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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO CCPI
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS HUMANAS

Erik Bruno Monteiro Costa

Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi

REGISTROS PAROQUIAIS DE CASAMENTO E AS REDES DE RELAÇÕES EM


ALCÂNTARA (1827-1868)

São Luís
2022

1
Informações do bolsista
Nome: Erik Bruno Monteiro Costa
Telefone: (98) 984656564
E-mail: erik.bruno@discente.ufma.br

Informações da Instituição/Departamento
Nome: UFMA/CCPI/Curso de Licenciatura em Ciências Humanas
Endereço: Estrada Pinheiro/Pacas, Km 10, s/n, Enseada. Pinheiro-MA. CEP: 65200-
000
Telefone: 3272-9780
E-mail: diretoria.campuspinheiro@ufma.br

Informações do(a) professor(a) orientador(a)


Nome: Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi
Telefone: (98) 9 87096981
E-mail: ítalo.santirocchi@ufma.br

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo compartilhar os resultados de um ano da


pesquisa Registros paroquiais de casamento e as redes de relações em Alcântara
(1827-1868), oriunda do projeto de pesquisa POLÍTICAS PÚBLICAS NA
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO DOCUMENTAL DE ALCÂNTARA:
GOVERNANÇA, HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA. A proposta da pesquisa partiu
da necessidade de se realizar levantamentos dos registros paroquiais presentes na
Cúria Diocesana do município de Pinheiro-MA, visto o potencial para estudos e
pesquisas locais da História oitentista da Baixada e Reentrâncias Maranhenses.
Desse modo, a pesquisa foi alicerçada em leitura bibliográfica, mais especificamente,
em História social, História Eclesiástica, Micro-História e História Demográfica,
designadas no plano de trabalho. Isto posto, a metodologia se deu pela análise
quantitativa, qualitativa e serial das fontes primárias, no caso em especial deste plano
de trabalho: os registros de casamento de um assento paroquial da Freguesia de
Santo Antônio e Almas em Alcântara de 1827 a 1868. Vale salientar que essa análise
é uma continuidade de trabalhos anteriores que visam conservar tais informações,
inserindo-as em planilhas Excel para compor um banco de dados que viabilize a
reconstituição de uma dada sociedade por meio do cruzamento dos dados obtidos.
Por fim, houveram outras atividades realizadas em parceria com outros bolsistas e
que potencializaram os resultados desta pesquisa, como a digitalização e preservação
de outros documentos e a produção de um podcast que venceu o concurso de mídias
digitais em evento internacional produzido pela ANPUH e SEO.

Palavras-chave: Registros paroquiais. Casamento. Rede de relações.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................5
2 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................7
3 OBJETIVOS..............................................................................................................9
3.1 Objetivo Geral........................................................................................................9
3.2 Objetivos Específicos.............................................................................................9
4 METODOLOGIA.....................................................................................................10
5 RESULTADOS........................................................................................................12
6 CONCLUSÕES.......................................................................................................17
REFERÊNCIAS..........................................................................................................18

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1 INTRODUÇÃO

O projeto intitulado Registros paroquiais de casamento e as redes de relações


em Alcântara (1827-1868), aprovado pelo edital AGEUFMA 26/2021, é parte
integrante do projeto de pesquisa POLÍTICAS PÚBLICAS NA PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO DOCUMENTAL DE ALCÂNTARA: GOVERNANÇA, HISTÓRIA,
MEMÓRIA E CULTURA, coordenado pelo Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi.
Dessa forma, o relatório tem por objetivo apresentar os resultados do referido
projeto, que ocorreu entre setembro de 2021 a agosto de 2022, sob a orientação do
já mencionado professor. Tendo como objeto de análise o livro de registros de
casamentos da cidade de Alcântara, oriundo da Freguesia de Santo Antônio e Almas,
entre os anos 1827 a 1868 (quando Alcântara possuía status de vila), período que é
englobado pela História do Brasil Imperial.
Esse período é marcado por grandes acontecimentos na História brasileira,
como a chegada da corte no país (1808), a da Independência (1822), promulgação da
1ª Constituição do Brasil (1824), guerra do Paraguai (1864- 1870); a instalação da Lei
Áurea (1888) e a Proclamação da República (1889), por exemplo.
Sobre os registros de casamento, conforme Fragoso (2014), são uma fonte de
pesquisa pouco explorada, pelo menos em estudos relacionados à História Social,
para compreender sociedades semelhantes a presente no Brasil no século XIX,
fortemente marcadas pela doutrina católica.
De acordo com Marcílio (2004), esses registros surgem em meados do século
XVI, dado a reação a movimentos reformistas que causaram grande evasão de fiéis
na Igreja Católica em algumas partes da Europa. Assim, aflora a necessidade de uma
manobra da Contrarreforma para pensar num instrumento que possibilitasse distinguir
e controlar os adeptos do catolicismo. Dessa forma, surge a ideia de registros
individuais para cada católico. Tal proposta foi desenvolvida, debatida e sancionada
em longas seções no Concilio de Trento (1545-1563), onde ficou estabelecido que
cada padre seria responsável por preencher os registros de batismo e matrimoniais
de seus membros (os registros de óbito surgem pouco depois do Concílio de Trento).
Esses registros, pelo menos em princípio, possuiriam uma estrutura universal
e igualitária para todos os católicos. Assim, no que diz respeito aos registros
matrimoniais,

