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CURSO: LICENCIATURA EM ENGENHARIA HIDRÁULICA

4º NÍVEL; VIIº SEMESTRE; TURMA ÚNICA

CADEIRA: ENGENHARIA E AMBIENTE

O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

DISCENTE: DOCENTE:

CHAMBELA, Joaquim Naldino Silvino Engª. Isabel Zunguze

Vila do Songo, Abril de 2020


CURSO: LICENCIATURA EM ENGENHARIA HIDRÁULICA

4º NÍVEL; VIIº SEMESTRE; TURMA ÚNICA

CADEIRA: ENGENHARIA E AMBIENTE

O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

DISCENTE: DOCENTE:

CHAMBELA, Joaquim Naldino Silvino Engª. Isabel Zunguze

Trabalho de pesquisa submetido ao Instituto

Superior Politécnico de Songo como

requisito de avaliação da disciplina de

Engenharia e Ambiente.

Vila do Songo, Abril de 2020


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, que ilumina meus dias na busca de conhecimento e superação.

Aos meus Pais por me terem posto ao mundo.

A exímia docente pela sapiência mostrada em aulas.

Às minhas irmãs, Gertrudes Melú e Felicidade pelo sempre apoio incondicional, confiança e
incentivo.

Agradeço à minha família, por acreditarem em mim e pelo entendimento nos momentos
ausentes.

Meu muito obrigado á todos vocês!


“Olhar para a cidade pode dar um prazer especial, por mais comum que
possa ser o panorama. Como obra arquitetónica, a cidade é uma
construção no espaço, mas uma construção em grande escala; uma coisa
só percebida no decorrer de longos períodos de tempo. O design de uma
cidade é, portanto, uma arte temporal, mas raramente pode usar as
sequências controladas e limitadas das outras artes temporais... Em
ocasiões diferentes e para pessoas diferentes, as consequências são
invertidas, interrompidas, abandonadas e atravessadas. A cidade é vista
sob todas as luzes e condições atmosféricas possíveis.”

Kevin Lynch. A Imagem da cidade


RESUMO

Este trabalho possui como temática principal analisar os problemas da urbanização desordenada
e procurar entender como a sustentabilidade pode vir a ser a solução para as principais questões
da actualidade. Para tanto, partiu-se de um estudo histórico e sociológico, enfatizando as
transformações ocorridas no planeta nos últimos três seculos, em decorrência do
desenvolvimento industrial e do rápido crescimento das cidades. Através dessa pesquisa
demonstrou-se o surgimento da questão ambiental e como ela vem nas últimas décadas,
ganhando importância nas discussões internacionais. Também é abordado o surgimento das
expressões de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, seus significados e aplicabilidade.
Alem de abordar a evolução da visão Moçambicana sobre o meio ambiente, são observados dois
instrumentos a disposição dos gestores públicos para o planeamento urbano sustentável: o plano
Director e o Estatuto das cidades. Nessa perspectiva é apresentado o novo desafio imposto as
cidades, o de crescerem de forma sustentável, utilizando-se dos recursos naturais disponíveis,
sem colocar em risco o uso pelas futuras gerações. A origem do seu planeamento urbano, suas
etapas, o surgimento da preocupação ambiental e a consolidação da imagem de “cidades
sustentáveis e ecológicas” são alguns pontos dessa pesquisa. Finalmente, são elencadas e
discutidas as principais iniciativas em sustentabilidade ambiental desenvolvidos no âmbito da
cidade capital, visando demonstrar como a experiencia da “cidade capital sustentável” pode
servir de inspiração para projetos similares em qualquer outra cidade em Moçambique ou no
mundo.

Palavras-chave: Urbanização, Meio Ambiente, Sustentabilidade, Cidades Sustentáveis, Gestão


Pública.
ABSTRACT

This work has as main theme to analyze the problems of disordered urbanization and try to
understand how sustainability can become the solution to the main issues of today. To this end, a
historical and sociological study was started, emphasizing the transformations that occurred on
the planet in the last three centuries, due to industrial development and the rapid growth of cities.
Through this research, the emergence of the environmental issue and how it has come in recent
decades has been demonstrated, gaining importance in international discussions. It is also
addressed the emergence of expressions of sustainability and sustainable development, their
meanings and applicability. In order to address the evolution of the Mozambican vision on the
environment, two instruments are observed at the disposal of public managers for sustainable
urban planning: the Master plan and the Statute of cities. In this perspective, the new challenge
imposed on cities is presented, that of growing sustainably, using the available natural resources,
without endangering the use by future generations. The origin of its urban planning, its stages,
the emergence of environmental concern and the consolidation of the image of "sustainable and
ecological cities" are some points of this research. Finally, the main initiatives in environmental
sustainability developed within the capital city are listed and discussed, in order to demonstrate
how the experience of the "sustainable capital city" can serve as inspiration for similar projects in
any other city in Mozambique or in the world.

Keywords: Urbanization, Environment, Sustainability, Sustainable Cities, Public Management.


