, ficou rccbelde. O cabelo muito grande, deu velha do que eu. E minha família era contra foi
preciso muito cuidado hoje. porque muitos aros- crise, cosa que tab aIgreja em t atu ado caspa e eu quis cortar. Ele não quis. Depois cor
tas são drogados e homossexuais e os jovens lixarl•ts áltbacis dois 11 suou. um caso sério convencê-los. Imaginem, uma ex-
tou.
querem imitar, acham aquilo normal Helen
a (dfrlgludo.aea Marcos) - Explica pra atriz, mãe solteira, tinham visto "Toda Nudez"
Rosário - Ec'ouno é que você conheceu Mar' - que eu nem vi - e lido aquela "Veja" sobre
de, pai. coa?
Marcos - O mal cresce assim. Tem-se a im- ela. E como ela tinha dois filhos, não podia ficar
pressão que todo o mundo faz aquilo. Marcou - Isto é Freud, já está ultrapassado. Helena - Eu já era obreira do Senhor. Quan- andando de mãos dadas con da, porque iam
A Igreja tem feito muito pelo homem. A Igreje do o vi, ele estava pregando. Pela primeira vez na dizer que estávamos prostituindo. Dai, decidi
Helena - E O drogado pensa que todo
também teve uma época de decadência, a Igreja minha vida eu via alguém falar de Jesus de uma casar, mesmo sem conhecê-la pessoalmente. Um
mundo queima fumo e o homossexual acha que
todo homem também é homossexual. romana. Mas na Igreja não institucional, Cristo maneira tão linda. Meu coração balançou, eu o dia eu perguntei a da: "Se você estivesse no meu
admirava como homem mo, E eu morri, por- caso, o que faria?" E da: "Eu casava". Em
vem tentando salvar o homem. Alexandre, não
Fdorcos - O homossexualismo é um sinal de tem resposta para isto. que qão queira mais saber de amor. de sexo. menos de um mês a gente namorou, noivou e
Marcos — Quando Helena diz "sexo", é óbvio casou.

-
decadéncia. Todas as civilizações expenmen-
taram a decadéncia moral. Mas eu não sei por- Rosário - A Igreja á vista coo uma ópio do que é sexo no casamento. Helena - Estou contente de ter um lar; gasto
que estamos falando tanto disto... povat Mas existe uma Igreja progruusbta, de D. Helena - Ele ia aos cultos lá em minha casa, de ser submissa.
Pedro Caaaldáljg*, Tomás Baktauo e uma em Copacabana, com a namorada. Até que pas-
sou a ir só. Um dia, um senhor me pediu que eu Marcos O esposo tem ascendência sobre a
Helena - Porque é uma cosa que está tão outra com.rvadora., que contInua falando de ma esposa no amor. Ele exerce a autoridade, é uma
difundida. Deus que amadro.ta. Como vmá 4 isto de a falasse mm Marcos pra voltar a namorar a filha
coisa boa para mulher porque da é mais frágil e
oss
Marcos - O hom exual e a homossexual Igreja domInar a mmie des paoua e não d~ dele, e então eu soube que eles tinham desman- deve obedecer. Tem que ser assim, inclusive por-
não são doentes, é uma coisa palquioa, a maioria las participar de daac*tos, bapetindoas ás ta chado. Fiquei espantada, até que tive um sonho
que eu li numa revista que 70% dos homossexuais
dos casos é uma opressão maljgna (ale). Os es- uma atuação polticu? maravilhoso. Era um lugar lindo traio cercado de
grades; tinha uma árvore e um rio que passava têm mãe autoritária e pai «nisso. Então, é nor-
píritos do mal repetem tanto para você que vixé é ma] que o homem seja o líder do lar.
um homossexual, que você acaba incorporando
Releu. Se houvesse um crtstianiseno vivido pela árvore, e lá cm ama tinha um garotinho tipo
em sua plenitude não haveria luta política, pai'- o Pequeno Principe, voando como um papagaio.
aquela personalidade. E uma mentira que vai tio (Neste momento uma barata entra no apar-
que saiamos todos iguais. Eu perguntava o nome dele. de respondia, "Mar-
fundo que passa a ser verdade, uma realidade in- tamento e Começa a r ma todas as direções.
Alexandre - Então • Igreja tab á cos Vinícius", e sala correndo. Quando eu olhava
questionável. Mas quando de tem uma experián- Marco, pula, grita, ameuça sair correndo. Dar.
htica. para o outro indo do jardim, lá estava Marcos de
as com Cristo e vá que aquela vida não agrada a Iene, quIeta, aprovdta um momento ne que -a
Deus, quando ele percebe que o Espírito Sento
Helena - Não, a Igreja não quer ser política. paletó xadrez. Ele me chamava, eu atravessava o barata osi no chão, apanha-a pdo, bigodes e
existe dentro dele, ele tenta se recuperar e rata O cristianismo tem que ser uma coisa natural. O portão-, havia homens, ele passava comigo no
joga-a pela janela. Todos assistam ao espetáculo
cristianismo é amar, é repartir. meio de todos eles e ninguém me tocava. Depois a pensando no papel de liderança de Marcos na-
recuperação é completamente possível.
gente entrava num barco no riozinho, . e de me
Marco. - A Igreja, o claro estão tomando quele eaaa. E termina a entrevista).
Alexandre - Mi. Isto á a noeidade .- dizia que gostava de minha roupa, mas não da
pantcsal O que eu .pre seube équ. o hoou. uma posição de esquerda, muito mais por - cor: eu estava com um terninho Mao Tse-Tung
veniáncia. Mas o que a Igreja precisa de seu claro cor de areia.
.ezualk.oá Iricio dv'sL.. o
não é de posicionamento político, mas de alimen-
Mascate - Não. Nós temos vIsto moças e to espiritual.
moços se recuperarem. Na na Igreja nós temos
muitas pessoas mesmo que vieram do homos- Alexandre - E a imo material?
sexualismo, e estas pessoas podem ter uma vida Mascate - lato é um problema político. A Relatório sobre a THECLUI
norma]. E preciso crer. A cura é tão possível que Igreja não tem nada a ver com isso.
muitos homossexuais podem ir tanto outri ho.
meus quanto uan mulheres,
Alexandre - E nu ca sua nova vida, Helena, homossexualidade
você trabalha?
Heitima - Nós não condenemos o boinas-
Helena - Eu trabalho para Jesus. masculina
sexual. Eu amo o pecador, mas abomino o pe.
cado. Existem os problemas, mas o Evangelho
Alexandre - E w é paga pra Isso?

Helena - Sempre há uma ajuda, para a Um livro de


çr..L
está ai para resolvá-los. O Evangelho é vida, gasolina. Tenho meus discos, que eu vendo. Mas Um novo lugar na noite
alegria, uma coisa maravilhosa. Ou você acha que não sou assalariada. Acho uma tranqüilidade ter Michel Bon e
se não fosse uma coisa maravilhosa eu estava ni,- um marido que garanta a casa. Quem durante 33 Antoine d'Arc Drinks - música
ao? anos foi dona de seu nariz, pagou seu INPS, sua
Alexandre - Mas o conta de luz, colégio de filhos, aluguel de casa, e comidinhas
1ab á uma
cola. aravflbcu..
Hel en
um dia tem um marido, que segundo os padrbes
bíblicos a sustenta, é a coisa mais maravilhosa do
Uma edição
a - E. Tanto que um dia eu posso até
mundo. Jesus, como é bom dormir um pouquinho
fazer um filme.
Rosário - Mas o que aos agos êq.s depois do almoço! Ser dona-de-casa, ser mãe, ser Interlivros Diariamente, a partir de
.baaáouou o a. Votf lesta "Toda N.d esposa!
Marcos - O aconchego do lar é muito mais
21 horas
outra vuz?
importante que o dinheiro que uma mulher, Peça pelo reembolso postal Rua Cristiano Lacorte,
Releu. - Não. Mascho que o cinema tem
uma impoetáncia soda]. Tanto que Bifly Orsham
trabalhando fora, pode trazer para casa. 54
Alexandre -. Seu filho mais velho, que a à Esquina - Editora de Livros, Copacabana
fez filme lá nos Estados Unidos. Mas os filmes de acompanhou ma suas duas &548, como ele está
hoje são todos em cima de sexo. Eu tenho talento, agora?
coisa que Deus me deu e não tirou. Mas agora Jornais e Revistas Ltda. -
Helena - Está muito bem. Saido tinha tudo
aquele desespero eu não quem mais, eu tenho que
dar esperança a alguém, e não fazer a Geni (de
pra ser um menino complexado, mas é normal.
Um verdadeiro milagre. E muito equilibrado,
Caixa Postal 41031, LAMPIÃO
"Traia Nudrz"), que deixa todo mundo na foas.
Todo mundo sai do cinema e vai para o bar.
tímido mas maduro. Antes mesmo de eu me ram-
verter de já ara cristão. Quando eu tinha crises,
CEP 20000, Rio de Janeiro - RJ. Assine agora.
LAMPIÃO da Esquina • Pagina 15