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O casamento, salvo casos excepcionais, deveria ser realizado
na Igreja e na presença do sacerdote. O registro do ato,
também feito em livro especial, deveria conter: a data do
casamento, o nome de cada cônjuge e sua filiação, residência,
naturalidade, além dos nomes dos padrinhos, com suas
residências e naturalidades e a assinatura do sacerdote
(MARCÍLIO, 2004, p. 14).

Com o passar do tempo e com a universalização dos registros paroquiais em


todas as sociedades católicas, incluindo o Brasil, tais documentações foram se
aperfeiçoando e enriquecendo, à medida que novas informações eram acrescentadas
e eventuais demandas iriam surgindo na estrutura dos registros, não importando sua
classe social, raça ou gênero:

Pobres e ricos, plebeus e nobres, brancos, negros e índios,


homens e mulheres, todos sem exceção, quando batizados,
casados ou falecidos tinham esses fatos vitais registrados em
livros especiais, que eram conservados pela Igreja
(MARCÍLIO, 2004, p.15).

Dessa maneira, podemos constatar a riqueza de informações que tais registros


apresentam, que são de suma importância para se pensar a constituição histórico-
social e cultural das populações católicas, visto que eles capturavam momentos vitais
da existência de seus membros, isto é, o nascimento, o casamento e a morte.
Isto posto, é válido pontuar as etapas do trabalho desenvolvido que se deram
na seguinte ordem: leitura bibliográfica; digitalização de registros paroquiais do século
XIX na diocese de Pinheiro, para fins de preservação de tais documentações; análise
e inserção das informações do livro de casamento de Alcântara (1827-1868) em um
banco de dados; além de outras atividades externas que surgiram, mas que se
relacionam com o projeto.
Tal livro que se encontra na Diocese de Pinheiro-MA, embora fortemente
degradado pelo tempo e pelos maus cuidados, ainda é uma importante ferramenta de
fonte histórica. Por isso, nosso objetivo é, através da análise documental,
compreender aspectos da rede de relações que se davam em Alcântara naquele
período, e assim, contribuir de forma significativa para os estudos acerca da História
Social no Maranhão.

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2 JUSTIFICATIVA

De acordo com Fragoso (2014) os registros paroquiais (batismos, casamentos,


óbitos), elaborados pela Igreja católica, são de suma importância para a compreensão
das relações sociais e das dinâmicas demográficas de determinado período, visto que
para além da função de comprovar e reafirmar o relacionamento entre os cônjuges;
catalogar dados sobre falecidos, etc., tais documentos acabam por registrar vários
aspectos vitais de dada comunidade fortemente vinculada ao catolicismo.

Por meio do manuseio dos registros paroquias é possível


recuperar a História Social de uma população e de seus
grupos. Isso por um simples motivo, tais fontes capturavam as
opções dos católicos, ou de quase todos, que constituíam a
dita população católica em momentos decisivos de suas vidas
(FRAGOSO, 2014, p.25).

Por conseguinte, conforme consta na Constituição Brasileira de 1824, o Brasil


Imperial (1822–1889) era um território oficialmente católico, com o reconhecimento
dos membros da igreja como funcionários públicos (KLANOVICZ, 2011). Assim,
política e religião se cruzavam de forma mútua, refletindo nas funções das paróquias
nessa sociedade brasileira:
Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a
ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão
permittidas com seu culto domestico, ou particular em casas
para isso destinadas, sem fórma alguma exterior de
Templo.(KLANOVICZ, 2011 apud BRASIL, 1824).