ÍNDICE

1.INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
2.REVISÃO LITERÁRIA ........................................................................................................ 3
2.1. URBANISMO SUSTENTÁVEL ..................................................................................... 3
2.2. O ESPAÇO URBANO E AS POLITICAS DE PLANEAMENTO URBANO .................. 5
2.3. BREVES CONCEITUALIZAÇÕES ................................................................................ 7
2.3.1. Planeamento................................................................................................................... 7
2.3.2. Planeamento urbano e territorial.................................................................................... 7
2.3.3. Desenho urbano ............................................................................................................. 7
2.3.4. Cidades sustentáveis ...................................................................................................... 8
2.4. CONTEXTO URBANO..................................................................................................... 8
2.4.1. Fatores de sustentação urbana ....................................................................................... 8
2.4.2. Processo de planejamento urbano sustentável ............................................................... 8
2.5. CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO URBANA EM MOÇAMBIQUE VERSUS
URBANIZAÇÃO ....................................................................................................................... 9
2.6. O MODELO DE SUSTENTABILIDADE: CIDADE DISPERSA VERSUS CIDADE
COMPACTA (SILVA E ROMERO, 2010).............................................................................. 10
2.7. TRAÇADO E PARCELAMENTO .................................................................................... 15
2.8. PRINCÍPIOS SUSTENTÁVEIS ASSOCIADOS À MORFOLOGIA URBANA ............ 17
2.9. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ............................................................... 19
2.9.1. Monitoramento das cidades sustentáveis .................................................................... 19
3. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 21
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 22
O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

1.INTRODUÇÃO

O ambiente natural tem sido modelado ao longo da evolução do homem e sua consequente
antropização do espaço. A harmonia do homem com a natureza foi rompida devido ao
crescimento desordenado e sem planejamento, posteriormente agravada do mercado imobiliário
e as consequências da densificação e expansão urbana, e isto gerou a desqualificação de certos
espaços urbanos, bem como o comprometimento do meio natural. O modelo social capitalista é
um dos fatores que tem perpetuado esta situação, pois este passou a usar a natureza de maneira
predatória, comprometendo os recursos naturais e gerando estruturas e resíduos que podem vir a
colocar em risco à sobrevivência equilibrada do ser humano, e sua existência.

Quando se pensa em alteração da matéria natural em espaço edificado e, consequentemente,


constituindo-se cidades, há uma dissociação espontânea entre o natural e o artificial face às
necessidades humanas de habitat e abrigo para os eventos de sua vida e sociedade.

Considera-se que o espaço construído compreende os planos e políticas propostas para a


melhoria da vida humana. Vincular o planejamento urbano e regional ao projeto de arquitetura e
urbanismo não só como elemento regulador, mas também como elemento produtivo da
morfologia das cidades, é fundamental na constituição de espaços coerentes às necessidades
humanas e ambientais da atualidade e do futuro.

A nova visão consiste que os avanços tecnológicos, a difusão do conhecimento e da


conscientização ambiental, bem como as recentes projeções demográficas, caminhando para a
estabilidade apontam para uma perspectiva mais positiva e coerente no sentido de
sustentabilidade da espécie humana para o futuro, fazendo coexistir o conceito de progresso
humano sustentável.

Assim sendo, este trabalho versa sobre algumas questões atinentes à arquitetura e ao urbanismo
dentro da ótica da sustentabilidade, buscando interpretar as diversas escalas urbanas e seus
sistemas, as teorias dessas novas práticas de planejamento e o entendimento aplicado nos
conceitos de morfologia existentes. Nesse sentido ainda, a presente pesquisa tem por base a
sustentabilidade urbana e suas ferramentas potenciais aplicadas para a cidade, como alternativa e
nova condição para a urbanização atendendo em simultâneo as questões ambientais.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

1.1 OBJECTIVOS
1.1.1. GERAIS
Compreender o meio ambiente e o planeamento urbano
1.1.2. ESPECÍFICOS
 Falar do urbanismo sustentável;
 Caracterizar o espaço urbano e as políticas de planeamento;
 Dar breves conceitualizações;
 Enquadrar o meio ambiente e o planeamento urbano no contexto urbano;
 Tecer considerações inerentes ao crescimento da população urbana em
Moçambique versus urbanização;
 Falar do modelo de sustentabilidade: cidade dispersa versus cidade compacta
(Silva e Romero, 2010);
 Explicar as técnicas de traçado;
 Debruçar em torno dos princípios sustentáveis associados à morfologia urbana;
 Dar a conhecer os indicadores de sustentabilidade; e
 Descrever o monitoramento das cidades sustentáveis.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

2.REVISÃO LITERÁRIA
2.1. URBANISMO SUSTENTÁVEL
2.1.1. Conceito e definições
O conceito de sustentabilidade foi criado por Lester Brown no início da década de 80 no
Worldwach Institute1. Foi definido que “uma sociedade sustentável é aquela capaz de satisfazer
suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras”. Alguns
anos depois foi utilizado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, através
do Relatório Brundtland de 1986, a mesma definição para apresentar a noção de
desenvolvimento sustentável.

Em 1996, foi criada a Carta do Novo Urbanismo, documento de referência do Congresso do


Novo Urbanismo, formado por profissionais cujo objetivo foi o de formalizar um enfoque para o
urbanismo explorando as possibilidades reais do desenvolvimento das cidades norte-americanas
(MACEDO, 2007).

