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OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE CapituLo 3 NOVOS LETRAMENTOS PELOS MEMES: MUITO ALEM DO ENSINO DE LINGUAS! Ruberval Franco Maciel Nara Hiroko Takaki Introdugao No Ambito de ensino-aprendizagem, uma das questdes menos debatidas pelo meio digital refere-se aos chamados memes. Defini-los pode ser tarefa aparentemente desprovida de grandes desafios. Entretanto, compreendé-los em suas complexidades e refletir sobre suas possiveis inclusdes em curriculos, pautados pelo referencial tedrico dos novos /e- tramentos, como particularizam Gee (2004), Lankshear e Knobel (2007), dentre outros, pode representar um convite para se mergulhar em desafios. Os educadores que participam direta ou indiretamente dos processos de inovagao curricular constantemente se veem pressionados a pesquisar sobre os fendmenos concebidos e disseminados pela Internet, bem como a tentar adaptd-los e implementa-los nas aulas no af de atender aos interesses locais de determinada sala de aula e as demandas de uma sociedade amplamente influenciada pelas novas midias, a exemplo da Internet. 1 Este trabalho foi originalmente publicado sob o titulo de Memes online: implicagdes para a construgao de conhecimento sob a dtica dos novos letramentos na Revista Contexturas, p. 29-50, 2011 e € reescrito para esta coleténea de textos.. 53 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE E dessa configura¢o complexa que desponto predisposig&io para buscar compreender as Novas formas de construgao de conhecimento que a sociedade digital suscita, A partir dai, decidimos enfocar Os memes (entendidos como artefatos sociolinguistico-culturais on-line, os quais podem ser copiados, reeditados e disseminados com propésitos Sociais definidos) partindo de suas concepgdes e caracteristicas para ento, langar sinais de possibilidades de seu uso nas Salas de aula seja de lingua estrangeira, seja de lingua materna, Destacamos 0 fato de que os memes, mais do que meros instrumentos pedagégicos, podem propiciar a construcio de conhecimento e (co)autoria por parte de seus interlocutores, nesse caso professores, alunos e agentes de uma instituigao de ensino. De igual parte, essa iniciativa pode gerar novas reflexdes no que tange ao encontro das habilidades técnicas com a formagao em letramentos. U nossa Ao mesmo tempo em que os professores esto Preocupa- dos em decidir sobre 0 que ensinar, outra questao desponta: como ensinar 0 aluno a transformar informacéio dos memes, por exemplo, em conhecimento que seja relevante para sua vida? Como conhecer e avaliar tais praticas sociais e decidir pelo uso responsdvel de tais memes? Nao seria impertinente indagar sobre os cidadaos que esto se formando em carreira quase que solo numa sociedade digital? Eles esto trazendo para a sala de aula epistemologias baseadas em novos letramentos e influenciando as epistemo- logias convencionais de muitos professores. Isso pode ser um ponto de partida para discuss6es, como sinalizamos neste capitulo. Com tal intento, passamos a definigaéo dos memes Para, em seguida, discutir suas relagdes com os letramentos © com a educagao, segundo teorias recentes. 54 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DiGrrAls: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE O que sao 0s memes? De uma forma ampla, memes significa tudo que pode s copiado de uma mente para outra e que “diretamente ‘nohtie propaga agdes-chave de um grupo social”, arrematam Lank. shear e Knobel (2007, p. 211). Os estudos sobre memes se iniciaram no século XX, gracas as Pesquisas sobre persisténcia de meméria e difusdes de inovacao. Com destaque maior, ao trabalho do bidlogo Dawkins sobre o gene egoista eo seu poder de mutag&o que, posteriormente, influenciou areas como a psicologia, a antropologia cultural, a ciéncia politica e os estudos sobre religides, entre outros. No dia a dia, os memes podem ser encontrados em diversi- ficadas esferas sociais como nos designs de moda, nos modelos arquiteténicos, nos sons, nos desenhos, nos valores estéticos e morais, nos jingles de propagandas politicas e comerciais, nos slogans, nos provérbios e aforismos, a exemplo deste: Deus ajuda quem cedo madruga. Igualmente nos poemas épicos usados para preservar a histéria oral, no fanatismo de grupos antissemitas, racistas ou religiosos, nas cangées de ninar cul- tivadas por varias geracSes, ou em qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e retomada como uma pratica social de internautas geralmente criativos, tanto do ponto de vista do uso da linguagem multi-hiper-modal como da reflexao critica, irénica e humoristica. Lankshear e Knobel (2007) comparam os memes as campanhas publicitarias e ao conceito de marketing viral, ou seja, uma produgio de sentido contextualizada que se propaga pelo meio digital, reinterpretada e reconstruida com base em convengées especificas que atendam a determinado propésito. Um exemplo tipico se refere 4s mensagens que mesclam pala- vras e imagens formando frases como I love you em que love nao esta escrito convencionalmente, mas, sim, representado 55 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIs: LINGUAGENS, ENSINO, FORMAGAO E PRATICA DOCENTE pela imagem de um coragao. Tal elaboragao 86 € possive] d ser compreendida por um grupo social pelo fato de cee le 9 simbolo coragao. O compartilhamento do significado desse frase passa a ocorrer de forma criativa, sendo ela recriada are outros contextos. Sendo assim, criangas nas escolas, em nivel elementar, podem adaptar tal frase para a elaboragdo de / love my dog, em que love esta representado pela figura do cachop. ro, Campanhas publicitarias costumam fazer reapropriagées como essa de forma criativa e abrangente. Contudo, os au- tores afirmam que os memes nao se limitam ao estudo sobre marketing e chamam atenciio para o fato de que tais memes nao podem ser concebidos como elementos de linguagem dissociados do aspecto social, sobretudo porque precisam ser vistos como novas formas de poder, de processos sociais, de participagdes sociais ¢ ativismo, além de representarem novas redes distribuidas de comunica¢ao e relacionamento, uma vez que desempenham fungao importante nos aspectos criticos. Em 2014, durante a Copa do Mundo, no Brasil, 0 acesso eaparticipacao de internautas aumentaram consideravelmente em relagdo as redes sociais como Twitter e Facebook. Estas disseminaram memes a partir de varios episédios. Um deles deveu-se ao gol que 0 jogador, Marcelo, fez contra a prdpria selecdo brasileira na partida da estreia. A produgo que cha- mou atencdo da midia e que criticava tal feito trazia aspectos intertextuais por estar relacionada a outra tematica (corrup- 0) e senso de