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01/11/2019

A literatura Patrística no tempo dos Concílios


Patrística 2
Prof. José Carlos de Souza

• Examinar os principais pensadores


cristãos na época dos primeiros concílios
da Igreja, reconhecidos como “doutores
da Igreja”, no contexto das profundas
transformações sociais então em curso;
• Avaliar a sua teologia, compreensão
eclesiológica, prática social e relevância
para a época atual.

• O efeito “Constantino”...
• Com o Edito de Milão (313), cristãos
gozam de liberdade religiosa e,
pouco a pouco, são favorecidos até
que o cristianismo seja reconhecido
como religião oficial pelo Império,
com Teodósio, em 380.
• Junto com o prestígio da Igreja,
também crescem a sua influência e
Imagem 1 poder.
(Constantino)

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• Muitos, como Eusébio de Cesareia, aprovam a


aliança com o Império e veem em
Constantino um libertador.
• Outros, como os donatistas, se
rebelam e fundam uma Igreja rival.
• Há quem ofereça uma resistência velada,
como os monges que se refugiam no deserto.
• Também há aqueles que buscam discernir os
perigos e oportunidades existentes. Imagem 2

PERÍODO DE GRANDES
CONTROVÉRSIAS TEOLÓGICAS
Natureza da igreja e sacramentos
Trindade
Pessoa e obra de Cristo
Pecado e graça

• NICEIA, 325  proclama a divindade de Cristo


em oposição às ideias de Ário, para quem
“houve um tempo em que o Filho não era”.
• CONSTANTINOPLA, 381  reafirma a fé na
Trindade, reafirmando a divindade do Espírito
Santo, negada pelos assim
chamados pneumatômacos.

Imagem 3

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• O dogma cristológico foi definido


nos Concílios de ÉFESO, 431, e de
CALCEDÔNIA, 451, rejeitando os
ensinos de Nestório e de Eutiques.
• Em Cristo, há duas naturezas unidas
em uma só pessoa, sendo ele
plenamente Deus e plenamente
humano.
• Esse contexto favorece o surgimento de
uma grande geração de escritores.

Época de ouro da patrística


CARACTERÍSTICAS COMUNS (baseado em Henri Marrou)
Pertencem à elite romana.
Provém de famílias cristãs.
Realizam estudos sólidos e prolongados.
Têm experiência de vida profissional fora da igreja.
Sentem forte atração pela vida religiosa.
Quase todos são eleitos bispos.
Tornaram-se grandes pregadores e escritores.
São reconhecidos como doutores pela Igreja.

ORIENTE OCIDENTE
• Efrém, o sírio (+ 373) • Hilário de Poitiers
• Atanásio (+ 373) (+ 367)
• Basílio Magno (+ 379) • Ambrósio (+ 397)
• Gregório de Nazianzo • Jerônimo (+ 420)
(+ 389) • Agostinho (+ 430)
• Gregório de Nissa (+ 395) • Leão Magno (+ 461)
• João Crisóstomo (+ 407) • Gregório Magno (+ 604)

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• Foi diácono e bispo em Alexandria.


• É o grande defensor da fé nicena,
sendo cinco vezes exilado por sua
firme oposição ao arianismo.
• Autor de várias obras como: Contra os Imagem 05
pagãos; A encarnação do Verbo; Apologia ao
Imperador Constâncio; Vida de Santo Antão.
• “Ele se fez homem para que fossemos
deificados [nos tornássemos como Deus”] (§
54).

Se Cristo não fosse exatamente a imagem


substancial do Pai, mas somente um ser
deificado, um deus por participação, não teria
nunca podido deificar ninguém; porque ele
mesmo seria apenas um ser divinizado. Quem
possui uma coisa emprestada, não pode, de fato,
participá-la aos outros, pois aquilo que possui
não é coisa sua, mas é propriedade do doador, e
a esmola, que recebeu, só serve para cobrir a
própria indigência e nudez" [ATANÁSIO. De
Synodis, § 51).

• De família abastada e piedosa, formou-


se em retórica nas melhores escolas de
seu tempo, mas abandonou a carreira
como professor para se dedicar à vida
religiosa e ao serviço da Igreja.
• Como bispo, sucedeu a Eusébio de Cesareia e
se destacou pelo cuidado com os pobres e
enfermos e pela ousadia frente ao poder
constituído.