O movimento surge basicamente como resposta ao incontido crescimento dos subúrbios nos
Estados Unidos, espécie de grandes urbanizações que, sem ser cidade ou campo, tampouco
conseguem definir um caráter próprio entre esses extremos que lhes dê um sentido de lugar. Os
subúrbios norte-americanos, fato que ocorre também nas cidades satélites que crescem nas
imediações das grandes cidades venezuelanas, carecem de uma adequada mescla de funções que
permita a um grupo significativo de seus habitantes trabalhar e desenvolver outras atividades
sociais em sua própria vizinhança. As pessoas dependem excessivamente de seus automóveis
privados, porque o transporte público, quando existe, é insuficiente ou não está adequadamente
ligado à rede urbana para acessar facilmente.

Os projetistas do Novo Urbanismo, cujo estilo lhes conferiu também o título de


Neotradicionalismo, ou Urbanismo Sustentável, estão a favor de comunidades menores e densas
que os subúrbios tradicionais, com limites definidos e onde exista uma adequada mescla de
funções que incorporem espaços de recreação, comerciais, institucionais e de serviço, em estreita
vinculação com residências de vários tipos. Estas habitações seriam acessíveis a diversos grupos
socioeconômicos, e seriam apropriadas de maneira em que propiciem a diversidade também em
termos de idade, sexo, raça, etc. As viagens para fora da vizinhança são minimizadas, reduzindo

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

a dependência do carro e a contaminação e o consumo de energia que esta gera. As distâncias de


um lugar a outro poderiam ser percorridas a pé, e se podia chegar caminhando até às estações de
transporte público (ônibus, trens, metrôs e outros, segundo o caso), que conectem com outras
comunidades similares. Todas estas características propiciariam o caráter único do lugar e a
sensação de pertencimento à comunidade do grupo de habitantes que ali convivem.
(IRAZÁBAL, 2001).

Em definição, a Carta estabeleceu princípios associados à formação do espaço regional, da


cidade, e do bairro, com a intenção de: organizar sistemas regionais articulando áreas
urbanizadas centrais com as cidades menores em setores bem delimitados do território, evitando
a ocupação dispersa; valorizar a acessibilidade por transporte coletivo; favorecer a superposição
de uso do solo como forma de reduzir percursos e criar comunidades compactas; estimular o
processo de participação comunitária, e retomar os tipos do urbanismo tradicional relativos ao
arranjo das quadras e da arquitetura. Com atenção para a articulação do sistema de transportes e
para conceitos de compacidade do espaço urbano e do projeto de paisagem como um todo, o
Novo Urbanismo, depende de um planeamento urbano e regional, da qualidade dos projetos
locais e do desenvolvimento das comunidades. O Novo Urbanismo ou Urbanismo Sustentável,
como também é chamado, passou a ser compreendido como algo que expressa à vontade das
pessoas por um ambiente melhor.

Segundo RUANO (2000), o Urbanismo Sustentável é uma nova disciplina que articulam
múltiplas e complexas variáveis e incorpora uma aproximação sistêmica ao desenho urbano com
uma visão integrada e unificada, trazendo como consequência, a superação da divisão clássica do
urbanismo tradicional e seus critérios formais e estilísticos. A partir desse novo paradigma deve-
se estabelecer uma relação dialética entre o planeamento urbano e o desenho urbano.

Para SACHS (1993), as estratégias de “ecodesenvolvimento” para os países em vias de


desenvolvimento podem ser triplamente vencedoras, pois, além de promover o progresso social
por meio de geração de empregos e contribuir para melhorar o meio ambiente, são
economicamente justificáveis na medida em que as atividades que geram uma economia de
recursos se autofinanciam.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

Na sua visão, as cidades poupadoras de recursos ou assentamentos urbanos sustentáveis devem


ser vistos como ecossistemas, pois existem recursos que são subutilizados ou mal utilizados, tais
como: terras cultiváveis, lixo reciclável, potencial para conservação de energia e água, potencial
para poupança de recursos de capital, mediante a melhor manutenção de equipamentos, infra-
estruturas e imóveis.

Defendendo um outro conceito dessa linha, GIRARDET (2003) afirma que cidades ecológicas
são aquelas que apresentam um metabolismo circular, onde tudo é planejado e reaproveitado
como um ciclo, onde existe a consciência ambiental dos gestores e dos cidadãos.

De acordo com CAPRA (2002), a chave para se implantar comunidades humanas sustentáveis
é observar os ecossistemas naturais, ou melhor, compreender como eles se organizam a fim de
maximizar sua duração e empregar este conhecimento na construção de assentamentos humanos
duradouros. O diagnóstico para intervenções futuras deve-se basear em princípios ecológicos de
organização, comum a todos ecossistemas os quais desenvolveram para sustentar a teia da vida -
a compreensão sistêmica da vida.

Uma vez estabelecidos certos princípios, eles não se modificam em função de culturas, hábitos,
estilos ou modismos. No entanto, a forma na qual devemos aplicá-los, depende de cada bio
região com seus aspectos físicos (geologia real, topografia e ecologia), culturais e
socioeconômicos. E, assim como o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental,
tradicionalmente é traduzido em normas, neste tema específico podem ser traduzidos em
princípios de sustentabilidade aplicados ao desenho urbano.