Dessa forma, o livro matrimonial em questão possui documentações de 1827 a


1868, ou seja, está inserido no contexto histórico do Brasil Imperial, época na qual a
sociedade brasileira era majoritariamente católica e patriarcal.
No que diz respeito à questão patriarcal, é digno de nota pontuar que a
sociedade brasileira tanto no período Colonial como Imperial, foi constituída a partir
da chamada família patriarcal, isto é, o homem, chefe da família, sendo o principal (ou
único, na maioria dos casos) responsável por administrar as dinâmicas e
necessidades da família.
Contudo, na prática, esse sistema patriarcal foi fortemente influenciado pelas
várias culturas que se encontravam no país durante o processo colonizador, como as
indígenas, as europeias e as africanas. Essa troca de influências e relações resultou
numa variedade de famílias tradicionais e não tradicionais por todo o Brasil, com

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destaque para o Maranhão Colonial. Nessa perspectiva, todas essas relações
interétnicas ou não, nas sociedades com certa influência católica, eram legitimadas
graças as cerimônias de casamento (MONCORVO, 2008) que por sua vez, eram
registradas pelos documentos matrimoniais.
Além disso, as famílias daquela época se configuravam em redes de relações
que eram dadas a partir do matrimônio entre pessoas do mesmo nicho
socioeconômico, pensando na possibilidade de ascensão social em casos de
casamentos entre indivíduos com distintos status sociais. Cabendo ressaltar também,
uma rede de proteção, no que se refere ao amparo de famílias advindas de
concubinatos, isto é, quando o patriarca que tinha outra família ilegítima deixava-a aos
cuidados de outrem, enquanto cuidava da sua Família legítima (SANTIROCCHI,
2012).
Atrelado a tudo isso, nota-se uma carência da propagação de conhecimento a
respeito da História maranhense ao longo do século XIX. Nesse sentido, o projeto
também se justifica ao tornar os registros paroquiais principais fontes da potencial
“reconstituição” da sociedade oitentista de Alcântara, através do cruzamento de dados
encontrados nos manuscritos eclesiásticos com outras fontes do referido período.
Assim, esses assentos de casamento designam variados tipos de conexões
interpessoais, a saber: políticas, religiosas, econômicas e etc.
Dessa forma, a compressão de todos esses fatores típicos de sociedades
brasileiras do oitocentos, nesse caso, maranhense, é fundamental para se pensar
tanto as dinâmicas paroquiais quanto a função social de seus registros (sem perder
de vista o valor religioso que tudo isso representa), no sentido de desenvolver
reflexões pertinentes à História Social do Brasil/Maranhão/Baixada
Maranhense/Alcântara naquele período.
Para tanto, a presente pesquisa realizada para cumprir o plano de trabalho do
PIBIC 2021-22, buscou analisar as relações sociais definidas por vínculos
matrimoniais, dando ênfase na filiação dos noivos e o sistema de proteção que
realizam inferências sobre eles dentro da sociedade alcantarense, e comparando com
pesquisas passadas para consolidar e reafirmar os fatos analisados. A posteriori,
essas informações foram submetidas na planilha de Excel do projeto para fins de
conservação desses dados importantes para futuras pesquisas, como estudos
demográficos, por exemplo (FRAGOSO, 2014).

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral


O objetivo geral é expor os resultados da pesquisa desenvolvida por meio do Plano e
Trabalho intitulado Registros paroquiais de casamento e as redes de relações em
Alcântara (1827-1868), ligado ao Projeto de pesquisa POLÍTICAS PÚBLICAS NA
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO DOCUMENTAL DE ALCÂNTARA: GESTÃO,
GOVERNANÇA, HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA.

3.2 Objetivos Específicos


1) Fazer leitura bibliográfica geral sobre pesquisa histórica por meio de registros de
casamento;
2) Inserção das informações do livro de casamento de Alcântara (1827-1868) em um
banco de dados;
3) Analisar os dados levantados e comparar com pesquisas passadas.
4) Desenvolver atividades extras sobre o Brasil oitentista, em conjunto com os outros
membros do grupo de pesquisa para fins de divulgação.
5) Elaboração do relatório final.