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• Como teólogo, divulgou o ideal


monástico, defendeu a ortodoxia
nicena e a divindade do Espírito
Santo, valorizou a cultura grega sem
abrir mão da fidelidade às Escrituras
e renovou a liturgia.
• Obras importantes: Contra Eunômio;
Tratado sobre o Espírito Santo;
Regras Monásticas; Hexamerão;
Homilias; 365 cartas; etc.

Para ele voltam-se todos os que anseiam pela


santificação, para ele se dirigem os anelos dos que
vivem segundo a virtude, quantos recebem o
refrigério de seu sopro, e são amparados para
alcançar o fim adequado à sua natureza. Aperfeiçoa
os outros, enquanto ele mesmo de nada carece
(BASÍLIO MAGNO. Tratado sobre o Espírito Santo, § 22).
Quanto mais abundante é a tua riqueza, mais
deficiente é a tua caridade (...) Conheço muitos que
jejuam, oram, gemem, praticam todas as obras
piedosas que não prejudiquem seus bolsos e que, ao
mesmo tempo, nada dão aos infelizes (Homilia VII, §
3).

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• Natural de Antioquia, foi criado pela


mãe, Antusa, uma cristã piedosa e
recebe uma formação primorosa, junto
de Libório, um mestre pagão.
• Batizado aos 18 anos, se refugia como
eremita nas montanhas da Síria, mas
retorna à cidade, preocupado com a
“salvação dos irmãos”.
• Ordenado diácono (381) e presbítero (386),
vive 12 anos de feliz experiência pastoral,
reconhecido como grande pregador.

• Designado Patriarca de Constantinopla


contra a sua vontade (398), mantém a
sua coerência profética.
• Condena resquícios pagãos, abusos
políticos e a indolência do clero.
• Toma a defesa dos pobres e denuncia
os pecados da elite e o consumismo dos ricos.
• Entra em choque com o poder, é exilado, mas
retorna (404) só para sofrer novo exílio e
morrer em 407: “Tudo pela glória de Deus”!

• SERMÕES EXEGÉTICOS  Homilias sobre


Mateus (90); sobre Gênesis;
Comentários às Cartas de Paulo.
• SERMÕES CIRCUNSTANCIAIS  Sermões
para Festas Litúrgicas; Homilias sobre
Imagem 10 as estátuas; Da incompreensibilidade
de Deus.
• TRATADOS  O Sacerdócio; Catequeses
Batismais; Da Providência de Deus.
• CARTAS (236, ao todo)  Cartas a Olímpia.

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“Você vem agradecer os dons que recebeu?


Então dê você também! Não se afaste de
seu próximo! O quê? Você faz memória de
Cristo e despreza o pobre! E não fica
horrorizado!” (João Crisóstomo, Homília
sobre 1ª Carta os Coríntios, 24, 27).

“Vale muito mais nutrir a Cristo, que tem


fome, do que ressuscitar os mortos em
nome de Jesus...” (In: COLA, 1984, p. 80).

• Nasce em Tréveris, na atual


Alemanha, e se dedica aos estudos
clássicos e jurídicos.
• Em 374, torna-se governador no
Norte da Itália, mas, ao apaziguar
uma disputa por ocasião da eleição
episcopal, é aclamado bispo e, em
oito dias, é batizado e consagrado.
• Revela grande sensibilidade social.

• Resiste ao arianos, apoiados por


Justina, mãe do imperador.
• Em 390, excomunga Teodósio por
causa de massacre em Tessalônica,
exigindo-lhe manifestação pública
de arrependimento.
• Como Cristo, “não procurou a
sociedade dos cultos, mas o povo
simples”. Imagem 12

• Revelou grande zelo missionário.