humor: “Corrupg4o?! Sou contra!!!” com a imagem do jogador de perfil, com a camisa verde e amarela e bragos cruzados, entre essas duas frases. Outro meme que ficou. Outro meme que ficou famoso na mesma ocasiao e que rendeu material para a midia internacional foi a do jogador jounior’ ms Suarez, que havia mordido 0 ombro de um coy do ene pneu: Eames deties canines £ nec lo jogador de boca aberta com os dois ‘a, com os labios vermelhos e ensan- 56 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE guentados, feito Dracula e a continuagao da frase “que me re- cortia el cuérpo”. Tal fato teve uma repercusstio €m outro meio de forma interativa. No Rio de Janeiro, um painel publicitario com campanha de uma marca alema de material esportivo e que trazia o atacante uruguaio de boca aberta e dentes a mostra foi colocado na orla da Praia de Copacabana no Rio de janei- ro. Isso atraiu turistas e torcedores de varias nacionalidades que nao hesitaram em posar para a foto simulando levar uma mordida do jogador. Os programas de noticias dos canais de televisio e a midia em geral, nfo perderam um segundo para que esse meme viesse ao conhecimento do publico. No Facebook, em outra época, foi comentada a frase Can the twitter speak? (O twitter pode falar?), fazendo analogia a famosa frase da feminista indiana Gayatri Spivak: Can the subaltern speak?(O subalterno pode falar?), defensora da tese de que as pessoas s6 podem ser ouvidas se forem filiadas a um grupo preferencialmente hegem6nico, ou seja, s6 serfio ouvidas se estiverem do lado de dentro. Contudo, 0 ciberespago fornece essa possibilidade de expresséio, embora apenas como propa- gacao de ideias sem estar necessariamente atrelado a um poder de decisto, Mesmo assim, devido a uma grande participagiio de internautas, as ideias se revestem de grandes complexidades, sobretudo com a convergéncia em outras midias. Desse modo, destacamos que, no contexto da linguagem, Os memes representam modelos culturais de pensamentos, ideias, pressupostos, valores, esquemas interpretativos de fenémenos sociais simbélicos e comportamentais que sdo produzidos por participantes, por exemplo, em “espagos de afinidade” (Gee, 2004, p. 77). Nesses contextos, as pessoas interagem, participam e aprendem num ambiente que sugere muito mais que um mero pertencimento a determinada co- munidade, Para o referido tedrico, no “espago de afinidade > diferente do espago da comunidade convencional, os inte- grantes se encontram com maior flexibilidade por quest6es de 57 eE— U LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE interesse comum € N&O por aquelas vinculadas a raga, ‘ jal, género, etnia. Esse “espago de nidade atende arn soc eses de usuarios que se encontram socialmente saturadog wor divers tarefas e que, por isso mesmo, sao interpeladog aconstruir sentidos acessando e deixando o ambiente digital quando sentirem necessidade, sem que precisem passar por portarias, como costumam ocorrer em clubes, segurangas € ost parques e em outras esferas sociais. Caracterizando os memes Ancorados nos estudos de Dawkins (1976), trés conceitos foram apresentados para a existéncia de um meme: longevida- de, fecundidade e fidelidade. De maneira geral, a Jongevidade alude a capacidade que um meme possui de permanecer “vivo” por mais tempo. A. fecundidade, de sua vez, se relaciona com sua capacidade de gerar copias. Ja a fidelidade se refere a sua capacidade de manter as semelhangas entre o “original” e seus derivados. No contexto de ensino de lingua inglesa, a longevidade de uma frase dependeria de sua frequéncia de uso em contextos que fariam sentido aos aprendizes de inglés. Como exempli- ficada anteriormente, a frase J Jove you, com a imagem de um coragdo para substituir a palavra Jove, poderia ter vida prolon- gada e manter seu aspecto de fidelidade, ou seja, proxima de seu “original” se os aprendizes dessa lingua fossem estimu- lados a constantemente transpé-la para outras situagdes que traduzissem aquilo que possuem e que amam. Por exemplo, Outras frases semelhantes, com a inclusao da imagem referente ao coragaio ao invés da palavra love, poderiam aflorar a partir Paaeaipinices aprendizes: I love my bike, I love my kite, I cat, love m oe house, Tlove my bedroom, I love my realidade deles ae er, tefletindo sentimentos vinculados 4 - As diferentes formas de propagagao pode- 58 OO EE Ee ee OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE riam ocorrer, ainda, por meio de produgdes dessas frases no meio digital. Nele, os aprendizes poderiam eleger diferentes recursos para mudar a tonalidade, o tamanho, a sombra, a fonte das letras nessas frases. Além disso, os recursos tecnoldgicos, muitos deles ja conhecidos e testados nao por poucos aprendizes, permitiriam ainclusao de outras imagens, sons e animagdes como os emoti- cons — pequenas imagens representando rostos com diferentes temperamentos e sentimentos — para posteriormente reenvid- las, para uma variedade de interlocutores locais, comunitarios e globais em tempo quase real. Vale lembrar que as escolhas nao sao neutras. Nesse sentido, criar condigdes para que os aprendizes questionem que perspectivas socioculturais estao sendo mais incluidas, que outras esto sendo menos incluidas por tais escolhas podera favorecer a expansao da capacidade critico-interpretativa dos mesmos. Dos trés conceitos, a fidelidade pode ser mais dificil de sobreviver por varios aspectos. Tal fato ocorre em virtude da complexidade das rapidas transformagées na sociedade. Associa-se a isso, o fato de que as identidades sao hibridas, conforme explica Bhabha (1994), por conta dos residuos histéricos e culturais do lugar de onde um interlocutor se po- siciona e dos efeitos complexos das varias narrativas, descritos por Bauman (2001) como a identidade liquida. Para 0 autor, Os liquidos s&o variedades de fluidos que, diferentemente do S6lido, nao se fixam no espago e nao se prendem ao tempo. Por outro lado, 0 consumo disseminado pelo fendmeno da globalizag4o, pela padronizagao de tendéncias, de marcas e de homogeneizagiio de certos aspectos culturais, pode contri- buir para a, fidelidade. Esta acaba por transpassar os discursos midiaticos, altamente influenciados pelos memes, como ¢ 0 caso dos discursos das propagandas. 