APPAD *
**
asiiçio paranaeflsc
da 13arada d,i di &'rsidad
Centro de Documentação
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
ci.
Bixórdia
Transexualismo no fim
Aviso aos navegantes: fui deaado nos 19416, foram realizadas perto de 50 ope-
Estados Unidos o lias da, operações para rações. Agora, porém, os médicci dase hos-
mudanças de seio. As bonecos nacionais
que ainda querem se submeter à mesma
pital anunciarem que estio abandonando
tal tipo de cirurgia, que só será feita nos bar.
TENDÊNCIAS
devem correr ao médico mais próximo, por- mafrodftas autênticos. Segundo a revista
"Time" da Ultima semana de agosto a re-

a peça
que a moda vai entrar cm declínio. Pua-
saram-se quase 30 anos desde que um valeu- soluçio fui adotada de acordo com um novo
te ez-soldadlabo norte-americano resolveu estudo feito pelo psiquiatra diretor do
esfreatar a plebe Ignara e surgis como a programa de consultas sexuala do hospital,
glamu rosa e loiríssima Chrfstine Jorgesse, que descobriu fio haver diferença no ajus-
tamento a longo prazo entre os tranaeiu.is
devidamente redesenhada por hábeis cfrur-
giba dinamarqueses Foi a primeira mu-
dança de sexo clínica registrada na história.
que passaram pelo bisturi e os que aio li-
zeram a operaçio. O psiquiatra disse: "A
Cacilda no globo da morte
cirurgia funciona como sim paliativo, mas
Desde estio, forem muitos os trame fio cora o que é essencialmente um distúr-
mala que andaram por a e meca em bus- Cacilda Lanuza Foi radoatriz, locutora, e
os de um médico disposto a repetfr neles o bio psiquiátrico." Foi ele quem falou, aio animadora de auditório no Recife. Depois, foi
milagre. Mas o templo do Iranseivallsmo nós. As broncas e reclamações devem ser es- apresentadora de televisão, teleatriz,, diretora de
ficou sendo o hospital norte-americana John dereçadas à calma postal do John Hupklns programação e até garota-propaganda. Isto
llopkIns, de Baltimore, onde, a partir de Hospital. durante 17 anos em São Paulo. Seu primeiro
papel no cinema Foi em "0 Canto do Mar", filme
dirigido por Cavalcanti, e que lhe deu '.o Prêmio
Governador do Estado em 52. Faz teatro desde
Alençio, pessoais todo mundo de olho zum filme Intitulado "Terriços" que a TV-
Globo já levou duas vexes no horário das 23 horas. Sio várias histórias que se cruzam. Mas isso diz bem pouco de Cacilda Lanuza
envolvendo moradores de um ominlo de daae maidia americana em Lo, Angeles. gente, que, não cooseguindo permanecer impas-
Num dos apartamentos mera um ator, que tem um caio com um famoso dru,glio, sível ante os problemas ecológicos, Fez da defesa
casado e pai de lisos. Acontece que a mulher do cirurgião descubra tudo, conta prol da natureza a sua frente de batalha atual. "Globo
filhos, e de acaba o caso apavorado. Rejeitado, o atormenta o sulcidio, mas sup s'linha, da,, Morte", o espetáculo que ela escreveu,
ama mulher coes quem ele troca confidência, apela para o o drurglio, e este chega a
preparou e está no momento apresentando em
tempo de salvá-lo. Até si tudo bem, mas ainda tem a Ultima seqüência do filme: a cidades do interior paulista, é um resultado ver-
dica do cocsdomlnlo está na porta do prédio, quando o drurglio desce de um túl, tical de vivência e sensibilidade. A primeira parte,
carregando as malas, e se dirige para a portaria. Um ar sibilino, da lhe pergunta que ela define como comédia, é a caminhada de
"Está se mudando pra cá?" A resposta é"slm". E ela: — Deixou amulhere-os fi- uma atriz do rádio da década de 50, coni pro-
lhos?" A resposta outra vez é "sim" ,com o arremate do cirurgião: "E eu espero que gramas de auditório, novelas etc.. passando
sejamos bona vizinhos". Ckwe: rosto da síndica, coes um ar de quem pensa, "meu depois para a tevê. Sua própria experiência, por-
Deus, este mundo está mesmo perdido". Plano geral: fachada do prédio, com o cirur- tanto, num mundo massacrante mas inconse-
glio, firme e decidido, de malas à mio, caminhando rumo ao elevador. E palavra qüente, porque sem compromissos com a rea-
"fim" se superpõe a esta Imagem. Aracnídea Butami comentou, após o filme: "E lidade. A segunda parte é a constatação do que
aqueles homens que ficam sentados diante de revi até o filme de madrugada, enquanto está acontecendo li foras a poluição, operigodu
suas mulheres lambuzam a cara coes as banhas de Helena I&ubinstelnz foram dormir energia nuclear, o extermínio da natureza, a
nesta noite pensando em que?" Ateaçio. pessosi de Vên*i Platinadai reprisem o filme violaçaodca direitos humanos, a violência.
outra vez, e anunciem fartameutel
Esteticamente, a busca de Cacilda é eliminar topográfica. apenas... Juntei o pouco dinheiro
barreiras entre palco e platéia. "Globo da Mor- que tinha e assumi autoria, produção, direção,
te", que ela define como um espetáculo ecológico, intepretação, idealização e confecção das coisas
Acontece. no lentro lirigitie mali em Recado de Mary Juana, a cocotinha aqui é um monólogo que, pela comunhão com ci que uso: administro, vendo, monto e desmonto
noite de casa cheia. Ouando a "mlmqe." da redação (o que ela manja de surf —e sur- público, transforma-se em diálogo. "Quero ser cenário, equipamento de luz, som etc... E uma
Marlese Casanova mmm no palco, um rsaz uma espectadora no palco. Quero que as tessoas
fistas - não está no gibi...), pro Luizinim loucura de niambembice, mas estou profunda-
levantou na platéia, aplaudindo freneti- Garcia, da Gueifiéira: "Por que esta saibam que estou lá em cima por uma questão mente feliz". (DP)
camente, aos gritos de "papal, papai!" obrigatoriedade de o show ser de travestis?
Marlene, coes um vestido decotado até onde Por que não pode ser um cantor guri de
a decência permitia, mkrdone em punho, rastro gênero, paisana mesmo? Ou uma das
apresentou orgulhosas Este é o meu filho,
gente!" Branco geral na platéia, composta
nossas grandes cantoras atualmente, desem-
pregadas? Os músicos são bons quebram
O teatro vivo de Caxias
basicamente de casais de classe média que qualquer parada. Então, porque não Eddy
costumam Ir ao local "pra ver as bichas". Star, ou Maria Leopoldina, ou Carmem
No final do espetácaio, pai e filho sairam Em 1976, por uni momento pareceu que a teatro popular. O diretor. José (arÍos d Sesiza, e
Costa. ou Aracy Cortes e outros em curtas bolorenta critica teatral carioca estava se man-
juntos para jaatar. O Ilibo numa bem, e o os atores podem ter certeza de que caminham na
pai, vestido como a naturesa lhe pedes de temporadas de fim de semana? Pra ganhar cando. Na prenliação do sofisticado prêmio direção certa: é baseado no nosso cotidiano, mas
mulher. E por isto que há quem diga que dinheiro a gente tem de investir um pouco, Moliére estava o Grupo T. A-L. (Teatro de Aber- superando-o criticamente que alcançaremos a
"Mimosa Até Certo Ponto", a peça em que tura Lúdica), formado por amadores de Camisa. forma de urna arte brasileira autêntica, que corno
meu bem.,. Mas nada de aumentar o preço
Maricas trabalha, que está há dois anos em Sua peça de estréia, a criação coletiva Sacos e tudo, terá de vir de baixo para cima - e aio o
do ingresso, porque ai o pessoal pobre some, Canudos, tratava do tragicômico cotidiano da contrário.
carta, e bateu todos os recordes de público,
é o espetáculo inala político do Rio, atual. e o pessoal rico neste pais, você sabe, não Baixada Fluminense. Ainda mais surpreendente
mente. chega nem a ocupar 100 lugares..." do que sua premiação, foi a recusa do grupo em O Grupo T.A.L. reafirma-se então como o
aceitar o prêmio, um dos mais ambicionados no equivalente suburbano do Asdrúbal Trouxe o
meio, pois consta de passagens aéreas para Paris. Trombone, que faz na Zona Sul um trabalho com
Essa pequena estoriaba é contada cm a mesma proposta: a critica debochada a partir
Juiz de Fora coes o maior orgulho pelo pos- Bastou esta atitude para que uma cortina de de uru cotidiano amargo. Aliás, o'r.A.L e As-
Chama-se Bis Friedman o rapaz
em[ guei daquela cidades certa vez Cal Cos-- silêncio caísse sobre eles. Nunca mais uma repor- drúbai estio entre o que de melhor se faz no
que aparece na capa do Livro
ta resolveu fazçr um show por aquelas ban- tagem, uma notIcia, uma temporada, Como teatro carioca, ao lado do bailetafro Okrum
Shirley de Lecx*lo Serran (vide
das, Tudo bem, o pessoal cuparomu cm ousavam esses suburbanos recusar uma pre- Baba Mio de Isaura de Mais eo teatro nordestino
anúncio à páginá 5 desta edição). Seu
mama para assisti-la. A certa altura uma miaçio que paterisalmente desejava incentivá- de Luiz Mendonça. O Fato desses grupos, esmo ex-
tórax avantajado ó dc deixar Sophia
bicha a*rl4da resve, mop*rar seu tórax ao los? ceção do Asdrúbal, raramente constarem da lista
Loren mona de inveja... A' história público e começou a tirar a ramk.. O
de "Shirley" voces manjam. (nós Finalmente, no inicio deste ano, o grupo de melhores dos nossos jornalistas especializados,
público começou a gritar, "tira, tira". é um defeito destes, e não daqueles. Já tátá na
-
publcamos um trecho do livro do iW reapareceu com um novo espetáculo intitulado
12 de LAMPL&O): trata-se de um Gal não gostou da brincadeira pou o simplesmente Teatro de Abertura Lúdica. Fi- boca de acabar com isso o quanto antes. (João
operário da construção civil que, em asicn'o(usse e deu uma decisio em todo o zeram todo o circuito paralelo (Niterói, Nova Carlos Rodrigues)
Plena ccamopaulicéia, Se apaixona mundos "olha aí pessoal, os eu ou da". Iguaçu, Marechal Hermes, Campo de Santana)
por um travesti, daqueles que fazem sem que os cri ticos se dignassem a assisti-los. Até
Acontece que a cantora aio sabia quem
poiiio à porta do Hilton Hotel, em que por quinze dias do mês de agosto passado, o
estava coespstlndos era simplesmente Am-
Sio Paulo. Shirley vai virar filme, em T.A.L. chegou ao teatro Glauce Rocha, na
gela Maria, a bicha tombada da ddade, O
janeiro, sob a direção de Hector
Babenco.Urnconcurso,nacionai (aten-
çio. travIõel escolherá a "estrela" do
público aio leve dúvidas, e gritou coa toda
a Ioça dos pulmões possíveis "é ela, é da, á
Avenida Rio Branco e ai não deu mais para fingir
que eles não existiam. As reações Foram em-
btguas. Por um lado, o espetáculo Aem. uma série
Coxas
da". Angela ficou orguihosa com a lide. de deficiências técnicas (dicção de certos atores,
filme.
[Idade de seu público e o show foi interrom-
pido, pois Gal acatou a derrota.
falta de uma estrutura mais forte na parte final) De Roberto Piva
--mas por outro lado, é usas das poucs coisas
Noite dessas Mário Valia, o flgurlalsla, vivas a ocupar uns palco carioca este ano. Não dan- Nossa poesia está nas ruas.
foi aigistjr ao show "Mlmas Até Certo
Ponto" e ad000roou. Ao final, entre beijos e
Ivan Lessa, que recebe pontual- do, portanto, para espinafra amaina doa críticos
apegou-se aos detalhes, aumentando os pequenos
"Coxas" é o . melhor exem-
mente o LAMPIÃO em Londres, se
abraços aos bastidores, prometeu ao siar
queixa do nosso "bom comporta- defeitos para minimizar suas grandes qualidades. pio ' da nossa poesia. Peça
Carimbos 1 desenhar um modelo especial
pari a apoteose de encerramento do e.-
manto". Se nós fôssemos mau com- pelo Reembolso Postal á
portadca, Ivan, contaríamos a his-i Conto Sacos e Canudos, o num espetáculo
petácolo. Descrição do vestidos "cinco
tória daquele vendedor de limonada satiriza o amargo viver dos moradores da Bai-
Esquina - Editora de
camada, em crepe plissado, degrad&, do
branco ao rosa choque, vestida, sobre um
- lembra? - que você pegou na xada. Critica-se o racismo nas repartições, os cir- Livros, Jornais e Revistas
esda.t todo em sUam". Aoeu,fr tal descrlçgo
praia e levou pra casa. Se você
soubesse o que de andou dizendo
cos mambembes, os teatros de revista Fuleiros, as L tda. (CaíKa Postal 41.03 1,
cooperativas agrícolas, a comercialização de um-
R,alaela Mambaba eshuplhou u olhos, deu
depois a seu respeito... Quer dizer banda e outros temas tão próximos da maioria da CEP 20.0W, Rio de Janeiro
vários muxoxos e mamários, e pemos bem
antes de opl.an "vai ficar lindo! Obra do
que você adora tomar limonada população carioca e tio distantes da Zona Sul, - RJ). Preço do exemplar:
direto na torneirinha, não é, Vivi? onde moram cia tais críticos. Em determinados
meu amigo Mário Vslle sempre fica um
momentos, em especial o quadro do'pai-de-sarito
Cr$ 85,W.
luuuxo!"
que só quer dinheiro, o texto ultrapassa a nera
crítica social e alcança o verdadeiro espírito do is--,-- --
Página 16 LAMPIÃO da Esquina