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• Exegéticas  “Examerão” –
Sermões – Comentários
• Dogmáticas  Do Espírito Santo –
Sobre a Fé para Graciano – Sobre
a Penitência
• Catequéticas  Sobre os
Sacramentos – Sobre os Mistérios
– Explicação dos Símbolos
• Morais e ascéticas  De Officiis
Ministrorum – Da virgindade
Imagem 13 • Discursos, 91 Cartas & cânticos
litúrgicos

“Sim, é melhor ser criticado e invejado por ter


feito o bem do que por ter praticado atos de
inclemência. É exatamente o que nos
aconteceu: atraímos o ódio dos arianos por
termos vendido os vasos sagrados para
resgatar os escravos. [...] Contudo, é melhor
sermos amigos de Deus do que conservar o
ouro do templo. Aquele que enviou os
Apóstolos sem ouro, fundou as Igrejas sem
ouro. Se a Igreja possui tesouros, não é para
conservá-los, mas para dá-los a quem tem
necessidade” (De officiis II, 28. In COLA, 1984,
p. 90).

• Natural da Dalmácia, educa-se em


Aquileia e Roma, onde absorve as
“letras clássicas” e se entrega à
diversão, mas também é batizado.
• Segue para a Gália, onde pretende
seguir a carreira política, porém se
dedica aos estudos bíblicos.
• Estuda o hebraico e o grego e vive
como eremita no deserto sob
intensos conflitos interiores.
• É ordenado presbítero, sem deixar a Imagem 14
vocação monástica.

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• Está em Constantinopla durante o Concílio,


mas segue para Roma, em 382, se torna
secretário do Bispo Dâmaso, e inicia a
tradução da Bíblia para o latim.
• Recebe muitas críticas, como a de
atrair mulheres para a vida religiosa, e
decide abandonar a Babilônia romana.
• Viaja pelo Oriente (385) e funda vários
mosteiros em Belém . Imagem 15
• Agostinho desaprova a tradução da Bíblia
mas ambos acabam se reconciliando.
• Antes de morrer, ocorre a queda de Roma.

Tradução da Bíblia  • “Como autor, São


Vulgata Jerônimo é receptivo,
analítico, não é
Comentários Bíblicos criador” (Huber).
e sermões
• O seu temperamento
Escritos ascéticos difícil, em geral, é
destacado, sem pôr
Obras polêmicas em dúvida o seu
Obras históricas amor à Bíblia e à
igreja.
Cartas (120) • Exalta o ideal
monástico.

“Como o corpo morre se não se alimenta,


assim também o coração: se não se alimenta
no Espírito, acaba por morrer. Alguns chegam
a dizer: Eu não tenho necessidade da Sagrada
Escritura. Temer a Deus me basta. É para estes
que é preciso dizer: assim como há alimentos
para o corpo, há também para o coração. São
as Sagradas Escrituras. Tenhamos fome do
Cristo e Ele nos dará o pão do céu. O pão do
Cristo e sua carne são a Palavra de Deus e seu
ensinamento. Leiamos as Santas Escrituras!”
(Comentário ao Eclesiastes).

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Agostinho (354-430)
Imagem 16

• Nasce em Tagaste, na Numídia,


norte da África, hoje Argélia.
• Figura complexa.
• Estuda em Tagaste, Madaura
(365) e Cartago (371), onde se
une à mulher, com quem
convive por 14 anos, a mãe de
Adeodato, seu filho (372).
• Lê Hortensius, de Cícero, que o Imagem 17
leva à busca da verdade.

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• Decepciona-se com a mensagem bíblica.


• Atração e frustração pelo maniqueísmo.
• Vive uma fase cética.
• 383-4  Segue para Roma e, por fim, Milão,
onde é nomeado professor de retórica e
ouve, com interesse, o Bispo Ambrósio.
• Separado de sua companheira, sua crise
pessoal chega ao clímax.
• O neoplatonismo lhe abre à fé, assim como
Imagem 18
o exemplo dos eremitas.
• Conversão no Jardim de Milão em 386.

• Recebe o batismo em 387.


• Morte de Mônica, sua mãe.
• Retorna a Tagaste (388), onde
vive monasticamente.
• Morte de Adeotado em 389.
• É ordenado presbítero em 391.
• Em 395, torna-se bispo auxiliar
e, logo, substitui Valério (396).
• Até 430, dedica-se à tarefa
pastoral sem se descuidar da
reflexão teológica.