59 CQUAARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITALIS: LUINUREAGIENS, BNSTNO FORMAGAD B PRATICA DOCKNTH Nesse cenario, a educagdo € 0 ensino de linguas — ce: materna, seja estrangeira — podem fazer uso dos memes sae questionar os conceitos de verdade Presentes no aspecto q fidelizagdo e consumo disseminados pelos usuarios da Internet, “Oaspecto de consumo jd foi detendido com o langamento dos temas transversais de educagao, presentes em documentos of. ciais, sejam exemplos os Pardmetros Curriculares Nacionais, O trabalho de desvendar as verdades por tras das aparéncias foi uma proposta da pedagogia critica (Freire, 1996), na década de setenta, Esses estudos possuiam uma tendéncia marxista de educagaio que implica uma relacao dialética de opressor e oprimido, sendo fung&o da escola emancipar ou empoderar? no aluno, para que este possa perceber as relagdes de poder atinentes ao processo. Na otica dos novos letramentos, 0 propésito principal da critica ndo é apenas revelar as questdes de poder envolvidas em determinado contexto de linguagem, mas promover uma ruptura no habitus hermenéutico de acordo com Ricoeur (1978). Enten- demos que habitus hermenéutico corresponde a uma pratica de intepretagao que assume a linguagem como sendo transparente e capaz de captar totalmente a realidade. Realidade esta conce- bida de forma objetiva, totalizante e mensuravel. Uma das con- sequéncias dessa pritica de leitura e interpretagéio e que parece predominar em muitos contextos de ensino de lingua inglesa, dentre outros, é tomara intengdo do autor de determinado texto ou €vento como verdade tinica, excluindo assim, a possibilidade dos aprendizes construirem outras verdades relacionadas a partir do Contexto especifico do qual atribuem e constantemente reatribuem Significados. Esse habitus hermenéutico busca a intengdo do autor e/oua ideia central ou aquilo que esta por tras das aparéncias do texto ou do evento como se houvesse um descortinamento de uma verdade universal, >; 2 Do ingles Empowerment, 60 Sere etree gece eae OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMAGAO E PRATICA DOCENTE O foco de interpretagao nado esta mais em identificar 0 sentido do texto e a intencionalidade do autor, ou na busca de uma verdade que subjaz um texto, como se esses fossem os unicos possiveis. Pode ser que, para muitos professores de lingua inglesa, somados a tantos outros, isso nao represente novidade alguma. Se assim fosse, como explicar que inimeros livros didaticos, desenhos de curriculos, politicas linguisticas e praticas pedagdgicas nao assumem o conceito de linguagem elaborado por Bakhtin, ou seja, 0 fato de que a linguagem é sempre heterogénea, historicizada, dinamica e que possibilita © questionamento de uma interpretagao unica em relagdo a um dado texto? A ideia de ruptura significa elaborar interpretagdes di- ferentes daquelas ja consagradas, historicamente, por certos grupos sociais de prestigio do mundo ocidental. Um exemplo disso ocorre quando se assume radicalmente que o ensino de linguas somente ocorre partindo da estrutura e vocabulario de forma descontextualizada, a exemplo de exercicios com frases isoladas em que o aprendiz deve preencher lacunas com artigos, pronomes, tempos verbais, sé para ficar nesses casos. Essa visdo de exercicio se fundamenta no estruturalismo por conta deste ter consagrado o conceito de linguagem como algo fixo, estatico independentemente de qualquer contexto e processos histéricos. Um exemplo de ruptura nesse habitus critico € justamente o reconhecimento de que a natureza da linguagem é maledvel, paradoxal e, portanto, passivel de constantes transformag6es e reinterpretagdes, conforme aponta Bakhtin (1999). Lansksher e Knobel (2007, p. 1) referem-se a0 letramento critico como “ampla variedade de filosofias educacionais ¢ intervencées curriculares”, que considera 0 local e sua diversi- dade, bem como as tecnologias de escrita e de outras Modali- dades, a mudanga social, a diversidade cultural, as igualdades econémica e politica, com destaque no papel de agéncia do 61 OLMARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITALIS: LENGAYALIENS, ENSIND, FORMACAO I PRATICA DoCENTH: aprendiz. Complementando essa abordagem, Monte Mor Menezes ¢ Menezes de Souza (2006) reforgam a importing de compreender a coexisténcia de verdades durante 0 pro, conan de construgdo de sentidos, algo aparentemente facil, que, no entanto, poderd se tornar dificil devido as relagdes de poder Uma ilustragdo de tal dificuldade acontece, por exemplo, em discussdes quando alguns paises entram em conflito. Quem decide sobre quem é mais pacifico, menos pacifico, mais terrorista, menos terrorista, como se essas categorias fossem essencialistas? Esse procedimento é caracterizado pelo fato de que as interpretagdes so construidas com base no entendimento dos diferentes lugares sociais dos quais os letrados criticos, por assim dizer, falam, escrevem e se posicionam por meio de diferentes linguagens multi-hipermodais. Tal compreensto muda o foco de ensino-aprendizagem, recorrendo aos memes. E dessa compreenstio de heteroge- neidade de leituras de mundo que as renegociagdes podem propiciar mudangas na sociedade. Nesse raciocinio, o in- ternauta tem condigdes de participar, com maior autonomia e criatividade reinventando e se reapropriando de artefatos culturais a seu favor. Compreendendo os memes Com o propésito de estudar os memes, Recuero (2006) apresenta uma taxonomia assentada em trés subdivisdes, quan- toa \fidelidade da cépia, discutidas por Dawkins, denominadas replicadores, metamérficos e mimétricos. 7 mie Sao copiados de sites e, por isso, retratam informar eon an s20 & versio ‘original’ eom o objetivo de hes Aplicade Petitar informacdes sem acréscimo de opini- $80 contexto de letramento podem ser associados 62 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAQ E PRATICA DOCENTE aos de trabalhos em que os alunos representam 0 conhecimento de forma multi-hipermodal. Ou seja, por meio de recursos tecno- ldgicos, é possivel promover 0 encontro simultaneo de imagens, sons, animagées e linguagem verbal, tornando a composi¢ao textual muito mais desafiante para o aprendiz. Para lidar com esse desafio, uma mente em rede, no dizer de Castells (2006), podera articular e produzir conhecimento complexo. Entretan- to, hd o risco de se distanciar do aspecto critico, limitando-se apenas ao mero uso do espaco digital. Os metamorficos sio mutaveis e recombinados e, diferen- temente dos anteriores, podem ser empregados em contextode debate. Nesse caso, a informagao é debatida, transformada e recombinada. E possivel acrescentar opinides quando os metamOrficos s&o disseminados, transformando-se assim em memes interativos. Esse conceito pode ser incorporado a pro- posta de letramento critico, pelo processo de reinterpretagao e producao, bem como pela interag&o que incentiva outros participantes a se posicionar criticamente em relagao ao material produzido. Relembramos os leitores que adotamos, aqui, 0 conceito de criticidade fazendo alusdo a ruptura do pensamento, teorizada por Ricoeur (1978), que possibilita a renovagao, a expansao do olhar diante de um objeto e a refle- x4o critica quanto as consequéncias sociais de tais olharesno tocante a outras visdes. Os mimétricos se diferem dos anteriores por manter a “esséncia”, embora sofram recombinagées, ou mutacdes, podem ser referenciaveis como imitagdes. Em um trabalho de letramento, é possivel relacionar os mimétricos ao aspecto de escrita criativa, de representacao de narrativas, de criticas sociais e mensagens agradaveis. Um exemplo que chamou bastante a atengdo das pessoas nas redes sociais foi uma men- sagem carinhosa criada com base em nomes de operadoras de telefone (Oi, Vivo, Tim e Claro), resultando em: “Oiéeee, claro que nao vivo sem vocé! Eu tim amooo.” 