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Para preparar o palco da discussão do significado do certo e do errado começaremos por fazer um breve
levantamento da maneira segunda a qual vários filósofos conceberam o certo.
o antigo filosofo grego, Trasímaco, sustentava que “a justiça existe no interesse da parte mais forte”, o
que se declara de modo mais simples: “ o direito é do mais forte.” Ou seja, o certo é definido em termos
de poder. Presumidamente isto significaria o poder político (cf. Maquiavel), embora pudesse significar
poder físico, psicológico, ou qualquer outro tipo de poder.
Felizmente, este não é um conceito ético sustentado de modo geral, embora pareça ser, por demais
frequentemente, uma prática humana. Primeiramente, a maioria dos homens vê uma diferença entre
poder e a bondade. É possível ser bom sem poder, poderoso sem bondade. Um tirano maligno é
refutação prática suficiente da “teoria” do certo sustentado por Trasímaco. Em segundo lugar, alguns
têm insistido que quase o oposto é verdade, e argumentam que todo o poder corrompe, e o poder
absoluto corrompe absolutamente. Há muita evidência na experiencia para rejeitar-se o conceito de que
o direito é do mais forte.
A moralidade é Costume
Alguns sustentam que o certo é determinado pelo grupo ao qual a pessoa pertence. A ética é
identificada com a étnica; mandamentos morais são considerados exigências comunitárias. Esta ideia,
naturalmente, implica em uma relatividade cultural da moralidade. Qualquer consciência de princípios
éticos entre culturas e sociedades que pareceria dar a aparência de universalidade é acidental. O
máximo que se pode dizer em prol das normas éticas aparentemente universais é que “acontece” que
todos os grupos tem códigos semelhantes (provavelmente por causa de aparições ou situações em
comum).
Este ponto de vista tem vários problemas. Primeiramente, está baseado naquilo que Hume chamava da
falacia de “e-deve”. Simplesmente porque alguma coisa é a praxe não significa que deve ser assim. É o
caso que as pessoas, às vezes, são cruéis, odeiam e matam. Não quer dizer com isso, de modo algum,
que deve ser assim. Em segundo lugar, se toda comunidade está com razão, então não há maneira de
solucionar conflitos entre comunidades e nações. Seja o que for que cada uma acredita ser certo – ainda
que isso importe no aniquilamento de outra – é certo.
O homem é a Medida
O filósofo grego Protágoras disse: “O homem é a medida de todas as coisas.” Se isto for entendido num
sentido individual, então o certo é medido pela vontade do individuo. O certo é aquilo que é certo para
mim. O que está certo para mim. O que está certo para um pode estar errado para o outro, e vice –
versa.
A crítica mais comum deste conceito é que levaria ao caos. Se toda pessoa literalmente “fizesse a sua
própria vontade,” então, não haveria comunidade, ou seja: não haveria união na sociedade. Além disto,
qual aspecto especifico do homem deve ser tomado como sendo a “mediada”? Não se pode responder,
“os aspectos bons”. Pois neste caso pressupõe que o “bem” à parte do homem é realmente a medida do
homem, e não o homem a medida do bem.
Uma maneira de evitar o individualismo e o solipsismo dos dois conceitos anteriores é insistir que nem
os indivíduos as comunidades individuais são os árbitros finais daquilo que é certo, mas, pelo contrario,
a raça humana inteira é o tribunal superior de recursos. Desta maneira, a parte não determina a
totalidade; a raça inteira determina o que é certo para os membros individuais. Em resumo: a
humanidade, ao invés do homem, é a medida de todas as coisas.
A primeira objecção a este ponto de vista é que, assim como grupos frequentemente estão enganados,
assim também a raça inteira poderia estar enganada. As comunidades têm se suicidado em massa. O
que aconteceria se a raça decidisse que o suicídio era certo, e todos os que não concordassem fossem
forcados a fazer o mesmo? Em segundo lugar, a raça está num estado de fluxo. Se a raça fosse a norma
derradeira, então como se poderia fazer julgamentos tais como: “ A humanidade não é perfeita,” ou: “O
mundo precisa de melhorar”? Estas declarações não fazem sentido a não ser que haja algum padrão
fora da raça, por meio do qual poderia ser medido seu grau de bondade.