Autobiográficas • Confissões
• A vida feliz
Filosóficas
• A Trindade
Dogmáticas • Comentário aos Salmos
Sermões e comentários • A Doutrina Cristã
• Contra os maniqueus,
Polêmicas donatistas e pelagianos
Apologéticas • A Cidade de Deus
Pastorais e Morais • A instrução dos
catecúmenos
Cartas (225) • O cuidado aos mortos

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É comum distinguir três fases no desenvolvimento


de sua teologia, nas quais ele se opôs:

(1) ao MANIQUEÍSMO 
Livre-Arbítrio e Origem do mal

(2) ao DONATISMO 
Eclesiologia e Sacramentos

(3) ao PELAGIANISMO 
Antropologia e soteriologia
Imagem 20

Deus quer um culto desinteressado, um amor gratuito,


isto é, puro. Não quer ser amado porque dá alguma
coisa, mas porque dá a si próprio. Quem invoca a Deus
para tomar-se rico não invoca a Deus, mas, sim, aquilo
que deseja para si. De fato, o que significa invocar,
senão chamar para si? [...] Quando você diz: “Deus,
dai-me riquezas”, você não pede que Deus venha até
você, mas sim que as riquezas venham até você.
Se você invocasse a Deus, Ele viria e seria a sua
riqueza. Mas você, na realidade, prefere ter o cofre
cheio e a consciência vazia. Deus preenche os
corações, não os cofres. De que lhe servem as riquezas
exteriores, se o que o move internamente é a miséria?
(Agostinho. In: Comentários aos Salmos, 52,8).

• Textos escritos por mulheres


• Peregrinação de Etéria (final do século 4)
• Ditos das Mães do Deserto [Sinclética, Sarah etc.]
• Textos sobre as mães da Igreja
• Atas de Martírio de Perpétua e Felicidade
• A Vida de Macrina. de Gregório de Nissa
• A Vida de Melânia, de Gerôncio
• A Vida de Olímpia, de João Crisóstomo
• A vida de Maria Egipcíaca, Anônimo
• Mulheres como interlocutoras dos Pais
• Paula; Eustóquia e Marcela [Jerônimo]
• Proba e Juliana [Agostinho]

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No começo, os que se aproximam de Deus


lutam muito e se cansam. Em seguida, eles
conhecem uma alegria que não se pode
descrever. Com efeito, aqueles que desejam
acender o fogo, primeiro experimentam a
fumaça e choram. Por este meio conseguem
o que procuram. Com efeito, lê-se na Bíblia:
Nosso Deus é um fogo abrasador (Hb 12.29).
Da mesma forma, devemos, também,
acender em nós o fogo de Deus com lágrimas
e sacrifícios. (Ditos dos pais e mães do
deserto).

• À medida que caminhamos pelo


mundo da Patrística, somos
surpreendidos com novas descobertas,
conhecemos membros da família cuja
existência ignorávamos, reatamos elos
de comunhão que se perderam com o
tempo e, acima de tudo,
reconhecemos a presença do Senhor
da história.

• ALTANER, Berthold & STUIBER, Alfred. Patrologia.


Vida, Obras e Doutrina dos Padres
da Igreja. São Paulo: Paulus, 2004.
• Coleção Patrística. São Paulo: Paulus, 1995-
2018, volumes 5-19, 21-29, 31, 32, 36, 39-42.
• DANIÉLOU, Jean; MORROU, Henri. Nova História da
Igreja I: Dos primórdios a São Gregório Magno.
Petrópolis: Vozes, 1973.
• HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais
da Igreja. Viçosa: Ultimato, 2007.

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• HAMMAN, Adalbert-G. Para ler os Pais da Igreja. São


Paulo: Paulus, 2002.
• KELLY, J. N. D. Patrística: origem e
desenvolvimento das doutrinas centrais da
fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009.
• MORESCHINI, Claudio; NORELLI, Enrico.
História da Literatura Cristã Antiga Grega e
Latina II: do Concílio de Niceia ao início da
Idade Média. São Paulo: Loyola, 2000, 2 tomos.
• REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: patrística
e escolástica. São Paulo: Paulus, 2005, v. 2.

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AS DEMAIS IMAGENS SÃO ORIGINÁRIAS DO BANCO DE DADOS

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Bons Estudos!

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