63 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGIT AIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE Outra criagao diz respeito ao famoso cantor brasileing 7, Maia: “Oi Tim, vocé ainda esta vivo? Claro!” Outro exem H ocaso de uma série de memes com tematica da desiguatday é social. Esses memes normalmente trazem uma moga— mone le ou branca - um homem, ambos representando o Ocidente,¢ aroto negro que sempre a indaga com perguntas como: um g' : Ae “ So, you're telling me in America kids play “army”? So, yoy ve telling me you filter water that is already clean? So, you're telling me that in your country you use clean water to wash dishes that still have food on them? So you brought bibles, but didn’t bring food? So, you're telling me where you come from people throw up, so they can eat more? Os memes nao somente constituem textos que deflagram discussdes maiores para o entendimento das diferengas na sociedade, mas também servem de estimulo para criacdo e recriagdo, como tarefas pedagdégicas que ampliam a pratica de linguas, propiciando a autoconfianga, a autoria multimodal ea critica dos aprendizes. Declaramos nossa ressalva no que respeita ao aspecto epistemoldgico subjacente a categorizagdo acima descrita. O estabelecimento de critérios e fronteiras objetivas que tais autores adotam aparentemente nao se coaduna com 0 conceito de linguagem que aqui adotamos, ou seja, 0 de que a lingua- gem é heterogénea e dindmica em sua plenitude, de acordo com Bakhtin (1999). Dito de outra forma, interpretamos que a categorizacao apresenta uma funcdo didatica, porém ques- tionamos a busca por demarcagées rigidas no processo de transformagao de tais memes. Memes e educacio vresenn oes educacional, as formas de criagdo e de re- 40 do conhecimento por meio do uso de memes estao 64 i es OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE diretamente ligadas ao interesse do aprendiz pelo carter de sua agéncia criativa, que pode ser reforgada pela comunidade de pratica 4 qual pertence. Nesse espago de possibilidades de reconstrucao de me- mes, 0 aprendiz goza de uma forma de participacao colabora- tiva, diferentemente do contexto convencional, metaforizado pela imagem de uma drvore. Explicando: nessa abordagem convencional arbérea, por assim dizer, a aprendizagem é comumente controlada pela utilizac&o de regras que sdo im- postas hierarquicamente pelo professor quando da proposigiio e desenvolvimento de atividades com base em um modelo car- tesiano, estatico e preciso, ou seja, com principios de natureza unica, de fronteiras e regras de dominio. Tal base remete a uma grande arvore, cujas extensas raizes esto presas ao solo firme, ramificando-se em galhos como que representando a divis&o entre as disciplinas escolares. Outra perspectiva no que tange ao aspecto de “liberdade” na produgo dos memes pode ser remetido a metdfora botanica de educacdo rizomdtica na qual, conforme descrita por Cor- mier (2008) e Ranciére (1991), nao hé uma linearidade rigida no processo de aprendizagem como no modelo da metafora arbérea, pois nao fixa pontos nem ordens: ha apenas linhas € trajetos semidticos. Um rizoma nao comega nem conclui, mas possui 0 foco na inter-relago com o conhecimento, ou seja, ndo é arbéreo e nfo se presta a hierarquizagéio, mas a proliferagao do conhecimento. Nessa perspectiva, salienta-se 4 compreensao do processo de construcao e reconstrugo de Saberes por meio da articulagaio de memes. Isso podera atender as novas demandas na formag&o de alunos e professores, ja que muitos deles ja est&o engajados em processos inacabados, Porém complexos de produgao de significados, e isso vai além da simples preocupa¢ao com a visualizacao de resultados de ensino-aprendizagem, conforme esclarece Monte Mér (2007). 65 OLHARES BOBRE TREMOLOGHAS PIGITANN: ena Actes, MAINO, FORMACAQ E PRATICA LH ENTE se sentido, destacamos que o princ{pio norteadoy eat atransversalidade, ou s¢)a, tranaltar pelo terr| Vrioae m indo sentidos, fazenclo snes 0 "Interne trole preestabelecido, Isso implica repensar a formg pela qual conteddo tem sido valorizado na educagto, tobe fudo em época de constantes mudangas, dado que 0 concelig de contetido ¢ dindmico e situado, Acsse respeito, Menezes de Souza (2010) afirma que; O que ¢ relevante para ser ensinado ou aprendido hoje pode nfo ser amanhé [...] ¢ multo mals Im portante produzir aprendizes capazes de buscar 0 saber em constante mudanga, do que aprender um contetido fixo e, supostamente, domind-lo para o resto de sua vida, Precisamos enfatizar como apren- der, mais do que o que aprender’ (MENEZES DE SOUZA, 2010). Essa énfase na relevancia do que pode e deve ser ensina- do, com base em uma perspectiva local-global, contingente ¢ a busca de novas formas de aprender tendem a nfo compactuar com varios documentos oficiais, os quais descortinam uma forma de ensino apostilado, ou seja, pautado em listas de contetido fixo, A proposta de ressignificar 0 conteuido através de memes estd associada a necessidade de preparar aprendizes criativos que representam o conhecimento de uma forma nfo conven- cional, conforme apontados por Cope e Kalantzis (2000). Tais autores contribuem significativamente para a educagdo rizomdtica a0 enfatizarem a capacidade que os hiperleitores, isto € usuérios familiarizados com o uso de computador, tém de Produzir saberes sem necessariamente recorrer a conheci~ mento prévio, experiéncia e/ou habilidade técnica desenvol —_ 3 Menezes de Souza em entrevista concedida em 28 de Junho de 2010, 66 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMAGAO E PRATICA DOCENTE vida a priori. Trata-se de processo complexo denominado epistemologia de perfomance, na concepgao de Lankshear e Knobel (2006), relativo a articula¢ao de leituras das navega- gdes multi-hipermodais que as novas tecnologias propiciam (Takaki, 2012), bem como as tomadas de deciséio com uma mente em rede, conforme orienta Castells (2006), semelhante auma mente rizomdtica, ou seja, aquela que opera com mtl- tiplas e simultaneas formas de representagao de significados, tais como