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Leonardo Manzoni
1. INTRODUÇÃO
Após dois anos e meio de implantação pode-se afirmar que o trabalho foi bem-
sucedido. Consultas na principal base de dados do sistema, em abril de 2019, dão conta
que dos 14.953 processos em trâmite, 13.861 são eletrônicos, e apenas 1092 ainda
circulam em meio físico, evidenciando-se que aproximadamente 92,7% dos processos
atualmente em trâmite na instituição operam sob forma digital, sendo que os demais estão
em processo acelerado de conversão.
Dado o panorama descrito, mas com vistas à evolução do mesmo, este artigo
propõe uma reflexão para entender se os aspectos de confiabilidade, autenticidade,
processamento de identificação digital e auditoria de dados, poderiam ser melhor
atendidos utilizando-se uma tecnologia distribuída de Blockchain, e qual seria o possível
roteiro para a implantação dessa inovação.
2. METODOLOGIA
O estudo de caso que engendrou o presente artigo foi feito dentro do Tribunal
de Contas de Santa Catarina – TCE/SC, em virtude do vínculo funcional do autor com a
referida instituição e, mais especificamente, com o projeto do processo eletrônico. A
pesquisa utilizou informações colhidas in loco, diretamente das fontes de dados e de
documentos do sistema e descreve as principais decisões técnicas ao longo do projeto.
Como é bem conhecido, todas as organizações tem passado nas últimas
décadas por acelerados processos de substituição tecnológica e de procedimentos de
trabalho. Essas mudanças via de regra acontecem sob pressão de inúmeros agentes
internos e externos e envolvem um sem números de atores e decisões que passam
despercebidos ao longo dos procedimentos de mudança.
Pelo exposto percebe-se que o conceito de processo refere-se muito mais a fluxo
de eventos encadeados no tempo, do que a um conjunto de objetos físicos, por isso é que
ao discutir-se o processo eletrônico, verifica-se que para além da mera conversão de
documentos para meio digital faz-se necessário todo um novo arcabouço de técnicas e
tecnologias que garantam a instrumentalidade da forma, segundo Pereira (2016, p. 87
apud BATISTELA, 2002, p.20)
Ao cabo de todos esses trâmites, o processo pode ainda ser objeto de uma
discussão em uma sessão plenária colegiada e ter anexada às suas peças uma decisão
oriunda de um sistema de votação pela corte de contas, decisão essa que ainda pode ser
alvo de diversos recursos e agravos por parte das diversas pessoas interessadas.
Tendo em vista as características mencionadas e visando o aprimoramento da
operacionalização do processo eletrônico supôs-se que algumas características da
tecnologia Blockchain poderiam vir vantajosamente substituir ou agregar-se às atuais
funcionalidades do processo eletrônico.
4. CARACTERÍSTICAS DO BLOCKCHAIN
Mediante o estudo realizado para este artigo pudemos constatar que todo o
processamento relativo às inúmeras transações relativas ao processo eletrônico de contas
faz uso de uma abordagem centralizada. A infraestrutura de informática do Tribunal de
Contas de Santa Catarina provê, em sua estrutura de servidores, um conjunto significativo
de máquinas virtuais alocadas com exclusividade para atender os diversos aspectos do
processo eletrônico.
Por meio desse conjunto de servidores dedicados foi possível implementar uma
arquitetura do tipo SOA (Service Oriented Architecture) e especializar as funcionalidades
ainda mais com a implementação de micro serviços, que utilizam o protocolo HTTP
(Hipertext Transfer Protocol) de uma forma mais flexível, construindo pontos de acesso
baseados em REST (Representational State Transfer), fazendo uso de extensa
comunicação assíncrona.
Dentre esses muitos servidores podemos destacar alguns dos mais importantes:
banco de dados Microsoft SQL Server, diversos Servlets Containers armazenando
páginas e conteúdo estático html e javascript, Gerenciador Eletrônico de Documentos
Alfresco e Servidor Web Microsoft IIS, para comunicação com a Infraestrutura de Chaves
Públicas Brasileira (ICP-Brasil), para o gerenciamento das autenticações de certificação
digital criptografadas, além do FPE - Fluxo Processual Eletrônico, implementação
doméstica do BPM (Busines Process Management) assegurado por um conjunto
programado de regras em banco de dados.
A tecnologia Blockchain não possui servidores centrais para processar seus dados,
implementando, portanto, um modelo descentralizado “puro”, que delega e confia todas
as tarefas à rede de computadores que se conecta a cadeia de blocos.
