Exemplo Estaca Escavada - Carga Maxima Na Ponta PDF

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Talvez para esclarecer melhor a outros colegas a real intenção da norma com essa questão do

limite 20% transmitido para a ponta vou usar um exemplo com maiores detalhes. Tudo é uma
questão de interação solo-estrutura e muito da confusão existe porque não se tem a definição
clara do que é uma carga admissível. Carga admissível é aquela que resultará em um recalque
que seja toleravel. Assim para maior claridade tal recalque precisa ser definido.

Imaginemos a seguinte condição:

Primeiramente digamos que seu critério de recalque admissível seja de 2% do diametro da


estaca.
Estaca escavada com comprimento L=6m e D=0.6. Assim seu recalque admissível é de 12
mm.
Consideremos agora que os primeiros 5.9 m da estaca estao em uma camada de argila de
consistencia média que possui resistencia nao drenada su=40 kPa e abaixo é uma argila muito
rija que possui su=180.
Com base nesses dados podemos estimar que a camada superior tem um modulo de
elasticidade E=8 MPa e a inferior E = 36 MPa. Também podemos estimar que a primeira
camada oferece uma resistencia lateral de aproximadamente fs=40 kPa que resulta numa
resistencia lateral ultima de RL= 452 kN e para a camada inferior somente a resistencia de
ponta é importante e podemos estimar que fb=1620 kPa que resulta numa resistencia ultima
de ponta de RP = 458 kN.
Assim temos que a capacidade geotécnica ultima da estaca é de Ru = 910 kN e se adotarmos
um fator de segurança de 2 temos que Radm = 455 kN.
Considerando o outro limite da norma teriams Radm=1.25*452 = 565 kN que é superior a
455 kN, assim continuamos com Radm=455 kN.

Vejamos agora as seguintes hipoteses:

1) Sua estaca foi escavada de tal forma que o furo permaneceu perfeitamente limpo. Assim
todos os parametros acima se aplicam. Essa estaca quando carregada até uma carga de 455
kN terá o comportamento das figuras abaixo.

Axial capacity (kN)


500
450 0 200 400 600 800 1000
0
400
350 1 Accumulative ultimate capacity
Vertical load (kN)

300 2 Accumulative mobilised


Depth (m)

250 3
200
4
150
100 5

50 6
0 7
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01
Pile head settlement (m)

Veja que o percentual que foi para a ponta foi mais do que 20% no gráfico da direita
(aproximadamente 200 kN foi para a ponta, ou seja, quase 45%). No entanto veja que o
recalque na cabeça da estaca foi somente de aproximadamente 8 mm dentro do seu limite
aceitável de 12 mm. Assim não haveria problema porque a camada muito rija abaixo esta
fazendo o trabalho como deveria e a ponta só pega maior carga por causa da rigidez superior
desta camada.
2) Sua estaca foi escavada sem maiores cuidados com a limpeza limpo. Apesar da capacidade
ultima da estaca permancer teoricamente a mesma, tal sujeira no furo pode conferir um
comportamento mole na ponta. Para avaliar tal efeito vamos assumir a rigidez da ponta reduz
em 70%, ou seja, poderiamos um modulo equivalente do solo da ponta de E=12 MPa em vez
de 36 MPa. O numero correto dessa redução só pode ser avaliado mesmo atraves das provas
de carga. Essa estaca quando carregada até uma carga de 455 kN terá o comportamento das
figuras abaixo.

Axial capacity (kN)


500
450 0 200 400 600 800 1000
0
400
350 1 Accumulative ultimate capacity
Vertical load (kN)

300 2 Accumulative mobilised

Depth (m)
250 3
200
4
150
100 5

50 6
0 7
0 0.005 0.01 0.015
Pile head settlement (m)

Veja agora a diferenca. A maior parte da carga foi para o atrito lateral (ver que a curva azul
no gráfico da diretia se aproximou da vermelha - capacidade ultima) e menos de 20% da
carga foi para a ponta, pois a ponta não tem rigidez para absorver cargas maiores. Ver que o
recalque ainda foi aceitável - aproximadamente 12 mm. Repare também que em termos de
segurança (estado limito ultimo) a condição é a mesma da hipotese acima, ou seja, o fator de
segurança continua sendo FS=2.