sons, imagens, animacées. Aprofundando essa nogio, os alunos podem recriar, por exemplo, narrativas canénicas a partir de um contexto his- torico e representd-las de modo critico, ressignificando-as, localmente, para uma situacg4o contemporanea abrangendo conceitos como globalizagao, cidadania global, direitos hu- manos. Portanto, nao se trata de abandonar certo contetido e formas de representagdo, mas de considerar que existem outras possibilidades e que elas precisam ser legitimadas pela escola. No entanto, a proposigao de novos desenhos no contexto educacional nao dispensa as midias tradicionais. Conforme frisa Castells (2006, p. 456), “os novos meios eletrénicos de comunicagées nao divergem das culturas tradicionais: absorvem-nas”. Consequentemente, todas as expressdes culturais — da mais “elitista” até a mais “popular” — estéo em um “supertexto histérico gigantesco”, construindo um novo ambiente simbélico, aproximando a virtualidade real. No caso dos memes, a possibilidade de apropriagao e de recriagdo de outros conceitos nao se refere a uma homogeneiza¢ao das expresses culturais e ao dominio completo de cddigo por alguns articuladores centrais. Ao contrario, os alunos tém a oportunidade de desenvolver a capacidade de apropriacdo de “velhos” conhecimentos e de reapresentagdo em “novos” contextos, ou seja, nao se trata de apenas reproduzir conheci- mentos, mas de expandi-los e ressignificd-los, de forma que tal processo faca sentido na vida deles. 67 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS Dicrrals: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA Docent Os memes também podem ser associados 4 convergéncia discutida por Jenkins (2008). Para pr cultura se fundamenta em conceitos como Convergéncia ee Atica, inteligéncia coletiva e cultura Patticipativa, com : ia zamento das midias alternativas e de massa. As hibrdizagns do contetido de “novas” e “velhas” midias ocasionam Outta formas de relagao entre a tecnologia, a industria, 9 mercadg 0 género e o publico. , Similarmente, Santaella (2005, p. 7) afirma que “con. vergir nao significa identificar-se”, mas tomar rumos que, nao obstante as diferengas, “dirigem-se para a Ocupagao de territérios comuns, nos quais as diferengas se rogam sem per- der seus confrontos proprios”. A autora exemplifica como a arte tem convergido em novos meios de representacées além das formas mais tradicionais, tais como a pintura e a escul- tura, dando espaco a fotografia, aos videos, a TV, aos cartdes postais, aos calendarios, ou seja, a cibercutura em seu todo, Cultura da Retomando 0 posicionamento de Dawkins (2001), meme € um gene de cultura e sua reprodugao possui uma funcdo de disseminagao de ideias. Essas ideias, ou conceitos podem softer mutag6es, uma vez que podem ser reinterpretadas local- mente de acordo com os valores culturais e posicionamentos ideolégicos de uma determinada comunidade de pratica. As- sim, 40 mesmo tempo que as interpretagées sao situadas por cada participante, elas precisam de um schema comum, ou Seja, de conhecimento comum a um determinado grupo social. pee ess, tais interpretagdes podem ser recriadas com de que os sire 0S ret6ricos. Isso corrobora 0 fe perspectivase i, 40s nao sao fixos, podendo ter diferente quem os interpreta. Sobre 0 proc : : (2004) critica Processo interpretativo, Menezes de Souza 4 visdo abstrata de inte: ae oe it Sao abstra Tpretagdo Saussurian: Pressupde uma ligagaio direta e imediata entre o significante 68 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMAGAO E PRATICA DOCENTE eo significado”, e nao da abertura a outras possibilidades de interpretagao uma vez que dispensa a fungao do intérprete, O referido tedrico se inspira em duas concepgées tedricas basilares: 0 conceito de linguagem de Bakhtin (1999) e a nogao de locus de enunciagao por Bhabha (1994). A primeira diz respeito ao conceito de linguagem tida por heterogénea, a qual pressup6e a conexao entre 0 significante e 0 significa- do, mediada pelo intérprete de linguagem. A segunda nogio, locus de enuncia¢ao, refere-se ao contexto histérico, social, cultural, politico e econdmico, em que o intérprete da lingua- gem se insere. Esse intérprete, situado socialmente, é quem, constantemente, atribui e reatribui significados ao signo, a palavra ao texto, ao evento social e que ndo necessariamente coincidem com outras atribuigdes de sentido ao mesmo texto e/ou evento. Dai, constantes reinterpretagdes sdo possiveis. Ahora dos memes nas praticas de Letramento O fendmeno dos memes desafia as concepgdes de letra- mento digital, sobretudo no que significa ser um usuario com- petente de novas tecnologias e redes de trabalho. Lankshear e Knobel (2007, p. 246) criticam 0 seguinte aspecto: O letramento digital nao presta suficiente atengdo a importancia das relagGes sociais, nas quais ideias sao refinadas, remixadas e compartilhadas de maneira fecunda e replicavel, tampouco ao papel importante que os memes desempenham no desenvolvimento da cultura e criatividade. Os autores, entdo, propdem dois aspectos que precisam ser considerados em relagdo aos memes e as praticas de letra- mento que vao além da pratica de ler, escrever, digitar: 69 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS Diarrais: LINQUAGENS, BNSINO, FORMAGAO E PRATICA DOCENTR Letramento com (I) mimisculo: reporta-se ag aspect linnguistico € semidtico do texto como “descrever 5 Processy de leitura, escrita, visualiza¢o, ouvir, manipular imagens ¢ sons, fazer conexdo entre as diferentes ideias e Usar palavas e simbolos”, conforme apontam Lankshear e Knobe| (2007, p. 233). No que se refere aos memes, as sugestdes para atividades em sala de aula so: a produg&o de uma imagem modificada pelo software photoshop, discussao sobre seu processo de montagem, discussaio das combinagdes de palavras e efeitos sonoros, compreensio do uso de aplicag&o de software, re. corte e colagem para criagao de efeitos; decisdo sobre quais ferramentas de manipulagdo de imagem usar e para quais efeitos, procedimentos para salvar e fazer upload, entre outras possibilidades. Em outras palavras, vale indagar sobre as ma- neiras — por meio digital — utilizadas para manipular o signo e sons para conseguir o efeito ilocuciondrio desejado e que outras formas sao possiveis, com diferentes implicacdes. Uma das implicagées seria a nao neutralidade ideoldgica presente nesses memes. Gracas a eles, dependendo de sua natureza, muitos grupos sociais, visées de mundo sobre questdes de Taga, género, sexualidade, diversidade e poder sao priorizados, nao reconhecendo que outras séio também importantes para a transformagao da educagdio pelos letramentos criticos. Letramento com (L) maitisculo: associado ao proces- Mint aelsicad de significados