2.2. O ESPAÇO URBANO E AS POLITICAS DE PLANEAMENTO URBANO


O espaço urbano é um produto social onde atuam diversos actores que produzem e modelam o
espaço. A sua transformação dinâmica requer um planeamento que vise proporcionar o
crescimento sustentável das cidades, o equilíbrio ambiental e as condições de vida favoráveis as
populações.
O planeamento urbano é uma atividade onde os homens tentam prever a evolução de um
fenômeno ou de um processo, e a partir deste conhecimento, procura-se precaver problemas e
dificuldades, e ainda, aproveitar melhor os possíveis benefícios.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

Neste sentido, o planeamento visa orientar a tomada de decisões numa administração pública
garantindo o desenvolvimento econômico e social do município, sua sustentabilidade ambiental e
o favorecimento da inclusão social da população.
Do ponto de vista legal, o estatuto das cidades estabelece directrizes para o planeamento e
desenvolvimento urbano, sendo considerado um marco referencial da trajectória da reforma
urbana que entre os principais instrumentos estão os planos diretores.

O espaço urbano capitalista, fragmentado, desarticulado, reflexo do condicionante social, cheio


de símbolos e campos de luta- “é um produto social, resultado de acções acumuladas através
dos tempos, e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço”. (CORRÊA, 2000)

Segundo SANTOS (1988) o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de
que participa, de um lado, certo arranjo de objectos geográficos, objectos naturais e objectos
sociais, e de outro, a vida que os preenche e os anima, a sociedade em movimento. O conteúdo
da sociedade não é (os objectos geográficos), e cada forma encerra uma fracção do conteúdo. O
espaço por conseguinte, é isto: um conjunto de formas contendo cada qual fracções da sociedade
em movimento. As formas tem um papel na realização social.

De acordo com CARLOS (2007) o processo de produção de analise especial da cidade revela a
indissociabilidade entre espaço e sociedade, na medida em que as relações sociais se
materializam em um território real e concreto, assim ao produzir sua vida, a sociedade
produz/reproduz o espaço através da pratica sócio-espacial.

O fenómeno humano é dinâmico e uma das formas de revelação desse dinamismo esta,
exactamente, na transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado. (SANTOS, op.cit)

As transformações dinâmicas que ocorrem no espaço urbano requerem um planeamento no


sentido de proporcionar o crescimento sustentável das cidades, equilíbrio ambiental e condições
de vida favorável as populações.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

2.3. BREVES CONCEITUALIZAÇÕES


2.3.1. Planeamento
Define-se planeamento como um processo de acção continua incorporada a gestão, que visa
orientar a tomada de decisões em uma administração pública. (VIEIRA, 2009)

Segundo MOTA (1999), o planeamento deve se realizar com base na concepção de


desenvolvimento sustentável, assim entendido, aquele que atende as necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias
necessidades.

O planeamento urbano é uma actividade que remete sempre para o futuro. É uma forma que os
homens tem de tentar prever a evolução de um fenómeno ou de um processo, e a partir deste
conhecimento, procurar se precaver contra problemas e dificuldades, ou ainda aproveitar melhor
possíveis benefícios.

A execução de um planeamento requer a participação permanente de diferentes grupos sociais


para sustentar e se adequar as demandas locais e acções publicas correspondentes.

2.3.2. Planeamento urbano e territorial


Planeamento Urbano e Territorial pode ser definido como um processo de tomada de decisão
com o objectivo de alcançar metas económicas, sociais, culturais e ambientais, por meio do
desenvolvimento de visões, estratégias e planos territoriais e da aplicação de um conjunto de
princípios de políticas, ferramentas, mecanismos institucionais e participativos de procedimentos
legislatórios” (UN-HABITAT, 2015).

2.3.3. Desenho urbano


Inevitavelmente, o Desenho urbano é um subconjunto do conceito de planeamento urbano. Este,
possui ligação directa, pois possui efeitos práticos no desenho de acção efectiva no processo.

Segundo COWAN (2005), é o processo multidisciplinar de formulação do cenário físico


destinado à vida em cidades, municípios e vilarejos; envolve o desenho de espaços, paisagens,
construções e grupos de prédios, e o estabelecimento de estruturas e processos que facilitem o
desenvolvimento bem sucedido.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

2.3.4. Cidades sustentáveis


Uma cidade sustentável é uma cidade inovadora que utiliza as TIC (Tecnologia de Informação e
Comunicação) e outros meios para melhorar a qualidade de vida, eficiência da operação e
serviços urbanos, e competitividade, assegurando ao mesmo tempo atender às necessidades de
gerações presentes e futuras no que diz respeito aos aspectos econômicos, sociais e ambientais"
(ITU-T,2016, S.P).

2.4. CONTEXTO URBANO


2.4.1. Fatores de sustentação urbana
Na última década, o ordenamento territorial e urbano ganhou valorização e uma visão mais
holística internacionalmente com a aprovação dos princípios do Novo Planejamento Urbano que
ocorreu no terceiro Fórum Urbano Mundial de 2006 em Vancouver. Em 2015, o relatório
“Paisagem de Risco Global ‟, do Fórum Econômico Mundial (FEM), observou o fracasso do
planejamento urbano como um fator de risco, que é responsável por desafios sociais, ambientais
e de saúde. O Relatório de Avaliação Global, por exemplo, destaca desde 2009, o planejamento
urbano como fator de resiliência e decisivo na prosperidade urbana.