*fr

Centro de Documentação
APPADit c
da parada da dit'ridad:'
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
1 M1

Nossa h e_roffia espacial


Houve quem dissesse nos Esta- melhor no combate solitário con-
dos Unidos que desde Barbara tra o monstro alienígena. E, des
Stanwick não surgia no cinema sa vez, os heróis vão sendo devo-
uma mulher de personalidade rados pelo bichão um a um, até
tão "forte" - e as aspas são pa- que sobra, sózinha, a nossa Si-
ra deixar bem claro o tipo de for- gourney pra resolver a parada
taleza a que eles estão se referin- (aquelas seqüências da moça
do - quanto Sigourney Wea ver, correndo pelos enormes corredo-
a moça das fotos. Quem viu res da estação espacial, de arma
"Alien, o Estranho Passageiro", em punho, em busca do monstro
não pode deixar de meditar so- para o confronto final, são de ar..
bre isso: seria aquela a linha ori- repi,,4r). Imaginem uma Simone
ginal do filme, ou ela foi imposta que em vez de cantora fosse
pela personalidade forte (aqui, atriz, e que tivesse a personali-
sem aspas) de Sigourney? Afi-
nal, no sub-gênero da ficção- dade de Jane Fonda: Sigourney
científica denominado Wea ver é isso aí. Por causa dela
space-ópera (como eu me amar- o filme é imperdível. Ah, sim:
.,
ro...), que é a versão interplane- quem está com ela nas fotos é o
tária dos romances de cavalaria, machão lan Hoim. Mas que im-
foi sempre o herói quem levou a portância tem isto? (AS)