e construg4o identitaria. rela ais que a vida cotidiana é frequentemente ampliada ceontiene € pela interago com pessoas que nunca se interacao e &, sobretudo, que os ambientes on-line nessa Para a scien podem ocorrer de forma inusitada Caracteristicas co, Sungei, ent&o, os espagos de afinidade, © dispersig de Ce mo Participacao, colaboragdo, distribuig4o Gee (2004) ident’ €relacionamento. Intertextualmente, 7 Mica haver formas de conhecimento disti- 0 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE buido e disperso que sao acessados por jogadores de video games, por exemplo. O conhecimento se encontra distribuido entre os jogadores, objetos, ferramentas, simbolos, tecnolo- gias e ambiente social, ao passo que 0 conhecimento disperso representa o compartilhamento de ideias e estratégias que o jogador faz com outros fora do Aambito do jogo, normalmente numa relagdo dialdgica a distancia. Tais jogadores recorrem as informagées sobre determina- do jogo em diferentes sites, blogs, livros, revistas, ou hiper- leitores, compreendido como articuladores de jogos digitais, transformando-as em saberes para agir em determinado mo- mento do jogo. Nessa interagao, que requer leitura e escolhas estratégicas para a sobrevivéncia no jogo, tais hiperleitores acabam por se socializar intensamente com outros jogadores e especialistas no assunto. Nao somente buscam trocar ideias, como aprendem e ensinam nas interagdes. Suas contribuigdes sobre a pratica social de se jogar um determinado jogo podem ser hospedadas em diferentes espagos de socializagao on-line e off-line. Dependendo da natureza do jogo, nessas interagdes, o proprio jogador podera explorar questées identitarias dos protagonistas, por exemplo, quando atuar como lider e quando recuar como colaborador, provocando, assim, reflexdes quanto aos efeitos das escolhas de estratégias no processo de jogar. Nesse sentido, os jogos dessa natureza podem ser considerados memes altamente contagiosos. Para reconhecer caracteristicas-chave de memes on-line de sucesso, Lankshear e Knobel (2007) realizaram um levan- tamento de cinco anos para identificar os memes eletronicos. Para que 0 estudo nao fosse reduzido aos textos estaticos ou para que a andlise nao se tornasse muito textocéntrica, ou seja, fundada no discurso, utilizou-se também o conceito de espagos de afinidade postulado por Gee (2004). Os memes so concebidos como parte de contextos maiores de interagdes sociais e maneiras de alcangar determinados objetivos. Além 71 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DiGrras: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTg disso, 0 estudo n&o se limitou a0 espaco de inidade 7 um conceito de aprendizagem em Si, Mas investigoy os letramentos foram construidos e experimentadog . 0 pessoas engajadas. De posse do corpus, quatro Categorias dg andlise foram propostas, com questées conforme descritas no quadro a seguir: A énfase esta no significado do mime ~ Qual € a ideia ou informacao que esta sendo Convertida Sistema referencial | por esse meme? Como sabemos disso? ou ideacional - Como esta ideia ou informagao esta sendo convertida? - O que este meme significa — nesse espaco, para certas pessoas, € neste tempo em particular? Como sabemos disso? Enfase esté nas relagdes sociais - Onde este meme se encontra a tespeito do relaciona- mento que infere ou evoca entre as pessoas rapidamente infectadas por esse meme? O que isso nos diz? - O que esse meme nos diz sobre os tipos de contexto nos quais esse meme prova ser contagioso ou teplicavel? - O que esse meme parece assumir sobre conhecimento € verdade neste contexto em particular? Sistema contextual ou interpessoal Enfase esta nos valores, crengas e visdes de mundo - Quais sao os/as temas/ideias/posigdes que so Sistema ideolégico | Convertidos (as) por esse meme? ou visio de mundo | - O que esses temas, ideias e posigdes nos dizem sobre os diferentes grupos sociais? ~ O que esses memes nos dizem sobre © mundo, ou uma versa especifica do mundo? ~ O que esta acontecendo aqui e quem esté envolvido? Como sabemos disso? ~ Quem reconheceria este meme como parte relevante Para seus espagos de afinidades e 0 que isso nos diz? Quem nao reconheceria esse meme e quais poderiam ser algumas Consequéncias disso? Praticas sociais e afinidades Quadro 1; Prompt Questions Sor analyzing online memes. In: Lankshear e Knobel (2007, p. 219) 72 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE A pesquisa dos referidos autores revelou quatro aspectos recorrentes em relagdo as caracteristicas discursivas sobre os memes on-line: O primeiro diz respeito ao humor como uma caracteris- tica-chave, pois trata-se de aspecto contextualmente situado. Jao contexto de espago de afinidade indica que houve uma homogeneiza¢ao de alguns valores e esteredtipos para que pudesse ter sucesso na comunidade de pratica. Como os participantes so de diferentes regides e paises, ocorre que o humor sofreu influéncias do processo de globalizagao na constitui¢ao de elementos em comum. O segundo aspecto recorrente na andlise foi a intertex- tualidade, quando da utilizacdo de referéncias cruzadas para diferentes eventos culturais populares do dia a dia, icones, fendmenos, entre outros aspectos. O terceiro elemento revelou a justaposigao anémala, porque esse aspecto foi provocado, ou satirizado, como foi o caso do meme Bert Evil, personagem do episddio americano “Vila Sésamo”, que foi fotocopiado com a foto de Osama Bin Landen’ e postado como uma piada. Essa mensagem foi e postada como uma piada. Essa mensagem foi “baixada” e usada em Bangladesh, em uma passeata com um cartaz dos apoiadores de Osama Bem Laden, sem que dessem conta de que se tratava de um boneco americano famoso, tendo assim repercussao na midia mundial pelo efeito de sentido causado pela montagem da imagem. Por ultimo, foi identificado um meme denominado ou- tlier (marginal, externo, periférico). Esses memes mostraram pessoas desconhecidas que foram fotografadas, geralmente fazendo algo errado, assumindo, assim, uma natureza de denincia, ou critica. 