2.4.2. Processo de planejamento urbano sustentável


O processo de planeamento deve ser benéfico e compartilhado por todos. Projectos sectoriais
fragmentados ou isolados comprometem os objectivos do desenvolvimento sustentável, pois não
integram espaços e geram conflitos uma vez que, estes, precisam de harmonização e
coordenação de planos territoriais e sectoriais. Estratégias e políticas urbanas que promovem a
compacidade e conectividade, produzem formas urbanas mais sustentáveis, ou seja, reduzem o
uso de automóveis, podem melhorar a mobilidade através do uso de bicicletas ou transporte
coletivo, apresenta espaços acessíveis, a baixa emissão de carbono e são mais humanizados entre
inúmeros outros benefícios.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

2.5. CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO URBANA EM MOÇAMBIQUE VERSUS


URBANIZAÇÃO

Gráfico1 e 2: Crescimento da população urbana em Moçambique

Fonte: OLIVEIRA (2001)

Nos gráficos acima é possível observar o rápido crescimento da população urbana Moçambicana
ocorrida até o ano passado (2019). Tomando em consideração o ano da independência de
Moçambique (1975), que se obtém fazendo-se uma interpolação pois o valor encontra-se
exactamente entre 1970 e 1980, a população era de 459,0425 habitantes nas zonas urbanas. Ate
2019 a população sobe 7 vezes.

As populações rurais se viram obrigadas a migrar para as cidades em busca de trabalho, renda e
acesso a bens, serviços e equipamentos urbanos, já que o campo não oferecia mais condições de
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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

sobrevivência em decorrência da concentração de terras por latifundiário e a mecanização da


produção agrícola.

As consequências do acelerado processo de urbanização provocaram o agravamento histórico do


quadro de exclusão social e dos problemas ambientais. Nas cidades houveram proliferações de
favelas com populações vivendo sem condições mínimas de infra-estrutura e saneamento, além
da poluição de agua, do solo e do ar que assumem grandes proporções.

Segundo SILVA (1997) a urbanização gera problemas enormes, deteriora o ambiente urbano,
provoca a desorganização social, com carência de habitação, desemprego, problemas de higiene
e de saneamento básico. Modifica a utilização do solo e transforma a paisagem urbana. A
solução desses problemas obtém-se pela intervenção do poder público, procura transformar o
meio ambiente e criar novas formas urbanas. Dá-se, então a urbanização, processo deliberado de
correção da urbanização, ou na criação artificial de núcleos urbanos.

O processo de urbanização gera impactos ambientais e sociais que poderiam ser evitados ou
minimizados mediante um planeamento urbano. Na maioria das vezes o crescimento das cidades
se dá de forma desordenada, ausente de infra-estrutura e propiciando aos habitantes condições
mínimas de vida.

2.6. O MODELO DE SUSTENTABILIDADE: CIDADE DISPERSA VERSUS CIDADE


COMPACTA (SILVA E ROMERO, 2010)
A sustentabilidade urbana possui sua ênfase nas esferas social e de comunidade, já que os
principais problemas urbanos têm sua origem nas relações humanas. Por outro lado, a expansão
urbana nega os limites naturais impostos aos recursos finitos do planeta, colocando em conflito o
sistema econômico vigente que promulga o desenvolvimento ilimitado do capital.

O urbanismo atual das cidades é considerado disperso e gera problemas ambientais, face ao
espalhamento da malha urbana sobre a paisagem natural, eliminado florestas, se apropriando dos
recursos naturais, aumentando a demanda por consumo e energia, produzindo resíduos em
excesso como resultados do modelo de consumo. A dispersão urbana exige intenso uso de
veículos para transporte de mercadorias e pessoas (em âmbito local, urbano, regional, nacional e
internacional) que acarretam a poluição do ar através da emissão de gases provenientes de

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

combustíveis fósseis nos diversos meios e redes de transporte, bem como da impermeabilização
do solo decorrentes da pavimentação excessiva, que além de exercer sérios danos ao ciclo
hidrológico, proporciona enchentes face à deficitária infraestrutura urbana, bem como impacta o
clima urbano de forma considerável.

Como movimento urbano alternativo a esse panorama, discussões são postas sobre a realidade
vigente das cidades, questionando e propondo modelos urbanos que correspondam às novas
necessidades ambientais e de qualidade sustentável. Sobre essa lógica de compacidade,
ROGERS (2001) propõe a redução das distâncias urbanas como incentivo ao caminhar do
pedestre ou ao uso de bicicletas. ACSELRAD (2004) por sua vez, propõe, além da compactação
urbana, a descentralização dos serviços, partindo das áreas centrais para as periferias, o que
promoveria um espaço urbano menos segregado e mais igualitário. Para o autor, é vital a
inclusão das áreas periféricas na cidade formal, estabelecendo a distribuição dos serviços e
equipamentos urbanos, integrando centro e periferia, bem como o público e o privado. Porém, o
autor toca na questão da necessidade de controle demográfico paralela às mudanças no processo
de gestão urbana.