O poeta Uma festa


das coxas do
Com o subtítulo de "Sex fiction & delírios — , o
poeta ccamopaulistano Roberto Piva lançou
recentemente seu quarto livro —COXAS, publi-
LAMPIÃO
cado pela Feira de Poesia. Os dois pnmeirca. No mês de julho a festa foi em São Paulo: no
Paranóia e Pliazai, saíram quando os Beaties nlghi dub Happy, Darcy Penteado, sob as
apareciam com o CP PIeaie pIe.e me e quando bençica de nada menos de três fadas-madrinhas,
Dytan lançava The time. Ihey are a-changln, autografava oseu Teoremambo para uma enorme
respectivamente. O terceiro. Abra m olhos & di- platéia de frenéticos paulistanos - des os
meninos e meninas do frupo Somos, até o pre-
ga ah!, foi publicado no ano segu'rste iodo último
sidente da Arena-SP, o candidato a senador
LP de Lennon. Cláudio Lembo (que aparece na foto ao lado,
Contracultura? SÓ podia. Piva abre COXAS pedindo autógrafo ao lampiônico autor). Agora.
com uma epigrafe de Oswaldo. Muito apro-
dia 30, foi a vez do Rio. No lhe club, o mesmo
priada, já que os poemas poderiam ser roteiros de
Darcy, e mais Aguinaldo Silva, autografando o
superoilo, letras de música ou manifestos anar-
seu No Pus da. Sombras, eram os protagonistas
quistas. Outras epígrafes desfilam: Condillac,
de outra grossa festança lampiónica, que contou
Drummond. Joycc, Pessoa. NãoJalta Ginsherg,
com a enorme capacidade de organização dos
muito bem evocado pela presença pipocante do
donos da casa. As fotcs, milhares delas, não
&, como uma clave solta numa pauta doida.
ficaram prontas a tempo, porque o jornal fechou
A ficção poética de Piva tem também '.'::
no dia seguinte pela manhã, quando nossos
personagens, todos adolescentes, por sinal. Í)
repórteres fotográficos ainda se refaziam do
nomes são simbólicos: Pólen, Lindo Olhar, Rabo
pileque: mas no próximo número a gente descola
Louco, Coxas Ardentes, Os lugares nem tanto, já
algumas, pra que vocês tenham uma idéia doque
que poucos poetas se movem à vontade como ele
aconteceu. Entre outras presenças, como diria
no labirinto da toponlmià paulistana (incluindo a
um colunista social, foram anotados: Waimor
Zona Leste).
Chagas, Hugo Carvana, o terrível António Cal-
Algumas passagens acrescentariam algo à
moo. Anselmo Vasconcelos, Denise Bandeira,
letra de T,kIl*, onde Caetano não podc can-
Jaguar, Antônio Carlos Fontoura, Doc Com-
tar tudo. Outras apenas lembram 'descrições dos
parato, Leopoldo Serran, Inge Roesler, Paiva
120 dias de Sodosna do Marquês de Sade. que
aliás éhomenageadocow um 'pornosamba". Brasil, Piran, Reiaaldo Bayrão, Pérola Paganelli,
Piva tem de fato todos os ingredientes doe Flaviola, Maria Amélia Mello, Renard Perez,
chamados poetas malditos do século passado, do Marcos Santana, Luiz Garcia, Madrid. Ediberto
nosso e (por que não?) do próximo. E toda a Coutinho, João Damasceno, Jorge Guinhe Filho,
bagagem das ismca malcomportados, do dada ao Rita Colaço, Dídimo Borges. José Carlos Pien.
existencial. Fernando Moreno, Lélia, Paulinho Paraná,
Falando nisso, um ciltico da grande imprensa Rubem Conféti,Aristóteles Rodrigies, e uma pá
paulista perguntou se Piva não percebeu que a de outras figuras do super e undezground, isto
moda hlppy já passou. E o que será que ele sem falar nos donos do The Club, Cláudio e Cid,
queria? Um poeta puuk ai disco? Se poesia é vida que coordenaram tudo e garantiram os
e se Piva vivenda oqueé poeta, esse criticodeveter comes-e-bebes. Na outra foto aí do lado, as três
uma inveja alucinada. (Glauco Mattoso) fadas-madrinhas de Darcy em São Paulo: Coti-
-
sueloLeandro, Vera Abelha e Dercy Gonçalves.

Umberto Eco passou quase todo o mescle


Umberto Eco nos descobre
profundas dos acontecimentos aparentemente todos os campas das atividades contemporâ- os lado, e em iodos o níveis. A cenadânda alie,-
agosto no Brasil, dando cursos em faculdades imprevisíveis que vivemos no dia-a-dia. neas. Na obra aberta, a arte possui um sistema nativa é o fenêsneno mala Importante da nossa
de arquitetura do Rio e São Paulo. Foi só no Umberto Eco usa a semiótica e a lingüística dinâmico dç significadas, que se formaliza por época. O jovem optou por uma condição re-
final de sua permanência no Pais, quando para a interpretação em profundidade das suas funções comunicativas e pelo relaciona- volucionárla e ao se engajar numa minoria se
visitou uma favela, que ele declarou ter co- fenômenos sociais. Perto dele, Abraham Moles mento ativo entre os pólos emissor/receptor. transforma num lumpean. O lumpem de hoje
nhecido enfim o Brasil. Partindo de quero par- é um pedante; Peirce e Saussure dois chatos Umberto Eco se mostrou agradavelmente pode ser um estudante, um negro, um
tiu, tais palavras são uma critica aos nossos manipuladores de fórmulas inócuas; e Ma surpreso quando soube que existia no Brasil um rário, ama mulher". Sobre o racismo: "O racis-
deslumbrados estruturalistas, que insistem em Lunhan um deslumbrado com as engenhocas jornal como o Lampião. Quando o repórter lhe mo não é um probkma biológico ou de raça,
manter um cordão sanitário em volta das salas eletrônicas. A sensualidade da linguagem de disse que o posicionamento de Lampião era pós- mas de divisão do trabalho". Sobre a cultura:
de aula, para que nelas não penetrem as Eco é o que mais o aproxima das jovens. Ele diz, marxista e pás-freudiano, o semiólogo balançou "A distribuição da cultura é um fator funda-
emanações perigosas desse Brasil que está es- pro exemplo, que o jornal diário é como um a cabeça afirmativamente diversas vezes. mental de justiça. O pobre conhece cem pa-
tourando todas as costuras. banho morno no qual imergimos de alma só. lavra., o patrão três mil; por isso ele é o pa
Embora seja um dos mitos desta époça pie- frega todas as manhãs. Quer dizer, a comu- A seguir, as trechos fundamentais, das "Os chineses-trão".Sbemnatul;
moderna e venha sendo usado como senha pela nicação é tão importante quanto o pão nosso de declarações de Umberto Eco a este jornal. Sobre muges costumavam desejar a sena idveralrios
praga dos comunicólogos, Eco continua cada cada dia. as minorias: "Não há mais um cento definido de que sivessem uma época Inteligente. Foi essa
vez mais criativo no desenvolvimento de um O conceito de obra aberta é o mais fun- poder ou de oposição dentro dom sistemas gover- sem dúvida a praga que no. rogaram. A nossa é
pensamento que, antes de tudo, procura des- damental de seu pensamento. Não é só revo- nantes. E as minorias refvindlcantes estio na uma época tremendamente biteUgenie". (Fran-
cobrir os mecanismos lógicos e as razões mais lucionário em relação à arte, como permeou mesma trilha. O Inconformismo brota de todos cisco Bittencourt)

LAMPIÃO da Esquina Página 17

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Centro de Documentação
APPAD Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
da paracla tli diversidade
CARTAS
NA MESA
minha solidariedade e disponibilidade. Acho que tra, de maneira muito verídica, como uma mulher o maluquete gago, e que foi candidato ao Oscar