4 Fonte: hitp:/www.bertisevil.tv/pages/bert038,htm 73 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIs; LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE is pesquisa ajudoua identificar diferentes tipos de espa¢o de afinidade que incluem espaco de SAMerS, Photoshons 5 mangd/anime space, spagos para visOes esquerdistas politica, membro de ‘boas comunidades, espacos de fis de cultura popular asiatica, entre outros. Memes numa relagio dialégica Os memes possuem consideracées éticas e civicas confor. me assinala Bodie (apud Lankshear e Knobel, 2007, p. 236), O referido tedrico chama a atengdo para a capacidade que os memes possuem de dinamizar relagGes, isto é; “memes com os quais somos infectados, com 0 quais infectamos os outros e para os efeitos dessas infeccdes, uma vez que nem todos os memes sao benéficos.” Varios deles tém o poder de mobilizar o publico para censurar e promover discussdes importantes sobre dimensdes morais e civicas, éticas. Adar et al. (qpud Lankshear e Knobel 2007, p. 237) afirmam que “as pessoas mais socialmente poderosas e influentes nao s&o necessaria- mente pessoas ou grupos com alto perfil, mas, ao contrario, so aquelas que causam epidemias de ideias”. Devido a propagacao e aos efeitos nos participantes das comunidades de pratica, bem como em outros que acabam sendo infectados por essas ideias, questiond-los é uma forma de considerar as ideias que nos infectam, analisar como elas podem impactar nossos processos de tomadas de decisao, ag0es, Nossas relacdes com os outros, ampliando, assim, nosso entendimento dessas questdes. sugerem sat gsPesto de reflexdo e agéncia, os autores contra memin, (conn €m um processo de contra meme ou pratica on-line bet eunter-meme/meming) que também é uma memes para neutral lecida, Cujo objetivo é gerar outros alzar, ou defender ideias prejudiciais de 74 | | OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE uma perspectiva. Essa fungéo de neutralizag4o parece, no entanto, ut6pica, uma vez que nao se tem controle total do que é publicado na Internet. Contudo, pode ser um exercicio de argumentagdo e de posicionamentos perante um espaco democratico de contraposicao de ideias e nao necessariamente 0 apagamento de conflitos. Godwin (apud Lanskshear e Knobel, 2007, p. 238) de- fende que a contra- argumentagao usando memes detém uma contribuigao importante para a satide de nossa vida social e mental e que, por identificarmos questdes prejudiciais, “temos uma responsabilidade moral e social para confronta-los, disse- minar um contra meme na ideia central” e, assim, possibilitar a construgao de espagos de coexisténcia de outras. Quando o assunto é memes no curriculo As praticas e pensamentos educacionais de natureza ocidental sao criticados por Kress (2008, p. 255), pois “existe um senso comum de que o curriculo é a expressio de caracte- risticas essenciais da sociedade que devem ser ‘transmitidas para as proéximas geragdes’, de conhecimentos, habilidades como disposigées e valores naturalizados”. Assim, o curriculo incorpora os significados, conhecimento, valores importantes para uma sociedade e cultura. Paradoxalmente, parece ser in- coerente nao considerar a cultura de aprendizagem de alunos que possuem outras formas de construir conhecimentos que nao se limitam a cultura escrita, impressa e canénica. Desse modo, o autor defende a necessidade de se desenvolver pro- postas que levem em consideragao, sobretudo, a experiéncia de aprender em um mundo de instabilidade e multiplicidade de significados. Defende ainda que o sistema educacional, em um contexto global, precisa analisar o significado e as forcas de certos mitos e metaforas, apontando quatro aspectos principais. 75 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE 0 primeiro deles é a0 conceito de estabilidade © unifor. midade, Kress (2008) admite que, por ee de globaliza. cdo, essa homogeneizagao discursiva a a legitimada em contextos globais. A estabilidade se refere a Previsibilidade, enquanto que a uniformidade ou singularidade se relaciona 4 homogeneidade da educagao e possui consequencias Cticas no que tange aos pressupostos sobre a seguranga ontolégico-epis. temoldgica do conhecimento. No entanto, com as mudangas em varios setores da sociedade, esses padrdes supostamente fixos e homogéneos estdio sendo questionados, uma vez que a suposta estabilidade n&io garante previsibilidades. O que parecia ser singular, por outra parte, passou a ser observado como sendo multiplicidade, e essa diversidade leva a uma “inseguranga” epistemolégica que pode dar espaco ao relati- vismo. Apesar dessa ruptura, os curriculos escolares, em geral, se pautam em listas de contetido candnico e na valorizacéo do texto impresso. O segundo aspecto faz alusao ao periodo de transigao das mudangas de formas de estabilidade para instabilidade, de uniforme e singular para multiplicidade e diversidade, nas mudangas de poder, na autoridades, nas transformagées politicas, sociais, econdmicas e tecnolégicas. Com isso, é incoerente a escola legitimar estruturas que nao funcionam mais, ou seja, a escola nao possui mais um propdsito legiti- mador € precisa estar aberta as novas formas de comunicagao, Sagano constags de conhecimento, bem como refletir conhecimentos vo beneficiar. desoreven go Componente indica anecessidade de se teorizar, diferentes das ¢ one, 0s ambientes de aprendizagem que sao que predomina, por ee tradicionais, ou seja, aquelas em para as mais com I exemplo, o ensino de formas mais simples se fosse a tinica . a , bedecendo a uma linearidade, como apenas os efej Possibilidade. Nao se trata aqui de considerar efeitos das chamadas “p, ova midia digital”, mas 76 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE buscar uma reflexao acerca de como o conhecimento pode ser construido coletivamente, sobre como ensinar, para quem e sob que condi¢ées. Essa ruptura, por assim dizer, implicaria desenvolver uma predisposigao para desafiar as estruturas de autoridade que historicamente tém sido mantenedoras de politicas curriculares e, portanto, de formagao de cidadaos de forma homogénea. Com isso, Kress (2008) aponta que ha uma mudanga na énfase da retérica educacional de ensinar e aprender, refor- mulando a nog&o de aprender que refute modelos eurocéntri- cos, abrindo espaco para as varias autoridades discutirem a relagao do conhecimento, ou seja, 0 que deve ser aprendido ea interesse de quem. Isso remete, de certa maneira, aos estudos pos-coloniais, que, segundo Bhabha (1994, p. 246) compreendem a nogao de “verdade” contingente, sujeita as constantes transformagdes. Nesse pensamento que se permite fazer intertextualidade, a concepgao de pensamento fraco, estudada por Vattimo (1985), dialoga com a nogao de ver- dade, anteriormente apresentada, e reforca 0 fato de que nao existe uma tnica verdade. No entanto, esses conceitos nao aludem a um relativismo de vale-tudo. O pensamento fraco, defendido como 0 niilismo, possibilita a libertago de valores supremos, sustentando que nenhum valor pode ser imposto pela fora e que todo valor absoluto € algo mitico, potencial- mente violento. Sob essa Otica niilista, todas as verdades sao verdades, mas contextualmente situadas. Por esse prisma, valoriza-se 0 aspecto local e, conforme acentuam Bhabha (1994) e Kress (2008), a agéncia e a responsabilidade do aprendiz so aspectos extremamente significativos nos novos