Figura: Diagramas representativos de um urbanismo disperso, focado no zoneamento rígido das


funções urbana e promoção de monofuncionalismo para uso do automóvel em grandes
distâncias, e a alternativa sustentável de urbanização compacta que encurta as distâncias para o

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

pedestre e bicicleta, sobrepõe funções e induz à diversidade. Fonte: ROGERS, 2001 por SILVA
e ROMERO, 2010

Tabela 1 - Comparação dos modelos de cidade difusa e compacta desde o marco da unidade
sistema entorno: pressão sobre os sistemas de suporte por exploração. Fonte: RUEDA, 1991 por
SILVA e ROMERO, 2010.

Tabela 2 - Comparação dos modelos de cidade difusa e compacta: pressão sobre os sistemas de
suporte por impacto. Fonte: RUEDA, 1999 por SILVA e ROMERO, 2010.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

Tabela 3 - Comparação dos modelos de cidade difusa e compacta: manutenção e aumento da


organização do sistema urbano. Fonte: RUEDA, 1999 por SILVA E ROMERO, 2010.

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Figura 2 – Modelo de cidade dispersa (difusa). Fonte: RUEDA, 1999.

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Figura 3 – Modelo de cidade dispersa (difusa). Fonte: RUEDA, 1999.

As conexões no sistema urbano das cidades difusas se realizam através das redes viárias, as quais
promovem a dispersão urbana, pois se transformam em um verdadeiro estruturador do território.
O produto desse formato urbano é um espaço segregado que separa socialmente a população no
território disperso. Esta imposição de transporte e locomoção em grandes distâncias implica em
inúmeros transtornos: congestionamentos, emissão de gases, ruídos, acidentes e aumento do
tempo no transporte de pessoas, serviços, materiais e mercadorias. As soluções para a crescente
demanda urbana consistem no aumento do sistema viário, agravando com isto a dispersão
territorial e o consumo de energia.

O modelo de cidade compacta oferece uma forma estrutural de utilização do subsolo urbano,
facilita a ordenação pela proximidade e pela sua maior regularidade formal. O transporte público
pode ser mais racional e eficiente, reduz o número de carros e libera o tráfego das ruas. Este
modelo melhora a paisagem urbana e o espaço público e, ao mesmo tempo, não causa tantos
impactos como os observados nas cidades difusas. (SILVA e ROMERO, 2010.)

Ainda segundo Rueda, a análise da diversidade que permite a ideia do mix e das densidades de
usos e funções nas trocas de informação em um espaço concreto verifica que os portadores de
informação nas cidades difusas são homogêneos, limitadas e lineares, enquanto que nas
compactas o número de portadores de informação é elevado e diversificado. Assim, “(...)
aumentar a diversidade é impregnar à cidade de oportunidades, trocas de informação, a
diversidade gera estabilidade oferecendo condições de fluxo”.

2.7. TRAÇADO E PARCELAMENTO


Dentre as múltiplas definições de tecido urbano, PANERAI descreve que este é constituído pela
superposição ou imbricação de três conjuntos: a rede de vias, os parcelamentos fundiários e as
edificações. A análise do tecido urbano é feita pela identificação de cada um desses componentes
e suas relações com o espaço. Desse modo, estabelecer as relações entre os traçados e o sistema
viário com os edifícios públicos revela a estrutura que compõem a formação da cidade no sítio.
Para esta análise segundo DEL RIO, se faz uso de um mapa figura-fundo2, ferramenta que
defina a relação entre os domínios público e privado, assim como outras relações morfológicas
importantes como distância e acessibilidade e a relação entre cheio e vazios.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

Figura 4 - Mapa figura-fundo, ferramenta de identificação das relações entre domínios público e
privado. Fonte: Arquivo pessoal, 2007.

Para PANERAI, o parcelamento das quadras está intrinsecamente ligado à questão fundiária e
formação dos lotes. A parcela não é um terreno a ser ocupado de quaisquer maneiras, mas uma
unidade de solo urbano organizado a partir da rua, elemento básico deste estudo. A observação
dos grafos nos possibilita identificar os limites das propriedades e a implantação dos edifícios. A

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

análise parcelar e suas características de formação podem proceder utilizando diversas


ferramentas, ou, diversos pontos de vista, uns ressaltando as regularidades e agrupamentos,
outros as fragmentações e as singularidades.

2.8. PRINCÍPIOS SUSTENTÁVEIS ASSOCIADOS À MORFOLOGIA URBANA


O planejamento e desenho urbano baseado na ótica do urbanismo sustentável têm três eixos
fundamentais à habitação, a infraestrutura e a

Figura 6 - Mapa figura-fundo, ferramenta de identificação das relações entre domínios público e
privado. Fonte: Arquivo pessoal, 2007.

Paisagem e, assim como nos ecossistemas, fazem parte de um sistema integrado onde tudo é
interligado e reaproveitado - como um ciclo. Tudo que sai do sistema de produção deve ser
reaproveitado, através de sistemas circulares de água, esgoto, energia e alimentos, reduzindo o
impacto sobre o meio ambiente e aumentando o rendimento geral da comunidade.