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4 METODOLOGIA

As fontes analisadas para a pesquisa foram registros paroquiais de Alcântara


do século XIX, principalmente da freguesia de Santo Antônio e Almas, referente aos
anos de 1827 a 1868, que se encontravam sob domínio da Igreja Católica, na sede
da Diocese na cidade de Pinheiro-MA.
O livro de casamento em questão, contém cerca de 200 páginas com boa
parcela delas completamente ou parcialmente ilegíveis por conta da danificação. Cada
página possui em média três registros de casamento.
A metodologia, portanto, se deu a partir de uma análise bibliográfica e
documental, sendo a primeira referindo-se a obras que serviram de base para a
fundamentação teórica, e a segundo para a análise dos documentos matrimoniais.
Posteriormente, a pesquisa seguiu uma perspectiva quantitativa, qualitativa, serial das
fontes primárias de tais registros e método nominal, esse último vem guiando a
elaboração do banco de dados e o cruzamento das fontes. Assim, essa metodologia
possibilita “povoar” a vila de Alcântara oitentista. Tudo isso é englobado pelas técnicas
e metodologias ligadas à História Social e a análise de trajetórias de vida, propostas
pelos estudos da Micro História.
No que se refere à espécie de fonte, qual seja, os documentos paroquiais
(batismo, matrimonial, óbito), é digno de nota pontuar que eles passam por um
processo manual de transcrição de informações que comporão a base de dados
específicas de cada tipo de documento numa planilha no Excel, seguindo o modelo
semelhante ao do professor Dr. Roberto Ferreira Guedes, da UFRRJ. A ideia é que
se monte uma rica fonte de banco de dados, que poderão ser usados para diversas
pesquisas futuras e cruzadas com outros tipos de fontes, como, por exemplo, aqueles
presentes na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Ao ser inseridos no banco de dados, essas informações são cruzadas, com o
objetivo de elaborar um mapeamento demográfico da Baixada e Reentrâncias
Maranhenses, além de sistematizar as redes de relações presentes nos laços
matrimoniais.
Em termos de Fragoso (2014), a medida em que o espaço pesquisado for
sendo “povoado”, algumas famílias ou personagens de diferentes seguimentos sociais
serão selecionados para que se possa entender as dinâmicas típicas de uma
sociedade escravista, colonial e imperial.

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Para isso, os livros de registros são analisados, escaneados e transcritos
individualmente; inteiro ou de forma parcial, dependendo do seu tamanho e/ou de seu
grau de conservação, visto que alguns desses livros estão em alguma medida
danificados pelo tempo. Após isso, essas informações além de irem a planilha Excel
para compor o banco de dados, vão também para outras tabelas destinadas a análises
reduzidas, criadas de acordo com a necessidade de cada bolsista/voluntário em
relação ao seu eixo temático específico.

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5 RESULTADO

Os principais resultados deste projeto foram as informações matrimoniais


contidas no livro de casamento da Freguesia de Santo Antônio e Almas, na Vila de
Alcântara, entre os anos de 1827 e 1868, que contava com cerca de 200 páginas,
entretanto, algumas estavam em estado de degradação que impediam a leitura. Esse
livro, num projeto de pesquisa passado, já fora escaneado e tivera 128 registros
transcritos e registrados na planilha Excel. Portanto, a primeira fase deste trabalho se
constituiu em seguir com as transcrições e registrar na planilha (tabela 1).

Tabela 1 – Planilha Excel dos dados matrimoniais.

Fonte: Arquivos de pesquisa.

O casamento é uma cerimônia civil/religiosa de suma importância para a Igreja


Católica, pois representa a união de duas pessoas para composição de uma Família.
Além disso, o casamento também possuía uma função social no sentido de ascender
algumas famílias à status mais elevados ou manter tal status. Essas estratégias
embora sejam típicas das famílias das elites, eram exercidas por várias outras classes
socais, desde os escravos até os trabalhadores livres. Portanto, o próximo passo foi
entender como funciona essa dinâmica através das filiações.

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Em pesquisas passadas e atreladas a este projeto, foram montadas tabelas
com um recorte de 90 registros, dando ênfase nas filiações. Dessa forma, com o intuito
de atualizar os resultados, foram acrescentados mais 50 dados, contabilizando 140
registros. Abaixo pode-se notar as tabelas 1 e 2 com a distribuição quantitativa dos
filhos legítimos, naturais ou os casos onde não há referência ou estão ilegíveis.