meios de aprendizagem. A iltima questo descrita por Kress (2008) é 0 desen- volvimento de uma apt theory para a realidade atual que, aomesmo tempo, considere uma aprendizagem geral e em 77 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIs: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE todo lugar’. Na pratica, isso pode ocorrer em uma escolg de provida de poder de escolha sobre como ensinar ¢ que se e um curriculo preexistente. Por outro lado, €88a Visa pe Bue brechas para que o aluno construa conhecimento em tel as suas necessidades, como uma ferramenta para Tenegociar sentidos e agenciar, de modo responsdvel, ages em sey mundo real. Trata-se de teoria de aprendizagem em que og interes. ses, os princfpios e a agéncia do aluno desafiam a rigidez das verdades absolutas. Portanto, esse tipo de aprendizagem pode ocorrer em uma realidade na qual haja um curriculo formal, mas que tenha espago para a construc4o de outros conhecj- mentos locais. Em todos os quatro aspectos apontados por Kress (2008), € possivel haver um espago para os memes no curriculo escolar, uma vez que, na sociedade de informac4o, ha muito pouco espago para a possibilidade de atos solitarios, isolados. Toda a¢ao implicaré a participacaio de muitos individuos, Dessa forma, a aparente singularizac4o toma a forma de uma cons- trugdo coletiva sujeita 4s novas transformagées. Nessa visio, o curriculo nao € orientado por contribuigdes predefinidas de especialistas, mas construido e renegociado em tempo “real” pelas co-construgdes dos envolvidos no Processo de aprendizagem. A comunidade funciona, de certa maneira, como agente curricular, moldando, construindo e Teconstruindo sua aprendizagem, Consideragées finais Os x : ws memes esto presentes em varias esferas sociais, como TV, radi +o “ no contey "adios, muisicas, estilos e, mais especificamente, de propa; x ae Produzidos com um objetivo discursivo gacdo de ideias, embora esses textos nem sempre 5 [..Jatthe same ‘tim i . (€o original), "V4 plausible account of learning generally and everywhere 78 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMAGAO E PRATICA DOCENTE sao considerados praticas discursivas que merege atencdo na e pela instituig&o de ensino. Durante muito tempo, conferiu-se énfase ao aspecto cognitivo do processo de compreensao e desempenho, com pesquisas voltadas para a teoria dos géneros, critica literdria, estudos do discurso, ciéncias cognitivas e metacognitivas associadas ao letramento tradicional, ou seja, para ne cultura do livro ligada a uma heranga iluminista conforme mencionados por Lankshear e Knobel (2006). Todas essas pesquisas trouxeram grandes contribuigdes para a educacao em geral e nao se pode negar terem encartado grande avan¢o em desenvolvimento de material e metodologia, embora pre- dominantemente focadas no aspecto cognitivo. No entanto, os novos letramentos, segundo Lankshear e Knobel (2007), abrem espago para considerar outras dimen- sdes do que sejam as “metas”, sobretudo no que concerne aos memes, a luz do discutido neste artigo. Os memes desafiam as epistemologias digitais para 0 letramento e aprendizagem como convencionalmente sao entendidos e praticados. Um dos aspectos é 0 fato de que os usuarios da comunicagao mediada pelas TIC nao tém as mesmas relagdes com as realidades, re- gras, padrées e procedimentos de formagiio de conhecimento tradicionalmente estabelecidos. Lankshear e Knobel (2007, p. 243) salientam que ao invés de ignorar tais praticas, mais atencao deveria ser dada para o fato de que “os aprendizes de hoje est’io cada vez mais sendo recrutados para outros valores e prioridades”. Os autores ainda ponderam que esses novos espagos de afinidade, corroborando o pensar de Gee (2004), desafiam a concepgao do letramento digital sobre 0 que significa ser um usuario competente das novas tecnologias e redes de trabalho. Isso se dé porque o letramento digital tem sido comumente usado como competéncia operacional, capacidade de avaliar 79 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE fontes, credibilidade, qualidade de escrta textos on-line, entre outros aspectos. Nesse Sentido, og mem on-line poderiam ser facilmente descartados pelos defensores a uanto néo possuem “inform... do letramento digital, porg oman nao sao prioridades para o letramento digital s informagdes como liteis” ou Snyder (2002, p. 180) defende que “os professores preo;. sam reconhecer a importancia da cultura popular, ou perdero alguns dos elementos mais importantes no entendimento do aluno e suas vidas”. Neste caso, 0 ciberespago e sua relacdo com os memes podem contribuir para uma ponte entre escolas e so. ciedade. Similarmente, Bakhtin (1999), Luke e Freebody (1997, p. 8) realgam que “formas hibridas de textos, modelos mistos de comunicagao e multiletramentos est&o se desenvolvendo em contextos de novas relag6es sociais, estruturas institucionais praticas” e precisam ser inseridos no ambiente escolar. A incorporacdo de memes com propostas pedagégicas pode servir para questionar o conceito de verdade como se fosse a tnica. Para isso, a consideragao 4 nogao de pensamento fraco defendido por Vattimo (1985), pode se justificar. Pen- samento fraco implica enfraquecer as perspectivas de grupos hegeménicos, portanto de poder, que historicamente respon- dem por interpretagdes préprias acerca de textos e eventos, as tnicas possiveis, em detrimento de outras visdes. Por nao es- tabelecer uma tinica verdade, dado que as verdades coexistem, criadas contingente e contextualmente, 0 pensamento fraco pode constituir-se numa metodologia, por assim dizer, para Proceder ao trabalho pedagégico por meio de memes. Nao se trata de um vale-tudo, segundo Menezes de Souza (2010), pois ac ae de saberes depende do locus de enunciagao que na aa wean 1994), tefere-se ao contexto sdcio-histérico- produtor de memes aeciie) de eabaes — neste estudo, © ressignificar ae Nessa l6gica, os alunos podem Pelo fato de que a int, ‘as, criando novos efeitos de sentido. €rpretaco das narrativas meme depende 80 OLHARES SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS: LINGUAGENS, ENSINO, FORMACAO E PRATICA DOCENTE do contexto de enunciagio, a utilizagao dos memes entreabre aspectos que também prescindem de praticas de letramentos que levem em consideragao o ensino-aprendizagem situado, conforme reiterado por Gee (2004). Referéncias BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. Séo Paulo: Hucitec, 1999. BAUMAN, Z. Modernidade liquida. Tradugao por Plinio Dentzien. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. BHABHA, H. The location of culture. London: Routledge,1994. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 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