O Certo é a Moderação
Alguns filósofos simplesmente negam que qualquer coisa seja certa ou errada. São chamados
“antinomistas” (contra -lei). Poucos realmente declaram se completamente antinomistas, mas muitos
pontos de vista podem ser reduzidos a isto. A. J. Ayer insistia que todas as frases com “devo”, realmente
têm o significado de frases com “sinto.” Dai, “você não deve ser cruel” significa “Eu não gosto de
crueldade.” A ética não preceitua; é simplesmente emotiva. Não há mandamentos; apenas há
expressões dos sentimentos pessoais d e alguém.
A primeira objecção a este conceito é seu solipsismo (“somente eu existo”) radical. O certo aquilo de
que “eu gosto”, que reduz a verdade à mera questão de gosto. O conteúdo ético de Hitler “não deve
matar judeus” não é considerado diferente na sua qualidade do que “eu gosto de chocolate.” Em
segundo lugar, o conceito não escuta o significado das declarações com deve; pelo contrario, legisla
quanto aquilo que deve querer dizer. Noutras palavras, em que base é que “devo” é reduzido para
“sinto”? Há coisas que eu devo fazer (tais como ser amoroso e justo) quer sinta vontade quer não.
Os epicureus (século IV a.C.) foram creditados com a filosofia original do hedonismo, definido de forma
simples alega que aquilo que traz prazer é certo, e aquilo dor é errado. Na realidade, a fórmula para o
certo é um pouco mais complicada. Ė esta: aquilo que provoca o máximo de prazer e o mínimo de dor é
a coisa certa para se fazer.
Há dificuldades óbvias com esta teoria. Primeiro: nem todos os prazeres são bons, e nem toda a dor é
má. O prazer sadista obtido de torturar pessoas é mau. A dor do estudo ou do trabalho pesado pode ser
boa. Em segundo lugar, pode se perguntar: prazer para quem e por quanto tempo? Prazer para o
individuo e para o momento? Ė o que se diz sobre todos os homens por todo o tempo?
Os utilitários respondem ao último problema do ponto de vista hedonista ao alegarem que o certo é
aquilo que traz “o maior bem para o maior número de pessoas (afinal de contas). Jeremy Bentham
(1748 – 1832) sugeriu que o bem deve ser intendido num sentido quantitativo. Ou seja: dependia de
quanto prazer era obtido por quanto tempo para quantas pessoas.
John Stuart Miller aceitava o utilitarismo, mas insistia que fosse entendido no sentido qualitativo
também. Alguns bens são mais elevados do que os bens físicos (e outros). Um homem infeliz é melhor
do que um porco feliz, disse Miller.
A dificuldade que imergiu da crítica supra é esta por mais que defina o certo ou o bem em termos de
alguma outra coisa, ainda se pode perguntar: “mas aquilo é certo?” se o bem for definido como sendo o
prazer, alguém poderá perguntar: “mas o prazer é bom ou mau?” Se o certo for definido em termos de
resultados, então, alguém ainda pode perguntar: “Os resultados são bons ou maus?” Talvez a solução a
isto seja Aristóteles e definir o certo ou bem em termos de si mesmo. Talvez o bem seja aquilo que é
desejado por amor a ele mesmo, a saber: aquilo que tem valor intrínseco em si e por si. Em outras
palavras, o bem nunca deve ser desejado com um meio mas, sim, somente como um fim.