Os sistemas de infraestrutura interrompem o ciclo natural da água, ou melhor, o ciclo


hidrológico, com a crescente impermeabilização dos solos e rede de drenagens artificiais que
carregam águas pluviais e detritos lançados nas ruas para rios e lagos, contribuindo para o seu
assoreamento. Além disso, em alguns casos, as redes de águas pluviais recebem redes de esgotos
clandestinos que deságuam em locais com águas limpas sem nenhum tratamento prévio.

Explorando a cidade como um organismo vivo, REGISTER (2002) faz uma analogia da
anatomia da cidade com a anatomia humana. As ruas, redes de água, esgoto, drenagem e gás
funcionam como o Sistema Circulatório, a arquitetura com seus elementos verticais funciona
como apoio, similar ao Sistema Esquelético, os alimentos e os combustíveis funcionam como o
Sistema Digestivo, que transformam a energia armazenada. Os sistemas de tratamento de água
ou compostagem funcionam com um Sistema de Filtragem e Reciclagem e, os lixos
incineradores e saídas de esgotos atuam como o Sistema de Excreção. Este tratamento pode ser
interessante para efeitos de educação ambiental da população, mas para o urbanismo o
desempenho das atividades tem que estar associado à morfologia, no lugar ou sítio em que cada
cidade está implantada.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

A anatomia do habitat construído é essencial para suavizar ou conectar cada uma dos
condicionantes do desenvolvimento de uma cidade. Funciona como um organismo que move a
maior parte da riqueza e consumo e organiza as tecnologias para maximizar trocas e minimizar
deslocamentos. A qualidade e o conteúdo das trocas no meio ambiente são determinados pelo
espaço urbano por meio da forma física e arranjo de suas partes num entendimento sistêmico.

O desenho das ruas, ou mais precisamente, a morfologia urbana é o elemento estruturador dessa
anatomia. Entretanto, se as ruas forem projetadas visando o máximo de aproveitamento da
mobilidade humana, a morfologia torna-se menos importante, pois pedestres exigem menos
infraestrutura. Torna-se inevitável, porém, associar o layout às estratégias de redução de impacto
dos sistemas de infraestrutura, uma vez que esses sistemas constituem um meio de ligação
significativa (subterrânea) entre a cidade e o meio natural. Cabe ao projetista então uma série de
estratégias ou princípios associados à morfologia para assegurar a sustentabilidade ambiental.

No entanto, até chegar a forma ideal para essas “Eco cidades”, que dependem essencialmente do
local em que estão inseridas, é imprescindível estabelecer alguns princípios norteadores para a
sua construção.

Existem autores que já estabeleceram alguns princípios tais como: Paolo Soleri na década de 60
para a construção de Arcosanti, Bill Mollisson com os princípios da Permacultura nos anos 70,
Paul Downton para Ecopolis em 1998, Willian Mc Donough Associates para a Feira Mundial de
Hanover em 2000, etc.

Os princípios para Ecópolis do australiano Paul Downton de 1997 são uma evolução dos
princípios da Permacultura para o desenho de cidades. Tais princípios são apontados por
REGISTER (2002): restaurar terras degradadas, adequar-se a bio-região, desenvolvimento
equilibrado, conter a expansão urbana (criar cidades compactas), otimizar o desempenho
energético, contribuir para a economia, proporcionar saúde e segurança, instaurar um sentido de
comunidade, promover a equidade social, respeitar a história, enriquecer a paisagem cultural e
curar a Biosfera.

DAUNCEY (2001) coloca que existem alguns princípios que podem orientar a implantação e
recuperação de comunidades com impactos significantes e de longo alcance no seu

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

desenvolvimento econômico e na saúde social e ambiental. Tais princípios são: proteção


ecológica (biodiversidade), adensamento urbano, revitalização urbana, implantação de centros de
bairro e desenvolvimento da economia local, implementação de

Transporte sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com sentido de


vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da água,
energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar e reciclar).

Na verdade esses princípios não podem ser relevantes para todo empreendimento local, mas eles
formam uma estrutura sistêmica e integrada que nos ajudam a entender o potencial para
implantar assentamentos urbanos sustentáveis, que precisam ser considerados.

Segundo ROMERO (2002), cada escala é capaz de identificar diferentes tipos de estrutura
ambiental, por meio de sua vulnerabilidade e alternativas de uso, assim como, os níveis de
degradação ambiental, os aspectos de diversidade ambiental, de socioeconômica, de estética e de
cultura. Para a autora, são quatro as escalas de análise: a grande dimensão das estruturas urbanas,
a escala intermediária da área, as dimensões específicas do lugar e do edifício.

2.9. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE


2.9.1. Monitoramento das cidades sustentáveis
Segundo ROSELAND (1998), a sustentabilidade somente é alcançada através de um
planejamento. Esse planejamento necessita ser monitorado através de diagnósticos periódicos,
que informem a situação atual e o percurso que está sendo seguido, nos quais monitoramento é
compreendido como ―uma observação mais descritiva do processo de implementação da ação
ou, em outras palavras, a verificação e o relato do que está ocorrendo‖ (FURTADO, 2002). Tal
planejamento poder ser percebido através de procedimentos necessários para uma
operacionalização da sustentabilidade urbana. De acordo com ACSELRAD (2001)

Os procedimentos podem ser compreendidos como possíveis grupos de políticas e ações


necessárias para a busca da sustentabilidade. Assim, procedimentos de manutenção e
preservação dos recursos naturais, ambientais e culturais; de restauração e interação dos
fenômenos urbanos com os ambientais e sociais bem como procedimentos de reestruturação
social e institucional podem ser compreendidos como caminhos rumo à sustentabilidade urbana.

