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APOSTILA DE AULAS DE TEORIA GERAL DO PROCESSO – PROFESSOR DANILO FONTES

APOSTILA DE AULAS DE TGP 2º BIMESTRE


APOSTILA 6 – 2º BIMESTRE

VI - AÇÃO

[...]

6. CONDIÇÕES DA AÇÃO

Embora abstrato e ainda que genérico, o direito constitucional de ação, até para que não se
converta em abuso, pode ter o seu exercício condicionado pela lei ordinária.

São as chamadas condições da ação (interesse de agir e legitimação ad causam), ou seja,


condições para que legitimamente se possa exigir, na espécie, o provimento jurisdicional.
Por isso, o direito de ação se subordina a certas condições, em falta das quais, de qualquer
delas, quem o exercita será declarado carecedor dele, dispensando o órgão jurisdicional de
decidir do mérito de sua pretensão. Mas ainda que a resposta do juiz se exaura na pronúncia
de carência da ação (porque não se configuraram as condições da ação), terá havido
exercício da função jurisdicional.

6.1 Interesse de agir

Já acentuamos que a ação visa obter uma providência jurisdicional quanto a uma pretensão
e, pois, quanto a um bem jurídico pretendido pelo autor. Há, assim, na ação, como seu
objeto, um interesse de direito substancial, consistente no bem jurídico, material ou
incorpóreo, pretendido pelo autor, denominado interesse primário.

Mas há outro interesse que move a ação. É o interesse na obtenção de uma providência
jurisdicional quanto àquele interesse. Por outras palavras há o interesse de agir, de reclamar
a atividade jurisdicional do Estado, para que este tutele o interesse primário ou direito
material.

Diz-se, pois, que o interesse de agir é um interesse secundário, instrumental, subsidiário, de


natureza processual, consistente na necessidade de obter uma providência jurisdicional para
alcançar o resultado útil previsto no ordenamento jurídico em seu benefício.

É preciso, pois, sob esse prisma, que, em cada caso concreto, a prestação jurisdicional
solicitada seja necessária e adequada.
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6.1.1 A necessidade da tutela repousa na impossibilidade de obter a satisfação do alegado


direito sem a intercessão do Estado – ou porque a parte contrária se nega a satisfazê-lo,
sendo vedado ao autor o uso da autotutela, ou porque a própria lei exige que determinados
direitos só possam ser exercidos mediante prévia declaração judicial (são as chamadas ações
constitutivas necessárias, no processo civil, e a ação penal no processo penal).

6.2.2 Adequação – é a relação existente entre a situação lamentada pelo autor ao vir em
juízo e o provimento jurisdicional solicitado. O provimento deve ser apto a corrigir o mal de
que o autor se queixa. Quem alega, e.g., adultério do cônjuge não pode dele se servir como
fundamento para a anulação de casamento, mas o divórcio, porque aquela exige a existência
de vícios que inquinem o vínculo matrimonial logo na sua formação, sendo irrelevantes fatos
posteriores. O mandado de segurança, ainda como exemplo de inadequação, não é medida
hábil para a cobrança de créditos pecuniários.

Enfim, o que move a ação é o interesse na composição da lide (interesse de agir), não o
interesse em lide (interesse substancial). CPC, art. 17: "para postular em juízo é necessário
ter interesse e legitimidade".

6.2 Legitimidade "ad causam" (Legitimidade para a causa)

O autor deve ter título em relação ao interesse que pretende ver tutelado. Por outras
palavras, o autor deverá ser titular do interesse que se contém na sua pretensão com
relação ao réu. Em princípio, são legitimados para agir, ativa e passivamente, os titulares dos
interesses em conflito (legitimação ordinária).

Contudo, em alguns casos, a lei concede direito de ação a quem não seja o titular do
interesse substancial, mas a quem se propõe a defender interesse de outrem. Nesses casos,
de legitimação dita extraordinária, surge a figura do substituto processual, função exercida,
por exemplo, pelo Ministério Público que, agindo em nome próprio, defende sempre o
interesse público e indisponível de certas pessoas.

A regra é a legitimidade ordinária e a exceção é a extraordinária, como se verifica no art. 18


do CPC: "ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado
pelo ordenamento jurídico".

A CF/88 ampliou sobremaneira os estreitos limites do referido dispositivo legal, mercê de


acesas críticas da doutrina por impedir, com seu individualismo, o acesso ao Poder
Judiciário, mormente para a defesa de interesses difusos e coletivos. O caminho evolutivo
havia se iniciado com a lei de ação civil pública em defesa do meio ambiente e dos
consumidores (lei 7.347/85) que legitimou, além do Ministério Público e de outros órgãos do
Poder Público, as associações civis representativas; e depois foi incrementado pela CF que
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abriu a legitimação a diversas entidades para a defesa de direitos supraindividuais (art. 5º,
incs. XXI e LXX; art. 129, inc. III e § 1º, art. 103 etc.).

6.3 Carência da Ação

A falta de qualquer das condições da ação importará na carência desta, implicando na


extinção do processo. Há quem sustente que, nessa situação, o autor não tem direito de
ação (ação inexistente) e quem defenda que lhe falta o direito ao exercício desta. A
consequência é que o juiz, exercendo embora o poder jurisdicional, não chegará a apreciar o
mérito, ou seja, o pedido do autor, acolhendo ou rejeitando-o.

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