3) O mesmo caso que a hipotese 2 só que agora a estaca é carregada somente até
Radm=1.25*RL/2 = 1.25*452/2 = 353 kN. Seu comportamento será:

Axial capacity (kN)


400
0 200 400 600 800 1000
350 0
300 1 Accumulative ultimate capacity
250
Vertical load (kN)

2 Accumulative mobilised
Depth (m)

200 3
150 4
100 5
50 6
0 7
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01
Pile head settlement (m)

Ver que a principio, está tudo bem. A curva azul na direita está mais distante da vermelha.
Obvio!! Voce limitou a carga ainda mais. Seu recalque é somente de cerca de 9 mm, mas se
você convive bem com 12 mm por que gastar mais??
4) O mesmo caso que a hipotese 2 só que agora vamos assumir que a resistencia lateral da
camada de argila media é de somente RL= 224 kN.
Assim temos que a capacidade geotécnica ultima da estaca é agora passa a ser de Ru = 682
kN (224+458) e se adotarmos um fator de segurança de 2 temos que Radm = 341 kN. Porem,
temos que pelo outro critério Radm=1.25*224 = 280 kN que é inferior a 341 kN, assim
adotariamos Radm=280 kN.
Vamos entretanto avaliar o que acontece se eu adotar Radm = 341 kN em vez de 280 kN.
Apesar de teoricamente a rigidez da camada superior também dever reduzir, manteremos
todos os outros parametros constante só para este exercicio comparativo. O comportamento
da estaca sera:
Axial capacity (kN)
400
0 200 400 600 800
350 0
300 1 Accumulative ultimate capacity
250
Vertical load (kN)

2 Accumulative mobilised

Depth (m)
200 3
150 4
100 5
50 6
0 7
0 0.005 0.01 0.015 0.02
Pile head settlement (m)

Ver que agora tenho que aproximadamente 130 kN vai para a ponta o que representa 38% de
341 kN. Ver também que o recalque está em 16 mm, ultrapassando o limite de 12 mm.

5) Exatamente igual a hipotese 4 acima, mais vamos limitar a carga aplicada a Radm=280
kN.

Axial capacity (kN)


300
0 200 400 600 800
250 0
1 Accumulative ultimate capacity
200
Vertical load (kN)

2 Accumulative mobilised
Depth (m)

150 3

100 4
5
50
6
0 7
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01
Pile head settlement (m)

Ver que, como adotamos os limite inferior, agora tudo é atendido (recalques e o 20% limite
transferido a ponta)

Percebe agora como é um dispositivo de proteção???

Você poderia dizer que deveriamos aplicar uma segurança no recalque também. Sim, mas
isso se aplica a todos os casos acima igualmente, ou seja, não há diferneça. Ou melhor,pense
desta forma: o Engenheiro de Estruturas em seus calculos percebeu que somente a partir de
18 mm sua estrutura deformaria a ponto de causar problemas estéticos e assim como
segurança passou ao engenheiro de fundações 12 mm (50% a menos, ou seja FS=1.5 nas
deformações).

Em resumo. Esse item da norma é somente um dispositivo para evitar problemas quando o
projetista se esquece que em estacas escavadas - existe o problema de "soft -toe" (ponta
mole) que só afeta a resistencia de ponta. Portanto a norma força que somente 20% possa ser
transferido para a ponta

Abraços
--
DAVID OLIVEIRA PhD, MIEAust, CPEng
Associate - Geomechanics and 3D Modelling
Coffey Mining
1162 Hay Street West Perth WA 6005 Australia
T +61 8 9324 8800 F +61 8 9324 8877 M 0431 441882
www.coffey.com
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Honorary Lecturer / Research Fellow
Centre for Geomechanics and Railway Engineering
Faculty of Engineering - University of Wollongong

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