Tabela 1: Livro de Casamento (1827-1868) – Freguesia de Santo Antônio e Almas/ Alcântara.

Filiação dos NOIVOS QUANTIDADE


Legítimo 82
Natural 35
Sem referência 18
Ilegível 07

Tabela 2: Livro de Casamento (1827-1868) – Freguesia de Santo Antônio e Almas/ Alcântara.


Filiação das NOIVAS QUANTIDADE

Legítimo 73

Natural 39

Sem referência 19

Ilegível 06

Com esses dados, podemos constatar variadas questões acerca da referida


freguesia, como: na grande maioria das vezes, as relações matrimoniais eram entre
pessoas com filiação análoga. Já os cônjuges sem filiação referenciada, são,
geralmente, registros de casamentos de pessoas escravizadas e forras, mantendo
relações com pessoas de sua classe social. Situação semelhante ocorre nos casos
com pessoas oriundas de uniões extraconjugais, concubinatos, nomeados de filhos
naturais, que se relacionam com outros da mesma posição social. Exceto algumas
poucas situações onde se haviam laços matrimoniais entre legítimos e naturais.
Desse modo, visto a hierarquia social típica do período Imperial, podemos
observar relações matrimoniais dadas a partir de interesses diversos, reduzindo
grupos ao mesmo nicho para manter status sociais e/ou negociar bens. Portanto,
abaixo reconstruiremos um grupo familiar, afim de analisar tais hipóteses.

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Observe a transcrição dos registro de casamento dos cônjuges Francisco
Marianno Pereira d’Abreu e Maria da Soledade Alves de Gosmão:
Aos oito dias do mês de junho de mil oitocentos e quarenta e oito, de
manhã, na Capela de Santa Anna que serve interinamente de Mathris,
nesta freguesia de Santo e Almas, feitas as denunciações na forma do
Sagrado Concílio Tridentino nesta Igreja onde os Contratantes são
naturais e Parochiannos, tendo sentença da Comarca Eclesiástica que
me foi apresentada, e fica em meu puder, em presença de mim
Saturnino Alexandrino Alves de Mello, Vigário Collado desta Igreja, e
sendo testemunhas presentes Francisco Marianno Pereira d’Abreu,
Manoel Caetano Pereira d’Abreu, Senhorinha Rosa Ferreira e Maria
Joaquina Pereira, fregueses conhecidos, se casarão em fau da Igreja,
Solenemente por palavras Francisco Marianno Pereira d’Abreu,
filho legítimo de Pedro Alexandre Pereira d’Abreu e Ana Balbina
Ferreira com Maria da Soledade Alves de Gosmão, filha legítima
de Demetrio Dias Alves de Gosmão e Gregoria da Conceição
Ferreira, ambos já falecidos, e os Contratuentes fregueses desta
Parochia [...] (1827-1868), flv.260) (Grifos nossos).

Agora, observe a transcrição dos registro de casamento dos cônjuges Augusto


Marianno Alves de Gosmão e Generoza Senhorinha Pereira d’Abreu:

No mesmo dia, mês, ano e lugar feitas as denunciações no Sagrado


Concílio Tridentino, nesta Igreja onde os Contratuentes são naturais e
Parochiannos, tendo sentença da Comarca Eclesiástica que me
apresentarão e que fica em meu puder, em presença de mim Saturnino
Alexandrino Alves de Mello, Vigário Collado desta Igreja e sendo
presentes por testemunhas Francisco Marianno Pereira d’Abreu,
Manoel Caetano Pereira d’Abreu, Senhorinha Francisca Ferreira e
Maria Joaquina Pereira, fregueses conhecidos na fau da Igreja
Solenemente por palavras Augusto Marianno Alves de Gosmão,
filho Legítimo de Demetrio Dias Alves de Gosmão e Gregoria da
Conceição Ferreira, já falecidos, com Generoza Senhorinha Pereira
d’Abreu, filha legítima de Pedro Alexandre Pereira d’Abreu e Anna
Balbina Ferreira, todos fregueses desta Parochia [...]. (1827-1868),
flv.260-61) (Grifos nossos).