Chantagem nc não deve estar sendo nada fácil enfrentar um


processo judicial, mesmo porque, as chamadas
de classe média pode resolver o problema de um
filho não planejado. A maneira como o assunto é
de melhor ator coadjuvante. E. finalmente: no
próximo número a gente publica, em grande ei-
"justiça" e "censura" vão fazer de tudo para que tratado neste episódio deixa a nu a hipocrisia com tio, uma matéria sobre Mailovicli. Ia sair neste
nós não continuemos transgredindo o que eles a qual a sociedade brasileira enfrenta o problema número, mas nosso tradutor, o Chico Bletencourt,
banheiro chamam de "moral" e "bons costumes", Gos-
taria imensamente de poder ajudar de alguma
do aborto; apesar de ilegal, ele é acessível às
mulheres que têm condições econômicas para
foi lazer um "salarr' no Piauí abateu a tiros
vários cercaras. .4.
forma, mas creio já estar fazendo isso, ao difundir submeter-se à escandalosa comercialização resul-
da Central o LAMPIÃO aqui pelas terras do querido Araria-
bóia, onde a pegação continua fortíssima, apesar
tante desta ilegalidade jurídica.
No entanto, Malu Mulher, concentrando-se
Mais Argentina
de muitos acharem o contrário. na classe média, não aborda o problema de uma Amigos: eu peço perdão pelo meu 'nau por-
Querido LAMPIÃO, que bom você existir ? E
maneira global. Como mulheres, nos preo- tuguês; espero que vocês possam ler minha carta.
como você precisa saber de um negócio sujo que Tenho um pedido a fazer. Continuem publi-
andam fazendo com a gente! Um desses horrores cupamos com este dilema, que tão freqüentemen- Eu tenho todos os seus jornais; mas eu sou argen-
cando o roteiro de entendidos deste imenso te nos atinge, independente de dasse, raça ou
diários contra os homossexuais, que no Final Brasil. Acabei de ler o n9 14 e devo confessar que tino, um amigo do Rio me manda do Brasil, pelo
prossegue sem ninguém tomar conhecimento e nacionalidade. Em particular, lembramos que a correio. Eu também morei no Brasil (seis meses),
vocês têm melhorado bastante, a cada mês. A grande maioria das mulheres brasileiras não tem
providências. reportagem com Pompilio Garcia (ele merece um no Rio, o terrível Rio, o maravilhoso, o violento
Hoje à tarde 02.7.791 fui dar umas badaladas condições que permitam o acesso a clínicas onde o Rio. Mas eu estou contente de ter vivido lã. eu
beijão) e a entrevista com Abdias Nascimento aborto é realizado com condições mínimas de
inocentes por aí. aproveitando uma Folga do ser- foram sensacionais. Acho que depoimentos com o amei.
viço, e acabei indo até a Central do Brasil. local segurança e por isto, são obrigadas ou a recorrer a Sofro muito por causa do rancor que vocês
desse jogador de futebol só vêm provar que o "fazedores de ando" ou a ter um filho que não
onde apareço de vez em quando e acho curtivel homossexualismo não é nada do que muita gente sentem por nós. Eu sei que os argentinos no Rio
uma vez ou outra, Bem, fui dar uma olhadinha tem condições (econômicas, psicológicas, ma- não são muito bons, mas nem todo somos assim,
imagina. A gente pode muito bem transar um teriais, sociais, etc.) de assumir.
rápida mão mais que dois minutos) no banheiro corpo igual ao nosso, sem que isso tenha que, for- Brasil e Argentina são diferentes, muito diferen-
Nós defendemos o direito de todas as mu- tes, e a vida no Brasil é muito livre; vocês podem
principal e, assim que comecei a mijar, fui abor- çosamente, influenciar de algum modo na nossa
dado por um rapaz de estatura média, magro, lheres terem o controle sobre sois osixa, o que im- andar na rua com toda a liberdade, têm jornal
profissão. plica que elas tenham o mais amplo acesso à con-
iporeno claro e de bigodes. que identificou-se Caso vocês precisem de alguma coisa, é só me guei, têm Cinelãndia, têm a Galeria Alaska, as
como policial. Pediu documentos (berrando, é tracepção, acompanhada do controle médico boates: aqui na Argentina não é igual, não tem
procurar. Uma beijoca grande pra vocês todos adequado e a opção do aborto, corno último
claro) e já com o auxilio de dois guardas fardados e.....fé ciii Deus e pé na tábua". nada; então, nós ficamos malucos com tanta
levou-me até a delegacia, que fica perto do ba- recurso. Estas são as condições necessárias para a repressão: e quando salmos da Argentina fazemos
José Roberto— Niterói. eliminação da hipocrisia do aborto no Brasil.
nheiro, na Central mesmo. Amigos: acabo de ler o nosso LAMPIÃO N9 muitos 110.. estragos,
Chegando lá, notei a presença de mais quatro Beth Logo, Briina Françhetto, Anna Leite,
IS, e gostaria de saber o que eu, na condição de Darcy Esquive], E. Pinto, E. Gonzalez, Eliana Eu fui com o meu caso ao Brasil para triunfar,
entendidos na mesma situação que a minha: den- pessoa física, posso Fazer pra ajudar na luta pela buscar êxito e tentar a sorte. Mas não deu. Não
tro de uma delegacia, contra a vontade e sem Reis, Dorme Plantenga, Claudomira Mello,
liberação de nosso jornal. O LAMPIÃO deste mês Ligia Rodrigues, Leila Pereira, Lula Nunca, deu e ficamos na mão. Ele partiu para a França.
saber o motivo. Logo o tal policial veio nos dizen- está ótimo. A dignidade e o orgulho com que foi Eu fiquei um pouco mais. E depois soltei para cá,
do que detestava viados Inenhum de nós tinha Maria Alice Rocha, Mira Lopez, Maria José
Feita a nota - "Nossa pobreza é nosso maior porque Fiquei com saudade. Eu tenho bons
pinta, faxiamos o gênero sério. enrustido), e Lima. Minam Abramovai, Nina Magalhães,
charme" me sensibilizou e me fez sentir orgulhoso Stelia Maria Mendonça. Martha Teles, Marhel amigos no Rio: a Carmem Verônica. o João
começou com uma série incrlvd de li umilhações e por ser leitor deste jorn ai que acompanho desde o Damasceno, e muitos outros; eles foram muito
ameaças (coisas do tipo 'o Brasil não vai pra Oliveira - Rio de Janeiro,
n0 zero. Aceitem um abraço deste que num bons para mim; fizeram com que eu amasse o
frente por causa de vocês", "vou mandar fichas futuro bem próximo (queira Deus) pretende ser Brasil, o carnaval, que, apesar da violência, é o
suas para os empregos de vocês". "daqui a pouco
chegam os repórteres pra fotografar vocês", etc.).
um militante lampiônico. Amém.
Moacir S.A.F. - São Paulo.
O caso Matlovitch mais maravilhoso do mundo.

Logo percebi o que eu estava fazendo ali: eu Olá, pessoal. tudo bem? Vocês estão de Eu sei que nós somos ruins, mas eu peço per-
R. - Rita, Zé Roberto e Moacir foram três en-
tinha sido escolhido, por ser hosnssexua1, jun- parabéns pelo seu maravilhoso jornal. Ele é real- dão para os gueis argentinos. Que vocês tenham a
tre dezenas de leitores que nos escreveram
tamente com os outros quatro, para ser assaltado mente fantástico. A gente fica lendo e relendo calma de viver o verão de 19110 conosco: e que
querendo saber o que podiam fazer para cola-
por policiais. E não deu outra coisa: logo o tal cada página e pensando: "Puxa vida, um jornal fiquemos amigos, os brasileiros e os argentinos, e
borar, de modo concreto, com o jornal nesta hora
policial disse que se tivéssemos uns trocados, tão bom como este deveria ter aparecido há mais esqueçamos 'a gente mie ruim. Beijos e carinhos,
diticil. Há várlu coisas a lazer, gente boa. A
como era a primeira vez e nós tínhamos pinta de tempo!" Mas. na verdade, nunca é tarde - e M. P. - Buenos Aires.
primeira é, naturalmente, continuar lendo o jor-
boa gente (vejam só...). ele nos dispensária. E vocês foram os pioneiros (sorte nossa!) Parabéns,
nal e se Interessando por eis; outra é participar da
claro que queríamos é sair logo daquele local: eu mais uma vez, sou seu admirador incondicional. R. - Segundo o "Washington Posa", com a
nossa campanha de assinantes; conváçam icua
dei 300 cruzeiros e os outros entre 100 e 5(X). Lampiônicos! Venho lhes pedir noticias de um queda de Idi Amima, o governo que encabeça a H&-
amigos a assinar o )ovn.1, que .a assinaturas são
essenciais para que as finanças do LAMPA
cara que cru 195 foi manchete no mundo inteiro. ta dos mais sanguinários do mundo, atualmente,
Isso acontece todos os dias, várias vezes ao
allnj.sn um mmnisno de equilibdo. Quanto aos
Refiro-me ao meu querido colega americano é o da Argentina. É a isso que a gente se referm
dia. Não há dúvidas que todos na delegacia re- Leonard Matlovich. Eu o admiro muito! (N. da quando laia do seu país- M.P.; e não do povo ar-
cebem uma parte. E é um ordenado a mais, muito que desejam participar das reuniões do jornal,
comunicamos que alas são Inteiramente abertas:
R. - Mailovlch, sargento da Força Aérea gentino, e menos aluda do povo guri argentino. A
seguro. Quem é que vai ser bobo de querer remar
ocorrem no primeiro Fim de semana após o lan-
Americana, herói da guerra do Vietriam. foi ex- gente sabe que a repressão ii 1 tio terslv.i, que
contra a maré, bem no lugar desfavorável e or-
çamento de mais um número do jornal, alternan-
pulso das loiças armadas ao anunciar que era vocês chegam a considerar o Brasil uni paralaos e
ruplo? Imagine os crimes que eles inventariam
do-se entre Rio e São Paulo basta escrever pra
homossexual e pedir que cessasse adlserlmlnaçio dai, a gente entende que vocês cheguem aqui e
pra nós. E uma vergonha. né?
aos homossexuais nos quartel,). Na verdade, fiquem maravilhados com o 'gueto" que noz foi
gente ai pelo dia 20 de cada mês, e a gente diz on-
Luis Carlos - Rio. de e quando vai ser a reunião. Além disso, a nossa quero confidenciar-lhes, sou apaixonado por ele, concedido. Mas não se Iluda: aqui, o nlvd de
R. - liso acontece todos ou dias, realmente, e gostaria de manter correspondência com este repressão não chega aos níveis do seu pais, mas
sede aqui no Rio (vide o endereço no expediente,
Luís Larlos, a não só nos banheiros da Central. rapaz, que considero um verdadeiro herói danos- há também uma preocupação em nos manter no
à pagina 2) está à disposição, ela está abata a
Mas não é verdade que a melhor coisa é aceitar a sa causa. Será que vocês poderiam me dizer para beco, escuros; se a gente lenta sair para luz, tenta
partir de 13 horas e, geralmente no final da tarde,
repressão e calar o bico. Ainda um dia dessei, há sempre um l.mplônko por lá, pra receber
onde escrever? Eu ficaria muito grato. Vocês reivindicar os nossos direito, de cidadãos, In-
num famoso banheiro de um bar à Rua São J0é, poderiam traduzir e publicar alguma entrevista dependente de nossa preferência sexual, o pau
visitas. Quem quiser pintar, não laça cerimônia.
no rio, onde dois Individuos que se apresentavam completa que ele tenha dado a alguma publicação come. Sim, M.P., vamos ser amigo,, multo
E, pra terminar, um comercial pra Rltlnha Fos.
como policiais vinham fazendo chantagem com guri norte-americana? Eu acho que isto seria amigo,, mia não vamos esqueces a gente má e
ier. Brother, uma de nossas primeiras assinantes,
homossexuais. um rapaz resolveu dizer basta e ótimo e todos os leitores iriam gostar. ruim que no, oprinss; a luta pela liberação dos
e muito querida da turma aqui da casa, por suas
limou um luzui tio grande que os dois acabaram T. R. - Rio de Janeiro. homossexuais é, atualmente, uma das coisas mais
cartas constantes: quem quiser se corresponder
sendo presos em flagrante de extorsão. £ claro R - Dentro em breve você poderá escrever bonitas que ocorrem no mundo, mas na América
com da, é só mandar as cartas, que a gente te-
que no seu caso é mais complkndot afinal, vocês grega. para Matlovicis, endereçando sua carta direta- Latina ela é também trágica; porque aqui a re-
miavam dentro da delegada e, Deite caso, só se mente para a Câmara de Vereadores de San pressão é tão requintada, encontra tantas formas
pode pensar no conselho dado por Chico Huarque
de Holaudas "Chamem o ladrão!" Mas cota gen'
Pelo aborto Francisco. T.R.; ele é candidato guel a uma
cadeira na Cansara e os guris em San Francisco,
Inovadoras de se manifestar, que provoca enganou
como este seu, de achar que isso aqui é um pa-
te, mais cedo ou mais tarde, se dá mal. Você JI A TV-Globo, no quarto episódio da série você sabe, elegem todo, os seus candidato.. Mim raíso, veja sós a vocês argentinos, a repressão sim-
ouviu Falar de câncer na próstata? Pois és dizem Malu Mulher, teve o mérito de levantar pela disso, a história de Matlovlch está sendo Filmada, plesmente, f az desaparecet quanto a nós, ela
que sua Inddmncla é .ldaslnsa entre os dianla- primeira vez nos meios de comunicação de massa quem faz o papel do próprio é Brad Dovrlf, procura um artifício legal através do qual possa
geadores... a questão do aborto no Brasil. O programa mos- aquele ator que em "O Estranho no Ninho?' luzia nos silenciar. Qual a diferença?.