Para dar suporte aos contratos inteligentes é que no final de 2013, Vitalik Buterin
propôs em um artigo a criação da rede Ethereum, adicionando mais um aspecto às então
já conhecidas redes Blockchain de valor. A partir do lançamento público da rede
ethereum, e da criptomoeda ether, passou a ser possível transacionar valor por meio de
contratos programáveis em uma linguagem não ambígua, descortinando uma imensa
gama de possibilidades de troca de serviços por valor, de forma segura e com taxas
menores. Segundo a definição do autor
É importante ressaltar que os conteúdos e mídias digitais são cada vez mais
entendidos como verdadeiros ativos das empresas e instituições. Nunca é demais lembrar
que, na economia atual, as empresas com maior valor de mercado que conhecemos, são,
quase sem exceção, empresas que manipulam e custodiam volumes imensos de conteúdos
digitais.
Por possuírem um tamanho muito maior do que o que se tem em uma simples
transação de valores de criptomoedas, um Blockchain para troca de arquivos
impediria o sistema de funcionar com agilidade, vista a necessidade de se
resumir, distribuir e validar todos esses arquivos dentro do sistema.
Apesar da não aplicabilidade do Blockchain para registro direto de conteúdos
digitais, a segunda parte da tarefa de manutenção de conteúdos – garantia da
imutabilidade e sequenciamento dos autos - poderia se beneficiar muito das
características nativas de Blockchain. Os recursos criptográficos transacionais intrínsecos
desta plataforma poderiam beneficiar o processo eletrônico, em uma forma de solução
mista, com os blocos da cadeia sendo usados como apontadores para o conteúdo digital
armazenado em um serviço ECM dedicado e específico.
isso permite que se compare esse modelo com a tecnologia do Blockchain, que
também opera como banco de dados, mas possui atributos específicos - isto é,
contém atributos que banco de dados tradicional não tem. Para começar, muito
raramente se consegue a imutabilidade nos bancos de dados tradicionais; o
Blockchain, ao contrário, tem isso como um pilar sustentador: os registros não
se apagam nem se alteram, e esse é, inclusive, elemento importante que lhe
confere credibilidade e relevância.
Por outro lado, paralelamente à comparação feita com o sistema ECM, temos no
caso do SGBD a mesma limitação relativa ao Blockchain. A tecnologia Blockchain não
se presta ao registro direto de grandes massas de dados, funcionando mais como um
registro adjacente e garantidor da imutabilidade, autenticidade e inviolabilidade do que
um banco de dados propriamente dito, como podemos ler em Carvalho (2018, p. 72)
6 CONCLUSÕES
Essas publicações tratam desse assunto de maneira um tanto inflada como se essa
tecnologia pudesse resolver problemas persistentes de desigualdade de renda e
oportunidades, ou então aprofundar e assegurar valores democráticos de participação
social, transparência e distribuição de poder aos cidadãos e até mesmo sensíveis questões
relacionadas a objetivos de desenvolvimento sustentáveis como podemos ler em
(DENNY,PAULO e CASTRO, 2017, p. 139), segundo os quais, essa tecnologia
Não é incomum que a tecnologia Blockchain seja descrita como a maior revolução digital
depois da invenção do protocolo HTTP por Tim Berners-Lee, que proporcionou a milhões
de pessoas acesso fácil e possibilidade de participação no que veio a ser a World Wide
Web. A adoção da chamada “rede de confiança” é descrita como uma verdadeira
revolução disruptiva na forma como usamos nossas redes digitais e estabelecemos
relacionamentos baseados em valor, monetário ou não. Mougayar (2018, p. 35) afirma,
por exemplo:
É importante deixar claro que pensar nos usos do Blockchain não implica,
necessariamente, em abandonar as práticas e suportes usualmente empregados.
Nesse sentido, pode-se observar esses sistemas de outro modo: a partir da
possibilidade de mesclar diversas outras tecnologias já atualmente utilizadas, o
que reforça que o Blockchain não veio para substituí-las, obrigatoriamente, mas
sim aperfeiçoá-las em aspectos anteriormente não possíveis.
Por fim temos também um impacto previsto para o ano de 2020 com o início da
vigência da Lei Geral de Proteção aos Dados, que determina que todos os dados de
terceiros mantidos por organizações públicas e privadas sejam custodiados de maneira
inviolável e que seu uso seja feito somente com autorização explicita do proprietário e
para finalidades especificas, aspectos que nos lembram muito as funcionalidades de
proteção à identidade e ao anonimato fornecido pelas redes criptografadas de confiança,
apresentando-nos uma visão de futuro onde alguma versão de Blockchain deva ser mais
presente em muitas instituições.
REFERÊNCIAS
LIMA, Barbara Helen Neto; HITOMI, Felipe Augusto Carvalho; OLIVEIRA, Gabriel
Santana de. Aplicação da tecnologia Blockchain em ambientes corporativos.
Disponível em:
<http://www.fatecsaocaetano.edu.br/fascitech/index.php/fascitech/article/view/133>.
PORTAL ECM GED. ECM x GED - Existe diferença? Disponível em: <
https://github.com/ethereum/wiki/wiki/White-Paper> Acesso em: 27 de abril de 2019.