É válido apontar que ambos os casamentos, que ocorreram no mesmo dia e


lugar, se tratam da rede de relações de duas famílias: o noivo do primeiro casamento
é irmão da noiva do segundo, bem como a noiva do primeiro é irmã do noivo do
segundo. Outrossim, levando em consideração a semelhança dos cônjuges e seus
familiares com o sobrenome das testemunhas, podemos concluir que todos os
envolvidos que aparecem nos registros (com exceção do Vigário) são parentes.
No que diz respeito as figuras dos pais dos noivos, de ambos os casamentos,
podemos observar que seus filhos são legítimos. Em outras palavras, para os padrões
da época, isso evidencia que as relações estabelecidas entre as famílias estavam
demasiadamente alicerçadas em aspectos morais e sociais. Além disso, juntas, as
famílias referenciadas formaram uma rede de relações centradas entre si, pois os

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vínculos familiares foram mantidos entre parentes próximos e/ou agregados da
mesma classe social.
Outro ponto digno de nota pertinente à sociedade em análise, são os títulos ou
ocupações das pessoas influentes daquele período. Nos registros pode-se constatar
alguns deles que aparecem, sobretudo, nas figuras das testemunhas dos casamentos.

Tabela 3: Livro de Casamento (1827-1868) – Freguesia de Santo Antônio e Almas/ Alcântara.


Titulações ou Ocupações das QUANTIDADE
TESTEMUNHAS

Tenente 04
Major 04
Donas 06
Capitão 09

Alferes 12

É válido ressaltar que esses números não representam o quantitativo de


pessoas com essas titulações na paróquia, visto que é provável que muitas dessas
pessoas não chegaram a habitar juntas no mesmo período, já que o recorte do livro é
de 1827 a 1868. Além disso, qualquer pessoa com titulação importante ou não,
poderia ser testemunha de mais de um casamento. Assim, o fato de ter sido
encontrado 12 alferes, 4 majores, 4 tenente, etc., não significa que haviam esse
número exato na paróquia. Entretanto, esses números evidenciam o grau de
importância que tais pessoas tinham naquela sociedade.
Embora o quantitativo nas tabelas acima aparenta números baixos, a Freguesia
de Santo Antônio e Almas dos Campos, conforme pesquisas anteriores, era uma
paróquia relativamente pequena, com poucos habitantes no período que o livro de
casamento compreende, daí a baixa densidade populacional denunciada pelos
registros em análise.
Outros informes importantes para compreender aquela sociedade, foram a
baixa presença de pessoas escravizadas registradas nos documentos, sendo 4
escravos e 5 forros. Esse fenômeno pode ser explicado por Almeida (2006), que
menciona aquela região como um espaço voltado para a produção de gado, por isso,
exigindo uma menor demanda de escravos.

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Faz-se mister salientar também que houveram outras atividades em parceria
com os demais membros de outros projetos que englobam o grupo de pesquisa, uma
de caráter voluntário e outra para fins de divulgação.
A primeira ocorreu na Diocese de Pinheiro, onde se encontram setenta e nove
livros distribuídos entre assentos de óbitos, batismos, e casamentos – cinquenta e três
de batismo, treze de óbitos e treze de casamento. Embora a grande quantidade de
registros que correspondem aos séculos XVIII e XIX (ou seja, em torno de 200 anos
de documentos acumulados), uma boa parcela desses assentos se encontram em
condições deterioradas, tornando inviável seu manuseio sem causar grandes
danificações. Assim, o nosso alvo foram aqueles outros documentos que ainda se
encontram conservados, visto que o grau de conversação interfere demasiadamente
no processo de transcrição.
Dessa forma, escaneamos cerca de cinquenta registros paroquiais de várias
cidades maranhenses como Pinheiro, Alcântara, Guimarães, Cururupu, São Bento e
Santa Helena, e posteriormente salvamos as imagens na plataforma do Google Drive,
além de embalar o material – os documentos mais danificados que não puderam ser
digitalizados foram apenas embalados. Todo esse processo foi realizado com o intuito
de preservar tais documentações de grande importância histórica, visto seus
potenciais para fornecer dados para inúmeras propostas de pesquisa.
A segunda atividade se deu com a elaboração do podcast intitulado “Um Bispo
Contra o Império: D. Frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré”, de roteiro da bolsista
Maria de Fátima Cabral e do professor orientador deste projeto, Dr. Ítalo Domingos
Santirocchi, e também contou com a participação de renomados professores
pesquisadores desse assunto, a saber, o Dr. Roni César Andrade de Araújo e o Dr.
Marcelo Cheche.
Dessa maneira, o podcast pretendeu apresentar a polêmica figura D. Frei
Joaquim de Nazaré, bispo da diocese e presidente da Junta Governativa do
Maranhão. Durante o contexto da Independência do Brasil, ele esteve à frente do
movimento que se manteve fiel às Cortes de Lisboa e que não se submeteu a
autoridade de D. Pedro I.
É válido destacar que tal podcast concorreu e conquistou em primeiro lugar o
concurso de mídias digitais do Congresso Internacional Independências do Brasil,
realizado pela Associação Nacional de História (ANPUH), pela Sociedade Brasileira
de Estudos do Oitocentos (SEO) e pelo Portal do Bicentenário.