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

Sistemas de indicadores possibilitam o diagnóstico ou monitoramento das ações, subsidiando


decisões e servindo de

Instrumentos de controle do planejamento urbano. Através das suas informações se prevê o


direcionamento e a eficácia das ações em direção à meta pré-estabelecida. Indicadores são muito
úteis em duas formas na busca da sustentabilidade: identificando áreas onde ações são
necessárias, quando sistematicamente alimentados, e monitorando o caminho no qual o sistema
se comporta, provendo importantes informações para inovações e estratégias (HALL SMITH,
2003). Entretanto, indicadores são apenas informações, um instrumento de controle, eles não nos
dizem qual a melhor ação ou estratégia a ser tomada. Para tanto, é necessário ter uma
compreensão dos sistemas e suas relações no planejamento de qualquer política ou ação de
intervenção urbana, tirando vantagens do momento presente e evitando consequências futuras
indesejadas. É através dessa compreensão que os indicadores devem ser buscados e lidos, dando
uma visão clara de aproximação ou não de um padrão de sustentabilidade de acordo com o que é
entendido por sustentabilidade urbana (FLORISSI, 2009).

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O MEIO AMBIENTE E O PLANEAMENTO URBANO

3. CONCLUSÃO
A presente pesquisa buscou compreender os cenários e as respectivas condicionantes e
configurações urbanas, a partir de então, demonstrar caminhos alternativos para um urbanismo
sustentável factível em âmbito nacional. A partir de um repertório teórico e de análises correlatas
de cidades, teorias, conceitos e formas de planeamento e gestão urbana, compreendeu-se que
alguns preceitos urbanísticos recorrentes podem ser aplicados às cidades Moçambicanas, com o
intuito de torná-las menos impactantes ao meio e ao sistema-entorno, promovendo-se ainda a
qualidade de vida, melhor saúde ambiental e a coesão social, entre outros benefícios urbanísticos
possíveis.
Não só, mas como também o planeamento urbano assegura que os planos de uso do solo,
desenvolvimento de serviços básicos e o planeamento da infra-estrutura sejam geograficamente
conectados e com implementação coordenada podendo combinar assim, planeamento e desenho
com mecanismos de financiamento apoiados em regras e regulamentações apropriadas.
Também, um bom desenho urbano contribui para a sustentabilidade, habitabilidade e potencial
económico de uma cidade. Promove cidades compactas e controla e espraiamento urbano,
desenvolvendo estratégias de densificação progressivas e integradas, com quantidade suficiente.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ACSELRAD, Henri (org). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas
urbanas. 2ª edição. Rio de Janeiro, Ed. Lamparina, 2009.
2. ACSELRAD, Henri. Sentidos da sustentabilidade urbana. In: ACSELRAD, Henri (org.).
A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro:
DP&A, 2001.
3. FLORISSI, Elena.Desenvolvimento Urbano Sustentável: um estudo sobre sistemas de
indicadores de sustentabilidade urbana / Elena Florissi. Recife: O Autor, 2009.
4. GIRARDET, Herbert. (1997) Sustainable Cities. In Revista Architectural Design Profile
nº 25, London: Academy Group Ltda.
5. HALLSMITH, Gwendolyn. The key to sustainable cities. Canada: New Society
Publishers, 2003.
6. PANERAI, Philippe. Análise urbana. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2006
7. ROMERO, Marta A. B.. Estratégias Bioclimáticas de Reabilitação Ambiental Adaptadas
ao Projeto. In Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística / Marta
Adriana Bustos Romero, org. Brasília: FAU/UnB, 2009. ROMERO, Marta A. B..
Frentes do Urbano para a Construção de Indicadores de Sustentabilidade Intra Urbana. In
Paranoá: cadernos de arquitetura e urbanismo da FAU-UnB. Ano 6, n. 4
(novembro/2007). – Brasília: FAU UnB, 2007.
8. ROMERO, Marta A. B.. O Desafio da Construção de Cidades. Revista Arquitetura e
Urbanismo. Ano 21, nº. 142, janeiro de 2006. São Paulo: Pini, 2006.
9. ROMERO, Marta Adriana Bustos. Arquitetura do Lugar: uma visão bioclimática da
sustentabilidade em Brasília. São Paulo: Nova Técnica Editorial, 2011.
10. RUEDA, Salvador Palenzuela. Modelos e Indicadores para Ciudades más Sostenibles:
Taller sobre Indicadores de Huella e Calidad Ambiental.
11. 96
12. Barcelona: Fundación Forum Ambiental / Departament de Medi Ambient de la
Generalitat de Catalunya, 1999.
13. https://www.bing.com/search?q=Fatores+de+sustenta%c3%a7%c3%a3o+da+prosperida
de+urbana.+Fonte%3a+ONU-Habitat+(2012).+&FORM=HDRSC1. Acesso: 02/04/2020

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