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1. Prévio
2. Texto escolhido:
v. 32: “... e conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres”.
espécie de erro ou falsidade (Mc 12,32). Verdade: amor à verdade, tanto em palavras
quanto em conduta, sinceridade, veracidade (Jo 20,21)” (STRONG, J. 2010, p. 2049).
“No Novo Testamento, de maneira especial, a verdade divina, ou a fé e a prática da
verdadeira religião, é chamada de “verdade”, ou por ser verdadeira por si mesmo e derivada
do Deus verdadeiro, ou como declaração da existência e da vontade do Deus único e
verdadeiro, em oposição à adoração de falsos ídolos. Por isso, a palavra alētheia veio a
significar verdade divina, a verdade evangélica, em oposição às fábulas pagãs e judaicas (Jo
1,14.17; 8,32.40; 16,13; 18,37). Por isso, o Senhor Jesus é chamado de “a verdade”, a verdade
encarnada, o mestre da divina verdade (Jo 14,6). Verdade se refere à conduta conformada à
verdade, integridade, probidade, virtude, uma vida conformada aos preceitos do evangelho (Jo
3,21)” (STRONG, J. 2010, p. 2049-50).
A Bíblia TEB possui a seguinte versão: “conhecereis a verdade e a verdade vos fará de
vós homens livres”. A nota de rodapé “p”apresenta que no, texto joanino, a verdade é a
realidade de Deus à medida que ele é a plenitude da vida verdadeira e pode associar a ela os
homens que ele criou. Esta verdade se manifesta e se comunica em Jesus. Segue-se daí que a
fé nele também é conhecimento e acolhimento da verdade (1,14.17; 14,6.17; 15,26; 16,7.13;
17,17-19; 18,37-38; 1Jo 1,6.8; 2Jo 1). Na nota “q”, no tocante a verdade, não se trata da
liberdade política nem da autonomia interior à qual pode chegar o sábio refletindo sobre o seu
ser-homem. A liberdade em relação à mentira (8,44) e à morte (8,24.51) também é capacidade
de viver em plenitude (10,10) na comunhão do Filho e do Pai (17,3). Esta liberdade
escatológica é um dom vinculado à verdade que se recebe em Jesus.
O lugar no contexto amplo, dentro da obra, encontra-se no livro dos sinais (1,19 –
12,50). Em relação ao lugar no contexto imediato, anteriormente, temos o trecho que trata de
Jesus se referindo aos judeus que creram nele: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis
verdadeiramente meus discípulos” (Jo 8,31). Aqui, “João põe em cena aqueles judeus que
aderiram a Jesus (v. 30), mas só até certa altura: na realidade, eles não são mais confiáveis na
sua fé que os que acreditavam por causa dos sinais (2,23-24; cf. 7,31)” (KONINGS, 2005, p.
186).
O presente trecho de Jo 8,32 fala de Jesus como a verdade a ser conhecida pelos
corações que estejam abertos à proposta de amor do Pai, como o “caminho, verdade e a vida”
(Jo 14,6). Assim “o caminho da vida aberto pela verdade que é a revelação acolhida na fé.
Ainda não é claro, neste momento, o que significa a “liberdade”, mas logo mais se poderá
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tirar a conclusão” (BEUTLER, 2016, p. 224). O Verbo encarnado, que veio para ser luz num
mundo de trevas, encarnou-se para se dar em obediência ao Pai. O Filho veio como enviado
do Pai para que todos se salvem. No entanto, a verdade a ser conhecida se deparou com
muitos sinais de escravidão e trevas no contexto da época, em relação à classe religiosa
judaica, que não aceitava Jesus como Filho de Deus. A legalidade extrema se tornou a
escravidão que está apegada ao tradicionalismo religioso judaico, sem obras de amor ao
próximo e que consistem no cumprimento de práticas religiosas que não fazem valer o amor
de Deus pelo gênero humano.
Não bastaram aos judeus terem crido em Jesus Cristo. Fica claro que esses “judeus que
passaram a crer não assumiram para si a nova realidade da comunidade cristã” (KONINGS,
2005, p. 186). Não permaneceram nas palavras de Jesus e, consequentemente, não se
tornaram seus discípulos. Assim, o leitor compreenderá que conhecer experiencialmente a
Jesus mudará a realidade de aprisionamento em conceitos herméticos para uma vida de
liberdade na pessoa do Filho, que age por seu Espírito Santo, aderindo à proposta de salvação
dada pelo Pai.
5. Intertextualidade
escatológico que Jesus inaugura. Assim, de forma pacífica, Jesus faz valer a vontade do Pai,
através de sua missão, que se manifestou em sua vida pública.
Nas cartas joaninas, a verdade é conhecida, no sentido semítico como: “que habita em
nós” (2Jo 1 – 2), como um princípio de vida moral: “caminhamos” (=vivemos) segundo suas
diretivas (3Jo 3 – 4), “fazendo a verdade” (3,21; 1Jo 1,6), agimos em conformidade com
aquilo que ela exige de nós. As primeiras testemunhas da tradição apostólica possuíam a
experiência fecunda com a fé em Cristo, que permaneciam firmes no seu seguimento.
Na enérgica carta aos gálatas, Paulo trata da liberdade para aqueles que não estavam
submetidos à Lei, mediante a filiação divina. Gl 4,1-11 apresenta a Lei de Moisés como
provisória. Como herdeiro das promessas de Deus, o judeu, estando sob o regime da Lei, não
passava de escravo (Gl 4,3). A encarnação do Filho de Deus, nascido sob a Lei, foi para
resgatar os que viviam também sob a Lei. Chegaram os tempos messiânicos, que levam a
termo a longa espera dos séculos. Mediante a plenitude desse novo tempo, todo aquele que
estava sob a Lei receberia a adoção filial e, sendo filhos, “enviou Deus aos nossos corações o
Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! De modo que já não és mais escravos, mas filho.
E se és filho, és também herdeiro, graças a Deus” (Gl 4,6-7). Todo aquele e aquela que acolhe
Jesus no coração não é mais escravo, submetendo-se a Lei, mas acolhendo a vida nova de
filho e filha de Deus, no Filho, e em plena liberdade, pelo dom do Espírito.
dessa intervenção: a entrada na terra prometida. Essa terra que mana leite e mel” (BERGANT;
KARRIS, 2014, p. 95).
Ao lado dessas tradições bíblicas, Beutler aponta para outras evidências que tiveram
influência no evangelho segundo João. O tema da liberdade em Jo 8 atraiu influências da
cultura indiana. As comunidades nas quais surgiu o quarto evangelho eram, na maioria,
compostas de judeus da diáspora de língua grega, no qual denominamos de “judeu-cristãos
helenistas”. No entanto, não se pode deixar de ressaltar a grande influência do helenismo
sobre os conceitos joaninos e paulinos de liberdade. Atesta-se que no “estoicismo alcança-se a
liberdade permitindo à razão examinar e descobrir as próprias raízes” (BEUTLER, 2016, p.
225). Para João, a liberdade está na abertura à palavra reveladora de Deus.