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6 CONCLUSÃO.

Conforme o desenvolvimento desta pesquisa, observou-se o quanto os


registros são de suma importância no processo de obtenção de dados de determinada
sociedade. Assim, os registros paroquiais encontrados nos arquivos da Cúria
Diocesana de Pinheiro-MA, que remotam à sociedade alcantarense do século XIX,
por meio de análises seriais, quantitativa e qualitativa, são potenciais meios para
oportunizar a viabilização e integralização de estudos e pesquisas pertinentes à
História Social da Baixada Maranhense, como estudos demográficos, análises de
alforria, elites sociais e econômicas, evangelização, hierarquias sociais, escravidão,
família, organização social, relações de parentesco, identidades, rituais funerários,
filiações, devoção, dentre outros, sobre a Baixada e Reentrâncias Maranhenses, por
exemplo.
Por conseguinte, a proposta primordial do plano de trabalho exposto neste
relatório tensiona analisar e refletir sobre as variadas formas de relações sociais
estabelecidas mediante aos laços familiares oriundos do sacramento matrimonial na
paróquia de Santo Antônio e Almas, na Vila de Alcântara, entre os anos de 1827 a
1868.
Dessa forma, pôde-se constatar que, em linhas gerais, a paróquia era formada,
principalmente, por indivíduos livres e sem registros de cor, sendo habitada,
provavelmente, pela elite econômica e social da Vila de Alcântara. Além disso, as
relações analisadas estavam envoltas pela semelhança social, econômica e religiosa,
ou seja, características inerentes à sociedade oitocentista brasileira.
Por fim, após analisar, digitalizar e sistematizar os informes numa planilha Excel
com o objetivo de facilitar pesquisas posteriores, o trabalho foi concluído alcançando
todos os seus objetivos. Não obstante, houveram atividades extras que
complementam nossos estudos da sociedade brasileira do século XIX e que
reputaram o grupo de pesquisa dos projetos em que este faz parte.

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Alfredo. Os quilombolas e a Base de Lançamento de foguetes de


Alcântara: laudo antropológico. Brasília: MMA, 2006. ALMEIDA, 2006
FRAGOSO, João. Apontamento para uma metodologia em História Social a partir
de assentos paroquiais (Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII). In: GUEDES,
Roberto Ferreira (Orgs.). Arquivos Paroquiais e História Social na América Lusa:
métodos e técnicas de pesquisa na reinvenção de um corpus documental. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2014, p. 329-362.
KLANOVICZ, Jô. História do Brasil Imperial. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2011.
MARCÍLIO, M. L (2004). “Os registros paroquiais e a História do Brasil” em Vária
História, Belo Horizonte, n. 31, jan. 2004.
MONCORVO, Maria Cecília Ribeiro. Criando os filhos sozinha: a perspectiva
feminina da família monoparental / orientadora: Andrea Seixas Magalhães.
Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
SANTIROCCHI, Ítalo Domingos. O Matrimônio No Império Do Brasil: uma questão
de Estado. In: Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 12,
Janeiro 2012, p. 83-122. Disponível em:
<http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf11/04.pdf>..

REFERÊNCIA MANUSCRITA
LIVRO DE CASAMENTO DA PARÓQUIA DE SANTO ANTÔNIO E ALMAS (1827-
1868).

18
ANEXO I
PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DOCUMENTAL

19
Fonte: o autor, 2022.
ANEXO II
LIVRO DE CASAMENTOS DE ALCANTARA (1827-68) ANALISADO NESTE
RELATÓRIO.

20
Fonte: Arquivos de pesquisa.

21

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