Mais solidariedade
Sabendo das pressões que vocês vêm receben- Em Vitória, todas as r VICTORIA KUHN - arquiteta.
do, desejo expressar meus votos de solidariedade.
Esta Luta não diz respeito só às minorias opri-
midas, mas também a Iodos aqueles que desejam
semanas, a dica é: 1 1
SP.
Avenida Jurem., 533, apto. 44, Mona -
Fones 521-0999( recados).

ver este pais realmente democrático. Já não - [


podemos mais continuar nos escondendo, tendo
nossos mais elementares direitos humanos desres-
Posição
peitados. recebendo discriminação em toda a
parte, sendo ridicularizados, etc... Somos seres
humanos normais e como tal reivindicamos os
Um jornal de jornalistas LAMPIÃO
-
nossos direitos à vida e à liberdade! que depende do le/tot.
Sei que no momento todos vocês estão bastan-
te tumuLtuados, mas quando tiverem um tem-
Faça a sua assinatura. me agora.
pinho para responder as cartas que lhes enviei, e anual, Cr$ 500,00;
mais esta, ficarei muito grata. Solicito ainda: a) semestral, Cr$ 300, 00.
Se possível, endereços de grupos brasileiros ou
mesmo pessoas que desejam manter contato. b)
Mande vale postal ou Psicoterapia Existencial - Terapia cog-
Informações acerca das possibilidades de par- cheque nominal para nilho sex ual
ticipar de reuniões do jornal.
Envio em anexo o cheque para a renovação da
Edições do Leitor - 4ristógeles Rccdrigue', - Psleoiogo CRP.
minha assinatura. Como posso "brigar' pelo Ltda. - Caixa Postal 05.2512
Fone, 286.9561 e 226.7147
Lampa, fazendo parte do seu comitê de defesa? 1500 29000 -
Rita Foster-Brother Bel lort 1 Roso -RJ Rua Bano de Lorena 28 e 28-A - Botafogo
Caros LampiÔnicos, esta é a segunda vez que Vitória, Espírito Santo
escrevo para vocês. E dessa vez, para colocar
Página 18 LAMPIÃO da Esquina