Os críticos deste ponto de vista indicarão vários problemas. Primeiramente, os homens parecem desejar
alguns fins maus por amor a eles mesmos. Como o desejo de aniquilar uma raça poderia ser chamado
um desejo bom? Aristóteles responderia que cada má acção e realizada com uma finalidade boa. Ate
mesmo a vítima do suicídio age em prol do alegado ‘’ bem’’ que trará a si mesmo por meio de eliminar
todos os seus problemas. Esta resposta, no entanto, leva a outra critica, de que alguns “bens” são
apenas aparentes e não reais. Se definimos o bem simplesmente em termos do fim, então aquilo que
chamamos de “bom” frequentemente não é realmente bom de modo algum: é mau.
O Bem é Indefinível
G. E. Moore (1873 -1958) insistia que o bem é um conceito que mão pode ser nem analisado nem
definido. Toda a tentativa para definir o bem em termos de alguma outra coisa comete o que ele
chamava da “falência naturalista.” Esta falência resulta da suposição de que, porque, por exemplo, o
prazer pode ser atribuído ao bem, então é da natureza do bem, ou seja, idêntico a ele, tudo quanto
podemos dizer é que o “bem é bom,” e nada mais. O Bem é conhecido, portanto, somente por intuição.
Há bases para aquilo que Moore diz, mas também há perigos. O primeiro problema é que
aparentemente nem todas as pessoas têm intuição do conteúdo do bom ou do recto. Além disto, muitos
argumentam que intuições são vagas. Falta – lhes clareza, que é uma das coisas que um filosofo procura.
Além disto, há problema de como evitar a acusação de tautologia quando tudo quanto alguém pode
dizer é: “O Bem é bom.”
Há, no entanto, alguma verdade na posição de Moore, especialmente porque reconhecia que a
qualidade ulterior do “bom” o torna resistente à definição em termos de alguma outra coisa. Pois afina;
das contas, toda a disciplina e ponto de vista deve reconhecer algo como sendo sua base ou fonte, em
termos da qual tudo o mais é entendido. Para o cristão, que pense em Deus em termos do Bem
supremo, isto tem muito apelo.
Uma solução ao problema de definir o bem ou o correcto é proclamar que alguma coisa é certa se certa
segundo a vontade de Deus, e errada se é contra a vontade de Deus. Assim seria solucionado o
problema de determinar o conteúdo no significado do bem, além da dificuldade envolvida em definir o
bem em termos dalguma coisa que não é ulterior. Os cristãos declaram que a vontade soberana de Deus
é definitiva, e a Bíblia nos define o conteúdo daquela vontade.
Embora isto solucione os problemas supra, cria alguns poucos problemas novos. Primeiramente: algo é
certo porque Deus o determina, ou Ele o determina porque é certo? Se adoptarmos a primeira
alternativa (voluntarista), então, parece fazer Deus arbitrário. Deus realmente poderia determinar o
ódio, ao invés do amor, como a coisa certa para se praticar? Poderia mudar Sua vontade e fazer com
que a crueldade fosse certa, e a bondade errada? Mas se alguém adoptar a ultima alternativa, então
Deus está agindo segundo um padrão além dEle mesmo (a bondade). Isto seria uma contradição da
definição crista de Deus como sendo ulterior, muitos éticos (essencialistas) cristãos tem insistido que
Deus somente pode determinar de acordo com Sua natureza imutavelmente boa, que não está além
dEle mesmo. Algo é bom porque, em última analise, está de acordo com a natureza imutavelmente boa
de Deus.
Além disto, se o bem for definido como sendo aquilo que deus determina, devemos perguntar
primeiramente: Qual deus? Qual revelação? Há muitos concorrentes para o título de “Deus.” Já damos,
no entanto, nossas razões para crermos que há um só Deus, o Deus teísta conforme já aprendemos. Isto
quer dizer que não há norma ética para os que não acreditam em Deus, ou no Deus cristão? Se a ética
deve ser normativa para todo o homem, então, limitar o significado do certo e do errado a uma
revelação religiosa especifica do certo e do errado não negaria normas éticas para aqueles que não tem
qualquer revelação da parte de Deus?