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Levantamento do G1 mostra que, um ano após ligeira queda, prisões estão quase 70% acima da capacidade e o
percentual de detentos sem julgamento é maior (35,9% do total). São 704,4 mil presos nas penitenciárias; número
passa de 750 mil se forem contabilizados os em regime aberto e os detidos em carceragens da polícia. GloboNews
mostra situação nos presídios.
Por Clara Velasco e Thiago Reis, Bárbara Carvalho, Carolline Leite, Gabriel Prado e Guilherme Ramalho, G1 e
GloboNews
Presos algemados por dias nas viaturas em frente a delegacias por falta de vagas no sistema penitenciário. A
cena, registrada na última semana em Porto Alegre (RS), é um retrato da realidade do país. Um ano após uma
ligeira queda na superlotação, os presídios brasileiros voltaram a registrar um crescimento populacional sem que as
novas vagas dessem conta desse contingente. O percentual de presos provisórios também voltou a crescer, mostra
um levantamento do G1, dentro do Monitor da Violência, feito com base nos dados dos 26 estados e do Distrito
Federal.
Desde a última reportagem do G1, publicada em fevereiro de 2018, foram acrescidas ao sistema 8.651 vagas,
número insuficiente para acomodar o total de presos, que cresceu 2,6% em um ano, com 17.801 internos a mais.
Há hoje 704.395 presos para uma capacidade total de 415.960, um déficit de 288.435 vagas. Se forem
contabilizados os presos em regime aberto e os que estão em carceragens da Polícia Civil, o número passa de 750
mil.
Os presos provisórios (sem julgamento), que chegaram a representar 34,4% da massa carcerária há um ano, agora
correspondem a 35,9%.
Os dados levantados pelo G1 via assessorias de imprensa e por meio da Lei de Acesso à Informação são
referentes a março/abril, os mais atualizados do país. O último Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (Infopen), do governo, é de junho de 2016 – uma defasagem de quase três anos. Havia, na época,
689,5 mil presos no sistema penitenciário (e outros 37 mil em delegacias).
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Juliana Bezerra
Professora de História
O sistema carcerário brasileiro consiste nas prisões federais e estaduais, tanto masculinas quanto femininas.
Por causa de uma série de razões históricas e políticas, as prisões brasileiras estão superlotadas, não transformam
seus internos em cidadãos úteis e passam por uma grave crise estrutural.
O Brasil é o terceiro país no mundo com maior número de pessoas presas. Em dezembro de 2014, a população
carcerária no Brasil era de 622.202. Dois anos depois, em junho de 2016, havia 726.712 prisioneiros.
Especialistas calculam que seria preciso construir um presídio a cada dia do ano para diminuir o déficit de vagas
que ascende a cerca de 250 mil.
Cada presidiário custa para o Estado em torno de 1500 reais. Como não há verba para tanta gente, são as famílias
dos presos que arcam com os custos de alimentação e vestuário dos detentos.
Com a superlotação das prisões, as facções criminosas se apoderaram da organização dos presídios e agora
disputam as cárceres brasileiras.
Numa entrevista realizada em 2017, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, comentou
sobre as diferenças de penas para crimes tão díspares:
"Prendemos quantitativamente, desde o furto de um botijão que alguém pula o muro, sem violência ou
grave ameaça, até um roubo de carro-forte, com fuzil, um roubo qualificado. Um fica 10 meses e outro fica
5. Condutas totalmente diferentes, só que a bandidagem violenta, a alta criminalidade, fica muito pouco
tempo na cadeia".
Esta ideia também é compartilhada pelo professor e Procurador de Justiça de Minas Gerais, Dr. Rogério Greco. Em
janeiro de 2017, ele afirmava que as prisões refletiam a desigualdade social no país:
“O Brasil prende muito e prende mal. Quem tinha que estar preso, está solto e quem tinha que estar solto, está
preso. A gente prende só pobre, só miserável. Esta é a nossa cultura, a nossa regra. É muito mais fácil prender um
miserável que prender um sujeito de classe média ou média alta. (Entrevista ao programa “Palavra do Professor”).
Na maioria das prisões brasileiras, o Estado não providencia o mínimo de conforto material e nem os objetos de
higiene elementares.
Desta maneira, o preso depende da ajuda de seus familiares (se os tiver) ou do auxílio de outros presos. No
entanto, este não vem de graça e certamente será cobrada com favores sexuais, participação em pequenos crimes
ou aliciamento de facções.
As prisões deveriam ter como finalidade recuperar e ressocializar o indivíduo preso. Contudo, no Brasil, a
percentagem de presos que estuda é de apenas 11% e somente 25% realizam algum tipo de trabalho interno ou
externo.