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APPAD
i t
da parada ila cli', crctl;cd'
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
CARTAS
NA MESA
Na solitária de mulher"; lembra? Foi de quem escreveu isso,
esta numa das epístolas aos Corinto,. Paulo era De Frankfurt
Amigo: infelizmente não sei como começar a uma barra pesadíssima, tinha um pavor do sexO
Alô, alô. LAMPIÃO, tudo bem no pedaço?
escrever corretamente uma carta: então, começo
diretamente no assunto; o que quero lhes pedir é
que não eia normal. Sobre a Revista da Mocidade
Batista, lela a nossa dica as seção Esquina. Estou pra te escrever faz uni pedaço, e resolvi que Gayfieira-Palace
de hoje não passa. A finalidade desta é noticiar
um grande favor para uma carinha que está quase
que, entre outras coisas que acontecem por aqui,
que perdendo toda à esperança de siser. Estou con-
tando com a sua colaboração, você que estará Uma nova amiga houve em 28/29 de julho em Frankfurt uma gran-
de festa guei reunindo milhares de pessoas de
lendo estas palavras, que, por incrível que pareça
Quero que vocês saibam que têm mais uma todo o mundo. Queria ir, mas não deu. Pro-
estão saindo lá do fundo do peito de quem se
an]1a, e que lhes dá a maior força para o sucesso gramei ir com meu caso, mas, no mesmo dia, pela
agarra ao último sinal de forças que encontra-se
total deste querido LAMPIÃO. Já escrevi muitas manhã, tiveqios um tretretrá, e nosso consórcio
ainda dentro da minha pessoa.
cartas a vocês, mas estava ainda insegura em foi rompido. E, em cima da hora, não deu pra
Então, vamos Lá aos fatos: minha história ou
relação a mim mesma. Agora já me sinto legal, e arrumar companhia. Vivo nesta cidade há pouco
meu drama começa a se complicar quando uma
o melhor meio de provar isso é escrever a vocês, tempo, e meu circulo de amigos ainda é pequeno.
mudança rue tirou do lugar onde eu tinha tudo o
Tenho 19 anos e gostaria de ampliar meu circulo Por isso, não posso noticiar como foi toda a
que precissva para ser feliz. Essa mudança me
de amizades. Por isso eu ficaria muito feliz se al- maravilha frankfurtense desce dia.
tirou tudo o que eu tinha de alegria, meus par-
gumas lampiêssicas se decidissem ame escrever. Falar e elogiar Lampa é bobagem. qé? Vocês
ceiros de infãncia, fomos separados bruscamente,
e agora eu não consigo outros parceiros.
Enfrento muitos problemas ultimamente, e
cis
já sabem todo o plaplaplá de cor. Pena que eu não Onde a "estre/a"é você
Pre o de uma palavra de apoio, ou algo mais..., li todos. Recebi o n°4, emprestei, e nunca mais vi
Aqui no interior é muito difícil ser diferente,
de quem quiser me dar. Apesar de ter estas de volta. Depois recebi o7, o 10eo13, que ainda
as pessoas com quem a gente convive siveni
cobrando atitudes de você. Eu não posso assumir
muitas barreiras pelo caminho, posso admitir que estou lendo. Que sacanagem é esta com vocês? O Cine Sio José, &aça
sou forte e não me deixo envolver pelas críticas amigo que me enviou o Lampa mandou junto o
que eu não gosto de mulheres (que eu nunca gos-
das pessoas que teimam em me taxar de "anor- Pasquim (isola). n 0 dos dez anos de idade e mau Tiradentes, Rio. Sextas
tei), que eu prefiro os corpos masculinos, Não
podendo assumir, vou vivendo, deixando o tempo
mal", só porque eu tive a capacidade de escolher gosto, e ele nunca foi proibido: por que vocês? e sábados, à partir de 2
o caminho que é o melhor pra mim. Talvez por is- Me escrevam dizendo se dá pra transar o novo
passar, para ver no que tudo vai acabar: eu
so eu tenha dado uma força enorme a amigas que, livro do Aguinaldo Silva, porque de vez em quan-
horas.
adoraria poder curtir essas boates de São Paulo,
por medo, não se decidem. Quero, sim, ampliar dome dá uma fome de ler algo brasileiro e a cuca .4 '4.44444444 44444
mas não posso. ************ *****
Por isso, gostaria que vocês publicassem um meus conhecimentos, e para isso nada melhor que fica cheíssima quando se lê em alemão: êta lin-
LAMPIÃO. Se vocês acham que eu tenho coo- - guinha do cacete! Um beijo pra patota toda do
convite para que os carinhas me escrevessem,
dições de ser sua amiga, me escrevam, pois terão Lampa.
para fins de amizade profunda. Se puderem
publicar este convite, puxa, eu vou ficar feliz em mim uma amizade sincera. Não importa em V. V. - Frankfurt, Alemanha Ocidental.
que lugar do Brasil vocês morem, o importante é R. - (ilha aí, Vevê na próxima mçiallestaçio
peca. Eu não li todos os jornais LAMPL&O, mas E
juntarmos nossas forças e lutarmos sob a mesma guel, vá correndo e mande material pra gente que
Os que eu li, gostei muito.
bandeira, não é? a gente publica. Esperamos que o seu dronlo de
Talvez eu não tenha conseguido me expressar
corretamente, mas se eu receber pelo menos uma amizades ai em Frankfurt se tome cada vez mais
Marv Help - São Paulo, valo. Não, nós não fomos proibidos; por en-
carta, pjxa, vai ser incrível. Acho que vou con-
seguir forças para lutar contra esse preconceito quanto, só estimo, sendo perseguido,, mia sem
R. - Mary, dear, você não Imagina o quanto que se tenha chegado, ainda, ao chamado "pega
das pessoas contra nós. Para mim, é muito im- a gente precisa de amigos; multou, cada ver mais,
portante neste momento alguém com quem con- pra capar"! O Pasquim? Virou jornal de bicha,
uma corrente enorme que se espalhe por este meu filho,. • O último número linha uma bo-
viver intimamente. e se eu não conseguir arrumar Brasli a loira. E • todos sou a mesma bandeira,
alguém de mim, então, alguém de longe mesmo é
quem vai me ajudar.
claro. Voos é bem-vinda. Vamos passar sua mta
necona enruslida, de bunda pra cima, na capa (li
dentro, ela se queixa que é heterossexual: quê.. SALVEMOS A
Gostaria de receber o jornal em que sair o
anúncio pelo correio. Como os livros que já pedi
pesa nieninas do grupo Somos, ai em São Paulo,
sê legal? E um beijo procê,
quê, quê!). O livro do Gulgul está sendo pro.
videndado. Aguarde. AMAZON IA
uma vez, gostaria que me mandassem num en-
velope lacrado. Obs.: os carinhas devem escrever
pra vocês, e vocês encaminham a mim. Muito
obrigado mesmo.
E. D. - Sumaré, SP.
R. - A gente linha criado uma seção de das.
sillcadoi no jornal; es anúncios eram pagos
(Cr$ 3,00 u palavra); mas o pessoal quer mesmo é
propor troca de correspondisiclans seção de car-
tas, e a gente não pode fugir dluoç achamos que
LAMPIÃO vai ter que criar mie ,ersiçs de &1ads
pública. No caso de E. D., quem quiser escrever
para ele mande a carta dentro de um envelope
devidamente selado, que a gente bate o endereço
dele e encaminha (este envelope selado, natural-
mente, deve Ir dentro de um outro envelope, en-
dereçado ao LAMPIÃO - mil que coisa dIlidL
meu Deusl).

Uma nova igreja


Prezados senhores editores do LAMPIÃO: aí
vai a Revista da Mocidade Batista, com matéria
sobre o homossexualismo que talvez interesse aos
prezados amigos. Quando a denominação evan-
gélica Batista (uma das mais conservadoras entre
os protestantes) se propõe a discutir este assunto
tão fechado entre eles, já é o indício de que al-
guma coisa está acontecendo, que a torrente rolou
da montanha e que ninguém mais a deterá.
Avante, irmãos! Prossigam na luta pelos
direitos dos gueis, como cidadãos, como seres
humanos, corno pessoas que têm o lIvre arbítrio,
dado por Deus, de usarem seu corpo como bem
entenderem. Cristo nunca abriu a sua boca para
maldizer ninguém, e muito menos os homos-
sexuais, que já naquela época os havia, e muitos,
Leia-se os Evangelhos e lá não se encontrará nada
contra eles. Apenas o apóstolo Paulo, em suas
cartas, no Novo Testamento, os condena, or-
denando que mudem de vida e entrem na Igreja
Cristã Primitiva.
Hoje há muitos gueis nas igrejas evangélicas
brasileiras, porém vivem perseguidos. espezi-
nhados, esão excluidos da Santa Ceia quando são
descobertos por outros irmãos. Eles têm o direito
de adorara Deus de acordo com suas consciências
e para isso deverão fundar uma Igreja Livre aqui
no Rio, em que o pastor seja guri, todos os mem-
bros da congregação sejam gueis. conde as uniões
poderão ser abençoadas por Deus, Isso ainda é
uma utopia, porém estamos orando para que
num futuro breve este sonho seja uma realidade.
P.G.A. - Rio de Janeiro.
R. - O apóstolo Paulo não só condenava os
guela, como tamb abominava as jaianibem
F.G.A$ "Seria bom que o homem aio predsaiae
PIÃO da Esquina Página 19

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( I paraliaense
da parada da divçridadr'
Prof. Dr. Luiz Mott
rí,
GRUPODIGNIDADE
ESOUINA 1
ia 30 de junho de 1979, ano da era
Gay Pnde. Um festival guel foi
realizado no famoso Hide Park
D em Londres, Pura Festa: folia
balões de gás coloridos, abraços e beijos,
COM MUITA ALEGRIA E ORGULHO
holons vermelhos e gravatas por todos os
lados do imenso parque. Todos se estes-
,liam. inclusive alguns guardinhas e turistas
presentes, que em breve aderiram à roda.
Destacavam-se as mães lésbicas, as únicas
que tentavam evitar ca fotógrafos; mas eu
iNe a sorte de conhecer Kell y , que não se
importou em posar para LAMPIÃO com o
caso. Sarah, e a filha Sheila, de onze anca.
O festival era eis comemoração ao
décimo aniversário de Stonrwall, um bar
guei onde nasceu o movimento de homos-
sexuais nos Estados Unidos. Stone-wall Iii
invadido pela policia, na noite de 27 de
junho de 1%9, e os policiais queriam
quebrar tudo, mas a gueizada resolveu resis-
tir. Levantaram barricadas na Christopher
Sireci mia onde fica o bar), deixando passar
somente gueis (entre os quais destacava-se
um que, mais tarde, viraria ator famoso:
lack Nicholson).
Daí, com o Chnstopher Street blo-
queada, foi um pega-pra-capar incrível; o
confronto entre os gueis e a policia durou
mais de uma hora, até que a última, vendo
que bicha, quando quer bater, bate esesemi,
deu no pé, deixando Stonewall em fran-
galhos. Mas a gueizada estava ali pra isso
mesmo: consertaram tudinho, e no dia

E__ (Pt
seguinte lá estava Stonewall outra vez, como
sempre fora, pra quem quisesse ver.

Fim doflash-back, dewltaa Londres.


30 de junho de'1979: o sol era de 19 graus, e
a moçada nem fez questão de mais calor:
todo o inundo bem a vontade, bem soltos e
soltas. A folia começou a uma hora da tarde

"
dn Temple, de onde saiu a passeata de seis
mil pessoas. 'devidamente protegida pela
policia (policia em Londres serve para isso:
para proteger os contribuintes). terminando
em Hide Park.
Ainda não se sabe onde será
Stonewall 89, mas eu fico com aquela alen-
À
tad(wa esperança de que seja no Brasil: o
que vai pintar de maracatu e huianas... lAd-
dy, assai enviada especial).

Lembrando Marcuse
Querem enterrá-lo. Agora que morreu e é san. aio teriam a mesma força de passional con- Um amor, melhor, aos homens e mulheres e es- zuslidade como um meio para um fim alui, as
noticia, em toda parte os conservadores se mo- tágio, e o importante é que a tem e em matérias pecialmente aos jovens, menos rendidas ao perversões defendem a sexualidade como um fim
bilizam para isso, mas na verdade o tentaram dsivas. Tanto que boa parte dos que buscam inumano e mais capazes de revolta, um amor aos em si mesmo; colocam-se, pois, fora do domínio
sempre, desde a divulgaçáo de sua obra nos anot' pensar por si, como costuma ocorrer com os indivíduos concretos que unos, e, coibidos de do principio de desempenho e desafiam seus
60. Que pensador é este? Os pensadoras; não ora jovens que ainda aio criaram raizes no mundo mil maneiras, a definhar sob o dito progreso, ai- próprios alicerces".
tomam ser assim tio contundentes. Disxrrem aprendendo a aceitá-lo à custa de si mesmos como cassado na imperativa, ainda que às vezes, sutil-
os mais velhos, foi marcada por de, mesmo quan-
Reconheço que é de dar medo aos que, em
obre coisa, tio abstraídas que quase deixam de mente, sociedade industrial. geral ~arduamente, defendem a sua pretendida
ser deste mundo tanto que permitem comprem- do aio o leu. Não me refiro apenas a 68, que
todos lembraram, com os moços europeus as Ele está tão do lado dos homens que é o normalidade e não estranha que busquem inu-
abes contraditórias e aio de los, mas da gente
primeiro pensador sério a justificar as chamadas mar, apesar de tão vivo e por isso mesmo, alguém
preparada. Há um Plantio ou um Descartes resulta a empunhar a bandeira dos trAs M. Marx,
perversfues como refúgios da liberdade cerceada, tão subversivo. Mas o fato é que Marcuse está
diferentes para cada um de seus agudos comen- Maõ e Márcuse. Há algo mas geral e permanen-
falando por todos, sem exceção. Pois só quando
tadores, e, emboriç os outros grandes admitam te. Quando se (ala com tanta insisténcia em ,. Oiiginahnente - afirma em "Ei-os e Civili-
se torna supérfluo autodefaider-se. pela admis-
manca versões tio opostas, sio raros os que ter- autoritarismo patriarcalista, em repressão visível zaçio" - o instinto do sexo não teu limitações
são da libido polimórfica. ou seja, da realidade
çam batalha direta e clara com o concreto. ou dissimulada, no direito básico ao sexo e ao exirfidoas, temporais e espaciais, ao seu sujeito e
humana, sacundindo os grilhões da ideologia
amor, é porque Marcuse e seu precursor Wilhelm obto a sexualidade é, par natureza, "polimor-
E, de repente, Marcuse, pensando a partir do sexual intolerante e subjulgadora, é que cami-
Reich pensaram a fundo na órbita desses pro- ficamcnte perversa", A organização social do ins-
now dia-a-dia real, dos anúncios e mercadorias tinto sexual interdita como perversões prati- nharemos para um sexo livre e pleno. E quem diz
blemas. Quando se recusa a televjsào e o con-
que nas cercam por todos os lados, da te* de sexo, diz homem.
sumismo robotizadores, lhes atribuindo um camente todas as manifestações que não servem
governos e guerras atuais, de lazeres e coitos es- Trata-se duma revolução. já se vA, que para
profundo malefício, ainda que mal sabendo cx- ou preparam a função criadora. - A Freud deu
vaziados. Marcuse, o critico mais radical que as Marcuse, çomo para seu predecessor Reich, ,am-
piscá-lo, é o Marcuse funcionando. Quando se que pensar por que o tabu sobre as perversões é
isca na esteira de Freud, e para tantos de nós. se- -
Estados Unidos, como ponta-de-lança da avi- encara o sexo, como hoje quase todos as infor- sustentado com unia tão extraordinária rigidez -
lizaçio tecnológica-industrial, já encontrou, com rá sexual ou não será. Distancilmo-nos ou, como
mados, como um território mal explorado, mas "como se exercessem uma influencia sedutora;
um ódio como não se vira tio sistemático e genial parece, avançamos para ela? A tarda que Mar-
que reserva céus mais seguros que quaisquer como se, no fundo, uma secreta inveja dos que as
cose assumiu como ninguém foi a de mostrar os
na delaçio do anti-humanismo de cada aspecto ou t ros, é dc ainda. Já se vA que s esta altura Mar- desfrutam tivesse de ser extirpada". As perver-
do moderno sistema de mundo, que não exclui obstáculos, tio diversificados quanto poderosos,
cuse é intolerável, está vivendo na, pessoas mais sões parecem fazer uma prssati de bouksur
nem o neoccionizado Terceiro Mundo nessa Rús- vivas. que obstruam eis nossa época a assunção deste
maior que a sexualidade "normal." Qual tu
sia e os palses ,ociajiata.s, Marcuse, a metra- sei- antes de tudo sexual que é o homens pelo
Dizem que ele destrói e não aponta o modo de origem dessa promessa? Freud salientou o caráter
lhadora mental a derrubar um a um os falsos bossas.
reconstruir certo. E podia? Pois não se trata dum "exclusivo" dos desvias da normalidade, sua
hábitos e valores que encontramos para viver e Ele pinta um inferno, sim, para o que se
utópico se divertindo a erguer mundos da própria rejeição do ato sexual de procriação. Assim, as
pelos quais vivemos. requer aliás a eloqilencia de um profeta, o que ex-
imaginação e sim de alguém cheio de presente perversões expressam a rebdião contra a sub-
plica seu criticado estilo, antes proliferante que
E tudo isso aio em nome de nenhum dogma, até, permitam, o võsnito. Ele quer tanto viver e jugaçio da sexualidade à ordem de procriação e
depurado. Mas não se esperaria outro de quem
partido ou tributo lógico, mas simplesmente da fazer viver que não lhe sobra tempo para sonhar. contra as instituições que garantem essa ordem.
sabe que "toda libertação depende da consciência
felicidade de cada um, sub-eepdda e macsimentt Seu papel é tomar consciAncia de toda a trama ar-
- Parecem rejeitar a escravização total do ego do da servidão" e está persuadido de que "a mais
esbulhada. Ele seio daiiczistrar Que a maior palts mada contra a vida. E é o papel decisivo pois prazer pelo ego da realidade. Proclamando a dicaz subjugação e destruição do homem pelo
do nosso desconforto se deve ao passarmos a vida fixar com clareza os dados de um problema é o liberdade instintiva num mundo de repressão, homem tem lugar no apogeu da civilização,
a servir a ocos estatutos e mitos sociais em v de fflais difícil co maior passo para a sua solução. caracuzãm-se frequentemente por uma forte quando as realizações materiais e intelectuais da
desfrutá-la. Contra a tradição cultural diyilni- Marcuse revela um sem-número de problemas rejeição do sentimento de culpa que acompanha a humanidade parecem permitir a criação de um
zadora do logos, do trabalho, da produção, teve o negativos e interligados da atual civilização, ob repressão sexual. - A fantasia não só mundo verdadeiramente livre". Que não é assim,
coração de lematicamente afirmar que "ser é, es ervados pela rama ou nem sauer vistas pela penha um papel constitutivo nas manifestações ele próprio demónstrou à abundãnd&, e dom
sendalmente, lutar pelo prazer". maioria dos alticos, em boa parte por não terem perversas da sexualidade; como imaginação artl,- tanta paixão porque podia ser assim, se abs*-
Entendo-se que queiram enterrá-lo. Não serve um ódio como o seu, em cuja crepitação se somem tica, também vincula as perversões às imagens de semos os olhos e çs coração decidindo mudar. E
a nenhum interesse de classe ou pais. Mas na ver- is possíveis mudanças positivas menores. Mas Is- liberdade e gratificação integrais.' Numa ordem não há que perder a esperança numa espécie que
dade A inevitável, pois há multo que está mais do so importa manos diante da evidente santidade repressiva, que impõe a equação entre o normal, gera indivíduos como ele.
que em seus unos. Podem esses ser criticadas; lesse ódio, que não passa da otmtrapsrte dum o sosisimente útil e o bom, as manifestações de
apaixonadamente abertos ou parciais, deixam unor aõ homem, tio decidido uc séjn canteis- prazer pelo prazer devem pareoar-se às ffi~ da Nulo Hecker Filho
muitas questões de fora; mas, Be ai oiaitemplas- pl.ções com tudo o que o diminui e estrangula. al, Contra uma sociedade que emprega a se-

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Centro de Documentação
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
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